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Aprimoramento e desenvolvimento nos estudos bioarqueológicos humanos a partir de análises sobre paleodieta, paleopatologias óssea e dentária em remanescentes arqueológicos do Nordeste do Brasil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO

CIENTÍFICA – PIBIC

Aprimoramento e desenvolvimento nos estudos

bioarqueológicos humanos a partir de análises sobre

paleodieta, paleopatologias óssea e dentária em

remanescentes arqueológicos do Nordeste do Brasil

Área do conhecimento: Arqueologia

Subárea do conhecimento: Antropologia biológica

Especialidade do conhecimento: Análises Bioarqueológicas, Paleodemografia,

Paleopatologias e Arqueometria

Relatório Final

Período da bolsa: de (08/2018) a (07/2019)

Este projeto é desenvolvido com bolsa de iniciação científica

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO...1 1.1. BREVEHISTÓRICODA BIOARQUEOLOGIA...1 1.2. OSMARCADORESDENTÁRIOSNA BIOARQUEOLOGIA...3 1.3. FRATURASÓSSEAS...7 1.4. CRONOLOGIADAS FRATURAS...10

2.SÍTIO LARGO DA MATRIZ – MARECHAL DEODORO...14

3.OBJETIVOS...22 4.METODOLOGIA...22 5.RESULTADOS E DISCUSSÕES...27 5.1. INFORMAÇÕESETÁRIASE SEXUAIS...28 5.2. PATOLOGIAS DENTÁRIAS...29 5.2.1.Desgastes dentários...33

5.2.2.Modificações intencionais dos dentes...36

5.3. PATOLOGIAS ÓSSEAS...38 5.4. FRATURASÓSSEAS...43 5.5. PROCESSOS TAFONÔMICOS...45 5.6. FRAGMENTAÇÃODOACERVO ÓSSEO...48 5.7. OUTRAS INFORMAÇÕES...49 6.CONCLUSÕES...53 7.PERSPECTIVAS...55 8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...55 9.OUTRAS ATIVIDADES...58

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1. Introdução

O tecido ósseo, após o tecido dentário, é considerado o mais duro do organismo, sendo esta característica atribuída a grande quantidade de sais de cálcio presentes no corpo. Essa estrutura dura do organismo está recoberta pelo periósteo, cujo é um tecido mole rico em vasos e nervos, possuindo uma função plástica e nutrícia sobre os ossos (CAMPILLO & Subirà, 2004, p. 16). Em relação à estrutura óssea, pode-se dividi-la em ossos trabeculares e ossos corticais (MAYS 1988 apud RODRIGUES-CARVALHO, 2017, p. 224). Este último é compacto e denso, sendo ele que reveste superficialmente os ossos. Está presente na diáfise dos ossos longos, e possui espessuras distintas. Já o osso trabecular, ou também denominado esponjoso, está presente nas epífises dos ossos longos e compõem o interior de muitos ossos irregulares e curtos. A estrutura óssea trabecular é organizada como uma rede de trabéculas, estas se conectam entre si e se distribuem de forma a suportar as tensões aplicadas sobre os ossos (RODRIGUES-CARVALHO, 2017, p. 224). Além disso:

El esqueleto es un sistema sumamente dinámico que se encuentra em constante remodelación según el impacto de procesos tanto internos como externos que ocurren a lo largo del tempo y hasta el momento de la muerte. Los dientes sufren un processo diferente ya que interactúan con el entorno solamente durante el período de su formación en la subadultez. Una vez que se han desarrollado completamente, durante la pubertad, ofrecen una imagen estática de los procesos sufridos durante su desarrollo; la única acción que puede borrar esa información es la derivada del desgaste o pérdida dental ocasionados por las características de los alimentos consumidos y por el uso de la dentición con fines estramasticatorios (ARANDA, 2014, p. 53).

Os ossos, assim como as peças dentárias, são uma inesgotável fonte de informação acerca dos grupos humanos e sua relação socioambiental. Estes podem nos fornecer dados sobre perfis epidemiológicos dos grupos analisados e, a partir disso, por exemplo, o modo de vida que levavam na sociedade em que viveram. A Bioarqueologia é uma das áreas, dentro da arqueologia, que tem como tema central o estudo dos ossos.

1.1. Breve histórico da Bioarqueologia

A Bioarqueologia tem o seu início associado ao século XVIII como uma ciência entre a Antropologia e a Arqueologia. Inicialmente o foco de estudo dessa disciplina era a

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classificação e identificação da morfologia dos ossos, principalmente dos crânios. Porém, no início do século XX, sendo Ernest Hooton um dos que contribuíram para a abrangência da Bioarqueologia, os estudos sobre os ossos foram ampliados a análises populacionais e epidemiológicas. Assim, dialogando com aspectos sobre mortalidade, sinais de doenças, idade, posição social, variações sexuais, entre outros (SOUZA, 2009, p. 121-122). Ainda, para Buikstra (1977) & Bush e Zvelevil:

A partir de fines de la década de 1970, y directamente influenciada por las corrientes teóricas enmarcadas en la Nueva Arqueología, se fue gestando una nueva forma de investigar restos humanos, considerando otras preguntas y otros problemas. La bioarqueología se gestó así como uma disciplina basada em tres pilares fundamentales: el enfoque antropológico, la perspectiva multidisciplinar y el énfasis en los estudios poblacionales (apud ARANDA, 2014, p. 54).

A Bioarqueologia atualmente apoia-se nas possibilidades que a Paleopatologia oferece. Esta tem as suas origens associadas aos estudos classificatórios de crânios humanos, entretanto abrangeu seus estudos com a formulação de modelos explicativos para as condições da vida humana, baseando-se nos sinais de patologias encontrados nos ossos. No Brasil, como observado em outros países, a Paleopatologia surgiu no século XIX, contudo, diferente de muitos outros países, teve pouca adesão de profissionais, sendo o seu enfoque mais ligado à medicina (SOUZA & GUICHON apud SOUZA, 2011, p. 54). Ainda no século XX, técnicas como a histologia e a radiologia permitiram maiores diagnósticos em paleopatologias. Nomes como o de Marc Armand Ruffer, ao adaptarem técnicas médicas aos estudos arqueológicos, contribuíram de forma significativa para o crescimento desse campo (SOUZA, 2009, p. 122).

Um dos objetivos gerais mais importantes da Bioarqueologia é a investigação, através dos estudos dos restos ósseos humanos, da variabilidade das práticas culturais e dos padrões biológicos das populações que nos antecederam. Ou seja, para isso distanciou-se do espírito tipologista, comum desde o seu surgimento. Para isso, a Bioarqueologia trabalha com outras disciplinas como a Arqueologia, Antropologia Biológica, Biologia, Antropologia Social, Antropologia Forense, Geologia, Odontologia, Medicina, Tafonomia, entre outras. Com isso, essa disciplina busca maiores conhecimentos biológicos sobre as populações anteriores (ARANDA, 2014, p. 54-55).

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A Bioarqueologia nos fornece, através das suas análises, informações sobre doenças, sexo e idade, costumes socioculturais, as formas de enterramento, entre outros dados. Para isso, se torna necessárias análises consistentes e constantes de forma a evitar dados e interpretações equívocas.

De acordo com Galtés et al (2007, p. 180), os marcadores de atividades nos ossos são classificados em sete categorias principais, são elas: desgastes dentários, fraturas por sobrecarga, mudanças articulares degenerativas, mudanças morfológicas de caráter funcional, mudanças da estrutura óssea, ossificações e calcificações e alterações nas enteses.

Através da observação de patologias nos ossos é possível inferir sobre a idade dos indivíduos. Como exemplo, podem-se citar as doenças degenerativas que acometem os ossos, geralmente presentes em indivíduos com mais de trinta e cinco anos. No entanto, isso não é uma regra, podendo ser encontrada esse tipo de patologia em indivíduos mais jovens. A hiperostose porosa, por exemplo, ao ser encontrado nos ossos, indica um marcador de estresse e possui etiologia diversa. A artrose é uma das doenças mais frequentemente encontrada ao se examinar restos ósseos. Ela diferencia-se em artrose primária e secundária, sendo esta última relacionada a traumas, infecções, enfermidades sistêmicas ou situações em que as articulações sofrem sobrecarga (GALTÉS, 2007, p. 181).

Todas as informações acima são analisadas dentro da Bioarqueologia, sendo não somente o estudo dos ossos, mas também das peças dentárias. Vale ressaltar que dentro da Bioarqueologia os estudos englobam também outras evidências como ossos de animais, por exemplo.

1.2. Os marcadores dentários na Bioarqueologia

Os dentes são outros indicadores muito estudados dentro da Bioarqueologia, e as diversas patologias encontradas podem responder várias questões referentes ao modo de vida de um grupo. Uma das evidências frequentemente observadas em materiais ósseos são os desgastes dentários. Estes são:

’el resultado natural’ de la actividad masticatoria sobre las superfícies dentales, ciertos patrones de desgaste pueden ser provocados por actividades estramasticatorias tales como deshacer materiales on ayuda de los dientes, o la utilización de la boca como

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una tercera mano en la acción de sostener objetos para permitir su manipulación. A largo plazo, este uso parafuncional de la boca puede ocasionar cambios importantes em la forma y el volumen del diente (GALTÉS, 2007, p. 181).

O desgaste dentário é caracterizado pela crescente perda do tecido do dente ao longo da vida. Essa perda deve-se a distintas causas, embora as principais sejam a abrasão e o atrito. Este é caracterizado pelo contato direto com o dente, o que inclui o encontro dos dentes durante o processo de mastigação. Já a abrasão é referente ao desgaste provocado pelo contato entre os dentes, os alimentos e elementos abrasivos ou quando utilizados como ferramentas (CRUWYS 1989; MOLNAR 1972; TOWNSEND et al 1994 apud L’HEUREUX, 2002, p. 130).

Já os autores citados por Wasterlain (2006, p. 35) dividem os desgastes dentários em três categorias distintas: atrito, abrasão e erosão. O atrito é o desgaste ocasionado pelo contato direto entre os dentes, entre dentes vizinhos e os dentes opostos. Esse tipo de desgaste está associado diretamente com a mastigação, sendo que ainda é classificado em atrito oclusão e atrito interproximal (ibidem, p. 36). A abrasão, por outro lado, é o resultado do contato de objetos com os dentes, como, por exemplo, partículas alimentares. Esse tipo de desgaste também é associado ao uso dos dentes como instrumentos, e ainda podem ter sido ocasionados com objetivos estéticos e rituais ou ainda resultar de uma desordem alimentar conhecida como pica 1 (ibidem, p. 37-38). A erosão ocorre com a dissolução de

substâncias químicas que podem estar relacionadas a três fontes: dietética, condições regurgitativas e industrial/atmosférico (ibidem, p.38).

Então, as peças dentárias podem nos fornecer informações acerca dos alimentos que os grupos ingeriam, e se estes eram muito sólidos ou mais macios, por exemplo. O desgaste dentário também pode ser provocado pelo bruxismo, em que o indivíduo produz atrito com os dentes. Há também dentes com marcas que indicam a sua utilização como ferramentas, seja como auxílio para confeccionar algo, cortar um objeto, entre outros exemplos. Além disso, por meio dos dentes podemos inferir sobre a descendência dos indivíduos estudados. Claro que isso só é possível em situações favoráveis como, por exemplo, com uma boa

1 A desordem conhecida como pica é caracteriza pela ingestão constante de substâncias não nutritivas,

inadequadas para o desenvolvimento infantil e não aceitas culturalmente. As substâncias frequentemente consumidas, citando alguns exemplos, são terra, cabelo, barro, fezes de animais, alimentos crus, cinzas de cigarro (GONTIJO et al, 2011, p. 104).

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conservação do material. Vale salientar, no entanto, que embora esses dois tipos de desgastes tenhas suas diferenças, eles atuam em conjunto, o que dificulta a diferenciação entre eles.

A saúde bucal é extremamente importante para a saúde geral dos indivíduos, e sua boa manutenção proporciona comunicação efetiva, alimentação variada, assim como aumento da qualidade de vida e autoestima em meio ao convívio social. O estudo da saúde bucal ajuda a fornecer uma visão geral sobre os cuidados atuais de uma população e as suas necessidades futuras (SILVA et al, 2010, p. 457). Esse estudo sobre a saúde bucal de determinada população, a presença assim como a ausência de patologias dentárias, pode fornecer igualmente informações relacionadas com o status social dos indivíduos analisados e de que forma as doenças orais eram tratadas. É universalmente reconhecido que pessoas com condições socioeconômicas mais desfavorecidas possuem maior índice de doenças e mutilações, incluindo também menor expectativa de vida e grandes taxas de doenças cardiovasculares, deficiências, câncer, diabetes. Essas discrepâncias relacionadas às condições de saúde incluem acesso limitado aos cuidados e serviços de prevenção, maiores riscos ocupacionais e maiores chances em adquirir comportamentos considerados não saudáveis (SILVA et al, 2010, p. 460).

Para Borges et al (2008, p. 1826) diversos fatores são atribuídos à dor de dente, entre eles os fatores socioeconômicos, demográficos, psicológicos, étnicos, culturais e os padrões de acesso aos serviços odontológicos e suas utilizações. Ao deparar-se com a literatura, os indivíduos em condições de vida socioeconômicas desfavoráveis apresentam piores condições de vida e, possivelmente, maiores agravos à saúde bucal. Isso pode ser observado similarmente em relação à cor de pele, em que estes estão mais sujeitos a desigualdades sociais, logo, possuem piores condições de vida quando comparados aos indivíduos de cores claras.

Frequentemente são encontradas nas pesquisas arqueológicas patologias dentárias, e uma das mais observadas são as cáries, estas podem vir acompanhadas de cálculos dentários e periodontite. A cárie é resultado de uma desmineralização dos tecidos duros dos dentes. Isso ocorre devido à ação de ácidos orgânicos que são produzidos pela fermentação bacteriana dos carboidratos, especialmente dos açucares (LARSEN 1987; 1997 apud L’HEUREUX, 2002, p. 130). As cáries podem ser de dois tipos: cárie coronal, que são

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iniciadas no esmalte da coroa e aquelas que se iniciam na dentina exposta devido a traumatismos ou desgastes (HILLSON, 1996, 2001 apud WASTERLAIN, 2006, p. 86), e as cáries da superfície da raiz, que surgem mais tardiamente em relação ao primeiro tipo, cujas são iniciadas nas raízes quando estas estão expostas devido à erupção contínua ou a periodontite (WASTERLAIN, 2006, p. 87).

A periodontite é uma doença em que há a destruição do periodonto em casos mais avançados, e é verificada uma acumulação de placa bacteriana no local acometido. Vale ressaltar que a periodontite é sempre precedida da gengivite, porém nem sempre esta culmina na periodontite (ALMEIDA et al, 2006, p. 380-381). Segundo o mesmo autor (2006, p. 381) a diabetes mellitus, por exemplo, é muito associada com a periodontite, sendo que os indivíduos que possuem diabetes têm um maior índice em adquirir essa doença dentária. De acordo com a literatura a periodontite pode ser dividida em duas classificações. A periodontite crônica representa uma doença infecciosa resultante da inflamação dos tecidos que servem de suporte aos dentes, levando à progressiva perda de inserção conjuntiva. Embora a periodontite possa ocorrer em qualquer idade, essa doença possui maior prevalência em adultos. Já a periodontite denominada agressiva acomete aqueles indivíduos saudáveis, e é caracteriza por perda severa da inserção juntamente à rápida destruição óssea alveolar (ACADEMIA AMERICANA DE PERIODONTIA, 1999

apud CORTELLI & CORTELLI, 2003, p. 91).

As periodontites geralmente vêm acompanhadas com os cálculos dentários, cujos são formados por uma placa bacteriana mineralizada. O cálculo dentário depende de diversos fatores como a composição da saliva, hábitos mastigatórios, tipo de alimentação e placa bacteriana existente na boca (BOTELLA, 1999, p. 186). Vale ressaltar que a periodontite é uma doença progressiva que, sem o devido tratamento, pode levar a perdas dentárias ante-mortem.

O diagnóstico dessas patologias, bem como de anomalias e desgastes dentários, contribuem para um estudo aprofundado dos grupos estudados, suas características e modo de vida, status social, aspectos religiosos, simbólicos e práticos, entre outros.

Em alguns casos são encontrados, nos registros arqueológicos, dentes com modificações intencionais, sendo os formatos destes variados. Segundo diferentes autores citados por Liryo et al (2011, p. 315), os dentes modificados intencionalmente tem sido

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usados para definir marcadores de etnicidade. São feitas com diferentes técnicas, obedecendo a certos padrões, principalmente nos incisivos superiores e são encontradas em muitos grupos africanos de regiões correspondentes atualmente a países como Angola, Congo, África do Sul, Moçambique, Sudão, Somália, Nigéria, Kenya, Tânzania e Uganda. Ainda segundo o mesmo autor o tráfico de escravos para a América que contribuiu com a dispersão desse traço cultural, e tratava-se de uma prática cultural com intenções estéticas, religiosas, entre outras. No Brasil, essa prática também parece ter sido trazida pelos africanos que começaram a ser trazidos para o país no século XVI. No Brasil, diferente do que parece ter acontecido na maior parte da América, esse costume de modificar os dentes foi incorporado por não cativos e populações do interior (2011, p. 316).

É interessante ressaltar que até o atual momento, por meio das pesquisas bioarqueológicas no Brasil, não há evidências sobre essas práticas de modificações dentárias entre os indígenas antes do contato com os povos de origem africana (PEREIRA FILHO, 1968 apud LÍRYO et al 2001 p. 137). Ainda assim, entre os grupos indígenas pós-contato, nos casos encontrados no Brasil, entre os grupos Tenehara, Makuxi, Galibi, Karipuna, Pauaxina, Jauari e Kaingang as modificações são do tipo “dentes de piranha”, sempre executados nos quatro incisivos da maxila (CUNHA, 1968; NESI, 1968; NESI & QUEIROZ, 1968 apud LÍRYO, 2001, p. 137).

As modificações intencionais nos dentes, segundo vários autores citados por Líryo

et al (2001, p. 121), são encontradas em quase todos os continentes, sendo que foi

verificado em diversos países africanos, como citado anteriormente, assim como na Península Ibérica, no Japão, na região mesoamericana e andina, e em algumas tribos brasileiras. Em relação às idades em que eram iniciadas essas alterações dentárias, Santos (1962 apud MACHADO, 2006, p. 9) ressalta que as alterações parecem ter sido realizadas entre indivíduos de 14 a 20 anos. Certos grupos Bantu, por exemplo, começam a modificar os dentes entre quinze e dezesseis anos de idade.

1.3. Fraturas ósseas

Além das patologias ósseas e dentárias, é comum a ocorrência de fraturas nos ossos, que ocorrem quando os ossos sofrem um impacto além da sua capacidade de resistência. Ou seja, as fraturas são assim definidas uma vez que ocorra a ruptura na continuidade do

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osso, podendo ser esta parcial ou total, e depende de algumas variáveis como energia, direção, taxa e duração de carga (HALL, 2006 apud WEDEL & GALLOWAY, 2013, p. 35). Outras variáveis que influenciam, segundo Wedel & Galloway (ibidem), são referentes à saúde e maturidade do osso atingido, já que os ossos mais maduros tendem a ter conteúdo mineral maior, o que contribui para um risco mais de fraturas. Ou seja, à medida que envelhecemos os nossos ossos perdem matéria orgânica, como o colágeno, diminuindo, dessa forma, a elasticidade e aumentando o risco de traumas ósseos.

A análise dos traumas dentro da Bioarqueologia tem contribuído para o estudo da violência no passado. Porém, esse campo de estudo vai além de episódios de violência; fornecem-nos também informações acerca de acidentes, patologias, fatores tafonômicos, aspectos culturais, entre outros. Nesse caso, “(...) se trata de establecer si las lesiones encontradas en los restos óseos provenientes de contextos arqueológicos fueron de naturaleza fortuita (accidental) o producto de una acción intencional para causar daño” (MEJÍA & RODRÍGUES, 2014, p. 44). Ainda sobre os mesmos autores, citando Lovell (1997) e Walker (2001), é preciso ter em conta alguns aspectos em relação ao estudo das fraturas, tais como localização anatômica, as características morfológicas dos ossos, além do contexto cultural, social, histórico, ambiental e a observação da presença de artefatos associados.

Em relação às forças que produzem as fraturas ósseas pode-se observar que:

The forces that produce fractures are tension, compression, and shear. In addition, these forces can also produce bone failure in bending, torsion, and multiple other scenarios of loading with combinations of multiple forces. Tensile forces are produced when equal and opposite loads are applied to a material, pulling it apart. Compression occurs when equal and opposite loads are applied to a material, pushing it together. Shear forces are produced when a load is applied parallel to the surface of a material. During fracture propagation, bone tested in tension fails by debonding and microcracking of the osteons along cement lines, while the yielding of bone in compression is seen as cracking of the osteons (NORDIN & FRANKEL, 2001 apud WEDEL & GALLOWAY, 2013, p. 35).

De acordo com Adams (1976, p. 4-5) as fraturas são classificadas, de acordo com a etiologia, em:

 Fraturas causadas unicamente por traumas. Engloba a maioria das fraturas e ocorrem em ossos íntegros ou sãos. Podem ocorrer através de trauma direto, em que

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o impacto de algum objeto atinge diretamente o osso, por exemplo, e por trauma indireto, quando o impacto se propaga ao longo do osso.

 Fraturas causadas por estresse ou fadiga. Ocorrem em ossos aparentemente saudáveis por meio de pequenos e repetidos traumatismos. Podem indicar relação com certas atividades e/ou determinadas profissões.

 Fraturas causadas por patologias. Neste caso, as fraturas acometem ossos já fragilizados por alguma doença, podendo ocorrer quebra óssea por meio de um trauma qualquer ou espontaneamente.

O autor ainda classifica as fraturas em fechadas (ou simples) e expostas. As primeiras são aquelas em que não há comunicação entre o foco de fratura e o meio ambiente. Nas fraturas expostas ocorre essa comunicação com o ambiente, além de haver maior suscetibilidade a contaminações por microrganismos (ADAMS, 1976, p. 5).

Alterações patológicas nos ossos, como diabetes, raquitismo, osteogênese imperfeita, distúrbios neuromusculares, artrite reumatoide, osteomelite, tumores benignos, o uso de esteroides exógenos, entre outros fatores, podem aumentar o risco de fraturas, bem como o uso de determinadas drogas e o abuso de álcool estão associadas a mudanças na qualidade óssea (WEDEL & GALLOWAY, 2013, p. 45).

Em relação à terminologia das fraturas, Rodrigues (2011, p. 186):

A fratura é inicialmente classificada em completa ou incompleta. A fratura completa apresenta uma solução de continuidade em todo o diâmetro ósseo e a fratura incompleta apresenta um segmento da cortical intacto. A fratura completa é classificada em simples ou cominutiva. A fratura simples apresenta uma linha de fratura com dois fragmentos ósseos. A fratura cominuta (ou cominutiva) apresenta duas ou mais linhas de fratura, com, pelo menos, três fragmentos ósseos. O grau de cominução geralmente se relaciona diretamente com a magnitude da energia envolvida no trauma.

Deve-se observar também a direção da linha da fratura correspondente ao eixo longo do osso. Recebem classificação em transversa, longitudinal, espiral e oblíqua. Já em casos específicos, principalmente na patela e vértebras, as fraturas podem ser classificadas em horizontais e/ou verticais. As fraturas transversais são aquelas que ocorrem perpendiculares ao osso longo, e geralmente ocorrem quando uma força direta é aplicada é aplicada sobre os ossos. A longitudinal é disposta paralelamente ao eixo longo. A fratura

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oblíqua é considerada muito comum, e ocorrem em angulações de 30 a 60 graus. Neste tipo de fratura, o mecanismo é geralmente ocasionado por uma força compressiva ao longo do eixo juntamente com um arqueamento do osso. Já as fraturas em espiral são caraterizadas por forças de tensão, sendo que as extremidades comumente apresentam pontas afiadas. Esses tipos de fraturas circundam os ossos (RODRIGUES, 2011, p. 186-187).

1.4. Cronologia das fraturas

Dentro do estudo das fraturas em material ósseo cabe identificar a cronologia destas em ante-mortem, peri-mortem e post-mortem, uma vez que a não observação dessas características podem levar ao levantamento errôneo de dados sobre determinada sociedade. As fraturas classificadas em ante-mortem são identificadas pela presença de resposta óssea, como cicatrização, remodelação e reabsorção óssea, o que indica que as fraturas não levaram à morte. De acordo com Cunha & Pinheiro (2006, p. 227), dentro das lesões ante-mortem devem-se destacar os traumas relacionados a aspectos culturais e terapêuticos. Além disso, os traumas associados a episódios acidentais são importantes dentro dessa categoria, sendo geralmente relacionados a atividades cotidianas. As fraturas provocadas por acidentes acometem diferentes ossos, com uma variedade maior quando comparada aos traumas violentos – caracterizados por fraturas de depressão no crânio, fratura por esmagamento da face e fraturas denominadas de Parry 2 – e podem estar

presentes na pelve, em corpo de vértebras, no colo do fêmur, nas extremidades distais do rádio, tíbia e fíbula, na patela, costela, clavícula, esterno, úmero, e nos ossos das mãos e dos pés (LESSA & SOUZA, 2004, p. 191). Além disso, podem ocorrer em indivíduos tanto do sexo masculino quanto do sexo feminino, bem como em pessoas de diferentes faixas etárias. Isso demonstra que há uma variabilidade maior quando observado.

Em relação aos calos ósseos, o tamanho destes varia de acordo com o grau e tamanho das fraturas. O calo frequentemente apresenta um tamanho grande quando, no momento da fratura, tenha havido um deslocamento periostal extenso, quando o hematoma da fratura é muito grande ou ainda quando os fragmentos ósseos resultantes tenham sofrido um desvio demasiado. Em calos ósseos menores normalmente os fragmentos ósseos

2 As fraturas em parry ocorrem nos terços médio e distal nas ulnas e têm sido associadas à elevação do

antebraço em defesa de algum golpe desferido (ORTNER et al, 1985; MERBS, 1989, JURMAIN, 1991; WEBB, 1995 apud LESSA, 2004, p. 290).

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permaneceram em posição anatômica e/ou quando os procedimentos médicos são bem executados. É interessante notar que a remodelação em crianças é tão perfeita que o local onde ocorreu a fratura se torna imperceptível em exames radiográficos, ao contrário dos adultos, em que geralmente é marcada por uma área de engrossamento ou esclerose. (ADAMS, 1976, p. 13-14).

Os traumas peri-mortem ocorreram com o osso ainda elástico, sendo que é comumente um indicador de fraturas provocadas próximas à morte ou a causa desta, podendo ser intencionais ou acidentais. Devido a isto, o osso afetado não apresenta uma resposta óssea visível, como ocorre na ante-mortem, o que dificulta o seu diagnóstico. Segundo Lessa (2004, p. 287), as fraturas dessa categoria podem ter sido provocadas por processos tafonômicos também, e não apenas como resultante de morte.

Há alguns aspectos que devem ser levados em consideração: como o osso ainda está fresco, as superfícies da fratura são mais cortantes e com aspecto irregular, e, dependendo do osso e do objeto que provocou o golpe, ocorre dobragem óssea e fraturas oblíquas. Dentro da Antropologia Forense, os tipos de lesões mais encontrados em um exame são aquelas provocadas por arma de fogo (definidas como perfurantes e/ou perfuro contundentes), traumas contundentes e lesões provocadas por algum objeto cortante ou incisivo (CUNHA & PINHEIRO, 2006, p. 228-229). No entanto, os autores citam Ubelaker (1991) & Rodríguez - Matín (2006) para reforçarem que “’(...) diferentes causas podem produzir as mesmas lesões e que diferentes lesões podem ter sido causadas pela mesma arma e/ou mecanismo’” (p. 229).

Os traumas peri-mortem, associados à violência, normalmente são localizados nos ossos cranianos, pois, muitas vezes, o golpe pode ser letal. De acordo com Lessa (2004, p. 288):

A menos que um grupo em estudo tenha sido vítima de um massacre generalizado, as fraturas ocasionadas por violência devem apresentar também um padrão sexual e etário, dependendo da situação que motivou a atitude agressiva.

Entretanto, tem-se que ter em mente que nem todos os traumas afetam os ossos ou são possíveis de visualizar, e não devemos descartar as possiblidades simplesmente por essas características não estarem presentes.

Segundo Gurdjian (1973), citado por Lessa (2004, p. 288), nas sociedades modernas industrializadas, muitos dos crânios encontrados com traumas dizem respeito a acidentes,

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principalmente os automobilísticos. Porém, ainda predominam os que estão relacionados à violência interpessoal, frequentemente entre os quinze e cinquenta anos.

Há algumas características que diferem os traumas peri-mortem àqueles que ocorrem depois da morte. As bordas das fraturas post-mortem são mais regulares, em relação às primeiras, além de apresentar as suas bordas mais claras em relação ao resto do osso afetado. Para Lessa (2004, p. 289-290):

De uma maneira geral, a cabeça e o pescoço são as regiões mais atingidas durante lutas e agressões interpessoais, embora possa haver uma considerável variação relacionada ao contexto sociocultural de onde emergiu o conflito. [...] As fraturas na face, geralmente provocadas por esmagamento, podem ser associadas à violência, sobretudo quando o indivíduo não apresenta outras fraturas ocasionadas por queda, uma vez que dificilmente esse tipo de acidente provocaria apenas uma lesão nos nasais ou no maxilar, regiões de menor probabilidade de impacto. [...] Já as fraturas na mesma região dos rádios (terços médio e distal) estão relacionadas a acidentes, uma vez que este osso é o que se articula com os metacarpos e, em caso de queda e tentativa de sustentação do corpo, receberia a maior parte da força de impacto.

Ainda, depois da morte, o osso perde água e elasticidade, tornando-se quebradiço, o que influenciará no tipo de reação a agressões (CUNHA & PINHEIRO, 2006, p. 230). Deve-se observar também a morfologia das fraturas e a trajetória das linhas associadas com a lesão imposta. Para Botella et al (2000, p. 98), as fraturas que ocorrem em crânios secos apresentam linhas quebradas, ao contrário das que ocorrem em crânios frescos, em que se observa linhas lineares e, muitas vezes, seguem uma orientação.

As fraturas em forma de mariposa ou em galho verde (com a característica dobragem óssea) são muito associadas aos traumas perimortais. Entretanto, nenhum desses fatores é completamente confiável, e devem ser considerados outros aspectos como o contexto da escavação, temporalidade dos ossos e os padrões das lesões existentes com padrões diagnosticados na literatura forense (MEJÍA & RODRÍGUES 2014, p. 42).

Embora não citado por Adams (1976), justamente por não estar ligado à área de estudo dele, as fraturas ósseas também podem ser causadas por processos tafonômicos. O termo Tafonomia tem sua origem associada ao geólogo russo Efremov, cujo definiu essa ciência em 1940 como a “ciência do enterro”. Ou seja, a Tafonomia se refere às “leis do enterramento”, além de ser de origem grega, onde Thapos significa “enterramento” e

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p. 5), a Tafonomia surgiu como consequência do grande interesse que geólogos e paleontólogos possuíam em tentar explicar o porquê e de que forma os fósseis se encontravam preservados e como esses processos que levaram à preservação podiam contribuir com informações sobre o passado. Em outras palavras, essa ciência surge primeiro como um ramo da Paleontologia, definida como a ciência que estuda a passagem de um ser vivo a fóssil. No entanto, com a grande importância que a Tafonomia passou a ter para a arqueologia e antropologia forense, ela passou a ser entendida como o campo que estuda os processos humanos e não humanos que influenciam sobre um organismo desde o momento da morte até a examinação.

As fraturas ocasionadas por fatores tafonômicos são aquelas que ocorrem durante ou após o processo de decomposição, e são classificadas como fraturas post-mortem. Esses processos tafonômicos são classificados em intrínsecos e extrínsecos. Os fatores extrínsecos referentes à tafonomia dizem respeito ao ambiente em que os ossos foram deposicionados, como o ph do sedimento, umidade, temperatura, presença de animais, química do solo, práticas funerárias, entre outros. Já os fatores intrínsecos são aqueles relacionados à própria decomposição e anatomia do osso (GORDÓN, 2009, p. 33). Segundo Moutela (2015, p. 20), os ossos do sexo feminino apresentam preservação óssea mais fraca em relação aos de indivíduos do sexo masculino, além de que ossos de indivíduos com idades mais avançadas degradam-se mais rapidamente do que ossos de indivíduos mais jovens. Além disso, alguns ossos, devido a sua localização anatômica e densidade, degradam-se de forma mais lenta do que outros como, por exemplo, os ossos das costelas, vértebras e do crânio, que são mais frágeis.

As raízes das plantas são uma das causas mais relevantes a serem analisadas, pois podem causar muitos danos aos ossos, sejam esses físicos e/ou químicos “[...] seu intumescimento pode provocar pressão sobre os ossos a ponto de fragmentá-lo, assim como a excreção de substâncias ácidas podem causar a dissolução dos seus componentes minerais” (SANTANA, 2013, p. 135-136).

Além disso, as escavações descuidadas são as principais causas das fraturas post-mortem, devido o emprego de uma metodologia inapropriada para determinada situação. Para além, os museus e centros de investigação põem em risco a conservação dos materiais ósseos, pois há o frequente manejo dessas peças, assim como manipulação para a consulta.

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Outro aspecto que coloca em risco a conservação dos ossos é o processo de consolidação a fim de se ter uma maior preservação. Porém, isso nem sempre garante a conservação dos materiais ósseos, já que o uso inadequado de materiais consolidantes podem provocar impactos sobre os ossos, e até mesmo a destruição (BOTELLA et al 2000, p. 95-96). Ainda segundo o mesmo autor, as fraturas post-mortem em ossos longos apresentam fissuras que seguem a direção do eixo maior, e quando o dano é muito intenso, o osso rompe-se em lascas, podendo estas ser muito finas (p. 98). Deve-se ter em conta também que, devido os traumas ter ocorrido em ossos já secos, frequentemente apresentam bordas com uma textura mais pulverulenta.

Alguns autores, citados por Mejía & Rodrígues (2014, p. 43), demonstram que é possível inferir, através das lesões traumáticas, sobre fatores ambientais, tais como o tipo de terreno existente em tal área, se havia presença de neve ou gelo, sendo que terrenos irregulares juntamente com essas outras características podem provocar fraturas (ARRIAZA, 2003; GALLOWAY, 1999). A baixa visibilidade, provocada por redução da luz solar, em altas altitudes aumentam a chance de quedas, bem como fraturas associadas a diminuição da absorção de cálcio e o risco de fraturas secundárias associadas a osteoporose e raquitismo (LOVELL, 1997). Além disso, há os aspectos socioculturais como sacrifícios humanos, alterações corporais intencionais, violência interpessoal, uso de procedimentos terapêuticos, ocorrência de guerras, entre outros, que podem levar a evidência de traumas diferenciados entre os grupos do passado (GOODMAN & MARTIN, 2002; RODRÍGUES, 2006).

2. Sítio Largo da Matriz – Marechal Deodoro

O acervo ósseo presente neste trabalho é referente ao sítio largo da Matriz, localizado em Marechal Deodoro (AL). O sítio Largo da matriz abrange as igrejas Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Figura 1). A cidade, antes denominada Madalena de Sumaúma, foi ocupada entre 1580 a 1640. O adensamento populacional da área foi estabelecido à margem da lagoa Manguaba, tendo sido transferido e fixada em torno da Igreja Matriz, onde esta foi edificada em um local elevado acima do nível da lagoa. Mesmo em local elevado houve a manutenção da comunicação com o platô de terra às margens do rio Sumaúma (PINTO et al, 2018, p.14-15).

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Apesar da escassez de documentação em relação à edificação da igreja Matriz é recorrente a informação de que ela já existia em 1654, sendo erguida pelo português João Esteves em troca das terras do atual distrito de Massagueira. Após um tempo, esta igreja foi queimada e totalmente destruída pelos holandeses quando a região foi invadida. Em 1672 os habitantes começaram a levantar o monumento, tarefa que foi concluída apenas em 1783. A igreja apresenta um estilo arquitetônico predominantemente de traços rococó (PINTO et al, 2018, p. 20-21). Já em relação à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, esta aparece nos registros historiográficos, até o momento identificados, somente em a partir de 1777. Essa igreja, assim como várias outras associações religiosas leigas de pretos e pardos, destinavam-se aos segmentos mais desfavorecidos da população, oferecendo todo tipo de assistência aos seus membros (PINTO et al, 2018, p. 19).

Figura 1 – Localização de Marechal Deodoro. Fonte: PINTO et al, 2018.

O clima da região é caracterizado como Tropical chuvoso com verão seco. O solo é rico em materiais orgânicos e os pacotes sedimentares são do tipo areno-argiloso. O ambiente da região é propício a microrganismos em consequência da relação entre a vegetação e o solo (PINTO et al, 2018, p. 27).

Segundo Adriano Jorge (1901 apud PINTO et al, 2018, p. 16), por meio de um modelo de observação clássica de modos e comportamentos dos índios, foi identificado a presença de grupos étnicos diversos na história colonial de Alagoas, como os Potiguara,

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Copotós, Tabajara, Pipiãs, Caetés, Abacatiaras, Aconãs, Cariris, Moriquitos, Coropatis, Xucurus, Umas, Vouvês, Xocós, entre outros. Além destes, discute-se a presença de grupos africanos na região. Em um primeiro trabalho realizado por Alfredo Brandão no 1° Congresso Afro-Brasileiro, em Recife, foi apontada pelo autor uma expressividade do tronco linguístico Bantu na toponímia de lugares, como montanhas, rios, serras, flora e fauna. Entretanto, cabe ressaltar que essa predominância Bantu apontada por Alfredo Brandão não descarta a presença de grupos étnicos sudaneses, em especial dos Malês nas primeiras décadas do século XIX (PINTO et al, 2018, p. 17-18). Ainda sobre este assunto:

Nesse ponto verifica-se que são muitas as origens da formação da população negra em Alagoas, isso significa que a experiência diaspórica não se dá somente a nível transatlântico, em que portos da costa africana, como o de Benguela e Luanda conectavam-se com os portos de Salvador e Recife, mas ia além, em trânsitos regionais, cidade de Salvador-cidade de Alagoas e fugas de dimensões territoriais (PINTO et al, 2018, p. 18).

Com as escavações realizadas em Marechal Deodoro tornou-se necessário, no presente trabalho, uma análise mais aprofundada acerca dos enterramentos dentro ou ao redor das igrejas, englobando os aspectos simbólicos e religiosos, e os aspectos sanitários que envolviam a prática. Isto se justifica pelo fato dos esqueletos evidenciados na escavação no Largo da Matriz terem sido associados às igrejas Matriz e Rosário. A prática de enterrar os mortos ao lado das igrejas é um costume oriundo do território europeu, cujo perdurou no Brasil entre meados e final do século XIX om a inserção dos cemitérios públicos (PINTO, et al, 2018, p. 97). Segundo Magalhães:

(...) as igrejas despontaram no cenário urbano como emblemas desse destino imponderável, às quais, todos convergiam porque nelas estavam contidos os únicos meios de alcançar perdão para os pecados e acesso ao paraíso prometidos (2014, p. 8).

As várias confrarias existentes em Marechal Deodoro se tornaram essenciais ao proporcionarem aos menos favorecidos condições de inserção na estrutura social do período, através da construção de igrejas para atender as pessoas associadas. Os adros, cujos eram localizados à frente das igrejas, eram extensões externas e serviam para enterramentos de pessoas desfavorecidas economicamente, não filiadas a nenhuma

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associação religiosa leiga e, dessa forma, sem acesso à assistência funerária e túmulos (MAGALHÃES, et al, 2018, p. 5).

Para Reis (1991, p. 175 apud RODRIGUES & BRAVOS, 2012, p. 5), as pessoas, de modo geral, podiam ser enterradas nas igrejas, entretanto, havia hierarquias em relação aos locais e o tipo de sepulturas que deviam ser respeitadas. Primeiramente se fazia uma distinção entre o corpo, parte interna do edifício e o adro, a área externa. A cova no adro era tida como desprestigiada de tal forma que podia ser obtida gratuitamente. Nesses locais eram onde enterravam os escravos e as pessoas livres pobres. Já a parte interna das igrejas era o espaço onde enterravam os indivíduos mais prestigiados, quanto mais importantes as pessoas eram mais próximas do altar eram enterradas e, consequentemente, segundo a crença da época, ficavam mais próximas da salvação divina (RODRIGUES & BRAVOS, 2012, p. 5).

Contudo, para os médicos higienistas do século XIX essa prática de enterrar os mortos nesses locais comprometia a saúde dos vivos que precisavam respirar um ar poluído. O caminho para que se consiga a saúde passa a ser a salubridade. Todos os odores expelidos pelos cadáveres enterrados no interior ou ao redor dos templos passaram a ser considerados insalubres e danosos à saúde pública. (LIMA, 2013, p. 4-5).

Em Alagoas, especialmente, em 1855, praticamente toda a província foi acometida pelo vibrião do Cólera Morbis. Houve vários casos de mortalidade entre as populações de cidades e vilas. Marechal, assim como tantas outras cidades, sofreu com as consequências da doença (ALMEIDA, 1996, p. 97 apud MAGALHÃES, 2014, p. 8). Nessa época, como citado anteriormente por Lima (2013), já surgia gradativamente uma nova postura urbana frente aos avanços da medicina e às medidas higienistas no ambiente citadino, isso acentuavam as críticas aos enterramentos dentro das igrejas, aludindo, assim, para a criação de cemitérios públicos em locais mais adequados para esse fim (MAGALHÃES, 2014, p. 8).

Todas essas mudanças no cenário urbano referentes aos cemitérios interferiram na forma como as pessoas passaram a conviver com a morte. O novo lugar destinado aos mortos, os cemitérios, era afastado do convívio com os vivos. As igrejas, capelas e conventos são, então, destituídos de uma das suas condições mais emblemáticas, cujas eram sustentadas entre o “bem viver” e o “bem morrer” (MAGALHÃES, 2014, p. 9). Ou seja, há

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um distanciamento das pessoas em relação aos seus mortos, além de haver todo um desconforto nos cemitérios e no que envolve a morte.

A escavação do sítio Largo da Matriz ocorreu durante um projeto de restauração das igrejas Matriz e Rosário, tendo sido escavado pelas arqueólogas Karina Miranda, Jaciara Andrade Silva e equipe, entre agosto e outubro de 2017. Durante a escavação foram estabelecidas seis áreas ao redor das igrejas, em que duas delas estão relacionadas aos conjuntos IV e V (às margens da Igreja Matriz), e o conjunto VI localizado a oeste da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Na prospecção arqueológica houve o aparecimento em alguns pontos de material referente ao período histórico e em outros, de material histórico e pré-colonial. No total foram resgatados mais de quarenta esqueletos ao redor das igrejas, em que a igreja Matriz corresponde à área que abrigava o maior número de esqueletos, com cerca de trinta e nove indivíduos. No adro de Nossa Senhora dos Homens Pretos e na calçada de uma residência referente ao conjunto de unidades do conjunto V foram resgatados dois esqueletos, um de cada área (PINTO et al, 2018, p. 37).

Em relação aos métodos de escavação, foram estabelecidas aberturas de unidades de 1m x 1m em controle horizontal e as ampliações foram de 1m x 1m também. Em relação ao controle vertical o aprofundamento foi realizado de 10 cm em 10 cm, sendo realizada a limpeza da superfície e exumação dos esqueletos. Durante essa fase foi realizada a peneiração do sedimento e a separação adequada dos materiais de acordo com as suas tipologias. Cada material foi acondicionado em sacolas plásticas com etiquetas (PINTO et

al, 2018, p. 37-39).

O conjunto IV foi escavado atrás da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição (Figuras 2 e 3). A área escavada apresenta grande concentração de material ósseo, e alguns artefatos históricos e pré-coloniais. Foram evidenciados dezoito indivíduos, além disso, alguns enterramentos vieram associados om objetos de devoção católica (PINTO et al, 2018, p. 50). Segundo os moradores locais, a área escavada possuía uma extensão de terra maior, porém, foi impactada pela construção de uma nova rua. Há outros aspectos a nível de impacto na área como a presença de duas árvores grandes cujas, segundo os moradores, foram plantadas a aproximadamente a duas décadas e a construção de uma fossa séptica circular (PINTO et al, 2018, p. 102).

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Figura 2 – Local da escavação, atrás da Igreja Matriz. Fonte: PINTO et al, 2018.

Figura 3 – Escavação sendo realizada no conjunto IV. Fonte: PINTO et al, 2018.

O conjunto V foi escavado no adro na parte lateral da Igreja Matriz (Figuras 4 e 5). Foram escavados diversos enterramentos, sendo evidenciados vinte e um esqueletos e vários ossos dispersos. Verificou-se, através dos pacotes sedimentares, intensiva atividades de enterramentos em todo o entorno da igreja, além da observação de uma mescla de pacote sedimentar areno-argiloso com material construtivo e diferentes elementos de queima associados a esses materiais (PINTO et al, 2018, p. 53).

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Figura 4 – Área de escavação ao lado da Igreja Matriz. Fonte: PINTO et al, 2018.

Neste conjunto, a partir de 70 cm, foi observado pelos pesquisadores uma área de vestígio que, inicialmente, foi associada a algum enterramento. Porém, à medida que a escavação foi ampliada, constatou-se tratar de uma grande área de queima. Em associação ao vestígio foram encontrados artefatos históricos como cerâmica simples, faiança e material lítico. Foi constatada também a presença de grande quantidade de material construtivo como telhas, fragmentos de coral e caliças. Com isso, constatou-se que existia nessa área uma unidade doméstica que sofreu processo de queima. A partir disso, levantou-se a hipótelevantou-se que aquele espaço foi o primeiro aslevantou-sentamento da Igreja Matriz, que foi invadida e queimada pelos holandeses o século XVII (PINTO et al, 2018. p. 57).

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Figura 5 – Escavação sendo realizada no conjunto V. Fonte: PINTO et al, 2018.

O conjunto VI está localizado a oeste da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Figura 6). Esta área foi configurada pela escavação de dois setores: o primeiro setor foi formado por quatro unidades e o segundo, por uma trincheira. O único indivíduo evidenciado foi localizado na trincheira (Figura 7), estando o esqueleto associado aos níveis 50- 80 cm (PINTO et al, 2018, p. 106).

Figura 6 – Área onde está localizado o conjunto VI, associada à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Fonte: PINTO et al, 2018.

Figura 7 – Trincheira onde foi evidenciada o único esqueleto do conjunto VI. Fonte: PINTO et al, 2018.

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3. Objetivos

Este trabalho tem como objetivos gerais a identificação dos aspectos sexuais e etários dos indivíduos encontrados no sítio Largo da Matriz, bem como a identificação das patologias ósseas e dentárias. Para além destes, cabe analisar os tipos de fraturas em relação à cronologia destas e, quando possível, a natureza das fraturas em acidentais ou violentas. Com esses aspectos observados espera-se a obtenção de um maior conhecimento acerca do acervo humano escavado e a relação dos indivíduos analisados com o meio em que viviam.

4. Metodologia

As atividades foram realizadas no laboratório de Bioarqueologia da Universidade Federal de Sergipe (LABIARQ), do campus de Laranjeiras, que está sob a coordenação dos professores Olívia Alexandre de Carvalho e Albérico Nogueira de Queiroz, durante todo o período do projeto de iniciação científica. Durante todo o processo da realização do mesmo buscou-se uma diversidade de referências bibliográficas que embalsasse o conteúdo proposto e, dessa forma, obter maior aprofundamento e credibilidade. As bibliografias, portanto, abrangeram outros idiomas, o que contribuiu para o estudo e análise do acervo ósseo estudado e suas particularidades.

Em primeira instância foi realizada a organização das caixas que armazenam o material ósseo de acordo com o conjunto das sepulturas. Essa etapa foi importante para ter uma ideia da disposição dos indivíduos do sítio e a verificação dos que ainda precisavam passar pelo processo de higienização e catalogação. Após isso, foram iniciadas as atividades de catalogação das sepulturas e, dentro disso, realizou-se a substituição dos antigos plásticos que armazenavam os ossos por novos.

A análise macroscópica foi iniciada junto à catalogação, em que se observou a ocorrência de patologias óssea e dentária, bem como a identificação do sexo e faixa etária dos indivíduos. Para além disso, observou-se as fraturas presentes e análise destas em ante, peri e post-morte. Nesse processo foram utilizadas também as fichas osteológicas preenchidas pelos alunos presentes no LABIARQ com o objetivo de observar as anotações sobre as características ósseas e dentárias, e informações sobre sexo e idade quando presentes. Além disso, foram observadas as fichas referentes a cada osso, buscando identificar equívocos quanto à lateralidade e tipo ósseo para corrigir, caso necessário. Na

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catalogação também foi observado o grau de conservação dos ossos, onde foi utilizado porcentagens de acordo com a fragmentação óssea.

Para a identificação dos aspectos etários e sexuais teve-se como base os métodos presentes no Standards: for data collection from human skeletal remains (BUIKSTRA & UBELAKER, 1994) e no Antropología física para arqueólogos (CAMPILLO & SUBIRÀ, 2004). Quando presente, recorreu-se à observação da curva isquiática da pelve para identificação dos aspectos sexuais em indivíduos adultos (Figura 8), além do exame de alguns caracteres presentes no crânio como glabela, proeminência do mento, processo mastoideo, margem supra orbital e protuberância occiptal, como mostrado na figura 9.

Figura 8 – Diferenciação da curva isquiática para diagnóstico sexual. Quanto mais larga a curva maior a probabilidade de pertencer ao sexo feminino, quanto mais estreita, ao sexo masculino. Fonte: BUIKSTRA & UBELAKER, 1994.

Para a averiguação da faixa etária verificou-se as características da mandíbula e maxila, em relação à erupção dentária, quando possível (Figura 10). Para mais, foi analisado o fusionamento dos ossos do pós-crânio (figura 11) e o processo da fusão das suturas cranianas (Figura 12). Vale ressaltar que todos esses métodos apresentados foram tratados de forma conjunta, o quer dizer que um determinado osso pode fornecer dados para a identificação de faixa etária e sexual, logo, as análises foram baseadas nisso.

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Figura 9 – Métodos para diferenciação sexual através das características cranianas. Quanto mais próximo ao número 5 maior probabilidade de pertencer ao sexo masculino, quanto mais próximo ao número 1, probabilidade maior de pertencer ao sexo feminino. Fonte: BUIKSTRA & UBELAKER, 1994.

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Figura 10 – Ordem cronológica da erupção dentária. Fonte: CAMPILLO & SUBIRÀ, 2004.

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Figura 12 – Exemplo de método para identificação da faixa etária através da fusão das suturas cranianas. Fonte: CAMPILLO & SUBIRÀ, 2004.

Para avaliar o nível de fragmentação utilizou-se novamente os métodos de Buikstra e Ubelaker (1994). As informações foram tiradas do capítulo 2, em que há uma tabela descrita como o resumo de procedimentos de inventário para esqueletos relativamente completos. Essa tabela divide os ossos em crânio e post crânio, vértebras, ossos dos pés e das mãos e outros fragmentos não atribuídos aos demais. De acordo com o procedimento quando os esqueletos apresentam mais de 75% dos ossos presentes são tidos como completos, os que possuem de 25% a 75% da conservação óssea são considerados parciais e os que têm menos de 25% possuem conservação pobre.

Estas porcentagens são indicadas para os ossos cranianos e post cranianos que não sejam as vértebras cervicais e torácicas, costelas, ossos do carpo e metacarpos, ossos do tarso (exceto o talus e o calcâneo) e as falanges dos pés e mãos. As diáfises dos ossos longos devem ser divididas em terços proximal, medial e distal. Para as vértebras cervicais, torácicas e costelas devem ser observadas o total das unidades, relatando o C3-C6 e T1-T9 (correspondentes a vértebras cervicais e torácicas, respectivamente). As costelas são separadas de acordo com sua lateralidade, contando-se o número total das que estão completas. Para os ossos do carpo, metacarpos, tarso (exceto talus e calcâneo), metatarsos e as falanges das mãos e dos pés torna-se necessário a contagem de cada um desses ossos, identificando a lateralidade de todos. Primeiramente, é descrito o número dos ossos presentes e, em seguida, o número dos ossos completos (>75%). E, por último, para os ossos não atribuídos nas categorias acima, é indicado a triagem dos ossos em um dos grupos como crânios, ossos longos, vértebras, ossos das mãos ou dos pés, escápula/escápula, ossos coxais, fragmentos variados post cranianos e não identificados.

Foram utilizados os materiais osteológicos de referência em toda a etapa das análises, assim como as fichas osteológicas. Os materiais osteológicos referem-se aos ossos utilizados no laboratório para consulta e comparação. As fichas usadas possuem informações e ilustrações de todos os ossos e dentes, de indivíduos adultos e crianças, preenchidos.

A base para as medições cranianas foi BUIKSTRA & UBELAKER (1994), referente ao capítulo 7. Neste tem todas as informações acerca dos pontos do crânio e da

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mandíbula que podem ser medidos, além da informação do tipo de equipamento indicado para tal. Trinta e quatro pontos de medição foram usados para esses dois ossos, sendo o crânio composto de vinte e quatro pontos e a mandíbula, de dez. Após isso, foi usado um software aplicado, denominado Ances Trees 3 , em que todas as medidas foram convertidas

em milímetros. Esta última etapa foi realizada pela mestranda em Antropologia Forense da Universidade de Coimbra, Gabriela Araújo dos Santos, que, uma vez feita a análise no software, passou as informações preliminares por meio de um pequeno relatório.

5. Resultados e Discussões

Por meio da pesquisa realizada sobre o acervo ósseo do sítio Largo da Matriz foi obtido informações etárias e sexuais de alguns indivíduos, ou seja, daqueles esqueletos que apresentavam uma conservação moderada, bem como o reconhecimento de algumas patologias ósseas, tendo sido frequente a aparição de processos degenerativos, e patologias dentárias. Algumas fraturas ósseas também foram encontradas, cujas foram classificadas em ante-mortem e post-mortem no presente trabalho. A seguir, estão dispostos os resultados e as considerações acima destes.

5.1. Informações etárias e sexuais

Verificou-se uma predominância de indivíduos adultos, além de uma frequência maior para indivíduos do sexo masculino, como ser observado nas tabelas 1 e 2 abaixo.

COMPARITIVO DE FAIXA ETÀRIA

Indivíduos adultos Indivíduos não adultos

Conjunto IV Conjunto V Conjunto VI Conjunto IV Conjunto V

Sepultura Idade Sepultura Idade Sepultura Idade Sepultura Idade Sepultura Idade

02 23-35 07 30-35 01 40-45 01 10-15 09 12 45-50 08 45-50 - - - - 09 18 +/-60 11 17-21 - - - -- - 12 35-40 - - - -- - 15 35-40 - - - -- - 16 35-45 - - - -- - 17 50-55 - - - -- - 18 +/-45 - - -

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-- - 19 30-35 - - - -Tabela 1 – Dados sobre a faixa etária dos indivíduos do sítio.

COMPARATIVO SEXUAL DOS INDIVÍDUOS

Sexo feminino Sexo masculino

Conjunto IV Conjunto V Conjunto VI Conjunto IV Conjunto V Sepulturas Sepulturas Sepultura Sepulturas Sepulturas

13 18 01 01 08 18 19 - 02 11 - - - 12 12 - - - - 14 - - - - 15 - - - - 16 - - - - 17 - - - -

-Tabela 2 – Dados sobre o sexo dos indivíduos do sítio.

Os dados dispostos nas tabelas dizem respeito somente àqueles indivíduos que foram passíveis de identificar sexo e idade, os demais esqueletos possuíam um nível de fragmentação maior, o que impossibilitou, neste trabalho, o diagnóstico de tais características. Em relação a um dos indivíduos nove do conjunto V, por se tratar de uma criança muito jovem, de aproximadamente uns nove anos, foi preferível não afirmar o sexo deste, pois os ossos das crianças ainda estão em constantes mudanças e, dessa forma, uma afirmação desse tipo é passível de muitos equívocos.

Tornou-se difícil a identificação sexual de alguns esqueletos, pois estes possuíam características sexuais mistas, ou seja, masculinas e femininas. Foi observado que alguns indivíduos femininos apresentavam ossos mais robustos e alguns indivíduos masculinos apresentavam ossos mais gráceis. Nesses casos, a atenção foi redobrada e buscou-se a observação de várias características ósseas em conjunto.

Não é possível inferir algo, no presente momento, a respeito da predominância do sexo masculino analisado. Isso se explica pelo fato de que os sexos de muitos esqueletos não puderam ser detectados, o mesmo se aplica aos aspectos etários dos indivíduos.

5.2. Patologias dentárias

Entre as patologias que aparecem com maior frequência estão as cáries, as periodontites, os cálculos dentários e os abcessos, este último, porém, em menor

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porcentagem quando comparado com os anteriores. Essas porcentagens podem ser visualizadas no gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Frequência das patologias encontradas nos esqueletos analisados.

Vale ressaltar que alguns esqueletos não possuíam dentição completa, seja por perdas post-mortem causadas por processos tafonômicos, seja por perdas ante-mortem, ou seja, causada ainda em vida (Figuras 13). Como pode ser observado nas imagens dispostas percebe-se diferenças nos tipos de perdas dentárias. As últimas, por ter ocorrido enquanto o indivíduo ainda estava vivo, possui algum grau de cicatrização, ao contrário das perdas dentárias post-mortem.

O grau de patologias encontradas, sendo algumas patologias já em nível elevado (como no caso das periodontites), pode indicar que esses indivíduos se enquadravam em um nível social e econômico baixos. O fato de as escavações terem evidenciado os esqueletos ao redor das igrejas, e não dentro destas, corrobora com o fato citado acima, já que o enterramento dentro dos templos destinava-se geralmente às pessoas economicamente mais favoráveis no meio social. Ao contrário, os enterramentos nos adros das igrejas destinavam-se aos indivíduos com status social baixo e que não podiam pagar pelos serviços funerários da época.

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Figura 13 – Mandíbula com perdas dentárias ante (indicadas por setas amarelas) e post-mortem (indicadas por setas verdes) do esqueleto 18, do conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

Além disso, algumas patologias dentárias se encontram em um nível severo, de quase perda dentária, o que indica que não existiam serviços odontológicos como os que temos hoje em dia. O fato da ausência de dentes com presença de material restaurador (usados nas cáries, por exemplo), corrobora com a afirmação acima, ou seja, que sequer existiam esses serviços para a população da época. Observou-se determinados indivíduos jovens que já possuíam perda dentária ante-mortem, então, baseando-se nas análises e nas bibliografias consultadas, muitos indivíduos recorriam à prática de extração dos dentes frente às patologias mais avançadas para não afetar os dentes adjacentes.

Cabe salientar que, embora essas patologias e a ausência de cuidados da saúde bucal tenham sido destacadas, essas doenças também podem ser influenciadas por fatores hereditários. Ou seja, a hereditariedade pode ter contribuído para agravar as patologias dentárias em alguns indivíduos.

As cáries encontradas apareceram em alguns dentes, não sendo identificada uma frequência da patologia em determinados dentes em comparação com outros. Isso quer dizer que as cáries foram encontradas em dentes diferentes. Em relação às periodontites, observou-se diferentes graus, sendo verificado em alguns indivíduos um grau tão severo de periodontite a ponto de uma quase perda dentária. Tanto os indivíduos jovens quanto os

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mais velhos possuíam os dentes com graus variados de periodontite, sendo estas associadas aos cálculos dentários (Figuras 14) Não foi muito observado o aparecimento de abcessos, em comparação com as patologias acima, tendo sido observados em poucas sepulturas apenas (Figura 15).

Figura 14 – Grau severo de periodontite no esqueleto 11 destacada com seta amarela, cálculos dentários destacado com seta vermelha. Esqueleto referente ao conjunto V. Foto: AQUIJE, 2019.

Figura 15 – Abcesso localizado no lado esquerdo da mandíbula do esqueleto 18, do conjunto IV. Abcesso destado com seta amarela. Foto: AQUIJE, 2019.

Além dessas, observou-se também a presença de hipoplasia nos dentes de um indivíduo nove, do conjunto V (Figura 16). Essa alteração dentária está geralmente associada a carências alimentares.

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Figura 16 – Setas amarelas destacando a hipoplasia nos dentes de um dos indivíduos nove, do conjunto V. A hipoplasia é caracterizada por essas linhas finas e claras dispostas horizontalmente no esmalte dos dentes. Foto: AQUIJE, 2019.

5.2.1. Desgastes dentários

Vários desgastes foram encontrados, sendo estes enquadrados em variados graus de intensidade. Os desgastes dos indivíduos adultos em geral demonstram que esses indivíduos tinham uma alimentação que exigia muito da dentição para consumir, ou seja, uma alimentação com alimentos mais duros. Muitos das maxilas e, principalmente, das mandíbulas apresentam desgastes dentários, em alguns casos ocorre o aparecimento da polpa do dente, ou seja, o canal vascularizado do dente.

Houve uma relação dos desgastes com a faixa etária de alguns indivíduos, onde oi possível perceber que indivíduos mais velhos apresentavam desgastes mais destacados. Isso se explica pelo fato dos desgastes serem de ordem progressiva, logo, os indivíduos mais jovens apresentavam desgastes mais leves (Figuras 17-18).

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Figura 17 – Dentes prataticamente sem desgastes em indivíduo infantil. Esqueleto 09, do conjunto V. Foto: AQUIJE, 2019.

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Figura 18 – Dentes praticamente sem desgastes do indivíduo jovem 11, conjunto V. Foto: AQUIJE, 2019.

Os molares, e em alguns casos os pré-molares, foram os que apresentaram os maiores índices de desgastes (Figura 19). Não foi observado esse fato nos caninos. Isso deve-se ao fato de os molares e os pré-molares sofrerem os maiores impactos durante os processos mastigatórios, ao contrário dos caninos que quase não são requeridos. Em alguns indivíduos foi encontrado um nível de desgaste alto nos incisivos, tanto superiores quanto inferiores (Figura 20). Isso pode indicar, mais uma vez, um maior requerimento desses dentes e a ingestão de alimentos mais duros, e até mesmo o uso desses dentes em trabalhos extramastigatórios, como ferramentas, por exemplo.

Figura 19 – Dentes molares com desgaste severo. Esqueleto 15, do conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

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Figura 20 – Desgaste severo nos incisivos do esqueleto 12, do conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

5.2.2. Modificações intencionais dos dentes

Dentro das observações dentárias foram constatados alguns dentes com formatos diferentes, e, através das análises, percebeu-se tratar de dentes intencionalmente modificados. Tais modificações foram encontradas presentes na arcada dentária de dois indivíduos, referentes aos conjuntos IV e V do sítio.

O primeiro dente encontrado com essa característica refere-se ao esqueleto 12, pertencente ao conjunto IV. O dente modificado diz respeito ao segundo molar inferior direito e apresenta formato triangular, com extremidade pontiaguda. Há a ocorrência de perdas dentárias ante-mortem no terceiro molar e no primeiro molar (Figura 21). A perda do terceiro molar parece ter sido ocasionada próxima à morte do indivíduo, pois não apresenta um processo de cicatrização completa.

O segundo dente com o mesmo incidente foi encontrado na sepultura 11, pertencente ao conjunto V. A modificação intencional está localizada no incisivo central superior, cuja apresenta também um formato triangular, porém, com sua extremidade mais arredondada (Figura 22).

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Figura 21 – Modificação intencional no segundo molar inferior direito destacada com círculo amarelo.Esqueleto 12, pertencente ao conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

Figura 22 – Modificação no incisivo central superior. Esqueleto 11, pertencente ao conjunto V. Foto: AQUIJE, 2019.

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No caso do primeiro dente, a localização da modificação não parece ser muito comum, já que possui um grau maior de dificuldade. Levantou-se a hipótese de se tratar de uma alteração realizada após a perda dos dentes adjacentes.

Essas modificações, por meio do que foi encontrada na presente análise, possuem particularidades e necessitaram de uma precisão dos que os fizeram e ferramentas específicas para tal.

5.3. Patologias ósseas

Algumas patologias ósseas foram encontradas, sendo a maior parte dessas localizadas nos esqueletos presentes no conjunto V. Isso se deu, principalmente, pelo fato de os esqueletos do referido conjunto possuir preservação melhor em relação ao conjunto IV, além de um maior número de sepulturas presentes em comparação ao conjunto IV e VI.

Os processos degenerativos apareceram com muita frequência, e em todos os conjuntos. Acometeram diferentes ossos, principalmente as vértebras, sendo esses ossos com processos degenerativos associados aos indivíduos adultos. Isso se explica pelo fato de os processos degenerativos ocorrerem em pessoas de no mínimo trinta e cinco anos, fato que foi observado nas sepulturas analisadas. Os processos degenerativos foram observados também em outros ossos (Figura 23).

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Figura 23 – Processo degenerativo no côndilo mandibular. Pode ser um indicador de dinfunção da articulação temporomandibular, destacado com círculo amarelo. Esqueleto 18, do conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

Como dito acima, os processos degenerativos acometem geralmente indivíduos a partir dos trinta e cinco anos, o que foi verificado nos conjuntos, cabe acrescentar aqui, entretanto, que essas degenerações parecem ter sido agravadas também por trabalhos que exigiam certo grau de esforço físico. Como no caso, por exemplo, dos processos degenerativos presentes nos ossos das mãos e dos pés em algumas sepulturas, e mesmo nos ossos dos braços e das pernas.

As infecções que acometeram os ossos no material estudado, da mesma forma, apareceram com muita frequência, tanto em ossos longos como em um crânio. Fato observado no indivíduo 12, oriundo do conjunto IV, cujo apresenta infecção no occipital do crânio (Figura 24). Em associação com as infecções, alguns ossos possuíam periostite também, como no caso do indivíduo 20, do conjunto V, em que há um grau alto de infecção e até mesmo um pouco de achatamento nos mesmos (Figuras 25-26). As causas das infecções ainda não foram determinadas.

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Figura 24 – Infecção na porção occipital do crânio destacado com seta amarela, referente ao esqueleto 12, do conjunto IV. Foto: AQUIJE, 2019.

Figura 25 – Achatamento da fíbula direita do esqueleto 20 representada pela assimetria do osso, pertencente ao conjunto V. Foto: AQUIJE, 2019.

Figura 26 – Destaque da infecção da fíbula direita em círculo amarelo. Osso do mesmo esqueleto acima, mas em outra posição. Foto: AQUIJE, 2019.

Referências

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