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Astrologia-e-Religiao - Olavo de Carvalho

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ASTROLOGIA

c ol( e ^

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A S T R O L O G I A E R EL I G I Ã O

O L A V O DE C A RV A L H O

coleção eixo

(4)

Capa: Carlos Roberto Zibel Costa Revisão: Jose An tonio Arantes

Composição: T o m Genz, J ose Luiz Gold f a r b e Gilbe r t o F r a n c i s c o de Lima Arte Final: Sérgio Miguez

H Edição 1986

Copyright by Olavo de Carvalho

C oleção Eixo Org. Tom Genz

Nova Stella Editorial Ltda. AV. Paulista 2448

São Paulo SP 01310 Telefone: 881-5771

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SUMÁRIO

Prefácio do a utor 7

1. Ast r o l ogia e religião II

2.Astrol o g i a natural e a strologia espir-itual 23

3.Logica e a s t r ol ogia 31

4. Introdu çSo ao conceito de ciências tradicionais 53

Apendice ao c a p í t u l o 4 67

5. Questões de si mbolismo ge o m e t r i c o 7 1

(6)
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P refacio d o autor

Esta nova série de e n s a io s, pr olongamento de

Astros e símbolos ( São Paulo, Nova Stella, 1985),

trata ainda de a strologia, mas introduzindo u m novo

topico do estudo do trivium e do quadrivium, que e

o simbolismo geometrico. Das sete disciplinas das "Artes Liberais", nossos c u r s o s, proferidos en t re

19 81 e 1985, abordaram somente a astro l o g ia, a ge

metria, a aritmética, a logica, a r e tórica e a gra-

matica. Da musica, faltavam-nos c o n h e c i mentos espe­

c i a l i z a d os para poder enfocar o assunto corretamente

d esde o ponto de vista de sua integração no q u adri-

v i u m . Quanto à aritmética, não foi preciso d e s e n ­

volver a seu respeito n e n huma pesquisa original,

pois nossos cursos utiliz a r a m para isso, de um lado,

o tratado clássico de Nicômaco de Gerasa, e, de ou-

tro, a bela exposição da aritmología pitagorica por

Mario Ferreira dos Santos, à qual pouco ter i a m os a

a c res c e n t a r , exceto algumas correções de terminolo-

gia, já que aquela empregada pelo grande f i l o s o f o brasil e i r o da mar g e m a confusões entre a perspect iva tradicional e certas correntes "ocultistas" e evolu-

c i o n i s t a s .

Da g e o m e t r i a ,tambem, pouco tivemos que escrever, uma vez que as obras de Rene Guenon são abundantes de t e x t os sobre esta d i s c i p l i n a .Se alguem, portanto,

desejar completar o quadro do trivium e dn quadri-

v i u m — proj eto que de ixamos a me i o cam i n h o , nao so-

mente pela nossa falta de c o n h e ci men tos e s pec i a l i z.a-

dos com relaçao a mus i e a , ma s lambem po r ci M'uo slan- c ias pessoais adversas que nao vem ao caso - -,

(8)

tará, para tanto, desenvolver no mesmo sentido aqui

in dicado a parte musical) e s tudar a o bra de Mario

F e r r e ira no tocante a aritmética e r e f o rçar a parte

geometrica com a leitura dos textos de Guenon, Tera,

entao, em m aos , ao m e nos o material bruto para a co n s trução de algo como um "Tratado das Artes Libe-

rais", que era mais ou menos o nosso proposito ini-

c ial ,

A parte referente ao t rivium saira na íntegra no

livro Lógica e e s ote rismo , outro volume desta co­

leção.

E v i d entemente, alem dos textos re p roduzidos n e s ­

ta coleção, nosso t r a b alho de e s t udo e exposição das

A r t es Liberais abrangeu tambem c e n t e n as de aulas,

proferidas sem anotaçoes previas. Muitas d e s s as au­

las foram gravadas em fita e transcritas, Não se co-

g i t a da sua publicação por enquanto, mesmo porque a

quantidade de material e inabarcável nas nossas pre­

se n t es condições de tirabalho; mas, se isto chegar a

fazer-se um dia, as pedras e fragmentos aqui exibi­

dos (mostruario de joias do simbolismo das Artes L

berais) surgirão encaixados nos devidos lugares de u m painel har moniaso e inteiro. Ademais, este mos- truario não visa a constituir um su c edâneo de uma

atividade e s p i r i t u al regular no quadro de uma tradi­

ção completa e autêntica, mas sim a atrair e convo--

car para esta atividade. De qualquer modo, as peças

aqui fornecidas devem ser suficientes para que as

pessoas de talento e vocação — auxiliadas pela pre- ee e pela reta intenção — possam ao menos conceber de longe o que pode ter sido o alcance espiritual

dessas Art e s .

De fato, nao foi outro o nosso proposito, ao longo desses anos de trabalho, senão expor, na medi- da das possibilidades, algo da significação espiri- tual d e s se sist ema das c i enc i a s da Idade Med i a , a- ba n d o nado na entrada da modernidade. Julgamos que

este trabalho seria um coment.ar io e prolongamento — ou, de outro ponto de vista, uma introdução — a m

jestosa exposição de doutrinas tradicionais empreen­

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Ananda K. C o o m a ras w a m y , Fríthjof Schuon, Titus Bur- ckhardt, Seyyed Hossein Nasr e Ma r t i n L i n g s , A parte

que, nessa majestosa catedra l, cabe às Artes L i b e ­

rais e introdutoria e m o d esta, e nao e outra a fun­

ção que nosso trabalho pretende desempenhar.

E stamos cientes de que os dados aqui fornecidos

tanto poderão servir de escada aqueles que sincera­

mente desejam alcançar uma p o s ição mais firme nos

estudos trad i c i o n a is — e estes são reconhecíveis

pela pronta e obediente resposta que dao ao n osso

chamamento para que se filiem às praticas regulares

de uma religião ortodoxa — , quanto, por outro lado, correm o risco de ser "recuperadas", distorcidas,

comercializadas, etc., pelos bandidos e saqueadores

de monumentos, que hoje se ofer e c e m a um atônito pú ­

blico envergando ilegalmente o manto de porta-vozes de uma Tradição que na verdade os despreza e ab o m i ­

na.

Fique aqui reg i s t rada nossa intenção de ajudar

aos h o nestos, e seja repetida nossa advertência

q uanto aos perigos deste gênero de estudos fora de

uma tradição religiosa regular e ortodoxa.

A gradeço vivamente a Eugênia Maria de Carvalho,

Ana Celía Rodrigues, Roxane Andrade de Souza, Meri Harakava, Ângela Joana Nicoletta e Alberto Queiroz

pela valiosa a j u da prestada para a organização e e-

dição desta coleção de apostilas,

Que aqueles que ja se esquec e r a m de tudo quanto o u v i ram e entreviram nas minhas aulas tenham aqui

uma ocasião de recordar esta recordação das recorda- çoes de D e u s, Recordar e a essencia da religião.

Sao P a u l o, fevereiro de 1986

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(11)

A s t r o l o g i a e religião*

Não há nada mais perigoso para a humanidade do que a difusio de fragmentos inconexos do con h e c i ­ mento esoterico. 0 esoterismo e a ciência universal

por excelencia, e o conhecimento e a realização da unidade, e por isto nao admite recortes nem seleções de especie alguma, exceto a titulo de amostra e com a ressalva de que amostras não podem substituir a coisa inteira. No entanto, o que se viu no Ocidente nos ultimos cem anos foi um festival de estilhaços e

retalhos, irresponsavelmente atirados para todos os

l a d o s , e avidamente c o n s u m i d o s , sem ordem nem c r i t é ­ rio, por uma clientela cuja voraz curiosidade, cuja indisciplina e cuja recusa de qualquer compromisso com ás formas regulares e ortodoxas do ensinamento tradicional ja atesta m por si mesmas uma desqualifi- caçao completa para a participação no mundo do e s o ­ terismo.

De toda parte, os ingênuos e os ambiciosos a t i ­ ram-se a esses despojos, buscando neles uma e x c i t a ­ ção mental, um alivio momentâneo e superficial para

*Publicado originalmente no volume coletivo A s t r o l o ­

gia hoje: métodos e propostas C São Paulo, Hassao

O h n o , 1985), comemorativo do I Congresso Internacio­ nal de Astrologia, realizado no Rio de Janeiro em novembro de 1985, sob os auspícios da SARJ — Socie­ dade Astrologica do Rio de Janeiro.

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angústias vulgares, ou um meio auxiliar para forta­ lecer as finanças domesticas. No inicio, o buscador parece ter descoberto um mundo encantado ou a chave do enigma da existência. Mas, pouco a pouco, as con­ tradições vão se a c u m ulando e adensando um novo e mais solido muro de opacidades, de modo que a vitima nao somente perde de vista a verdade almejada, como

e levada, pelo cansaço e pela profusão hipnótica

dos símbolos e das forças psíquicas que essa ativi­ dade põe em jogo, a esquecer ou negar o fato mesmo de que possa existir uma verdade universal. Entre abatida e envergonhada, ela procura então ocultar seu fracasso com frases ocas sobre a "relatividade" ou sobre a "eterna busca", como se o aumento da fome constituísse alimento, <íomo se a insaciabilidade do desejo constituísse satisfação e como se essa con­ versa tola, do genero "a raposa e as uvas", não fos­

se a negação formal do quaerite et inveníetis . 0

derrotado volta assim ao mundinho mental que tinha sido o seu ponto de partida, e coloca sobre as g r a ­ des da velha prisão u m cartaz com o chavão que se tornou em nosso tempo a lapide de todas as ambições espirituais f r a c a s s a d a s :"Cada um tem a sua verdade".

0 esgotamento das possibilidades espirituais de

alguem que se aventure pelo caminho dos "fragmentos"

c espantosamente rápido, e as legiões de desarvora-

dos e atonitos que se perderam por entre estilhaços de esoterismo formam hoje toda uma população m a r g i ­ nal que,nao podendo mais ser recolhida em hospícios, vn i se ab r i r cm "comun idades" ou mesmo em preten­ sas "(.'idades esot er i c as" , onde algum vampiro p s í q u i ­ co de proporçoes monument a i s , t i po Rajneesh ou Idries S h a h , terminara de su^a r o que lhe res te de vida e de inteligencia .

Ante esse panorama de salenr a d o r , e preciso, a i n ­ da uma vez e sempre, advertir que:

19 — 0 conhecimento esoterico nao esta "perdi-

do" num passado r e m o t o , nem necessitado de nenhuma espécie de "recuperação" ou "reconstrução" por meios vagamente arqueologicos ou por qualquer especie de "pesquisa", Ele esta vivo e presente, de vez que a

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Tradição universal e unanime e o alento mesmo da v i ­ da h u m a n a , e que a interrupção da sua cadeia de transmissao por u m instante sequer acarretaria a su­ pressão pura e simples da humanidade. E estas coisas nao devem ser entendidas em sentido metaforico.

29 — Nao ha u m esoterismo sem um exoterismo, de modo que, hoje como sempre, as religiões reveladas e ortodoxas sao a unica porta de acesso a um e s o t e r i s ­ mo v i v e n t e , tudo o mais c o n s tituindo imitações b a r a ­ tas e comercio indevido de fragmentos que so servem para alimentar ambições vãs e fantasias doentes.

39 — Segundo todas as doutrinas tradicionais do mundo, esta fase da historia humana nao comporta o surgimento de nenhuma "nova" religião ou tradiçao — muito menos de alcançe mundial — , exceto o simula­ cro gigant esco que ja e anunciado às escancaras pela vinda dos falsos mestres e profetas,e que sera a q u i ­ lo que a tradiçao islamica designa como o reino do

Dajjal ("Impostor") e o c r i s t ianismo como o advento

do Anticristo.

49 — A revelaçao da unidade essencial de todas as religiões, que e o fato mais importante desta fa­ se da historia h u m a n a , nao teria sentido se essa re- velaçao devesse ser seguida pela dissolução das for­ mas exteriores — ritos e dogmas — das religiões existentes, e pela sua absorçao em algum "universa- lisírio" vago e sincretico. Pois justamente essa u n i ­ dade e que da a razao e a justificativa profundas da diversidade das formas, legitimando cada religião como uma totalidade inviolave 1 , em si mesma um s ím-

bolo perfeito e acabado daquela unidade que, ao n í ­

vel do c o n h e c i m e n t o interior, transcende todas as

f o r m a s ,

50 — jjo que diz respeito as ciências tradicio­

nais, como a astrologia, a geomancia, a alquimia, etc., e evidente que nenhuma delas tem a menor pos­ sibilidade de ser corretamente compreendida fora do quadro de u m esoterismo completo e vivente, ao qual so se tem acesso, precisamente, por meio do c o m p r o ­ misso com u m exoterismo ortodoxo.

(14)

Essas advertencias vêm sendo repetidas, desde o começo do seculo, por todos aqueles que tiveram acesso a algum esoterismo vivente, e que escreveram sobre o assunto. A profusão de livros autorizados e confiáveis é tal, que hoje em dia ninguém pode a l e ­ gar ignorancia, a nao ser que sua inteligencia tenha sido engolida pela mare igualmente avassaladora de livros de "o c u l t i s m o ” e de pseudo-esoterismo em ge­ ral.

Entre os autores que formularam tais adver t e n ­ cias, pode-se citar, so para dar uma ideia da v a s ­

tidão do panorama, René Guénon, Ananda K. Coomaras-

wamy, Frithjof Schuon, Titus Burckhardt, Michel Vai- sân, Seyyed Hossein Nasr, Ma r t i n Lings, Píerre Grí- son, Ellemire Zolla, Victor Danner, Houston Smith, Gai Eaton, Henry Corbin, Jean Borella, Leo Schaya; W il l i a m Stoddart, Thomas Merton, Bernard Kelly, Rama P. C o o m a r a s w a m y , Joseph Epes Brown, Jean C. Cooper, Dorothea M. Deed, Whitall N. Perry, Jean-Louis Mi- chon, Lord Northbourne, Tage Lindblom, Marco Pallis, M arina Scriabine, Jean Tourniac, Luc Benoist, Gil- bert Durand, Keith Critchlow, para menci o n a r somente os mais conhecidos e somente os que têm escrito em línguas o c i d e n t a i s . (1) É toda uma torrente de ensi­

namento que, como uma chuva da misericórdia, oferece ao nosso atormentado seculo uma ampla oportunidade de jjcesso a Verdade eterna e imutável da Tradição —

talvez parn q u e , mais uma vez, o "homem do nosso tempo" volte as costas a uma verdade que nem por

i' i nacess i ve1 e nem por difícil e proibiti-

v;i, r prelira iorlejar as vulgaridades de um Casta- nedji ou as mor l> i de/,a s de um Curdjieff, tal como a mi) I t i i!;u> ante l'i latos preferiu Barrabas a Cristo, e venha a confirmar a lorimilii de frithjof Schuon: " T o ­ da religião e a historia de um dom divino e da recu­ sa de aceitá-lo". Et lux lucet in tenebris, et tene- brae non comprehenderunt eum.

Apos estas advertencias iniciais, que formam a moldura indispensável do que pretendo dizer, é ainda preciso fazer constar que as observações que se se­ guem são em si mesmas obvias e patentes, como podera

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constatar qualquer um que faça a mais leve a v e r i g u a ­ ção do assunto era fontes historicamente fidedignas,

e aliás de facílimo acesso. Se, apesar disso, elas

são tão facilmente esquecidas ou menosprezadas, isto se deve tão-somente à tragédia espiritual de que fa­ lei nos parágrafos anteriores. Para aqueles que hoje sao estudiosos da nobre arte da astrologia, a p o n d e ­ ração sensata do que vou dizer pode'ser o caminho para escapar da participação nessa tragédia, e para o início de uma vida espiritual autentica.

U m dos mais talentosos astrologos que conheci viveu de perto a contradição entre o estudo dos fragmentos de esoterismo — ' que constituem a unica matéria de que hoje são compostos os livros de as­ trologia — e o impulso da vida espiritual. Ele d e s ­ cobriu que o unicò acesso a espiritualidade e, e f e ­ tivamente, através da religião revelada, e em boa hora se afastou dos "ocultismos" e pseudo-esoteris- inos em geral tornando-se cristão devoto. Ja era um bom começo. Mas, não tendo tido acesso a um es o t e ­ rismo autêntico, ele nao teve outro remédio senão abandonar completamente e renegar o estudo da a s t r o ­ logia. Na perspectiva de um esoterismo verdadeiro, este estudo nao somente nao entra em contradição com nenhuma religião revelada, mas, ao contrario, — co­ mo pretendo ter demonstrado em meu livro Astros e

símbolos — constitui um poderoso instrumento a u x i ­

liar para a penetra çao e aprofundamento do sentido

das revelações.

Em todas as civilizações que possuíram uma forma qualquer de astrologia, esta nunca foi uma ciência isolada e auto-suficiente, mas a simples aplicação de determinados princípios universais a uma dada or­ dem de realidades. Assim, ela sempre surgiu asso c i a ­ da a um corpo de co nhecimentos científicos tradicio­ nais, como por exemplo, no caso da tradiçao cristã, o sistema das chamadas "Artes Liberais", ou trivium e quadrivium, sobre os quais não me estenderei aqui por ja ler dodicado dois livros ao a s s u n t o . (2)

Por sua vi7,, esse corpo de conhecimentos tem um

(16)

quada compreensão depende de uma realizaçao espiri­ tual p e s s o a1 no quadro de um ensinamento espiritual

o r t o d o x o .

"As ciências do t r í v i u m e do quadrivium, — es­ creve Rene Guenon — , "ao mesmo tempo que represen­ tavam, em seu sentido exoterico, divisões de um pro­ grama de ensino universitário, eram também, por uma transposiçao apropriada, colocadas em correspondên­ cia com graus de iniciaçao." (3)

Como se sabe, cada disciplina das "Artes L i b e ­ rais" corresponde a um dos sete planetas, e des e m p e ­ nha no conjunto do trivium e do quadri v i u m uma fun­

ção que e estruturalmente homologa a função desse

planeta no conjunto do sistema solar.

Do mesmo m o d o , esotericamente falando,' cada pla- neta corresponde a u m plano ou nível da realidade

cósmica, cuja travessia representa, nas iniciações,

o acesso a determinado nível de conhecimentos espi­ rituais.

Dai o simbolismo das "viagens celestes", que, em varias tradições, como por exemplo a maçonaria e o sufismo (4), re p r e s e n t a m a escalada espiritual do postulante. Na terminologia sufi, cada esfera plane- taria eqüivale a um "estado espiritua 1" ( h a l ) .

Aqui e preciso lembrar que, no conceito tradici­ onal, uma ciência ou arte qualquer representa apenas a expressão exteriorizada e sensível de um estado

espiritual correspondente, de modo que a mestria

nessa arte nao significa em si mesma conhecimento, mas a simples atestaçao por assim d i z e r tsimbólica de um rs lado interior. Assim, aquele que aprendesse a me sma arte p<> r mr i os exteriores e mais ou menos me- canicos , srm ;i i n i c i ,'içao correspondente, d e m o nstra­ ria i gua 1 meu l e um dom i n í o pa ic i a I e deficiente dessa a r t e , e por ma n >i q ue I os se es se dominio haveria sempre na obra pi odu/ i 'Iji um que de i narmonico e m u ­ tilado, que niost t ji t i a nao ( e r sido ela realizada com mao de mestre. l‘oi exeni|> I d , os sofistas gregos — e, hoje, seus conl innadoies, que sao os lógicos forma- listas e todos aquiles que se dedi cam a cortar os últimos laços entre tof.ica e ontologia — podem ser

(17)

facilmente compreendidos como pessoas que adqtiiriram o domínio da logica (correspondente simbolicamente a e s f e r a d e Mercúrio) sem dispor dos conhecimentos es­ pirituais que conectam o pensamento discursivo ao Ser, e que assim gar a n t e m a honestidade e veracidade do raciocínio logico mediante a correspondencia sim­ bólica entre a noção logica da identidade e a uni ci­ dade do Ser, (5)

Na extraordinaria narrativa de viagem celeste apresentada pelo supremo shêíkh suEi Mohyieddin ibn 'Arabi (1)65-1240), a traves sia e empreendida simul­ taneamente por dois postulantes: um fiel muçulmano, devoto a lei coranica e aos ensinamentos do santo Profeta, e um "investigador" mundano e cetico, m o v i ­ do pela avidez e pela curiosidade, que não se s u b m e ­ te a lei corânica, e portanto, está inapto para as iniciações sufis. Em cada orbita planetaria, eles recebem os conhecimentos a que fazem j u s . 0 crente encontra-se então com os Profetas, que, nò e s o t e r i s ­ mo islâmico, corresp ondem simbolicamente a cada es­ fera planetária — Jesus em Mercúrio, José em V e n u s , Aarao em Marte, etc. — , e recebe dele os e n s i n a m e n ­

tos espirituais correspondentes, prosseguindo sua

v iagem ate o trono de Deus, onde atinge a estação espiritual derradeira, a "Identidade Suprema" que constitui a meta de todas as iniciações. Ja o r e b e l ­ de, em cada planeta, não se encontra com um Profeta, mas com o "espirito" desse planeta, que representa a força sutil (mas ainda corporal) posta em movimento pela autoridade espiritual do Profeta; este "es p í r i ­ to" não dá ao viajante os conhecimentos de ordem es­ piritual recebidos pelo c r e n t e , mas técnicas pura­ mente materiais ou psíquicas referentes a arte ou ciência que corresponde ao aspecto "inferior" ou "terrestre" daqueles conhecimentos. Evidentemente, o rebelde não percebe a menor diferença entre tais técnicas e os conhecimentos espirituais verdadeiros que são recebidos pelo compahheiro de viagem, e a s ­ sim os dois prosse g u e m em sua jornada ate q m ’, chegarem ao ceu de Saturno — que simbol i/.n <> i‘x

(18)

micos dos "Grandes Mistérios" espirituais — , o re­ belde tem sua viagem interrompida e e precipitado no inferno, apos ter desistido mesmo dos conhecimentos adquiridos nas etapas anteriores. (6)

Do mesmo modo, na tradiçao maçonica, o Fausto de Goethe, que e um mago, possuidor de variadas técni­ cas de evocação e manejo de forcas sutis, queixa-se de que entre os seus múltiplos contiec imentos falta "algo", que e precisamente o nexo essencial e espi­ ritual que da sentido a tudo o mais. Kste "al^o" e dado somente pela submissão a Norma cósmica personi­ ficada no Profeta, que e portador de uma Lei revela­ da, ou seja, de um exoterismo.

Portanto, para conhecer e compreender o que re­ presenta cada planeta no esquema du trivium e do

quadrivium, para peneirar o sentido dos tratados as­

tro! ogic os, dos mitos astrais e dos tratados alquL- micos que correspondem a "efetiva^ao" terrestre dos conhecime-ntos a s t: ro 1 og icos , nao basta o estudo exte­

rior: e preciso ter passado pelos ritos iniciaticos correspondentes, ou pelo menos, caso se trate de co­ nhecimento teorico, que este conhecimento seja ad­ quirido no quadro de um esoterismo regular e o r t o d o ­ xo, o que implica a pertinencia do postulante ao de­ vido exoterismo.

Nao ha como tergiversar sobre este ponto. Tanto sob a otica das inic iaçoes hefenicas quanto no mundo crístao e islâmico, o domínio efetivo da ciência da dialeiica esta reservado aqueles que tenham feito a "travessia do teu de Mercúrio", o da retórica aos que lenhaiu cruzado a esfera de Venus, e assim por dianlc, segundo as correspondências classicas e u n i ­ versais entre esletas planetarias e graus de inicia- çao .

Da mesma maneira, o conhecimento que se possa ter do simbolismo de um planeta qualquer e apenas um fragmento insignificante quando se ignora a ciência ou ai te correspondenLe a esse planeta, e pior ainda quando esse d esconhecimento se estende mesmo ao as- pccio pnramente exterior e operacional dessa ciência

(19)

Os dados sobre este ponto sao abundantes em to­ das as tradições, e qualquer t.cnlaf. iva de atenuar ou despistar o rigor dessas exigeneias so contribui p a ­ ra fortalecer o atual comercio de fragmeritos e Saí- si t’í caçoes de esot:er i s m o .

Por outro lado, em todas as c i v i 1 izaçoe.1-:; qui:

possuíram uma astrologia, esta nao somente estava

ligada as iniciações, como também sua pratica se en­ contrava encaixada no corpo total dos ritos do eso— terísqjQ vigente, de modo que a chamada " i u i I n o n o .; a

planetaria" era regrada e dirigida pela própria re­ ligião estabelecida, e isto era precisamente o m u ­

co fator que permitia a previsão astrolo^ica

do uin padrão de significações mais ou monos uni. ;'o;-íko para toda uma sociedade humana.

Quem estude algo da tradiçao chinela, por exini- plo, vera que os ritos tradicionais realizados pelo propr.i.o Imperador para a conservação do equ i 1 i.í>r i o do reino estavauí diretamente ligados a uma e s r n u u

raçao astrologiea do espaço terrestre ao meaos aa

tração ocupada pelo Jmperio — , bem como a uma orac- naçao dos ritmos da vida social. secundo uma c í c. L i c i - dade astrologica. isso nao visava soiíieurc a "acoin,),! ■ nhar" passivamente um ri 1.1110 rjrcund.mle , ma;; . 1 orde ■

uar e direcionar a própria 1 n I I ue 11c i a pI a ue i a r i á , a . ■ modo a amor tecer, por assim d i -,-e r , u choque das Io; ças cósmicas conl. i:i uma indefesa comun idade luuiian-i

ü homem, nos Utiíius da tradiçao cliipesa (concor­ de alias com todas as demais tradições), e o media-- dor do Ceu e da Terra. Se tomarmos a influencia p l a ­ netaria como símbolo ou expressão da vontade divina que preside ao curso dos eventos (e nao como força causai por si mesma, o que seria idolatria), v e r i f i ­ caremos que essa influencia nao significa nada sem a

intennediaçao do homem que, pelo rito, a ordena, re­ gula e dirige. (7)

Mais ainda: o "homem" t^ue realiza essa função intermediaria não è b indivíduo humano puro e sim­ ples, em seu estado empírico e degradado, mas o " H o ­ mem Verdadeiro" ou "Homem Universal", aquele que es

(20)

lador Cosmíco que e a cristalizaçao humana da Norma divina, e que corresponde, no mundo cristão, a Jesus Cristo (ou, num outro plano, a Maria), e no mundo islâmico, ao Profeta* A participação da coletividade humana no rito so tem validade e eficácia pela in­ termediação desse Homem Perfeito, que é o Profeta ou aquele que "profere" (do grego prophero, isto e, "produzir", "desencadear", "fazer vir à tona") a or­ dem recebida de Deus para a produção dos e v e n t o s . (8)

Do mesmo modo, no mundo islâmico, a astrologia que só é admitida a título de simbolismo es p i r i ­ tual, sendo vistas com maus olhos suas aplicações "mágicas" e divinatórias, como alias também ocorre no mun do cristão — esta intimamente ligada ao rito das cinco preces diarias, que estrutur am o tempo se­ gundo u m padrão ordenado por Deus ao homem (e que absorve e transcende a temporal idade puramente "cor­ poral" dos ciclos planetarios, reintegrando-a no seu arquétipo), e tambem ao direcionamento dos crentes para a Meca, que estrutura o espaço segundo o eixo da Tradição. (9)

Ademais, as 28 casas lunares (manazil) estao as­ sociadas aos 28 sons primordiais que compõem as le­ tras do alfabeto árabe. Sendo o árabe uma U n g u a sa­ cra, como o hebraico ou o sanscrito, e possuindo as mesmas potencialidades teúrgícas destas ú l t i m a s , a estruturação mesma do espaço em torno e a disposição dos lugares sucessivamente ocupados pelo Sol e pela Lua em seus trajetos sao tidos como meras "cristali­ zações visíveis" da enunciaçio dos sons primordiais por Deus no instante da criação do mundo, enunciaçao esta da qual a recitação coranica na prece regular islamica e a rememoração liturgica que interrompe o fluxo da temporal idade atuaL para devolver todos os seres e coisas ao "instante" supratemporal da O r i ­ g e m . (10) Compreende-se assim que, tambem perante o esoterismo islâmico, qualquer "influência planetá­ ria" considerada isoladamente da ação ritual huma­ na que a ordena segundo uma Norma divina nao signi­ fica nada, e que a açao dos planetas, qualquer que seja, v insignificante em face da potência do rito,

(21)

que e a repetição dos sons arquetipais que criaram os corpos celestes e d e s e n c a d e a r a m a sua açao. (1 1)

Mesmo no mundo cristão, onde a astrologia é ge­ ralmente mais conhecida no seu aspecto divinatorio, mágico e, portanto, herético, a estruturação do tem­ po segundo o ciclo do ano liturgico, que reflete a vida, paixão, morte e r e s s u rreição de Jesus Cristo, representa uma poderosa canalização dos fluxos pla­ netários , e os ciclos astrologicos jamais poderiam ser compreendidos fora desse ciclo liturgico e fora da historia da própria religião católica que durante dois milênios presidiu a e s t r u turação do tempo — e, portanto, da historia humana — para esta parte da h u m a n i d a d e .

P a r a l e l a m e n t e , do ponto de vista e s p a c i a l , o mais breve estudo da estrutura das catedrais mostra que elas sao uma cópia do "corpo do Homem U n i v e r ­ sal", e que este corpo, como não poderia deixar de ser, contém dentro de si — e, portanto, forçosa­ mente abarca, transcende e domina — o Zodíaco e as estrelas, sendo portanto a ciclicidade astrologica transcendida e dominada pelo ciclo da liturgia, que reflete o n a s c i m e n t o , p a i x a o , morte e ressurreição de C r i s t o . (12)

0 estudo, mesmo superficial, dessas ligações en­

tre a astrologia e o rito sugere a constatação de que, numa sociedade "leiga" e sem rito, como é a so­ ciedade atual, a influência planetaria pode assumir uma feição indefinida, múlti p l a e anárquica, que se reflete alias na profusão quase apoteotica de "teo­ rias" explicativas diferentes que todo dia surgem tentando dar conta do "fenômeno astrológico".

Essas teorias jamais chegarão a qualquer grau de coerência e unificação por meio de debates e estudos científicos, pelo simples fato de que o estudo d a ­ quilo que "os astros fazem conosco" tem de ser c o m ­ pletado pelo estudo "daquilo que nos fazemos com os astros", e este estudo não pode ser realizado fora do mundo dos ritos, n e m mediante o simples estudo tforico dos ritos, requerendo, ao contrario, a e f e ­ tivação de uma vida ritual no sentido ,pleno, o que e

(22)

impossível fora dos quadros de uma sociedade tradi­ cional e, portanto de uma ortodoxia tradicional, que é aquilo que o inundo moderno odeia acima de t u d o , como o diabo odeia os profetas e os santos.

É impossível a existência de uma astrologia

verdadeiramente "científica" e integrada, fora da ciência tradicional dos ritos e símbolos, e e impos­ sível a existência de unia ciência tradicional dos ri.Los e símbolos fora das religiões reveladas, que veiculam esses ritos e símbolos desde a Origem su- pratemporal de todos os seres e coisas,

Que estas considerações sirvam ao menos para despertar, entre alguns dos praticantes da ast r o l o ­ gia, a consciência das magnas implicações espiri­

tuais dessa arte, implicações que demandam de uma

consciência reta e digna uma tomada de posição con­ tra todo mundanismo, contra todo improviso, contra todo psicologismo na pratica dessa arte, e em prol de um compromisso intelectual e moral com a u n i v e r ­ salidade da Verdade e com a ortodoxia tradicional que a veicula.

0 autor deste trabalho coloca-se à disposição de

todos os i n t e r e s s a d o s , para d i r i m i r , por carta, qualquer dúvida a respeito de um ou outro ponto em p a r t i c u l a r .

(23)

A str ol o g i a natural e astrol o g i a espiritual*

1

Antes de tudo, e preciso entendermo-nos a r e s ­ peito do que seja ciência e do que seja sabedoria.

Ciência e a observaçao dos fenomenos a luz de princípios. Sabedoria e o conhecimento dos princí­ pios, As vezes a ciência nao estuda os fenomenos a luz direta dos princípios (ou pelo menos dos princí­ pios mais universais) e sim a luz de princípios re­ lativos deles deduzidos, e dos quais se deduzem por sua vez regras para a atividade cientifica. As re­ gras constituem o método, e e por isso que se diz correntemente que a ciência não e pura observação, mas sim observaçao "metódica".

"Princípios" em sentido estrito sao somente a- quele s que nao tem ,m t ecedeule s , e sim a pena s con­ seqüentes, isto e, aqueles que rslao "antes" de tudo o mais (não sendo a palavra "anies" en I e ml i da neers- saria e exclusivamenLe em srut ido ( i ono I <>)>, i c<>, tuas em sentido logico e ontologico). Assnu, :i rif.nr, so­ mente sao "princípios" aqueles de ordem e.1.1t i I airirnf c

universal, sem limitação de especie a 1 >> i >m.'i, isto e,

os princípios meta f 1 s icos , dos quais l tidos us outros — os princípios logicos, por exempLo — n/m sao mais do que deduções ou aplicações a domínios mais

limitados, Estes últimos podem denominar-se " p r i m i pios segundos", e as regras da maioria das ciências * Original inédito de 1985.

(24)

sao deduzidas de princípios segundos, e nao direta­ mente dos universais. (1)

Os princípios caracterizam-se por tres marcas: sua necessidade (ou absolut idade ) , sua antecedencia (ou primordialidade) e sua universalidade (seja u n i ­ versalidade em sentido extenso, como no caso dos princípios metafísicos, seja universalidade dentro de um campo determinado, como é o caso dos princí­ pios log i c o s ).

Podemos classificar os princípios, segundo sua u n i v e r s a l i d a d e , em:

Princípios metafísicos e ontologicos; Princípios logicos;

Princípios c o s m o l o g i c o s ;

Princípios (e regras) das ciências particulares. Evidentemente, nao pode haver contradição- entre nenhum' desses princípios. É facil tambem compreen-

t * ' ' n . *

der que os princípios cosmologicos so sao p r i n c í ­ pios" em relação a seus conseqüentes (os conhecimen­ tos cosmologicos deles deduz i d o s ), e nao em relaçao a seus antecedentes (os princípios logicos, ontolo­ gicos e metafísicos de que derivam).

A descoberta dos princípios segundos pode ser feita através da dedução lógica, mas os princípios mel íi I \ s i cos e ontologicos não têm antecedentes, e

s ã o , a r i g o r , chamados por isso de "primeiros

prin-* ■ ■ 1 1 U1 |J1 os „

N.'m podendo ser descobertos por dedução — nem, a I or l i or i , |><n nhsrrvai,ao, j a que a observaçao ci­

entífica requer o concurso dos princípios , os

primeiros princípios nao conhecidos por u m metodo próprio, que é o método da sabedoria ou gnose.

Para compreender em que consista es.te metodo e preciso ter em mente que a definição mesma de ciên­ cia — observaçao dos fenomenos a luz de um princi­ pio — estabelece constituir a ciência uma unifica­

rão da multiplicidade. A aplicação dos princípios

|)enniie reduzir à unidade de uma lei, ou invariante, ioda a extensão de múltiplas fenômenos estudados.

(25)

Do mesmo modo, o conhecimento dos primeiros

princípios e uma unificação, mas, como acima deles nao há outras instancias a que possamos remeter-nos, a sabedoria e entao definida como redução a Unidade primeira (ou, sob outro aspecto, derradeira), acima e para tras da qual nada existe.

Ora) nisto os primeiros princípios diferem de todos os princípios segundos, porque estes podem ser princípios tao somente g n o s e o l ó g i c o s , isto é, prin­ cípios do conhecer enquanto tal,'mas os primeiros princípios não podem admitir nenhuma dualidade, e

devem ser, portanto, simultaneamente princípios do

conhecer e princípios do ser. A rigor, conhecer e ser nunca podem estar completamente separados, mas, quando se trata de princípios segundos e derivados, podemos conceber tal separação, por abstração e ad

hoc, por economia de pensamento, e, no caso dos pri-

meiros princípios, ela seria totalmente contradito- ria, pois deixaria subsistir uma ultima franja de dualidade, cuja exclusão e precisamente o que faz com que eles sejam princípios p r i m e i r o s , e não se­ gundos .

A diferença, portanto, entre ciência e sabedo­ ria, é que a ciência requer apenas u m m etodo de co­

nhecer, enquanto que a sabedoria requer u m m e t o d o de ser. Como todos os conhecimentos têm sua validade

derivada, em última instância, da conexão entre o conhecer e o ser, todas as ciências, em última ins- tancia, d e r i v a m da sabedoria.

Por isso, escreve Platão, "o conhecimento de to­ das as ciências, sem o conhecimento ;da melhor delas

(que e a sabedoria), nao somente e inutil como e prejudicial" (Alcíbíades II, 1 4 ^ b ) .

Por outro lado, a não-dualidade do conhecer e do ser requer que se entenda o proprio conhecer como um modo de ser. "Ser homem, é conhecer", escreve Frith- jof Schuon (2). E Aristóteles, tomando a palavra "inteligência" como o instrumento da sabedoria, ee- creve: "A inteligência e m a i s verdadeira do ([uf a c i t*nc ia".

(26)

Para o sabio ou gnostico, conhecer e ser, e vi­ ce-versa, Isto tem duas c o n s e q u e n c i a s : uma pratica, outra teórica. A primeira, que ele não pode, na sua própria pessoa cognoscente, admitir hiato e muito menos contradição entre aquilo que ele conhece e a- quilo que ele é, Este é o fundamento de toda moral, que pode entao ser definida como coesão entre o que se conhece e o que se é (e, por extensão, o que se f a z , o que se pensa, o que se sente, etc.). Ou, como diz Platao: "Verdade conhecida e verdade obedecida". A segunda c o n s e q u e n c i a , de ordem teórica, e que to­ das as modalidades de ser passam a ser entendidas como modalidades do conhecer; por exemplo, as' formas existenciais dos entes — a forma dos planfetas, dos anjos, das flores e bichos, entendendo-se forma, e— v í d e n t e m e n t e , em sentido amplo e estrutural, não restrito e visual — sao tambem suas modalidades de conhecer. De conhecer o que? A Unidade mesma da qual derivam. Ha, por exemplo, modalidades externas e in­

ternas de conhecer — a flor nao tem interior idade a u t o c o n s c i e n t e , e por isso seu conhecimento da U n i ­ dade, ou de Deus, consiste e reside na sua forma

corporal (e na função correspondente). 0 homem tem

interioridade a u t o c o n s c i e n t e ,e por isso seu conheci­ mento de Deus não está tanto na sua forma sensível, mas na sua consciência de Deus, e nas consequencias existenciais que ele tira dessa consciência.

Tais asserções já constituem por sua vez os princípios de toda cosmologia tradicional.

Uma terceira consequencia e que, inversamente, os modos de conhecer tambem são modos de ser, e que, portanto, entre vários seres — humanos, por exemplo — que "conheçam" a Unidade segundo varias gradações de i n t e g r a ç a o , absolutidade e relatividade — pode­ mos dÍHcivrtiir varias modalidades ou planos de exis-

tencia nos qiwii ;t eles s<’ situam; e como, segundo o adágio csci) I a.sl i ™ , "pai/i vi^ir, r preciso ser", c o m ­ preendemos (] u * * a 1‘smiis v.iria.s modalidades ou planos existenciais, q m ’ r nr n*s pnndem as h ierarquias espi­ rituais ou i n i i1 i a l i ras , fazem eco outras tantas m o ­

(27)

ou alargar as possibilidades de atuação humana desde o estritamente c o r p o r a l , aparentando-o as pedras e aos vegetais, ate o universal que transcende aos proprios anjos. "Senhor, que e o homem, para que te lembres dele, ou o filho do homem, para que o v i s i ­ tes? No entanto, fizeste-o pouco men or que os anjos, e o cobriste de nobreza e gloria" (Salmo 114).

2

Se aplicamos esses conceitos ao caso da a s t r o ­ logia, e, a 1uz deles, examinamos algo do vasto pa-

trimonio de conhecimentos astroLogicos que as c i v i ­ lizações passadas nos legaram, poderemos tirar a l g u ­ mas conclusões.

A astrologia pertence ao grupo de ciências que estão regidas por princípios cosmologicos. Dentro d e s t e . q u a d r o , ela reside, como diz Titus Burckhardt, "nos pontos de junção das condições que definem o mundo sensível, isto e, o tempo, o espaço e o nume­ ro". (3) Sendo assim, ela está precisamente no li­ mite entre o sensível e o s u p r a - s e n s i v e l . Este limi­ te, na cosmologia de M o h y ieddin Ibn 'Arabi (4), esta representado pela esfera de Saturno, planeta que, no esquema das "Artes Liberais" ocidentais, representa obviamente a ciência da astrologia (5).

Por isso e que, conforme encaremos o imenso c o n ­

junto de símbolos e regras da astrologia desde um

ponto de vista "descendent e" (en focando a influencia das configuraçoes celestes nos eventos <lo mundo sub- lunar ou sensível) ou de um ponlo de viula " a s c e n ­ dente" (enfocando o sistema plane ( a r i o e /.ud i rica I

como símbolo das realidades supra-sens i ve i n ) , lere­ mos nao uma, porem duas ciências — ciimpIement ares , é verdade, porem distintas e inconfundíveis. T r a d i ­ cionalmente esses dois domínios chamam-se "asirolo- gia natural" (ou, podemos admitir, "científica"), e "astrologia espiritual" (ou s a p i e n c i a l ) .(6)

Boa parte das confusões dos astrologos contempo­ râneos advem de nao saberem distinguir esses dois

(28)

pontos de vista, e os métodos que lhes correspondem. Eles enxertara indevidamente, no campo da astrologia natural,considerações que pertencem ao da astrologia espiritual, e vice-versa. Nao que esses dois planos não comportem ou mesmo ex i j a m correlações, mas estas so são válidas quando feitas entre elementos c l a r a ­ mente distintos, caso contrário não se trata de c o r ­ relação, mas de confusão pura e simples. (6b)

Somente para dar um exemplo, a astrologia espi­ ritual e um corpo de símbolos (ou, para dizer com mais propriedade, o conjunto da astrologia natural constitui u m corpo de símbolos que, encarado em modo "ascendente", v e m a ser a astrologia espiritual). Como tal, é um instrumento da mística í7), a qual, por sua vez, demanda a inserção do postulante no quadro de u m exoterismo tradicional e ortodoxo (8); fora deste quadro, o estudo da astrologia tem um v a ­ lor meramente acadêmico, ou, na melhor das hipóte- ses-, um valor potencial, que so se efetivara pela referida inserção. Esta permite, pela pratica dos ritos — e sobretudo dos ritos de purificação — que o h o m e m "escape" de certas influências astrais, ao menos parcialmente, na medida e m que a participação na Graça ameniza os contornos do destino, ja que a Graça é liberdade. No mínimo, é sempre possível — pela "transposição" do natural ao espiritual, v i a b i ­ lizada pelo rito — elevar qualitativamente o signi­

ficado da vida individual, ainda que sem escapar dos "fatos", materialmente considerados. (9)

Como, por sua vez, o estudo do simbolismo astro- logiro — ctfsde que conduzido segundo critérios es­ tritos da doutrina tradicional e sem comprometimento algum com as fantasias ocultistas — pode ajudar bastante na compreensão dos ritos, e, portanto, na sua melhor e mais límpida consecução, esta claro que, dentro de uma tradição espiritual autentica, tal estudo, mais a pratica regular dos ritos Ce, e- v i d e n t e m e n t e , o cumprimento da lei) pode e f e t i v a m e n ­ te concorrer para melh o r a r o nível do destino, com a graça de Deus, mesmo no caso das pessoas nascidas sob as configurações astrológicas mais duras e h o s ­

(29)

tis. 0 rito e unificação ascensional, é transpo­ sição do natural ao espiritual, e teoricamente nada impede que, por vezes, esta transposição abarque a totalidade de u m ‘destino astrologicamente d e t e r m i n a ­ do.

É óbvio, porem, que tal resultado não poderia advir do simples estudo da astrologia, natural ou espiritual, e nem m uito menos da decorrente "consci­ entização do seu arquétipo individual", como dizem hoje certos astrólogos, e não o pode por duas boas razões. A primeira e que a consciência individual enquanto tal — considerada independentemente da participação na tradição e dos ritos que a eleva r i a m ao nível da u n i v e rsalidade — é dependente das m e s ­

mas condições que d e t e m i n a m e limitam a individuali­ dade como um todo, condições entre as quais se in­ clui a c o n f i guração astral, ou melhor, que estão simbolicamente resumidas na c o n f igur ação astral(TO).

A segunda razão e que um conhecimento teorico qualquer (para não falar das simples generalidades ocas de que se constitui a maior parte das interpre­ tações astrologicas) não tem o efeito — e aliás nem mesmo o proposito — de fazer participar do mundo da Graça, que é o m e i o de atenuar ou melhorar o d e s t i ­ no . ( 11 )

No entanto, quantos astrologos hoje em dia não prometem essas melh o r a s ou atenuações mediante a simples leitura da carta natal (quando não mediante "tratamentos" meramente psíquicos e sem nenhuma e f i ­ cácia ritual, quando não propriamente perversos e aberrantes, que em muitos casos eles mesmos apli­ cam)?

A astrologia natural é uma ciência teórica (meio dedutiva, meio d e ,o b s e r v a ç ã o ) , cujo papel se esgota na co nstatação e prova das correlações, bem como nas eventuais previsões e diagnósticos que delas se p o s ­ sam deduzir dentro de u m quadro determinado, ao pas­ so que a astrologia espiritual é uma ciência p r a t i ­ ca, na medida e m que esta vinculada ao processo tU* realização espiritual de cada qual. Por outro lado ela admite, por essa mesma razão, uma variedmir di1

(30)

níveis de significado em seus símbolos e regras,con­ forme o grau e o estado espiritual daquele que a es­ tada, variedade esta que seria inadmissível no campo da astrologia natural (quando mais nao fosse, pela simples razão de que esta visa a estabelecer e fjxat as realidades, factuais por ass im dizer, que naquela outra vao ganhar uma dimensão simbólica). (1 2)

Para piorar as coisas, disseminar a ideia de que seja possível melhorar o destino pelo estudo do pro- prío horoscopo, sem a participaçao nos ritos de uma tradição ortodoxa, resulta, em ultima instancia, em fazer crer que o conhecimento e a observaçao dos as­ tros tem o mesmo efeito que o conhecimento e o culto

de Deus, e que podem perfeitamente substituí-los. Tsto e um neopagan i sino grosseiro, qut* desemboca na superstição e na feitiçaria, sob o elefante disfarce de uma pro t ensa "nova (_■ s p i r i t ua I i d a d o " de t ons su- postamente "cioniíficos" e do um mau-gosto a toda p r o v a . (1J )

(31)

Logíca e as t r o l o g i a *

1

Se há neste mundo coisas opostas entre ai, pou­ cas parecem se-lo mais do que a ciência que e a epí- tome da racionalidade e a arte divinatória que tem posado, nos últimos tres séculos, como o modelo m e s ­ mo da pseudo-ciene ia supersticiosa.

E no entanto elas estão unidas por um estreito p a r e n t e s c o .

Para os nossos antepassados de um milênio atrás, esse parentesco era tão evidente que eles costumavam ensina-las juntas, como parte das "Artes Liberais" que eram o portico dos estudos superiores e que in­ cluíam tambem a gramatica, a retórica, a aritmética, a musica e a geometria.

Dessas sete, concedia-se as vezes maior prestí­ gio a aritmética, comu modelo formal de todas as ci­

ências. Mas as outras seis eram tratadas em pe de

igualdade. E Piatao chegava mesmo a atribuir a p r i ­ mazia a ciência dos astros, ao dizer que tora a v i ­ são das harmonias celestes que dera ao homem a no^.ão do numero e, com ela, a ciência em geral. (1)

As artes liberais nao eram um simples agregado casual de disciplinas, nem m e s m o uma combinação en­ genhosa de elementos dispares juntados tão-somente em vista do interesse pedagógica que apresentavam.

(32)

Eram um sistema, uma unidade dotada de coesão in­ trínseca, Eram um organismo vivo, e o crescimento deste organismo foi uma das principais motivaçoes da vida cultural no Ocidente, desde os *pre-socraticos ate o Renascimento.

Tao íntimos e inextricaveis eram os laços entre essas sete disciplinas, que se poderia, sem exagero, dizer que constituíam uma so ciência, estudada sob sete aspectos diferentes. Logica e astrologia a p a r e ­ ciam, nessa perspectiva, apenas como dois ângulos ou métodos diferentes de enfocar o mesmo corpo de leis e relações, tal como se manifestavam, de um lado, na estrutura interna do pensamento discursivo e, de ou­ tro, no movimento ordenado e rítmico dos astros no céu.

A comparação de logica e astrologia e, entre to­ das, a mais propícia para ilustrar — perante o lei­

tor de hoje o jogo das corre^pondencias que entao

se discerniam entre "microcosmo" e " m a c r o c o s m o " . Mas, jrepresentado de maneiras diferentes, o mesmo

jogo se expressava em todas as sete, e tambem na estrutura do conjunto. É o que se observa no fato de que, dessas ciências, tres eram ciências da lin­ guagem, e quatro, ciências dos números e das propor­ ções, subentendendo-se que os números 3 e 4 r e p r e ­ sentavam, respectivamente, a lei fundamental do pen­ samento discursivo (a estrutura ternaria do silogis­ mo) e a formula basica das proporçoes aritméticas,

modeladas sobre o quaternário de tipo a x

b y

A figura do triângulo sobre o quadrado, com que se simbolizava entao o éistèma das artes liberais

(fig. 1), expressava a convicção de que existia um

hiato entre o mundo da razão (Logos) e da natureza (Physís), 'e de que a passagem de um desses mundos a outro era u m salto de planos com o que ha entre o 3

c o 4. Estes não formam entre si nenhuma proporção,

exceto pelo mí n i m o múlt i p l o comum 12, numero dos

(33)

estrutura mínima modelar dos esquemas cosmologicos, o liame entre Logos e Physis.

A divisão das artes liberais em trivium e qua-

d r i v i u m expressava, assim, uma distinção de planos

cosmologicos, de um lado as formas puras da razão, de outro as estruturas matematicas da natureza sen­ sível. A ligação entre ambos, a passagem de signifi­ cado a s i g n i f i c a n t e , nao era direta e so podia esta­ belecer-se pela me diação do complexo esquema cosmo-

logico de base 1 2.

Alias, tal esquema so permite efetuar essa pas­ sagem em m o d o teórico, por abstração mental, como se ve pelo fato de que a soma dos algarismos que com- põem 12 da novamente 3. Mas a pass a g e m real e ef e t i ­ va é uma ação criadora do próprio homem, Este é o sentido do ternario grego Logos-Ethos-Physis: o E-

thos e o elemento humano que estabelece a ligaçao

entre o mundo da possibilidade (razão) e o da e f e t i ­ vidade (natureza). Com isto, reencontramos aqui o

tema tradicional do homem como mediador entre os m u n d o s ,

No esquema das artes liberais, o domínio da lin­ guagem e do pensamento era conhecido sob a d e n o m i n a ­ ção geral de voces ("vozes") e o das ciências m a ­ temáticas sob a de rei ("coisas", plural de res). Assim, o 12 é a ponte entre a palavra e a coisa, en­

tre o fenomeno e o significado do fenomeno, entre a realidade sensível e a inteligível. E o Zodíaco, co­ mo se vê pelas classicas correspondem; ías entre sig­ nos celestes e funções do organismo humano, nao e ai mais do que um mapeam e n t o do H o m e m , no sentido u n i ­ versal do termo, e f portanto, da estrutura dessa a- tividade de medi a ç ã o que e própria do homem.

(34)

fig. 1 - Re presentação do sistema das Artes Liberais por u m simbolismo geometrico.

Por outro lado, a correspondencia entre as ciên­ cias e os sete céus planetarios, a rigorosa homolo- gia entre as propriedades de cada numero de 1 a 7 e os conceitos básicos de cada ciência (ver adiante), e uma série de outras relações estruturais e simbó­

licas do todo às partes e das partes entre si, m o s ­ tram a unidade e coesão deste sistema. Como em todo organismo vivente, aqui o sistema de relações que governa a coesão do todo e repetido em espelhismo na estrutura de cada parte tomada isoladamente, e por sua vez espelha relações matematicas observáveis na

natureza, 0 numero de correspondencias e demasiado

grande para poder-se falar em coincidências fortui­ tas, e a faixa do aplicações cientificas do esquema e demasiado ampla para que st* possa imaginar a hi­ pótese de ror sido t> l *• M i nvfiit ndo" por alguma preme-

ditação humana. c conjunto de ciências, portanto,

tem uma origem m u n i , por humilde que seja a posição delas em face d<’ < <>!ih('r irnentos mais altos que a sci-

(35)

Tal como as demais ciências do trivium e do qua-

drivium, a lógica e a astrologia tem estruturas co­

muns e durante milênios foram estudadas em estreita associaçao. Seu divorcio, no fim da Renascença, c o ­ incidiu com o início de uma crise cultural que esl:a- celou em blocos discordantes e inconciliáveis a ima­

gem Ocidental do homem e do Cosmos.

Como todos os letrados da Idade Media europeía, qualquer que fosse a direção posterior dos seus es­ tudos, de v i a m passar preliminarmente pelas artes li­ berais, estas ultimas funcionavam entao como uma "chave" simbólica e interpretativa de toda a c u l t u ­ ra. 0 sistema das artes liberais seguramente c o n t r i ­

buiu muito para dar a cultura medieval seu carater de unidade e coesão; no mínimo contribuiu mais do que a mera autoridade temporal da Igreja, a que os historiadores modernos parecem dar uma relevância excessiva, devida, sem duvida, ao fato de que p e s ­ soas cujo entendimento se limita ao domínio material devem naturalmente buscar para tudo explicações que lhes pareçam as mais "materiais".

A redescoberta dessas ciências teria, entre ou­ tras utilidades, a de mostrar como podia ser um sis­ tema de pensamento filosofico isento das nossas c o n ­ tradições habituais de logica e sentimento, razao e

fé, historia e mito, corpo e alma, etc.

Nao pretendo realizar tal estudo aqui, em pri­

meiro lugar porque seria muito extenso, em secundo porque já dei algumas indicações nesse sentido em trabalhos anteriores (2). 0 que pretendo e sim p l e s ­ mente assinalar, a título de amostra, alguns pontos de correspondência entre a logica e a astrologia. Escolhi estas disciplinas por uma questão de o p o r t u ­ nidade, mas correspondencias similares podem ser apontadas também com a musica, a aritmética, a g e o ­ metria, a gramatica e a retórica.

Ta m b é m nao e meu proposito assinalar a analogia global entre as estruturas da logica e da a s t r o l o ­ gia, mas somente entre alguns aspectos parciais, que s a o :

(36)

(a) a co rrespondencia entre a estrutura do silo­ gismo e a dos dois Zodíacos, solar e lunar;

(b) a c orrespondencia entre o sistema das cate­ gorias — tal como se apresenta em A r i s t ó t e l e s ■e na

lógi;a hindu — e a estrutura do sistema planetario tal como se apresenta no simbolismo astrologico o c i ­ dental ( g r e c o - b a b i l o n i c o ) .

2

Todo pensamento discursivo tem, como se s a b e , uma estrutura t e r n á r i a : na lógica f o r m a l , premissa maior, premissa menor e conseqüência; na dialética hegeliana, tese, antítese e síntese. E m ambos os ca­

sos trata-se d e , dadas duas i d é i a s , extrair uma ter­ ceira. So que no caso da logica formal as duas pre­ missas podem diferir apenas segundo a "quantidade" e a "qualidade", enquanto que na logica dialética tem de ser duas ideias c o n t r a d i t o r i a s . Mas o ternario esta presente em ambos os c a s o s .

Se tivermos em conta que cada síntese resolve e contem em si a tese e a antítese que a precedem (a- dotando aqui, para simplificar, somente a terminolo­ gia dialética), notaremos que três silogismos di a l é ­ ticos em sèquencia formam por sua vez um novo silo­ gismo, com a primeira síntese desempenhando o papel de tese, a segunda de antítese e a terceira de sín­

tese, A seqüência de tres silogismos:

ANTÍTESE 1 ANTÍTESE 2 ANTÍTESE 3

(Tese 2 ) (Tese 3) (Tese 4)

(37)

antítese SÍNTESE 2 tese SÍNTESE 1 (tese a) s í n t e s e SÍNTESE 3 (tese c )

Como o silogismo e a "unidade mínima" do pensa­ mento discursivo, uma sequencia de tres silogismos constitui por si, entao, uma nova unidade, tomada num plano mais abrangente.

Cada síntese e, por sua vez, uma passagem de

plano, uma subida de nível, seja no sentido da maior

concretude, seja no da maior generalidade, seja em

ambos os sentidos. A síntese 3 e, assim, aquilo que corresponde à tese inicial 1, n u m nível mais e l e v a ­

do. Ela encerra um ciclo que e em si mesmo um m i c r o ­ cosmo, composto de tres níveis ou planos de rea l i d a ­ de .

Ora, o conjunto de três silogismos contem, no total, sete proposições distintas:

1 - tese 1 2 - ant ítese 1 3 - sinte se ? 4 - ant ítese 2 5 - síntese 2 6 - antítese 3 7 - síntese 3

Isso é uma das razoes pelas quais, na simbólica tradicional, o sete e considermlo um numero "co m p l e ­ to" (outra razão e que ele e o numero total de e l e ­ mentos da cruz de seis pontas, que representa as seis direções do espaço pari indo de um centro, que e o sétimo elemento). (3)

(38)

No Zodíaco solar, o setimo signo, que e Libra, representa justamente o ponto de inflexão de ura ci­ clo que, tendo esgotado suas possibilidades numa di~ reção, tenderá a tomar a direção oposta (como por exemplo no ciclo anual das estações, onde o calor crescente a partir do primeiro signo de primavera, Aries,tendo esgotado suas possibilidades no ultimo signo estivai, Virgo, e substituído pelo frio cres­ cente a partir do primeiro signo outonal, Libra).

A andadura ternaria do silogismo e representada com mais clareza no Zodíaco lunar - composto de 28 signos, dias, "moradas" ou "estações" (em arabe, m a — nazíl), cada um de aproximadamente 12n 48' de arco,

e na sua superposição ao Zodíaco solar.

Para entender o que se segue, e preciso saber que, na simbólica tradicional, o Sol geralmente re­ presenta o Logos, ou a Inteligência divina subjacen­ te a todo o real manifesto, e que a Lua representa a inteligência humana que reflete o Logos em padrões diferenciados. 0 Logos ê "sintético" e "simultâneo", enquanto a inteligencia humana e diferenciada, "ana­ lítica" e/ou "sucessiva". É este o simbolismo que se reflete na dualidade dos Zodíacos. 0 movimento aparente do Sol demarca para nos as direções do es­ paço celeste, formando por assim dizer o quadro per­ manente e estático dentro do qual o movimento da Lua diferencia temporalmente as 28 estações. A ínteli- gencia humana, assim, opera dentro de marcos pre-fi- xados, que consti t u e m o principio instituidor da sua estrutura; do mesmo modo, toda a nossa demarcação de tempo se faz dentro de um marco espacial fixo, que sao as seis direções do espaço, (4)

A sucessão das casas lunares representa a suces­ são dos passos ou etapas de um raciocínio. A c o m p a ­ nhemos a sua p r o g r e s s ã o :

A primeira casa lunar parle de ()u do signo solar de Ár ies e l <■ r ni i na em I ?'■' h B ' de Áries . A segunda

parte de 12" 4H' de Áries e termina em 25° 36' de

Áries. A lerceira comera em 25° 36' de Áries e,

tendo cada signo sul ai )() graus, ultrapassa o limite de Áries para terminar em 8o 24' de Touro.

(39)

Ora, sendo o Zodíaco um ciclo completo de trans- formaçoes (como se ve, por exemplo, no curso das es­ tações), cada passagem de um signo solar para outro representa uma transposição de m v e i s , aquilo que os dialéticos hegelianos chamam erroneamente "salto qualitativo”: o crescimento da vegetação avança em progressão durante o signo de Aries e, quando o ci­ clo anual entra em Touro, o processo sofre uma "al­ teração q u a l i t a t i v a ” com o nascim e n t o das flores. A

terceira casa lunar eqüivale, aqui, à síntese, que

faz uma conexão entre um plano de realidade e outro, e que representa um recomeço do processo desde um nível mais alto.

Mas, como paramos em 8o 24' de Touro, nao temos

ainda u m ciclo completo e fechado, o que so ocorrera quando os dois Zodíacos v i e r e m a coincidir novamente como em 0n de Aries,

Prosseguindo, a quarta casa lunar (antítese 2) vai de 8o 24' de Touro a 21° 12' de Touro. Esta e t a ­

pa e particularmente importante. Se considerarmos os tres primeiros signos solares como etapas d i a l é t i ­ cas, o segundo representara, evidentemente, a antí­ tese. Ora, esta casa lunar ocupa o m e i o do signo do

meio, sendo portanto, no processo total, a antítese

por excelencia, Sendo Touro o signo da resistencia,

da oposição (número 2, lat. dubitare, al. Zwei—

feln = "duvi-dar", etc.), (5), a quarta etapa r e p r e ­

sentara o nucleo mesmo da antítese no processo to­ tal .

A quinta casa lunar comcça t'iu 2 1° 12' de Touro e

termina em 4 o 0' de Cemeos; nov.-nncnt c , ;) síntese o- perou uma passagem de nível.

A sexta casa lunar começa cm 4 “ dc Gcmco.s e termina em 16° 48' de Gemeos, A sot ima rasa coincça em 16° 48' e termina em 29° 36' de Gcmcou , cncfrran­ do o primeiro quadrante do Zodíaco solar c a pr i m e i ­ ra semana do mes lunar. E m todos os calendários lu­

nares a extensão da última casa e arredondada, so­

mando-se aos 12° 48' os 0 o 24' que faltam para c h e ­

gar a 0° de Câncer (primeiro signo estivai). Ksta

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