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Medicina e cirurgia de animais exóticos, selvagens e marinhos

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos, Selvagens

e Marinhos

Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Johana Horta de Oliveira

Orientador: Professor Doutor Filipe da Costa Silva

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos, Selvagens

e Marinhos

Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Johana Horta de Oliveira

Orientador: Professor Doutor Filipe da Costa Silva

Composição do júri:

Professor Doutor Nuno Francisco Fonte Santa Alegria

Professora Doutora Maria Isabel Ribeiro Dias

Professor Doutor Filipe da Costa Silva

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Relatório submetido à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária, elaborado sob a orientação do Professor Doutor Filipe da Costa Silva.

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor Filipe da Costa Silva, pela sua orientação e camaradagem, pelas opiniões e críticas positivas, pela disponibilidade e paciência demonstrada, e por todos os conhecimentos transmitidos desde o primeiro dia de aulas até à presente data, indispensáveis para a concretização deste trabalho.

Ao pessoal do CVEP, em especial ao Doutor Joel Ferraz, à Doutora Francisca Gonçalves e à Doutora Rute Almeida, assim como ao Enfermeiro Pedro Castro e à Enfermeira Vanessa Morais, pela amizade e por todos os ensinamentos transmitidos, tanto teóricos como práticos.

A toda a equipa do CRAM-Q, que me integraram temporariamente na sua família, mas com destaque para a Bióloga Marisa, a Doutora Sara, a Enfermeira Cátia, a Bióloga Cláudia e a Enfermeira Tânia, com quem tive oportunidade de trabalhar e aprender sobre muito mais que a minha arte.

Aos integrantes do LHAP-UTAD, principalmente às professoras Doutora Isabel Pires, Doutora Adelina Gama e Doutora Anabela Alves, pela simpatia e doutrina transferida não só durante o estágio, mas ao longo de todos estes anos.

Aos estagiários Mariana Bernardino, Vanda Moura, Virgínia Ferreira e Laura Riem, por nunca hesitarem em ajudar os outros quando estes mais precisam.

À Doutora Ângela Pereia, por escutar e esclarecer todas as minhas dúvidas, pela amizade e preocupação nos tempos difíceis, pelo apoio e disponibilidade oferecidos, todos estes essenciais para alcançar uma nova meta.

A todos os meus amigos, por todos os bons momentos que passámos, pelo apoio nos momentos de adversidade e pelo espírito de entreajuda.

À toda a minha família, por nunca desistirem de mim e continuamente incentivarem-me a olhar em frente, por incentivarem-me ampararem nos moincentivarem-mentos difíceis, por incentivarem-me darem um lar acolhedor e pela felicidade que a vossa existência traz à minha vida.

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Resumo

Este relatório final de estágio cujo tema é “Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos, Selvagens e Marinhos” constitui o resumo de atividades realizadas durante os estágios concretizados no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária ao longo de um período aproximado de 6 meses.

A área da Medicina Veterinária de animais exóticos, selvagens e marinhos tem vindo a evoluir recentemente graças ao interesse crescente da população na aquisição de novos animais de estimação, no caso de algumas espécies exóticas, assim como na preocupação pela conservação da Natureza e reabilitação de animais selvagens.

Sendo uma área ainda em desenvolvimento, necessita de recorrer por vezes aos conhecimentos e práticas da Medicina Veterinária utilizados em animais de companhia não exóticos e em animais de produção. Torna-se assim imprescindível a parceria com outras organizações associadas ou não diretamente à Medicina Veterinária a nível nacional e internacional para a troca de informações sobre experiências anteriores de casos clínicos de interesse e, também para facultar ou requisitar recursos essenciais para a reabilitação dos animais.

O conteúdo deste trabalho inclui, para além da enumeração das atividades executadas ao longo dos estágios e respetiva casuística, uma breve revisão da literatura associada a cada caso clínico descrito, e que se referem a espécies de diferentes classes taxonómicas: o tratamento da síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus); a resolução cirúrgica de uma fratura do casco numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.); uma transfusão sanguínea realizada numa tartaruga-boba (Caretta caretta); o diagnóstico e o tratamento de uma infeção parasitária gastrointestinal por anisaquídeos numa foca cinzenta (Halichoerus grypus) e a modificação comportamental em golfinhos-comuns de bico curto (Delphinus delphis).

Palavras-chave: síndrome vestibular, fratura do casco, transfusão sanguínea, infeção parasitária gastrointestinal, modificação comportamental

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Abstract

This internship report which theme is "Medicine and Surgery of Exotic, Wildlife and Marine Animals” is the summary of activities carried out during the internship implemented under Master degree in Veterinary Medicine over a period of approximately 6 months.

The area of Veterinary Medicine in exotic pets, wildlife and marine animals has recently evolved thanks to the growing public interest in acquiring new pets, in the case of some exotic species, as well as for the concern for nature conservation and rehabilitation of wild animals.

Being an area still under development, sometimes it is needed to resort to the knowledge and practice of Veterinary Medicine used in non-exotic pets and farm animals. Thus, it becomes imperative to partner with other organizations directly related or not to Veterinary Medicine at a national and international level for the exchange of information on previous experiences of clinical cases of interest, and also to request or provide essential resources for the rehabilitation of animals.

The content of this paper includes, in addition to the list of activities realized over the stages and its study, a brief literature review associated with each clinical case described, which refer to species of different taxonomic classes: the treatment of vestibular syndrome in a budgerigar (Melopsittacus undulatus), the surgical resolution of a shell fracture in a semiaquatic turtle (Trachemys sp.); a blood transfusion performed on a loggerhead sea turtle (Caretta caretta); the diagnosis and treatment of a gastrointestinal parasitic infection by anisakid in a gray seal (Halichoerus grypus) and the behavioral modification in short-beaked common dolphin (Delphinus delphis).

Keywords: vestibular syndrome, shell fracture, blood transfusion, gastrointestinal parasitic infection, behavioral modification

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Índice geral

Agradecimentos ... i

Resumo ... iii

Abstract ... v

Índice geral ... vii

Índice de imagens ... xi

Índice de gráficos ... xv

Índice de tabelas ... xvii

Acrónimos, siglas e abreviaturas ... xix

Capítulo 1 - Introdução... 1

1. Introdução ... 1

1.1. CVEP: Centro Veterinário de Exóticos do Porto ... 1

1.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ... 2

1.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ... 2

Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas ... 5

2. Atividades desenvolvidas ... 5

2.1. CVEP ... 5

2.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ... 6

2.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ... 8

Capítulo 3 - Casos clínicos ... 11

3. Casos clínicos ... 11

3.1. CVEP ... 11

3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus ... 11

3.1.1.1. Relato do caso ... 11

3.1.1.2. Revisão da literatura: Patologia vestibular em aves ... 12

3.1.1.2.1. Anamnese ... 12

3.1.1.2.2. Exame físico ... 13

3.1.1.2.3. Exame neurológico ... 14

3.1.1.2.4. Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico ... 18

3.1.1.2.5. Diagnóstico ... 19

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3.1.1.2.7. Tratamento ... 20

3.1.1.2.8. Prognóstico ... 21

3.1.2. Reconstrução cirúrgica de uma fractura do casco em Trachemys sp. ... 21

3.1.2.1. Relato do caso ... 21

3.1.2.2. Revisão da literatura: Reconstrução cirúrgica de fraturas do casco em tartarugas semiaquáticas ... 24

3.1.2.2.1. Anatomia e fisiologia do casco ... 24

3.1.2.2.2. Fratura do casco ... 25

3.1.2.2.3. Prognóstico ... 25

3.1.2.2.4. Reconstrução cirúrgica do casco ... 26

3.1.2.2.4.1. Epóxi e fibra de vidro ... 26

3.1.2.2.4.2. Fixação ortopédica externa ... 27

3.1.2.2.4.3. Abraçadeira de Nylon ... 29

3.1.2.2.4.4. Prótese ... 30

3.1.2.2.4.5. Outros materiais: Orthoplast®, Vet-lite® e VTP™ ... 31

3.1.2.2.5. Fechamento assistido a vácuo - Pressão negativa controlada ... 31

3.2. CRAM-Q ... 33

3.2.1. Transfusão sanguínea em Caretta caretta ... 33

3.2.1.1. Relato do caso ... 33

3.2.1.2. Revisão da literatura: Técnica de transfusão sanguínea em tartarugas marinhas ... 35

3.2.1.2.1. Indicação para transfusão ... 35

3.2.1.2.2. Recetor ... 36

3.2.1.2.3. Dador ... 36

3.2.1.2.4. Contenção e captura ... 36

3.2.1.2.5. Acesso para recolha e transfusão de sangue ... 37

3.2.1.2.6. Cross-matching ... 38

3.2.1.2.7. Anticoagulantes ... 39

3.2.1.2.8. Manipulação do sangue ... 39

3.2.1.2.9. Filtro ... 39

3.2.1.2.10. Quantidade de sangue a transferir ... 39

3.2.1.2.11. Evolução ... 40

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3.2.2. Infecção parasitária por anisaquídeos em Halichoerus grypus ... 41

3.2.2.1. Relato do caso ... 41

3.2.2.2. Revisão da literatura: Infeção parasitária por anisaquídeos em pinípedes ... 46

3.2.2.2.1. Ciclo de vida ... 46

3.2.2.2.2. Espécies afectadas ... 46

3.2.2.2.3. Sinais clínicos ... 47

3.2.2.2.4. Diagnóstico definitivo ... 47

3.2.2.2.5. Tratamento ... 48

3.2.2.2.6. Impacto médico, económico e ecológico ... 48

3.2.3. Modificação comportamental em Delphinus delphis ... 49

3.2.3.1. Relato do caso ... 49

3.2.3.2. Revisão da literatura: Comportamento dos golfinhos na Natureza ... 57

3.2.3.2.1. Distribuição e habitat ... 57 3.2.3.2.2. Estrutura social ... 58 3.2.3.2.3. Alimentação ... 59 3.2.3.2.4. Comportamento ... 60 3.2.3.2.5. Reprodução ... 61 3.2.3.2.6. Longevidade ... 62 Capítulo 4 - Conclusão ... 63 4. Conclusão ... 63 Referências bibliográficas ... 65

Referências bibliográficas consultadas da Internet ... 69

ANEXO 1 – Casuística: CVEP, CRAM-Q e LHAP-UTAD ... 71

ANEXO 2 – Análises sanguíneas da “Baleal” ... 81

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Índice de imagens

Imagem 1 - Atividades desenvolvidas no CVEP: A - A remoção cirúrgica de uma massa no joelho de Iguana iguana; B - A necrópsia a Testudo horsfieldii; C - A lavagem das penas de

Columbia livia. ... 5

Imagem 2 - Atividades desenvolvidas no CRAM-Q: A – Alimentação a Delphinus delphis B - Transfusão sanguínea a Caretta caretta; C - Colonoscopia a Halichoerus grypus ... 7 Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas causas de morte (A) Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C)

Sus scrofa (traumatismo) ... 8

Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o lado direito ... 11 Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem® ... 12 Imagem 6 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça com o polegar e o indicador ... 14 Imagem 7 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça entre o indicador e o dedo médio ... 14 Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B – Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral ... 16 Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor podal; B – Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa ... 17 Imagem 10 - Manchas brancas no casco do “Frederico” ... 21 Imagem 11 – Placas ortopédicas: A - Placas ortopédicas posicionadas no plastrão do “Frederico”; B - Remoção das placas ortopécias ... 22 Imagem 12 - Evolução da fratura do “Frederico” ... 23 Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das lesões na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos marginais junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos marginais do lado direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça (Fonte: Fotos gentilmente cedida pelo CVEP) ... 23 Imagem 14 - Identificação dos escudos do casco de um quelónio ... 24 Imagem 15 - Reconstrução da fratura com acrílico num quelónio ... 26 Imagem 16 - Reconstrução cirúrgica com: A – placas ortopédicas a Terrapene carolina

carolina; B - arames cirúrgicos a Pseudemys nelsoni; C – agrafos de cavilhas intramedulares a Testudo hermanni ... 28

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Imagem 17 - Reconstrução de uma fractura com as abraçadeiras de Nylon a Chelydra

serpentina: A – colagem das selas de montagem; B – Aperto das abraçadeiras de Nylon com

um alicate; C – Resultado final ... 29

Imagem 18 – Reconstrução cirúrgica de uma fratura com ganchos e abraçadeiras de Nylon a Testudo graeca: duas abraçadeiras de Nylon comuns (pretas) foram utilizadas para reduzir a fratura dorsoventral, enquanto que para conseguir a redução da fratura craniocaudal foi necessário recorrer a uma abraçadeira de Nylon mais resistente (branca) ... 30

Imagem 19 – Reconstrução cirúrgica da fratura da carapaça a Testudo hermanni: A – Lesão; B – Molde do defeito; C – Colagem do molde pintado à carapaça ... 30

Imagem 20 – Reconstrução cirúrgica de fraturas recorrendo a: A – Gesso de Ortoplast® em Sternotherus odoratus; B – Vet-lite® em Trachemys scripta; C – Material termo-moldável em Trachemys scripta scripta ... 31

Imagem 21 – Fechamento assistido a vácuo a Caretta caretta ... 32

Imagem 22 - Dador: Tartaruga boba “Pseudo” ... 33

Imagem 23 - Transfusão sanguínea na “Storm ... 34

Imagem 24 - Tartaruga boba “Storm” em março ... 35

Imagem 25 - Contenção de uma tartaruga marinha ... 37

Imagem 26 - Recolha de sangue do seio cervical dorsal de uma tartaruga marinha ... 38

Imagem 27 - Prova cruzada negativa do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia em felídeos ... 38

Imagem 28 - Prova cruzada positiva do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia em felídeos ... 38

Imagem 29 - Oxyglobin ® Biopure: hemoglobina bovina purificada ... 40

Imagem 30 - Foca cinzenta “Baleal” ... 41

Imagem 31 - Raio-X do abdómen lateral da “Baleal” ... 42

Imagem 32 - Acesso venoso para colheita de sangue na Phoca vitulina ... 42

Imagem 33 – Intubação endotraqueal da “Baleal” ... 43

Imagem 34 – Anisaquídeos ... 43

Imagem 35 – Hidratação oral da “Baleal” ... 45

Imagem 36 – Suplementos vitamínicos AQUAVITS ... 45

Imagem 37 - Ciclo de vida de um anisaquídeo: Anisakis simplex ... 46

Imagem 38 - Nematodes (possivelmente) do género Contracaecum aderidos à mucosa gástrica de Pagophilus groenlandicus ... 47

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Imagem 39 - Ovo de Anisakis sp ... 47

Imagem 40 - Ovo de Contracaecum ... 47

Imagem 41 – Golfinhos-comuns de bico curto “Barra” e “Martinha” ... 49

Imagem 42 - Posicionamento no tanque (oval) dos participantes durante a alimentação ... 51

Imagem 43 - Bidão de plástico ... 53

Imagem 44 - Brincadeiras com a mangueira ... 53

Imagem 45 - “Bank of fish” ... 54

Imagem 46 - Evolução do esquema “Paralelo” ... 55

Imagem 47 - Distribuição mundial de Delphinus delphis ... 57

Imagem 48 - Delphinus delphis ... 58

Imagem 49 - “Feeding swarm” ... 59

Imagem 50 - Caça cooperativa de cavalas pelos tubarões e golfinhos ... 60

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Índice de gráficos

Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais pertencem ... 6 Gráfico 2 - Casuística observada no CRAM-Q em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais pertencem ... 7 Gráfico 3 - Casuística observada no LHAP-UTAD em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais pertencem ... 8

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Índice de tabelas

Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças ... 18 Tabela 2 - Tratamento antiparasitário aplicado na “Baleal” ... 44 Tabela 3 - Anti-helmínticos usados em pinípedes ... 48 Tabela 4 - Número de animais observados: CVEP. ... 71 Tabela 5 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os mamíferos .... 72 Tabela 6 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam as aves ... 74 Tabela 7 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os répteis ... 76 Tabela 8 - Descrição da casuística do CVEP segundo os restantes serviços gerais requisitados ... 77 Tabela 9 - Número de animais observados: CRAM-Q. ... 78 Tabela 10 - Descrição da casuística segundo o motivo de ingresso, o diagnóstico e o respetivo destino final ... 78 Tabela 11 – Número de animais observados: LHAP-UTAD. ... 80 Tabela 12 - Diagnóstico macroscópico dos animais necropsiados ... 80 Tabela 13 - Resultado das análises sanguíneas da “Baleal” com respetivos valores de

referência para a foca cinzenta ... 81 Tabela 14- Nomes científicos e nomes comuns das diferentes espécies animais descritas ... 83

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Acrónimos, siglas e abreviaturas

% Percentagem

µ Micro

ACD Ácido-citrato-dextrose

ALP Fosfatase alcalina

ALT Alanina aminotransferase

AST Aspartato transaminase

BID “bis in die” (duas vezes por dia)

BUN Nitrogénio ureico no sangue

CHGM Concentração de Hemoglobina Globular Média CPK Creatina fosfotransferase

CRAM-Q Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios CVEP Centro Veterinário de Exóticos do Porto

EDTA Ácido etilenodiaminotetracético

FA Frequência absoluta

FR Frequência relativa

ga Gauge

GGT Gamaglutamiltransferase

GMS “Global System for Mobile communications”(Sistema global de comunicações móveis)

GPS “Global Positioning System” (Sistema de posicionamento global)

Ht Hematócrito

IM Intramuscular

IRM Imagem por Ressonância Magnética

IV Intravenoso

L3 Vertebra lombar 3

L4 Vertebra lombar 4

LDH Lactato desidrogenase

LHAP-UTAD Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

NCI Nervo cranial olfatório

NCII Nervo cranial ótico

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NCIV Nervo cranial troclear

NCV Nervo cranial trigémio

NCVI Nervo cranial abducente

NCVII Nervo cranial facial

NCVIII Nervo cranial vestibulococlear NCIX Nervo cranial glossofaríngeo

NCX Nervo cranial vago

NCXI Nervo cranial acessório

NCXII Nervo cranial hipoglosso

NMI Neurónio Motor Inferior

NMS Neurónio Motor Superior

PDW “Platelet Distribution Width” (Índice de distribuição plaquetária)

PO “per os”(por via oral)

PT Proteínas Totais

QUID “quarter in die” (quarto vezes por dia)

RDW “Red cell Distribution Width” (índice de distribuição dos eritrócitos)

SC Subcutânea

SID “semel in die” (uma vez por dia)

TC Tomografia Computorizada

TSH Tirotropina

TID “ter in die” (três vezes por dia)

UI Unidades Internacionais

VAC “Vaccum Assisted Closure” (fechamento assistido a vácuo)

VGM Volume Globular Médio

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Capítulo 1 - Introdução

1. Introdução

Os estágios curriculares efetuados ao longo destes 6 meses permitiram a complementação e a implementação de conhecimentos teóricos e práticos de Medicina Veterinária com consequente preparação para a vida profissional através do contacto com o ambiente de trabalho. A duração de cada um foi de 3 meses no Centro Veterinário de Exóticos do Porto, de 2 meses no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios e aproximadamente de 1 mês no serviço de necrópsias do Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A concretização de estágios em diferentes áreas permitiu a aprendizagem de metodologias únicas dedicadas a cada uma, assim como da sua importância como contributo para a sociedade.

O principal objetivo deste trabalho é o de mostrar 3 realidades diferentes a nível nacional no âmbito dos animais exóticos e selvagens, descrevendo as diferentes metodologias, limitações e especificações, que serão demonstradas através da descrição de abordagens clínicas de casos exemplares de cada realidade. O relato destes casos clínicos permite exemplificar a versatilidade do médico veterinário nas diversas áreas de atuação do médico veterinário, principalmente na clínica de animais exóticos e na reabilitação de animais marinhos. Outro objetivo deste relatório é o de descrever os conhecimentos e as técnicas aprendidas no decorrer dos estágios curriculares que serão úteis na prática da Medicina Veterinária no futuro.

1.1. CVEP: Centro Veterinário de Exóticos do Porto

O Centro Veterinário de Exóticos do Porto é uma clínica de animais exóticos de companhia localizada no concelho do Porto e teve a sua inauguração em março de 2009.

Como o próprio nome indica, destina-se à prática clínica de animais de estimação exóticos como aves, répteis e mamíferos que não sejam o cão e o gato. Outras espécies de animais incluem aracnídeos, anfíbios, moluscos, peixes, entre outros.

Há alguns anos atrás, o conhecimento dos animais exóticos era escasso, pois muitos veterinários consideravam que estes animais não seriam capazes de usufruir da mesma atenção por parte dos proprietários e, como tal, estes últimos não estariam dispostos a dispensar dinheiro para providenciar os cuidados de saúde adequados (Brown, 2005). No entanto, o interesse pelos animais exóticos como animais de companhia tem vindo a aumentar cada vez mais nestas últimas décadas (Orti et al, 2004).

(28)

Capítulo 1 - Introdução

Assim, torna-se imprescindível a evolução dos conhecimentos sobre os novos animais de estimação para o fornecimento de cuidados médico-veterinários adequados a cada espécie (Brown, 2005).

1.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios

O Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios é um centro de recuperação para a fauna salvagem, sendo um dos dois centros de animais marinhos em Portugal. Está localizado no concelho da Figueira da Foz, tendo a sua sede numa Casa Florestal que fazia parte dos antigos Serviços Florestais na Mata Nacional de Quiaios. Este centro pertence à Sociedade Portuguesa da Vida Selvagem, tratando-se de uma associação científica não lucrativa desde que foi criada em 2006.

O principal objetivo do CRAM-Q é a reabilitação e a consequente reintrodução de animais marinhos ao seu habitat natural, particularmente aves, mamíferos e répteis. Também recebe outras espécies de animais que podem permanecer no CRAM-Q ou serem transferidos para outros centros.

Os animais selvagens são constituídos por mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes e outros animais invertebrados. Apesar de pertencerem às mesmas classes dos animais observados nas diversas práticas clínicas e, apresentarem semelhanças estruturais nas afeções que os atingem, exigem um maneio e uma abordagem terapêutica totalmente diferentes (Stoker, 2005).

1.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

O Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro começou oficialmente a sua atividade em setembro de 1988 e está localizado no edifício das Ciências Agrárias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro do concelho de Vila Real.

Neste laboratório, é prestado o serviço médico-veterinário de diagnóstico em Anatomia Patológica Veterinária, que detém as valências de citologia, de necrópsia e de diagnóstico histológico (Anónimo, 2013). As suas principais funções constituem a prevenção, o rastreio, o diagnóstico e o prognóstico de doenças em animais pertencentes a diferentes categorias taxonómicas (Anónimo, 2014). Para tal, recorre à avaliação, ao planeamento e ao processamento de amostras de tecidos e de células colhidas de organismos vivos ou mortos

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Capítulo 1 - Introdução

(Lima, 2007). São diversos os métodos e as técnicas aplicadas para a sua observação macroscópica, microscópica e ultra-estrutural com vista ao diagnóstico anátomo-patológico, ao ensino e à investigação (Anónimo, 2014). As investigações desenvolvidas no LHAP pertencem às áreas de oncologia e de patologia animal (Anónimo, 2013).

As necrópsias são realizadas em instalações próprias no Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A necrópsia é um exame realizado com as seguintes finalidades: determinar a causa que originou a morte ou doença; diagnosticar morfologicamente e etiologicamente a patologia; auxiliar o diagnóstico clínico criando uma conexão entre dados clínicos e a doença manifestada; identificar anomalias congénitas; acompanhar a evolução da terapêutica com o intuito de melhorar o seu emprego; participar ao clínico sobre a necessidade de implementação de medidas sanitárias ou saúde pública; e recolher dados para análise estatística ou epidemiológica (Oliveira et al, 2004).

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Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Imagem 1 - Atividades desenvolvidas no CVEP: A - A remoção cirúrgica de uma massa no joelho de

Iguana iguana; B - A necrópsia a Testudo horsfieldii; C - A lavagem das penas de Columbia livia. (Fotos gentilmente cedidas pelo CVEP).

2. Atividades desenvolvidas

Foram desenvolvidas diferentes atividades nos 3 estágios curriculares realizados no âmbito do Mestrado Integrado da Medicina Veterinária, graças à casuística diversificada assistida em cada estágio.

2.1. CVEP

No Centro Veterinário de Exóticos do Porto destacam-se como ações desempenhadas:  O acompanhamento de consultas; a contenção, a pesagem e a realização de exames

físicos nos animais; a medição de sinais vitais como a frequência cardíaca, a frequência respiratória e a temperatura; a administração de medicamentos por via intramuscular e subcutânea a pequenos mamíferos, a aves e a répteis; a alimentação forçada por entubação gástrica com sonda a aves e a quelónios e, através de seringa, a pequenos mamíferos; a realização de análises de urina recorrendo a tiras urinárias; a execução e posterior visualização de esfregaços de fezes, de sangue, e de pelos ao microscópico;

 A observação e a assistência em procedimentos veterinários como as desparasitações, as vacinas, as administrações de fármacos por via intravenosa e intraóssea, a reanimação de animais, as cirurgias (Imagem 1A), as necrópsias (Imagem 1B) e os exames complementares de diagnóstico como as análises sanguíneas, as radiografias e as ecografias;

 A visualização e a participação em outras atividades como a tosquia de coelhos, os banhos (Imagem 1C), o corte de unhas, de penas e do bico em aves e o corte de unhas em pequenos mamíferos;

 O auxílio na manutenção da higiene e bem-estar dos animais com limpeza das instalações e das respetivas jaulas, o fornecimento de água e de alimentos frescos.

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Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais

pertencem.

Relativamente à casuística observada (251 casos), os pequenos mamíferos (143 casos) foram os animais que mais visitaram as instalações do CVEP, seguidos pelas aves (81 casos) e finalizando nos répteis (28 casos) (Gráfico 1).

No total foram avaliados 242 animais (Anexo 1, Tabela 4). Quanto ao motivo da requisição dos serviços do CVEP, estes variavam desde o serviço de hotelaria, a diagnóstico e tratamento de patologias diversas (Anexo 1, Tabelas 5-8).

2.2. CRAM-Q

Os trabalhos desenvolvidos durante o estágio no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios incluíram:

 A admissão de animais; a contenção, a pesagem e a realização de exames físicos;  A preparação e a alimentação de aves, de tartarugas marinhas, de focas e de golfinhos

(Imagem 2A); a alimentação forçada por entubação gástrica com sonda a uma tartaruga marinha e a aves;

 A hidratação oral por sonda gástrica a aves e a hidratação intracelómica a tartarugas marinhas;

 A administração de fármacos por via intramuscular a aves, a tartarugas marinhas e a focas;

 A colheita de sangue a aves;  A libertação de aves; 32% 57% 11% Aves Mamíferos Répteis

(33)

Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Imagem 2 - Atividades desenvolvidas no CRAM-Q: A – Alimentação a Delphinus delphis B - Transfusão

sanguínea a Caretta caretta; C - Colonoscopia a Halichoerus grypus (Fonte Fotos gentilmente cedidas pelo CRAM-Q).

Gráfico 2 - Casuística observada no CRAM-Q em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os

animais pertencem.

 A biometria de tartarugas marinhas;

 A limpeza e a manutenção das instalações, das jaulas dos animais e dos tanques de reabilitação com medição dos parâmetros físicos da água;

 A visualização de procedimentos médico-veterinários como as necrópsias, a transfusão sanguínea a uma tartaruga marinha (Imagem 2B), as endoscopias com anestesia a uma foca (Imagem 2C) e os exames complementares de diagnóstico como as colheitas de sangue, as radiografias e as ecografias.

A maioria da casuística observada (39 casos) pertence à classe das aves (32 casos), seguido dos mamíferos (4 casos) e, finalmente, dos répteis (3 casos) (Gráfico 2).

80% 12% 8% Aves Mamíferos Répteis

(34)

Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas causas de morte (A)

Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C) Sus scrofa (traumatismo) (Fotos gentilmente cedidas pelo LH-UTAD).

Na totalidade foram observados 39 animais (Anexo 1, Tabela 9). Os motivos de ingresso nos répteis e nos mamíferos foram variados, já nas aves estes eram frequentemente associados a traumatismo ou à presença de penas danificadas (Anexo 1, Tabela 10).

2.3. LHAP-UTAD

No estágio decorrido no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, as atividades desenvolvidas envolveram predominantemente a realização de necrópsias e, sempre que possível, a determinação da causa de morte através do diagnóstico macroscópico das lesões examinadas (Imagens 3A, 3B e 3C).

Durante o estágio curricular no LHAP-UTAD, da casuística total observada (18 casos) o maior número de casos clínicos pertence à classe dos mamíferos (11 casos), seguido dos répteis (6 casos) e, finalmente, as aves (1 caso) (Gráfico 3).

6% 61% 33% Aves Mamíferos Répteis

(35)

Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Foram examinados 18 animais (Anexo 1, Tabela 11). O traumatismo constituiu a causa de morte obtida pelo diagnóstico macroscópico num grande número de mamíferos selvagens (Anexo 1, Tabela 12).

(36)
(37)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o

lado direito (Foto gentilmente cedida pelo CVEP).

3. Casos clínicos

Os casos clínicos descritos pertencem à casuística observada nos estágios executados no CVEP e no CRAM-Q.

A síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus) e a fratura do casco numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.) foram os casos clínicos escolhidos do Centro Veterinário de Exóticos do Porto; já a transfusão sanguínea numa tartaruga-boba (Caretta

caretta), a infeção parasitária por anisaquídeos numa foca cinzenta (Halichoerus grypus) e a

modificação comportamental dos golfinhos-comuns de bico curto (Delphinus delphis) foram os eleitos do CRAM-Q.

3.1. CVEP

3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus 3.1.1.1. Relato do caso

No dia 6 de setembro de 2013, o “Gastão”, um periquito macho de idade desconhecida com 33 gramas de peso, surgiu no CVEP com sinais neurológicos que teriam surgido há aproximadamente 3 horas. A ave apresentava-se alerta mas demostrava a presença de tiques/espasmos evidentes contínuos. O corpo do

animal enrolava-se parcialmente para o lado direito, regressando a uma posição inicial normal (Imagem 4). Também apresentava ataxia em marcha e em estação.

O animal fora adquirido pelo proprietário há aproximadamente 3 meses. A sua alimentação era à base de sementes, estando a sua gaiola localizada

durante o dia na varanda, e à noite na cozinha. Dado o posicionamento habitual do alojamento do animal, existia uma forte suspeita de que o animal pudesse ter estado em contacto com fumos de grelhadores.

Não foi possível realizar um exame físico completo ao “Gastão” devido à presença de uma incoordenação motora grave e, do seu estado geral não o aconselhar. Como tal, o animal fora imediatamente internado e colocado numa câmara de oxigénio.

Durante o internamento, foi administrado tratamento de suporte com fluidoterapia recorrendo a Lactato Ringer e Duphalyte® SC BID para hidratar e cobrir possíveis

(38)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem®

(Fonte:

http://www.drsfostersmith.com/product/prod_display.c fm?c=5059+5911+5913+6205&pcatid=6205).

deficiências nutricionais, não tendo sido necessário proceder a alimentação forçada dado que a ave conseguia consumir alimento por si própria.

Também foi iniciado antibioterapia com 10 mg/Kg IM BID de enrofloxacina, pois outro diagnóstico diferencial para a sintomatologia vestibular seria a de uma infecção; e terapia anti-inflamatória com 0,5 mg/Kg IM SID de meloxicam (Loxicom 5mg/mL) para reduzir a inflamação a nível intracraniano.

O “Gastão” melhorou no dia seguinte, estando ausente o comportamento de enrolamento que apresentava no dia anterior. Assim, teve alta, com indicações para continuar com

enrofloxacina por mais 10 dias PO e 0,3 mg/Kg PO SID de meloxicam

(Meloxivet® 1,5 mg/mL) por 5 dias. Também foi recomendado a mudança da dieta com uma ração específica para periquitos (Imagem 5).

No dia 20 de novembro, o CVEP contatou novamente o proprietário do “Gastão”. Este referiu que a ave estava totalmente recuperada e já não apresentava quaisquer dos sinais neurológicos que a afligiram.

3.1.1.2. Revisão da literatura: Patologia vestibular em aves 3.1.1.2.1. Anamnese

A anamnese é importante para a recolha de informações sobre o animal. Esta permite ao veterinário planificar o exame físico e decidir quais os exames complementares de diagnóstico a serem efetuados para alcançar um diagnóstico definitivo, e consequentemente estabelecer a terapêutica a realizar (Tully Jr., 2009).

O veterinário também deve possuir conhecimentos sobre a taxonomia da ave, o dimorfismo sexual e os comportamentos específicos de cada espécie (Doneley et al, 2006). Uma questão importante é saber se o proprietário apresenta conhecimentos gerais sobre o animal que possui e se estes estão a ser aplicados na prática, tanto a nível ambiental como nutricional (Tully Jr., 2009).

(39)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Entre os dados a recolher, para além do motivo da consulta, estão: a identificação completa do animal (se possível) com determinação da origem e a data de aquisição do animal; o meio ambiente em que a ave habita, nomeadamente o tipo e a localização do alojamento; a presença de outras aves ou de outros animais; a possibilidade de descanso durante a noite e o acesso à luz solar durante o dia; a probabilidade de contactar com substâncias tóxicas; o maneio alimentar com descrição do tipo de alimentos, suplementos e minerais fornecidos, assim como a disponibilidade de água potável; e ainda a história médica prévia do animal, nomeadamente quais as afeções a que o animal já foi sujeito, o tratamento efetuado e a respetiva resposta (Donneley et al, 2006).

3.1.1.2.2. Exame físico

A não ser que seja necessário providenciar assistência médica de emergência, o exame físico começará com a observação externa do animal, tendo em especial atenção à respiração, ao comportamento, à aparência geral e a qualquer outra alteração mencionada pelo proprietário. Esta observação inicial determinará se o estado hígido do animal possibilita a sua manipulação para um exame físico mais completo (Tully Jr., 2009).

Para se proceder à captura e contenção da ave, as janelas e as portas devem ser fechadas e as ventoinhas desligadas. Geralmente, as aves diurnas ficam desorientadas com a redução da luz solar disponível, que pode ser conseguida ao cobrir a jaula do animal com um pano opaco (Malley, 1996). Outra hipótese é utilizar uma fonte de luz mais fraca ou de cor azul ou vermelha para acalmar o animal. Estas ações permitirão uma contenção com a mínima resistência por parte da ave (Girling, 2003).

Antes de remover o animal da jaula, recomenda-se a retirada de todos os poleiros, brinquedos, comedouros e bebedouros para evitar que aquele se lesione (Malley, 1996). A cabeça dos psitacídeos deve ser devidamente segurada, dado que a principal arma de um psitaciforme é o bico e consequente a sua poderosa mordedura (Malley, 1996; Girling 2003).

As espécies de aves mais pequenas podem ser envolvidas em toalhas de papel (Girling, 2003).

Idealmente, a captura da ave deve ser feita quando esta estiver voltada para uma das paredes da jaula, dando um bom acesso à parte de trás da cabeça (Harrison e Ritchie, 1994).

A ave é contida imobilizando a cabeça com o indicador e o polegar. Os restantes dedos são colocados em redor do corpo do animal, mas com o cuidado para não interferir com os movimentos respiratórios do esterno (Imagem 6) (Malley, 1996).

(40)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 6 - Contenção a

Melopsittacus undulatus segurando a cabeça com o polegar e o indicador (Fonte: Malley, 1996).

Imagem 7 - Contenção a

Melopsittacus undulatus periquito segurando a cabeça entre o indicador e o dedo médio (Fonte: Girling, 2003). Como as aves não possuem diafragma e dependem do movimento do esterno para respirar, podem sufocar se for exercida força excessiva na caixa

torácica (Girling, 2003; Harrison e Ritchie, 1994). A ave deve ser mantida na vertical ou num plano paralelo ao chão, já que a contenção de uma ave doente numa posição contrária poderá comprometer a sua função respiratória (Harrison e Ritchie, 1994). A manipulação das aves com o papo cheio deve ser cuidada, dado que o animal pode regurgitar e aspirar o alimento para o sistema respiratório (Tully Jr, 2009).

Outra técnica para a contenção de aves pequenas descrita, indica que o pescoço da ave deve ser segura entre o indicador e o dedo médio. Os outros dedos são posicionados

de forma a envolver gentilmente o corpo. O polegar e o anelar podem ser utilizados para manipular as asas ou os membros pélvicos (Imagem 7). No entanto, o uso de força excessiva nesta abordagem pode causar danos físicos no animal (Girling, 2003).

O exame físico das aves não varia muito do exame realizado nos restantes animais, começando na cabeça e terminando a nível da cloaca e/ou da

glândula uropigial (Tully Jr., 2009). O uso de um estetoscópio pediátrico permite uma melhor avaliação do coração e dos pulmões. A auscultação cardíaca e a auscultação respiratória são realizadas com o estetoscópio colocado na parede lateral e na parede craniodorsal do corpo da ave, respetivamente (Tully Jr. 2009).

A avaliação da condição corporal é feita pela combinação da palpação dos músculos peitorais, da examinação da gordura subcutânea e da medição do peso recorrendo a uma balança (Donneley et al, 2006).

3.1.1.2.3. Exame neurológico

O exame neurológico deve ser realizado num exame físico de rotina, sendo imprescindível nos casos em que a ave apresenta alterações neurológicas como a postura ou conformação anormal, a fratura de membros, fraqueza ou a inabilidade para agarrar com um

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Capítulo 3 - Casos clínicos

ou ambas as extremidades pélvicas, “head tilt”, opistótonos, torcicolo, a alteração do estado mental e a diminuição da acuidade visual (Donneley et al, 2006).

Os principais objetivos do exame neurológico são a determinação do tipo de doença neurológica, ou seja, se esta é focal ou difusa e, no caso das lesões focais, a descoberta da sua localização (Benett, 1994).

A observação do animal é essencial para determinar o nível e o grau de consciência do animal, assim como para avaliar a postura, a atitude e a marcha (Platt, 2006). As mudanças na personalidade da ave que tenham sido detetadas pelo proprietário devem ser investigadas (Benett, 1994).

O sistema músculo-esquelético deve ser palpado para a avaliação do tónus, da consistência e dos contornos, assim como para a deteção da presença de dor, de assimetrias ou de massas estranhas (Platt, 2006). Como a apreciação dos reflexos segmentares pode ser difícil nas aves, torna-se imprescindível a avaliação do tónus muscular, da força e da presença de atrofia durante o exame neurológico (Benett, 1994).

A avaliação dos nervos craniais deve seguir a observação e a palpação completa do animal, sendo particularmente importante a apreciação do movimento do globo ocular e da cabeça, o pestanejar, o movimento da língua e da mandíbula, e a simetria geral da cabeça (Platt, 2006). Tanto as alterações subtis na função dos nervos craniais como os reflexos anormais são difíceis de avaliar e de interpretar nas aves (Benett, 1994).

Os testes para avaliação da função dos nervos craniais (NC) devem ser feitos após a realização de um exame oftálmico (Platt, 2006):

 Teste de ameaça (NCII e NCV): consiste em efetuar um movimento de ameaça suavemente em direção a um dos olhos do animal, tapando simultaneamente o olho contralateral (Imagem 8A);

 Reflexo pupilar à luz (NCII e NCIII): uma luz é projetada em cada olho alternadamente para avaliar a resposta da pupila (Imagem 8B). Não há uma resposta consensual em aves devido a interseção dos nervos óticos no quiasma ótico. A resposta do olho avaliado é menos marcada comparativamente à dos mamíferos, já que as aves possuem músculo estriado na íris, permitindo-lhes algum controlo voluntário da pupila;

 Avaliação do estrabismo (NCIII, NCIV e NCVI): é observada a posição dos globos oculares com a cabeça da ave numa disposição normal;

(42)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B –

Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral (Fonte: Platt, 2006).

 Reflexo palpebral (NCV): compreende a avaliação da resposta do animal quando se estimula o canto medial da pálpebra ao toque (Imagem 8C);

 Avaliação do tónus do bico/mandíbula (NCV): consiste na deteção de alterações no bico e/ou a inabilidade para consumir alimento, assim como a apreciação da força e da resistência do bico à abertura manual do mesmo;

 Reflexo oculocefálico (NCVIII): consta na observação do movimento ocular enquanto se movimenta lateralmente a cabeça num plano horizontal.

A apreciação dos nervos craniais pode auxiliar na deteção de lesões neurológicas focais (lesão de um nervo individual) ou de uma encefalopatia generalizada (afeção de vários nervos). Não existem testes aplicáveis para avaliar diretamente a função dos nervos craniais NCI, NCVII e NCXI. No entanto, uma ave saudável irá reagir negativamente a odores nocivos, o que permite de certa forma apreciar a funcionalidade do NCI (Benett, 1994). Os nervos craniais NCIX e NCX são avaliados pelo reflexo de vómito; já o nervo cranial NCXII é examinado pela inspeção e palpação da língua (Platt, 2006).

Para a avaliação das reações posturais, uma asa ou uma perna é colocada numa posição anormal, sendo apreciada o tempo de resposta de correção postural do animal. Os défices posturais são visualizados no local da lesão ou caudalmente a esta (Platt, 2006).

Nem todos os exames neurológicos aplicáveis nos mamíferos podem ser usados nas aves devido às diferenças anatómicas. Os testes úteis incluem (Platt, 2006):

 Posicionamento propriocetivo: a face dorsal do pé da ave é colocada contra o poleiro;  Teste da folha de papel: uma folha de papel é colocada por baixo de cada pé, sendo

(43)

Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor podal; B –

Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa (Fonte: Platt, 2006).

 Reação de colocação dos membros: é dado um poleiro para a ave subir; o teste também pode ser efetuado com os olhos da ave vendados, em que o animal é estimulado a agarrar o poleiro ao sentir o toque deste na face dorsal do seu pé.

Os reflexos espinhais permitem determinar se uma lesão é central (neurónio motor superior) ou periférica (neurónio motor inferior) (Benett, 1994).

As lesões do neurónio motor inferior (NMI) podem originar uma diminuição ou ausência de um determinado reflexo, enquanto as lesões do neurónio motor superior (NMS) geralmente resultam num reflexo exagerado (Platt, 2006).

Para a avaliação dos reflexos espinhais, podem ser efetuados os seguintes testes (Platt, 2006):

 Reflexo esfíncter cloacal: deve ser observada uma contração dos músculos do esfíncter externo e um “tail bob” (sacudidela da cauda) quando a cloaca é beliscada;

 Reflexo flexor podal (Imagem 9A): consiste em aplicar um estímulo doloroso através de um beliscão em cada pé e a consequente avaliação da resposta de ambos os membros em simultâneo;

 Reflexo patelar: uma pancada leve é desferida diretamente no tendão patelar (Imagem 9B);

 Reflexo da retirada da asa: consiste em beliscar a área correspondente à inserção das penas primárias do dedo maior (Imagem 9C).

Como as aves não possuem o músculo do tronco cutâneo, o teste do reflexo do tronco cutâneo não pode ser utilizado para localizar uma lesão da medula espinhal nesta área. Não obstante, os folículos das penas possuem fibras nervosas sensitivas (Platt, 2006).

Os reflexos nociceptivos são reservados para os animais que demonstram a presença de doenças da medula espinhal (com base na marcha alterada) e para os que apresentam

(44)

Capítulo 3 - Casos clínicos

resultados anormais nos reflexos propriocetivos e espinhais (Platt, 2006). Se for necessário realizar os testes para a avaliação dos reflexos nociceptivos, estes deverão ser feitos no final, para que os estímulos dolorosos não influenciem a resposta do animal nos restantes parâmetros da avaliação neurológica (Benett, 1994).

3.1.1.2.4. Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico

A doença vestibular periférica é mais comum do que a patologia central. Já a doença vestibular paroxística é devida a lesões do pedúnculo cerebelar caudal e/ou do lobo floculo-nodular do cerebelo (Tabela 1) (Clippinger e Platt, 2000).

Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças.

Doença Sinais clínicos/Resposta ao exame neurológico

Doença vestibular periférica

 Possível tónus extensor exagerado dos membros

contralaterais acompanhado da redução do tónus extensor dos membros ipsilaterais

 “Head tilt” ipsilateral

 Queda ou enrolamento

 Nistagmo horizontal com a fase rápida contrária ao lado da

lesão, possível depressão ou ausência de nistagmo fisiológico ou nistagmo rotatório

 Voo ou marcha em círculos apertados

 Estrabismo ipsilateral com possível direção ventrolateral se

o pescoço for estendido

 Preservação da força

 Perda das reações de correção

Doença vestibular central

 Estado mental alterado com depressão, estupor ou coma

 Nistagmo vertical, horizontal ou rotatório; este último pode

ser posicional, ou mudar de direcção com as diferentes posições da cabeça

 Hemiparésis ipsilateral

Disfunção de outros nervos craniais

Défice da reação postural ipsilateral

Doença vestibular paroxística

 “Head tilt” contralateral à lesão

 Estrabismo contralateral

 Défices propriocetivos e da reação postural ipsilateral se a

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Capítulo 3 - Casos clínicos

3.1.1.2.5. Diagnóstico

Os exames físico e neurológico permitem localizar uma lesão numa determinada região do sistema nervoso (Clippinger e Platt, 2000). Estes servem como um indício a quais os exames complementares de diagnóstico a realizar (Benett, 1994).

No caso de suspeita de uma neuropatia metabólica ou de uma doença infeciosa estão indicados a realização de hemograma e de bioquímica sérica. A serologia é útil para a deteção de agentes infeciosos como os vírus ou a clamidiose. Também pode ser necessário a medição dos níveis de metais pesados no sangue, no caso de suspeita de toxicidade. A estimulação da tirotropina (TSH) pode ser útil no despiste do hipotiroidismo (Benett, 1994).

A laparoscopia e a biópsia de órgãos servem de complemento no diagnóstico de doenças metabólicas (Benett, 1994). A biópsia de um músculo é indicado para auxiliar na confirmação do diagnóstico de uma doença da unidade motora (Platt, 2006).

A realização do raio-X está indicada tanto em casos de suspeita de trauma medular como de intoxicação por metais pesados (Benett, 1994). A mielografia é usada para identificar, caracterizar e localizar as lesões da medula espinhal nos compartimentos extramedular e intramedular (Platt, 2006).

A análise do líquido cefalorraquidiano permite caracterizar as doenças infeciosas, neoplásicas ou inflamatórias no cérebro ou na medula espinhal (Platt, 2006).

As técnicas de eletrodiagnóstico ajudam a distinguir entre uma neuropatia e uma miopatia, a localizar lesões neurológicas e a determinar o prognóstico para o retorno da função normal (Benett, 1994).

Já a cintigrafia permite avaliar os tecidos moles e as estruturas ósseas associadas com o sistema nervoso (Platt, 2006).

A tomografia computorizada (TC) facilita a avaliação da coluna vertebral e do crânio para a deteção de alterações no tecido mole do sistema nervoso central e do esqueleto envolvente (Platt, 2006).

Finalmente, a imagem por ressonância magnética (IRM) possibilita a obtenção de um contraste do tecido mole do sistema nervoso central com orientação espacial das estruturas anatómicas. Também permite distinguir a matéria nervosa central cinzenta, da branca (Platt, 2006).

Nas aves em geral, o diagnóstico da síndrome vestibular é conseguido recorrendo a um completo exame físico e exame neurológico, acompanhado de exames complementares como análises sanguíneas, raio-X, TC e IRM (Clippinger e Platt, 2000).

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Capítulo 3 - Casos clínicos

3.1.1.2.6. Diagnósticos diferenciais

Os diagnósticos diferenciais para as doenças intracraniais no qual se integra a doença vestibular incluem: as doenças degenerativas como a doença de armazenamento lisossomal, a mielinopatia vacuolar aviária e outras anomalias (como o hidrocéfalo e a dilatação dos ventrículos); as doenças metabólicas como a encefalopatia hepática, a hipoglicemia e a hipocalcemia; as doenças neoplásicas como o tumor glial, o ependimoma, os adenomas, os adenocarcinomas, os linfossarcomas, os lipomas e os papilomas do plexo coroide; as doenças nutricionais como a deficiência em piridoxina e a deficiência em vitamina E; as doenças inflamatórias como a encefalite vírica, bacteriana, verminosa, tricomoníase/protozoária, fúngica ou priónica; as doenças idiopáticas; a toxicidade por zinco, chumbo, carbamatos e organosfosforados; o trauma cranial; e as doenças vasculares como a aterosclerose (Platt, 2006).

Mais especificamente do síndrome vestibular, as causas mais frequentes incluem o trauma cranial, a doença infeciosa que afeta principalmente os ouvido médio e interno, a toxicidade, as doenças nutricionais e a neoplasia (Clippinger e Platt, 2000).

3.1.1.2.7. Tratamento

Com a terapia, pretende-se a manutenção da função neurológica e a reparação das estruturas danificadas (Clippinger e Platt, 2000).

O primeiro passo é tratar a causa subjacente, personalizando a terapêutica à etiologia específica (Clippinger e Platt, 2000; Platt, 2006). Para o sucesso do tratamento pode ser necessário recorrer à administração de eletrólitos, minerais e/ou vitaminas, a antídotos, a antibióticos, a antifúngicos, a vacinação de pré-exposição, a antiparasitários e a anti-inflamatórios (Clippinger e Platt, 2000).

As causas responsáveis pela presença de alterações neurológicas devem ser removidas fisicamente com banhos, lavagens, cirurgia ou endoscopia; ou quimicamente com protetores e ligantes para diminuir a absorção, e para aumentar a eliminação deve-se recorrer à catarse e à diurese (Clippinger e Platt, 2000). Os sinais neurológicos são controlados pela terapia anticonvulsiva e pela terapia anti-inflamatória (incluindo glucocorticóides) (Clippinger e Platt, 2000; Platt, 2006).

O uso de corticosteróides é bastante controverso devido aos potenciais efeitos secundários que o seu uso acarreta, não sendo recomendado em animais com história prévia de imunossupressão ou de patologia fúngica. Tais complicações incluem a imunossupressão,

(47)

Capítulo 3 - Casos clínicos

a supressão adrenal, o atraso na cicatrização de feridas e a ulceração gastrointestinal, mas geralmente estão associadas ao uso prolongado destes. No entanto, as doses únicas de corticosteróides têm melhorado o prognóstico em casos de choque, de trauma e de toxicidade (Harrison et al, 2006).

Finalmente, não deve ser esquecida a disponibilização de tratamento de suporte ao animal para manutenção das necessidades nutricionais e de hidratação. Se necessário, também deve ser fornecida oxigenoterapia (Platt, 2006).

3.1.1.2.8. Prognóstico

O prognóstico está dependente do processo patológico e da localização da doença (Clippinger e Platt, 2000).

No entanto, quando os periquitos apresentam casos agudos combinando vários sinais clínicos neurológicos como a ataxia, a realização de círculos, paralisia, torcicolos, opistótonos e a presença de convulsões ou espasmos, o diagnóstico torna-se difícil e como tal, o prognóstico mau (Coles, 2007).

3.1.2. Reconstrução cirúrgica de uma fractura do casco em Trachemys sp. 3.1.2.1. Relato do caso

O “Frederico” era uma tartaruga da espécie Trachemys sp., idade desconhecida, sexo masculino, com 355 gramas de peso, que apareceu para uma consulta no CVEP no dia 3 de outubro de 2013 devido a um novo traumatismo do casco provocado pela mordedura de um cão.

Este animal já era cliente habitual, tendo sido consultado pela primeira vez no dia 16 de setembro de 2012 pelo mesmo motivo. O animal tinha sido atacado por um cão há 5 dias atrás, apresentando uma fratura linear do plastrão cranial na transição dos escudos humerais e peitorais. Ostentava também algumas zonas roídas da carapaça, sem penetração da cavidade celómica. Após examinação do quelónio, este foi

para casa com indicações para realizar lavagens das lesões com Betadine® diluída em água

Imagem 10 - Manchas brancas no casco do

“Frederico” (Fonte: Foto gentilmente cedida pelo CVEP).

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Capítulo 3 - Casos clínicos

(1:1) BID/TID e antibioterapia com penicilina 10.000 UI/Kg Q72h, regressando posteriormente para cirurgia.

No dia 21 de setembro de 2012 foi efetuada a reconstrução cirúrgica do plastrão recorrendo a placas ortopédicas e a cianocrilato. Após alinhamento da fratura, duas placas ortopédicas foram coladas com cianocrilato ao plastrão paralelamente ao eixo craniocaudal, desde os escudos gulares até aos escudos anais.

Nas reavaliações seguintes, o “Frederico” apresentou uma evolução positiva, no entanto, no dia 26 de setembro de 2012, o proprietário notou que algumas das zonas roídas no bordo do casco apresentavam uma coloração branca e pareciam estar a desfazer-se (Imagem 10). Foi aconselhado a continuação da desinfeção das lesões com Betadine® diluída em água, recorrendo a uma escova de dentes para uma limpeza mais eficaz. Dependendo do estado de saúde do animal e da evolução das feridas, discutiu-se ainda a possibilidade de adicionar um novo antibiótico (ceftazidima 20-40mg/Kg IM SID), já que a principal suspeita era a de uma possível osteomieltie não controlada pela penicilina.

O animal continuou a ser vigiado regularmente, tendo sido necessário reforçar a fratura ao colocar cola no fragmento para maior estabilidade.

No dia 29 de janeiro de 2013 as placas foram retiradas com o intuito de serem substituídas por umas novas. No entanto, apesar de não ter ocorrido união total entre o fragmento e o plastrão, a fratura encontrava-se estável e como tal, optou-se pela remoção definitiva das placas com o auxílio de uma espátula (Imagem 11A e 11B).

A antibioterapia também foi interrompida e foi administrado 10 mg/Kg de cálcio SC juntamente com um suplemento vitamínico (0,3 mL/Kg IM Duphafral®Multi) para fortalecer o casco e ajudar na cicatrização das lesões. As manchas brancas encontravam-se ainda presentes, mas como o casco estava a regenerar bem, optou-se por aguardar.

Imagem 11 – Placas ortopédicas: A - Placas ortopédicas posicionadas no plastrão do

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Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das lesões

na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos marginais junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos marginais do lado direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça (Fonte: Fotos gentilmente cedida pelo CVEP).

O “Frederico” continuou a frequentar o CVEP, tendo sido a sua última consulta no dia 11 de junho de 2013. A fratura já se apresentava quase totalmente consolidada (Imagem 12).

Como já fora referido, no dia 3 de outubro, o “Frederico” fora novamente traumatizado por um canídeo, apresentando

lesões mais evidentes no plastrão cranial (no mesmo local da fratura antiga (Imagem 13A)) e nos escudos marginais junto aos membros pélvicos, sem penetração da cavidade celómica (Imagem 13B, 13 C e 13D).

Mais uma vez, foram aconselhadas as lavagens das lesões com Betadine® e água, e receitada antibioterapia com enrofloxacina 10mg/Kg IM SID. A próxima reavaliação ficara marcada após 2 semanas.

Imagem 12 - Evolução da fratura do

“Frederico” (Fonte: Foto gentilmente cedida pelo CVEP).

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Capítulo 3 - Casos clínicos

Não obstante, o “Frederico” nunca mais voltou a comparecer no CVEP, desconhecendo-se o motivo. No entanto, o tratamento e a reparação de fraturas de casco em quelónios pode ser um processo moroso e dispendioso para o proprietário e o animal. Sem o acompanhamento veterinário necessário, o prognóstico pode ser bastante variável.

A osteomielite é comum em répteis podendo ser uma sequela de feridas contaminadas por bactérias aeróbias/anaeróbias e/ou fungos (Raftery, 2011).

3.1.2.2. Revisão da literatura: Reconstrução cirúrgica de fraturas do casco em tartarugas semiaquáticas

3.1.2.2.1. Anatomia e fisiologia do casco

O casco dos quelónios é composto por osso dérmico vivo fusionado e coberto por epiderme queratinizada. Como tal, trata-se de uma estrutura suscetível a sensações e a dor. Apresenta duas secções: uma superior dorsal denominada de carapaça e outra inferior ventral mais achatada denominada de plastrão (Girling, 2003). Tanto a carapaça como o plastrão são constituídos por placas denominadas por escudos (Imagem 14) (McArthur et al, 2004).

A carapaça é composta pela fusão do osso dérmico, das costelas e das vértebras torácicas e lombares (Girling, 2003). Não possuem esterno (McArthur et al, 2004).

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Capítulo 3 - Casos clínicos

São adicionadas novas camadas de placas epidérmicas à medida que o quelónio vai crescendo (o escudo cresce a partir da periferia). Estas placas são mudadas com maior frequência ao longo da vida de espécies de tartarugas semiaquáticas, quando comparadas com as espécies terrestres (McArthur et al, 2004).

3.1.2.2.2. Fratura do casco

As fraturas nos cascos das tartarugas são o resultado de um trauma, que pode ter diferentes origens (Barten, 2006). As tartarugas semiaquáticas e terrestres são comumente atropeladas por veículos automóveis ao atravessarem a estrada. Também os predadores, principalmente os carnívoros, provocam danos ao atacar estes animais (Norton, 2005). Outras causas de trauma incluem quedas, pisoteio, ou acidentes com máquinas de cortar a relva (Barten,2006).

O casco das tartarugas tem uma grande capacidade de recuperação, tendo já sido encontradas tartarugas selvagens na natureza com fraturas completamente cicatrizadas (Barten, 2006).

3.1.2.2.3. Prognóstico

Geralmente, os casos que apresentam um excelente prognóstico compreendem as fraturas estáveis, lineares, simples e fechadas, ou sem envolvimento da medula espinhal. Também estão incluídos neste grupo as lesões ligeiras resultantes de abrasões ou de mordeduras de cães (Fleming, 2014).

Um bom prognóstico envolve os casos em que se apresentam as fraturas múltiplas, instáveis ou abertas. Pode haver perda de fragmentos de grandes dimensões desde que não haja lesões dos tecidos moles adjacentes (Fleming, 2014).

Nas fraturas em que há a perda de fragmentos de grandes dimensões conjuntamente com a penetração do celoma, o prognóstico de sobrevida continua a ser bom, no entanto, o animal poderá ficar com lesões estruturais a nível do casco que poderão condicionar a sua locomoção, como por exemplo as fraturas múltiplas que destabilizam a zona do ombro ou a área pélvica (Fleming, 2014).

Nas fraturas em que os órgãos da cavidade celómica são atingidos, o prognóstico passa a ser reservado. Tais incluem as lesões viscerais, a evisceração do intestino, e a presença de material estranho na área afetada (Fleming, 2014). Também as lesões pulmonares podem conduzir a pneumonia necrosante não responsiva ao tratamento (Barten, 2006).

Imagem

Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais  pertencem
Gráfico  2  -  Casuística  observada  no  CRAM-Q  em  percentagem,  segundo  à  classe  taxonómica  a  que  os  animais pertencem
Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças.
Foto gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
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Referências

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