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o início e o fim da tragédia

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Academic year: 2021

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-7 Tempo histórico

A acção de Frei Luís de Sousa passa-se em1599, durante o do-mínio filipino, 21 anos depois da batalha de Alcácer Quibir que se realizou a4de Agosto de 1578. As personagens fazem, ao longo da peça, inúmeras referências temporais.

-7 Tempo da acção

Embora não respeite a caracte-rística da tragédia clássica da unidade de tempo (a acção devia passar-se em 24horas), tem-se a noção da condensação do tempo da acção:

Acto I: fim da tarde de uma sex-ta-feira até ao cair da noite; Acto II: oito dias depois, à tarde, por isso também numa sexta--feira;

Acto III: durante a noite. Mantendo o mesmo dia da sema-na, cria-se a ilusão de que tudo se passa no mesmo dia.

-7 Tempo da escrita

A peça foi escrita no século XIX e a primeira representação teve lugar em 1843.

-7 Espaço

Do primeiro para o segundo acto, existe uma mudança de espaço; do segundo para o terceiro acto. o espaço cénico pertence ao mes-mo espaço físico (Palácio de D. João de Portugal), mas é um espaço diferente do anterior: ("Parte baixa do palácio") à me-dida que o conflito evolui para a catástrofe final, o espaço vai-se tornando cada vez mais austero e sombrio.

Acto I - palácio de Manuel de Sousa (cf. didascália inicial) Acto II - "Éno palácio que fora de D. João de Portugal, em AI-mada: salão antigo de gosto me-lancólicoepesado, com grandes retratos de família (... )"

~,

o

início e o

fim

da tragédia

ACTO PRIMEIRO

Cãmera antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete. Porcelanas, xarões, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Tejo, e donde se vê toda Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido de preto, com a cruz branca de -noviço de S.João de Jerusalém. Defronte e para a boca da cena um bufete pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de prata; sobre o

bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso da China de

colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes rasos, contado

-res. Da direita do espectador, porta de comunicação para o interior da

casa, outra da esquerda para o exterior. É no fim da tarde. Cena I

Madalen,a só, sentada junto à banca, os pés sobre uma grande almofada,

um livro aberto no regaço, e as mãos cruzadas sobre ele, como quem des

-caiu da leitura na meditação.

MADALENA (repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler). Naquele ingano d'alma Ieda e cego,

Que a fortuna não deixa durar muito ...

Com paz e alegria d'alma ... um ingano, um ingano de poucos instantes que seja ... deve de ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu! ... -(Pausa). Oh! que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo... este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixa -ram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! que amor, que felicidade ... que desgraça a minha! (Torna a des -cairem profunda meditação; silêncio breve).

ACTO fi,cena IX

Madalena, Jorge, coro dos frades dentro

MADALENA - Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousa! ... (toca o órgão dentro).

CORO (dentro) - De profundis clamavi ad te, Domine; Domine, exaudi vocemmeam.

MADALENA (indo abraçar-se com a cruz) - Oh, Deus, Senhor meu! pois já, já? nem mais um instante, meu Deus? Cruz do meu Redentor, ó cruz pr e-ciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu, que me abandonaram todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças ... e estou feita um espect á-culo de dor e de espanto para o céu e para a terra! Tomai, Senhor, toma! tudo ... A minha filha também? ... Oh! a minha filha, a minha filha... tam -bém essa vos dou, meu Deus. E agora, que mais quereis de mim, Senhor: (Toca o órgão outra vez).

(2)

Caderno de Exercidos

o

(dentro) - Fiant aures tuse intendentes, in vocem deprecationis Acto III - "Parte baixa do palácio de D.João de Portugal, comuni -cando, pela porta àesquerda do espectador, com a capela da S e-nhora daPiedade (... ).Éum ca -sarão vasto, sem ornato algum. (...)"

GE - Vinde, minha irmã, é a voz do Senhor que vos chama. Vai _oe::~ a santa cerimônia.

illALENA (inxugando aslágrimas e com resolução) - Elefoi? GE - Foi sim, minha irmã.

illALENA (levantando-se) - E eu vou. (Saem ambos pela porta do

Almeida Garrett, FreiLuís deSousa, Luís Amaro de Oliveira (realizaçãodidáctica), PortoEditora

tente nas didascálias que funcionam como linhas orientadoras para o leitor.

-• Refira a importância da didascália inicial (Acto I).

1.1.1. Explique em que medida essas informações contribuem para a caracterização das personagens e da acção.

. 2. Explicite a função das didascálias presentes no corpo de texto dos dois excertos.

O. Madalena em cena, sozinha, repete, "maquinalmente e devagar" (L.15, cena I), dois versos do episódio de Inês de Castro, de Os

l

usiadas

.

2.1. Relembrando a leitura que fez da "Memória ao Conservatório Real" (Ficha 10), relacione esta situação cénica com a classificação que Garrett aí faz da peça.

(3)

ente nos seguintes actos de fala proferidos por D.Madalena.

-.4.

Classifique-os quanto àsua força ilocutória.

Classificação a."Viveu-se, pode-se morrer." (L.20, cenaI)

b. "Oh! que onão saiba ele ao menos" (L.21, cenaI)

c. "Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousal"

(L.2, cenaIX)

d."Cruz do meu Redentor, Ócruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu" ru7-8,cenaIX)

e. "E agora, que mais quereis de mim, Senhor?" (L.12, cenaIX)

f. "E eu vou." (L.20, cenaIX)

.2. Explique de que forma estes actos de fala confirmam a caracterização da personagem.

eleia o excerto: "Oh!que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo... este edo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa

felici-ade que medava o seu amor." (ll. 21-24, cena I).

. 1. Indique o referente do pronome "o" presente na oração FIqueo não saiba ele ao menos".

2. Expliqueo processo de coesão referencial aqui presente .

•3. Classifique as orações sublinhadas.

8.3.1. Identifique ostempos em que se encontram asformas verbais dessas orações.

.4. Explique por que motivo aforma verbal "deixaram gozar" se encontra no plural.

(4)

Caderno de Exercicios

ente nos seguintes actos de fala proferidos por D.Madalena.

-.4.

Classifique-os quanto àsua força ilocutória.

Classificação a."Viveu-se, pode-se morrer." (L.20, cenaI)

b. "Oh! que onão saiba ele ao menos" (L.21, cenaI)

c. "Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousal"

(L.2, cenaIX)

d."Cruz do meu Redentor, Ócruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu" ru7-8,cenaIX)

e. "E agora, que mais quereis de mim, Senhor?" (L.12, cenaIX)

f. "E eu vou." (L.20, cenaIX)

.2. Explique de que forma estes actos de fala confirmam a caracterização da personagem.

eleia o excerto: "Oh!que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo... este edo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa

felici-ade que medava o seu amor." (ll. 21-24, cena I).

. 1. Indique o referente do pronome "o" presente na oração FIqueo não saiba ele ao menos".

2. Expliqueo processo de coesão referencial aqui presente .

•3. Classifique as orações sublinhadas.

8.3.1. Identifique ostempos em que se encontram asformas verbais dessas orações.

.4. Explique por que motivo aforma verbal "deixaram gozar" se encontra no plural.

(5)

Características clássicas e

român-ticas das personagens em cena

-7 Manuel de Sousa

Éumapersonagem construída

se-gundo os parâmetros clássicos, porque:

- é nobre;

- é um homem racional, disc

i-plinado, equilibrado, quesegue

os seus valores, a maior parte das vezes, sem oscilações de consciência;

- enfrenta o desafio (hybris) com

audácia, espírito forte e deci -dido, ao atear fogo à sua pró -pria casa.

Apresenta também característi

-casromânticas, fugindo ao

equi-líbrio clássico, sobretudo no Acto III, quando:

- manifesta a dor de uma forma descontrolada e excessiva, após

achegada do Romeiro;

- arazão o leva a desejar amorte

da filha e o amor o impele a

contrariar arazão e a suplicar

desesperadamente pela sua vi -da, revelando, assim, o seu e

s-pírito racional edemonstrando

sentimentos contraditórios;

- exalta os valores patrióticos e nacionais.

-7 Madalena

É uma personagem esse

ncial-mente romântica, porque:

- vive atormentada por s

enti-mentos deculpa ede remorso

do passado;

- rege asua vida pormaus pres

-sentimentos (agouros) e por

superstições populares;

- é uma mulher apaixonada, su -persticiosa, pessimista, sen sí-vel, frágil e demasiado ligada

ao passado.

Vive com seu marido uma acção trágica, dominada pelo sofrimento

e pelo destino que progride até

um clímax fatalista, dando origem

à catástrofe.

A razao e o coraçao

ACTa I, cena VIII Manuel de Sousa, Madalena

MANUEL (passeia agitado de um lado para outro da cena, com as mãos cruzadas detrás das costas; e parando de repente) - Há-de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal.

MADALENA - Que tens tu, dize, que tens tu?

MANUEL - Tenho que não hei-de sofrer esta afronta ... e que épreciso sair 5 desta casa, senhora.

MADALENA - Pois sairemos sim; eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a obede-cer-te sempre, cegamente, em tudo. Mas oh! esposo da minha alma ... para aquela casa não, não me leves para aquela casa! (Deitando-lhe os braços ao ic pescoço.)

MANUEL - Ora tu não eras costumada a ter caprichos! (... ) E a casa que tem? Porque foi de teu primeiro marido? É por mim que tens essa repugnân-cia? Eu estimei e respeitei sempre a D. João de Portugal (... ). Viveste ali com ele? Eu não tenho ciúmes de um passado que me não pertencia. E o pre-sente, esse é meu, meu só, todo meu, querida Madalena ... Não falemos mais nisso: épreciso partir, e já.

MADALENA - Mas é que tu não sabes ... Eu não sou melindrosa nem de invenções; em tudo o mais sou mulher, e muito mulher, querido; nisso não ... Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. (... ) Oh, perdoa, perdoa--me, não me sai esta ideia da cabeça ... que vou achar ali a sombra despei-tosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dous gumes ... que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para sempre ... (... ) Sei decerto que vou ser infeliz, que vou morrer naquela casa funesta, que não estou ali três dias, três horas, sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós. Meu esposo, Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor to peço, pela nossa filha ... (... )

MANUEL - Em verdade nunca te vi assim; nunca pensei que tivesses a fra-queza de acreditar em agouros. Não há senão um temor justo, Madalena: é o temor de Deus; não há espectros que nos possam aparecer senão os das más acções que fazemos. Que tens tu na consciência que tos faça temer? O teu coração e as tuas mãos estão puras; para os que andam diante de Deus, a terra não tem sustos, nem o inferno pavores que se lhes atrevam. (...)

Vamos, D. Madalena de Vilhena, lembrai-vos de quem sois e de quem vin-des, senhora ... e não me tires, querida mulher, com vãs quimeras de crian-ças, a tranquilidade do espírito e a força do coração, que as preciso inteiras nesta hora.

MADALENA - Pois que vais tu fazer?

MANUEL - Vou, já te disse, vou dar uma lição aos nossos tiranos que lhes há-de lembrar, vou dar um exemplo a este povo que os há-de alumiar. ..

Almeida Garrett, Frei Luís deSousa,

(6)

Caderno de Exercidos

tente no comportamento e na primeira fala de Manuel de Sousa no início da cena.

:. Defina, por palavras suas, o comportamento da personagem.

2. Tendo em conta o seu conhecimento sobre o assunto da peça, explique as razões de tal

comporta-mento.

ente na frase "Há-de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal." (ll. 2-3).

..•• Indique a acção de Manuel de Sousa que resulta deste seu sentimento patriótico .

.2. Refira a consequência da sua decisão, a nível da intriga e o contributo a nível da caracterização da

personagem.

2.3. Indique os elementos da tragédia grega presentes nesta alteração da situação dramática.

ace aos acontecimentos, as duas personagens em cena revelam atitudes diferentes.

3.1. Caracterize o comportamento de ambas.

3.1.1. Refira algumas marcas de linguagem/recursos expressivos do discurso de cada personagem que

justifiquem a resposta à questão anterior.

Manuelde Sousa pretende convencer D.Madalena a ir viver para o palácio de D. João.

(7)

4.2. Explique as alterações na forma de tratamento para com D. Madalena.

5. A cena começa e acaba com falas de Manuel de Sousa que contêm formas verbais com valor de futuro. 5.1. Retire do excerto essas formas verbais.

5.2. Refira o seu valor aspectual.

5.3. Explicite a sua função relativamente à caracterização de Manuel de Sousa.

6. Atente no quadro seguinte.

6.1. Sublinhe as orações subordinadas.

6.2. Agrupe-as de acordo com a sua classificação.

Orações Classificação das orações subordinadas

a. "nunca soube que coisa era ter outra vontade 1. Orações subordinadas adjectivas relativas: diferente da tua" (Llo7-8)

b, "Eu não tenho ciúmes de um passado que me não pettencia." (L.15)

c. "Sei decerto que vou ser infeliz" (L.25) 2. Orações subordinadas substantivas completivas:

d. "nunca pensei que tivesses a fraqueza de acre-ditar emagouros." tu.29-30)

e. "e não me tires, querida mulher ( ... ), a

iran-quilidade do espírito ea força do coração, que 3. Orações subordinadas adverbiais causais: as preciso inteiras nesta hora." (Llo36-38)

f."vou dar um exemplo a este povo que os há-de alumiar ... rr(L.41)

(8)

Caderno de Exercidos

• Leia as frases seguintes e assinale as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F). Corrija as falsas.

a. Na oração "e que épreciso sair desta casa, senhora." (LI.5-6), o termo "senhora" desempenha a função sintáctica de vocativo.

b. Em "E o presente, esse émeu, meu só, todo meu" (LI.15-16), as palavras sublinhadas são pronomes pos-sessivos."

c. Em "E o presente, esse émeu" (LI.15-16), o pronome "esse" assegura a coesão referencial. d.A frase "épreciso partir" (L.17) corresponde a um acto ilocutório compromissivo.

e. Na frase "em tudo o mais sou mulher" (L.19), o nome desempenha a função sintáctica de modificador apositivo.

f.A frase "Vou dar uma Lição"(L.40) constitui um acto ilocutório directivo.

8. Releia os enunciados seguintes:

A. "( ... ) eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te (... )" (ll. 7-8)

B. "Viveste ali com ele?" (ll. 14-15)

8.1. Sublinhe, nos enunciados A. eB., as palavras que apresentam valor deíctico.

8.1.1. De entre as palavras assinaladas na questão anterior, indique as que correspondem a deícticos espaciais.

8.1.2. Destaque também as palavras que correspondem a pronomes e/ou determinantes que assinalam

a deixis pessoal.

8.2. Aponte os sinónimos presentes no enunciado A.

8.2.1. Refira a classe de palavras a que pertencem.

8.2.2. Identifique o processo de formação que deu origem ao primeiro vocábulo.

8.3. Reescreva a primeira oração do enunciado Ana forma afirmativa e coloque a forma verbal no futuro do indicativo, fazendo as transformações necessárias.

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