Registro: 2018.0000149504 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1000182-83.2014.8.26.0161, da Comarca de Diadema, em que é apelante FILIPE DOS ANJOS MARQUES, é apelado ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL DE DIADEMA.
ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente) e J.B. PAULA LIMA.
São Paulo, 27 de fevereiro de 2018. DIMITRIOS ZARVOS VARELLIS
RELATOR Assinatura Eletrônica
VOTO Nº 5753
APELAÇÃO nº: 1000182-83.2014.8.26.0161 COMARCA: DIADEMA
APELANTE: FILIPE DOS ANJOS MARQUES
APELADA: ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL DE DIADEMA JUIZ (A) SENTENCIANTE: MARISA DA COSTA ALVES FERREIRA
APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO INDENIZATÓRIA OFENSAS VIA REDE SOCIAL E IMPRESSOS Indenização por danos morais Preliminar de julgamento “extra petita” Não ocorrência Preliminar rejeitada Ato ilícito comprovado Dever de indenizar presente Redução da quantia fixada na sentença, de R$ 20.000,00 para R$ 15.000,00 Acolhimento Mantida a procedência em parte da ação Medida cautelar em apenso Não apreciação em sentença Causa Madura Cautelar procedente Recurso parcialmente provido.
Vistos.
Por meio da r. sentença de fls. 251/252, relatório ora adotado, a presente ação indenizatória por uso indevido de imagem ajuizada por ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL DE DIADEMA em face de FILIPE DOS ANJOS MARQUES foi julgada parcialmente procedente, condenado este último ao pagamento de indenização por danos morais na quantia de R$ 20.000,00, com juros a partir da citação e correção monetária da sentença. O réu foi condenado, ainda, ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.
Inconformado, recorre o réu arguindo preliminar de nulidade da sentença por ter havido julgamento extra petita. Assevera que o pedido de inicial referente aos danos morais tem como causa de pedir publicações ocorridas na página do facebook do réu (publicação em rede social). Diz que a sentença embasou a condenação em um anúncio de jornal. No mérito afirma inexistir prova de ofensa à honra objetiva da pessoa jurídica autora, bem como pontua ser extremamente elevado o quantum fixado em sentença a título de indenização. Pleiteia o acolhimento da preliminar com a nulidade da r. sentença, ou a improcedência da ação. Sucessivamente requer a redução da quantia relativa à indenização por danos morais (fls. 264/280).
A requerida ofertou contrarrazões pugnando pela manutenção da sentença (fls. 288/298).
Em petição autônoma requereu a autora o julgamento do recurso interposto (fls. 306).
É o relatório.
O recurso comporta parcial provimento.
A preliminar arguida em apelação deve ser afastada. A causa de pedir, como se sabe, deve ser exposta na inicial à luz do disposto no artigo 282, III, do Código de Processo Civil de 1973, aplicável ao caso1.
A causa de pedir, na doutrina de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, nada mais é do que o conjunto de razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido formulado (Curso de Processo Civil V.2, Processo de Conhecimento, 11ª Edição revista e atualizada, RT, 2013, pág72).
No caso concreto, e no tocante ao dano moral perseguido pela autora apelada, está claro na inicial que entende a recorrida ter o dano origem nas “menções à autora inseridas no site relacionamento do requerido e nos jornais” (fls. 06, item 28).
Não há, portanto, que se falar em julgamento extra
1 Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso,
respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
petita.
No mérito, o recurso não merece melhor sorte em relação à configuração do ilícito, e assim o é porque a condenação foi bem lançada à luz do conjunto probatório reunido nos autos.
Os documentos de fls. 20 (inserto em página de rede social do requerido) e 30 (página de periódico local), de autoria incontroversa do apelado, demonstram, de forma cristalina, a intenção deste em difamar o nome da associação apelada.
Nos dizeres lá expostos, cometeu a apelada “4 trapalhadas” e (sic) “pêga neste flagrante mau exemplo, a ACE reagiu com truculência, partindo ´para cima´ deste, que antes de fazer a denúncia, alertou a presidente”.
O ato ilícito praticado pelo apelante é inegável, pois atuou de modo a deixar a apelada em total descrédito quanto à campanha em questão.
Eventual veracidade dos fatos alegados pelo recorrente quanto à campanha promocional de Natal daquele ano, não deveriam ser expostos da forma como o foram, acompanhados de deboche e acusação de comportamento truculento pela recorrida.
A atuação do apelante em relação à apelada no presente caso não constituiu uma simples manifestação de opinião a respeito da campanha de Natal, sendo injustificada a forma de expressão tão-somente porque, segundo alegado, a campanha teria sido iniciada dias antes do momento adequado por conta do pagamento das respectivas custas.
É exatamente por isso que o MM. Juízo a quo andou bem quando do reconhecimento do ilícito praticado pelo recorrente.
Confira-se o disposto nos artigos 186 e 927, ambos do Código Civil, in verbis:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
Configurado o ato ilícito, necessária a fixação do valor do dano moral, sendo exatamente aqui que a r. sentença recorrida comporta modificação, respeitado o entendimento manifestado pelo MM. Juízo a quo.
Considerado o binômio relativo à fixação do valor da indenização por dano moral, a saber: a) necessidade de punição ao apelante, que não podia ofender injustificadamente a esfera jurídica de outrem; e b) imperiosidade da compensação à ofendida pelo dano suportado e, ainda, critérios específicos como a capacidade econômica do apelante e a repercussão do ressarcimento sobre a situação social e patrimonial da apelada, tudo a proporcionar a satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem permitir o enriquecimento sem causa e, ainda, estimular a não repetição de mesma repetição da conduta por parte do apelante, tem-se que o valor arbitrado em Primeira Instância foi um pouco elevado.
O valor da indenização deve ser reduzido a R$ 15.000,00, mais adequado ao caso por conta da inexistência de provas definitivas de fortuna por parte do apelante, sendo valor não irrisório em relação à ofensa suportada pela apelada.
Em atenção ao princípio da celeridade constitucional, a devolução da matéria ao conhecimento do Tribunal em razão da apelação interposta e, por fim, a ação cautelar ter sido submetida ao regular contraditório e ampla defesa, é de se reconhecer a aplicação do disposto no artigo 515, §3º, do Código de Processo Civil de 1973 a este processo.
A medida cautelar proposta pela apelada teve como pedidos a exclusão de mensagens veiculadas pelo apelado em página do usuário no
facebook.
Procedente a ação principal, há de se reconhecer também a procedência da ação cautelar, confirmando-se a r. decisão de fls. 41 daqueles autos, deferindo-se a exclusão por definitivo das mensagens indicadas. E tudo porque confirmados nos autos principais a fumaça do bom direito e o perigo na
demora, reconhecidos nos autos em apenso.
Com o retorno dos autos ao MM. Juízo a quo, oficiar-se-á ao FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA. para que ocorra a exclusão definitiva nos termos deste decisum.
Pelo meu voto, dá-se parcial provimento ao recurso nos termos da fundamentação.
DIMITRIOS ZARVOS VARELLIS Relator