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O BRINCAR NA CONTEMPORANEIDADE: INFLUÊNCIAS DA INDÚSTRIA CULTURAL NA INFÂNCIA E NO SER CRIANÇA

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Academic year: 2021

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ISBN 978-85-7846-516-2

O BRINCAR NA CONTEMPORANEIDADE: INFLUÊNCIAS DA INDÚSTRIA CULTURAL NA INFÂNCIA E NO “SER” CRIANÇA

Emilly Stephani Loriano da Silva E-mail: emillystephanilds@gmail.com

Kevelen Camila Sanches E-mail: Sancheskevelen@gmail.com Profª. Drª. Anilde Tombolato Tavares da Silva E-mail:anildetombolato@gmail.com Profª. Drª. Marta Regina Furlan de Oliveira. E-mail:mfurlan.uel@gmail.com Universidade Estadual de Londrina Eixo 3 : Temas Contemporâneos na Educação

Resumo:

O presente texto é fruto de uma pesquisa em andamento vinculada ao GEPEI – Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Infância com o estudo do Projeto de Pesquisa “Indústria Cultural, Educação e Trabalho docente na primeira infância: da semiformação à emancipação humana” da Universidade Estadual de Londrina. Tem como objetivo principal discutir acerca do brincar no contexto contemporâneo, com um olhar específico para a influências da indústria cultural na infância e no “ser” criança. A indústria cultural tem grande influência na vida infantil, no sentido de que manipula as crianças no que se refere aos seus gostos, suas formas de brincar e relacionar com as demais crianças; provocando-lhes desejos consumistas e, potencializando o brincar-consumo na vida dos pequenos; sem contar com a avassaladora rede de aparelhos virtuais que invadem suas vidas, anestesiando, assim, seus movimentos corporais e seus pensamentos e escolhas lúdicas. Diante disso, por meio de um estudo bibliográfico teceremos algumas reflexões sobre esse objeto de estudo. Como resultado, as crianças precisam vivenciar a experiência do brincar enquanto necessidade e manifestação lúdica da vida infantil, com ações para além do consumo.

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A infância é um período onde há um grande desenvolvimento no processo: físico, afetivo, psicológico, cognitivo e social da criança. É por meio da interação com o outro que ela aprende e se desenvolve integralmente. Isso se dá, visto que a criança é um ser social com capacidades afetivas, emocionais, cognitivas, físicas, corporais e sociais. Quando brinca, a criança se relaciona com o outro, e por meio desta ação inerente, ela experimenta, conhece, aprende e se desenvolve. Atualmente sempre quando se pensa em criança, se faz uma referência da brincadeira como uma parte da infância, isso é consequência de uma visão social de que o brincar é uma atividade inata, própria da natureza da criança.

Este trabalho justifica-se pela relevância da temática em estudo, cujo objetivo pauta-se na realização da abordagem reflexiva sobre a relação da criança com o brincar na atualidade, principalmente, pela grande influência exercida pela indústria cultural na vida infantil consumidora. Nesse prisma, cada vez mais, as crianças, tem se tornado consumidores ansiosos de produtos oferecidos popularmente, transformando o brincar associado ao consumo, ou seja, a utilidade lúdica com a aquisição do brinquedo.

Wajskop (1994, p.63) direciona nossos olhares para a seguinte afirmativa: “a brincadeira passou a ser concebida como a maneira de a criança estar no mundo próxima a natureza e portadora da verdade”. Desse modo, o escritor francês Henriot (1989) afirma que: “o brincar está associado a uma nova imagem de criança que vem sendo construída em função do seu status social”.

A criança vem tendo um papel de grande importância no giro de economia do capital, tornando-se, vítima dos mais variados tipos de comunicação publicitária, que alimenta os sonhos de consumo de nossas crianças com uma realidade velada, com brinquedos plastificados que já vêm prontos, e que em algumas vezes os brinquedos são esterilizados e inquebráveis.

Em sintonia com essa configuração do brincar contemporâneo, podemos imprimir a concepção de infância na atualidade, como um período de crescimento e transição para a vida adulta, marcado pela precisão da vida diante do consumo. Assim, nossas crianças estão deixando de ser crianças antes do tempo, já que a concepção de infância e de “ser” crianças está condicionada as questões sociais mais amplas.

É considerável dizer que a brincadeira foi, de certo modo, inventada, muito antes do brinquedo. Pois ela depende unicamente da imaginação infantil como

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ponte para a diversão. Assim, as brincadeiras com as quais as crianças obtiveram contato, ao longo desse período em que havia a necessidade primária de sobrevivência utilizavam essencialmente o corpo.

As crianças corriam, se escondiam, lutavam, subiam em árvores, ainda sem objetivos que finalizavam a preparação para a vida adulta. Alguns registros apontam que o primeiro brinquedo inventado foi a perna de pau, e outro a bola. Andere (2015, s/p), informa que

[...] As primeiras bolas, as Chinesas, eram feitas com fibra de bambu, mas as bolas usadas na Grécia e em Roma eram feitas com a bexiga da cabra. Eles pegavam a bexiga do animal, tiravam todo o xixi lá de dentro e enchiam com palha, para depois brincar [...].

Kishimoto (1998) alega que o lúdico não é o jogo, mas o resultado mental dele, o estado mental em que a criança se coloca durante sua prática, e diz ainda que o jogo só é educativo (não só recreativo) se há nele, natureza lúdica.

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança. Nesse sentido, qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico, apresenta o caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo (KISHIMOTO, 1998, p.23).

A criança, estando em pleno processo de aprendizagem, recebendo tantas informações, assimilando tantas experiências em um único dia, necessita de um momento de descanso para a mente. A brincadeira como entretenimento não deixa de ensinar, mas faz com que a criança relaxe a mente, aprendendo até dentro de um mundo fictício.

Como o lúdico não é produto de um jogo, mas sim da imaginação reflexiva da criança, este pode ser alcançado também com outras práticas, como o desenho, a pintura, a moldura, escultura, brincadeira, prática ou receptividade musical etc.

Estimular a criança a entrar no seu mundo lúdico, por meio de diversas atividades, reconhecendo a participação importante da criança nas experiências criativas vai fazer com que as dificuldades de aprendizagem sejam minimizadas.

A brincadeira é o resultado físico de uma ação proveniente do imaginário infantil. Nessa definição simplista, podemos encontrar os motivos pelos quais a

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brincadeira e o jogo são atividades tão estudadas pelos psicólogos e educadores de todo o mundo.

O brincar e o educar podem estar juntos, pois, quando a criança está brincando mesmo sem perceber, ela está aprendendo várias coisas, desde se socializar e interagir com outras pessoas, como também está aprendendo a criar amizades, está aprendendo coisas sobre o corpo, movimento, a exploração, o uso sensorial dos seus movimentos das suas ações, ela está aprendendo a entrar em situações simbólicas e imaginárias, entre outras coisas, tudo por meio dessa interação com o outro que é essencial para o desenvolvimento e formação da criança.

O brincar é a atividade mais comum presente no dia a dia de cada criança, sendo essencial para que haja um bom desenvolvimento emocional, cognitivo, físico e psicossocial nesse processo de formação interno e externo dos mesmos. É por meio das brincadeiras e da interação com o outro que a criança se comunica, ensina e aprende, demonstra por meio da ação lúdica tudo aquilo que ela viu, aprendeu e vivenciou que foi significativo para ela, demonstrando seus sentimentos, comportamentos variados e até mesmo dificuldades em algumas determinadas situações.

Através da brincadeira a criança desenvolve as habilidades que são necessárias para o futuro, pois proporciona aquisição de experiências de vida crítica e autônoma, para que essas crianças cresçam adultos confiantes, competentes e ativos perante a realização de suas atividades internas e também com o meio social.

As crianças, ao brincar, situam-se na dimensão do sonho. Hoje, por conta dos avanços tecnológicos e dos meios de comunicação este sonho encontra-se revestido por mensagens com conteúdos polêmicos, expressando intenções de segunda ordem, que algumas vezes aparecem de forma oculta, ou seja, atualmente a maior parte do dia das crianças é elaborado em atividades comerciais e de consumo, entretidos com vários tipos de mídias como os videogames, computadores, televisão e rádio, ou seja, a brincadeira acabou ganhando um novo artifício, a imaginação pronta, como chamaremos aqui. Esse princípio se deve a inserção das crianças em realidades virtuais, tais quais os videogames, onde o lúdico ganha um novo significado.

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Desse modo, o brincar nos dias atuais se encontra apagado pelo excesso de estímulos que são oferecidos constantemente, em um ritmo instantâneo e veloz. Essa exposição excessiva aos valores materiais que as crianças estão expostas, está arruinando o seu bem-estar, tornando-as pessoas depressivas, ansiosas e pior ainda crianças obesas, podendo provocar até mesmo distúrbios mentais e físicos, e esses distúrbios se dão como consequência dessa cultura voltada ao grande consumo.

Este rico universo do brinquedo, do lúdico industrializado, parece acenar para a criança, ou para seu pai, que também se sente seduzido, com o objetivo de ser consumidor, e a criança o vê com o maior desejo de consumir. Contudo, as crianças de hoje estão demasiadamente expostas ao consumo, desenvolvendo sentimentos de ansiedade e insatisfação permanentes e, simultaneamente, tem sido expropriado delas o pensamento criativo e inventivo (OLIVEIRA, 2013, p.09).

Ressignificar o tempo de brincar hoje das crianças é um grande desafio, tendo frente à avassaladora rede de aparelhos virtuais que invadem suas vidas, anestesiando seus movimentos corporais e seus pensamentos, pois os games e jogos virtuais não possuem a mesma dimensão simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas. As crianças também preferem passar horas jogando videogame, pois para ela ser veloz é um ideal a seguir e ao mesmo tempo em que seu corpo não precisa ser convocado ao movimento.

As instituições familiares e os responsáveis pelas crianças estão presenciando essa perda do brincar de seus filhos e, muitas vezes, não percebem, pois, os mesmos não julgam, não interferem e não proíbem apenas se dedicam a oferecer às crianças os objetos que são lhes apresentados virtualmente, e isso ocorre de forma excessiva.

Com o efeito da industrialização podemos perceber um distanciamento entre as crianças e seus pais, que antes, produziam os brinquedos juntos utilizando muitas das vezes materiais como madeiras, tecidos e argilas, mas hoje os pais preferem dar para seus filhos brinquedos plastificados que já vêm prontos, e em algumas vezes os brinquedos são esterilizados e inquebráveis.

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SCHOR, Juliet B. Nascidos para Comprar. Tradução de Eloisa Helena de Souza Cabral. São Paulo: Editora Gente, 2009. 318 p. Tradução de: Born to buy.

OLIVEIRA, Marta Regina Furlan de. A Infância do Consumo e a Expropriação do Pensamento Criativo e Inventivo. In: XI CONGRESSO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO EDUCERE, 2013, Curitiba. Anais...Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2013. p. 24839- 24850.

Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/7529_7187.pdf . WAJSKOP, Gisela. O Brincar na Educação Infantil. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n. 92 62.69 , fev. 1995.

Disponívelem:<http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/859/86> . Acesso em: 16 mar. 2018.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a educação infantil. Ano indisponível. Disponível em

<http://journal.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/download/10745/10260> Acesso em 10 de Fevereiro de 2018.

AZEVEDO, Heloísa Helena; SILVA, Lucia Isabel da C. Concepção de Infância e o Significado da Educação infantil. Espaços da escola. 1999. Disponível

em<http://www.neppi.org/anais/Educa%E7%E3o%20b%E1sica/CONCEP%C7%D5

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BEM, Luzia Elias. TAVARES, Livânia Beltrão. O brincar na sociedade contemporânea. Parnaíba: IV Fórum Internacional de Pedagogia. Campina Grande: Realize Editora, 2012. Disponível em

<http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/1a464455bad77f5ae23d5

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NOVAES, Luiza Helena Vinholes Siqueira. Uma pequena história sobre o brincar. São Paulo: Revista Pediatria Moderna. Set/Out. 2004. Vol. 40, nº5. p.218-221. Disponível em

<http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2825> Acesso em 23 de Fevereiro de 2018.

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