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BRIEF
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'isiJ-ífe-^
SMiiT-iHISTORIÀdaCERàMICà
coimerà
APONTAMENTOS
Adelino António
das Neves
eMello
COM
UMA
BIOGRAFIA
DO
AUIOR
J.
Leite
de
Vasconcellos
'J:*--- iBiíJiLCP
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I.IA
75. KuadoCiiniio.7">LISBOA
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LIVROS
DE ]AYME AUGUSTO DEMOURA
LISBOA
ilIMIIIIIIIIIIIMlilliUIMIlUIIIIIIAPONTAMENTOS
PARA
A
HISTORIA
DA
CERÂMICA
EM
HISTORIA
DA
CERÂMICA
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APONTAMENTOS
PORAdelino António
das Neves
eMello
COM UMA
BIOGRAFIA
DO
AUTCR
POR
J.
Leite
de
Vasco
ncellos
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HBHHC^O
PORTVGALIA
tDlTORA75,RuadoCarmo. 75
^15y
ESTA EDIÇÀO
CONSTA
APENAS DE
110EXEMPLARES,
NUMERADOS
E
RUBRICADOS
PELOS EDITORES
EX. N.»
VII
No
estudo dapoesia emusica populares portuguesasdesempe-nhoucerto papel AdelinoAntóniodas Nevese Mello (Filho)(!):epor
isso entendoque possofalar dele no Boletim, eJuntamente publicar o
seu retrato. Pois que no Diccionario Bibliographico de Innocencio
S
Aranha nãoselêarespeito deAdelinodas Neves quasinada, apesar
deestehaverescrito váriasobras, epois quenão
me
consta que hajaalgumabiografia deleaproveito a ocasiãopara ampliar o
meu
artigoum
pouco além doslimitesquebastariamparauma
notícia do cara-ctermeramenteetnográfico(2).O
nosso autornasceuem
6 deMaio
de 1846em
pleno mar,pe-tasalturasda ilha de Santa Helena, a bordo
dum
navio portuguêsquedaChinatraziaparaoreinoa
mãe
eopai. Estechamava-seAde-linoAntóniodas Nevese Melo, casado
com
D.Domingas
Carneiro deMelo (naturalde.Manilha:Filipinas), e exercia ao tempo o cargo de
fisico-mor
em
.Macau, depoisdeoterexercidona índia. Era filho do/).'""AntónioJosé das Neves e Melo, Lente de Filosofia na
Universi-dade deCoimbra, e Directordo MuseuBotânico(3). Além de médico, o pai donosso biografado gostava de colleccionar cousas antigas e
curiosidades. Oficialmente, apátria deAdelino Júniorestána
Fregue-sia deS. Quintino, perto deLisboa (Sobral de MonfAgraço), porque
nelasebàtizou.
Deu
motivo a issoo teraíuma
quintaseu tioporafi-nidade oD.°''AntónioRibeiro
da
CostaHoltreman,quelhe foipadrinho. Regressados aPortugal,os paisdeAdelinoestabeleceram-seem
(/)Era assim quecieescrevia, isto é: Filho,emvezdeJúnior.
(2)Asminhasfontessão:asobrasde Adelino(umas que possuo, outrasque
consultei foradaminluilivraria);informaçõesquemedeu de'vivavoz aEx.""' Viuva;
uns apnhtainentns autobiográficos (incompletos) de Adelino, que a mesma Ej;.'""
Viuvameofereceu.
O
retratoobtive-o d'esta senhora,porintermédiodoS.'"'CândidoAugustoNazareth, de Coimbra,antesdeeua conhecerpessoalmente.
{3) Vid.asuabiografian-.\Naçãode2.3de Agostode 1870 (artigodeF. ,1
.
vm
Coimbra,aosArcosdeS.Bento, ondeseus antepassados tinhamvivido.
No
tempoprópriocomeçaram; a dar ao filho educação literária.Em
1860 concluiu Adelino os preparatóriosliceais, e entrando logopara a
Universidade,ficouformado
em
Direitoem
1865, naidadede 19 anos.Em
1872casouem
Lisboa com. a Ex.""-^ SenhoraD. Felicia LeiteVe-lho, queaívivia(1).
Pôde
cronologicamenteseraqui mencionado queAdelino das Neves conviveu
com
Camilo Castelo Branco, quandoeste esteve
em
Coimbra,em
1875. .Asrelaçõesentreos doisdatavam
de épocaanteriora 1875,
mas
tornaram-se agora maisintensas,como
o próprio .Adelino diz nos Senilia,
Pará
1899, p. 11,—
obra de queadiantetornareiafalar,
—
ecomo
se patenteiadecartasqueogranderomancista dirigiu ao seuamigo(2).
Em
1878foiAdelino das Nevesnomeado
Comissárioda policiade Coimbra, cargo então criado;serviu até1879, era que pediu a
de-missão,por queda do ministério,
mas
tornou ae.vercer as funções de1881a 1886,
em
que novamentesedemitiu, indo viverparauma
quintaquetinha ao
pé
de Coimbra.A
talpropósito, dis-lhe Camilonuma
carta,de quesetranscreve
um
trechonos apontamentosautobiográficos:iNão
seisedeva dar-llieosparabénsporse eximir decapita-nearapolicia davolteira e turbulenta Coimbra.
Acho
quesim, e que'devo dar-Ih'os muitossinceros, e adcinja-se, quanto possa, á felici-*dadequietaemonótona dafamília. Ahi tem deportasa dentro duas
•^formasdeparaisoqueo céu doschristãos decerto lhenão dará mais
i^perfeito:esposaefilho. Entreellesiráserenamentecaminho
da
outra(existência,queeulheconcedoporhypothese;se
porem
semeter muito(/)OriginariadeTrns-os-Montes.Foiseu Paio B." Bernardo Tei.reira de
Morais Velho,do Mogadouro, queexerceu a advocacia noBrasil.
(2)Algumasdelas forampublicadas pelo D."'J.M. TeLveiradeCarvalhoin AGalera,1914, n.»2,e1915, n."4,e por Manoel CardosoMarta,Cartas de Camilo,
ÍX
*nostremedaesdavida interior, terá muitas occasiões de
arrependi-*mento, e rarasdesatisfaçãOT>
.
Com
o exercido da função de Comissário de policia serela-ciona
um
facto que muito o honra. Tendo-se declarado incêndio napartesuperior
dum
prédioem
cujasbaixas haviauma
oficina defo-gueteiro, Adelino Neves
acompanhado
do seuAmanuense
César daRocha, abalançou-se a entrar nela, e removeu de lá, já
em
meio defumo
e deardentes chispas,um
caixotequecontinha três arrobas depólvora
—
eassim evitouuma
explosão, de fatais consequências. Porissoosdoisforam galardoados
com
a medalha de filantropia, mérito egenerosidade>.
Em
1886 fezuma
viagema França para seinstruir, a qualvia-gem, segundoelediz nos citados apontamentos, influiu bastante no
plano da sua vida. Resolvendo dedicar-se á vida diplomática, por o
nãoatraírem assubtilezas doforo, foi sucessivamente nosso Cônsul
em
Zanzibar(1889),Demerara
(GuianaInglesa),Pará, e Rio GrandedoSul.
Em
1904voltoudelicençaaoreino,para a quinta deCoimbra.Poressetempocomeçou a sofrerdavista, vindo depois a cegar.
Em
1906
mudou
aresidênciaparaLisboa, ecáfaleceu,derepente,em
1912,desincope cardíaca, nodia dos anos da esposa, senhora dotada de grandes virtudes, quefoisempre sua desveladissima companheira
em
todosos lancesdavida:
em
Coimbra, nasviagens, nasperigrinações,enosúltimos e
amargos
dias.Creioquedeixo mencionadas asprincipaisdatasda vida
parti-cularepúblicadeAdelino Neves. Passareiagora a tratar das obras
quepublicou, ás quaisadicionarei
uma
noticiadealgunsinéditos.As
obras impressassãodez,que vouindicarpelaordem dostempos:1. Musicase Canções Populares, colligidasdatradição. Lisboa 1872; 241 páginas. Esta obra, aqueservem de epigrafe os versos de
Tomás
Ribeiro,Quemquer prazer suaveeamordivino
é?queAdelinodedicou asua esposa, encerra, depois de breve
Adver-tência, cincogrupos de cantigas:1.°, de Coimbra;2°, do Minho; 3°, de Trás-os-Montes; 4P, dosAçores; 5°, cantigasdoberço. Muitas das
cantigas
vêm acompanhadas
demusicas.Quando
Adelino das Nevesestudava
em
Coimbra, costumava passar asferias (o que fez até ao4°
ano)em
PenhaLonga(concelho doMarco
deCanaveses)com
seutioo Dr. Adriano das Nevese Melo, antigo Lentede Teologiada
Uni-versidade, quealiera
Abade
(1).Ao
contactocom
agente da aldeia,que no Entre-Douro-e-Minhosuaviza constantemente o trabalho rural
com
cantorias, enos diasdefesta dança e toca, mais talvez quene-nhum
outropovo de Portugal,ganhou Adelino Nevesgostoda
musicado povo e
da
literatura oral, epensouem
organizaruma
obra sobre oassunto. Assimapareceu o livrocujo titulo a cima copiei.
O
próprioautor dizna advertênciapreliminar: «Este cancioneironão émais do
que
um
singeloramo
defloressilvestrescolhidasao acasopelocampo*.Para
olivro concorreramtambém
estudanteseamigos do autor:leva-vam-lhecantigasdasrespectivasterras, eAdelino escolhia e
aprovei-tava asquelheconvinham.
Devo
porém observarquecinco anos antesdoaparecimentodasMusicas e Canções, Isto é,
em
1867, haviaTheo-phlloBragapublicado o CancioneiroPopular:épois naturalqueAdelino
bebesseaquia sua primeira inspiração para o estudo do Folk-Lore.
Que
Neves conhecia o mencionado trabalho de Theophllo Braga, o confessanojácitado opúsculo Senilia, p. 31, ao referlr-se á acçãode Garrettnacolheita da poesia popular (cf. adiante, § 11).
Já
nosmeus
Ensaios Ethnographicos, /, 303, eu disseque acollecção deAde-linodas Neveserageralmentefiel. Seo trazera luríie canções
popu-laresnão constituíanoviaade,
como acabamos
de ver, constituia-o apublicação demusicas.
Nunca
ninguém atéentão nonosso pais selem-(1)Morreu derepente,em1864,quandoAdelinoandavatio•/."uno dedireito;
XI
brarade atender aeste
ramo
da estética popular, apesar da riqueza dele;só muitosanosdepoistornouaatender-sea isto, eescassamente.Vê-seportanto
com
que discernimento Adelino das Neves iniciou asua carreiraliterária.
É
delamentar que não persistisse nos estudosfolkloricos. Espirito actiuo,
mas
pouco desejosode se fixarfortementenum
ponto, o queacontececom
frequência entre os Portugueses,pre-feriudivagarpor outros campos,
como
adiante veremos. Apenas noquetoca dpoesia popular,pensou Neves
em
fazer 2.° edição do seulivro,paraoqueredigiu, entre 1872 e 1889,
um
prologo, que existemanuscrito, eque aEx.'"" Viuvaespontaneamente
me
ofereceu(1).No
quetoca a outrosramos
deEtnografia, ouportuguesaou defora,es-palhouobservações váriasporoutrasobrasqueescreveu (oid. adiante,
%%7,8e
9).2. Crenças religiosas e sociaes. Coimbra 1875(folheto). 3. Estudos sobre o regimen penitenciário e a sua applicação
em
Portugal. Coimbra 1880. Volumede 142 páginas, dedicado a -^António
Rodrigues Pintor. DizNeves, nadedicatória, queapesarda
repugnân-cia quetinha aoforo, ainda chegou a adiargosto
num
estudo dedi-reito criminal:e assimnasceu estelivro.
4.
O
estudo da iiistoria, segundo os processos scientificos deHenry
Thomas
Backie. Coimbra 1882.5. As formigas. Coimbra 1888. Conferenciafeita no Instituto de
Coimbra.
O
folheto e separata dojornaldesta associação.6.
Em
1884realizou-seem
Coimbrauma
exposiçãodistrital, quedeu motivo a
uma
conferenciafeita pelo D."'' Augusto Felipe SimõesacercadaEscultura coimbrã dosec.XVI.
Como
porém o conferentesesuicidasse,
sem
deixarredigida aconferenciaparaoprelo, Adelino(/)D'esteprologo,cmquehaumapartequenão mereceimprimir-se,
XII
das Nevesrecompô-la, eela foipublicada no volume intitulado
Expo-siçãodistrictal deCoimbra
em
1884, Coimbra 1884, pp. 117-123.7
.
Apontamentosparaahistoria da Cerâmica
em
Coimbra.Coim-bra 1886. Este opúsculo nasceu
também
daexposição deque falei noparagrafoanterior.
As
observaçõesde Adelinodas Neves sãoprincioal-mente decaracterhistórico, etêmimportância não só
com
relação ácerâmicacoimbrã dosec. XIIÍao XIX,
mas
áEtnografia geralportu-guesa, pois o autormencionamuitos
nomes
de vasilhase medidas dosec.XVI.
—
Valiaapena reproduziro opúsculo, retocando oem
notas.8. Zanzibar. Coimbra1890. Livro deviagem, onde o Autor, no
quepertenceá Etnografia,fala
como
se viveem
Zanzibar, e traduzdo suali
um
conto popular, adágios, eem
versouma
poesia e oco-meço
deum
poema.A
pp. 139.-140alude, depassagem,á
missapor-tuguesa do galo (Natal).
9.
Guyana
Britânica: Demarara. Coimbra 1896. Este trabalhocontém14capítulos;
em
alguns deles o Autor pôsobservações de Etno-grafialocal (superstições, cantares, trajos, etc).10. Senilia.
Pará
1899. Livrinho de105páginas: conjunto dere-cordaçõesdopassado,
como
o próprioAutordiz no prologo. Consta de apontamentosbiográficosdevários autores, ede artigos fugitivos.Entre aqueles autores contam-seCamilo (com transcrição de cartas),
foúo de Deus, Guimarães Fonseca, etc.
Os
outros artigos são, porexemplo, sobreCoimbra eo descobrimento daMadeira.
Com
excepçãodo/?."3,porserdehistoria natural, todososres-tantes trabalhos de Adelino das Neves patenteia/n, mais ou menos,
inclinações históricasouetnográficas.
Os
mais importantes a talres-peito sãoosquese intitulam Musicase Canções (§ /) e Cerâmica
em
Coimbra(§7).
Embora
ambas
feitassem
profundeza,ninguém que trateda nossaliteraturascientifica deve deixarde os lembrar
com
simpatia..Adelino dasA^evesdei.voít manuscrito o seguinte, que a Ex.'""
Viuva
me
mostrou :11
.
Litte-Xlll
rario Portuguêsno Rio de Janeiro
em
15deJunho de 1895 . Breoeno-ticia
com
transcrição de poesias deJoão deDeus. Este artigo foire-produzido,
com
algumasmodificações, nos Senilia: aí diz Neves, nap. 29, queoescreveuestando de pasi>agem no Rio, onde assistira ã
festa.
—
Lê-seneste artigoa respeito de Garrett: ^Preparavatambém
osespíritosparaapreciar
um
género poéticoqueestavacompletamentedesprezado entrenósouera oltiado
com
índifferença pelos doutos:re-firo-meápoesia popular, queellecolligioe reconstruio nos seus
can-cioneiros, salvando preciosíssimasrelíquiasdopassado, que estavam
prestesaperder-sena tradiçãooral:mais tarde Ttieophilo
Braga
re-alça edesenvolveaimportância de semelhantes estudos.>> Transcrevi
estas linhas,porellasse relacionarem
com
o estudo da poesiapopu-lar, objecto principaldopresenteartigo.
12.
Um
alburn,em
cujo começo se lê: «Adelino das Neves eMello li
No
ermo || poesiask Grandeparte do álbum está porémem
branco;apenasexistem nele dezasseispoesias,
uma
d'elasdatada de Outubro de 1885(Granja), eoutrade 1888(Vizela);algumas escritas no Buçaco.São
versossentimentais, de que dou aqui duas amostras{talvezas melhores)
:
Nuncamais Morta! Maleudiria,
''
Quetristesa,meu Deus! quemjulgaria Félix outr'ora Aovel-aperpassaralegremente,
Queríuma hora Queassimviessea morte derepente
Acabaria Para a roubar da nossa companhia.'...
Essaalegria, .Vopequeninoleito,emquejazia.
Essaventura. Pareciadormir serenamente
;
Deque só dura Nenhumterrorde avera almasente.
Naphantasia Emboraestejainanimadaefria.
Um
leveesboçoE
ha de assimbai.varásepultura,Desvanecido!
E
ha deempóeem cimaconverter-seHojenão posso Tãogentilgraçae tantaformosura.'..
x/v
Tirar calor Masnemtodaabelíezaétransitória,
Dasfrias cinzas Vice sempre,eJamais podeesqitècer-se
Domeuamor. Abellezado
bem—
sopro degloria.13. Terminareiesta bibliografia, dizendo queAdelinodas Neves
durantealgum tempose habituou a escrever
um
diário da sua vida.Segundo aEx.'"° Viuva
me
informou, começou a escrevê-loem
1889,na volta de Zanzibar, eforma volumesque abrangemcatorze anos. Li
algumaspaginas, ondeha observações curiosas de acontecimentos e
depessoas.
Do
quefica exposto conclue-seque as aptidões e os gostos deAdelinodas Neveserammultiformes. Cultorda Etnografia, doDireito,
daPoesia, daHistóriada Arte,funcionáriopublico, viajante: que
as-suntohouve para queelenão olhasse?Atéera coleccionador de
mo-luscos terrestres!Diz Teixeira de Carvalho:«Z)sseu avô, lentede
Bo-tânica, herdara o3.°''Neves e Mello a paixão pelas sciencias
natu-rais.
De
seupai, coleccionadorapaixonado depedras, livrosemoveisraros, cultoda Arte- (/). Poderei acrescentarquedformatura
em
Di-reitoolevoua convisinhançada Universidade, e aofuncionalismoesta
mesma
formatura.Ao
gostodaEtnografia Jáacimame
referi.E
o dasviagens
eo
dapoesiadonde
lhevieram?O
dasviagenspor além-marelepróprio declaraquea ida a França minto influiu na sua vida,
—
alémdanatural tendência ambulatioaoupetegrinatoriados
XV
ses,pondero eu(/). Quantoúpoesia, quald o espiritoengenhoso que
não sesentepoeta
em
Coimbra?Assimfica explicadatoda a génese psíquicado nosso autor.
J. L.
DE
V
(Do «BoletimdeEtnografia»,n.°1,comautorisaçXo)
(/)Disse-meumaveznumcomboio de Hespanhaumempregado dos caminhos
de ferrohespanhois «que nuncaviraquemvia/asse tanto como os Portugueses; que osencontrasempre/>-.
—
A
observaçãoé,porém,jámuitoantiga.ADVERTÊNCIA
No
principio de 1884, durante a exposição districtal que tevelogar n'esta cidade, eue omeu
amigo
dr. Alberto Pes"soa,vendo
com
especialinteresse os productos cerâmicos quefigu-ravam
alli,lembrámo-nos de
estudarcom
alguma
proficiência aorigem
e desenvolvimento d'esta importantissima industriaem
Coimbra,
tencionando publicar depois o resultado das nossasin-vestigações.
Para
melhorlevara effeito este projecto traçámosdesde
logoo seu plano, dividindo o trabalho e fazendo
um
elencho ourelação das matérias a que nos applicariamos.
Constaria a obra de duas partes: technica e histórica.
Da
primeira occupava-se omeu
amigo,em
vistado
seu conhecimento especial d'aquella industria, e de lhe permittir oestudo dassciencias physicas, principalmente oda geologia e da chimica
em
que foialumno
mui distincto, explicar os antigos emodernos
processos industriaes, a qualidade e importância dasmatériasprimas, e quaesquer innovaçòes exequíveis.
Da
segunda
tractaria eu, colligindodocumentos
edados
estatísticos d'onde se deduzisseaantiguidade e o valor
econó-mico
da
cerâmica conimbricense.Persistindo n'este
empenho
dêmos
algum
incremento ao nosso estudo: os tópicosda
primeira parteestavam
concluídos,sendo
notável a simplicidade e clarezacom
que se explicavamclassi-18
ficaçãodaslouças, pintura e outrasminudencias
do
fabrico,que
habilitassem o
amador
a elevar-se a verdadeiro apreciador,sem
ser apenas guiado pela apparencia ou intuitivamente pelo gosto.Comprehendendo
os productos cerâmicos as faianças, os grés e as porcellanas, ensinava a conhecer practicamente os exemplarescomprehendidos
em
cada
um
d'essesgéneros
e seusintermediários, provenientes da diversidade dos materiaes
em-pregados, da sua maior ou
menor
plasticidade edo
diversográo
de calórico, que
supportavam
nosfornos.A
analyse dasdiversasqualidadesdebarro, margas, caulime areias, que se
encontram
n'este districto, merecia-lhe especialattenção e deviaoccupar
uma
parte importantedo
livro,sendo
já apreciáveis osseus
apontamentos
acerca dos actuaes jazigos.Finalmente, tractandodapintura fixada a
uma
temperaturaelevada, ou simplesmente a mouffle
n'uma
temperatura maisbaixa, explicando a importância do
pyrometro
e discorrendo acerca das coresempregadas,
dos preparados metallicos que ascompõem,
dos esmaltes e outras variadissimas particularidadesda arte: primava na clareza e concisão, que
nem
sempre
facil-mente
se alliamem
assumptos
tãocomplexos.Pela minhaparte ia colligindo provas sobre a antiguidade
d'esta arte esobre o desenvolvimento industrial, que desde
re-motas
eras aqui se manisfestara.Nos
índices esummarios dos
archivosda camará
muni-cipal
de Coimbra
encontrei indicados preciosos titulos a este respeito, dosquais oseu illustrado compiladoremeu
respeitávelamigo
dr. João CorreiaAyres
deCampos
me
forneceugenero-samente
cópias, que lançam muita luz sobre o assumpto.Dos
antigostombos
que pertenceram ao mosteiro de Sancta Cruz, d'esta cidade, tirei cópiastambém
interessantís-simas, facilitando-me da melhorvontade os archivos odigno19
Com
estes elementos eoutros que diariamente descobria, tantoem
provas escriptascomo
em
antigos productos, alguns dos quaes existem hoje nomuseu
do Instituto de Coimbra, tínhamos incentivo para proseguir na tarefa encetada;infeliz-mente, a solução
de
trabalhos officiaesa que o dever nosobri-gava
e nãopodiam
ser pretermettidos, foram espaçando ascon-ferencias,
em
que d'antes nosdemorávamos,
até seinterrom-perem
detodo, etambém
assiduidade e perseverança noestudo.Agora,
que passoua opportunidade da exposição, ou dospri-meiros
mezes
que se seguiram ao seu encerramento, nãopro-seguimos
no trabalho; custava-me no emtanto deixar na minhapasta ignorados eesquecidos aquelles
documentos
históricos, epor isso lhes
dou
pubh"cidade, apesar deserem
poucos osqueseinteressam porestas velharias. '
Seria
um
trabalho degrande
interesse para todos osquepresam
os estudos archeologicos precedera historiada cerâmicado paiz
d'uma
introducção,onde
se indicasse o desenvolvimentoprogressivo d'esta industria na Europa,
desde
ostempos
mais remotos até nossos dias,havendo
poucas industrias, nas quaesa arte, ogosto e a phantasia
do
artistaoccupem
um
logar tãoimportante, e
em
que entre o valordas matérias primas e o dosartefactos haja
uma
tão notável desproporção.Debaixo
d'este pontode vistaum
talresumo
seria fontede
interessantesestudos para o artista e delargasconsiderações parao philosopho.Em
todas asnações cultas daEuropa
seteem
publicadomonographias
importantesasemelhanterespeito, sendo a Françaque principalmente se distingue n'estas publicações.
A
historia das faianças hispano-mouriscas do barão daca-20
talogo dasfaianças
do
Louvre
por Alrredo Darcel, odo
museu
de Clun}' por
Sommerard,
e finalmenteo excellentetractadode
cerâmica publicado
em
1869
por AlbertoJacquemarí
e outrosestudos, taes
como
osde
Brongniart,de
André
Pottier,de
Ségange,
etc;, queseria longoenumerar, constituemuma
biblio-thecaacerca (l'umaespecialidade, de que só tinhamos ha
poucos
annos estudos incompletos.
O
infatigáveltrabalho dos collecionadores, a curiosidade dos archeologos e obom
gosto dosamadores
teem
poderosa-mente
concorrido para elevaraoauge
em
que seacha oconheci-mento
da historia d'esta industria.Visitando ainda ha
pouco
omuseu Cluny
observei a bella disposiçãodospreciosos exemplaresalliexistentes, nos quaes sepodem
acompanhar
os progressos da cerâmica,desde
os maisgrosseiros vasos de barro
sem
ornamentação
nem
elegância até asadmiráveis majolicas deLucca
deliaRobbia do
SéculoXV,
eosfiníssimos esmaltes de
Bernardo
Palissydo
séculoXVI.
Juncto aosprimitivos e singelos vasos de faiança
obser-vamos
outros,egualmente
sem
esmaltemas
de elegantíssimas formas, queadornaram
outr,ora os castellos dos ricos-homens ebarões da
edade media
;seguem-se
os esmaltescom
silicatosde
chumbo d'um
vidradosubtile transparente, e successivamenteos opacos de silicatos de estanho
com
formosos coloridosde
óxidos metallicos.
D'este
género
sãoas faianças italianasdo
séculoXV,
de-nominadas
majolicas eprovenientes da Ilha deMaiorca,que
lhesdeu
onome,
d'onde seexportavam
em
larga escala para todosos portos
de
Mediterrâneo: d'aqui,porém,
não
sedeve
concluirque se não fabricassem na Itália faianças esmaltadas
anterior-mente
á importação dos productos hispano-mouricos, pois muitoembora
se nãosaiba aepocha
exactaem
que
principiou aquellaindustriana península itálica, é certo que os artefactos da Pérsia
21^
hespanholas, e
também
nas portuguezas,como
sevê pelosazu-lejosque possuímos da
mesma
epocha.A
matériaprima de que principalmente secompõe
afai-ançaé,
como
todossabem,
aargiila, eé da sua abundância quedepende
acreaçãode fabricas de louçasem
certos edetermi-nadoslogares.
O
barro depoisde
amassado,
lavado epeneirado molda-seem
forma ou ámão,
e concluida a peça e enxuta mette-se noforno:
em
estandocosida reveste-seporapplicação ouimmersão
d'um
esmalte liquido,composto
de silicatos de estanho ou dechumbo,
areiae chloretode
sódio.O
estanhodá
ao esmaltea alvura opaca que o distingue,podendo
ser a peçaornamentada
em
cru, istoé, antes de ir aoforno,
como
usavam
os italianos no séculoXVI,
ou depoisde
cosida, sujeitando-a a
um
lume
brando, que,operando
a fusãoda tinta, não prejudique a pastasobre que se applica: este
pro-cesso émais simples efácil,
mas
é inferior ao dapinturaem
cru d'outros tempos, cujo esmalte, supportando apenasuma
cose-dura a temperatura elevada, offerecia
uma
transparênciacara-cterística e
um
esbatido de tons, que torna tão apreciáveis osproductos cerâmicos da renascença italiana.
A
faiança vidradafabrica-sedo
mesmo
modo
que aesmal-tada, diversificando apenas a caldaqueconstitue a pintura, quje
ê
composta
desilicatos dechumbo
que atornam
transparente elogo á primeira vista a distinguem das majolicas de esmalte opacoestanifero.
Ha
também
um
género
de faianças que se fabricaappli-cando
sobre a argiilauma
outracamada
de côr diversa: édeno-minado engobamento
esteprocesso, por meiodo
qual se realisamcaprichosas e bellas ornamentações.
Outras vezes recortam-sediversos ornatos, que se
appli-cam
lisosoucom
impressões sobre a peça:denominam
os22
O
grés, de queseadmiram
também
preciosos productos,formado
da argilla siliciosa e areia fina, constitueuma
pastaduríssima, geralmente escuraemuitasvezes
d'um
bello azeviche,opaca e
duma
sonoridade metallica.Foi na
Allemanha
onde
primeiramente se fabricou estalouça, notável pela finura da pasta e pelos delicados relevos que
a
ornamentavam
;sendo
hoje muito apreciados os antigosexem-plares d'este género, taes
comos
bules, cafeteiras, leiteiras e outraspeças para serviço dechá.Apesar
deser fabricada esta louça tanto naAllemanha
como
naFrança
e na Hollanda, designava-se exclusivamentegrés de Flandres.
A
porcellana éformada
pela misturado
kaolim,marga,
nitro, areia, e outras substancias que
tem
variadocom
otempo
;subdivide-se
em
molle,patê
tendre, e dura.A
primeira é traslucida,d'uma
alvura leitosa, e o seues-malte obtem-se a
uma
temperatura relativamente baixa, pene-trando na pa.<^ca os óxidoscolorantes; apesarde
não serresis-tente e offerecer
pouca
solidezpara uso domestico, é muito apre-ciada pela sua helleza e finura.É
d'esta qualidade a celebre porcellana de Sévres.A
porcellanadura étambém
transparente, brancaesonora,mas
osóxidos colorantesdo
esmalte sópenetram
a pasta pela fusãod'esta, o que lhe tira a transparência e suavidade que seadmira na molle.
Primam
os chinezes na fabricação d'esta porcellana,com-posta unicamente de feldspato e kaolim.
Além
das porcellanas, dos crés edas faiançascomprehen-dem também
alguns na cerâmica a vidraria:sendo
preciosíssimasas antigas relíquias d'este
género
que existem entrenós;diver-sificando,
porém,
bastante os processos da sua fabricação dos da cerâmica, propriamente dieta,reservamos
para rutraA CERÂMICA EM
COIMBRA
A
industriada cerâmicaem
Portugalé tão antiga queé impossívelassignar asua origem,sendocertoque
em
epochas muitoanteriores áfor-maçãoda nossanacionalidadejá os azulejos e outros artefactos de barro,
notáveis pelo seu acabamento, eram conhecidos na peninsula sem se
podercalculardesde quando datariam taes inventos.
Esta e outrasmanifestações artísticas seriamtransmittidas talvez
pelos árabes, cuja notável civilisaçàodeixou brilhantemente assignalada
a sua passagem napeninsula hispânica. (1).
Mas, sementrar n'essas longiquas investigações históricas e
limi-tando-me unicamenteaCoimbra, direiqueo documento mais antigo que
pude encontrardizendo respeito a esta industria data de 1203, e é
um
titulode venda, feito por Pedro Soares ao mosteiro de Sancta Cruz, d'uma tenda comdois fornos paralouça juncto ás portas de Almedina.
No
tombodasdoações e comprasdomesmo
mosteiro, que tem portituloLiorode D. João Thantonio, afl. 7 v., encontra-se cópia docontracto.
Deve
notar-se que tenda n'aquelle tempo significava fabrica delouça, e ainda
em
epochas muito posteriores continuou a ter amesma
significaçãoexclusiva, conformese vê do Regimento dosolíeirose
rna-legueiros,de 1623, onde se dizque ninguémpossa pôr tenda sem ter
as alfaiasnecessárias, s. na de louça branca, verde e amarella terão
moinho, fornalhas, colheres, pisões e mais peças precisas
em
cadaum
dosofficiosdeolíeiros.
No
referidotombo liv. 3.'\ existe cópia do titulo de compra24
d'outratendapelo mosteiro de Sancta Cruza Pelagio Gonçalves e sua
mulher Susananoanno de 1213.
A
escriptura docontracto, feitaem
um
pequeno pergaminho eformulada nolatimbárbaro do tempo, édoteor seguinte
:
«InDei nomine hecestcarta venditionisetfirmitudinisquamjussifacereego
pelagius gunsalvietuxormeasusasapelagii,vobisDomno Johanny Sancte Crucis
priori et ceterisfratribus ibidemcomorantibus detotaillameatendacom suo
sobe-radoetcumsuisdirecturissiliceteam milii dedit domina mea elvira Gulfara cum
consensuetauctoritatefilioruinsuorum.
Queita terminatur in oriente et ocridecte et in Africa parte dommos
sancte Crucis.
Inaquiloneverovia publica,vendidimusetconcedimus vobis ipsam tendam
sicterminatampro pretioquodavobisaccepimussilicetXXX-(35)morabitinostantum
enimnobisetvobisbene compiacuitete pretioapud vosnihil remansit in debitum, habeatisergo vos ipsam tendametomnessuccessoresvestri et facitede ea quiaquid vobis placueritinperpetum sedesifortealiquisdenostrispropinquis aut de extra-nei-veneritqiiihanc cartam cartaminfringerittemptaveritquantuminquirierit tantum
vobisinduplum componatetdominoterre aiiude tantum.
Etsinoseiiaminconcilio vobis auctorisarevoluerimus aet non potuerimus
similiter eam vobis componamus et quantum fuerit meiiorata et domino parte aliudtantum.
Etinsuperliocnostrumfractumplenumrobur obtineat facta venumdictionis
et firmitudiniscartamenseJunio 1213 nos supra nominati qui hanc cartam facere jussimuscoramidoneis testibus propriismanibus roboravimusetsigna fecimus.
Quepresentes fueruntmenanduspetri, petrus eclsioie, pelagius papancia, gulsalvuslima. Johannes pelagii, petrus bispus. Sendymus tesly pelagius
Diaco-niisnotavií.»
A
copia d'este contracto, existente no mencionado tombo a fl.117V.,tem110fim esta nota: iConcertada
com
o próprio AfonsoDias,Prior Castreiro, Gregório Lourenço,
P/
Luiz Parada.O
Sr.Joaquim de Vasconcellos, illustradocoUaborador da Revistada SociedadedeInstrucção, doPorto,
em
artigos mui eruditos quetempublicado acerca da cerâmica portugueza, lamenta, e
com
razão, adiffi-culdadede saber o preço dasantigas louçase os processosempregados
na sua fabricação, comtudo nos archivos dos diversos municipios do
reino existem preciosos documentos a semelhante respeito nas taxas,
regulamentos de mesterese antigas actas das vereações; por isso
uma
comissão de paleograplios.
como
judiciosamentelembra omesmo
escri-ptor, a qual fosse incumbida de classificar taes documentos, prestariaInfeliz-25
mente, todasas vezes quealguém pertende illucidar-se sobre qualquer
ponto da nossahistoria artistica, tem de recorrer a escriptores
extran-geiros, obtendo informações insufficientes e muitas vezes erróneas.
N'estes documentos que menciono, apesar decircumscriptos a
uma
árealimitadissima, encontram-se noticias importantes, das quaes escriptores
competentes
podem
tirar iilações muito aproveitáveis para a historiacerâmica dopaiz.
Pela taxados preços dalouça debarro para oanno de 1514
um
cântaro burnido, com acapacidade deseis atésete meias, custava sete
réis, e não sendo burnido seis réis;
uma
quarta de quatro meias,quatro réis;
um
alguidar dequatro alqueires, trinta e seis réis, e d'ahipara cima maisoito réisporalqueire;
uma
cabaça de meia (1) real emeio, ede maior capacidade areal porpinta(2); cabaça pequena com
sua tampa,oito seitis(3), depintacom seu testo,
um
real; púcaroparabeber agua
um
real, maispequenomeioreal, alquarasboase dereceber,meio real; vieiras(4) para candieiros, a dois ceitis cada unia; tigellas
depinta,
um
real, maispequenas, quatro ceitis, comduas azas para irao lume, três réis, maiores, a nove ceitis por pinta; infusas e quartas
pequenasvalerão soldo álivra (5) sete ceitis por meia, e sendo de
pinta cinco ceitis; talhadorgrandepara comida,
um
real, mais pequeno,quatro ceitis; tijellas de quatro meias para lavar carne, quatro reis
;
camareiros, seis réis;fogareiros
com
um
palmo de vão e barrados, oitoreis, não sendobarrados, seis réis; almudes de lagar de nove meias,
noveréis; meios almudes, soldo dlivraao dictopreço; sangradeiras, a dois ceitis, talhasdeoitomeias
com
seu testo, doze réis; e terminaordenando que ataxa e preços assim declarados o juiz e regedores
farão inteiramente guardar ecumprir; etodo o fabricante que maiores
preços levar pelas referidas louças pague por cada vez quelhe for
pro-vadoo abuso cem réis, metadepara as obras da camaráe a outra parte
para
quem
os acusar.(1)Seisquartilhos.
(2).Medida,sendo desólidosumaquartadealqueire,sendo de líquidos três
quartilhos. %
(3)Sextapartedeumreal.
(4)Conchas ondese deitava oazeite.
26
Vê-se porestedocumentoque o preço dalouçadebarrono
prin-cipio doséculo
VXI
regulava pouco maisou menos peia décima partedo actual; para se julgar, porem, conscienciosamente o seu valor
convém saber quais eram os salários d'então, o tempoda aprendizagem
e ocustodas matérias primas, oque atécertoponto se esclarece
com
ostítulos subsequentes. Paraseguir aordem cronológica apresentarei o
summario do regimento dos mallegueiros, de 21 de Março de 1556,
que patenteia a especial attenção que se ligava á boa qualidade dos
materiaes.Justifica-se no preambulo a necessidade de pôr cobro ás
fal-sificaçõesda louça e imperfeiçãodo seu fabrico, indicando
em
diversosartigos osprocessosque
devem
seguir os olleiros, sob pena de avultadasmuletas e cadeia no caso dedesobediência.
O
artigo primeiro determina que a pasta para a fabricação dequalquer peça, que tenha de servir ao lume, será composta de duas
partesde barro vermelho e
uma
do áspero, e que o barro branco deTrouxemil e odaPovoa sejam misturados
em
partes eguaes.Os
olleirosnão desenfornarãoa louça sem estarem presentes osrespectivos juizes, os quaespelo juramentode seus officiosverão se a
obra está
bem
cosida e a pasta combinada nas proporções devidas, enão achandoperfeitas as misturas
mandem
que a louça se não vidre elhes
daram
juramentodos Santosevangelhospêra queasiocumpram
enão o querendojuraro oyrão fazer saber
em
camará
pêra nlso seproverT.
Os
alguidaresdevem
ser vidrados depoisdecosidos, e os juizesdo officiotomarão nota dosque julguem bons para vidrar, mandando
dar varejo ás fabricas, quando julguem conveniente, e sendo achados
maisalguidaresdos que semarcaram paratal fim,
paguem
ostransgres-sores quinhentos réisda cadeia.
Os
juizestodas as vezes que forem chamados pelos officiaesserão diligentes
em
irem ver assuas obras, e o que fizer o contrariopagarámil réis da cadeia.
Apesar detodas estas penas,
em
1569 a vereação da camará, junctamentecom
os dois procuradores dos mesteres e o da cidade,attendendo ás justas queixas dos consumidores contra a
má
qualidadeda louçaque aquise fabricava, redigiram eapprovaram
em
26 de iVlaiod'aquelleanno
um
regimentoa fim deevitar taes abusos.Ordenou-se
em
primeiro logar que nenhum olleiro fizesse louça27
SÓ era aproveitável paratelha etijolo; e
bem
assim que toda a louçafosseprimeiramentecosida
em
branco, fabricando-a de barro deTrou-xemil e da Povoa de Bordallo, misturado
em
partes eguaes, porque,pelo exame a quese tinha procedido, se reconhecera que assim nào
ficava a louça tão quebradiça, e que no actode desenfornar estivessem
presentes o juiz do ofíicio, almotacé da cidade e escrivão da
almo-taçaria.
A
pasta para estes artefactos seriade barrode Alcarraques e daAdemea, na proporçãodedois terços do primeiro e
um
do segundo.Finalmente, os officiaes d'esteofficioelegeriram os juizes que deviam
servir
em
cada anno, sendo recebidos os seusvotos perante a camará afim ^dese
nomeaiem sem
subornojuizes deboasconsciências e autospara talcargo»;
As
providencias exaradas no regimento de 9 de Julho de 1571são idênticasás do anterior, insistindo-se
em
não se vidrar a louça deprimeira qualidade semter ido
uma
vez ao forno.Comprehendendo-se geralmente na cerâmicaa vidraria, por isso
indicoa taxa dos preçosestabelecida
em
1571, apesar deme
parecerqueestaarte nunca seexerceu
em
Coimbra;e julgo isto nào pelo factode nãoexistiractualmenteenão havera mínimatradição a seu respeito, pois muitasartes aqui floresceram, por exemplo, a fiação e tecelagem
deseda, quehoje não existem, mas porque havendo no século XVI
tantose tão minuciososregulamentos dos mesteres existentes nenhum
seencontraa respeito de vidraria.
Da
resumidataxa dos preços dos copose garrafas, aprovadaem
25de Agosto de 1571,que se refere apenas ao abuso de se venderem
na praça(e nãodiznafabrica)copose garrafas rachadas, pôde talvez
deprehender-seque seriam transportados de longe estes artefactos, e
que poressemotivochegassem
em
grande parte deteriorados.A
taxados officios dos olleiros,apregoadaem
12 deNovembro
de 1573, estabelece os seguintes preços;
uma
talha grandecom
seutesto custará vinteréis;
um
cântaro burnidocom
testo, dezoito reis,levando deseis a sete meias;
um
alguidar dedois alqueires, trinta reis, e sendo mais pequeno soldoá
Hora aodicto preço por alqueire;uma
talhade meio almudecom seu testo, dez réis; alguidares detrês
alquei-res, cincoenta réis;
uma
infusacom
seu testo, quatro reis, e sendo depinta, dois réis;
um
púcaro parabebercom
seu alguidar e cobertura de28
alguidarinhopara debaixo,
um
real;uma
panela sumicha (1), quatroréis, deseis sumichas, seis réis;
uma
almotolia de sumicha, dois reis,d'ahi para cima, a real porsumicha;
um
privadocom
seu testo quinzeréis;
uma
tijelade iraofogo, quatro réis,de meia, cincoreis, depinta,três réis;
uma
vieirapara candieiro, meio real, pote para azeitebem
cintado,arazãodedezoito réispor alqueire; talhapara lagarde azeite,
dedesoito a vinte alqueires, oitocentos reis;fogareiro depalmo e meio
de vão, quarenta reis. Tijolo para fornos de ladrilho, dois mil réis,
mararil e chanfrado para portaes, o
mesmo
preço.Um
milheirode telha,oitocentosréis; de canudo, setecentos e cincoenta réis.
O
tijolo deviatera marca da cidade, sendo obrigados os fabricantes a aferir os seus padrões na camará
em
Janeiro de cada anno. Suscitando-se duvidas sobre o regimentodos olleiros e malegueíros de 1571, no que dizres-peitoao cosimento da louça, accordaram o juizde fora e procuradores
da cidade edosmesteres,
em
vereação de 11 deAgosto de 1576, queestava
bem
feitoo que ordenava o antigo regimento acerca das misturasdobarro,eque todososannos
um
dosjuizes do officiocom
o respectivoalmotacé dessem varejo ásollarias, enão achando a mistura do barro
(1)Pelos antigos foraesdos séculos
XV
eXVIdesignava-sesumichaamedidadeumacanada a maisemalmude;devendoentender-se a phrase de seis almudes
sumichos,seisalmudescomasdemasias ou verteduras como hoje diríamos,
deter-minadasnoforal.
Aqui,porém,não podeteraquellapalavraomesmosentido pois era
impos-sívelqueumameia,istoé,seisquartilhos,tivessem doisde vertedura.
Aspalavras textuaesdataxade 1573 são asseguintes;huapanellasumicha
não passara derealledahi
SOLDO
.4LIVR.\(exactamente) atéhuameaquedaramaqualroreisesendo deseissumichasseis reisedahipêra sima soldo d Hora sendo
maioresou menores».
Asumichaa queestataxaserefereé uma medida de quatro decUitros de
queseconservaatradiçãonasantigas oUariasde Coimbra,fabricando-seaindahoje
uns pequenos púcarosd'aquellacapacidade.
NaoseapontanoElucidáriodeViterbo esta variante,apesar dosPrasosde
Vairão,que menciona serem coevos da referida taxa, e admira porque o accordão de21deJulhode1526,citadopelo Snr. Dr. .\yresdeCamposnos índices e
summa-riosdos documentos dacamarámunicipalde Coimbra, a pag. 92 do 2." fascículo,
determinaa taxadas meias,sumichasemeiassumichas.
Estasmedidasforamprohibidasporaleide 26 de Janeiro de 1575,
substi-tuindo-seporoutras aqueserviadebaseo quartilho; o povo, no entanto, ainda
^
em
conformidadecom
as disposições do regulamento impozesse aostrans^^ressores a muleta de mil reis da cadeia, sendo-ihes quebrada a
louça.
Determina mais que enquanto se vidrar com alcanfor bastará
coser-se a louça
uma
vez, porem sendo chumbo duas, porqueteem porinformação iqueheeoalcanfor metal tão duroque cosendo-se Ima só
vezfica
bem
cosido.)>Transcrevo na integra o seguinte regimento por ser
um
dos quemais interessapara a historia da cerâmica conimbricense:
REGIMENTO
DOS
OLLEIROS
E
MALEGUEIROS
1623
«AosoitodiasdomezdeJulhodemilseiscentose vinte etrês annos n'esta
cidadedeCoimbrae torredecamarád'el!aaonde estavam juntos Jorge d'Andrade
Corrêa,Juizde Foracomalçada porsuaMagestaden'esta cidade e termos,
Fran-ciscodeMoraeseJoão FerrazVelliovereadoreseLopod'Andrade procuradorgeral
dacidade eFranciscodeMarizumdos mesteresdamezatodos juntos fizeram
verea-çãoeouvirampartes.Diogo de CarvalhoPintooescrevi.
^<N'estacamaráse fezumregimentopara osolleirose malegueiros estando
os maisd"ellespresentes,que oaceitaram e o theord'elle irá lançado n'e3te livro.
.\ndradeMoraes, FerrazVelho, FranciscodeMaris, .\ndrade.
^<Primeiramenteassentaramqueassimcomohatrês officiosdeollaria, s. de louçabranca,verdee amarella, edebarrosingello,qued'hora em deante haja em
cadaumdosditos officiosseujuizparaexaminarcomalgumadjiuitocadaum emseu
officio,comosecostumaequen'estesexames sennào entremettam de um officio
paraoutro.
«Quetodos osaprendizes para se examinarem tenham seis annos inteiros
aprendido coin official approvado emostremcertidãod'elle na forma costumada,
eantespedirá licençaácamará para o examinarem,eo juiz que sem ella o fizer
pagaráseis mil reispara acamaráeaccusadorede cadaexamelevaráduzentosreis
eo escrivãoumtostão.
«Quandoalguémseexaminarfará aspeçassegiintes,s.noofficiodeolleiro
umcântaro,umatalha,umalguidardesac:odepão,empresençadojuiz,e as mais
peçasqueelleordenar;noofficiode verdee amarello fará uma fornada, em que
irãoumalguidar grande, eumtenorde almude;eno de brancofaráumaboticacom
todas aspeças quen'ellaserequerem.
«Queninguém possa pôr tenda semteras alfaias necessárias para o seu
officio,s.no delouça branca,verdee amarella terão moinho, fornalhas, colheres, pisões e as maispeçasnecessáriasemcadaumdosofficiosdeolleiros.
30
«Nos officios devidrado se lançará acada arroba devidro seis arrates de
área, antesmaisque menos,equando algumseexaminar o juiz estará presente a ver-iheparaatempera dovidro eos terápreparadossem lhe faltarnada.
vParalouça singellaobarro será terçadocomareia,enãose colherásenão
emAntuzede ouemAlcarraques.
'.QuedeSãoMartinhonão venhabarro para louça alguma vidrada branca
nemvermelha.
«Queninguém possacoser louçanacaldeira;e osquefizerem telha e tijoUo
o farãode muitobombarro e acadaquatro carrosde barro se ha de misturar um
delodo,nãomais;e serãoobrigadosaterformas detelhaetijolo de alvenaria e
forcado e aaferil-ascada annocomoaferidordacidade.
«Quenão possamcozer louçaemforninhopequenosemlicençadojuizdoofficio
«Queninguém poderádesenfornarfornadaalguma sen primeiro chamar o
juizdoseuofficio,oqualveráse a louça está cosidacomoconvém,e achando que
onãoestáa fará coserquantofor necessário.
«Quandoosjuizesnovos tomaremjuramento, queos velhos lheleam o
regi-mento deseusofficios;quandoalguin se examinar tomará juramento de guardar
esteregimento alem do mais que novelho secontem.
«Quandoficarde algumJdos ditos officiais molher viuva, que d'hoje em
deantenão possatertendaabertasemter n'ella officialexaminadoeapprovado no
officioqueusar.
:<Queninguémfaça louçacomagoasuja,nemdaruna,nemdo charcoeque
tudocumprirãocompena deseis mil réis,metade para o accusadore a outra para
acidade.»
Assim OS antigos juises dos officios fiscalisavam os processos
empregados nas diversas fabricas ezelavam o
bom
nome
e reputaçãodosmestres, não se permittindoaos aprendizes elevarem-se a officiaes
sem mostrarem perante ojuiz e commissãorespectivaque estavam
ha-bilitados a exercer a sua arte.
Não
pertendemos compararosartistas dehojecom
os mesteiraesde então, porém muitas dasidéas que se encontram n'aquelles
regula-mentos, devidamente adequadas á epocha, ainda agora seriam apro-veitáveis.
O
quese diz no regimento de21 de Março de 1556 acerca dobarrodaPovoaede Trouxemil, e das proporções
com
asmargas, aindahoje se practica, assim
como
relativamenteaos processos de se vidrara louçadaprimeira qualidade depoisdo enchacote ou primeira cosedura,
a que
também
sechamabiscouto.Na
taxados preços apregoadaem
12 deNovembro
de 1573 pouca differença haviada que vigoravaem
1514relativamente á louça;quatro qualidades, d'uiTi preço elevado para a epocha a dealvenaria, de
forcado, de ladrilho, e
uma
outra variedaded'este, que se denominavamararii.
O
regimento de 11 de Agosto de 1576 mandavaque a louçavi-dradacom chumbofosse duas vezes forno,porém sendo com alcanfor
bastaria uma,porsermetalmuiduro, segundoalli se refere.
Ignorámos por muitotempo qual fosse a composição designada
com
aquelle nome, sendo possivel que, assim como o povo chamavavulgarmente ao marcurioprataliquida,
também
desse a singulardeno-minaçãode alcanfor aos vidrados de estanho, que são effectivamente
mais durosqueos de chumbo, e se
empregam
nas faiançasde primeiraqualidade. Alcanfor ou camphora no seu verdadeiro sentido é que não
podiaser, porque sevolatilisa a
uma
temperatura mui baixa, e comosubstancia vegetal nãoseadaptavaatal uso.
Finalmente depois delongas investigaçõesdescobriu o
meu
amigodr. Pessoa quehavia outr'ora
uma
galena, com quese vidrava a louçadenominada alcofór, e era composta de sulfureto de chumbo.
N'a!guns antigos diccionarios considerava-se alcofôr synonjmo
de estibio ou antimonio; mas, significando também galena aquelle
vocábulo, está mais
em
harmonia com os processos cerâmicos esta ultima significação.A
erradaorthographiadoalludidoregimento é que tornavainintei-ligivel semelhante processo de vidrar.
Data d'esta epocha ou de alguns annos antes a decadência da
cerâmica portugueza, preterindo importar-se a louça: extrangeira a
aperfeiçoar as nossas manufacturas.
As classesricas serviam-se então da louça da China, e as menos
abastadasconsumiamosproductosordináriosdo paiz, ou os que vinham de Hespanha
um
pouco mais perfeitos, principalmente das ollariasde Talavera.
No
principio doséculo X\'II1 já se não fabricavam os tijolosmararís paraladrilhos,
nem
as tarefas de lagar ou potes de grandesdimensões, que levavam 700 e 800 litros (1), e as boticas, isto é,
todosos boiões e utensílios de faiança esmaltada próprias para
uma
(1)Nãosetornaramaqui mais a fazer, sendo hoje exclusivode Miranda do
32
pharmacia,notáveis pela sua perfeiçãono séculoXVI, deixaram
também
desefazer, tornando-se cada vez maisimperfeitos os outros artefactos. Foi só no meado do século passado que o grande niarquezde Pombal, quetãonotável impulso deu atodas asnossasindustrias,
atten-deu
também
a esta, decerto nãomenos útil e proveitosa.Vogando,
como
é sabido, n'essetempo o systema protecionistade Colbert, tractou o ministro de D. José de conceder privilégios e
isempções. e ainda avultados subsídios pecuniários, aos empregados
das fabricas, cujosprogressos e desenvolvimento patrocinava; outras
vezesera o próprio estadoo emprezario, não se presumindo ainda a
vantagem da liberdade de commercio, que mais tardetomaria por divisa a economia politica.
Tendo
assim decahidoa fabricação das louças pelos motivosin-dicados, enão havendo artistas no paiz que a podessem aperfeiçoar
emprehendeu o niarquez dePombal
uma
fabricaporconta do estado, a qual aggregou á das sedas no Largo doRato,em
Lisboa, contractandoparadirectoroitaliano
Thomaz
Brunettoeparacontramestre José Veroli,em
conformidadecom
ascondições estipuladasem
1 deAgosto de 1767.Pelo
mesmo
tempo estabelecia o contra-mestre por sua contauma
outraem
Bellas, que tevepouca duração.Subsidiouo ministro
em
1769outra faiança de que foi mestre oitaliano Paulo Paulette, concedendo-lheprivilégios idênticos á do Rato
;
mas não sendo nossopropósito tractar da historia da cerâmica do paiz.
fallaremossó deCoimbra.
O
doutorDomingosVandelli, natural de Pádua, elentedephilo-sophian'esta universidade, para onde fora convidado,depois da notável
reforma dos estudos, a fim dereger as cadeiras de chimica e historia natural, e mais tarde iniciaros trabalhospara acreação d'um jardim
bo-tânico,visitandoos arredoresde Coimbra e notando a boa qualidade de
barrode que se fabricavam asnossas faianças ordinárias, lembrou-se de
aperfeiçoar estes artefactos, presumindoque poderiam competir
com
osde Hespanha, que n"essa epocha importava-mosainda
em
larga escala.Animado por essa idéaerigiuaqui
em
17^
uma
fabricadefaiança,ondeseexecutou a melhorlouça do districto e
mesmo
do paiz, exceptuando ado Rato: egualmenteahi se fabricaram diversos objectos de grés que
aindahoje
podem
ver-se no laboratório de chimica da Universidade.Muitos foram os privilégioscom que se favoreceu na iniciativa
33
de 1788, auctorisava-se a camará de Coimbra para aforar ao doutor
Vandelli, lentedephilosophia e directordo real jardim botânico o chào
quepedia norociode Sancta Clara para melhoraccommodação da sua
fabrica delouça, pagando o foro annualde 700 reis.
Na
provisão da juncta do commercio e agricultura, de 6 deSetembrode 1792-, determina-sequea fabrica delouça do douctor
Van-delli,
em
Coimbra, gosará dos privilégioscommuns
a outras fabricas,estando osseusofficiaes eaprendizes matriculadosisemptosdo serviço
demare terra, na conformidade do§ 7." dos estatutos da real fabrica
das sedas, eda condição 8." dostransmittidos ás reaes fabricas de
Por-talegre, Covilhã e Fundão, e da 6." das condições approvadas pelo
alvará de 17de Agosto de 1789.
De
todas asgraças porém,a mais importante fôra-lhe dada peloalvaráde 7 de Fevereiro de 1787, no qual se lhe concedia o privilégio
exclusivo da venda para as províncias da Beira e Minho,
com
aper-missão detiraros materiaes para a sua fabrica
em
qualquerlogar ondeseencontrassem, gratuitamente sendo o terreno do estado, e sendo de
particulares conforme o quese combinasse, ou, não se estabelecendo
accordo,segundo arbitramento de louvados.
Por muitosannos continuouaprosperar esta industria, a quedera
tão notável impulsoo sábio professor, e ainda noprincipio d'esteséculo
seconcediam idênticos privilégios
como
se vê na provissão da junctadocommercioe agricultura,de2 deDezembrode 1806 dando a Manuel
Ferreira eJosé Freire
&
Comp.'' licençapara livremente continuarem alaboração da suafabrica delouça, vulgarmente chamada faiança,
com
todas as graças, isempções e privilégios a outras semelhantes fabricas
outhorgadas.
Eraesta situadanas casas e ollaria hoje pertencentes á viuva de
António Domingos Pessoa, no Largodos Oileiros, quefazesquinapara a ruada Moeda.
O
estadoda cerâmica conimbricenseem
1810vê-se pelo seguintemappa
(1):
Manuel Caetano de .Vloura
—
fabrica de louça entre fina—
em progresso.José António Bélico (Lages)—fabrica de louça entre fina
—
estacionaria.(1)Extrahido dasVariedadessobre objectos relativos ásartes,commercio
manufacturas, porJoséAccursio dasNeves,Lisboa, 1814.
34
José Fortunato deAlmeida—fabricadelouça entrefina,branca—progressiva.
Manuel José de Abreu
—
fabricade louça entre fina, branca—
progressiva.RitaRamos
—
fabricadelouça entrefina,branca—
estacionaria.Dionísio Salvador
—
fabrica de louça entre fina, branca—
estacionaria.Manuel Barbas
—
fabricadelouça entrefina,branca—
estacionaria.Manuel Joaquim Pessoa
—
fabricadelouça entrefina,branca—
estacionaria.RitaMaria de Jesus—fabrica de louça entrefina,branca
—
emdecadência.Joãodas Neves
—
fabVicade louça entre fina, vermelha—
em decadência.AntóniodeOliveira—fabricadelouça entrefina,vermelha—em decadência.
MariadaConceição
—
fabricadelouça entrefina,vermelha—emdecadência.Manuel daSilveira
—
fabricadelouça entrefina,vermelha—emdecadência.José da Conceição
—
fabricadelouça entrefina,vermelha—
emdecadência.D'aqui sedeprehende quea fabricação deartefactos de barro
ver-Mielhodecahiu consideravelmente, e que
mesmo
no tempo de Vandelli,d'ondedata a renascença dasfaianças
em
Coimbra, nuncaatingiu o an-tigoaperfeiçoamento.A
epocha mais florescente d'esta industria foi noprincipiodo séculoXVI, encontrando-se na taxados preços de1514,que
trancrevi, relacionados muitos objectos quese nãofabricam.
Só em
1825équeprincipiou a notar-sealgumatendência paraaper-feiçoamentos, estabelecendo por essaepocha o industrial Leandro José da Fonseca
uma
fabrica (1) de louçafina(faiança) na qual se realisaramalgunsprogressos.
Desdeentãoaté hoje as fabricas delouça fina e entre fina teem
progredido consideravelmente, revelando-se
bem
na exposição districtalde 1884aquelle progressoalliado
com
abarateza de preços, que tornaaccessivel ás classesmenos favorecidasda fortuna o uso das melhores
faianças.
AsargilasdosjazigosdaCioga do Montee da Povoa deBordallo,
combinadas coma marga verde do Loreto, constituem a pasta para a
louça branca; a vermelha fabrica-se
com
o barro de Alcarraques, que jáno antigo regimento doséculo XVI era preconisado pela sua excelente
qualidade.
O
esmalte da faiançacommum
é formado porsilicatos dechumbo
edeestanho, determinando a dose d'esteultimo asua maior ou menor
opacidade.
(1)
Em
conformidadecomaprovisãodarealjunctadefazenda,de V2de35
Na
louçafina applica-se o vidro nobiscouto ou enxacote; nainfe-rior é applicado napasta
em
crú,logo depois de enxuta.Julgou-sepor muitotempo queo fabrico de louça fina
em
Coimbradatava de Vandelii, mas não é verdade,pois já no século
XV
eranotá-velaqui a sua perfeição, e nos regimentos d'essa epocha tracta-se de
manter o creditodos íabricanaes, nãosepermittindoesmaltar
em
crú afaiança queosalmotacés deviam taxar
como
de primeira qualidade.Hojeo vidro para a faiança ordinária obtem-se pela mistura da
areiado mar, óxidos de estanho edechumbo,chloretodesódiooperando
como
fundente; para a faiança fina substitue-se a areia do mar pelokaolim impurodeAlencarce, do qualtivemos occasiào deapreciar a
ex-cellente qualidadena exposiçãodistrictal de 1884.
Actualmente
em
Coimbra existem onzefabricas sob adirecção dosseguintes industriaes:
loãoAntónio daCunha
Leonardo António da Veiga JoséLuizde.Moura
José AntóniodosSanctos
Antonino da Costa Pessoa
&
IrmãoAdriano.\ugustoPessoa
Bento José da Fonseca
JoaquimAlfredoPessoa
AdelinoAugusto Pessoa
louçabranca
Joaquim Carvalho
AntóniodaSilva Pinho.
Ilouçavermelha
N'estas fabricastrabalham 42 officiaes de pintura com 34
apren-dizes; 41 officiaes, de roda com 6 aprendizes e 15 amassadores e
coa-dores empregando-se na escolhada louça, no seutransporte e na
con-ducção dasmatériasprimas 40a 50 trabalhadores, pelo menos, o que
eleva amais de 180 o numero de pessoas que vivem directamented'esta
industria.
A
producção reguila entre quarentae cinco a cincoenta contos dereis por anno.
Restadizer quea louçabranca se classifica
em
duas categorias :36
Na
primeiratodaa pinturaéfeitacom
estampilha(1), na segundasubsiste a pintura a esponja epincel,conservando-seainda os antigos
pa-drões,que representam geralmente avesexóticas deplumagem brilhante
sobre
um
fundo de grandesfetos verdes.Estapinturadiz,Sr. Vasconcellos
em uma
das cartasque publicoudurantea exposição cerâmica do Porto,dá
um
aspecto tão archaico etão característico á louça quea distingue á primeira vista de qualquer
outra do paiz: ahi se patenteia
com
efeito a influencia do estylo áraben"esta industria, queo decorrerdetantos séculos não conseguiu
inteira-mente apagar(2).
Alémdas louçasvulgares para uso domestico fabricam-se
actual-mente nas ollarias d'esta cidade vasos para jardins, balaustres, tijolos,
azulejos e muitos outros objectosdeque se admirou a profusão e
va-riedade na exposição districtal de 1884.
A
boa qualidade dobarro, das margas e das areia que constituema pastada nossa faiançapermitte aperfeiçoar consideravelmenteos
arte-factos: e lograr-se-hia obter barro finíssimo se permanecesse por mais
tempo nostanques, o que não succede, empregando-se geralmente
de-pois detrêsou quatro mezes de macerão, o queé insufficiente para lhe
fazerdepositar as impurezas.
Egualmente deveriamadoptar-se para muitos objectos novos
pa-drõesmais
commodos
e elegantes do que os actuaes, o que seria fácil(1)
O
usodaestampilhapara pinturada louça foi introduzido em Portugalem1834ou 1835.
(2)Nosantigos azulejos,deque possuimosemCoimbramui bellosexemplares,
principalmentenaegrejadaSéVelha,demonstra-seaindamelhorestainfluencia, ou
antesadoest>'lohispano-mourisco, pois as variadas manifestações da civilisação
árabeemourisca devemconfundir-se.
Osárabes,de origemasiática,invadiram a penínsulanoprincipiodo século
Vlll,estabelecendo-senaregião meridional;no fim do século XII os almoradives
expulsaram-nos,sendoestesemseguida expulsos pelosalmuhades.
Écertoqueos árabes transmittiramaosmouros asua civilisação e que o estylomouriscoderivado árabe;hanoemtanto, differenças características entreelles.
Dosproductosdaantiga cerâmica, existentesem Coimbra, não ha nenhum
anterioraoséculo XÍV,istoé,não existe nenhum de origem propriamente árabe. Levar-nos-hiamuitolonge explicar a procedência provável d'esses artefactos, porissolimitámosonossoestudo,nas primeiras paginas d'este opúsculo, a um pe-ríodo relativamente mais próximo.
37
em
vista da notável aptidão dos nossosartistas para reprodu/irem fiel-mente qualquer modelo.Realisados estes melhoramentos
podem
as faianças de CoimbraESTA OBRA FOI COAtfOSTA E
IM-PRESSA NA <0"rTOSGKAPHICA>,
PLEASE
DO
NOT REMOVE
CARDS
OR
SLIPSFROM
THISUNIVERSITY