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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARTO NO BRASIL: FATORES QUE IMPULSIONAM A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

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Academic year: 2021

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Sem an a d e Ps ico lo g ia d a F a cu ld a d e Lu cia n o F eijã o . a 2 9 d e ag o sto d e 2 0 1 8 .

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO

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MPULSIONAM A

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IOLÊNCIA

O

BSTÉTRICA

BEATRIZ TEIXEIRA PARENTE LIMA1

RAIMUNDO RIBEIRO MACHADO2

KAREN BRUNA LIMA SOARES3

MARIA HILÁRIO CORDEIRO NETA4

ALEX SANDRO DE MOURA GRANGEIRO5

INTRODUÇÃO

Ao longo da construção histórica, o parto quase sempre foi visto como algo natural, realizado em casa e com auxílio de parteiras, sendo um momento no qual o homem não deveria estar presente e transparecendo um processo quase ritualístico. Segundo Osava (1997), na Europa, era muito raro encontrar registros da participação masculina no parto até o século XVIII e, mesmo quando eram chamados para tal momento, seria por ter acontecido algo fora do comum.

A presença apenas de mulheres nesse processo se dava pela crença da época de que as mulheres não eram insensíveis a dor de outra mulher, por ser um processo que elas mesmas conheciam e que, por isso, eram mais familiarizadas. Além de coloca-las como detentoras de um saber que trazia, de certa forma, poder e prestigio para as mesmas.

1 Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: beatriztpl93@gmail.com 2 Faculdade Luciano Feijão (FLF).

3 Faculdade Luciano Feijão (FLF). 4 Faculdade Luciano Feijão (FLF).

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Já no século XX começou a predominar o parto hospitalar, que passou a ser centralizado em um modelo mais técnicos, colocaram as parteiras, assim como a mulher, em segundo plano, transformando o que antes era um momento singular para a mulher e sua família, em uma prática médica. (OSAVA, 1997).

Onde em vez de a mulher ser protagonista do seu parto, que para ela é algo único, acaba vivenciando práticas rotineiras do hospital, como intervenções muitas vezes desnecessárias, mas de práxis no contexto hospitalar. Tais ações são conhecidas como violência obstétrica. Segundo Diniz (2015) No Brasil, e também em outros países da América Latina, o termo “violência obstétrica” se presume a descrever as muitas formas de violência que ocorrem durante a gravidez, no parto, pós-parto ou quando uma mulher sofre um aborto.

Mais comum na rede pública, apesar de também acontecer na rede particular de saúde, essa violência vem sendo ligada diretamente a precarização do sistema de saúde público, podendo ser caracterizada como uso de medicamentos sem autorização, utilização de procedimentos desnecessários, utilização de palavras ou atos que possam, de qualquer forma, possam fazer a mulher se sentir inferior durante o trabalho de parto. (AGUIAR; OLIVEIRA. SCHAREIBER)

Tendo em base essa perspectiva dos conteúdos abordados, tal trabalho se deu com a preocupação em buscar e analisar dados responsáveis por identificar fatores que possam aumentam a violência obstétrica no contexto histórico do Brasil, e o que ocorre no seu sistema de saúde, tanto no público, quanto particular. O surgimento dessa criação se deu a partir da preocupação após o recorrente número mostrados em pesquisas em que alertam a respeito do alto índice de problemas envolvendo violência obstétrica. Portanto, esse artigo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica dos estudos sobre violência obstétrica, selecionando as principais produções da área que mostram o impacto que o processo da institucionalização vem trazendo.

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Sem an a d e Ps ico lo g ia d a F a cu ld a d e Lu cia n o F eijã o . a 2 9 d e ag o sto d e 2 0 1 8 . PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho, trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica, em que foi realizada uma análise em artigos científicos, que detinham sua publicação prioritariamente em revistas que abordam assuntos na temática de Psicologia, Saúde e Medicina, abrangendo monografias e dissertações que abordavam tal temática.

A escolha e separação dos arquivos foram feitas com embasamento em dados virtuais como Scielo (Sientific Eletronic Library Online) e BVS – PSI (Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia Brasil). Foram utilizados diversos critérios para a separação e seleção dos conteúdos abordados nesse trabalho, dentre eles estar a coleta de dados em artigos publicados recentemente na língua portuguesa, auxiliando assim informações mais precisas e seguras sobre o tema.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo Osava et al (2011) A porcentagem de cesariana está crescendo em praticamente todos os países do mundo. Uma pesquisa realizada em 126 países, com 98% dos nascidos vivos no ano de 2002, revelou que varia de 3,5% na África, 19,0% na Europa e 29,2% na América Latina. Distribuída de maneira irregular, a porcentagem mundial foi de 15%. Em outra pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América Latina, realizada oito países (Argentina, Brasil, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Paraguai e Peru), onde pode concluir que, a taxa de cesariana nas instituições públicas e privadas foi de 33%. Dentre essas, 49% foram de cesariana eletiva, 46% intraparto, e apenas 5% foram de emergência.

Como base nesses dados, se destaca a necessidade de se discutir o porquê da América Latina ter um nível de cesariana tão acima da média mundial, onde as cesarianas são marcadas de maneira eletiva, ou seja, sem real indicação para a mesma. Várias são as

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hipóteses que podem ser consideradas sobre tal questão, principalmente pela falta de dados confiáveis sobre possíveis razões para que tal acontecimento. Faúndes e Cecatti (1991) apontam como prováveis causas para o aumento de cesarianas na América Latina fatores socioculturais, ressaltando que a escolha pode ser feita por medo da dor do parto, de questões anatômicas e que um dos maiores medos, a cicatriz, hoje é um risco pequeno, além da crença de que o parto natural pode ser, de alguma forma, prejudicial para o bebê. Os outros dois fatores que esses autores apontam como possíveis razões são a forma de organização da atenção obstétrica, onde a conveniência e a segurança do médico também podem ser levados em consideração, já que existem procedimentos no parto normal que, se feitos por pessoas mal preparadas, podem acarretar em danos para a criança e para a mãe. Além desses fatores temos questões institucionais e fatores legais como o não pagamento da anestesia peridural, que é a mais utilizada no Brasil para alivio da dor durante o parto normal e o uso da cesariana como meio para o processo de laqueadura tubária já que mesmo não sendo proibido claramente por lei, ainda pode ferir a lei que afirma que qualquer procedimento que possa interromper uma função ou prejudicar um órgão fere o código penal, então coloca-se o procedimento de laqueadura tubária, feito durante o parto, como uma cesariana comum.

Algumas dessas hipóteses são consideradas violência obstétrica, como a recusa do médico sobre a escolha da mãe, a falta de informações durante o processo de pré-natal além de coisas que, para muitos, são de pequena significância, mas que durante aquele momento se tornam formas de agressão e que acabam por transformar um momento que deveria ser natural em um momento traumático. Por tanto, encontra-se o papel do psicólogo nesse processo. Segundo Portela e Silva (2017) o papel da psicologia nesse processo, independente do lugar ao qual ele se encontra, é o de legitimar o sofrimento que é ali causado, de abrir diálogo sobre o assunto e, assim, abrir portas para a desconstrução dessa violência e da aceitação do outro, de um corpo e de um desejo.

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Sem an a d e Ps ico lo g ia d a F a cu ld a d e Lu cia n o F eijã o . a 2 9 d e ag o sto d e 2 0 1 8 . CONCLUSÃO

O cenário do parto, ainda tem muito a se transformar, porém, os profissionais de saúde, principalmente os da atenção primária devem trabalhar e orientar as mulheres sobre a sua escolha e seu papel frente ao parto. Pois mecanizar o processo e o parto que é da mulher, e não respeitar suas escolhas pode acarretar em violentar os direitos e as escolhas da mesma, que deve ser protagonista de seu corpo e do seu parto, traçando e direcionando o mesmo.

E cabe, também, aos profissionais de saúde serem os mais humanizados possíveis, onde humanizar não se trata em cuidar de um ser humano, como alguns críticos afirmam. Mas tratar a paciente de maneira singular, respeitando seu momento, seus desejos, seu parto e seu corpo. Fazendo que a mesma seja autora, independente da via de nascimento.

O estudo é bastante relevante, pois mostra o papel que o psicólogo pode fazer e enfrentar nos dispositivos de saúde, seja no hospital, em um PSF, ou em quaisquer lugares onde possa junto a uma equipe lutar para o bem-estar da mãe e bebê.

É importante também que possamos compreender o papel que a psicologia pode desempenhar, não apenas no contato direto com a mãe, a preparando para aquele momento, acolhendo seus sentimentos sobre o processo e facilitando-o, no contato direto com a equipe que cuidará dessa mãe, mas, de uma forma geral e em qualquer âmbito que possa estar inserido, que o psicólogo pode ser uma porta de entrada para que esse dialogo aconteça em todos os lugares e, com isso, haja uma possibilidade de mudança.

REFERÊNCIAS

AGUIAR JM, OLIVEIRA AFPL, SCHAREIBER LB. “Violência institucional, autoridade médica e poder nas maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde”. In: Caderno de Saúde Pública, 2013.

DINIZ, Simone Grilo et al. Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. J. Hum. Growth Dev., São Paulo, v. 25, n. 3, p. 377-384, 2015.

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VI Sem an a d e Ps ico lo g ia d a F a cu ld a d e Lu cia n o F eijã o . , 2 7 a 2 9 d e ag o sto d e 2 0 1 8 .

OSAVA RH. Assistência ao parto no Brasil: o lugar do não médico [tese de doutorado]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública/ USP; 1997.

OSAVA, Ruth Hitomi et al. “Caracterização das cesarianas em centro de parto normal”. In: Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 45, n. 6, p. 1036-1043, Dec. 2011.

FAÚNDES, Aníbal; CECATTI, José Guilherme. “A operação cesárea no Brasil: incidência, tendências, causas, conseqüências e propostas de ação”. In: Cadernos de Saúde Pública, v. 7, p. 150-173, 1991. PORTELA, Ana Rebeca Paulino; SILVA Emanuela Nascimento da. A psicologia dialogando com a violência obstétrica e o direito da mulher: uma revisão bibliográfica. V Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades, 2017.

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