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O tribal bellydance em Natal: um olhar sobre o trabalho da Shaman Tribal Company e Shaman Tribal Studio

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

LEONARDO SANTOS DE MACEDO

O TRIBAL BELLYDANCE EM NATAL: UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DA SHAMAN TRIBAL COMPANY E SHAMAN TRIBAL STUDIO

NATAL/RN 2019

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LEONARDO SANTOS DE MACEDO

O TRIBAL BELLYDANCE EM NATAL: UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DA SHAMAN TRIBAL COMPANY E SHAMAN TRIBAL STUDIO

Artigo apresentado para compor a avaliação final do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Dança.

Orientadora: Profª. Ms. Renata Celina de Morais Otelo

NATAL/RN 2019

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Macedo, Leonardo Santos de.

O tribal bellydance em Natal : um olhar sobre o trabalho da Shaman Tribal Company e Shaman Tribal Studio / Leonardo Santos de Macedo. - 2019.

57 f.: il.

Monografia (licenciatura) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Licenciatura em Dança, Natal, 2019.

Orientadora: Prof.ª Ms. Renata Celina de Morais Otelo.

1. American tribal style. 2. Estilo tribal. 3. Fusion. 4. Shaman. 5. Tribal bellydance. I. Otelo, Renata Celina de Morais. II. Título.

RN/UF/BS-DEART CDU 793.3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Artes - DEART

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

A comissão abaixo assinada aprova o trabalho intitulado: “O TRIBAL BELLYDANCE EM NATAL: UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DA SHAMAN TRIBAL COMPANY E SHAMAN TRIBAL STUDIO”, elaborado por Leonardo Santos de Macedo:

Profª Ma. Renata Celina Morais Otelo – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Profº Dr. Marcílio de Souza Vieira – Examinador Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Profª Dra. Teodora de Araujo Alves – Examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

NATAL/RN 2019

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“Talvez por ser tão diferente há que ver, ouvir, pensar e avaliar [...] E quando se entende, ficamos deliciosamente presos por essa magia que é o “mundo tribal”!”

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AGRADECIMENTOS

Sou grato primeiramente a Deus pelo dom da vida, por ser a luz que guia minha jornada e a base que fortalece minhas escolhas.

À minha avó Alzira Santos (in memória) pela grande mulher que foi para nossa família. Eternas saudades!

Ao meu pai William Francisco (in memória) pelos ensinamentos de cada dia e pelo incentivo diário de lutar pelos meus sonhos e nunca desistir dos meus objetivos. Eternas saudades!

À minha mãe Erineide Santos, por ser a maior inspiração que tenho na vida e para vida. Grato pela sua força materna que chega para mim como energia renovadora. Te amo!

Aos meus irmãos Priscila, João Paulo e John Lenon pelos cuidados comigo desde criança, sempre me protegendo e ensinando os melhores caminhos a seguir.

Aos meus sobrinhos Pedro Henrique, Nicole Dantas e Karoline Dantas pelo amor que nunca me falta.

Aos meus professores de dança, dos grupos que participei e da graduação, por todo conhecimento transmitido.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela oportunidade e espaço de construir conhecimento.

À Turma de 2015.1, especialmente aos amigos federais: Amanda Nogueira, Luciano Silva, Luana Lopes, Larissa de Araújo, Jonathan Varela e Silas Braúna, pelos trabalhos em grupo, pelos momentos dentro e fora da Universidade, pelo companheirismo e por se tornarem pessoas de grande importância na minha vida para além dos muros acadêmicos.

À minha maravilhosa orientadora, Renata Otelo, que me conduziu de maneira primordial nesse trabalho. Obrigado pelos ensinamentos, por sua paciência e por sempre acreditar no meu potencial.

À Cibelle Souza em nome da Shaman Tribal Company e do Shaman Tribal Studio, por me ensinar uma dança tão encantadora e pela disposição em me ajudar na pesquisa para esse TCC e a minha turma do intermediário pelo companheirismo e partilha de tantos momentos.

Enfim, a todos que contribuíram e/ou contribuem de alguma maneira para minha formação acadêmica, pessoal e artística.

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O TRIBAL BELLYDANCE EM NATAL: UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DA SHAMAN TRIBAL COMPANY E SHAMAN TRIBAL STUDIO

RESUMO: O trabalho discute sobre a prática do Tribal Bellydance na cidade do Natal – Rio Grande do Norte, através da Shaman Tribal Company e do Shaman Tribal Studio. A Companhia, que possui um núcleo em Piracicaba – São Paulo e um núcleo em Natal-RN, está em atividade há 13 anos sendo a maior referência do estilo dentro do estado. No decorrer do texto apresento um mapa histórico caracterizando o Tribal Bellydance a partir dos estilos American Tribal Style (ATS) e Tribal Fusion (Fusão Tribal) que são os estilos que servem de base para a construção dessa dança. Cito ainda os grandes bailarinos/as que ao longo dos anos contribuíram de forma significativa na divulgação do estilo pelo mundo e no que hoje conhecemos por Tribal Bellydance. A metodologia do estudo é de abordagem qualitativa, de natureza descritiva realizada a partir de revisão bibliográfica, relato de experiência e entrevistas feitas com bailarinas residentes em Natal-RN. A partir da leitura de autores e pesquisadores da área foi possível apresentar o estilo Tribal de maneira consistente, diluindo os mitos que o cerca e mostrando os elementos e aspectos constituintes dessa dança. As entrevistas contribuíram na contextualização da prática desse estilo na cidade do Natal e mostrou como essa dança pode ser uma poderosa manifestação de autoconhecimento. Como avaliação para o estudo observei as contribuições que o Tribal proporciona na vida de seus praticantes, permitindo que esses acessem suas particularidades trazendo para a corporeidade suas emoções traduzidas em movimentos.

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THE PRACTICE OF TRIBAL DANCE IN NATAL: A LOOK AT THE WORK OF SHAMAN TRIBAL COMPANY AND SHAMAN TRIBAL STUDIO

ABSTRACT: The work discusses the practice of Tribal Bellydance in the city of Natal - Rio Grande do Norte, through the Shaman Tribal Company and the Shaman Tribal Studio. The Company, which has a nucleus in Piracicaba - São Paulo and a nucleus in Natal-RN, has been in business for 13 years and is the largest reference of style within the state. In the course of the text I present a historical map featuring Tribal Bellydance from the American Tribal Style (ATS) and Tribal Fusion (Tribal Fusion) styles that are the basis for the construction of this dance. I also mention the great dancers who over the years have contributed significantly to the spread of style throughout the world and in what we know today as Tribal Bellydance. The methodology of the study is a qualitative approach, of a descriptive nature based on a bibliographical review, experience report and interviews with dancers living in Natal-RN. From the reading of authors and researchers of the area it was possible to present the Tribal style in a consistent way, diluting the myths surrounding it and showing the elements and constituent aspects of this dance. The interviews contributed to the contextualization of the practice of this style in the city of Natal and showed how this dance can be a powerful manifestation of self-knowledge. As an evaluation for the study I observed the contributions that Tribal provides in the life of its practitioners, allowing them to access their particularities by bringing to their corporeity their emotions translated into movements.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Mapa conceitual do Tribal Bellydance. Fonte: CÉZAR, 2017 ... 14 Imagem 2: Jamila Salimpuor e a Trupe Bal Anat, em 1970. Fonte: ANDRADE, 2011...16 Imagem 3: San Francisco Classic Dance Troupe. Fonte: Portal Aerith Asgard. Disponível em: <http://aerithtribalfusion.blogspot.com/search?q=masha+archer> Acesso em: 09 de maio 2019. ... 17 Imagem 4: Carolena Nericcio e seu grupo FatChanceBellydance fazendo o puja no início da apresentação. Fonte: Canal FatChanceBellydance. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2fq9_zKu9rc Acesso em: 08 de maio 2019...20 Imagem 5: Apresentação do grupo FatChanceBellydance com bailarinas ao centro em roda e bailarinas no fundo em formação de coro. Fonte: Canal FatChanceBellydance. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nV134Q5ddVM Acesso em: 08 de maio 2019 ... 21 Imagem 6: Bailarinas vestidas com figurino tradicional do ATS. Fonte: Portal FatChanceBellydance. Disponível em: https://fcbd.com/community/gallery/ Acesso em: 09 de maio 2019. ... 22 Imagem 7: Shaman Tribal Co. dançando com jarros em apresentação do pocket show Híbrida. Fonte: Arquivo pessoal (2019). ... 26 Imagem 8: Aquarius Cia de Dança na Caravana Tribal Nordeste 2014. Fonte: Canal Kilma Farias. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KLrcIx0mxF8> Acesso em: 13 de maio 2019.. ... 27 Imagem 9: Cia Lunay na Caravana Tribal Nordeste 2016. Fonte: Canal Kilma Farias. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hVyFADGwp0E> Acesso em: 13 de maio 2019.. ... 28 Imagem 10: Logo marca da Companhia Shaman. Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. ... 30 Imagem 11: Poster do espetáculo Las Nieblas. Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. ... 31 Imagem 12: Poster do espetáculo Sonhos Lúcidos. Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. ... 31 Imagem 13: Poster do pocket show Híbrida. Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. 31 Imagem 14: Poster do V Hafla Shaman Tribal. Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. ... 31

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Imagem 15: Aula de Composição Coreográfica. Fonte: Arquivo pessoal (2019) ... 34 Imagem 16: Aula de Composição Coreográfica. Fonte: Arquivo pessoal (2019) ... 34

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DO TRIBAL BELLYDANCE ... 14

O INÍCIO SEM O “TRIBAL” ... 15

AMERICAN TRIBAL STYLE (ATS) ... 19

TRIBAL FUSION (FUSÃO TRIBAL) ... 23

O TRIBAL BELLYDANCE NO BRASIL ... 24

TRIBAL BRASIL ... 25

O ESTILO TRIBAL EM NATAL ... 28

SHAMAN TRIBAL COMPANY ... 29

SHAMAN TRIBAL STUDIO ... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 37

REFERÊNCIAS ... 40

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11 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema a prática do Tribal Bellydance na cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN), a partir do trabalho da Shaman Tribal Company e das aulas do Shaman Tribal Studio. Pesquisando sobre o surgimento dessa dança, como ela é produzida nesse cenário e o que a define, apresento um mapa histórico com a caracterização dos estilos American Tribal Style (ATS) e Tribal Fusion (Fusão Tribal) que são os estilos base na construção dessa dança. A bailarina Joline Andrade1 que é pesquisadora do estilo Tribal, escreveu a primeira monografia do Brasil sobre essa temática, ela traz uma abordagem contemporânea sobre as práticas do Tribal Bellydance apresentando o estilo da seguinte maneira:

A dança tribal, popularmente chamada de dança étnica de “fusão”, surge como proposta de agregar diferentes manifestações de danças étnicas das mais variadas regiões do mundo, e busca mesclar referências e matrizes de danças tradicionais e transpô-las numa estética contemporânea atualizada. [...] É relativamente recente no mundo da dança (surgiu em torno da década de 60, na Califórnia, durante os movimentos contraculturais do Woodstock), mas bebe na fonte de diversas culturas antigas e mistura tudo numa alquimia contemporânea (ANDRADE, 2011, p. 13).

O Tribal segundo Ferreira (2015), já foi considerado apenas como Bellydance (Dança do Ventre) antes de ser sistematizado, pois a dança que era produzida já se utilizava dos conceitos básicos do que hoje conhecemos por Tribal Bellydance.

A pesquisa aborda um estudo sobre como a prática do Tribal é feita na cidade do Natal-RN a partir da ótica da diretora e bailarina da Shaman Tribal e de alunas do Estúdio Shaman. A Companhia, que possui um núcleo em Piracicaba – São Paulo (SP)2 e um núcleo em Natal – Rio Grande do Norte (RN), está em atividade há 13 anos e é considerada a maior referência do estilo aqui no estado do RN. Para isso, trago uma contextualização sobre a Shaman contando um pouco da sua trajetória pontuando os principais acontecimentos que o grupo vivenciou,

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Bailarina, coreógrafa, professora, produtora e pesquisadora na área da dança é formada em licenciatura em Dança e no curso de Dançarino Profissional pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), possui Pós-Graduação (Especialização) em Estudos Contemporâneos sobre Dança nesta mesma universidade. Criadora do projeto "Tribal Tour", já ministrou diversos workshops em diferentes estados do Brasil e participou de grandes eventos internacionais como dançarina e/ou professora.

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Núcleo da Shaman Tribal Company com sede em Piracicaba (SP) dirigido por Paula Braz, que atua em paralelo ao núcleo de Natal (RN).

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12 dentre eles: as produções de eventos e espetáculos, as participações em festivais dentro e fora do país, a renovação do corpo de baile e as premiações conquistadas.

Além de mostrar esse entendimento coletivo por meio da diretora e bailarina do grupo e individual através das alunas do Estúdio de Dança, trago a ideia de Tribal Bellydance a partir da minha experiência em dança e enquanto aluno do Estúdio, e sou atualmente o único do gênero masculino a fazer aulas.

Quanto ao meu conhecimento sobre a linguagem da dança, iniciei nesse universo através da cultura popular dançando em quadrilha junina de competição. Logo me apaixonei por esse folguedo e durante 10 anos contribui para a preservação desse movimento que vem perdendo força a cada ano. Foram experiências transformadoras, inclusive, atribuo minha vivência de quadrilheiro como sendo o fator responsável por despertar o interesse de cursar Licenciatura em Dança na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O curso de Dança me proporcionou conhecer essa linguagem com outro olhar. Um olhar acadêmico que pôs a Dança num lugar maior do que estava ao meu entendimento. Foi através da graduação que entendi essa manifestação como uma ferramenta educacional potente na construção do processo de ensino e aprendizagem, e que sua presença na educação básica é tão importante como qualquer outra área do conhecimento. Durante os 4 anos de curso fui estimulado através das disciplinas a pensar sobre como me tornar um bom professor, como aprender a dar a melhor aula, quais estratégias utilizar, quais os melhores dispositivos para tornar uma aula dinâmica, como me relacionar com os alunos, etc., tudo isso levando em consideração os diversos contextos que poderia encontrar entre outros inúmeros fatores que competem a formação de um professor.

Ao mesmo tempo, o viés artístico foi trabalhado na produção de composições, nas apreciações de colegas e professores, no incentivo ao consumo da arte/dança na cidade e no fazer crítico para como essa arte/dança é produzida dentro e fora da academia. As experiências na graduação também me presentearam em conhecer outros estilos de Dança que fugiam das minhas possibilidades, e foi no ano de 2015, mesmo ano que ingressei na UFRN, que tive o primeiro contato com a dança Tribal ao apreciar a Companhia Shaman dançando no evento “Todos os tons de Esmeralda”, promovido pela Cia Nawar3. Mal sabia eu que ali seria o início de uma grande paixão na minha vida.

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Companhia de Danças Árabes atuante em Natal.

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13 Meu encontro com o estilo Tribal se fortaleceu no ano de 2018 quando comecei a fazer aulas no Shaman Tribal Studio e pude me reconectar a lembrança de quando assistir a Companhia Shaman pela primeira vez. Foi através dessa memória que iniciei minha pesquisa sobre esse estilo e sua prática na cidade do Natal. A partir do momento que comecei a vivenciar essa dança regularmente, conhecer melhor suas variações e conceitos, a dialogar com corpos tão distintos em aulas e apresentações, várias questões foram surgindo sem muitas respostas. Eram sentimentos, angústias, emoções, desafios que me tomavam a cada novo movimento aprendido.

O Tribal Bellydance assim como qualquer outra técnica de dança, exige um estudo aprofundado e de longo prazo para se obter um resultado qualitativo em termos de movimento. A presença do virtuosismo estava impregnada nas primeiras aulas pois eu tinha uma preocupação exagerada de executar os movimentos com perfeição e isso começou a se tornar algo incômodo. Ao mesmo tempo eu estava feliz por finalmente poder fazer as aulas de Tribal, foi então que eu passei por um momento que não sabia se continuaria a fazer aulas porque estava confuso com toda aquela situação de exposição ao novo. Mas, foi a própria Dança, através dos ensinamentos da professora Cibelle Souza4, que me trouxe calmaria para não parar e me fazer entender a força dessa Dança.

Hoje a construção desse trabalho tem um significado maior do que apenas contribuir para minha conclusão no curso de Dança: é um agradecimento a dança Tribal por me acolher e me permitir conhecer outras faces do meu eu.

A metodologia utilizada no estudo é de abordagem qualitativa, de natureza descritiva realizada a partir de revisão bibliográfica, relato de experiência e entrevistas feitas com alunas/bailarinas residentes em Natal. A partir dos textos consultados foi possível apresentar o estilo Tribal Bellydance de maneira consistente, diluindo os mitos que o cerca e mostrando os elementos e aspectos constituintes dessa dança. As entrevistas contribuíram na contextualização da prática desse estilo nesta cidade e mostrou como essa dança pode ser uma poderosa manifestação de autoconhecimento.

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Formada em Psicologia, possui Especialização em Psicologia Fenomenológica Existencial, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é diretora e bailarina da Shaman Tribal

Company e diretora e professora do Shaman Tribal Studio. Já atuou ministrando workshops em eventos

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14 HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DO TRIBAL BELLYDANCE

No final da década de 1960, na Califórnia (EUA), o Tribal Bellydance surge no mundo contemporâneo com uma proposta ousada de fusionar diferentes danças étnicas praticadas pelo mundo. Andrade (2011) afirma que o objetivo inicial era transpor as danças de matrizes tradicionais para uma estética contemporânea tendo como referência a dança do Ventre, e fusionando à conceitos e movimentos de danças como o Flamenco, dança Indiana, Break dance, dança Moderna, Jazz, Dança-Teatro e até de práticas alternativas como o Yoga.

De acordo com o mapa apresentado algumas dessas manifestações tiveram influência direta (linha reta) no processo de construção dos estilos ATS, ITS e Tribal Fusion. Outras danças serviram como possibilidades de fusão nesses repertórios (linha pontilhada). Contudo, o processo de hibridação do Tribal Bellydance não ficou limitado em torno desses estilos iniciais, ele tomou proporções globais que resultou numa criação incontável de estilos e/ou sub estilos por todo mundo. Andrade (2011) reforça esse acontecimento e diz que o uso das novas tecnologias contribuiu nesse processo:

Diante da vasta difusão da dança tribal, por meio de recursos tecnológicos comunicacionais, seus processos de hibridação foram intensificados pelos movimentos de globalização e ganharam complexidade, aumentando o teor das tensões e estabelecendo relações entre elementos dos mais variados (ANDRADE, 2011, p. 13).

Imagem 1: Mapa conceitual do Tribal Bellydance.

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15 Nesse contexto o Tribal foi se consolidando como uma dança potente em inovação de repertório, já que possibilita a união de diferentes culturas numa mesma linguagem. Dentre seus estilos encontramos o American Tribal Style (ATS) criado por Carolena Nericcio e o Tribal Fusion (Fusão Tribal) desenvolvido por Jill Parker.

O INÍCIO SEM O “TRIBAL”

Para entender os processos de fusão do Tribal Bellydance, é importante fazer uma descrição e discutir os estilos dessa dança que foram criados ao longo da história ocidental. Suas categorias possuem especificidades que diferenciam aspectos importantes para o reconhecimento do que “pertence” a cada estilo. No texto abordarei especialmente o começo da prática por Jamila Salimpour, o American Tribal Style e o Tribal Fusion.

O movimento Tribal surgiu de maneira despretensiosa através da bailarina Jamila Salimpour na Califórnia (EUA) em 1968. Segundo Ferreira (2015), esse movimento teve início quando Jamila começou a fusionar outras linguagens de dança com a dança do Ventre, contudo “apesar de ser consenso entre diferentes bailarinas a importância de Jamila Salimpour no Tribal, o estilo que estava sendo desenvolvido naquela época ainda não era denominado “dança Tribal”, era concebido ainda como Dança do Ventre” (FERREIRA, 2015, p. 11).

Salimpour teve uma vida dedicada as artes, iniciou sua trajetória no famoso circo Ringling Brothers Circus aos 16 anos de idade, onde chegou a se apresentar com elefantes. Segundo Espinosa (2018), a dança do Ventre entrou na vida de Jamila por volta dos 20 anos, quando se encantou por bailarinos da Golden Era da dança do Ventre5. Ela passou a imitar os passos que assistia nos filmes, até que uma funcionária da casa onde morava percebeu seu talento para dança e a levou para se apresentar em festas e eventos. Contudo, foi somente aos 31 anos que Jamila passou a dançar profissionalmente em clubes da Califórnia. Logo após começou a dar aulas por enfrentar dificuldades financeiras, sendo um começo difícil também pela construção metodológica das aulas já que não existia material catalogado que pudesse ajudar nos ensinamentos.

Espinosa (2018), apresenta informações importantes sobre como Jamila estudou os movimentos para sistematizar a dança do Ventre, relatando que Jamila:

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Conhecido também como Golden Age, foi um período compreendido entre as décadas de 1930 até 1990, como sendo épocas marcantes para história da dança do Ventre no mundo. Compreende um período importante para o entendimento e a evolução dessa dança, além de ter revelado muitas bailarinas/os referências na construção desse estilo.

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16 Estudou minuciosamente todos os toques de snuj que escutava e inclusive desenvolveu algumas variações, o que culminou em seu primeiro manual de snujs (que vinha com uma fita para as pessoas escutarem o que estavam lendo)! Ela também viajou para estudar com dançarinos de diversas modalidades de dança oriental e publicou diversos estudos e pesquisas nessa área. Sua importância é inegável também para a dança do ventre: ela foi, até onde se sabe, a primeira pessoa aqui no ocidente a dar nomes aos movimentos e sistematizar o ensino da dança do ventre. Se você sabe identificar movimentos quando ouve oito maia e queda turca, agradeça à Jamila! (ESPINOSA, 2018. Texto retirado de artigo publicado no portal do Congresso Tribal).

Na intenção de ampliar seu repertório Jamila fez viagens à países do Oriente e Norte da África onde se encantou pela cultura dos povos de tribos. Ao retornar para os EUA, ela fusionou as diversas manifestações que conheceu nas viagens e criou uma espécie de dança-teatro, onde usava principalmente adereços, figurinos e movimentos de danças étnicas orientais (ANDRADE, 2011).

Nesse contexto Jamila criou a Trupe Bal Anat, observado na Imagem 2, que tem em seu nome o significado “Dança da Deusa Mãe”. O grupo surgiu para se adequar as apresentações da Renaissance Faire6, cuja foto anterior foi tirada na edição de 1970. Espinosa (2018) fala que

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Feira renascentista que acontece anualmente na Califórnia e que visa representar aspectos da época renascentista através de produtos, teatro, música e a dança. O grupo Bal Anat ganhou bastante visibilidade ao dançar nessa feira.

Fonte: ANDRADE, 2011, p. 18.

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17 o grupo era composto por um público diverso de pessoas: homens, mulheres, crianças, malabaristas, músicos, acrobatas, mágicos e dançarinos de vários estilos da dança Oriental. A Trupe ainda foi responsável por criar uma estética única no estilo Tribal e por revelar grandes nomes que deram continuidade no trabalho de Jamila após o encerramento da Trupe. John Compton, Katarina Burda, Suhaila Salimpour (filha de Jamila) e Masha Archer foram alguns destes nomes.

Jamila é considerada como o primeiro pilar na construção do estilo Tribal Bellydance e teve como “sucessora” a bailarina Masha Archer, que foi responsável por expandir esse trabalho. Masha tinha uma visão própria sobre a dança do Ventre e sentia uma necessidade forte de mostrar essa dança no palco, tentando excluir a visãomarginalizada que ela vinha sendo tratada.

Nos anos 1970, Masha formou a San Francisco Classic Dance Troupe com um estilo chamado de “Tribal Art Nouveau” usando referências das culturas oriental e europeia. A estética do grupo usava figurinos em tons pastéis, joalherias de tribos antigas, e inspirações em pinturas, ao som de músicas tradicionais folclóricas, músicas clássicas e óperas (ESPINOSA, 2013). Na imagem a seguir podemos contemplar um ensaio fotográfico realizado com as bailarinas do San Francisco, usando o figurino característico criado pelo grupo.

Imagem 3: San Francisco Classic Dance Troupe.

Fonte: Portal Aerith Asgard. Disponível em: <http://aerithtribalfusion.blogspot.com/search?q=m

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18 Apesar de ter uma importância expressiva na construção do Tribal, Archer não teve um reconhecimento tão notório como Jamila e Carolena7. Isso fica claro pela escassez de informações e registros sobre seu trabalho. Contudo, é importante reafirmar que os estudos de Masha foram determinantes no desenvolvimento do ATS por Nericcio, formando o Tribal como uma dança bem característica.

Sobre a dança do Ventre é importante ressaltar que essa surgiu no Oriente, décadas antes do movimento Tribal. Não existem registros exatos com datas de quando ela surgiu exatamente, mas sabe-se que ela nasceu no Egito por meio das dançarinas Ghawazze8 e Awalim9 e foi batizada com esse nome através do orientalismo10 (LOURO, 2016, 38 min). Inicialmente era praticada para fins ritualísticos, porém o cinema americano imprimiu um contexto performático e artístico que gerou inúmeras interpretações erradas, categorizando a dança do Ventre como uma dança de sedução (CÉZAR, 2017).

Por ser uma manifestação tão antiga, ela passou por transformações que culminou no surgimento de uma variedade imensa de estilos. Na atualidade essa característica acaba sendo um provocar de discussões, gerando interrogações para se saber qual “a verdadeira”, “a original”, “a pura”, “a autêntica” dança do Ventre. Cristina Antoniadis11 classifica 5 estilos dessa linguagem: Dança do Ventre tradicional, Dança do Ventre Clássica Oriental, Dança do Ventre Clássica Ocidental, Dança do Ventre Moderna e Dança do Ventre Criativa ou Livre, em que se diferenciam de acordo com os movimentos, a música, o figurino, os ritmos, entre outros aspectos.

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Foi aluna de Masha Archer e responsável pela criação do American Tribal Style (ATS).

8 Eram mulheres que viviam da arte, dançavam na rua para os estrangeiros como forma sobrevivência.

Usavam vários adereços e roupas exageradas, movimentando braços, tronco e quadril. Não se tem registros de quando iniciou o movimento Ghawazze, mas relacionam seu surgimento ao povo cigano.

9 O termo Awalim é plural de Almeh, mulheres versáteis que viviam nos haréns. Eram escritoras, poetisas

e dançarinas. Se apresentavam por trás de biongos ou cortinas e nunca se mostravam para os homens na hora da dança. Junto com as Ghawazze são consideradas como as primeiras dançarinas do Ventre.

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É o termo usado para designar os estudos sobre as civilizações orientais, especialmente do Oriente Médio, Extremo Oriente, Ásia Central e Índia, a partir de uma interpretação eurocêntrica por parte de artistas e escritores ocidentais.

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Professora, dançarina, coreógrafa, pesquisadora e produtora cultural. Trabalha com danças gregas e orientais há mais de 20 anos. É coordenadora de cursos do “Pandora Danças” e diretora da Pandora Cia de Danças, um grupo de danças orientais profissional. Foi supervisora e orientadora de danças libanesas do elenco da minissérie "2 Irmãos" produzida pelo diretor Luís Fernando de Carvalho/Rede Globo onde participou de cenas de dança como atriz figurante.

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19 A relação da dança do Ventre com o Tribal é estritamente construtiva e são responsáveis por gerar uma infinidade de possibilidades para cena. São linguagens que dialogam e ao mesmo tempo se afastam, e apesar da ligação “maternal” elas possuem especificidades que as diferenciam. É importante falar sobre isso pois existe uma confusão muito grande gerada em torno do que é dança do Ventre e o que é dança Tribal, pois existem aqueles que defendem que se trata da “mesma coisa”, outros que conseguem distinguir algumas variantes mas acham que toda dança é “igual” e ainda há os que sabem diferenciar uma da outra.

Acredito que essa confusão é gerada principalmente pelo fato do Tribal Bellydance ser uma dança nova, contemporânea, e apesar de já ser reconhecida mundialmente ela não chega a todos os públicos com a mesma intensidade. Nesse contexto percebo que cabe aos pesquisadores/produtores/dançarinos dessa linguagem o dever de divulgar ainda mais a história e os conceitos dessa dança, levando “a palavra do tribal” para outras culturas e outros públicos.

AMERICAN TRIBAL STYLE (ATS)

O Tribal Bellydance começou a ser sistematizado a partir da criação do American Tribal Style (Estilo Tribal Americano), chamado popularmente de ATS. Esse foi o primeiro estilo catalogado e patenteado dentro do Tribal, sendo considerado a base para a construção de outros estilos.

Sua criadora foi a bailarina Carolena Nericcio, considerada um dos nomes mais importantes na construção da linguagem Tribal. Segundo Ferreira (2015), Nericcio foi aluna de Masha Archer e se formou como bailarina a partir de seu contexto. Ela começou a desenvolver seu próprio estilo após Masha se aposentar encerrando a Cia San Francisco.

O ATS começa a tomar forma após Carolena pesquisar e estudar os elementos da dança Flamenca e da dança Indiana, passando a fusionar esses elementos com os movimentos aprendidos em sua formação. Nericcio organizou uma sequência de movimentos, catalogou e nomeou essas sequências batizando esse sistema de American Tribal Style. O nome American Tribal Style foi uma forma de distinguir o estilo Tribal, da dança do Ventre como estava sendo praticada naquele momento e para reafirmar que o estilo foi criado nos EUA, sendo uma dança de origem ocidental. Nesse contexto Carolena funda o grupo FatChanceBellyDance que se tornou um marco no movimento Tribal, sendo a maior referência dentro do ATS (FERREIRA, 2015).

O ATS foi criado para ser dançado em grupo, na intenção de resgatar o sentido de tribo e com um novo conceito de se fazer dança: o improviso coordenado por liderança. Esse conceito

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20 consiste num improviso regido por regras, em que existe uma bailarina líder que deve ser copiada pelas demais do grupo. Isso fica mais claro com a explicação de como se dançar o ATS:

A formação básica do ATS acontece sempre com a líder posicionada a esquerda, a frente das demais bailarinas que estarão à direita. Quando é duo, a bailarina que está atrás, fica à direita, formando uma diagonal. Na formação de trio acontece um triângulo, a posição dois fica no centro da formação um pouco mais para o fundo, enquanto que a posição três fica na ponta direita, um pouco mais à frente da bailarina que está na posição dois. Na formação de quarteto a mesma coisa acontece, o que muda é que a pessoa que está na quarta posição assume o lugar da ponta, mas ao fundo do palco. No momento que a líder induz um giro, todas da formação irão liderar um pouco. Nesse momento é necessária a prática do block of birds, que é a referência para que todas girem juntas na mesma sincronia. [...] Além dessa formação mais comum de acontecer, também pode ocorrer a formação de fade e a formação diagonal (FERREIRA, 2015, p. 42 e 43).

Além do improviso coordenado, outros elementos foram definidos para identificar o ATS. O puja, a roda, o coro, os snujs, as músicas e o figurino, são componentes dessa linguagem que possuem características próprias.

O puja faz parte de um ritual de reverenciamento no ATS, tem sua origem na religião hindu e foi adaptado por Carolena para ser um momento de agradecimento em que cada movimento possui um significado. Nericcio estabeleceu que esse ritual deve estar presente nas aulas do estilo, mas também pode ser usado em apresentações. O puja se inicia “com mãos em prece no coração e com as pontas dos dedos juntas; em seguida estende-se a mão esquerda e o braço fazendo movimento de oferecimento, depois a direita também oferecendo aos cantos da sala” (FERREIRA, 2015, p. 22), como podemos observar na Imagem 4 retirada de um vídeo do canal FatChanceBellyDance.

Imagem 4: Carolena Nericcio e seu grupo FatChanceBellyDance fazendo o puja no início da apresentação.

Fonte: Canal FatChanceBellyDance. Disponível em:

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21 A roda, é uma formação indispensável para se dançar ATS. Por meio dela acontece a troca de liderança entre as/os bailarinas/os, os deslocamentos em giros, os inícios de coreografias além de aparecer em outros momentos do improviso. Seu giro é no sentido horário e sua forma básica, que pode variar no deslocamento, é com braços na posição média. É apreciado que a roda faça um giro completo antes de mudar a líder.

O coro, é uma formação para quando existir mais de quatro bailarinas/os em cena. Seu formato é em meia lua e fica ao fundo do palco, fazendo uma espécie de “plano de fundo” para as/os bailarinas/os ao centro. Ferreira (2015) explica algumas regras sobre essa formação:

O coro [...] sempre tem uma líder, que é a bailarina que fica na ponta esquerda, é essa bailarina que irá puxar a movimentação que será feita no coro [...] Geralmente no coro não são feitos muitos movimentos, os movimentos alternam poucas vezes , e são movimentos menores, que não tiram a atenção do grupo que está dançando na formação. No repertório rápido, as bailarinas do coro também tocam snujs, e podem apenas fazer marcação de quadril para as colegas que estão na formação (FERREIRA, 2015, p. 49).

Podemos ver na imagem a seguir o grupo FatChanceBellydance numa apresentação de ATS. O registro foi retirado de um vídeo da plataforma YouTube, postado no canal FatChanceBellyDance. Com um grande número de bailarinas no palco o grupo se divide entre a formação para o improviso e o plano de fundo em formato de coro.

Imagem 5: Apresentação do grupo FatChanceBellyDance com bailarinas ao centro em roda e bailarinas no fundo em formação de coro.

Fonte: Canal FatChanceBellyDance. Disponível em:

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22 Outro elemento característico no ATS são os snujs12, usados de acordo com as músicas estão ligados diretamente aos repertórios de movimentos. Os estilos de músicas são classificados em três interpretações: lento, lento dramático e rápido. O uso desse instrumento é compreendido com uma extensão do corpo ao dançar, pois sua utilização é feita paralela aos movimentos dialogando com a música e corporeidade.

Além dos elementos de execução e repertório, o figurino tradicional é indispensável na estética ATS. O conjunto de acessórios e trajes formam o que chamamos de Dresscode, que reúne elementos mínimos na composição do figurino, como mostra a Imagem 6 seguir. Apesar de ser estabelecido um padrão nos acessórios e vestimenta, as bailarinas tem liberdade de combinações conforme preferência, dependendo muito do contexto que será dançado/apresentado. Ferreira (2015) aborda mais detalhes sobre esse conjunto:

No cabelo que está preso a bailarina pode utilizar flores, correntes e pingente, e podem optar por usar turbantes. No busto deve ser sempre utilizado o choli, top utilizado na Dança Clássica Indiana e adaptado para o ATS. Esse top pode ter um sutiã com medalha por cima, as bailarinas do grupo FatChanceBellydance,

inc tem o hábito de usar, porém é uma opção [...] As saias no ATS são bastante

volumosas, podem ter 7, 10, 12, 15 metros e fazer diferentes desenhos e formas, cruzando a ponta do lado num estilo mais flamenco, ou o formato [...] Por cima da saia, geralmente são colocados xales e cintos de preferência das bailarinas, os xales são feitos de crochê, tricô entre outros materiais, podendo também ter pompons em sua ponta. Além da saia, a calça bufante (pantalona) também é um acessório importante no figurino, influência da Dança Indiana (FERREIRA, 2015, p. 52 e 53).

12Instrumento percussivo de mão em formato de címbalos feito de metal. Usados um par em cada mão,

são presos no dedão e dedo médio por um elástico. Podem acompanhar a música inteira ou partes dela, além das paradas (breaks). É tocado no repertório rápido do ATS.

Imagem 6: Bailarinas vestidas com figurino tradicional do ATS.

Fonte: Portal FatChanceBellyDance. Disponível em: https://fcbd.com/community/gallery/ Acesso em: 09 de maio 2019.

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23 A partir desse contexto é possível perceber o ATS como uma dança plural, que possibilita inúmeras interações apreciativas e práticas em suas apresentações, e dentro dessas interações registramos momentos de força, acolhimento, reconstrução, reconhecimento, ensino, aprendizado e muita partilha. Esse sistema de improvisação coordenada oportuniza a globalização dessa dança tão pouco conhecida por algumas culturas. Basta que bailarinas/os que tenham estudado formados no ATS estejam disponíveis para compartilhar essa dança no mesmo palco, por ser uma linguagem de códigos específicos o estilo permite essa dinâmica que une diferentes culturas num mesmo lugar. “Hoje, o ATS® é um vocabulário mundial. Quem conhece o estilo é capaz de dançar improvisando em grupo sem nunca ter dançado com aquelas pessoas antes” (PIÑEIRO, 2013). Além disso o Tribal não exclui os corpos não convencionais para o estilo, todos são abraçados e instigados da mesma maneira a se descobrirem como querem ser.

TRIBAL FUSION

O American Tribal Style foi base para o surgimento de outros estilos no universo Tribal. A principal vertente derivada do ATS foi chamada de Tribal Fusion (Fusão Tribal), mas ainda existem o Neo Tribal e o Improvisational Tribal Style (ITS). A bailarina Aerith fala que:

Negar o ATS é negar sua origem; é negar seu código genético, como bem disse a Rebeca; é negar seus antepassados e toda a importância que estes fizeram em sua História. Se a pessoa quer dar aula sem ATS, tudo bem, pode-se fazê-lo. Mas NEGAR a existência e importância do ATS no tribal fusion, há algo errado nisso. Nem Rachel Brice, nem Zoe Jakes, nem Ariellah(exemplo na entrevista realizada com a bailarina no blog), nem Kami Liddle, nem Mira Betz e tantas outras bailarinas importantes negam isso. Pelo contrário, existem muitas evidências que elas vêem a importância do estudo do ATS para as fusões com dança do ventre e não só tribal fusion. (ASGARD, 2013, Artigo publicado no portal Aerith Tribal Fusion).

Para Ferreira (2015) o Tribal Fusion foi criado pela bailarina Jill Parker13 nos EUA, que estudou ATS com Carolena e integrou do grupo FatChanceBellydance (FCBD). Parker, saiu do FCBD e começou a desenvolver seu próprio estilo ao montar o grupo Ultra Gypsy, criando fusões na dança que aprendeu com Carolena. No início do grupo ela se apropriou do método

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Professora, bailarina e coreografa de Tribal. Foi integrante do grupo FCBD e aluna de Carolena Nericcio. É considerada a criadora do estilo Tribal Fusion, fundou o grupo Ultra Gypsy Dance Teatre responsável por revelar grandes nomes da cena Tribal.

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24 ATS trabalhando o improviso coordenado, mas logo começou a mesclar figurinos, músicas e movimentos da cultura ocidental.

Influenciada pelo movimento contemporâneo, a primeira grande mudança ocorre na vestimenta tirando peças tradicionais do figurino ATS que foram inspirados nas danças de matrizes. Na dança, ela fusiona movimentos do Breakdance, da dança Moderna e do Jazz criando outra estética corporal para o Tribal e começa a utilizar outros tipos de músicas incluindo principalmente, músicas ocidentais, com remixes, batidas e sons eletrônicos (FERREIRA, 2015).

O grupo Ultra Gypsy é considerado pioneiro no estilo Tribal Fusion pois serviu de inspiração para o surgimento de outros grupos. Ele formou grandes bailarinas como, Lady Fred, Sharon Kihara, Rosen Harden, Rachel Brice e tantas outras (PARKER, 2017). Ferreira (2015) destaca Rachel como uma grande referência no estilo atualmente, por ser responsável pela expansão do estilo no mundo e por popularizar as performances solo de Tribal, desenvolvendo ainda sua própria dança.

Existem outros nomes importantes no processo de construção do que hoje entendemos por Tribal Bellydance, “tais como Mardi Love, Kami Liddle, Sharon Kihara, [...] e Zoe Jakes. Essas bailarinas dão forma ao estilo a partir de suas experiências pessoais com outras danças além do Tribal e da Dança do Ventre” (FERREIRA, 2015, p. 16).

E nesses processos foram surgindo subgêneros, a exemplo do Dark Fusion, Hip Hop Fusion, Burlesque, Vintage, Tribal Brasil etc. Hoje não se sabe quantos subgêneros existem no Tribal pois é difícil catalogar as fusões que surgem em diferentes danças do mundo todo. Ressalvo que no consenso comum, para ser considerado Tribal Fusion deve existir a presença de elementos do ATS na fusão proposta, fora isso a dança é tratada apenas como Fusão.

Novas contaminações estão sempre surgindo no movimento Tribal, isso me faz pensar em alusão ao símbolo do infinito onde não existe fim. É instigante pensar essa dança como dispositivo de criação, de surgimento, de renovação que não está propensa a um esgotamento. Além de criar movimentos essa manifestação também cria culturas, aproxima pessoas e conecta lugares num diálogo contínuo por meio da dança.

O TRIBAL BELLYDANCE NO BRASIL

A divulgação do Tribal Bellydance pelo mundo fez essa linguagem crescer em grandes proporções, ganhando novos adeptos em várias culturas. Sua inserção no Brasil aconteceu através da bailarina Shaide Halim no início dos anos 2000. Numa entrevista concedida ao portal

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25 Central Dança do Ventre, Halim fala sobre sua trajetória na dança e como iniciou seus estudos no Tribal:

Meu primeiro contato com o Tribal foi em 1990, no Central Park, em Nova York, numa apresentação da Rakkadu Gipsy Caravan. Na época eu ainda não tinha nenhum conhecimento em dança do ventre, que só comecei a estudar em 1994, mas já estudava ballet clássico, jazz e dança afro. (HALIM, 2008. Entrevista concedia ao portal Central Dança do Ventre).

Se pensarmos no processo construtivo do Tribal em relação ao mesmo processo do Brasil, percebemos uma aproximação entre eles. O Brasil é um país diverso e possui uma cultura extensa ao longo de seu território, foi construído por uma mistura de povos e sua maior característica é de ser um país híbrido biologicamente e culturalmente. Em contraponto esse aspecto exclui o registro do Brasil possuir uma etnia única brasileira.

Reis (1961) apresenta uma investigação densa sobre a formação do Brasil a partir dos povos europeus, negros e índios, ele afirma que:

No Brasil, onde o povoamento se realizou e se tem realizado por grupos os mais diversos em aspectos raciais e culturais, onde as migrações não tiveram intensidade e distribuição iguais em nosso imenso território, difícil se torna determinar a etnia brasileira [...] As ligações inter-raciais com elementos diversos: branco e negro, branco e índio, negro e índio, etc., criaram um certo número de "tipos" que se distribuíram nas várias áreas. (REIS, 1961, p. 323) Essa miscigenação permitiu além da mudança biológica uma construção quase infinita de costumes populares. Dentro dessa diversidade encontramos manifestações artísticas que são próprias do nosso país e que surgiram a partir de vários contextos, são diferentes linguagens que se estendem pelas danças, festas tradicionais, brincadeiras infantis, lendas, músicas, manifestações religiosas, entre outras. Esse aspecto de miscigenação aproxima a cultura popular brasileira da dança Tribal que tem na hibridação sua maior referência construtiva. É partindo desse pressuposto que compreendo o surgimento do estilo Tribal Brasil desenvolvido pela bailarina Kilma Farias.

TRIBAL BRASIL

O Tribal Brasil surgiu a partir da fusão de danças populares e afro-brasileiras com a linguagem da dança Tribal no ano de 2003. A percussora desse estilo foi a professora,

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26 coreografa e bailarina Kilma Farias14 (João Pessoa – PB). Ela sistematizou esse subgênero, criando inúmeras possibilidades de dança em diferentes contextos. Nessa linguagem é muito comum o uso de danças nordestinas, como o coco, o caboclinhos, o xaxado e o maracatu, além de contemplar também as danças dos orixás. Mas ainda é possível dialogar com outros estilos como o Toré15 e as danças urbanas por exemplo (FARIAS, 2014).

O uso de adereços e acessórios são indispensáveis nessa estética, não somente pelo embelezamento, mas por trazer representações que contextualizam essas fusões. Podemos encontrar elementos como: o jarro que representa a fertilidade; a espada, fazendo referência a identidade guerreira; o espelho, característico do Orixá Oxum e das sereias; a taça, forte símbolo do cristianismo; as flores, representando a natureza e a fertilidade da terra etc. Farias (2014) reforça que esses e outros elementos constituem um sistema de adornos que permite ressignificações a cada nova dança.

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Formada em Jornalismo, é graduanda do curso de Licenciatura em Dança pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Dirige a Cia Lunay, é bailarina, coreógrafa e proprietária do Studio Lunay, sendo ainda uma das organizadoras da Caravana Tribal Nordeste. Autora do projeto “Cultura em Movimento” em João Pessoa-PB, foi responsável por desenvolver e sistematizar o estilo Tribal Brasil. Autora do livro “Dança do Ventre da Energia ao Movimento”, já ministrou aulas e workshops nos Estados Unidos, Argentina e Peru.

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Ritual de cantos e danças sagradas, incluindo práticas religiosas e indígenas. Tem por objetivo a comunicação com os encantos ou encantados que vivem no Reino da Jurema, referência à bebida feita com a casca da raiz da juremeira. Quanto à dança, propriamente dita, ela assume características diferentes em cada comunidade.

Imagem 7: Shaman Tribal Co. dançando com jarros em apresentação do pocket show Híbrida.

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27 A música também é um elemento importante no reconhecimento do Tribal Brasil. Geralmente os repertórios usados nas fusões são de músicas tradicionais das danças populares brasileiras, sendo essas com letras ou apenas instrumental. Músicas de bandas e cantores nordestinos também são usadas com frequência nas composições. Porém, a presença constante da cultura nordestina no Tribal Brasil não exclui a possibilidade de fusionar com danças originárias de outras regiões, assim como na influência estética e musical.

No intuito de divulgar o Tribal Brasil e a dança Tribal pela região Nordeste, foi criado a “Caravana Tribal Nordeste” (CTNE), um evento onde grupos de vários estados puderam compartilhar seus estudos entre si, Souza (2019) relata em entrevista o objetivo desse projeto:

A “Caravana Tribal Nordeste” (CTNE), é a proposta de grupos aqui do Nordeste de movimentarem o Tribal aqui, [...] surgiu através da Kilma Farias de João Pessoa (PB), e a ideia era basicamente ser um evento itinerante que acontecia a cada 2 meses em um estado aqui do Nordeste, e juntou Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Bahia a princípio, nos primeiros 2 anos. E a cada 2 meses a gente ia para uma dessas cidades e os grupos davam aula uns para os outros, e o grupo que sediava tinha que providenciar uma oficina de uma dança regional, e foi aí que a gente estudou caboclinho, coco, afoxé, danças dos orixás, tudo isso foi estudando dentro da Caravana (SOUZA, 2019. Entrevista concedida em 15 de abril).

A criação desse evento foi importante não somente para divulgação do Tribal, mas também por proporcionar um intercâmbio cultural entre grupos/dançarinos/pesquisadores de outros gêneros da dança, oportunizando um diálogo de diferentes modos de se pensar e fazer/produzir essa dança. Nesse aspecto a diversidade rompe fronteiras e dissolve quaisquer diferenças quando se amplia o reconhecimento das inúmeras maneiras de ser sujeito.

Imagem 8: Aquarius Cia de Dança na Caravana Tribal Nordeste 2014.

Fonte: Canal Kilma Farias. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hVyFADGwp0E>

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28 As Imagens 8 e 9, mostram dois grupos em apresentação no evento “Caravana Tribal Nordeste”. Em 2014 com a Aquarius Cia de Dança e em 2016 com Cia Lunay, respectivamente. Esses grupos estiveram presentes em várias edições do evento, o que ajudou significativamente na divulgação do trabalho realizado por eles em outros estados da região Nordeste.

O ESTILO TRIBAL EM NATAL

O Tribal Bellydance foi se expandindo em todo país e não demorou muito até chegar no Rio Grande do Norte. Por aqui ele começou a ser praticado em Natal de maneira bem tímida por bailarinas da dança do Ventre, através de um DVD com vídeos do programa Bellydance Superstar. Segundo Souza (2019), os primeiros passos foram dançados por um grupo de estudos dirigido pela professora Eliete Monteiro, em 2006, que dava aulas de dança do Ventre na época. Na entrevista concedida por Souza (2019), ela relata sua trajetória na dança e fala sobre esse começo da dança Tribal em Natal:

Fiz 4 anos e meio de Dança do Ventre com a professora Eliete Monteiro que na época era conhecida como Aenia Shake, e foi através dela também que conheci o Tribal. Nas aulas de vídeo que ela passava ela mostrou um vídeo da

Bellydance SuperStar, que tinha uma apresentação do grupo The Indigo,

formado pelos grandes nomes como Rachel Brice, Sharon Kihara, Zoe Jakes e etc. Eu vi aquilo e fiquei ensandecida, meu Deus é isso que eu quero fazer.

Fonte: Canal Kilma Farias. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=KLrcIx0mxF8> Acesso em: 13 de maio 2019. Imagem 9: Cia Lunay na Caravana Tribal Nordeste 2016.

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29 Porque, na Dança do Ventre, apesar de ser muito prazeroso eu me sentia muita desengonçada [...] E no Tribal me identifiquei com o visual principalmente, e com a dança. Não existia o Tribal aqui em Natal e minha professora estudava por vídeo, ela montou um grupo de estudos por vídeos e a gente começou a estudar o Tribal por vídeo. (SOUZA, 2019, Entrevista parte 1/3).

Existia uma dificuldade maior em estudar pelos vídeos, pois o fato de não haver bailarinas profissionais de Tribal na Cidade impossibilitava a limpeza dos movimentos, o que resultava numa dança cheia de interrogações. Mas a vontade visceral de aprender sobre essa dança manteve uma chama acesa e mesmo com pouca informação o Tribal foi se fortalecendo na dança em Natal e atualmente vem conquistando cada vez mais notoriedade por suas produções.

Atualmente esse estilo é ofertado em 03 escolas de dança na Cidade: Evidance Academia de Dança, Estúdio de Dança Estesia ambos com a professora Giovana Pessoa, e no Shaman Tribal Studio que é dirigido por Cibelle Souza. Além das aulas, o Tribal também é praticado através da Shaman Tribal Company, única Companhia do estilo atuante no estado do RN.

SHAMAN TRIBAL COMPANY

A Companhia Shaman surgiu através das bailarinas Paula Braz e Ellen Paes em 2006, paralelo ao começo da prática do Tribal em Natal. Inicialmente sua formação aconteceu pela necessidade dessas bailarinas em dançar o estilo que tanto se identificavam e com a proposta de trabalhar o sagrado feminino e as danças ancestrais. Outras bailarinas se juntaram a Ellen e Paula para uma apresentação no Café Salão da Nalva Melo, Janine, Bartira e Vivian, e posteriormente Regina Silva e Cibelle Souza.

O nome Shaman foi sugerido por uma das bailarinas que integrou a primeira formação, Souza (2019) explicou como foi esse processo:

O nome foi sugerido por Bartira Calado que é nossa Shaman. Ela tem descendência indígena e faz estudos shamanicos com grupos aqui em Natal e fora do estado também. E aí discutindo o conceito de tribo, o que era Tribal, do empoderamento, do resgate da ancestralidade do feminino através da dança que foi a primeira pegada que a gente teve no Tribal, aí Bartira sugeriu o nome Shaman a partir desse conceito. E aí as meninas gostaram e ficou Shaman Tribal. Quando ela surgiu, surgiu Shaman do jeito que fala em português, com x e acento tio no “mã”. E no decorrer dos anos começamos a trabalhar com bailarinas de fora do país, e elas não sabiam falar “Xamã” com x pela

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30 dificuldade da pronúncia, já que nos Estados Unidos o x tem outro som. Então em reunião com a Paula, a gente entendeu que para facilitar nosso contato com as bailarinas de fora a gente precisava escrever o nome Shaman em inglês. E passou a se chamar Shaman Tribal Company (SOUZA, 2019, Entrevista parte 1/3).

Depois de um tempo a Shaman sofreu mudanças no corpo de baile, Paula Braz se mudou para São Paulo (SP) e Cibelle assumiu a direção da Companhia. Sem querer deixar o universo Tribal, Paula em decisão com Cibelle decidiu expandir o trabalho da Companhia e abriu um núcleo em Rio Claro (SP), que contava com a participação das bailarinas Gabriela Goés, Jamille Berbare, Paloma Maioral e Ludmila Rentas.

Já em Natal, a Shaman foi desenvolvendo um trabalho de “formiga” construindo seu espaço nesse cenário. Em 13 anos de existência foram vários objetivos alcançados que contribuíram para a consolidação da Companhia como sendo uma das melhores do Brasil. Dentre os principais acontecimentos que o grupo vivenciou estão as produções de eventos e espetáculos, as participações em festivais dentro e fora do país além das premiações.

Imagem 10: Logo marca da Companhia Shaman.

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31 PRODUÇÕES SHAMAN TRIBAL

Imagem 13: Poster do pocket show Híbrida.

Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. (2019)

Imagem 14: Poster do V Hafla Shaman Tribal. Imagem 11: Poster do espetáculo Las Nieblas.

Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. (2015)

Imagem 12: Poster do espetáculo Sonhos Lúcidos.

Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. (2018)

Fonte: Perfil do Instagram Shaman Tribal Co. (2018)

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32 Se apropriando de conceitos em torno do sagrado feminino, do empoderamento, do resgate da ancestralidade através da dança, de tribo entre outros, a Companhia foi trabalhando esses conceitos nos espetáculos, pocket shows e outras produções.

Para o espetáculo “Las Nieblas” a inspiração se deu a partir dos vários arquétipos de mulheres construídos ao longo da história e dos mitos e lendas de várias tradições que mostram a força da união feminina. Já no espetáculo “Sonhos Lúcidos” o conceito foi inspirado a partir do surrealismo e o misterioso mundo dos sonhos, misturando o real com o imaginário transpondo tantas histórias em corporeidade. O pocket show Hídrida é um projeto que permeia o imaginário e a criatividade, reforçando a mulher como um ser plural e complexo, que pode e deve exercer sua liberdade quanto à sexualidade, corpo, beleza, fundamentada em suas origens ainda que tomada por sua capacidade de reinvenção.

O evento Hafla é compreendido como uma “Mostra” de caráter intimista, onde as turmas do Studio Shaman e as bailarinas da Companhia realizam apresentações sem a preocupação de receber críticas, onde o foco principal é de se divertir, confraternizar e até perder um pouco da timidez de dançar para um público.

Hoje o corpo de baile Shaman Tribal (núcleo Natal) conta com 13 bailarinas em atividade. O ingresso para integrar a Companhia é por meio de audição que acontece sem período determinado, dependendo muito da necessidade do grupo. Os ensaios (núcleo Natal) acontecem duas vezes por semana com 3 horas de duração cada ensaio e com intervalo de 15 minutos.

A Companhia já viajou pelo Brasil e outros países, onde fez participações em eventos e festivais contando com apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Bahia, Paraíba, Chile, Colômbia, Argentina e Estados Unidos. Algumas participações são feitas pelo núcleo de São Paulo, dependendo muito da proposta e da logística (SOUZA, 2019).

O trabalho da Companhia Shaman sem dúvidas é uma das grandes referências do estilo Tribal no cenário da dança brasileira. Sua dança, definida como “dança étnica contemporânea” possui um nível técnico e estético surpreendente que é fruto de um trabalho árduo de muita pesquisa e estudo contínuo, pois o Tribal é um estilo em constante renovação.

Sobre a cena natalense, o espaço conquistado ainda não é o esperado e por muito tempo as possibilidades nem existiam, mas hoje, por uma insistência resiliente, as possibilidades estão começando aparecer nos eventos e competições de dança em Natal, o que é inspirador para que esse trabalho não cesse.

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33 SHAMAN TRIBAL STUDIO

O Studio Shaman está localizado na Rua Humberto Monte, número1964, no bairro de Capim Macio, zona sul de Natal. Antes de funcionar nesse endereço as aulas aconteciam num espaço alugado localizado na Av. Prudente de Morais. Segundo Souza (2019) o Studio surgiu devido a necessidade em formar bailarinas para a Companhia Shaman e pela procura do público que começava a tomar conhecimento desse estilo. No prédio atual o Studio divide as atividades com um Studio de Música dirigido pelo esposo de Cibelle, e que comporta dois banheiros, uma cozinha, uma sala de recepção e uma sala de aula apropriada para prática de dança, além de contar com um espeço exclusivo para as atividades de música.

Atualmente são ofertadas 4 modalidades na grade de aulas: Tribal Fusion, Tribal Kids, Dança Contemporânea e Yoga. Sendo 9 turmas de Tribal Fusion, 1 turma de Tribal Kids, 1 turma de Dança Contemporânea e 4 turmas de Yoga, atendendo uma média de 75 alunos. As aulas de Tribal Fusion são dívidas em 3 níveis de aprendizados: iniciante, intermediário e avançado. A diretora e professora do Studio, Cibelle Souza, é responsável pela organização dos conteúdos e estudos que caracterizam os níveis.

A metodologia utilizada nas aulas de Tribal Fusion16, dialoga na práxis teórico-prático. Trabalhando autores que contextualizam a história do Tribal, a professora Cibelle traz um conteúdo introdutório sobre os grandes pesquisadores dessa dança e seus principais estilos para compor as aulas teóricas iniciais. Já nas aulas práticas, além dos movimentos específicos e codificados do Tribal são desenvolvidos exercícios e estudos em diversos conteúdos da dança: improvisação, composição coreográfica, níveis espaciais e fatores do movimento são alguns desses conteúdos.

As aulas práticas são divididas em 03 momentos, organizadas da seguinte maneira: 1º Momento: A aula inicia com o aquecimento das articulações e musculatura do corpo, através de exercícios aeróbicos, de contração e relaxamento sendo esses exercícios estáticos e/ou dinâmicos e exercícios de percepção.

2º Momento: O estudo dos movimentos acontece por meio de uma sequência coreográfica. São pequenas células estudadas repetidas vezes para compor essa sequência ao final da aula. Durante esse estudo vão sendo incorporados novos movimentos e revisados

16

A partir da proposta da pesquisa irei tratar especialmente sobre os processos da turma intermediário I, do sábado, da modalidade Tribal Fusion.

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34 movimentos anteriores já estudados. Ao final da aula registramos em vídeo a sequência que é compartilhada com todos da turma para ser estudada em outros momentos.

3º Momento: A aula finaliza com um relaxamento para desacelerar o corpo e refletir sobre os conteúdos/movimentos aprendidos na aula.

Outra possibilidade de aula parte da exploração de movimentos e criação de células coreográficas elaboradas pelos próprios alunos. Nas imagens 15 e 16 a seguir, a professora Cibelle Souza, da turma Intermediário I, fez o registro de uma aula nesse formato. De início é feito uma revisão dos movimentos estudados e logo após os alunos dispõe de um tempo para elaborar suas sequências.

Os processos de ensino e aprendizagem trabalhados no Studio Shaman são considerados uma modalidade da educação informal, que compreende aspectos processuais semelhantes da educação formal, contemplando o planejamento de aulas com seus objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação etc.

O Studio é uma escola que pode viabilizar a atuação do graduando em Dança na atividade obrigatória do Estágio IV, possibilitando relacionar os conteúdos estudados na academia, com a prática pedagógica do campo de atuação.

Imagem 15: Aula de composição coreográfica.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Imagem 16: Aula de composição coreográfica.

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35 Durante as aulas também acontecem os processos de criação das coreografias a serem apresentadas nas Mostras de final de ano. Esse processo de composição é feito de forma colaborativa, com uma ideia inicial sugerida pela professora e a contribuição da turma pensando figurino, música, movimentos e desenhos coreográficos.

A partir do relato de alunas bailarinas da turma Intermediário I, foi possível compreender o que essa dança representa para cada uma em sua individualidade. Escolhi 03 alunas da turma que já possuíam experiência com mais de 01 ano na prática do Tribal, pois acredito que esse tempo de vivência permitiu uma fala com propriedade para a proposta do trabalho.

O entendimento sobre o que é essa dança é descrito de várias formas nos depoimentos coletados, seja no sentido cognitivo, motor e/ou comportamental. Esses pontos ficam evidentes nos depoimentos mostrados a seguir:

“Partindo do lado “prático” é terapêutico, me auxilia a aprender a lidar com a ansiedade, é um exercício que foge do convencional das academias. Agora partindo do lado “romântico”, é minha grande paixão, descobri que possui muitas nuances, que posso sempre aprender mais, ao qual nunca me canso. Sobretudo explorar vários caminhos e aprender a ter paciência com meu corpo, ele vai responder!”

“Para mim o tribal é literalmente uma fusão de culturas. É um estilo de dança que engloba várias vertentes e ao mesmo tempo dá uma maior liberdade de criação para quem tá dançando.”

“Para mim o Tribal é uma dança não somente de fusão [...] eu vejo mais como uma libertação de certas amarras, te dando mais possibilidades de você criar outros estilos, de você talvez se encontrar mais na dança. [...] O Tribal é diferente, eu percebo que a liberdade é muito maior na parte de criação. Então eu vejo como se fosse um grito, as vezes que você está bem preso e você consegue sair dessa prisão.”

Através desses relatos, percebo a importância do Tribal realizado no Studio Shaman, tendo o Tribal Fusion como foco. Destaco não somente a disposição corporal e criativa como fortes elementos dessa dança, mas a importância de valorizar outros aspectos do cotidiano relacionados ao emocional. Esses aspectos por muitas vezes são potencializados na dança através dos movimentos, mas existem outros elementos que contribuem nesse processo: a música, a apreciação estética, os estudos coletivos entre outros, são ferramentas importantes nessa construção.

O Shaman Tribal Studio abraça diferentes pessoas independente de idade, cor, gênero ou classe social. E essa condição, em diálogo com as ferramentas potencializadoras, reconhece

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36 o Tribal como sendo um dispositivo que reforça a diversidade, e é nessa diversidade que encontramos crescimento e beleza mais do que quando se estabelece um biotipo específico para realizar qualquer dança.

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37 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Tribal Bellydance é reconhecido mundialmente como uma manifestação artística da dança. Porém esse reconhecimento não atinge todos os públicos da mesma maneira, o que acaba provocando questionamentos sobre o que de fato compõe essa dança.

Contextualizar a história do Tribal para um público leigo ou com pouco conhecimento sobre o assunto é importante para dissolver interpretações erradas construídas, em alguns casos, pela falta de informações. Evitando que se perpetue uma dança com propostas diferentes da qual ela foi criada.

É obrigação do professor de dança (nesse caso dos estilos ATS e Tribal Fusion) estudar a história do estilo, pesquisar autores reconhecidos que tratam sobre o tema e refletir sobre como se deu esse processo inicial e como ele é tratado até os dias atuais. É um estudo de renovação constante, assim como para qualquer outro conteúdo que se tenha interesse em pesquisar e trabalhar.

O American Tribal Style possui uma importância significativa para o que hoje chamamos de Tribal Bellydance. O exercício de criação desse sistema de sequências possibilitou experimentar processos de fusão, de criação e percepção, que inspiraram o surgimento de novos estilos, ou seja, novas formas de mover o corpo.

No meu entendimento esses processos ajudam na particularidade de cada indivíduo. Atuando como elemento facilitador de descobertas, seja na dança ou nas outras áreas do conhecimento. Importante destacar que o conhecimento sobre outras culturas, fortalece e torna possível ao indivíduo um desenvolvimento com maior autonomia. O ATS proporciona esse fortalecimento por ter essa característica de fusão de diferentes culturas numa única manifestação.

Com o estilo Tribal Fusion as possibilidades foram ainda maiores. Um novo conceito surgiu trazendo infinitas combinações de movimentos, músicas e figurinos. Foram criados subgêneros dessa vertente, como o Dark Fusion, Hip Hop Fusion, Burlesque, Vintage e Tribal Brasil, que contemplou diversos povos e suas culturas, funcionando como uma ponte de aproximação entre essas culturas. Reforço que esse intercâmbio cultural transforma o indivíduo e o seu desenvolvimento, podendo afetar ainda outros indivíduos em seu torno.

Essa prática no Brasil foi porta para o estudo de novas fusões. A bailarina Kilma Farias ao criar o Tribal Brasil considerou conceitos de danças brasileiras que se assemelham aos conceitos iniciais do Tribal, permitindo diálogos com uma riqueza infinita de movimentos.

Referências

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