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BRIEF

MK

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SMiiT-i

(2)
(3)

HISTORIÀdaCERàMICà

coimerà

APONTAMENTOS

Adelino António

das Neves

e

Mello

COM

UMA

BIOGRAFIA

DO

AUIOR

J.

Leite

de

Vasconcellos

'J:*--- iBiíJiLC

P

O

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G

A

I.I

A

75. KuadoCiiniio.7">

LISBOA

(4)
(5)

Ill IIMIIIIIIMIIIIIIMIIIIIIIIII

LIVROS

DE ]AYME AUGUSTO DE

MOURA

LISBOA

ilIMIIIIIIIIIIIMlilliUIMIlUIIIIII

(6)
(7)

APONTAMENTOS

PARA

A

HISTORIA

DA

CERÂMICA

EM

(8)
(9)

HISTORIA

DA

CERÂMICA

i I EM

COIMBRA

APONTAMENTOS

POR

Adelino António

das Neves

e

Mello

COM UMA

BIOGRAFIA

DO

AUTCR

POR

J.

Leite

de

Vasco

ncellos

:2.'f'

HBHHC^O

PORTVGALIA

tDlTORA

75,RuadoCarmo. 75

(10)

^15y

ESTA EDIÇÀO

CONSTA

APENAS DE

110

EXEMPLARES,

NUMERADOS

E

RUBRICADOS

PELOS EDITORES

EX. N.»

(11)

VII

No

estudo dapoesia emusica populares portuguesas

desempe-nhoucerto papel AdelinoAntóniodas Nevese Mello (Filho)(!):epor

isso entendoque possofalar dele no Boletim, eJuntamente publicar o

seu retrato. Pois que no Diccionario Bibliographico de Innocencio

S

Aranha nãoselêarespeito deAdelinodas Neves quasinada, apesar

deestehaverescrito váriasobras, epois quenão

me

consta que haja

algumabiografia deleaproveito a ocasiãopara ampliar o

meu

artigo

um

pouco além doslimitesquebastariampara

uma

notícia do cara-ctermeramenteetnográfico(2).

O

nosso autornasceu

em

6 de

Maio

de 1846

em

pleno mar,

pe-tasalturasda ilha de Santa Helena, a bordo

dum

navio português

quedaChinatraziaparaoreinoa

mãe

eopai. Estechamava-se

Ade-linoAntóniodas Nevese Melo, casado

com

D.

Domingas

Carneiro de

Melo (naturalde.Manilha:Filipinas), e exercia ao tempo o cargo de

fisico-mor

em

.Macau, depoisdeoterexercidona índia. Era filho do

/).'""AntónioJosé das Neves e Melo, Lente de Filosofia na

Universi-dade deCoimbra, e Directordo MuseuBotânico(3). Além de médico, o pai donosso biografado gostava de colleccionar cousas antigas e

curiosidades. Oficialmente, apátria deAdelino Júniorestána

Fregue-sia deS. Quintino, perto deLisboa (Sobral de MonfAgraço), porque

nelasebàtizou.

Deu

motivo a issoo teraí

uma

quintaseu tiopor

afi-nidade oD.°''AntónioRibeiro

da

CostaHoltreman,quelhe foipadrinho. Regressados aPortugal,os paisdeAdelinoestabeleceram-se

em

(/)Era assim quecieescrevia, isto é: Filho,emvezdeJúnior.

(2)Asminhasfontessão:asobrasde Adelino(umas que possuo, outrasque

consultei foradaminluilivraria);informaçõesquemedeu de'vivavoz aEx.""' Viuva;

uns apnhtainentns autobiográficos (incompletos) de Adelino, que a mesma Ej;.'""

Viuvameofereceu.

O

retratoobtive-o d'esta senhora,porintermédiodoS.'"'Cândido

AugustoNazareth, de Coimbra,antesdeeua conhecerpessoalmente.

{3) Vid.asuabiografian-.\Naçãode2.3de Agostode 1870 (artigodeF. ,1

.

(12)

vm

Coimbra,aosArcosdeS.Bento, ondeseus antepassados tinhamvivido.

No

tempoprópriocomeçaram; a dar ao filho educação literária.

Em

1860 concluiu Adelino os preparatóriosliceais, e entrando logopara a

Universidade,ficouformado

em

Direito

em

1865, naidadede 19 anos.

Em

1872casou

em

Lisboa com. a Ex.""-^ SenhoraD. Felicia Leite

Ve-lho, queaívivia(1).

Pôde

cronologicamenteseraqui mencionado que

Adelino das Neves conviveu

com

Camilo Castelo Branco, quando

este esteve

em

Coimbra,

em

1875. .Asrelaçõesentreos dois

datavam

de épocaanteriora 1875,

mas

tornaram-se agora maisintensas,

como

o próprio .Adelino diz nos Senilia,

Pará

1899, p. 11,

obra de que

adiantetornareiafalar,

e

como

se patenteiadecartasqueogrande

romancista dirigiu ao seuamigo(2).

Em

1878foiAdelino das Neves

nomeado

Comissárioda policia

de Coimbra, cargo então criado;serviu até1879, era que pediu a

de-missão,por queda do ministério,

mas

tornou ae.vercer as funções de

1881a 1886,

em

que novamentesedemitiu, indo viverpara

uma

quinta

quetinha ao

de Coimbra.

A

talpropósito, dis-lhe Camilo

numa

carta,de quesetranscreve

um

trechonos apontamentosautobiográficos:

iNão

seisedeva dar-llieosparabénsporse eximir de

capita-nearapolicia davolteira e turbulenta Coimbra.

Acho

quesim, e que

'devo dar-Ih'os muitossinceros, e adcinja-se, quanto possa, á felici-*dadequietaemonótona dafamília. Ahi tem deportasa dentro duas

•^formasdeparaisoqueo céu doschristãos decerto lhenão dará mais

i^perfeito:esposaefilho. Entreellesiráserenamentecaminho

da

outra

(existência,queeulheconcedoporhypothese;se

porem

semeter muito

(/)OriginariadeTrns-os-Montes.Foiseu Paio B." Bernardo Tei.reira de

Morais Velho,do Mogadouro, queexerceu a advocacia noBrasil.

(2)Algumasdelas forampublicadas pelo D."'J.M. TeLveiradeCarvalhoin AGalera,1914, n.»2,e1915, n."4,e por Manoel CardosoMarta,Cartas de Camilo,

(13)

ÍX

*nostremedaesdavida interior, terá muitas occasiões de

arrependi-*mento, e rarasdesatisfaçãOT>

.

Com

o exercido da função de Comissário de policia se

rela-ciona

um

facto que muito o honra. Tendo-se declarado incêndio na

partesuperior

dum

prédio

em

cujasbaixas havia

uma

oficina de

fo-gueteiro, Adelino Neves

acompanhado

do seu

Amanuense

César da

Rocha, abalançou-se a entrar nela, e removeu de lá, já

em

meio de

fumo

e deardentes chispas,

um

caixotequecontinha três arrobas de

pólvora

eassim evitou

uma

explosão, de fatais consequências. Por

issoosdoisforam galardoados

com

a medalha de filantropia, mérito egenerosidade>

.

Em

1886 fez

uma

viagema França para seinstruir, a qual

via-gem, segundoelediz nos citados apontamentos, influiu bastante no

plano da sua vida. Resolvendo dedicar-se á vida diplomática, por o

nãoatraírem assubtilezas doforo, foi sucessivamente nosso Cônsul

em

Zanzibar(1889),

Demerara

(GuianaInglesa),Pará, e Rio Grande

doSul.

Em

1904voltoudelicençaaoreino,para a quinta deCoimbra.

Poressetempocomeçou a sofrerdavista, vindo depois a cegar.

Em

1906

mudou

aresidênciaparaLisboa, ecáfaleceu,derepente,

em

1912,

desincope cardíaca, nodia dos anos da esposa, senhora dotada de grandes virtudes, quefoisempre sua desveladissima companheira

em

todosos lancesdavida:

em

Coimbra, nasviagens, nasperigrinações,

enosúltimos e

amargos

dias.

Creioquedeixo mencionadas asprincipaisdatasda vida

parti-cularepúblicadeAdelino Neves. Passareiagora a tratar das obras

quepublicou, ás quaisadicionarei

uma

noticiadealgunsinéditos.

As

obras impressassãodez,que vouindicarpelaordem dostempos:

1. Musicase Canções Populares, colligidasdatradição. Lisboa 1872; 241 páginas. Esta obra, aqueservem de epigrafe os versos de

Tomás

Ribeiro,

Quemquer prazer suaveeamordivino

(14)

é?queAdelinodedicou asua esposa, encerra, depois de breve

Adver-tência, cincogrupos de cantigas:1.°, de Coimbra;2°, do Minho; 3°, de Trás-os-Montes; 4P, dosAçores; 5°, cantigasdoberço. Muitas das

cantigas

vêm acompanhadas

demusicas.

Quando

Adelino das Neves

estudava

em

Coimbra, costumava passar asferias (o que fez até ao

ano)

em

PenhaLonga(concelho do

Marco

deCanaveses)

com

seu

tioo Dr. Adriano das Nevese Melo, antigo Lentede Teologiada

Uni-versidade, quealiera

Abade

(1).

Ao

contacto

com

agente da aldeia,

que no Entre-Douro-e-Minhosuaviza constantemente o trabalho rural

com

cantorias, enos diasdefesta dança e toca, mais talvez que

ne-nhum

outropovo de Portugal,ganhou Adelino Nevesgosto

da

musica

do povo e

da

literatura oral, epensou

em

organizar

uma

obra sobre o

assunto. Assimapareceu o livrocujo titulo a cima copiei.

O

próprio

autor dizna advertênciapreliminar: «Este cancioneironão émais do

que

um

singelo

ramo

defloressilvestrescolhidasao acasopelocampo*.

Para

olivro concorreram

também

estudanteseamigos do autor:

leva-vam-lhecantigasdasrespectivasterras, eAdelino escolhia e

aprovei-tava asquelheconvinham.

Devo

porém observarquecinco anos antes

doaparecimentodasMusicas e Canções, Isto é,

em

1867, havia

Theo-phlloBragapublicado o CancioneiroPopular:épois naturalqueAdelino

bebesseaquia sua primeira inspiração para o estudo do Folk-Lore.

Que

Neves conhecia o mencionado trabalho de Theophllo Braga, o confessanojácitado opúsculo Senilia, p. 31, ao referlr-se á acção

de Garrettnacolheita da poesia popular (cf. adiante, § 11).

nos

meus

Ensaios Ethnographicos, /, 303, eu disseque acollecção de

Ade-linodas Neveserageralmentefiel. Seo trazera luríie canções

popu-laresnão constituíanoviaade,

como acabamos

de ver, constituia-o a

publicação demusicas.

Nunca

ninguém atéentão nonosso pais se

lem-(1)Morreu derepente,em1864,quandoAdelinoandavatio•/."uno dedireito;

(15)

XI

brarade atender aeste

ramo

da estética popular, apesar da riqueza dele;só muitosanosdepoistornouaatender-sea isto, eescassamente.

Vê-seportanto

com

que discernimento Adelino das Neves iniciou a

sua carreiraliterária.

É

delamentar que não persistisse nos estudos

folkloricos. Espirito actiuo,

mas

pouco desejosode se fixarfortemente

num

ponto, o queacontece

com

frequência entre os Portugueses,

pre-feriudivagarpor outros campos,

como

adiante veremos. Apenas no

quetoca dpoesia popular,pensou Neves

em

fazer 2.° edição do seu

livro,paraoqueredigiu, entre 1872 e 1889,

um

prologo, que existe

manuscrito, eque aEx.'"" Viuvaespontaneamente

me

ofereceu(1).

No

quetoca a outros

ramos

deEtnografia, ouportuguesaou defora,

es-palhouobservações váriasporoutrasobrasqueescreveu (oid. adiante,

%%7,8e

9).

2. Crenças religiosas e sociaes. Coimbra 1875(folheto). 3. Estudos sobre o regimen penitenciário e a sua applicação

em

Portugal. Coimbra 1880. Volumede 142 páginas, dedicado a -^António

Rodrigues Pintor. DizNeves, nadedicatória, queapesarda

repugnân-cia quetinha aoforo, ainda chegou a adiargosto

num

estudo de

di-reito criminal:e assimnasceu estelivro.

4.

O

estudo da iiistoria, segundo os processos scientificos de

Henry

Thomas

Backie. Coimbra 1882.

5. As formigas. Coimbra 1888. Conferenciafeita no Instituto de

Coimbra.

O

folheto e separata dojornaldesta associação.

6.

Em

1884realizou-se

em

Coimbra

uma

exposiçãodistrital, que

deu motivo a

uma

conferenciafeita pelo D."'' Augusto Felipe Simões

acercadaEscultura coimbrã dosec.XVI.

Como

porém o conferente

sesuicidasse,

sem

deixarredigida aconferenciaparaoprelo, Adelino

(/)D'esteprologo,cmquehaumapartequenão mereceimprimir-se,

(16)

XII

das Nevesrecompô-la, eela foipublicada no volume intitulado

Expo-siçãodistrictal deCoimbra

em

1884, Coimbra 1884, pp. 117-123.

7

.

Apontamentosparaahistoria da Cerâmica

em

Coimbra.

Coim-bra 1886. Este opúsculo nasceu

também

daexposição deque falei no

paragrafoanterior.

As

observaçõesde Adelinodas Neves são

princioal-mente decaracterhistórico, etêmimportância não só

com

relação á

cerâmicacoimbrã dosec. XIIÍao XIX,

mas

áEtnografia geral

portu-guesa, pois o autormencionamuitos

nomes

de vasilhase medidas do

sec.XVI.

Valiaapena reproduziro opúsculo, retocando o

em

notas.

8. Zanzibar. Coimbra1890. Livro deviagem, onde o Autor, no

quepertenceá Etnografia,fala

como

se vive

em

Zanzibar, e traduz

do suali

um

conto popular, adágios, e

em

verso

uma

poesia e o

co-meço

de

um

poema.

A

pp. 139.-140alude, depassagem,

á

missa

por-tuguesa do galo (Natal).

9.

Guyana

Britânica: Demarara. Coimbra 1896. Este trabalho

contém14capítulos;

em

alguns deles o Autor pôsobservações de Etno-grafialocal (superstições, cantares, trajos, etc).

10. Senilia.

Pará

1899. Livrinho de105páginas: conjunto de

re-cordaçõesdopassado,

como

o próprioAutordiz no prologo. Consta de apontamentosbiográficosdevários autores, ede artigos fugitivos.

Entre aqueles autores contam-seCamilo (com transcrição de cartas),

foúo de Deus, Guimarães Fonseca, etc.

Os

outros artigos são, por

exemplo, sobreCoimbra eo descobrimento daMadeira.

Com

excepçãodo/?."3,porserdehistoria natural, todosos

res-tantes trabalhos de Adelino das Neves patenteia/n, mais ou menos,

inclinações históricasouetnográficas.

Os

mais importantes a tal

res-peito sãoosquese intitulam Musicase Canções (§ /) e Cerâmica

em

Coimbra(§7).

Embora

ambas

feitas

sem

profundeza,ninguém que trate

da nossaliteraturascientifica deve deixarde os lembrar

com

simpatia.

.Adelino dasA^evesdei.voít manuscrito o seguinte, que a Ex.'""

Viuva

me

mostrou :

11

.

(17)

Litte-Xlll

rario Portuguêsno Rio de Janeiro

em

15deJunho de 1895 . Breoe

no-ticia

com

transcrição de poesias deJoão deDeus. Este artigo foi

re-produzido,

com

algumasmodificações, nos Senilia: aí diz Neves, na

p. 29, queoescreveuestando de pasi>agem no Rio, onde assistira ã

festa.

Lê-seneste artigoa respeito de Garrett: ^Preparava

também

osespíritosparaapreciar

um

género poéticoqueestavacompletamente

desprezado entrenósouera oltiado

com

índifferença pelos doutos:

re-firo-meápoesia popular, queellecolligioe reconstruio nos seus

can-cioneiros, salvando preciosíssimasrelíquiasdopassado, que estavam

prestesaperder-sena tradiçãooral:mais tarde Ttieophilo

Braga

re-alça edesenvolveaimportância de semelhantes estudos.>> Transcrevi

estas linhas,porellasse relacionarem

com

o estudo da poesia

popu-lar, objecto principaldopresenteartigo.

12.

Um

alburn,

em

cujo começo se lê: «Adelino das Neves e

Mello li

No

ermo || poesiask Grandeparte do álbum está porém

em

branco;apenasexistem nele dezasseispoesias,

uma

d'elasdatada de Outubro de 1885(Granja), eoutrade 1888(Vizela);algumas escritas no Buçaco.

São

versossentimentais, de que dou aqui duas amostras

{talvezas melhores)

:

Nuncamais Morta! Maleudiria,

''

Quetristesa,meu Deus! quemjulgaria Félix outr'ora Aovel-aperpassaralegremente,

Queríuma hora Queassimviessea morte derepente

Acabaria Para a roubar da nossa companhia.'...

Essaalegria, .Vopequeninoleito,emquejazia.

Essaventura. Pareciadormir serenamente

;

Deque só dura Nenhumterrorde avera almasente.

Naphantasia Emboraestejainanimadaefria.

Um

leveesboço

E

ha de assimbai.varásepultura,

Desvanecido!

E

ha deempóeem cimaconverter-se

Hojenão posso Tãogentilgraçae tantaformosura.'..

(18)

x/v

Tirar calor Masnemtodaabelíezaétransitória,

Dasfrias cinzas Vice sempre,eJamais podeesqitècer-se

Domeuamor. Abellezado

bem—

sopro degloria.

13. Terminareiesta bibliografia, dizendo queAdelinodas Neves

durantealgum tempose habituou a escrever

um

diário da sua vida.

Segundo aEx.'"° Viuva

me

informou, começou a escrevê-lo

em

1889,

na volta de Zanzibar, eforma volumesque abrangemcatorze anos. Li

algumaspaginas, ondeha observações curiosas de acontecimentos e

depessoas.

Do

quefica exposto conclue-seque as aptidões e os gostos de

Adelinodas Neveserammultiformes. Cultorda Etnografia, doDireito,

daPoesia, daHistóriada Arte,funcionáriopublico, viajante: que

as-suntohouve para queelenão olhasse?Atéera coleccionador de

mo-luscos terrestres!Diz Teixeira de Carvalho:«Z)sseu avô, lentede

Bo-tânica, herdara o3.°''Neves e Mello a paixão pelas sciencias

natu-rais.

De

seupai, coleccionadorapaixonado depedras, livrosemoveis

raros, cultoda Arte- (/). Poderei acrescentarquedformatura

em

Di-reitoolevoua convisinhançada Universidade, e aofuncionalismoesta

mesma

formatura.

Ao

gostodaEtnografia Jáacima

me

referi.

E

o das

viagens

eo

dapoesia

donde

lhevieram?

O

dasviagenspor além-mar

elepróprio declaraquea ida a França minto influiu na sua vida,

alémdanatural tendência ambulatioaoupetegrinatoriados

(19)

XV

ses,pondero eu(/). Quantoúpoesia, quald o espiritoengenhoso que

não sesentepoeta

em

Coimbra?

Assimfica explicadatoda a génese psíquicado nosso autor.

J. L.

DE

V

(Do «BoletimdeEtnografia»,n.°1,comautorisaçXo)

(/)Disse-meumaveznumcomboio de Hespanhaumempregado dos caminhos

de ferrohespanhois «que nuncaviraquemvia/asse tanto como os Portugueses; que osencontrasempre/>-.

A

observaçãoé,porém,jámuitoantiga.

(20)
(21)

ADVERTÊNCIA

No

principio de 1884, durante a exposição districtal que tevelogar n'esta cidade, eue o

meu

amigo

dr. Alberto Pes"soa,

vendo

com

especialinteresse os productos cerâmicos que

figu-ravam

alli,

lembrámo-nos de

estudar

com

alguma

proficiência a

origem

e desenvolvimento d'esta importantissima industria

em

Coimbra,

tencionando publicar depois o resultado das nossas

in-vestigações.

Para

melhorlevara effeito este projecto traçámos

desde

logoo seu plano, dividindo o trabalho e fazendo

um

elencho ou

relação das matérias a que nos applicariamos.

Constaria a obra de duas partes: technica e histórica.

Da

primeira occupava-se o

meu

amigo,

em

vista

do

seu conhecimento especial d'aquella industria, e de lhe permittir o

estudo dassciencias physicas, principalmente oda geologia e da chimica

em

que foi

alumno

mui distincto, explicar os antigos e

modernos

processos industriaes, a qualidade e importância das

matériasprimas, e quaesquer innovaçòes exequíveis.

Da

segunda

tractaria eu, colligindo

documentos

e

dados

estatísticos d'onde se deduzisseaantiguidade e o valor

econó-mico

da

cerâmica conimbricense.

Persistindo n'este

empenho

dêmos

algum

incremento ao nosso estudo: os tópicos

da

primeira parte

estavam

concluídos,

sendo

notável a simplicidade e clareza

com

que se explicavam

(22)

classi-18

ficaçãodaslouças, pintura e outrasminudencias

do

fabrico,

que

habilitassem o

amador

a elevar-se a verdadeiro apreciador,

sem

ser apenas guiado pela apparencia ou intuitivamente pelo gosto.

Comprehendendo

os productos cerâmicos as faianças, os grés e as porcellanas, ensinava a conhecer practicamente os exemplares

comprehendidos

em

cada

um

d'esses

géneros

e seus

intermediários, provenientes da diversidade dos materiaes

em-pregados, da sua maior ou

menor

plasticidade e

do

diverso

gráo

de calórico, que

supportavam

nosfornos.

A

analyse dasdiversasqualidadesdebarro, margas, caulim

e areias, que se

encontram

n'este districto, merecia-lhe especial

attenção e deviaoccupar

uma

parte importante

do

livro,

sendo

já apreciáveis osseus

apontamentos

acerca dos actuaes jazigos.

Finalmente, tractandodapintura fixada a

uma

temperatura

elevada, ou simplesmente a mouffle

n'uma

temperatura mais

baixa, explicando a importância do

pyrometro

e discorrendo acerca das cores

empregadas,

dos preparados metallicos que as

compõem,

dos esmaltes e outras variadissimas particularidades

da arte: primava na clareza e concisão, que

nem

sempre

facil-mente

se alliam

em

assumptos

tãocomplexos.

Pela minhaparte ia colligindo provas sobre a antiguidade

d'esta arte esobre o desenvolvimento industrial, que desde

re-motas

eras aqui se manisfestara.

Nos

índices e

summarios dos

archivos

da camará

muni-cipal

de Coimbra

encontrei indicados preciosos titulos a este respeito, dosquais oseu illustrado compiladore

meu

respeitável

amigo

dr. João Correia

Ayres

de

Campos

me

forneceu

genero-samente

cópias, que lançam muita luz sobre o assumpto.

Dos

antigos

tombos

que pertenceram ao mosteiro de Sancta Cruz, d'esta cidade, tirei cópias

também

interessantís-simas, facilitando-me da melhorvontade os archivos odigno

(23)

19

Com

estes elementos eoutros que diariamente descobria, tanto

em

provas escriptas

como

em

antigos productos, alguns dos quaes existem hoje no

museu

do Instituto de Coimbra, tínhamos incentivo para proseguir na tarefa encetada;

infeliz-mente, a solução

de

trabalhos officiaesa que o dever nos

obri-gava

e não

podiam

ser pretermettidos, foram espaçando as

con-ferencias,

em

que d'antes nos

demorávamos,

até se

interrom-perem

detodo, e

também

assiduidade e perseverança noestudo.

Agora,

que passoua opportunidade da exposição, ou dos

pri-meiros

mezes

que se seguiram ao seu encerramento, não

pro-seguimos

no trabalho; custava-me no emtanto deixar na minha

pasta ignorados eesquecidos aquelles

documentos

históricos, e

por isso lhes

dou

pubh"cidade, apesar de

serem

poucos osquese

interessam porestas velharias. '

Seria

um

trabalho de

grande

interesse para todos osque

presam

os estudos archeologicos precedera historiada cerâmica

do paiz

d'uma

introducção,

onde

se indicasse o desenvolvimento

progressivo d'esta industria na Europa,

desde

os

tempos

mais remotos até nossos dias,

havendo

poucas industrias, nas quaes

a arte, ogosto e a phantasia

do

artista

occupem

um

logar tão

importante, e

em

que entre o valordas matérias primas e o dos

artefactos haja

uma

tão notável desproporção.

Debaixo

d'este pontode vista

um

tal

resumo

seria fonte

de

interessantesestudos para o artista e delargasconsiderações parao philosopho.

Em

todas asnações cultas da

Europa

se

teem

publicado

monographias

importantesasemelhanterespeito, sendo a França

que principalmente se distingue n'estas publicações.

A

historia das faianças hispano-mouriscas do barão da

(24)

ca-20

talogo dasfaianças

do

Louvre

por Alrredo Darcel, o

do

museu

de Clun}' por

Sommerard,

e finalmenteo excellentetractado

de

cerâmica publicado

em

1869

por Alberto

Jacquemarí

e outros

estudos, taes

como

os

de

Brongniart,

de

André

Pottier,

de

Ségange,

etc;, queseria longoenumerar, constituem

uma

biblio-thecaacerca (l'umaespecialidade, de que só tinhamos ha

poucos

annos estudos incompletos.

O

infatigáveltrabalho dos collecionadores, a curiosidade dos archeologos e o

bom

gosto dos

amadores

teem

poderosa-mente

concorrido para elevarao

auge

em

que seacha o

conheci-mento

da historia d'esta industria.

Visitando ainda ha

pouco

o

museu Cluny

observei a bella disposiçãodospreciosos exemplaresalliexistentes, nos quaes se

podem

acompanhar

os progressos da cerâmica,

desde

os mais

grosseiros vasos de barro

sem

ornamentação

nem

elegância até asadmiráveis majolicas de

Lucca

delia

Robbia do

Século

XV,

e

osfiníssimos esmaltes de

Bernardo

Palissy

do

século

XVI.

Juncto aosprimitivos e singelos vasos de faiança

obser-vamos

outros,

egualmente

sem

esmalte

mas

de elegantíssimas formas, que

adornaram

outr,ora os castellos dos ricos-homens e

barões da

edade media

;

seguem-se

os esmaltes

com

silicatos

de

chumbo d'um

vidradosubtile transparente, e successivamente

os opacos de silicatos de estanho

com

formosos coloridos

de

óxidos metallicos.

D'este

género

sãoas faianças italianas

do

século

XV,

de-nominadas

majolicas eprovenientes da Ilha deMaiorca,

que

lhes

deu

o

nome,

d'onde se

exportavam

em

larga escala para todos

os portos

de

Mediterrâneo: d'aqui,

porém,

não

se

deve

concluir

que se não fabricassem na Itália faianças esmaltadas

anterior-mente

á importação dos productos hispano-mouricos, pois muito

embora

se nãosaiba a

epocha

exacta

em

que

principiou aquella

industriana península itálica, é certo que os artefactos da Pérsia

(25)

21^

hespanholas, e

também

nas portuguezas,

como

sevê pelos

azu-lejosque possuímos da

mesma

epocha.

A

matériaprima de que principalmente se

compõe

a

fai-ançaé,

como

todos

sabem,

aargiila, eé da sua abundância que

depende

acreaçãode fabricas de louças

em

certos e

determi-nadoslogares.

O

barro depois

de

amassado,

lavado epeneirado molda-se

em

forma ou á

mão,

e concluida a peça e enxuta mette-se no

forno:

em

estandocosida reveste-seporapplicação ou

immersão

d'um

esmalte liquido,

composto

de silicatos de estanho ou de

chumbo,

areiae chloreto

de

sódio.

O

estanho

ao esmaltea alvura opaca que o distingue,

podendo

ser a peça

ornamentada

em

cru, istoé, antes de ir ao

forno,

como

usavam

os italianos no século

XVI,

ou depois

de

cosida, sujeitando-a a

um

lume

brando, que,

operando

a fusão

da tinta, não prejudique a pastasobre que se applica: este

pro-cesso émais simples efácil,

mas

é inferior ao dapintura

em

cru d'outros tempos, cujo esmalte, supportando apenas

uma

cose-dura a temperatura elevada, offerecia

uma

transparência

cara-cterística e

um

esbatido de tons, que torna tão apreciáveis os

productos cerâmicos da renascença italiana.

A

faiança vidradafabrica-se

do

mesmo

modo

que a

esmal-tada, diversificando apenas a caldaqueconstitue a pintura, quje

ê

composta

desilicatos de

chumbo

que a

tornam

transparente e

logo á primeira vista a distinguem das majolicas de esmalte opacoestanifero.

Ha

também

um

género

de faianças que se fabrica

appli-cando

sobre a argiila

uma

outra

camada

de côr diversa: é

deno-minado engobamento

esteprocesso, por meio

do

qual se realisam

caprichosas e bellas ornamentações.

Outras vezes recortam-sediversos ornatos, que se

appli-cam

lisosou

com

impressões sobre a peça:

denominam

os

(26)

22

O

grés, de quese

admiram

também

preciosos productos,

formado

da argilla siliciosa e areia fina, constitue

uma

pasta

duríssima, geralmente escuraemuitasvezes

d'um

bello azeviche,

opaca e

duma

sonoridade metallica.

Foi na

Allemanha

onde

primeiramente se fabricou esta

louça, notável pela finura da pasta e pelos delicados relevos que

a

ornamentavam

;

sendo

hoje muito apreciados os antigos

exem-plares d'este género, taes

comos

bules, cafeteiras, leiteiras e outraspeças para serviço dechá.

Apesar

deser fabricada esta louça tanto na

Allemanha

como

na

França

e na Hollanda, designava-se exclusivamente

grés de Flandres.

A

porcellana é

formada

pela mistura

do

kaolim,

marga,

nitro, areia, e outras substancias que

tem

variado

com

o

tempo

;

subdivide-se

em

molle,

patê

tendre, e dura.

A

primeira é traslucida,

d'uma

alvura leitosa, e o seu

es-malte obtem-se a

uma

temperatura relativamente baixa, pene-trando na pa.<^ca os óxidoscolorantes; apesar

de

não ser

resis-tente e offerecer

pouca

solidezpara uso domestico, é muito apre-ciada pela sua helleza e finura.

É

d'esta qualidade a celebre porcellana de Sévres.

A

porcellanadura é

também

transparente, brancaesonora,

mas

osóxidos colorantes

do

esmalte só

penetram

a pasta pela fusãod'esta, o que lhe tira a transparência e suavidade que se

admira na molle.

Primam

os chinezes na fabricação d'esta porcellana,

com-posta unicamente de feldspato e kaolim.

Além

das porcellanas, dos crés edas faianças

comprehen-dem também

alguns na cerâmica a vidraria:

sendo

preciosíssimas

as antigas relíquias d'este

género

que existem entrenós;

diver-sificando,

porém,

bastante os processos da sua fabricação dos da cerâmica, propriamente dieta,

reservamos

para rutra

(27)

A CERÂMICA EM

COIMBRA

A

industriada cerâmica

em

Portugalé tão antiga queé impossível

assignar asua origem,sendocertoque

em

epochas muitoanteriores á

for-maçãoda nossanacionalidadejá os azulejos e outros artefactos de barro,

notáveis pelo seu acabamento, eram conhecidos na peninsula sem se

podercalculardesde quando datariam taes inventos.

Esta e outrasmanifestações artísticas seriamtransmittidas talvez

pelos árabes, cuja notável civilisaçàodeixou brilhantemente assignalada

a sua passagem napeninsula hispânica. (1).

Mas, sementrar n'essas longiquas investigações históricas e

limi-tando-me unicamenteaCoimbra, direiqueo documento mais antigo que

pude encontrardizendo respeito a esta industria data de 1203, e é

um

titulode venda, feito por Pedro Soares ao mosteiro de Sancta Cruz, d'uma tenda comdois fornos paralouça juncto ás portas de Almedina.

No

tombodasdoações e comprasdo

mesmo

mosteiro, que tem portituloLiorode D. João Thantonio, afl. 7 v., encontra-se cópia do

contracto.

Deve

notar-se que tenda n'aquelle tempo significava fabrica de

louça, e ainda

em

epochas muito posteriores continuou a ter a

mesma

significaçãoexclusiva, conformese vê do Regimento dosolíeirose

rna-legueiros,de 1623, onde se dizque ninguémpossa pôr tenda sem ter

as alfaiasnecessárias, s. na de louça branca, verde e amarella terão

moinho, fornalhas, colheres, pisões e mais peças precisas

em

cada

um

dosofficiosdeolíeiros.

No

referidotombo liv. 3.'\ existe cópia do titulo de compra

(28)

24

d'outratendapelo mosteiro de Sancta Cruza Pelagio Gonçalves e sua

mulher Susananoanno de 1213.

A

escriptura docontracto, feita

em

um

pequeno pergaminho e

formulada nolatimbárbaro do tempo, édoteor seguinte

:

«InDei nomine hecestcarta venditionisetfirmitudinisquamjussifacereego

pelagius gunsalvietuxormeasusasapelagii,vobisDomno Johanny Sancte Crucis

priori et ceterisfratribus ibidemcomorantibus detotaillameatendacom suo

sobe-radoetcumsuisdirecturissiliceteam milii dedit domina mea elvira Gulfara cum

consensuetauctoritatefilioruinsuorum.

Queita terminatur in oriente et ocridecte et in Africa parte dommos

sancte Crucis.

Inaquiloneverovia publica,vendidimusetconcedimus vobis ipsam tendam

sicterminatampro pretioquodavobisaccepimussilicetXXX-(35)morabitinostantum

enimnobisetvobisbene compiacuitete pretioapud vosnihil remansit in debitum, habeatisergo vos ipsam tendametomnessuccessoresvestri et facitede ea quiaquid vobis placueritinperpetum sedesifortealiquisdenostrispropinquis aut de extra-nei-veneritqiiihanc cartam cartaminfringerittemptaveritquantuminquirierit tantum

vobisinduplum componatetdominoterre aiiude tantum.

Etsinoseiiaminconcilio vobis auctorisarevoluerimus aet non potuerimus

similiter eam vobis componamus et quantum fuerit meiiorata et domino parte aliudtantum.

Etinsuperliocnostrumfractumplenumrobur obtineat facta venumdictionis

et firmitudiniscartamenseJunio 1213 nos supra nominati qui hanc cartam facere jussimuscoramidoneis testibus propriismanibus roboravimusetsigna fecimus.

Quepresentes fueruntmenanduspetri, petrus eclsioie, pelagius papancia, gulsalvuslima. Johannes pelagii, petrus bispus. Sendymus tesly pelagius

Diaco-niisnotavií.»

A

copia d'este contracto, existente no mencionado tombo a fl.

117V.,tem110fim esta nota: iConcertada

com

o próprio AfonsoDias,

Prior Castreiro, Gregório Lourenço,

P/

Luiz Parada.

O

Sr.Joaquim de Vasconcellos, illustradocoUaborador da Revista

da SociedadedeInstrucção, doPorto,

em

artigos mui eruditos quetem

publicado acerca da cerâmica portugueza, lamenta, e

com

razão, a

diffi-culdadede saber o preço dasantigas louçase os processosempregados

na sua fabricação, comtudo nos archivos dos diversos municipios do

reino existem preciosos documentos a semelhante respeito nas taxas,

regulamentos de mesterese antigas actas das vereações; por isso

uma

comissão de paleograplios.

como

judiciosamentelembra o

mesmo

escri-ptor, a qual fosse incumbida de classificar taes documentos, prestaria

(29)

Infeliz-25

mente, todasas vezes quealguém pertende illucidar-se sobre qualquer

ponto da nossahistoria artistica, tem de recorrer a escriptores

extran-geiros, obtendo informações insufficientes e muitas vezes erróneas.

N'estes documentos que menciono, apesar decircumscriptos a

uma

área

limitadissima, encontram-se noticias importantes, das quaes escriptores

competentes

podem

tirar iilações muito aproveitáveis para a historia

cerâmica dopaiz.

Pela taxados preços dalouça debarro para oanno de 1514

um

cântaro burnido, com acapacidade deseis atésete meias, custava sete

réis, e não sendo burnido seis réis;

uma

quarta de quatro meias,

quatro réis;

um

alguidar dequatro alqueires, trinta e seis réis, e d'ahi

para cima maisoito réisporalqueire;

uma

cabaça de meia (1) real e

meio, ede maior capacidade areal porpinta(2); cabaça pequena com

sua tampa,oito seitis(3), depintacom seu testo,

um

real; púcaropara

beber agua

um

real, maispequenomeioreal, alquarasboase dereceber,

meio real; vieiras(4) para candieiros, a dois ceitis cada unia; tigellas

depinta,

um

real, maispequenas, quatro ceitis, comduas azas para ir

ao lume, três réis, maiores, a nove ceitis por pinta; infusas e quartas

pequenasvalerão soldo álivra (5) sete ceitis por meia, e sendo de

pinta cinco ceitis; talhadorgrandepara comida,

um

real, mais pequeno,

quatro ceitis; tijellas de quatro meias para lavar carne, quatro reis

;

camareiros, seis réis;fogareiros

com

um

palmo de vão e barrados, oito

reis, não sendobarrados, seis réis; almudes de lagar de nove meias,

noveréis; meios almudes, soldo dlivraao dictopreço; sangradeiras, a dois ceitis, talhasdeoitomeias

com

seu testo, doze réis; e termina

ordenando que ataxa e preços assim declarados o juiz e regedores

farão inteiramente guardar ecumprir; etodo o fabricante que maiores

preços levar pelas referidas louças pague por cada vez quelhe for

pro-vadoo abuso cem réis, metadepara as obras da camaráe a outra parte

para

quem

os acusar.

(1)Seisquartilhos.

(2).Medida,sendo desólidosumaquartadealqueire,sendo de líquidos três

quartilhos. %

(3)Sextapartedeumreal.

(4)Conchas ondese deitava oazeite.

(30)

26

Vê-se porestedocumentoque o preço dalouçadebarrono

prin-cipio doséculo

VXI

regulava pouco maisou menos peia décima parte

do actual; para se julgar, porem, conscienciosamente o seu valor

convém saber quais eram os salários d'então, o tempoda aprendizagem

e ocustodas matérias primas, oque atécertoponto se esclarece

com

ostítulos subsequentes. Paraseguir aordem cronológica apresentarei o

summario do regimento dos mallegueiros, de 21 de Março de 1556,

que patenteia a especial attenção que se ligava á boa qualidade dos

materiaes.Justifica-se no preambulo a necessidade de pôr cobro ás

fal-sificaçõesda louça e imperfeiçãodo seu fabrico, indicando

em

diversos

artigos osprocessosque

devem

seguir os olleiros, sob pena de avultadas

muletas e cadeia no caso dedesobediência.

O

artigo primeiro determina que a pasta para a fabricação de

qualquer peça, que tenha de servir ao lume, será composta de duas

partesde barro vermelho e

uma

do áspero, e que o barro branco de

Trouxemil e odaPovoa sejam misturados

em

partes eguaes.

Os

olleirosnão desenfornarãoa louça sem estarem presentes os

respectivos juizes, os quaespelo juramentode seus officiosverão se a

obra está

bem

cosida e a pasta combinada nas proporções devidas, e

não achandoperfeitas as misturas

mandem

que a louça se não vidre e

lhes

daram

juramentodos Santosevangelhospêra queasio

cumpram

enão o querendojuraro oyrão fazer saber

em

camará

pêra nlso se

proverT.

Os

alguidares

devem

ser vidrados depoisdecosidos, e os juizes

do officiotomarão nota dosque julguem bons para vidrar, mandando

dar varejo ás fabricas, quando julguem conveniente, e sendo achados

maisalguidaresdos que semarcaram paratal fim,

paguem

os

transgres-sores quinhentos réisda cadeia.

Os

juizestodas as vezes que forem chamados pelos officiaes

serão diligentes

em

irem ver assuas obras, e o que fizer o contrario

pagarámil réis da cadeia.

Apesar detodas estas penas,

em

1569 a vereação da camará, junctamente

com

os dois procuradores dos mesteres e o da cidade,

attendendo ás justas queixas dos consumidores contra a

qualidade

da louçaque aquise fabricava, redigiram eapprovaram

em

26 de iVlaio

d'aquelleanno

um

regimentoa fim deevitar taes abusos.

Ordenou-se

em

primeiro logar que nenhum olleiro fizesse louça

(31)

27

SÓ era aproveitável paratelha etijolo; e

bem

assim que toda a louça

fosseprimeiramentecosida

em

branco, fabricando-a de barro de

Trou-xemil e da Povoa de Bordallo, misturado

em

partes eguaes, porque,

pelo exame a quese tinha procedido, se reconhecera que assim nào

ficava a louça tão quebradiça, e que no actode desenfornar estivessem

presentes o juiz do ofíicio, almotacé da cidade e escrivão da

almo-taçaria.

A

pasta para estes artefactos seriade barrode Alcarraques e da

Ademea, na proporçãodedois terços do primeiro e

um

do segundo.

Finalmente, os officiaes d'esteofficioelegeriram os juizes que deviam

servir

em

cada anno, sendo recebidos os seusvotos perante a camará a

fim ^dese

nomeaiem sem

subornojuizes deboasconsciências e autos

para talcargo»;

As

providencias exaradas no regimento de 9 de Julho de 1571

são idênticasás do anterior, insistindo-se

em

não se vidrar a louça de

primeira qualidade semter ido

uma

vez ao forno.

Comprehendendo-se geralmente na cerâmicaa vidraria, por isso

indicoa taxa dos preçosestabelecida

em

1571, apesar de

me

parecer

queestaarte nunca seexerceu

em

Coimbra;e julgo isto nào pelo facto

de nãoexistiractualmenteenão havera mínimatradição a seu respeito, pois muitasartes aqui floresceram, por exemplo, a fiação e tecelagem

deseda, quehoje não existem, mas porque havendo no século XVI

tantose tão minuciososregulamentos dos mesteres existentes nenhum

seencontraa respeito de vidraria.

Da

resumidataxa dos preços dos copose garrafas, aprovada

em

25de Agosto de 1571,que se refere apenas ao abuso de se venderem

na praça(e nãodiznafabrica)copose garrafas rachadas, pôde talvez

deprehender-seque seriam transportados de longe estes artefactos, e

que poressemotivochegassem

em

grande parte deteriorados.

A

taxados officios dos olleiros,apregoada

em

12 de

Novembro

de 1573, estabelece os seguintes preços;

uma

talha grande

com

seu

testo custará vinteréis;

um

cântaro burnido

com

testo, dezoito reis,

levando deseis a sete meias;

um

alguidar dedois alqueires, trinta reis, e sendo mais pequeno soldo

á

Hora aodicto preço por alqueire;

uma

talhade meio almudecom seu testo, dez réis; alguidares detrês

alquei-res, cincoenta réis;

uma

infusa

com

seu testo, quatro reis, e sendo de

pinta, dois réis;

um

púcaro parabeber

com

seu alguidar e cobertura de

(32)

28

alguidarinhopara debaixo,

um

real;

uma

panela sumicha (1), quatro

réis, deseis sumichas, seis réis;

uma

almotolia de sumicha, dois reis,

d'ahi para cima, a real porsumicha;

um

privado

com

seu testo quinze

réis;

uma

tijelade iraofogo, quatro réis,de meia, cincoreis, depinta,

três réis;

uma

vieirapara candieiro, meio real, pote para azeite

bem

cintado,arazãodedezoito réispor alqueire; talhapara lagarde azeite,

dedesoito a vinte alqueires, oitocentos reis;fogareiro depalmo e meio

de vão, quarenta reis. Tijolo para fornos de ladrilho, dois mil réis,

mararil e chanfrado para portaes, o

mesmo

preço.

Um

milheirode telha,

oitocentosréis; de canudo, setecentos e cincoenta réis.

O

tijolo devia

tera marca da cidade, sendo obrigados os fabricantes a aferir os seus padrões na camará

em

Janeiro de cada anno. Suscitando-se duvidas sobre o regimentodos olleiros e malegueíros de 1571, no que diz

res-peitoao cosimento da louça, accordaram o juizde fora e procuradores

da cidade edosmesteres,

em

vereação de 11 deAgosto de 1576, que

estava

bem

feitoo que ordenava o antigo regimento acerca das misturas

dobarro,eque todososannos

um

dosjuizes do officio

com

o respectivo

almotacé dessem varejo ásollarias, enão achando a mistura do barro

(1)Pelos antigos foraesdos séculos

XV

eXVIdesignava-sesumichaamedida

deumacanada a maisemalmude;devendoentender-se a phrase de seis almudes

sumichos,seisalmudescomasdemasias ou verteduras como hoje diríamos,

deter-minadasnoforal.

Aqui,porém,não podeteraquellapalavraomesmosentido pois era

impos-sívelqueumameia,istoé,seisquartilhos,tivessem doisde vertedura.

Aspalavras textuaesdataxade 1573 são asseguintes;huapanellasumicha

não passara derealledahi

SOLDO

.4LIVR.\(exactamente) atéhuameaquedaram

aqualroreisesendo deseissumichasseis reisedahipêra sima soldo d Hora sendo

maioresou menores».

Asumichaa queestataxaserefereé uma medida de quatro decUitros de

queseconservaatradiçãonasantigas oUariasde Coimbra,fabricando-seaindahoje

uns pequenos púcarosd'aquellacapacidade.

NaoseapontanoElucidáriodeViterbo esta variante,apesar dosPrasosde

Vairão,que menciona serem coevos da referida taxa, e admira porque o accordão de21deJulhode1526,citadopelo Snr. Dr. .\yresdeCamposnos índices e

summa-riosdos documentos dacamarámunicipalde Coimbra, a pag. 92 do 2." fascículo,

determinaa taxadas meias,sumichasemeiassumichas.

Estasmedidasforamprohibidasporaleide 26 de Janeiro de 1575,

substi-tuindo-seporoutras aqueserviadebaseo quartilho; o povo, no entanto, ainda

(33)

^

em

conformidade

com

as disposições do regulamento impozesse aos

trans^^ressores a muleta de mil reis da cadeia, sendo-ihes quebrada a

louça.

Determina mais que enquanto se vidrar com alcanfor bastará

coser-se a louça

uma

vez, porem sendo chumbo duas, porqueteem por

informação iqueheeoalcanfor metal tão duroque cosendo-se Ima só

vezfica

bem

cosido.)>

Transcrevo na integra o seguinte regimento por ser

um

dos que

mais interessapara a historia da cerâmica conimbricense:

REGIMENTO

DOS

OLLEIROS

E

MALEGUEIROS

1623

«AosoitodiasdomezdeJulhodemilseiscentose vinte etrês annos n'esta

cidadedeCoimbrae torredecamarád'el!aaonde estavam juntos Jorge d'Andrade

Corrêa,Juizde Foracomalçada porsuaMagestaden'esta cidade e termos,

Fran-ciscodeMoraeseJoão FerrazVelliovereadoreseLopod'Andrade procuradorgeral

dacidade eFranciscodeMarizumdos mesteresdamezatodos juntos fizeram

verea-çãoeouvirampartes.Diogo de CarvalhoPintooescrevi.

^<N'estacamaráse fezumregimentopara osolleirose malegueiros estando

os maisd"ellespresentes,que oaceitaram e o theord'elle irá lançado n'e3te livro.

.\ndradeMoraes, FerrazVelho, FranciscodeMaris, .\ndrade.

^<Primeiramenteassentaramqueassimcomohatrês officiosdeollaria, s. de louçabranca,verdee amarella, edebarrosingello,qued'hora em deante haja em

cadaumdosditos officiosseujuizparaexaminarcomalgumadjiuitocadaum emseu

officio,comosecostumaequen'estesexames sennào entremettam de um officio

paraoutro.

«Quetodos osaprendizes para se examinarem tenham seis annos inteiros

aprendido coin official approvado emostremcertidãod'elle na forma costumada,

eantespedirá licençaácamará para o examinarem,eo juiz que sem ella o fizer

pagaráseis mil reispara acamaráeaccusadorede cadaexamelevaráduzentosreis

eo escrivãoumtostão.

«Quandoalguémseexaminarfará aspeçassegiintes,s.noofficiodeolleiro

umcântaro,umatalha,umalguidardesac:odepão,empresençadojuiz,e as mais

peçasqueelleordenar;noofficiode verdee amarello fará uma fornada, em que

irãoumalguidar grande, eumtenorde almude;eno de brancofaráumaboticacom

todas aspeças quen'ellaserequerem.

«Queninguém possa pôr tenda semteras alfaias necessárias para o seu

officio,s.no delouça branca,verdee amarella terão moinho, fornalhas, colheres, pisões e as maispeçasnecessáriasemcadaumdosofficiosdeolleiros.

(34)

30

«Nos officios devidrado se lançará acada arroba devidro seis arrates de

área, antesmaisque menos,equando algumseexaminar o juiz estará presente a ver-iheparaatempera dovidro eos terápreparadossem lhe faltarnada.

vParalouça singellaobarro será terçadocomareia,enãose colherásenão

emAntuzede ouemAlcarraques.

'.QuedeSãoMartinhonão venhabarro para louça alguma vidrada branca

nemvermelha.

«Queninguém possacoser louçanacaldeira;e osquefizerem telha e tijoUo

o farãode muitobombarro e acadaquatro carrosde barro se ha de misturar um

delodo,nãomais;e serãoobrigadosaterformas detelhaetijolo de alvenaria e

forcado e aaferil-ascada annocomoaferidordacidade.

«Quenão possamcozer louçaemforninhopequenosemlicençadojuizdoofficio

«Queninguém poderádesenfornarfornadaalguma sen primeiro chamar o

juizdoseuofficio,oqualveráse a louça está cosidacomoconvém,e achando que

onãoestáa fará coserquantofor necessário.

«Quandoosjuizesnovos tomaremjuramento, queos velhos lheleam o

regi-mento deseusofficios;quandoalguin se examinar tomará juramento de guardar

esteregimento alem do mais que novelho secontem.

«Quandoficarde algumJdos ditos officiais molher viuva, que d'hoje em

deantenão possatertendaabertasemter n'ella officialexaminadoeapprovado no

officioqueusar.

:<Queninguémfaça louçacomagoasuja,nemdaruna,nemdo charcoeque

tudocumprirãocompena deseis mil réis,metade para o accusadore a outra para

acidade.»

Assim OS antigos juises dos officios fiscalisavam os processos

empregados nas diversas fabricas ezelavam o

bom

nome

e reputação

dosmestres, não se permittindoaos aprendizes elevarem-se a officiaes

sem mostrarem perante ojuiz e commissãorespectivaque estavam

ha-bilitados a exercer a sua arte.

Não

pertendemos compararosartistas dehoje

com

os mesteiraes

de então, porém muitas dasidéas que se encontram n'aquelles

regula-mentos, devidamente adequadas á epocha, ainda agora seriam apro-veitáveis.

O

quese diz no regimento de21 de Março de 1556 acerca do

barrodaPovoaede Trouxemil, e das proporções

com

asmargas, ainda

hoje se practica, assim

como

relativamenteaos processos de se vidrar

a louçadaprimeira qualidade depoisdo enchacote ou primeira cosedura,

a que

também

sechamabiscouto.

Na

taxados preços apregoada

em

12 de

Novembro

de 1573 pouca differença haviada que vigorava

em

1514relativamente á louça;

(35)

quatro qualidades, d'uiTi preço elevado para a epocha a dealvenaria, de

forcado, de ladrilho, e

uma

outra variedaded'este, que se denominava

mararii.

O

regimento de 11 de Agosto de 1576 mandavaque a louça

vi-dradacom chumbofosse duas vezes forno,porém sendo com alcanfor

bastaria uma,porsermetalmuiduro, segundoalli se refere.

Ignorámos por muitotempo qual fosse a composição designada

com

aquelle nome, sendo possivel que, assim como o povo chamava

vulgarmente ao marcurioprataliquida,

também

desse a singular

deno-minaçãode alcanfor aos vidrados de estanho, que são effectivamente

mais durosqueos de chumbo, e se

empregam

nas faiançasde primeira

qualidade. Alcanfor ou camphora no seu verdadeiro sentido é que não

podiaser, porque sevolatilisa a

uma

temperatura mui baixa, e como

substancia vegetal nãoseadaptavaatal uso.

Finalmente depois delongas investigaçõesdescobriu o

meu

amigo

dr. Pessoa quehavia outr'ora

uma

galena, com quese vidrava a louça

denominada alcofór, e era composta de sulfureto de chumbo.

N'a!guns antigos diccionarios considerava-se alcofôr synonjmo

de estibio ou antimonio; mas, significando também galena aquelle

vocábulo, está mais

em

harmonia com os processos cerâmicos esta ultima significação.

A

erradaorthographiadoalludidoregimento é que tornava

inintei-ligivel semelhante processo de vidrar.

Data d'esta epocha ou de alguns annos antes a decadência da

cerâmica portugueza, preterindo importar-se a louça: extrangeira a

aperfeiçoar as nossas manufacturas.

As classesricas serviam-se então da louça da China, e as menos

abastadasconsumiamosproductosordináriosdo paiz, ou os que vinham de Hespanha

um

pouco mais perfeitos, principalmente das ollarias

de Talavera.

No

principio doséculo X\'II1 já se não fabricavam os tijolos

mararís paraladrilhos,

nem

as tarefas de lagar ou potes de grandes

dimensões, que levavam 700 e 800 litros (1), e as boticas, isto é,

todosos boiões e utensílios de faiança esmaltada próprias para

uma

(1)Nãosetornaramaqui mais a fazer, sendo hoje exclusivode Miranda do

(36)

32

pharmacia,notáveis pela sua perfeiçãono séculoXVI, deixaram

também

desefazer, tornando-se cada vez maisimperfeitos os outros artefactos. Foi só no meado do século passado que o grande niarquezde Pombal, quetãonotável impulso deu atodas asnossasindustrias,

atten-deu

também

a esta, decerto nãomenos útil e proveitosa.

Vogando,

como

é sabido, n'essetempo o systema protecionista

de Colbert, tractou o ministro de D. José de conceder privilégios e

isempções. e ainda avultados subsídios pecuniários, aos empregados

das fabricas, cujosprogressos e desenvolvimento patrocinava; outras

vezesera o próprio estadoo emprezario, não se presumindo ainda a

vantagem da liberdade de commercio, que mais tardetomaria por divisa a economia politica.

Tendo

assim decahidoa fabricação das louças pelos motivos

in-dicados, enão havendo artistas no paiz que a podessem aperfeiçoar

emprehendeu o niarquez dePombal

uma

fabricaporconta do estado, a qual aggregou á das sedas no Largo doRato,

em

Lisboa, contractando

paradirectoroitaliano

Thomaz

Brunettoeparacontramestre José Veroli,

em

conformidade

com

ascondições estipuladas

em

1 deAgosto de 1767.

Pelo

mesmo

tempo estabelecia o contra-mestre por sua conta

uma

outra

em

Bellas, que tevepouca duração.

Subsidiouo ministro

em

1769outra faiança de que foi mestre o

italiano Paulo Paulette, concedendo-lheprivilégios idênticos á do Rato

;

mas não sendo nossopropósito tractar da historia da cerâmica do paiz.

fallaremossó deCoimbra.

O

doutorDomingosVandelli, natural de Pádua, elentede

philo-sophian'esta universidade, para onde fora convidado,depois da notável

reforma dos estudos, a fim dereger as cadeiras de chimica e historia natural, e mais tarde iniciaros trabalhospara acreação d'um jardim

bo-tânico,visitandoos arredoresde Coimbra e notando a boa qualidade de

barrode que se fabricavam asnossas faianças ordinárias, lembrou-se de

aperfeiçoar estes artefactos, presumindoque poderiam competir

com

os

de Hespanha, que n"essa epocha importava-mosainda

em

larga escala.

Animado por essa idéaerigiuaqui

em

17^

uma

fabricadefaiança,ondese

executou a melhorlouça do districto e

mesmo

do paiz, exceptuando a

do Rato: egualmenteahi se fabricaram diversos objectos de grés que

aindahoje

podem

ver-se no laboratório de chimica da Universidade.

Muitos foram os privilégioscom que se favoreceu na iniciativa

(37)

33

de 1788, auctorisava-se a camará de Coimbra para aforar ao doutor

Vandelli, lentedephilosophia e directordo real jardim botânico o chào

quepedia norociode Sancta Clara para melhoraccommodação da sua

fabrica delouça, pagando o foro annualde 700 reis.

Na

provisão da juncta do commercio e agricultura, de 6 de

Setembrode 1792-, determina-sequea fabrica delouça do douctor

Van-delli,

em

Coimbra, gosará dos privilégios

communs

a outras fabricas,

estando osseusofficiaes eaprendizes matriculadosisemptosdo serviço

demare terra, na conformidade do§ 7." dos estatutos da real fabrica

das sedas, eda condição 8." dostransmittidos ás reaes fabricas de

Por-talegre, Covilhã e Fundão, e da 6." das condições approvadas pelo

alvará de 17de Agosto de 1789.

De

todas asgraças porém,a mais importante fôra-lhe dada pelo

alvaráde 7 de Fevereiro de 1787, no qual se lhe concedia o privilégio

exclusivo da venda para as províncias da Beira e Minho,

com

a

per-missão detiraros materiaes para a sua fabrica

em

qualquerlogar onde

seencontrassem, gratuitamente sendo o terreno do estado, e sendo de

particulares conforme o quese combinasse, ou, não se estabelecendo

accordo,segundo arbitramento de louvados.

Por muitosannos continuouaprosperar esta industria, a quedera

tão notável impulsoo sábio professor, e ainda noprincipio d'esteséculo

seconcediam idênticos privilégios

como

se vê na provissão da juncta

docommercioe agricultura,de2 deDezembrode 1806 dando a Manuel

Ferreira eJosé Freire

&

Comp.'' licençapara livremente continuarem a

laboração da suafabrica delouça, vulgarmente chamada faiança,

com

todas as graças, isempções e privilégios a outras semelhantes fabricas

outhorgadas.

Eraesta situadanas casas e ollaria hoje pertencentes á viuva de

António Domingos Pessoa, no Largodos Oileiros, quefazesquinapara a ruada Moeda.

O

estadoda cerâmica conimbricense

em

1810vê-se pelo seguinte

mappa

(1)

:

Manuel Caetano de .Vloura

fabrica de louça entre fina

em progresso.

José António Bélico (Lages)—fabrica de louça entre fina

estacionaria.

(1)Extrahido dasVariedadessobre objectos relativos ásartes,commercio

manufacturas, porJoséAccursio dasNeves,Lisboa, 1814.

(38)

34

José Fortunato deAlmeida—fabricadelouça entrefina,branca—progressiva.

Manuel José de Abreu

fabricade louça entre fina, branca

progressiva.

RitaRamos

fabricadelouça entrefina,branca

estacionaria.

Dionísio Salvador

fabrica de louça entre fina, branca

estacionaria.

Manuel Barbas

fabricadelouça entrefina,branca

estacionaria.

Manuel Joaquim Pessoa

fabricadelouça entrefina,branca

estacionaria.

RitaMaria de Jesus—fabrica de louça entrefina,branca

emdecadência.

Joãodas Neves

fabVicade louça entre fina, vermelha

em decadência.

AntóniodeOliveira—fabricadelouça entrefina,vermelha—em decadência.

MariadaConceição

fabricadelouça entrefina,vermelha—emdecadência.

Manuel daSilveira

fabricadelouça entrefina,vermelha—emdecadência.

José da Conceição

fabricadelouça entrefina,vermelha

emdecadência.

D'aqui sedeprehende quea fabricação deartefactos de barro

ver-Mielhodecahiu consideravelmente, e que

mesmo

no tempo de Vandelli,

d'ondedata a renascença dasfaianças

em

Coimbra, nuncaatingiu o an-tigoaperfeiçoamento.

A

epocha mais florescente d'esta industria foi no

principiodo séculoXVI, encontrando-se na taxados preços de1514,que

trancrevi, relacionados muitos objectos quese nãofabricam.

Só em

1825équeprincipiou a notar-sealgumatendência para

aper-feiçoamentos, estabelecendo por essaepocha o industrial Leandro José da Fonseca

uma

fabrica (1) de louçafina(faiança) na qual se realisaram

algunsprogressos.

Desdeentãoaté hoje as fabricas delouça fina e entre fina teem

progredido consideravelmente, revelando-se

bem

na exposição districtal

de 1884aquelle progressoalliado

com

abarateza de preços, que torna

accessivel ás classesmenos favorecidasda fortuna o uso das melhores

faianças.

AsargilasdosjazigosdaCioga do Montee da Povoa deBordallo,

combinadas coma marga verde do Loreto, constituem a pasta para a

louça branca; a vermelha fabrica-se

com

o barro de Alcarraques, que já

no antigo regimento doséculo XVI era preconisado pela sua excelente

qualidade.

O

esmalte da faiança

commum

é formado porsilicatos de

chumbo

edeestanho, determinando a dose d'esteultimo asua maior ou menor

opacidade.

(1)

Em

conformidadecomaprovisãodarealjunctadefazenda,de V2de

(39)

35

Na

louçafina applica-se o vidro nobiscouto ou enxacote; na

infe-rior é applicado napasta

em

crú,logo depois de enxuta.

Julgou-sepor muitotempo queo fabrico de louça fina

em

Coimbra

datava de Vandelii, mas não é verdade,pois já no século

XV

era

notá-velaqui a sua perfeição, e nos regimentos d'essa epocha tracta-se de

manter o creditodos íabricanaes, nãosepermittindoesmaltar

em

crú a

faiança queosalmotacés deviam taxar

como

de primeira qualidade.

Hojeo vidro para a faiança ordinária obtem-se pela mistura da

areiado mar, óxidos de estanho edechumbo,chloretodesódiooperando

como

fundente; para a faiança fina substitue-se a areia do mar pelo

kaolim impurodeAlencarce, do qualtivemos occasiào deapreciar a

ex-cellente qualidadena exposiçãodistrictal de 1884.

Actualmente

em

Coimbra existem onzefabricas sob adirecção dos

seguintes industriaes:

loãoAntónio daCunha

Leonardo António da Veiga JoséLuizde.Moura

José AntóniodosSanctos

Antonino da Costa Pessoa

&

Irmão

Adriano.\ugustoPessoa

Bento José da Fonseca

JoaquimAlfredoPessoa

AdelinoAugusto Pessoa

louçabranca

Joaquim Carvalho

AntóniodaSilva Pinho.

Ilouçavermelha

N'estas fabricastrabalham 42 officiaes de pintura com 34

apren-dizes; 41 officiaes, de roda com 6 aprendizes e 15 amassadores e

coa-dores empregando-se na escolhada louça, no seutransporte e na

con-ducção dasmatériasprimas 40a 50 trabalhadores, pelo menos, o que

eleva amais de 180 o numero de pessoas que vivem directamented'esta

industria.

A

producção reguila entre quarentae cinco a cincoenta contos de

reis por anno.

Restadizer quea louçabranca se classifica

em

duas categorias :

(40)

36

Na

primeiratodaa pinturaéfeita

com

estampilha(1), na segunda

subsiste a pintura a esponja epincel,conservando-seainda os antigos

pa-drões,que representam geralmente avesexóticas deplumagem brilhante

sobre

um

fundo de grandesfetos verdes.

Estapinturadiz,Sr. Vasconcellos

em uma

das cartasque publicou

durantea exposição cerâmica do Porto,dá

um

aspecto tão archaico e

tão característico á louça quea distingue á primeira vista de qualquer

outra do paiz: ahi se patenteia

com

efeito a influencia do estylo árabe

n"esta industria, queo decorrerdetantos séculos não conseguiu

inteira-mente apagar(2).

Alémdas louçasvulgares para uso domestico fabricam-se

actual-mente nas ollarias d'esta cidade vasos para jardins, balaustres, tijolos,

azulejos e muitos outros objectosdeque se admirou a profusão e

va-riedade na exposição districtal de 1884.

A

boa qualidade dobarro, das margas e das areia que constituem

a pastada nossa faiançapermitte aperfeiçoar consideravelmenteos

arte-factos: e lograr-se-hia obter barro finíssimo se permanecesse por mais

tempo nostanques, o que não succede, empregando-se geralmente

de-pois detrêsou quatro mezes de macerão, o queé insufficiente para lhe

fazerdepositar as impurezas.

Egualmente deveriamadoptar-se para muitos objectos novos

pa-drõesmais

commodos

e elegantes do que os actuaes, o que seria fácil

(1)

O

usodaestampilhapara pinturada louça foi introduzido em Portugal

em1834ou 1835.

(2)Nosantigos azulejos,deque possuimosemCoimbramui bellosexemplares,

principalmentenaegrejadaSéVelha,demonstra-seaindamelhorestainfluencia, ou

antesadoest>'lohispano-mourisco, pois as variadas manifestações da civilisação

árabeemourisca devemconfundir-se.

Osárabes,de origemasiática,invadiram a penínsulanoprincipiodo século

Vlll,estabelecendo-senaregião meridional;no fim do século XII os almoradives

expulsaram-nos,sendoestesemseguida expulsos pelosalmuhades.

Écertoqueos árabes transmittiramaosmouros asua civilisação e que o estylomouriscoderivado árabe;hanoemtanto, differenças características entreelles.

Dosproductosdaantiga cerâmica, existentesem Coimbra, não ha nenhum

anterioraoséculo XÍV,istoé,não existe nenhum de origem propriamente árabe. Levar-nos-hiamuitolonge explicar a procedência provável d'esses artefactos, porissolimitámosonossoestudo,nas primeiras paginas d'este opúsculo, a um pe-ríodo relativamente mais próximo.

(41)

37

em

vista da notável aptidão dos nossosartistas para reprodu/irem fiel-mente qualquer modelo.

Realisados estes melhoramentos

podem

as faianças de Coimbra

(42)
(43)

ESTA OBRA FOI COAtfOSTA E

IM-PRESSA NA <0"rTOSGKAPHICA>,

(44)
(45)
(46)
(47)

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