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Blogs, comunidades virtuais e outras ferramentas tecnológicas: crescimento e influência no mundo corporativo

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Blogs, comunidades virtuais e outras

ferramentas tecnológicas: crescimento e

influência no mundo corporativo

Tarcisio Torres Silva

Mestre em cultura audiovisual e mídia na UNICAMP

Professor da Faculdade Comunitária de Campinas - Unidade 3 e-mail: tartorres@gmail.com

Resumo

O mundo corporativo experimenta hoje na internet uma série de novas ferramentas que possibilitam maior envolvimento das empresas com seus consumidores e públicos potenciais: blogs, comunidades virtuais, publicação de vídeos, entre outras. De uso bastante simples, essas ferramentas colaboram no processo de transparência na gestão dos dois lados: por parte das empresas, que dão voz aos funcionários nesses espaços e por parte dos consumidores, que interagem e criam ambientes especiais para falar sobre empresas e suas atitudes, gerando diversas discussões na internet e fora dela. Marcas e produtos são citados, às vezes em forma de elogio, outras em forma de crítica. Com o intuito de analisar melhor esse processo, serão abordadas nesse trabalho as principais ferramentas usadas pelas corporações e os resultados dessas ações, analisados a partir de três exemplos reais. Como resultado, veremos que há muito a ser feito nesse campo no mercado brasileiro e que uma vez observado o crescimento do uso dessas ferramentas no país, cabe à corporação de visão saber usar esse movimento a seu favor.

Palavras-chave: blog corporativo, internet, ferramentas

de publicação pessoal.

Abstract

The corporative world experiments on the internet today a series of new tools that permits a deeper relationship between companies and their consumers and potential publics: blogs, virtual communities, video publication, among others. Of a very simple use, these tools collaborate in the transparency of the management process of both sides: the companies that give voice to the employees in these spaces and the consumers that interact and create special environments to talk about companies and their attitudes, generating different discussions on the internet and out of it. Brands and products are mentioned, sometimes as a compliment, others as criticism. Intending to better analyze this process, it will be approached the main tools used by corporations and the results of these actions, analyzed from three real examples. As a result, we will see that there is a lot to be done in this field in the Brazilian market and that once observed the increasing of the use of these tools in the country, it is given to the visionary corporation the opportunity to use this movement to its favor.

Key-words: corporative blog, internet, personal

publication tools.

As ferramentas de uso pessoal: quem são elas e o que mudam no ambiente de negócios?

Desde que consumidores, funcionários e ex-funcionários de empresas perceberam o poder de suas opiniões na internet, através do uso de ferramentas de publicação pessoal, muitas empresas e marcas já se tornaram o foco de discussões acirradas que giram em torno de seus nomes, qualidades e defeitos. A mais popular dessas ferramentas, o blog, ganhou força ao

longo do tempo através do lançamento de outras ferramentas de publicação de imagens, som e vídeo. Todas elas têm como característica principal a possibilidade de oferecer instrumentos de publicação de conteúdos na internet a qualquer pessoal, quase sempre sem custos e muito fáceis de serem usadas. A fim de esclarecer melhor o que são essas ferramentas e como elas dialogam com o mundo corporativo, segue uma breve descrição do movimento dos blogs e dessas demais ferramentas.

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Blogs

Weblog é uma palavra da língua inglesa composta por web (página de internet) e log (diário de bordo), hoje mais conhecida como blog. É um site criado nos moldes de um diário e que pode conter espaço para comentários sobre cada texto inserido (o post). O usuário dessa ferramenta é chamado de blogueiro (blogger, em inglês) e o universo em que se inserem essas páginas dentro da internet é a blogosfera. Há vários serviços disponíveis, sendo o mais difundido no Brasil o Blogger (http://www.blogger.com).

O início do movimento dos blogs, no mundo, surgiu já há algum tempo, considerando a rapidez com que as coisas acontecem na rede. Os primeiros datam de 1999, nos EUA, e 2000, no Brasil. No começo, os blogs serviam especificamente como diários virtuais e uma grande quantidade de internautas experimentou a ferramenta para contar coisas do seu cotidiano. Ao longo do tempo, os blogs passaram por uma espécie de profissionalização. Isso fez com que muitos outros temas aparecessem como proposta nessas páginas além do jornalismo (como mídia independente, sem intermediários, dando credibilidade e realidade para o que se coloca). Há blogs de poesia, literatura, especializados em quadrinhos, desenhos e caricaturas, música, cinema, política, além de blogs coletivos e o irmão mais novo de todos eles, o blog corporativo, mediado por empresas através de seus diretores e funcionários.

Com a maior maturidade no movimento, nota-se um público cativo que foi criado em torno dessas páginas, que seguem numa linha paralela às mídias tradicionais. Segundo pesquisa comScore Media Metrix e da iMedia Connection, cerca de 58,7 milhões de norte-americanos adultos lêem blogs com freqüência, representando 34% da audiência total da internet no país (Leitores, 2006). Os números mostram a inclusão desse tipo de página ao consumo de mídia no país.

Acompanhando essa nova fase, recentemente, novas ferramentas apareceram para incrementar a dinâmica das criações, que estão ficando mais interativas, hipermidiáticas. No artigo de Barreto (2004), é abordado o fato de que com o avanço das tecnologias, as facilidades de acesso à banda larga e a queda do preço de equipamentos, como aparelhos celulares, máquinas digitais, filmadoras e webcams, surgem novas ferramentas nos blogs, ramificações da mesma idéia. É o que veremos abaixo.

Fotologs e Flickr

Os espaços de publicação de fotografias mais

usados são o Fotolog (http://www.fotolog.com) e o álbum de fotografias interativo Flickr (http:// www.flickr.com). O primeiro é uma ramificação do modelo do blog, com datas de publicação e espaço para comentários. O Flickr é mais interativo, propicia uma séria de ferramentas estatísticas, tags (palavras-chave) de busca de fotos e uma séria de formas de interação entre os usuários. Em função disso, ganhou espaço independente e próprio, apesar das ligações que oferece para a publicação de fotos em blogs. Nesse espaço também circulam fotografias sobre produtos, pessoas se divertindo em parques, bares e outros espaços.

Youtube

O Youtube (http://www.youtube.com) se tornou o armazenador de vídeos mais popular da internet. Foi fundado em 2005 por um trio de jovens americanos e um ano se tornou uma empresa de US$ 1,65 bilhões, valor que foi vendida ao Google em outubro de 2006 (Leite, 2006). Tem ferramentas de busca fáceis, sugestões de vídeos com temática parecida com a inicial e facilitadores para a divulgação dos vídeos através de links ou publicação em blogs. Empresas são citadas o tempo todo nos vídeos do Youtube através de produções caseiras mostrando experiências (positivas ou negativas) no ato do consumo dos produtos. Um dos casos mais famosos envolve dois produtos: a Coca-Cola Light e as balas Mentos. Os vídeos mostram a reação química quando se joga várias balas ao mesmo tempo dentro de uma garrafa de dois litros do refrigerante.

Outra nova ferramenta de vídeo que vem crescendo na internet é a Justin.tv (http://www.justin.tv). Nela, os usuários mostram sua vida em tempo real através de webcams e celulares com filmadoras conectados à internet. Para pensarmos numa relação com o mundo corporativo, num dos exemplos mostrados no site, temos uma garota que comenta como está a feira que ela foi com o parceiro (que a filma). Atrás da cena, temos os nomes da empresas que participam nos estandes. É o jornalismo em tempo real feito por pessoas comuns.

Orkut

Entre as ferramentas que facilitam a formação de comunidades virtuais, temos o Orkut (http:// www.orkut.com), site desse tipo com maior número de brasileiros cadastrados. Nele, há uma quantidade imensa de comunidades virtuais com os temas mais variados possíveis, incluindo empresas de todos os tipos. A comunidade “Eu odeio a Vivo”, por exemplo, fala das

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frustrações e problemas que cliente e ex-clientes da operadora passaram. A comunidade tem cerca de 17.000 membros. Por outro lado, o oposto também é verdadeiro. Há comunidades específicas para consumidores que adoram o produto que consomem, como é o caso da comunidade “Eu amo Guaraná Antarctica”, com cerca de 77.000 membros.

Telles (2006) escreveu um pequeno tratado sobre possíveis estratégias que possam ser úteis para empresas que estejam interessadas em se aproveitar de alguma forma do Orkut. Entre elas, está a quantidade de informações disponíveis que podem ser consultadas pelas empresas. Segundo o autor, “a reunião de pessoas em grupos acontece de maneira espontânea nas comunidades do Orkut; assim, as empresas podem traçar o perfil qualitativo e psicográfico de seus clientes de graça, apenas observando as discussões das comunidades de seu público-alvo” (TELLES, 2006, p. 96).

As ferramentas de uso pessoal e o mercado Mesmo antes do surgimento dos blogs, vários autores já declaravam ser a internet o novo modelo que iria mediar a maneira como os homens iriam produzir e trocar informações. As máquinas dariam acesso de participação ativa aos indivíduos que anteriormente estavam à mercê dos grandes conglomerados midiáticos. Esse processo se dá através das redes e das possibilidades de interação disponibilizas pelo computador.

Um desses autores é Castells (2001) que, ao analisar as redes, percebe a maior aproximação dos usuários com a tecnologia e enxerga esse processo positivamente. Entende que as ferramentas disponíveis através das novas tecnologias não são apenas objetos de aplicação, mas processos a serem desenvolvidos. Segundo o autor:

Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da Internet. Segue-se uma relação muito próxima entre os processos sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo (CASTELLS, 2001: 51).

Castells coloca em evidência o papel da mente humana que passa a interagir com as máquinas de forma ativa. Nesse processo, o homem não é mais um ser passivo, que apenas recebe informações de uma “grande

caixa preta” (em referência aos grandes meios de comunicação de massa, como o rádio e a televisão), mas sim agente participante das diversas forças de produção da sociedade.

Nos três exemplos abaixo, mostraremos como essa ação ativa dos indivíduos na rede repercute no mercado através de ações corporativas que estão diretamente ligadas aos blogs e outras ferramentas de publicação pessoais. No primeiro caso, falaremos do uso dos blogs corporativos por executivos e empresas no Brasil. Depois, será dado o exemplo de uma ampla campanha publicitária envolvendo a exploração de várias ferramentas pessoas. E finalmente, o terceiro exemplo trata-se do Second Life, nova ferramenta que pretende modificar o modo como os usuários lidam com a internet, mesclando consumo com a interação através de avatares1.

Blogs de corporações e de consumidores As empresas hoje devem estar preocupadas com blogs a partir de três linhas principais: o blog corporativo (da própria empresa), blogs internos (de funcionários) e blogs de consumidores.

O blog corporativo tem como principal função criar um ambiente transparente e mais humanizado de comunicação com os consumidores. Os próprios funcionários da empresa são os autores e os consumidores podem participar através de comentários e sugestões.

Entre os blogs corporativos mais bem elaborados no Brasil está o Blog Tecnisa (http:// www.blogtecnisa.com.br), com posts assinados por diferentes funcionários da construtora. Esse blog foi o primeiro do segmento no país e é constantemente atualizado.

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Manter um blog profissional da área pode dar trabalho e requer um autor que sempre atualize o conteúdo para que seus leitores sejam constantemente presenteados com novas notícias. No caso da Tecnisa, as matérias são assinadas por diferentes profissionais da empresa. Há artigos sobre cuidados ao se fazer uma compra, responsabilidade social, construção e, com certa ênfase, sobre os últimos lançamentos da construtora.

Terra (2006), que analisa em seu artigo o movimento dos blogs corporativos no Brasil, acredita que “as possibilidades de aproximação com os públicos de interesse, a postura de transparência, a riqueza das informações obtidas, o efeito viral são vantagens e diferenciais competitivos para organizações que optam pelos blogs corporativos” (TERRA, 2006, p. 12). No Brasil, ainda há poucas empresas que usam blogs desse tipo. Em pesquisa realizada pela Rapp Collins com 1008 empresas entre agosto e setembro de 2006, apenas 0,54% das empresas possuem blogs próprios e apenas 2,62% usam as informações existentes nos blogs externos à empresa e nas redes sociais de relacionamento (Blogs, 2007).

Dentro da linha dos blogs internos, Hugh Hewitt, jornalista político e dono de um dos blogs mais acessados dos Estados Unidos (http:// hughhewitt.townhall.com), nos apresenta em seu trabalho sobre a revolução dos blogs (Hewitt, 2007), três tipos de blogs internos: o blog de liderança, o blog de gerência e o blog do empregado.

O blog de liderança serve como outro instrumento de comunicação com a equipe. Um agente motivador, inspirador, capaz de provocar reações positivas no momento certo. Nas palavras do próprio Hewitt: “todos os dias um blog dá a executivos talentosos uma oportunidade de se comunicar com suas tropas: inspirar, informar, lisonjear ou pedir (...) Fará tudo o que um boletim interno não pode fazer, porque é realmente a sua voz” (HEWITT, 2007, p.155).

No Brasil, um bom exemplo é o blog do CEO do banco HSBC, que traz um artigo por semana e fica disponível aos funcionários via intranet, que podem comentar no próprio blog. Segundo informações do site da empresa (http://www.hsbc.com.br), o blog foi criado em abril de 2006 e, até setembro do mesmo ano, já havia registrado cerca de 1 milhão de acessos.

Se a função não é a de liderança, mas de gerência, o blog também pode ser útil para estabelecer metas e cumpri-las, medir resultados e sintonizar as informações. Publicar informações pertinentes sobre determinado cliente e alertar funcionários sobre sua situação, são, no ponto de vista do autor, outras das

possibilidades do blog de gerência.

Finalmente, o blog do empregado. Nesse sentido, o blog pode ser um instrumento de projeção para o seu autor, que irá falar não sobre o mau comportamento do chefe ou dos outros funcionários, mas sobre a empresa, o mercado, divulgar links interessantes que ajudem outras áreas da empresa e o ambiente de trabalho como um todo. Tudo isso tornará o trabalho deste funcionário aplicado mais interessante. A General Motors, por exemplo, criou uma seção com blogs temáticos. Entre eles, está um blog feito pelos líderes da empresa que discute tudo a respeito de carros e caminhões, o Fastlane (http://fastlane.gmblogs.com), com uma média de oitenta comentários por post.

A grande ameaça a empresas que relutam em valorizar as informações que circulam nos blogs está no terceiro tipo de linha citado, grande maioria da blogosfera, os blogs dos consumidores. Neste caso, há tanto blogueiros que falam de coisas diversas e entre elas citam o nome de empresas, como blogs que são criados especificamente para falar bem ou mal de empresas.

No artigo de Leite (2007), a autora cita o blog brasileiro Ta Difícil (http://www.tadificil.com.br), canal aberto para consumidores reclamarem sobre produtos e empresas de todos os tipos. O blog, criado por Mercedez Sanchez, virou um caminho muito mais fácil e abrangente da reclamação do que, por exemplo, as demoradas ligações aos serviços de atendimento ao consumidor (SAC) ou serviços corriqueiros de reclamação de jornais de grande circulação. A resposta das empresas a esse tipo de atitude traz benefícios. No caso deste blog, por exemplo, há uma seção intitulada “tá mais fácil” que cita empresas que estão resolvendo o problema dos casos citados nos blogs.

Segundo Leite2, as informações presentes em

blogs interessam aos empresários também porque se os blogueiros falam bem ou mal de um produto ou marca em seus posts, podem influenciar outros leitores. Essas informações também podem ser usadas para alterar produtos e lançar versões melhoradas.

Como se nota, blogueiros estão ativos na internet dentro e fora das empresas. O que hoje se trata de uma nova oportunidade para os que buscam informações diretamente de seus consumidores, pode em breve se tornar uma obrigação das empresas. No próximo exemplo, falaremos de uma empresa que soube dialogar com esse movimento, inovando a forma como estabeleceu a comunicação de lançamento de um produto.

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O lançamento do carro Prisma

Já institucionalizada pelo mercado através de vários prêmios, esta campanha publicitária do carro Prisma da Chevrolet, criada pela agência McCann Erickson, usou das várias ferramentas de comunicação na internet para fazer o lançamento do novo modelo do carro no mercado brasileiro. As ações incluíram marketing viral3 para espalhar a idéia e um vídeo,

combinando com a temática toda da campanha: Prisma - sua vida te trouxe até aqui.

Numa das ações, a mensagem veiculada pelo Orkut falava de um blog intitulado Sua vida te trouxe até aqui (http://www.suavidatrouxevoceateaqui.com) que estava sendo feito desde 1971 pelo pai de um suposto arquiteto. A página traz posts simulados de datas longínquas, como 1982, com um breve texto sobre algo que aconteceu naquele dia ou ainda desenhos e imagens de produtos culturais da época. Tudo para parecer o mais próximo de um blog real possível.

A mensagem dizia que o blog tinha sido feito através do diário do pai de um garoto que ia descrevendo coisas sobre sua vida ao longo do tempo. Navegando pelo blog, chegava-se ao vídeo Sua vida te trouxe até aqui.4 Lá, personagens da infância e juventude

do garoto como a primeira namorada, os amigos, etc., cantam num estúdio livremente inspirado no famoso clipe dos anos oitenta, We´re the World, contando aos poucos a vida dele. No final, aparece o endereço para o site do carro (http://www.chevrolet.com.br/novoprisma).

A campanha foi ainda divulgada através de um ícone com a figura do personagem infantil brasileiro Fofão numa das principais ferramentas de comunicação instantânea usadas no país, o MSN.

Na última etapa da campanha, invertendo a lógica do mercado, foi feito o lançamento do vídeo em rede nacional de televisão, fazendo uso dos personagens novamente num clipe diferente de 30 segundo. O restante

da campanha em revistas e outras mídias seguiu a mesma linha.

A ação mostra a clara intenção da campanha de se aproveitar de elementos hoje muito presentes nos meios midiáticos: a vida privada das pessoas. O uso da nostalgia e dos conteúdos baseados na história de vida de uma pessoa são elementos positivos ao sucesso da campanha.

Estrategicamente, elementos presentes na memória coletiva de uma determinada faixa etária da população aparecem na campanha, o que faz referência ao que é dividido no interior dos conteúdos de tantos blogs: a experiência. Neste caso, a experiência midiática, além da familiar, está amplamente presente: Scooby-Doo, Fofão, Chucky (do filme Brinquedo Assassino), o fantasma rechonchudo do filme Caça-Fantasmas, o Saci Pererê e as coelhinhas da revista Playboy. São todos personagens que se tornaram famosos por intermédio de alguma mídia. As mídias, por sua vez, tornaram os personagens em uma experiência que pode ser dividida entre tantos indivíduos que também entraram em contato com eles ao longo de suas vidas.

A Chevrolet e a McCann Erickson, através dessa ação, mostraram estarem atentas ao movimento que gira em torno da blogosfera e das ferramentas de uso pessoal. Adequaram a comunicação ao seu público principal, este internauta e usuário das ferramentas abordadas na campanha.

Como último elemento de interesse desse exemplo para esse trabalho, chamamos a atenção para uma ferramenta lançada no ano de 2006 e que vem crescendo em todo mundo, o Second Life.

Second Life e ações corporativas

Elemento novo dentro das ferramentas de uso pessoal na internet, o Second Life (http:// www.secondlife.com) ainda é uma novidade para muitos internautas, mas promete crescer à medida que se tornar mais conhecido e quando forem reconhecidas todas as suas potencialidades. Trata-se de uma mistura de videogame, ao estilo do jogo The Syms5, com uma comunidade virtual aberta. Dentro do site do jogo (que deve ser baixado na máquina do usuário), encontramos a seguinte definição sobre o próprio jogo: “An online society within a 3D world, where users can explore, build, socialize, and

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participate in their own economy.”6

O usuário assume ao entrar no ambiente um avatar (personagem virtual) e vai aos poucos construindo uma vida própria ali. Há cerca de 1 milhão de usuários já cadastrados no site e no Brasil cerca de 30.000 computadores diferentes visitam o site em 60 dias (Matias, 2006).

Idealizado pela empresa norte-americana Linden Lab, o trunfo do Second Life está nas múltiplas ações possíveis dentro dele. Os ambientes virtuais recriam grandes cidades e há possibilidade de se fazer compras de MP3, por exemplo, ou ainda comprar “bens” no ambiente virtual, como roupas e outras melhorias para o avatar, por exemplo. A presença de uma loja virtual da marca Adidas é um excelente exemplo disso. Para fazer compra e venda de coisas, usam-se os Linder Dollars, a moeda virtual do site. Há uma cotação dessas moedas para o dólar. Apesar disso, só se gasta se quiser, já que o cadastro e navegação são gratuitos. Os usuários contam também como aplicações como chat e mensagens instantâneas para interagir com outros avatares dentro do ambiente digital.

O Second Life, visto do ponto de vista mercadológico, é um empreendimento de potencial ilimitado para os que tiverem boas idéias. Há casos de sucesso em áreas como a de imóveis (criam-se terrenos virtuais que são vendidos para outros usuários, por exemplo). Existem ainda ações empresariais envolvendo eventos, como a Philips, que promoveu o primeiro reveillon virtual brasileiro no site na virada de 2006 para 2007 e outras ações de entretenimento, como a banda U2, que fez apresentações virtuais e concedeu “entrevistas virtuais”.

Do ponto de vista do consumo que pode ser

realizado no site, o Second Life reflete uma característica própria nos hábitos de consumo da sociedade contemporânea, apontada por Di Nallo (1999). Segundo a autora, eles estão baseados nos Meeting Points (Pontos de Encontro), onde os consumidores não estão em áreas fixas de consumo, mas transitam por elas, já que não se encontram em uma posição definida única na complexa sociedade contemporânea. No mundo de hoje, não se é apenas consumidor de iogurtes, telespectador de novelas, estudante universitário. A experiência é mais complexa. Podemos ser ao mesmo tempo os três e em cada experiência de consumo envolvendo um desses casos, estaremos em um “ponto de encontro” diferente para trocar nossas experiências de consumo.

Na definição da própria autora: “o meeting point é a versão da sociedade complexa do antigo mercado e é sempre, como naquele tempo, local de encontro de pessoas, de mercadorias, palavras, criador de percepções e símbolos” (DI NALLO, 1999, p. 195). No caso do Second Life, o usuário experiencia o consumo ao entrar em lojas virtuais, dialogar com demais usuários ou efetivar uma compra de um produto virtual (para o seu avatar) ou real (para ele próprio). Em todos os casos, pode alterar sua experiência como consumidor virtual ao sair do local em que está e seguir para outro ou simplesmente desconectar-se do site.

Em depoimento, o fundador do site, Bill Lichtenstein, afirma que o site é a próxima mídia depois da TV e da pro ser humano se comunicar. ein, acredita que o site astou para “struindo uma vida prque culminará numa revolução total na forma do ser humano se comunicar (Matias, 2006). Como universo a ser explorado pelo mercado, as possibilidades do Second Life são infinitas.

Conclusões

Apontados como tendências da internet para o ano de 2007 (Blog, 2006), os blogs e a chamada “web social” apresentam inúmeras possibilidades ainda a serem exploradas envolvendo essas ferramentas dentro da internet. Comparativamente a outros países como os Estados Unidos, ainda estamos numa fase inicial de uso dessas ferramentas para fins corporativos. Lá, como em outros países, há casos de ataques na blogosfera envolvendo derrubada de ministros e recall de produtos que apresentavam defeitos, entre outros citados por Hewitt (2007).

O que as corporações devem observar e aproveitar nesse movimento aqui apresentado é o fato dele não ser fechado. Está aberto à plena participação

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de empresas em todas suas instâncias, não apenas no que diz respeito aos blogs corporativos, mas em todo o composto que envolve as ferramentas de publicação, incluindo comentários em blogs, comunidades virtuais e vídeos postados por consumidores satisfeitos ou não. Di Nallo (1999) afirma que, diferentemente de outras épocas, o homem moderno não faz mais parte de uma sociedade estratificada e estável e está inserido num ambiente em que atuam diferentes fluxos comunicacionais. Dessa forma, todos os canais onde possa haver algum tipo de contato com a opinião, desejos e anseios dos consumidores devem ser observados a fim de se obter melhores resultados em termos de monitoramento de informações de mercado.

Das experiências citadas nos três exemplos deste artigo, observamos grande potencial para se investir nessas ferramentas no Brasil como uma forma eficiente, dinâmica e, acima de tudo, barata, de criar novas redes de comunicação com os consumidores. Notícias sobre investimentos do governo na área de tecnologia, envolvendo a popularização dos computadores e da internet no Brasil, aliado ao fato de os brasileiros ficarem bastante tempo navegando na internet, comparativamente a outros países, torna todo tipo de ferramenta disponível na internet um recurso potencial para empresas que queiram saber mais sobre seus consumidores.

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3. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/idgimages/ galerias/secondlife/Second-Life_11.jpg>. Acesso em: 19 jan. 2007.

Notas

1 Personagens virtuais que possibilitam a interação. Sua

aparência física escolhida pelo internauta.

2 Ibid

3 Estratégia de ação mercadológica que usa das várias

redes que existem na internet como forma de divulgação de produtos e serviços. E-mail, redes sociais, proliferação de links e criação de conteúdos que estimulem os usuários a repassarem aos outros são algumas das estratégias usadas.

4 Endereço do vídeo: http://www.suavidatrouxevoce

ateaqui.com/arquivo/perfil06.php

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suas relações pessoais. As experiências incluem o passeio por diversos lugares que são acessíveis ao jogador e podem ser explorados internamente, namoro e amigos.

6 Uma sociedade online dentro de um mundo em 3D, onde

os usuários podem explorar, construir, socializar e participar dentro da sua própria economia.

Recebido em 30 de maio de 2007 e aprovado em 24 de junho de 2007.

Referências

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