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A presença das criptomoedas no sistema monetário internacional e sua relação com os estados

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA SCHAYENA CORREA

A PRESENÇA DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL E SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS

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SCHAYENA CORREA

A PRESENÇA DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL E SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Neumann

Florianópolis 2018

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Afonso e Elizete que sempre me ensinaram que o estudo e a educação são a base de tudo. Sempre me incentivaram para o caminho do conhecimento e da dedicação. Agradeço à eles pelo apoio, por me darem a oportunidade de estudo, pela construção da nossa família e por tudo o que fizeram e fazem por mim. Não há palavras que consigam expressar a tamanha gratidão.

Agradeço à minha irmã Kézily que sempre me apoiou e esteve ao meu lado compartilhando seu conhecimento. Grata por ser a pessoa que sempre ouviu minhas reclamações, que me incentiva e que sempre tentou encontrar uma solução para que tudo desse certo. Obrigada por sempre estar ao meu lado.

Ao meu namorado Raphael, pela paciência em me ouvir e pelo incentivo a nunca desistir. Grata pela compreensão e por ser a pessoa que me faz enxergar otimismo. Apesar da distância, sempre me apoiou a continuar o curso que sempre quis, me ajudando no que era necessário. Obrigada por estar presente, mesmo estando distante.

Ao meu orientador Ricardo, agradeço muito. Professor e doutor que consegue repassar seus conhecimentos de forma clara, sempre aceitando a opinião alheia e ajudando quando necessário. O interesse pela busca das fontes iniciais, o apoio ao tema escolhido por mim, como também a abertura de conhecimento e ideias de assuntos a serem abordados sobre as criptomoedas, fez com que eu tivesse mais segurança para produzir o trabalho. Obrigada por ter aceitado ser meu orientador e por todo o ensinamento, que foram muitos ao longo do curso.

Agradeço aos meus amigos pela compreensão e pelo interesse por meu trabalho em que demonstraram ter. Obrigada por permanecerem ao meu lado mesmo quando não pude dar total atenção e, também, pelo apoio de sempre, pois fico feliz em poder compartilhar momentos como esse com pessoas assim.

Obrigada à banca, pelo tempo dedicado e atenção a este trabalho. Agradeço também a todos que estão lendo e a todos que de certa forma ajudaram na construção deste trabalho.

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“A mind needs books like a sword needs a whetstone, if it is to keep its edge". (George R.R.Martin)

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo principal analisar as criptomoedas em relação aos Estados, e para isso, inicialmente apresentamos a história do Sistema Monetário Internacional, abordando temas como o Padrão Ouro, crise de 1929 e Bretton Woods. Além disso, é abordado o conceito das moedas virtuais e sua origem, onde Satoshi Nakamoto o criou em 2008 através das ideias de Wei Dai, e por último, a presença das criptomoedas no Sistema Monetário Internacional, abordando questões como as suas vantagens e desvantagens, segurança, perspectivas de mercado, como também, a questão da regulamentação das moedas virtuais frente aos Estados, visando a possível criação de uma nova ordem internacional, justamente por ser um novo meio de trocas criado através de tecnologia que a Globalização trouxe ao sistema.

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ABSTRACT

The main objective of this monograph is to analyze the crypto-coins in relation to the states, and for this, we first present the history of the International Monetary System, addressing topics such as the Gold Standard, the 1929 crisis and Bretton Woods. In addition, the concept of virtual currencies and their origin, where Satoshi Nakamoto created it in 2008 through the ideas of Wei Dai, and the presence of the crypto-coins in the International Monetary System, addresses issues such as their advantages and disadvantages, security, market perspectives, as well as the issue of regulating virtual currencies against the states, aiming at the possible creation of a new international order, precisely because it is a new means of exchange created through technology that Globalization has brought to the system.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 1.1 JUSTIFICATIVA 10 1.2 OBJETIVOS 10 2 CONCEITUAL TEÓRICO 12 3 METODOLOGIA 23

4 A HISTÓRIA DO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL 25

4.1 PADRÃO OURO 26

5 A HISTÓRIA DAS CRIPTOMOEDAS 35

5.1 TRANSAÇÕES DAS MOEDAS VIRTUAIS 38

5.2 MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS 40

6 ANÁLISE DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA INTERNACIONAL 44

6.1 VANTAGENS 44

6.2 DESVANTAGENS 46

6.3 PERSPECTIVAS DO MERCADO 58

6.4 AS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO E A SUA RELAÇÃO COM

OS ESTADOS 62

7 CONCLUSÃO 81

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1 INTRODUÇÃO

Analisaremos as moedas virtuais no Sistema Monetário Internacional frente aos Estados, com o objetivo de compreender a história do Sistema Monetário e como as criptomoedas surgiram. Através dos textos de Krugman e Gilpin, abordamos a questão dos princípios do Sistema Monetário Internacional, iniciando pela descoberta do ouro e da prata nas Américas que foi o período onde a relação do Estado com a economia começou a se desenvolver, dando o início à criação da sua própria moeda, porém, iniciando juntamente a inflação e desequilíbrio monetário.

Após esta Revolução Financeira com a criação da própria moeda como meio de troca, surgiu o Padrão Ouro, vindo como uma representação entre o dilema de autonomia econômica interna contra a estabilidade econômica internacional, pois o padrão ouro visava a relação da moeda com os níveis de preço, ou seja, os bancos centrais dos países possuíam reservas de ouro e essa quantidade determinava sua oferta monetária, se ofertasse pouco, o mercado ficaria mais caro, e caso o contrário, o mercado ficaria mais barato.

Com a Primeira Guerra Mundial veio o fim dessa era econômica, pois foram surgindo várias indústrias, além do declínio da hegemonia britânica, que tiveram seu impacto sobre o Sistema Monetário fazendo com que houvesse uma mudança dentro do sistema do Estado em si, impactando diretamente no sistema internacional, pois era o Estado hegemônico que possuía o maior controle sobre o sistema monetário. Com o caos total causado pela guerra e os países da Europa quebrados tentando se recuperar, surgiu a “dependência” dos suprimentos dos Estados Unidos.

Com a Grã Bretanha em declínio e os EUA tomando o seu lugar, iniciou-se em 1920 uma euforia em que grandes investidores passaram a investir em títulos na Bolsa de Valores, grandes empresas surgiram e houve grande consumo dos americanos. Em consequência da especulação do mercado financeiro e da crise de superprodução, surgiu a Crise de 29, que afetou todos os outros Estados sendo considerada a pior crise do capitalismo.

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tomou como um interesse a reconstrução da Europa e dos países devastados pela guerra e, conforme Alexsandro Eugenio

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Pereira em sua análise na pesquisa “Três Perspectivas sobre a Política Externa dos Estados Unidos: Poder, dominação e hegemonia”, os Estados Unidos surgiram como uma grande potência industrial do mundo, mas com problemas econômicos, como por exemplo a falta de demanda efetiva, pois como a Europa Ocidental e o Leste da Ásia estavam em declínio econômico e crises financeiras, o interesse dos EUA era a reconstrução para aumentar suas demandas e assim obter maior poder dentro do Sistema Monetário Internacional.

Para melhorar o Sistema Monetário Internacional, grande parte dos Estados se uniram e então, surgiu a criação dos Acordos de Bretton Woods, um esquema do Sistema Monetário Internacional após a Segunda Guerra. O sistema financeiro que surgia desses acordos era muito favorável aos Estados Unidos, tanto que sua hegemonia iniciou-se com a transformação do dólar como a moeda forte do Sistema Monetário Internacional. Além disso, com as conferências de Bretton Woods, surgiu também a criação de instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (atualmente, renomeado para Banco Mundial), com o objetivo de ajudar na reconstrução do sistema financeiro. Segundo Pereira (2011, p. 242), a criação destas instituições levou a uma expansão do mercado internacional e uma maior interdependência econômica dos países. Estes fatos podem ser considerados como um dos dois momentos históricos sobre a hegemonia.

Após compreender o estudo e a história do Sistema Monetário Internacional, abordaremos a origem das criptomoedas tendo um foco maior no Bitcoin, já que é a moeda digital mais conhecida e utilizada atualmente. Portanto, abordamos o que são as criptomoedas, que, com a globalização e maior desenvolvimento tecnológico ao longo dos anos, a criação de moedas descentralizadas trouxe um novo jeito de transacionar e fazer trocas no Sistema Monetário Internacional. Assim, abordamos como elas e suas transações funcionam, como também a mineração, que envolve sua criação e o desenvolvimento no sistema monetário.

Com base no estudo sobre a história do Sistema Monetário Internacional, como as moedas foram surgindo e como as criptomoedas ganharam espaço dentro dos mercados internacionais, apresentaremos as vantagens e desvantagens das criptomoedas, como seu benefício por ser uma moeda descentralizada, a inovação que trouxe para o mercado através

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da tecnologia, como também seu uso para fins escusos, como forma de “troca proibida”, segurança e problemas macroeconômicos. Além disso, apresentamos as perspectivas de mercado e como a maioria dos Estados lidam com as moedas virtuais (regulamentação), que em alguns Estados aprovam e outros, nem tanto. Por fim, analisamos as criptomoedas no Sistema Monetário Internacional e qual a melhor forma da sua utilização no Sistema, visto que é uma moeda descentralizada e sem um poder de controle estatal.

1.1 JUSTIFICATIVA

O interesse por esse estudo surge durante as aulas do curso de Relações Internacionais, pois a economia internacional é sempre muito discutida em sala de aula. O surgimento das criptomoedas, principalmente o Bitcoin, desperta uma curiosidade sobre a importância das moedas digitais em relação aos Estados no Sistema Internacional, por ser uma moeda digital autônoma, e além disso, o ineditismo do estudo desse tema ainda pouco abordado na área de Relações Internacionais (visto que é um assunto novo ao mundo dos pesquisadores) fez com que despertasse maior interesse pela pesquisa. Acreditamos ser um estudo importante para a área para se ter o conhecimento e analisar até onde este “modelo” atual do Sistema Monetário Internacional chegará, com o funcionamento de uma nova forma de transações que surgiu através de tecnologia.

Para justificar tal estudo, primeiramente é importante compreender o Sistema Monetário Internacional e como surgiu a história das moedas até os tempos de hoje, visto que ao longo do tempo, com a globalização e com o avanço da tecnologia surge a criação das criptomoedas (Satoshi Nakamoto desenvolveu em 2009 o Bitcoin, a criptomoeda mais utilizada no mundo), onde as mesmas transformaram as relações e assim empolgando muitos e recebendo críticas de outros. O surgimento destas moedas e seus usos como também críticas, despertou o interesse para expor a pesquisa sobre o assunto e fazer com que os leitores tenham conhecimento sobre esta relação dos Estados com as criptomoedas, por ser uma moeda descentralizada e nova para o sistema. Nesse sentido, a construção do estudo tem como objetivo final analisar a relação das criptomoedas com os Estados dentro do Sistema

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1.2 OBJETIVOS

Os objetivos deste presente trabalho são:

1.2.1 Geral

Analisar as moedas virtuais no Sistema Monetário Internacional relacionando as mesmas aos Estados.

1.2.2 Específicos

● Apresentar o Sistema Monetário Internacional na História desde a era do mercantilismo até o Plano Marshall;

● Explicar a origem das moedas virtuais e como elas funcionam;

● Compreender o uso das criptomoedas no Sistema Monetário Internacional e sua regulamentação frente aos Estados.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Referente aos capítulos da monografia que serão apresentados, explicaremos a visão dos autores utilizados e abordagens do tema, para assim entendermos o processo do desenvolvimento das ideias e teorias que serão apresentadas ao longo do trabalho, como também, o conhecimento referente ao tema proposto: a relação das criptomoedas com os Estados.

Referente ao primeiro capítulo, ​​observamos a ideia de Sistema Monetário Internacional através da obra de Robert Gilpin chamada, “A Economia Política das Relações Internacionais”, apresentando a relação entre o Estado e o mercado, ele inicia seu estudo do Sistema Monetário Internacional no período pré-moderno, apresentando os modelos de trocas na época e colocando o ouro e a prata como os principais meios de troca na sociedade, ao invés do dinheiro como é atualmente. A ideia do autor é que no início do Sistema Monetário Internacional não havia tanto interesse político, porém, isso mudou no século XVI e XVII com a descoberta do ouro e da prata nas Américas, e assim surge “dinheiro político”, o início da relação entre o dinheiro, Estado, política e soberania. Inicia-se desta forma a grande história e desenvolvimento do Sistema Monetário Internacional.

Para entender melhor o funcionamento do Sistema Monetário Internacional, estudaremos o período conhecido como mercantilismo. Para iniciar este estudo, Carlos Eduardo Suprinyak contribui para esta presente pesquisa através da obra “Moeda, Tesouro e Riqueza: Uma anatomia conceitual do mercantilismo Britânico do início do século XVII”.

O início de tudo, de todo esse sistema em que vivemos atualmente, se inicia com o escambo, que era a troca de mercadorias por mercadorias. Porém, com um maior movimento e transações entre as pessoas, conforme a população ia crescendo, o meio de troca através do escambo se torna algo difícil a ser controlado entre a população. Portanto, para facilitar, inicia-se então um novo modelo de trocas no Sistema Monetário Internacional, que é o padrão de valor.. Conforme o estudo de Suprinyak, as “transações comerciais de dimensões variáveis justificam a utilização de mais de um metal como padrão de valor” (2009, p. 580), e então, inicia-se o Padrão Ouro como um meio de troca no Sistema Monetário Internacional.

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No estudo referente ao Padrão Ouro, o Sistema Monetário que iniciou-se no século XIX e que deu uma definição para o valor da moeda, relacionando-a com os níveis de preço e iniciando uma circulação monetária (ouro e prata), Gilpin em sua obra, “A Economia Política das Relações Internacionais”, acredita que esse sistema solucionou o problema da autonomia econômica interna contra a estabilidade econômica internacional. O autor cita que as principais características que garantiam a regulação desse sistema era o Banco Central britânico, que podia agir e intervir livremente sobre os preços; e os indivíduos que podiam importar e exportar ouro livremente, fazendo assim com que a economia sempre estivesse com um fluxo contínuo.

Ainda no conceito de Gilpin, devido a hegemonia da Grã Bretanha no sistema internacional, o Banco da Inglaterra podia manipular o fluxo de ouro entre os Estados, fazendo da Inglaterra a “tutora” do Sistema Monetário Internacional. Neste período, a libra esterlina ficou muito conhecida e dominou o mercado financeiro mundial. Com isso podemos perceber que a Grã Bretanha com uma corrente liberal, era a hegemonia no sistema e a libra esterlina era a moeda dominante no mundo, possuindo muita influência sobre o Sistema Monetário Internacional como um meio de troca de mercadorias. Podemos comparar esse fato histórico com o cenário atual, onde os Estados Unidos se tornaram a hegemonia no Sistema Monetário Internacional, tendo o dólar (a moeda oficial do território) como principal meio de troca de mercadorias e fluxo monetário do mundo todo.

Portanto, houve um declínio da hegemonia britânica, e segundo a ideia de Gilpin, o motivo foi o surgimento das novas indústrias e a ascendência dos EUA, iniciando uma maior abertura de mercado ganhando mais espaço no Sistema Internacional; porém, mesmo com o declínio, a Grã Bretanha ainda possuía uma influência financeira internacional. O autor afirma que a Primeira Guerra Mundial, foi o fim do Padrão Ouro e dessa era econômica de hegemonia britânica. Porém, trouxe ao mundo o caos monetário e econômico durante as três décadas seguidas.

Em relação a Primeira Guerra Mundial, o autor traz o debate sobre as consequências da guerra para o Sistema Monetário Internacional, em que o que ganha mais destaque é a

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nacionalização do Sistema Monetário. Gilpin cita que as pessoas começaram a proteger suas reservas de ouro por conta do caos da guerra e abandonaram o sistema de taxa de câmbio.

Para fazer a discussão a partir da Primeira Guerra Mundial também, trazemos para nossa pesquisa Krugman e Obstfeld em sua obra, “Economia Internacional, Teoria e Política”, onde o autor complementa a ideia de Gilpin citando que na Primeira Guerra Mundial, por consequência do caos, a mão de obra e a capacidade produtiva reduziram drasticamente e, com isso, a oferta ficou menor que a demanda e consequentemente os preços aumentaram em todos os lugares no final da guerra. Krugman e Obstfeld complementa ainda a fala de Gilpin, pois as pessoas estavam com receio de investir e comprar algo que não era necessário e a mão de obra era encontrada com mais dificuldade por conta do cenário em que o mundo estava vivendo (oferta menor que a demanda). A produção não era suficiente para a população e os preços aumentaram por causa da busca de produtos necessários, porém as pessoas também possuíam suas reservas e as protegiam pela insegurança em que o mundo estava vivendo.

Desde então, a inflação veio para o Sistema Monetário Internacional atingindo principalmente a Alemanha. Segundo Krugman e Obstfeld, após a guerra e com o Tratado de Versalhes, o país ficou com dívidas absurdas. Junto a um sistema instável, inflações, e caos monetário, iniciou-se a Grande Depressão de 1929 que, ainda segundo Krugman e Obstfeld, surgiu pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a consequente falência de bancos no mundo todo. Esta turbulência continuou ainda até o início da Segunda Guerra Mundial.

Para discutir sobre os Acordos de Bretton Woods trazemos Krugman e Obstfeld novamente, que discutem o cenário em que os países estavam vivendo após as guerras com a ideia de que era vantajoso o livre comércio para todos. Assim, com acordos e cooperação seria muito mais fácil para os países saírem da situação monetária em que se encontravam. Vale ressaltar que era um projeto Norte-Americano para a criação de uma instituição ou órgão que pudesse evitar mudanças cambiais drasticamente, com a ideia do dólar ser a moeda forte e fixa no mundo, tornando-se um padrão monetário internacional. Para os autores, a vontade norte americana que fez com que os Acordos de Bretton Woods acontecessem.

Com este capítulo conseguimos enxergar a hegemonia norte-americana, pois os mesmos passaram a ajudar os países mais endividados (principalmente Japão e Europa)

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oferecendo crédito e, de acordo com a afirmação de Krugman e Obstfeld, o maior problema para estes países foi adquirir dólares suficientes para financiar as compras ou dívidas que fizeram com os Estados Unidos. De acordo ainda com os autores, foi nessa época em que criou-se o Plano Marshall que ajudou os EUA a limitarem a escassez do dólar. Tendo o conhecimento de Krugman e Obstfeld, podemos enxergar a hegemonia dos EUA como o controle do Sistema Monetário Internacional em suas mãos.

Para iniciarmos o estudo sobre as Criptomoedas, começamos citando a ideia e propósito de Wei Dai, através do site Wirdum, e do autor Rocha (2018), que explicam de onde surgiu a ideia da criptografia. Wei Dai foi quem criou uma biblioteca para algoritmos criptográficos, e segundo seu site, foi também quem defendeu a existência de uma rede não rastreável.

Inspirado na ideia de Dai, citamos Nakamoto (vale ressaltar que é um nome fictício), o criador da primeira moeda virtual, criptografada, onde através do seu artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, podemos observar as questões do meio de pagamento. Segundo o autor, o comércio na Internet passou a depender das instituições financeiras, como os bancos por exemplo. Satoshi Nakamoto critica o sistema dizendo que enquanto o sistema funciona muito bem, sendo suficiente para a população, mas na maioria das transações ainda há problema com a questão da confiança; outra crítica também é o custo que aumenta justamente por possuir esse intermediário entre as transações.

Desta forma, através das ideias e críticas iniciais de Satoshi Nakamoto, observamos como o autor percebe a necessidade da criação de um sistema de pagamento eletrônico que fosse baseado em criptografias (códigos), que seria um meio mais confiável se tratando de negociações, além da independência do pagamento sem precisar de um terceiro (como bancos, cooperativas, etc), se tornando algo mais seguro para as partes envolvidas na negociação.

Para explicar o que são as moedas virtuais, iniciamos com a autora Beate Sauer através do seu artigo “Virtual Currencies, the Money Market, and Monetary Policy”, onde ele afirma que as moedas virtuais são como o dinheiro, mas seu funcionamento é totalmente virtual. Além disso, Sauer cita que o sistema das criptomoedas funciona com base na

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confiança, que segundo o site Bitcoin (2018), vem do fato da moeda ser transparente, pois as transações podem ser vistas online.

Para explicar a origem das criptomoedas Sauer explica que as mesmas surgiram através de jogos online, ou seja, era utilizado para fazer compras dentro de jogos. A primeira vez em que as moedas virtuais tiveram contato com o mundo monetário real, foi quando os jogadores decidiram trocar suas criptomoedas por dinheiro real. Segundo a afirmação de Sputnik (2018), as moedas virtuais vieram ao sistema para abrir maior espaço e possibilidade financeira para as pessoas e empresas.

Entre os tipos de criptomoedas e quais são, citamos Sputnik (2018) que afirma que entre as moedas mais utilizadas são o Bitcoin, Ethereum, Litecoin, Stellar, Zcash e Riple, cada uma com as suas particularidades, porém, com o mesmo objetivo de ser um dinheiro digital não rastreável e de livre circulação.

Através de uma base sobre o que são criptomoedas e como foram criadas, discutimos sobre a primeira moeda virtual criada por Satoshi Nakamoto, o Bitcoin, trazendo Fernando Ulrich, que é considerado o maior especialista em criptomoedas no Brasil, para o debate na pesquisa através do livro “Bitcoin: A Moeda na Era Digital”. Para o autor, a invenção do Bitcoin é considerada como uma revolução, pois pela primeira vez na história do Sistema Monetário Internacional o problema do gasto duplo pode ser resolvido sem a necessidade de um terceiro. Isso se tem presente, pois todas as transações do Bitcoin são registradas no Blockchain, uma espécie de “Carteira Digital”, que “é um grande banco de dados público, contendo o histórico de todas as transações realizadas.” (Ulrich, 2014, p. 18).

Mas, como o Bitcoin funciona? Segundo Ulrich, o valor da moeda não deriva do ouro ou de algum meio governamental, mas sim, do valor que as pessoas dão para a moeda. O valor em reais de um Bitcoin, por exemplo, é determinado em um mercado aberto da mesma forma que são estabelecidas as taxas de câmbio entre diferentes moedas mundiais. Além disso, Ulrich explica que as transações feitas com Bitcoin, são verificadas por meio de inteligência criptográfica de chave pública (computadores), sendo expostas em carteiras públicas, como em determinados sites.

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Nakamoto explica em seu artigo (2008, p. 1) que as moedas são geradas por bancos, que são utilizadas no meio social e econômico e que sempre voltam ao banco. Porém, como as criptomoedas são descentralizadas e um dos seus princípios é a não utilização dos bancos, Nakamoto tem a ideia de criar a mineração das moedas.

Para explicarmos sobre a mineração, citamos Hayes através do seu artigo “Cryptocurrency Value Formation: An empirical study leading to a cost of production model for valuing Bitcoin, Telematics and Informatics” do ano de 2016, afirmando que a mineração é realizada por indivíduos ou empresas que participam com o intuito de ganhar benefícios, ou seja, ganhar moedas virtuais como o Bitcoin. Para isso, o indivíduo ou a empresa necessita de computadores muito potentes, que podem ser medidas por hashes por segundo, o que significa o poder de processamento durante a mineração. Quanto mais potente for o computador (sistema) mais chances de gerar e ganhar maior quantidade de Bitcoins. Para sabermos quanto de recompensa que o minerador ganha, citamos Houy, através do seu artigo “The Bitcoin mining game” feito no ano de 2014, onde ele cita que a recompensa é de ​25 BTC (Bitcoins) por bloco gerado e, além disso, há uma limitação para gerar Bitcoins, que é até atingir 21.000.000, com recompensa de 0,1 Bitcoin por transação.

Ainda sobre a mineração, Nakamoto cita em seu artigo (2008, p. 4) que a primeira transação em um bloco é especial porque inicia uma nova moeda que pertence ao minerador. E segundo o autor, isso serve como um incentivo como uma forma de distribuição inicial da moeda em circulação. Nakamoto também explica que com essa forma de mineração há menor gasto do que os mineradores de ouro (que colocam as moedas em circulação), visto que os gastos da mineração de criptomoedas é apenas o tempo em que o computador fica na energia. Os autores O'Dwyer e Malone, através do artigo “ ​Bitcoin Mining and its Energy Footprint” de 2014, citam que o Bitcoin é semelhante a outras moedas, pelas taxas flutuantes. Segundo os autores, ​se o valor de um Bitcoin é menor que o custo da energia que foi gasto para gerá-lo, então há um desincentivo para continuar a mineração, pois assim gastaria mais com a energia de todo o processamento do que ganharia Bitcoins. Portanto, para eles, o custo de energia acaba sendo uma limitação.

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Sobre a questão da privacidade, Nakamoto (2008, p. 6) cita que o modelo bancário tradicional atinge um nível alto de privacidade visto que limita o acesso às informações das partes envolvidas. Porém, com as moedas virtuais há a necessidade de anunciar todas as transações, mas com os dados dos envolvidos anônimos.

Para iniciarmos o estudo sobre as criptomoedas e os Estados, começamos apresentando as vantagens das moedas virtuais citando Conti através do seu artigo “A Survey on Security and Privacy Issues of Bitcoin”. Entre as vantagens o autor cita que nenhuma autoridade central pode manipular as moedas virtuais por serem descentralizadas; há também a questão da isenção de taxas de imposto sobre a moeda e resistência ao roubo.

Além dos benefícios, as criptomoedas também possuem seus desafios. O autor Conti (2018, p. 10) afirma em seu artigo “A Survey on Security and Privacy Issues of Bitcoin” que uma das desvantagens das moedas é o alto consumo de energia. Outras questões abordadas são a possibilidade de perder a chave de acesso da carteira virtual; e a facilitação da atividade criminosa.

Entre as questões como a segurança, Ulrich em seu livro, “Bitcoin - A Moeda na Era Digital”, cita que é muito difícil permanecer anônimo na rede das criptomoedas. Para Souza, em seu artigo “Território das criptomoedas: limites à regulamentação estatal quanto à circulação de moedas no ciberespaço e possíveis alternativas” de 2017, as criptomoedas não seguem regras de uma política monetária específica e, por isso, não é necessário a autorização de qualquer terceiro, como os bancos para realizar transações.

Sobre o uso das criptomoedas para fins escusos, iniciamos abordando o tema dos gastos duplos, ou seja, quando o usuário faz transações com as mesmas moedas. Conti (2018, p. 13) explica como funcionam os gastos duplos e afirma que um dos pontos a se destacar é a questão do minerador, pois, se ele pode minerar blocos com uma taxa mais rápida do que o resto da rede das moedas virtuais, há maior possibilidade de acontecer um ataque de gasto duplo. Porém, o autor cita que há uma solução, que seria a utilização do algoritmo baseado em Prova de Trabalho (PoW), que limita a capacidade computacional do “adversário”

Além dos gastos duplos, Conti (2018, p. 15) explica que há a ameaça de segurança dos clientes, pois com o aumento de utilização do Bitcoin, por exemplo, incentivou muitas

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pessoas a fazerem parte do sistema. Portanto, ainda segundo o autor, é necessário ter cuidado com a chave de segurança para entrar na carteira virtual, pois caso for perdido, todas as criptomoedas são perdidas definitivamente e com o maior número de usuários, a chance de algum problema acontecer é maior, como o caso de hackers. Entre os ataques à redes, Conti (2018) cita os principais, que são: ​DDoS (Distributed Denial-of-Service - Negação de Serviço Distribuída), em que os hackers possuem alvo nas trocas das moedas; o maior ataque ao sistema da história, segundo Conti, foi com o alvo MtGox que, com muito esforço dos hackers, perderam muitos Bitcoins; houve também o Silk Road, o ataque a segurança do sistema em que foi considerado o maior mercado anônimo online do mundo mas, que ficou conhecido pela quantidade de drogas.

Entre os desafios, há também os problemas macroeconômicos, onde as moedas virtuais enfrentam desafio da sua utilização a longo prazo. Segundo Ali (2014, p. 281) em seu artigo “The economics of digital currencies”, as moedas digitais dificilmente serão utilizadas como a moeda mais forte, pois o autor acredita que o que falta no sistema das criptomoedas é a questão da oferta pré-determinada, ou seja, as moedas possuem muita variação cambial, o que acaba afetando na hora da compra. Porém, o autor afirma que é aceitável alguma instituição financeira que possa emitir notas ao público e que sejam denominadas em moedas digitais, fazendo com que o sistema bancário seja baseado em criptomoedas.

Referente às perspectivas de mercado das moedas digitais, Ali (2014, p. 279) afirma que as mesmas cumprem seu papel de dinheiro, mas até um certo ponto. ​Uma característica significativa das moedas digitais, conforme a afirmação de Ali (2014, p. 281), como também o principal fator de interesse dos varejistas em aceitá-las como pagamento e transações, é a promessa de baixas taxas de transação. Isso acaba sendo um benefício em relação às outras moedas existentes no mercado e faz com que os usuários prefiram fazer transações em moedas virtuais.

Ainda sobre as perspectivas e mercado, utilizamos as pesquisas de Bastiani (2018), onde a mesma afirma que o preço do Bitcoin pode chegar a 98 mil dólares nos próximos 5 anos, especulações bem otimistas para os próximos anos. Frazzon, um economista e analista

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de investimentos afirma que atualmente, o Bitcoin é uma das melhores moedas para investir no mercado.

Após a pesquisa sobre as criptomoedas, iniciamos o estudo sobre as mesmas no Sistema Monetário Internacional e a sua relação com os Estados. Conforme Andrade, através do seu artigo “Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro”, as criptomoedas passaram a ter uma grande presença no mundo virtual, justamente por ser uma tecnologia nova de trocas e transações. Na abordagem sobre os monopólios de bancos, Andrade cita que isso fez com que os governos fossem capazes de utilizar a inflação como um mecanismo para as suas políticas financeiras.

Abordamos a questão das instituições, e conforme ​Camenisch (2018, p. 208-209) através do seu artigo “Compact E-Cash” afirma que o sistema de pagamento que conhecemos possui três órgãos, que é o banco, o cliente e a loja. Souza (2017, p. 65) explica que os bancos são instituições que seguem legislações e que podem sofrer intervenção de autoridades (Estado), diferentemente do sistema das criptomoedas. Além disso, o autor cita a característica do sistema controlador dos Bancos são incompatíveis com as moedas virtuais. Para Andrade, através da revista “​Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro”, as instituições têm a finalidade de estruturar e reduzir a incerteza da sociedade. Sobre a questão dos monopólios, Hayek (2011, p. 122), através do seu artigo “Desestatização do Dinheiro: Uma análise da teoria e prática das moedas simultâneas”, acredita que sem o monopólio do banco central e do Estado para a emissão das moedas, não haveria justificativa para que os bancos dependessem de dinheiro vivo a ser fornecido por outra entidade, dessa forma as autoridades podem obter um maior controle sobre as moedas.

No subcapítulo “A utilização das criptomoedas nos Estados e sua regulamentação”, começamos citando Andrade, através do seu artigo “Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro”, onde a mesma afirma que há algumas empresas que já aceitam as criptomoedas, mas em muitos Estados ainda não há regulamentação.

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Para analisar e apresentar a utilização das criptomoedas nos Estados, elaboramos uma tabela baseada na tabela do autor Gusson, através do site Criptomoedas Fácil, onde o autor apresenta as informações que foram apresentadas no G20 em 2018 pelos Estados que participaram do encontro. Conforme afirmado por Andrade (2017, p. 53), o reconhecimento das criptomoedas tem sido um processo crescente entre os países. A autora cita como as moedas virtuais são “tratadas” em alguns lugares, como os Estados Unidos, por exemplo, e a União Europeia, que como é citado por Ec Europa (que é a Comissão Europeia) através do site oficial, utilizam-se modalidades para enquadrar as criptomoedas, como o Electronic Money Directive (Diretriz sobre Dinheiro Eletrônico) e Payment Services Directive (Diretiva de serviços de pagamento).

O Japão tem as moedas virtuais regularizadas e, conforme Uranaka (2018) através do site sobre economia mundial, a FSA ( ​Agência de Serviços Financeiros do Japão) publicou seu status como autorreguladora do setor de criptomoedas do Estado e pretendem construir uma “indústria” confiável para os clientes, onde possam realizar transações com maior segurança.

Já no Brasil, conforme Andrade (2017, p. 54), ​as moedas digitais são tratadas como ativos financeiros e, além disso, a Receita Federal impõe um imposto de 15% sobre os ganhos de capital no momento da venda. A autora cita ao todo como as criptomoedas são tratadas no Brasil, citando a Receita Federal, um órgão do ​Ministério da Fazenda que administra os tributos federais, como também faz o controle aduaneiro e o combate à evasão fiscal.

O Cenário Internacional e a regulamentação das moedas sendo o último tema abordado, citamos inicialmente como as moedas virtuais são de extremo interesse dos Estados. Souza (2017, p. 73) acredita na possibilidade das criptomoedas serem grande parte das transações realizadas no mundo, possuindo um ótimo engajamento. Além disso, o autor cita que no ciberespaço os Estados não possuem (e não conseguem) o controle sobre as moedas, acreditando-se que é importante buscar uma legitimação no Sistema Monetário Internacional. Souza explica como é importante a integração entre os povos, a globalização política na esfera normativa, envolvendo os direitos à informação que a sociedade possui, tecnologia, pluralismo, como também a maneira que as criptomoedas serão consideradas no Brasil caso houver algum tratado internacional de regulamentação.

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Sobre a regulamentação, Souza explica como o comércio marítimo internacional funcionava até a “Paz de Vestfália”, onde os comerciantes não podiam recorrer aos seus direitos e, então, acabou virando um “costume” entre os comerciantes, nascendo assim a Lex Mercatoria, que segundo Souza é um procedimento que torna possível solucionar impasses, como a não regulamentação das criptomoedas, por exemplo, que aliás, é de concordância do autor o fato da ​s transações com criptomoedas serem aceitas utilizando o conceito da Lex Mercatoria.

Para falarmos sobre os Estados precisamos abordar a questão da soberania e para isso citamos Teixeira e Silva (2017, p. 122) através da “Revista Brasileira de Políticas Públicas: Bitcoin e a (im)possibilidade de sua proibição: uma violação à soberania do Estado?”, onde os autores afirmam que os Estados não perdem sua soberania com as criptomoedas, mas também não poderão ser totalmente autoritários. Para os mesmos, deve-se agir de um modo coletivo cooperando com os demais Estados. Os autores defendem que as moedas virtuais conectam as pessoas de nacionalidades diferentes e que a tecnologia possui um papel de destaque no sistema, como é o caso da inovação das moedas no sistema monetário, porém, para Teixeira e Silva é importante uma regulação mínima das criptomoedas, como identificação de rastreio e possibilidade de operacionar e intervir em casos necessários e com uma explicação justa.

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3 METODOLOGIA

Este é um estudo importante para a área de Relações Internacionais, pois aborda a Política Internacional, economia e questões de Estado, três elementos que fazem entender todo o sistema que compõem o estudo dessa área. Como citado por Saraiva (2012, p. 69), a área de Relações Internacionais vem crescendo cada vez mais, “bem acima da média da Ciência Política e das demais áreas das Ciências Humanas”.

Para entendermos melhor sobre a pesquisa e seus métodos, iniciamos citando Lakatos e Marconi (2003, p. 155), entendendo que a pesquisa “é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.” Entre as suas classificações, esta presente pesquisa pode ser considerada como básica, pois ao longo do seu desenvolvimento, iremos obter novos conhecimentos, sem a necessidade de pôr em prática o estudo realizado.

A forma de abordarmos o problema da pesquisa, a qual seria entender como as moedas virtuais interferem e a sua relação com os Estados, podemos classificar como qualitativa, pois segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 160), “é um estudo descritivo, de caráter informativo, explicativo ou preditivo”. Portanto, esta classificação se dá pelo fato da pesquisa possuir uma abordagem sobre a relação entre o Bitcoin e os Estados, entendendo o comportamento da mesma dentro do Sistema Monetário Internacional, sem a necessidade de uso matemático e sim, com base em teorias já existentes e conhecimentos obtidos através de fontes secundárias.

Quanto aos objetivos, a classificação se dá como explicativa, pois conforme Lakatos e Marconi (2003, p. 188), esta classificação é de uma “pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema”, com objetivos de desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o tema, para assim realizar uma pesquisa mais precisa ou esclarecendo conceitos. O objetivo da pesquisa não se trata apenas de entender como o Bitcoin chegou ao Sistema Monetário Internacional, mas também entender quais os fatores que determinaram o poder que a moeda possui relacionando à soberania dos Estados.

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O procedimento da pesquisa é referencial bibliográfico, sendo que a pesquisa é realizada a partir de ideias e materiais já produzidos por outros autores. A coleta e a análise de dados é feita através de uma análise documental e bibliográfica, que segundo Lakatos e Marconi (2003, p.158), “é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema.” Estes estudos utilizados se tornam uma fonte indispensável de informações, podendo até nos orientar na formação de opiniões. Segundo o autor, a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia pública em relação ao tema que está sendo estudado, e isso inclui publicações de revistas, livros, pesquisas, entre outros.

Referente a pesquisa de busca, “a Internet constitui hoje um dos mais importantes veículos de informações. Não se pode deixar de lado as possibilidades desse meio. Ocorre, porém, que existe na Internet, mais do que em qualquer outro meio, excesso de informações.” GIL (2002, p. 74). A pesquisa é realizada através de fontes secundárias, sendo analisada as teorias dos autores, compreensão do tema e colocação de ideias, utilizando basicamente fontes em livros e artigos. Utilizamos a base de dados do “Google Acadêmico” e “Scielo”, e por ser um tema atual, houve dificuldades para encontrar livros sobre, além disso, percebemos dificuldade para encontrar artigos sobre criptomoedas na área das Relações Internacionais, como abordagens sobre os Estados e as moedas virtuais.

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4 A HISTÓRIA DO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL

Para entender melhor o sistema monetário antes de fazer todas as análises sobre o mercado atual e a autonomia das criptomoedas, iniciamos pela obra “A Economia Política das Relações Internacionais” de Robert Gilpin, onde o autor cita que no início de tudo, ou seja, no período pré-moderno, os metais preciosos e o dinheiro (tendo o ouro e prata como um meio principal de troca) serviam como uma base para o Sistema Monetário Internacional.

No início e durante milênios, segundo Gilpin (2002, p. 144), o Sistema Monetário Internacional foi fundamentalmente apolítico, ou seja, não era totalmente ligado à política, porém, isso começou a mudar apenas nos séculos XVI e XVII com a descoberta do ouro e prata nas Américas. Segundo Suprinyak (2009, p. 579) o ouro e a prata eram efetivamente ligados e entravam como utilização nas transações comerciais sob a forma de moedas, e além disso, cada região adotava uma taxa de conversão entre ouro e prata, que variava de acordo com a oferta e demanda relativas de cada metal.

Acreditando ser o método de troca essencial por justamente ser a ideia de princípio da riqueza (ou seja, acreditando-se em trocas que poderiam gerar a riqueza), surgiu então o “dinheiro político”, cujo a Revolução Financeira acabou desenvolvendo melhor a relação entre o Estado com a economia, promovendo assim um impacto no livre-comércio e melhor desenvolvimento do Estado. Além disso, a Revolução Financeira acabou dando também o poder ao Estado de criar seu próprio dinheiro e, como consequência, veio a inflação e instabilidade monetária, o que acabou tornando o grande desafio para os Estados desde então. Esta transformação, ainda segundo Gilpin, “permitiu o desenvolvimento de um sério choque entre a autonomia das economias nacionais e a ordem monetária internacional” (GILPIN, 2002, p.144), e isso acabou virando um conflito entre a autonomia da economia interna e a estabilidade econômica no sistema internacional, pois as duas coisas são interligadas entre si.

De acordo com Gilpin (2002, pág 144) o Sistema Monetário Internacional tem um efeito importante de distribuição sobre o poder dos Estados, bem como no bem-estar da sociedade, em questões como facilidade de trocas de mercadorias etc, pois a soberania sempre está envolvida com o dinheiro e, como sempre vimos na história, o dinheiro está ligado ao

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poder, o que consequentemente leva a soberania, sendo assim a base da sobrevivência de um Estado.

A importância do bom funcionamento e estabilidade do sistema monetário, segundo Gilpin (2002, p. 144) é dada por gerar uma maior facilidade do crescimento comercial, investimentos externos, acordos e, até mesmo por ser um pilar para a paz, que segundo teóricos liberais, o comércio está ligado à paz por motivos de acordos comerciais e melhor relação entre os Estados. Por isso que obter uma estabilidade no sistema é um grande desafio para todos, pois está ligado a diversos fatores como econômico, social e político. Mas para uma forma de manter esta estabilidade, o autor afirma que é necessário resolver três problemas: a liquidez, o ajuste e a confiança. Gilpin cita que o sistema precisa prevenir e prever as mudanças que desestabilizam o mercado, pois isso acaba sendo muito perigoso para a economia internacional. Aleḿ disso, o Estado prefere que o Sistema Monetário Internacional seja eficiente justamente para não prejudicar os seus interesses e investimentos futuros. Conforme Gilpin (2002, p. 144),

“Todo regime monetário internacional tem como base uma ordem política, já que o sistema interfere e afeta nos seus próprios interesses pelo fato do dinheiro sempre ser um fator importante na política mundial, justamente por necessidade de financiar exércitos, negociar com aliados, entre outros.”

Desse modo, a ordem política se torna algo necessário no sistema monetário, para assim atender os interesses dos Estados e fazer com que os mesmos se sintam mais seguros, pois com uma boa organização monetária os Estados se beneficiam para montar seus exércitos e armamentos, para assim garantir a sua segurança em relação a outros Estados, que também está ligado a soberania ou até mesmo pela briga da mesma.

4.1 PADRÃO OURO

No fim do século XIX surgiu o padrão ouro, que “representou a resolução clássica do dilema da autonomia econômica interna contra a estabilidade econômica internacional” (GILPIN, 2002, p. 144) e, referente ao desequilíbrio da balança dos pagamentos, eram

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ajustados por mecanismos de fluxo de preços. As características principais desse sistema ou mecanismo que garantia a regulação de forma automática é o Banco Central, que comprava e vendia o metal precioso em um preço fixo, ou seja, sem a questão da inflação e alteração dos preços, justamente para ajustar o balanço de pagamentos; e também os próprios indivíduos que podiam exportar e importar o ouro livremente.

Segundo Gilpin (2002, p. 145), o padrão ouro clássico não funcionava de uma forma automática, pois “a instituição dos sistemas bancários e o seu papel na criação do dinheiro debilitavam o mecanismo do fluxo de preços e dinheiro”. Os bancos podiam agir de forma livre na questão de resolver e cuidar dos efeitos dos preços da economia e dos preços internos, dessa forma, o sistema bancário comandava sobre o padrão ouro. Para que o Sistema Monetário Internacional funcionasse corretamente, algum país do Sistema Internacional teria que assumir a liderança e, por isso a Grã Bretanha, nação hegemônica no século XIX, tomou a frente e assumiu a responsabilidade. Sendo assim, a Grã Bretanha passou a ser a hegemonia do Sistema Monetário Internacional, fazendo com que tivesse o controle na oferta mundial do dinheiro. Desta forma, o Banco da Inglaterra podia manipular o fluxo internacional de ouro aumentando ou diminuindo a sua taxa de desconto, fazendo com que o sistema monetário fosse hierarquizado, pois era dominado pela Grã Bretanha e muito pouco administrado pelos centros financeiros emergentes da Europa Ocidental.

Uma questão importante do Sistema Monetário Internacional e do comércio, foi a libra esterlina, dado que a integridade e a dominação do mercado financeiro de Londres com os mercados de capital e de produtos básicos localizado nesta cidade, impunha nesta época, segundo Gilpin (2002, p. 147), um grau elevado de centralização em consequência à centralização e o controle do sistema monetário que a Grã Bretanha tinha uma grande influência comercial. Com essa questão, observamos o quanto a moeda pode influenciar e fazer diferença no cenário econômico internacional.

Embora o ouro fosse um padrão como uma base de valor, em cada país havia uma estrutura de crédito que governava a economia interna, onde o ajuste econômico poderia ser facilmente manipulado e os preços acabavam sendo alterados. Era muito mais fácil e tentador fazer com que a sociedade efetuasse empréstimos e usasse o crédito para manter o nível dos

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preços e reduzir o desemprego, por exemplo (Gilpin, 2002, p.147). Porém, isso acabou sendo limitado, pois no século XIX as taxas de câmbio vinculadas ao ouro passaram a ser fixas, sendo que a estabilidade destas taxas era um fator muito importante para o crescimento comercial doméstico e internacional, relacionando a importação e exportação, investimento externo, etc.

No fim do século XIX, com o surgimento das novas e grandes indústrias, houve o declínio da hegemonia britânica, em que o meio social também estava em desgaste e infeliz com o sistema. À vista disso, mesmo que a Grã Bretanha tenha perdido a sua hegemonia industrial, a mesma ainda ficou com a predominância financeira, mas com a fraqueza política dos grupos e o prejuízo das classes sociais fez com que houvesse alguma mudança no sistema interno do Estado. A Primeira Guerra Mundial foi o fim dessa era econômica e, segundo Gilpin (2002, p. 150), após a guerra, o mundo partiu para o caos monetário e econômico durante as três décadas seguintes.

O Sistema Monetário Internacional após a Primeira Guerra Mundial, tem como grande consequência a nacionalização do Sistema Monetário Internacional. As pessoas em guerra agiram para proteger as suas reservas de ouro, abandonando assim o sistema de taxas de câmbio fixas para facilitar a movimentação do dinheiro enquanto estavam na guerra. Em consequência disso, o padrão ouro entrou em colapso e, conforme citado por Gilpin (2002, p. 150), foi substituído por um sistema improvisado de taxas flutuantes. Desta forma, a determinação e o controle dos valores das moedas passou a ser responsabilidade das autoridades dos Estados e não mais somente da Grã Bretanha. Em consequência, essa autonomia econômica nacional prevaleceu sobre a ordem monetária internacional.

Segundo Krugman Obstfeld na obra “Economia Internacional Teoria e Política” (1999, p. 548), na Primeira Guerra Mundial a força de trabalho e a capacidade produtiva reduziram muito por consequência da mesma (caos total) e suas perdas, e por isso, como a oferta estava menor que a demanda, os preços aumentaram em todos os lugares no final da guerra, em 1918. Como consequência dos preços elevados, vários países tiveram aumento de inflação conforme o governo tentava melhorar a situação em um processo de reconstrução por meio de gastos públicos. A forma de reconstrução que os governos adotaram foi financiando

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suas compras imprimindo as moedas que estavam necessitando para pagar suas dívidas, resultando assim “um grande aumento na oferta de moeda e nos níveis de preços” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 548).

O momento mais inflacionário e conhecido no período da Guerra foi a questão da Alemanha, em que o índice de preço do país aumentou de 262 bilhões em janeiro de 1919 para 126.160.000.000.000 em dezembro de 1923, uma questão de 481,5 bilhões. Portanto, o Tratado de Versalhes que pôs fim a Primeira Guerra Mundial, deixou a Alemanha com dívidas absurdas por causa dos estragos causados pela Guerra, como forma de indenização e, então, segundo Krugman e Obstfeld (1999, pág 549), ao invés do país aumentar os impostos para conseguir fazer os pagamentos devidos, o governo lançou mão das emissões de moeda. porém, não sendo o bastante, a inflação acelerou mais ainda quando a França denunciou a Alemanha de desobediência e enviou suas tropas até a região industrial do país alemão, no vale do Ruhr. Com os protestos dos trabalhadores alemães e o governo apoiando, o mesmo emitiu mais moedas para pagar esses trabalhadores prejudicados. Foi só em 1923 que a hiperinflação terminou, quando a Alemanha fez uma reforma monetária e com isso obteve uma diminuição das suas dívidas da indenização, seguindo assim um orçamento equilibrado.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919 os Estados Unidos voltaram com o Padrão Ouro e, servindo como influência, nos anos 20 outros países estavam desejando a estabilidade financeira da era do Padrão Ouro, tanto que em 1922, conforme Krugman e Obstfeld (1999, pág 550), em uma Conferência situada em Gênova, países como Inglaterra, França, Itália e Japão, firmaram um acordo que incluía o retorno geral do padrão ouro e a cooperação entre os bancos centrais. Porém, como a demanda do ouro poderia ser inadequada e insuficiente para atender as demandas vindas dos bancos e da sociedade, como também para as reservas internacionais, a Conferência em Gênova sancionou o padrão de troca parcial do ouro, onde os países menores poderiam sustentar uma reserva.

Em 1925, ainda segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 550), “a Inglaterra voltou então ao Padrão Ouro, atrelando a libra ao ouro pelo preço de antes da guerra”, e apesar do nível de preço da Inglaterra ter caído bastante desde esse período, em 1925 ficou mais alto do que no período do padrão ouro que a Inglaterra vivia antes da Primeira Guerra Mundial. Para

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que o preço em libra do ouro voltasse como antes, o Bank of England foi forçado a seguir com algumas políticas monetárias que contribuíram para o desemprego no país, o que acabou virando mais uma preocupação e piorando a situação.

Com a falta de progresso da Inglaterra em 1920, acelerou o declínio de Londres como centro financeiro com maior influência e importância no mundo, pois conforme citado por Krugman e Obstfeld (1999, p. 550), o enfraquecimento da economia interna do país acabou sendo um problema para a estabilidade do padrão ouro que tinha restabelecido no sistema, fazendo com que prejudicasse suas obrigações internacionais. Com o início da Grande Depressão em 1929, por decorrência de falência de bancos em todo o mundo, a Inglaterra foi obrigada a entregar seu ouro em 1931 “quando os detentores de libra perderam a confiança no compromisso inglês de manter o valor de sua moeda e passaram a converter suas libras em ouro” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 550).

Durante a Depressão, vários países continuaram com o padrão ouro passando a manter a flutuação das moedas no seu mercado de câmbio. Os Estados Unidos deixaram o Padrão Ouro, porém no ano de 1934 voltaram após elevarem o preço do ouro em dólar. Entretanto, além dos Estados Unidos, vários outros países também voltaram com o padrão ouro após a desvalorização. As incertezas políticas dos governos levaram aos países que possuíam taxas de câmbio fixas (cotação da moeda local em relação a moeda forte), obterem uma reserva. Segundo Gilpin, Krugman e Obstfeld, para limitar os efeitos da evolução do mercado de câmbio, começaram a proibir as transações das contas de capital privado e alguns governos usavam também métodos administrativos ou taxas de câmbio múltiplas para dispor reservas de câmbio.

Esta turbulência no sistema dos mercados continuou até o início da Segunda Guerra Mundial (1939), “a despeito dos limitados movimentos na direção da cooperação econômica internacional no final dos anos 30” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 551). Muitos países resolveram cortar relações comerciais externas com outros países, com medo de qualquer desequilíbrio econômico externo.

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4.1.1 Bretton Woods

Conforme visto no capítulo anterior, onde as guerras e a crise atingiram grande parte dos Estados, muitos deles ainda estavam desequilibrados e desestabilizados, desta forma, a vantagem para todos estes Estados seria o livre comércio, em que a cooperação internacional ajudaria a todos se livrarem do desequilíbrio e preservarem a “estabilidade financeira sem sacrificar as metas da política interna” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 551). Então, esse desejo da maior parte dos Estados e reconhecimento deste problema, fez com que houvesse o acordo de Bretton Woods, um esquema do Sistema Monetário Internacional após a Segunda Guerra Mundial.

A partir deste momento, é criado o Bretton Woods, que foram conferências em julho de 1944, onde representantes de 44 países se encontraram em Bretton Woods, planejando acordos e benefícios para o Sistema Monetário Internacional. Entre estes acordos, o houve o “Acordo do Fundo Monetário Internacional” (FMI), pois segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 554), mesmo com a guerra ainda acontecendo, os representantes dos Estados se preocupavam com as necessidades e estabilidade econômica mundial, planejando mais empregos, estabilidade de preços, entre outros. Com o sistema elaborado pelo acordo de Bretton Woods, estabeleceu então taxas de câmbio fixas em relação ao dólar norte-americano, pois o sistema era um “padrão câmbio-ouro, com o dólar como sua principal moeda de reserva” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 554).

Os Artigos do Acordo do FMI foram diretamente influenciados pelas guerras da instabilidade financeira e dos níveis de preço, como também o desemprego e desintegração econômica internacional, com o objetivo de tentar evitar todos esses fatos novamente. De acordo com Krugman e Obstfeld (1999, p. 554), o principal requisito para a administração monetária era as taxas de câmbio que tinham que ser fixadas ao dólar, onde o mesmo estaria relacionado ao ouro. Contudo, se um banco central tivesse uma grande expansão monetária, “perderia reservas internacionais e se tornaria incapaz de manter a taxa de câmbio de sua moeda fixa em dólar” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 554). As taxas de câmbio fixas

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eram consideradas não somente como uma imposição, mas também como uma causa da instabilidade especulativa, consequentemente prejudicando o comércio internacional.

A experiência desse período das guerras também mostrou que os governos não pretendiam manter o livre comércio e as taxas de câmbio fixas, pois assim, levaria ao desemprego por um longo tempo, visto que com a Grande Depressão,os governos eram vistos como o responsável por manter os empregos . O acordo do FMI, conforme citado por Krugman e Obstfeld (1999, p. 554), tentava incorporar flexibilidade suficiente no Sistema Monetário Internacional, para permitir que os países tivessem assim, equilíbrio externo para não ter que sacrificar os seus objetivos e estratégias internas ou até mesmo as taxas de câmbio fixas.

Para entender melhor o FMI, citamos as suas duas principais características que ajudaram nessa flexibilidade para ajudar os países, que são a facilidade de crédito e paridades ajustáveis. A primeira, segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 554):

“O FMI dispunha-se a emprestar moedas estrangeiras para os países membros,

suprindo-lhes durante períodos nos quais suas contas correntes estivessem em déficit e um aperto das políticas monetária e fiscal trouxesse um efeito adverso sobre o

nível de emprego doméstico. Uma contribuição de ouro e moedas dos membros

supriu o FMI com recursos a serem usados nessas operações de empréstimos.”

Conforme citado, podemos dizer que o FMI é um apoio aos Estados que estão necessitando de ajuda, no sentido de emprestar dinheiro conforme sua necessidade. Isso faz com que o país necessitado possa se reconstruir monetariamente e se desenvolver, gerando empregos e fazendo com que a economia do país volte a ter superávit.

Sobre a segunda característica, ou seja, as paridades ajustáveis, segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 555),

“Apesar de a taxa de câmbio de cada país estar fixa, ela poderia ser mudada - desvalorizada ou valorizada em relação ao dólar - se o FMI concordasse que o balanço de pagamentos do país estava em uma situação de “desequilíbrio fundamental”. O termo ​desequilíbrio fundamental não foi definido nos Artigos do Acordo, mas a cláusula significava uma cobertura aos países que sofriam mudanças internacionais adversas permanentes na demanda de seus produtos.”

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Como citado, o FMI poderá alterar a taxa de câmbio apesar de ser fixa em cada Estado. Isso faz com que ajude os países que estão desequilibrados economicamente por mudanças no sistema internacional, e que podem prejudicar a demanda de seus produtos principais por exemplo, que é o que leva mais lucro ao país.

Como a aceitação da moeda nacional elimina os custos da troca de mercadorias dentro de uma economia, então, o uso das moedas nacionais no comércio internacional é bem aceita e torna o mercado internacional mais eficiente. Sendo assim, para promover o comércio multilateral mais eficiente e de uma forma homogênea, os Artigos do Acordo do FMI exigiam que os membros tornassem suas moedas nacionais conversível, pois uma moeda conversível pode ser trocada facilmente e livremente por moedas estrangeiras. Isso certamente fez com que o comércio internacional se tornasse mais fácil, nas negociações e acordos entre países, e também, mais facilidade na movimentação daS moedaS, pois conforme citado por Krugman e Obstfeld (1999, p. 555), a não conversibilidade da moeda poderia tornar o comércio internacional extremamente difícil.

Os dólares norte-americanos tornou-se conversível no ano de 1945 e junto com a sua posição privilegiada no sistema de Bretton Woods, tornou-se a principal moeda do sistema monetário após a guerra. Como os dólares poderiam ser conversíveis livremente, o comércio internacional tendia a ser em dólar, até mesmo os exportadores e importadores mantinham seus estoques de dólares para a transação de mercadorias, sendo assim, o dólar se tornou a moeda universal para o meio de trocas internacionais. O dólar se fortaleceu ainda mais na força da economia norte-americana em relação ao Japão e Europa, que estavam devastadas e em crise após a guerra, pois segundo Obstfeld (1999, p. 556), os dólares eram atraentes porque podiam ser utilizadas para comprar bens e serviços que somente os Estados Unidos podiam ofertar.

A medida que a economia internacional foi se estabilizando após a Segunda Guerra Mundial, o equilíbrio externo acabou sofrendo mudanças, e o conflito entre os objetivos internos e externos ameaçavam o sistema de taxa de câmbio fixa. Isso se deu pois, de acordo Obstfeld (1999, p. 556), o problema de equilíbrio externo dos Estados Unidos na época, que

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era o emissor da principal moeda utilizada e da reserva, foi o principal motivo de propostas da reforma do sistema.

Na primeira década do sistema de Bretton Woods, muitos países passaram a ter déficits nas contas correntes conforme foram reconstruindo suas economias após a guerra. O maior problema destes países, era adquirir dólares suficientes para poderem financiar as compras dos Estados Unidos, portanto, este período foi chamado de “escassez de dólares”. ComoObstfeld (1999, p. 556) afirma, foi nesse período em que o Plano Marshall foi utilizado pelos Estados Unidos para ajudar a limitar essa escassez de dólares.

O Plano Marshall foi um programa iniciado em 1948 para doações de dólares dos Estados Unidos para os países da Europa que necessitavam. Porém, o déficit em conta corrente de cada país era limitado por possuir dificuldade de receber empréstimos de qualquer moeda estrangeira, sendo assim, sem movimentos reais do capital privado, conforme citado por Obstfeld (1999, p. 557), “os desequilíbrios da conta corrente tinham de ser financiados quase totalmente por meio de transações de reserva oficiais e empréstimos do governo”. Com isso, sem o acesso do crédito estrangeiro, os países podiam ter déficits nas contas correntes somente se os seus bancos centrais quisessem reduzir suas reservas de moedas estrangeiras conversíveis, porém, os bancos não pretendiam deixar que as reservas caíssem, pois assim a fixação da taxa de câmbio seria ameaçada.

A globalização trouxe uma enorme barganha para o sistema internacional, sendo o Estados Unidos a superpotência e o dólar a moeda mais forte, e claro, a China que está caminhando para ser uma superpotência. Após as crises do sistema monetário, como a crise de 29, a crise de 2008 e a atual crise europeia, é desejo do mundo um novo Sistema Monetário Internacional que atenda os anseios da população, onde talvez o dólar não seja a moeda mais forte, e nem os Estados Unidos o Estado mais potente. Atualmente, podemos perceber que não há nenhuma moeda que ultrapasse o poder do dólar, e só será revertido caso haja uma grande crise nos Estados Unidos, justamente pelas dívidas e a maior parte da economia mundial estar em dólar. Porém, podemos pensar nas criptomoedas, que já possuem um grande volume de transações pelo mundo, e que seria uma grande oportunidade para mudanças no Sistema Monetário Internacional, por ser algo novo e tecnológico conduzindo com a

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globalização. O fato de ser uma moeda descentralizada, autônoma e sem regulamentação na maioria dos Estados, torna-se então um desafio para o Sistema Monetário Internacional, já que o ideal seria um controle universal.

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5 A HISTÓRIA DAS CRIPTOMOEDAS

A origem das criptomoedas surge através da ideia de Wei Dai, em que, segundo Wirdum (2018), é ​um criptógrafo talentoso que criou o Crypto ++: uma biblioteca para algoritmos criptográficos (dados que não podem ser invertidos ou alterados sem autorização). Nos anos 1990, quando era um jovem estudante de bacharel em ciência da computação na Universidade de Washington, sua curiosidade levou-o aos artigos de Timothy May, um dos "fundadores" do movimento Cypherpunk (grupo informal de pessoas interessadas em criptografia). Dai (2018) afirma que o mesmo é fascinado pela criptoanálise de Tim May, citando que “em uma anarquia cripto-governo que não é temporariamente destruído, mas permanentemente proibido e permanentemente desnecessário.” Dai afirma que é uma comunidade onde a ameaça da violência é impotente, pois seus participantes não podem ser ligados a seus nomes verdadeiros ou físicos. Uma comunidade é definida pela cooperação de seus participantes, e cooperação eficiente requer um meio de troca (dinheiro) e uma forma de executar contratos. Dai escreveu em seu texto a existência de uma rede não rastreável, onde os remetentes e destinatários são identificados apenas por pseudônimos (ou seja, chaves públicas) e todas as mensagens são assinadas pelo remetente e criptografado para o seu receptor.

Conforme explicado por Rocha (2018), Wei Dai entrou em várias discussões de tópicos como sistemas de reputação digital, teoria dos jogos, privacidade e anonimato em sistemas de dinheiro digital. Dai fez uma série de propostas para promover o movimento Cypherpunk, porém, os que possuem mais destaques são:

a) A criação de dinheiro, onde qualquer um pode criar dinheiro transmitindo via computador. Dai (2018) explica que o número de unidades monetárias criado é igual ao custo do esforço de computação, ou seja, nada mais é do que a mineração, que com o trabalho computacional, as criptomoedas vão surgindo, e claro, com um custo também de criação;

b) A transferência de dinheiro, onde Dai (2018) cita um exemplo: “se Alice (proprietária do pseudônimo K_A) desejar transferir X unidades de dinheiro para Bob (dono do pseudônimo K_B), ela transmite a mensagem "Eu dou X unidades de dinheiro para K_B"

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