FABÍOLA
DACH
\/-
CM
452
fCADASIL
EM
UMA
FAMÍLIA CATARINENSE:
RELATO
DE
CASO
E
REVISÃO
DA
LITERATURA.
Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, para a conclusão no Curso de Graduação
em
Medicina.FLORIANÓPOLIS
-
SANTA CATARINA
2001
I-CADASIL
EM UMA
FAMÍLIA CATARINENSE:
RELATO
DE
CASO
E
REVISÃO
DA
LITERATURA.
Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, para a conclusão no Curso de Graduação
em
Medicina.Coordenador do Curso: Prof. Dr. Edson José Cardoso
Orientador: Prof. Dr. Paulo César Trevisol-Bittencourt Coorientadora: Dr“. Maria Verônica
Munõz
RojasFLORIANÓPOLIS
-
SANTA CATARINA
I
Dach, Fabíola
CADASIL em uma Família Catarinense: Relato de Caso e revisão da
literatura. Florianópolis/SC, 2001.
40 p.
Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, para conclusão do Curso de Graduação em Medicina - UFSC.
Título em inglês: CADASIL (Cerebral Autosomal Dominant Arteriopathy with Subcortical Infarcts and Leukoencephalopathy) in a catarinense family: case report and literature review.
Ao
meu
filho, IanÁlan
Dach
Éckeli, pela compreensão.Ao
meu
esposo,Álan
Luiz Éckeli e a seus pais, pelo incentivo ecompanheirismo.
Aos meus
pais,Artem
Dach
e Ivete Beki, pela dedicação,amor
e incentivo.À
minha
irmã, PolianaDach,
pelo apoio moral.Aos
mestres e amigos, Prof. Dr. Paulo César Trevisol Bittencourt eDra
Maria Verônica
Munõz
Rojas, pela oportunidade de realizar este trabalho e pelaorientação.
Dedico
também
este trabalho a todas as pessoasque
contribuem, deuma
Lista de Figuras 1.
INTRODUÇÃO
... .. 3.OBJETIVO
... .. 4.MÉTODOS
... .. 4. 1. Pacientes ... .. 4.2. Avaliação Clínica ... .. 4.3. Avaliação Laboratonal ... .. 4.4.Exames
deNeuroimagem
... .. 4.5. Biópsia de Pele ... ._ 4.6.Estudo
Genético ... .. 4.7.Criterios Diagnósticos ... .. 5.1. Paciente 1 ... .. 5.2. Paciente 2 ... .. 5.3. Paciente 3 ... ._ 6.RESULTADOS
... .. 6.1.Achados
Clínicos ... .. 6.2.Estudo
Neurorradiológico ... ..Normas
Adotadas
Resumo
Summary
ÍNDICE
2.REVISÃO
DA
LITERATURA.
- . - . . . . . . . . .z . . . . .. . . . - › - . z › . . . . . . z. . . . . . . . . ‹ . z . - . . z z. . . . . . . . . . . . . . . . .. 5.RELATO DE CASO
... .. - . - . . . . . . . zH . . - . . . . - . - - . . z. 6.3.Estudo
Genético ... ..29
7.DISCUSSÃO
... _.30
8.CONCLUSÕES
... _.33
9.REFERÊNCIAS
... .. 35Figura
1: “Heredograma
mostrando
os afetados e os prováveis afetados porCADASIL”.
... ..21Figura
2:“Lesão
hiperintensaem
hemisfério cerebelar esquerdoem
imagem T2
deRM
da
paciente III-1”. ... ..22Figura
3:“Lesão
hiperintensaem
substância branca subcortical eperiventricular
em
imagem T2
deRM
da
paciente III-1”. ... ..22Figura
4:“Lesão
hiperintensaem
gângliosda
base, centro semi-oval e substância branca periventricularem
imagem T2
(A) eFLAIR
(B),da
pacienteIII-1”. ... ..23
Figura
5:“Lesão
hiperintensaem
substância brancado
lobo frontal esquerdo1.
INTRODUÇÃO
Demência
éuma
síndrome clínica caracterizada pelocomprometirnento
global
ou
multifocal, adquirido,da
função cognitiva,envolvendo
declíniodo
intelecto,
da
memória
eda
personalidadena
presença de consciência normal.Embora
ocorrapredominantemente
em
pessoas idosas e sejaum
problema cada
vez
maior
em
nossa populaçãoem
processo de envelhecimento, jamais sedeve
aceitá-la
como
um
comemorativo
inevitávelda
velhice.Cada
vezmais
são identificadas causas tratáveis dedemência
e todo pacientemerece
uma
avaliaçãocompleta
eum
diagnóstico corretol.As
doenças cerebrovasculares são asegunda
causamais
freqüente de demência,perdendo
apenas para aDoença
de Alzheimer.No
estudo clínico epatológico dos pacientes
com
demência, as doenças vasculares são consideradascomo
a causada demência
em
10 a20%
dos casos e contribuem parao
seu aparecimentoaproximadamente
nestamesma
proporção. Isso significaque de
cada quatro pacientes dementes,
um
delestem
adoença
cerebrovascularcomo
causaou
fator importante para o surgimento de sua demênciaz.Quando
se pressupõeque
ademência
tem
origem
em
uma
doença
vascular,usa-se , atualmente,
o termo
diagnóstico“demência
vascular”.O
conceito tradicional dedemência
vascular aplica-se a estenose das artérias cerebraiscomo
causa principal
da
diminuição difusado
fluxo
cerebralque
ocasiona amorte
neuronal, a atrofia cerebral e, finahnente, a demência.
Sua
etiologiamais
freqüente são as doenças de
pequenos
vasos,onde há
ocomprometimento,
fundamentalmente, dos
ramos
perfurantes das artérias intracranianas2.Nos
últimos 25 anostomou-se
evidenteque
os fatores hereditários são importantesem
alguns casos dedemência
vascular. Entre1977
e1994 foram
descritos vários casos de
uma
nova
condição mendeliana, caracterizadabasicamente por infartos cerebrais isquêmicos (ICI) e demência. Foi
inicialmente descrita nos países europeus,
onde
recebeu oacrônimo
CADASIL
(Cerebral
Autosomal
Dominant
Arteriopathy with Subcortical Infarctsand
Leukoencephalopathy) por
um
grupo de pesquisadores francesesno ano
de 1991.Desde
então,vem
sendo relatadaem
vários outros países,como
Japão,EUA
e África3.Como
estadoença não
tem
caráter étnico-regional,provavelmente temos no
Brasil muitas famíliascom
CADASIL
e, devido aodesconhecimento
por parteda
classe médica,permanecem
diagnosticadascomo
“AVC”
(Acidente Vascular Cerebral) erecebendo
terapêuticas inadequadas.É
razoável suportambém
que
alguns destes indivíduos sejam diagnosticadosequivocadamente
como
portadores de Esclerose Múltipla(EM),
pois,CADASIL
afeta primordialmente a substância branca e, tal
como
a clássicaEM,
evoluicom
sintomas neurológicos recidivantes.Para realçar a influência desta
doença
entre nós,uma
família catarinense é2.
R1‹:v1sÃo
DA
LITERATURA
Sourander e
Walinder
(1977) eSonninen
e Savontaus (1987)descreveram
várias famílias, cujos
membros
apresentavamuma
forma
aparentementehereditária de
demência
vascular. Estadoença
era caracterizada por infartos cerebrais isquêmicos associados a sintomas neuropsiquiátricos eque
afetava adultos jovens deambos
os sexos.Nas Tomografias
AxiaisComputadorizadas
(TACs)
de crânioeram
observados infartos cerebraisna
substância branca, aqual geralmente estava reduzida.4”5
Provavelmente
esta é amesma
condição descrita porVan
Bogaert (1955), por Stevens et al (1977) e porDavous
et al(1991),
que
relataram famíliascom
uma
doença que
exibiaum
padrão sugestivo de herança autossômica dominante, sinais neurológicos focais e recorrentescom
início
em
fase precoceda
vida adulta,com
evolução para incapacidademotora
acentuada, paralisia pseudobulbar e
demência do
tipo subcortical eque
apresentava evidências de leucoencefalopatia nos
exames
de neuroimagem6'7'8.A
partirdo
estudo realizado porToumier-Lasserve
(1991)começaram
a serdefinidas as características clinicas, radiológicas e genéticas desta
“demência
vascular hereditária”.Nesse
trabalho os autores investigaram45
membros
de
uma
única família e constataramque nove
indivíduosestavam
clinicamente afetados e outros oito indivíduos,embora pennanecessem
clinicamente assintomáticos, apresentavam sinais de leucoencefalopatia àRessonância
Magnética
(RM)9.O
mesmo
foi relatado porMas
et al (1992)quando
descreveuuma
doença
genéticaem uma
família francesa caracterizada por sinais de infartos cerebrais focais e recorrentesem
adultos jovens, queevoluiam
com
inabilidade
motora
grave devido à paralisia pseudobulbar edemência do
tipo subcortical.Havia
evidência de leucoencefalopatia e lesõesbem
delimitadas,compatíveis
com
infartos lactmares, nos indivíduos sintomáticos eem
alguns assintomáticos.Como
na
famíliaem
questão haviaum
casamento
consangüíneo, os pesquisadores inferiramque
essa família era portadora deuma
patologiadistintam.
Até
1991 essadoença
recebeupouca
atenção e muitos epônimos,como
Demência
Hereditária por Multi-infartos, Encefalopatia Vascular FamilialCrônica, Encefalopatia Familial
do
tipoBinswanger
e Vasculopatia Esclerosantedo
SistemaNervoso
Central3.Baudrimont
et al (1993)descreveram
os achados patológicosem
um
indivíduo afetado já descrito anteriormente por Tournier-Lasserve.O
exame
histopatológicodo
cérebrodemonstrou
um
hematoma
capsulolenticular recente,múltiplos infartos lacunares, diminuição difusa
da
mielinização euma
vasculopatia difusa das artérias perfurantesda
substância branca.Havia
também
um
espessamento acentuadoda
parede arterial,com
a presença deum
depósitoeosinoñlico, não-amilóide,
na
camada média
dessas artérias.Com
isso,concluiu-se
que
nestadoença há
uma
anormalidade naspequenas
artérias eque
ela é diferente
da
Esclerose Arterial e das Angiopatias Amilóides,mas
similar às descritasem
alguns casos deDemência
Hereditária por Multi-infartosu.Através
da
análise genéticaem
2 famílias aindanão
descritas,Toumier-
Lasserve et al (1993)
mapearam
o lócusda
alteração genéticacomo
sendo l9ql2
e introduziram o
acrônimo
CADASIL
(CerebralAutosomal
Dominant
Arteriopathy with Subcortical Infarcts
and
Leukoencephalopathy) parauma
forma
autossômicadominante
de leucoencefalopatiacom
infartos subcorticaiscausada por
uma
mutação no gene
Notch312.Ruchoux
et al (1994), atravésdo
uso de microscopia eletrônica,demonstraram que
as alterações vasculares encontradas nos cérebros de pacientescom
CADASIL
também
são observadas nos vasos dosmúsculos
e5
Em
1995, St Clair et alñzeram
um
estudo genéticoem
membros
deuma
família escocesa, cujo diagnóstico neuropatológico era de
demência
hereditáriapor multi-infanos,
usando marcadores polimórficos da
região19ql2 do
DNA.
Ao
contráriodo que
se esperava, essa famílianão
possuíaem
seuDNA
amutação
descrita anteriormente porToumier-Lasserve“.
Ragno
et al, nestemesmo
ano, publicaramum
trabalhodemonstrando que
os depósitos granulareseosinofilicos
na
camada média
das artériasnão
reagem
com
osmarcadores
mais
comuns
(proteína prion, cistatina C, transtiretina eHSP
70) paradoença
cerebrovascular familial
(Doença
de Alzheimer, Polineuropatia AmiloidóticaF
amilial,Doença
de Creuztzfeldt-Jakob, AngiopatiaAmilóide
Cerebral eDoença
de Gerstmann-Straussler-Scheinker),comprovando
com
issoque
ospacientes
com
CADASIL
apresentam características neuropatológicas genuínase distintas das
demais
doenças”.Schröder et al (1995)
demonstraram
pela primeira vezque o
diagnósticode
CADASIL
poderia ser feito atravésda
análise patológicado
nervo sural obtido por biópsia.Sua
análise baseou-seem
observaçãodo
material por microscopiaeletrônica e sugeria
que
os depósitos granulares encontradoseram
exocitados pelas célulasdo músculo
liso dos vasos sangüíneos”. Chabriat et al (1995) publicaramum
trabalhono
qualeram
descritosmembros
deuma
família francesacom
CADASIL
que
não
apresentavam infartos cerebraisisquêmicos"
eVerin et al (1995) realizaram estudos
em
membros
de urna família inglesascom
CADASIL,
que tinham
como
manifestação clinica principal a enxaqueca.Chegaram
a propor onovo
acrônimo
CADASILM
(CerebralAutosomal
Dominant
Arteriopathy with Subcortical Infarctsand
A/figraine) porpensarem
que
seus pacientespossuíam
uma
subvariante deCADASIL.
Sugeriramtambém
que
a história natural destadoença
poderia ser divididaem
três estágios: estágio1 (entre
20
e40
anos) caracterizado pela alta incidência deenxaqueca
e lesõesbem
delimitadasna
RM;
estágio 2 (entre40
e60
anos)onde ocorrem
os infartoscerebrais isquêmicos, distúrbios de
humor
e lesões coalescentesna
substância branca; e estágio 3 caracterizado pordemência
subcortical e paralisiapseudobulbarls.
O
estudo realizado por Cabriat et al (1995)em
7 diferentes famílias afetadas,pela primeira vez,
demonstrou
o espectro clínico deCADASIL.
Os
autoresobservaram que
das 148 pessoas analisadas,45 estavam
clinicamente afetadas (23homens
e22
mulheres).As
manifestações clínicasmais
marcanteseram
osinfartos isquêmicos subcorticais (84%),
demência
subcortical progressivacom
paralisia pseudobulbar (31%),
enxaqueca
com
aura(22%)
e distúrbiosdo
humor
com
episódios de depressão grave (20%).Todos
os pacientes sintomáticos apresentavam àRM
lesões hiperintensas proeminentesem
T2, localizadasna
substância branca e gânglios
da
base; essasmesmas
alteraçõesforam
encontradas
em
19membros
assintomáticos.A
idademédia
de inicio dossintomas era 45 (i10,6) anos; a
enxaqueca
com
aura iniciavaprecocemente
aos38,1 (i8,03) anos e daí viriam os ICI aos 43,9 (:t10,7) anos.
A
morte
sobrevinhanuma
idademédia
de 64,5 (i10,6) anos.Nos
dados deRM,
entre os30
e40
anos, a
doença
apresentava penetrância completa.A
análise genéticademonstrou
uma
forte ligaçãocom
o
cromossomo
19em
todas as 7 famílias,sugerindo
homogeneidade
genética”.Skehan
et al (1995)demonstraram que
as anormalidades presentesna
RM
de 10 indivíduos deuma
famíliacom
CADASIL
eram
basicamente duas: sinais de hiperintensidade confluentesem
T2
localizadosna
substância branca (principalmentena
porção anterior dos lobos temporais e porção periventriculardos lobos occipitais) e
pequenas
lacunas lineares localizadasnão somente
na
região periventricular
da
substância branca,mas também
no
tronco cerebral,gânglios
da
base, tálamo, cápsulaextema
e corpo caloso2°.Hutchinson
et al (1995)usando
análise deRMS
de 15membros
deuma
7
CADASIL
e 5tinham
Enxaqueca
Hemiplégica. Eles propuseram, através desses achados,que
estas doençaspoderiam
ser alélicas,ou
seja, aEnxaqueca
Hemiplégica
seria urna fenocópia deCADASlL,
devido amecanismos
desconhecidos21.
Em
1996,Ducros
et al analisaramo
DNA
de 15 famíliascom
diagnóstico deCADASIL,
atravésdo
uso de 8marcadores
polimórficos.Todas
as famíliastinham
sua alteração genética ligada aocromossomo
19.O
marcador
com
amaior
taxa decombinação
foi oD19S84l,
estreitandoo
mapeamento
num
intervalo de
2-cM
(centiMorgan)na
região 19pl3.1.Os
resultadosapontavam
fortemente para
uma
homogeneidade
genética e estabeleciamo
valor doscritérios diagnósticos clínicos e de
neuroimagem. Ducros
et al ainda sugeriramque
o resultado negativona
família estudada por St Clair et alem
1995 não
poderia ser
prova
de heterogeneidade genética, tendoem
vista que a análisede
muitos
membros
daquela famílianão
foibaseada
nas característicasda
RM,
0
que
acarretariaem
um
alto risco de subclassificação econsequentemente
defalsos recombinantes.
Também
afirmaram
que
a Ataxia Cerebelar Paroxística eEnxaqueca
Hemiplégica
F
amilialestavam
mapeadas
na
mesma
região, 19pl322.Bergmami
et al (1996)mostraram
que, apesar das características clínicas deCADASIL
estaremconfmadas
ao sistema nervoso central, as alteraçõesno
músculo
liso dos vasostambém
são encontradas nos puhnões, rins, baço, pâncreas, coração,figado
e tireóide, sugerindoque
esta é Lunadoença
vascular sistêmica”.Dichgans
et al (1996) identificaramuma
mutação
em
um
indivíduocom
CADASlL
que
permitiu amelhor
identificaçãodo
lócusnum
intervalo de 8c-M,
agrupados entreD19S226
eD19S222;
e, atravésda
localização préviado
gene
envolvidona
Enxaqueca
Hemiplégica
Familial, concluíramque
essas doençasprovavelmente
não
são alélicas24.Joutel et al (1996) caracterizaram o
gene
Notch3
humano,
o qual abrange 33 éxons ecodifica
uma
proteinacom
2321
aminoácidos.Essa
proteína éum
receptor transmembrana,
no
qual odomínio
extracelular,que
apresenta atividade reguladora,contém 34
repetições deEGF
-like (EpidermalGrow
Factor-like) eo
domínio
intracelular apresentauma
atividade intrínseca de transdução de sinais.Além
disso, identificarammutações
no
gene
Notch3
nos pacientescom
CADASIL
que causavam
sérias alteraçõesna
proteína Notch3,modificando
o
seu
funcionamento ou
favorecendo a sua oligomerização.Nesse
trabalho,também
secomentou
que
as diferentesmutações
ocorridasno
receptorNotch
deDrosophíla
melanogaster resultamem
diferentes apresentações fenotípicas, aocontrário
do que
aconteem
CADASIL,
onde
asmais
diversas alterações encontradasno
receptorNotch levam
aum
mesmo
fenótipo”. Essemesmo
grupo
de pesquisadoresem
1997, analisando geneticamente50
individuoscom
CADASIL,
identificouque
90%
dasmutações
encontradasestavam
agrupadasdentro dos éxons 3 e 4, os quais
codificam
as primeiras cinco repetições deEGF
do domínio
extracelulardo
receptorNotch3
_Afirmaram
também
que todas essasmutações levam
à perdaou
à adição deum
resíduo de cisteinano
EGF26.Malandrini et al (1997) descreveram
uma
família italiana que manifestavaum
fenótipo diferente dosdemais
casos já relatados deCADASIL;
os indivíduos apresentavam basicamente crises epilépticas e leucoencefalopatia”.Ebke
et al (1997) analisaram biópsias de pele deuma
famíliaalemã
com
CADASIL
e concluíram que,como
esta éuma
doença
sistêmica, elapode
serdiagnosticada por biópsia de pele e
que
esseprocedimento
tem
grande valornos
indivíduos assintomáticos e nos indivíduos
com
RM
normal”.De
acordocom
o estudo deZhang
et al (1997), os múltiplos infartos cerebraisque ocorrem
nos pacientescom
CADASIL
devem-se à
alteraçãono
9
eosinofilico
na
camada média
das artérias perfurantes e degeneraçãode
suas fibras musculares3.Ainda
em
1997,Dichgans
et al analisaram as conseqüênciasda
realizaçãode
angiografia cerebral
em
16 pacientescom CADASIL.
Dentre estes,onze
tiveramcomplicações, as quais
eram
transitórias (resoluçãoem
24
horas)em
38%,
reversíveis (resolução
em
7 dias)em
19%
epermanente
em
13%
dos pacientes”. Mellies et al (1998) descreveramum
fenótipo deCADASIL
que
era caracterizado pela ausência de sintomas neurológicos focais e realizaramo
primeiro estudo
com
SPECT
(SinglePhoton Emission
Computed
T
omographic)
em
indivíduoscom
essa doença. Através desseexame, demonstraram
que
ademência
nos pacientescom
CADASIL
deve-se aocomprometimento
vascular das áreas subcorticais, seguida de hipoperfusão dos lobos frontais”.Segundo
o trabalho publicado por Caronti et al (1998), a alteraçãoneuropatológica
mais
proeminente nos pacientescom
CADASIL
consistena
presença de
um
material granular eosinofilico, não-aterosclerótico,na
camada
média
das artérias, cujas paredesexibem
um
espessamento concêntrico.Esse
material é
Weigert
ePAS
(Periodic Acid-Schifí) positivo e mostraimunorreação
com
anticorpo anti-elastina.Com
isso, sugeriramque
o material granulardeve
consistir
em
produtoda
degradaçãoda
elastina insolúvelou
em
subunidadesisoladas de elastina31.
Dischgan
et al (1998) descreveramo
espectro fenotípico de 102 casosde
CADASIL
confirmados através de biópsia de pele.O
achado
mais consistenteera episódios de isquemia cerebral, geralmente transitórios
ou
infartos lacunares; ocasionalmentehaviam
déficits neurológicosque
se desenvolviam dentrode
vários dias. Déficits cognitivos
eram
vistosem
59%,
enxaqueca
em 38%
eepilepsia
em
10%
dos casos.A
idademédia
demorte
era 53,2 (d:10,9) anos paraChabriat et al (1998),
demonstraram que cada
área subcorticaltem
uma
vulnerabilidade diferente à isquemia, e
que
tanto a freqüênciacomo
a gravidade das lesõesna
RM
aumentam
dramaticamentecom
a idade nos indivíduos afetados”.Ainda
em
1998,Desmond
et aldescreveram
uma
família norte-americana
com CADASIL,
cujos primeiros sintomas (enxaquecacom
aura)iniciaram ainda
na
adolescência”.Weller et al (1998) publicaram
uma
nota científicacomunicando que
um
de
seus pacientes afetados experimentou
uma
acentuada redução nas crisesde
enxaqueca
com
uso de250
mg
de acetazolamida por dia; sugeriram, então,que
os indivíduos
com
CADASIL
podem
serbeneficiados
com
ouso
desta droga”.Baseado
numa
revisão literária sobreo
assunto,Davous
propôsum
critériodiagnóstico para
CADASIL em
1998(Quadro
I)36.Em
1999, Chabriat et alfizeram
urna revisão deRMS
de68
pacientesafetados
com
o objetivo de avaliar a distribuição das lesõesno
sistema nervosocentral.
Chegaram
a conclusãoque
a ponte estácomprometida
em
100%,
mesencéfalo
em 69%
emedula
em 35%
dos casos.Os
sinaisde
hiperintensidades são constantes
na
substância branca periventricular etomam-
se rarefeitos àmedida
que
se afastam dessa área. Sugeriram, através dessesresultados, que as lesões encontradas
na
RM
dos indivíduoscom
CADASIL
estão situadas
em
regiões irrigadas apenas pelas artérias perfurantes”.Dichgans
et al (1999) publicaramum
artigodemonstrando que
há
urna proporção inversa entre ovolume
total das lesõesna
RM
e aperfonnance
cognitiva global, avaliada através
do Mini Mental
Teste, nos pacientescom
CADASIL”.
Desmond
et al (1999) realizaram urna análise dos casos deCADASIL
previamente publicados (105 pacientes sintomáticos) echegaram
às seguintes conclusões: a idademédia
do
início dos sintomas era 36,7 (i12,9) anos;ll
idade
média
de 28,3 (i1l,7) anos; isquemia cerebralpennanente
eisquemia
cerebral transitória
foram
as primeiras manifestações clínicasem
45
pacientes,com
idademédia
deacometimento
de 41,2 (d:9,2) anos; outros sintomas iniciaisincluíam depressão, disfunção cognitiva e crises epilépticas;
demência
foiencontrada
em
44
pacientes e22
pacientesforam
ao óbito,com
idademédia
demorte
de 54,8 (il0,6) anos”.Dichgans
et al (1999) relataram as anormalidades encontradasno
líquido cerebroespinhal(LCE)
de 127 pacientescom
diagnóstico deCADASIL.
Os
resultados
demonstraram que
haviauma
moderada
elevaçãono
conteúdo totalde proteínas
em 29%
dosLCE
estudados, conseqüênciada
lesãoda
barreirahemato-encefálica (devido à anormalidades ultra-estruturais das artérias
cerebrais
que ocorrem na doença
em
questão); acontagem
de células eranormal
enão
existia a presença debandas
oligoclonais4°.Desmond
et al (1999) avaliaram filhos de pacientes afetados.Obsewaram
que
das 7 crianças analisadas, 2 apresentavam nível de atençãodiminuído
ehiperatividade, 4 apresentavam distúrbio
do
aprendizado e 1 apresentavaenxaqueca,
que
se iniciou aos 6 anos de idade. Concluíram, então,que
CADASIL
pode
manifestar-seem
fases precocesda
vida através de distúrbiosno
desenvolvimento; sugeriramque
filhos de pacientescom
CADASIL
devem
ser submetidos a
uma
ampla
avaliação clínica4l.No
ano
de 2000, Joutel et al investigaram a expressãodo
geneNotch3
em
diferentes tecidos de indivíduos controles e indivíduos afetados.
Os
resultadosmostraram
que,em
tecidos normais, a expressãodo Notch3
está restrita às célulasdo músculo
liso dos vasos sangüíneos.O
receptor Notch3,mediante
clivagem proteolítica,
produz
um
fragmento extracelularcom
210-kDa
e outrointracelular
com
97-kDa.No
cérebro dos pacientescom
CADASIL
encontraram
evidências de
um
acúmulo
acentuado e seletivodo
fragmento extracelulardo
vasos,
muito
próximo
enão
dentrodo
material granular eosinofilico42.Baseado
nesse estudo, Spinner (2000) criou 2 hipóteses para a causa de
CADASIL:
sugeriuque
a causada doença
decorreou do acúmulo ou da disfimção da
proteína
Notch”
.Únlü
et al (2000) sugeriramque
o sistema decomplementos pode
estarimplicado
na
patogênese deCADASIL,
tendoem
vistaque
detectaram FatorB
(componente da
via altemativa de ativaçãodo complemento)
no
LCR
de
pacientes afetados, através
do
uso de técnicas de eletroforese e espectrometria44.Coulthard et al (2000) estudaram
20
membros
deuma
única família. Oito indivíduostinham
amutação
genética deCADASIL
e apresentavam alteraçõesna
RM
e 3 indivíduos, dentre estes últimos,eram
assintomáticos.As
imagem
em
T1
mostravam
lesõesmal
defmidas (hipointensidades confluentesna
substânciabranca)
ou
bem
definidas (infaitos císticosou
alargamentodo
espaçoperivascular).
A
atrofia cerebral era infreqüente.Na
avaliação realizada pelosautores, concluiu-se
que
a identificação das anomialidades nosexames
deneuroimagem
dos pacientescom
CADASIL
pode tomar
mais precoceo
seudiagnóstico defmitivo, sendo de grande importância principahnente para os indivíduos assintomáticos45.
Dichgans
et al (2000) rastrearam possíveismutações
noséxons
3 e4 do gene
Notch3
de 71 famíliascom CADASIL;
70%
das famíliasapresentavam
asmutações
nesses éxons.Dois
tipos demutações foram
encontradas:96%
eram
mutações
missense e4%
eram
deleções small in-fiame.Todas
elas resultavamda
troca de Citosina paraTimina
e alteravam a seqüência de dinucleotídeosCpG,
a qual,segundo
os autores, apresentavauma
hipermutabilidade.Todas
asmutações, incluindo as duas deleções, resultaram
em
ganho ou
perda demn
resíduo de cisteína. Estes achados levaram os autores a crerque
a patogênesede
CADASIL
estáno
número
desigual de resíduos de cisteina dentro das repetições13
Chawda
et al (2000) publicaramum
artigo,no
qualafirmavam que o
diagnóstico definitivo de
CADASIL
não pode
ser feitobaseado somente
nasRMS
(pois outras doençascomo
Esclerose Múltipla eDoença
dePequenos
Vasos Secundária à Hipertensão apresentam as
mesmas
alterações nosexames
de
neuroimagem), sendo
necessárioo
rastreamento demutações no gene
Nozchs”.
Viitanen et al (2000) sugeriram,
em
sua revisão sobre o assunto,que
a clivagem proteolíticado
receptorNotch3 pode
ser reguladaou
implementada
pela presenilina, semelhante ao
que
ocorrena
Doença
deAlzheimer”.
Através
do
estudo histopatológico realizado porThomas
et al (2000)em
tecido cerebral de pacientescom CADASIL,
observou-se que, apesarda
acentuada degeneração das célulasdo músculo
liso das artérias, os quadros hemorrágicoseram
raros. Esse grupo sugeriuque
isso se deve àfibrose
perivascular e ao espessamento
da
camada
íntima das artérias que, presumivehnente, fortificam eprevinem
a ruptura arterial”.Em
agostodo ano
de 2000, Chabriat et al analisaram ofluxo
sangüíneocerebral
(FSC)
e0
volume
sanguíneo(VS)
através dasimagens
em
T2
de 15 pacientes sintomáticoscom CADASIL.
Observaram
uma
redução acentuadano
FSC
eVS
dentro dos sinais de hiperintensidade.Essa
redução eramais
acentuada nos pacientes
com
demência.Não
houve
alteraçãono
FSC
ou
VS
no
córtex desses indivíduos.
Após
a administração deAcetazolamida
(ACZ-
17mg/kg
i.v.),houve
aumento
significativodo
FSC
eVS
tantono
córtexcomo
na
substância branca dos pacientes afetados, apesar desseaumento
ser demenor
intensidade
que
o observadoem
indivíduos controle.Por
meio
desses resultados,os autores
chegaram
à conclusãoque
tanto a perfusão basalcomo
a reservahemodinâmica
estão diminuídas nos sinais de hiperintensidadeao
T2, eque
estacom
a administração deACZ
sugereque
a perfusão cerebral dos pacientescom
CADASIL
pode
sermelhorada
com
a vasodilatação faimacológicaso.Finalizando, é de extrema importância realçar que, tipicamente, os fatores
de
risco clássicos para
doença
vascular obstrutiva estão ausentes nos indivíduos acometidos por CADAS]L8”9”12”13'14”l5*lU 91°.3.
OBJETIVO
Este trabalho
tem
como
objetivo descrever os aspectos clínicos, deneuroimagem
e genéticos demembros
deuma
família catarinensecom
diagnóstico definitivo de
CADASIL
e alertar osmédicos
para a existência destadoença
em
nossa sociedade.O
trabalho ainda incluiuma
revisão extensada
4.1. Pacientes.
Foram
estudados 3membros
adultos deuma
família catarinense deorigem
açoriana, a qual eracomposta
por46
membros
distribuídosem
4 gerações (Figura 1).Os
pacientesestavam
cientesda
realização
do
trabalho e contribuíram para a sua elaboração. Jáeram
falecidos dois indivíduosda
primeira geração, doze indivíduosda segunda
geração e trêsindividuos
da
terceira geração, cujas histórias de suas doençasforam
obtidasatravés dos
demais
familiares.4.2.
Avaliação
Clínica.Dos
indivíduos estudados foi obtidauma
históriamédica
detalhada,uma
avaliação clínica geralcom
exame
neurológico euma
avaliação neuropsicológica atravésdo Mini Mental
State completo.Também
foifeita
uma
aferiçãoda
Pressão Arterial(PA)
desses pacientes porum
períodode
2 semanas,
com
2medidas
diárias,conforme
IIIConsenso
Brasileiro de Hipertensão Arterials 1.As
cefaléiasforam
classificadas de acordocom
Classification
and
Diagnostic Criteria forHeadache
Disorders, Cranial Neuralgiasand
FacialPain
(IntemationalHeadache
Society)52.4.3.
Avaliação
LaboratoriaLForam
também
solicitadosexames
laboratoriais
como
glicemia, curva glicêmica,VHS,
provas de função renal,exames
de urina,hemograma,
perfil lipídico, coagulograma,dosagem
deproteína
S
e C,hormônios
tireoidianos,VDRL
e anti-cardiolipina/fosfolípides erealizados outros
exames
complementares
como
Eletrocardiograma, Ecocardiograma, Testeem
Esteira Ergométrica eExame
Ultra-sonográficolinear/setorial
dinâmico
das carótidas.4.4.
Exames
de
Neuroimagem.
Tomografia
AxialComputadorizada (TC)
e17
realizados nos pacientes.
Foram
obtidos cortes sagitais e axiaisem
T1
eT2-
weíghted
e Flair.Os
radiologistas,que
elaboraram os laudos,não tinham
informações sobre a suspeita clínica
do
caso.Havia
uma
pacienteem
estágio finalda doença
(apresentando paralisiapseudobulbar),
na
qual foi impossível realizaro
teste psicométrico eRM.
Os
exames
laboratoriais, osexames
complementares
e osexames
deneuroimagem
foram
realizadosem
clínicas particulares conveniadasao
SUS
(Sistema
Único
de Saúde)ou
em
hospitaismediante
internação para investigaçãoclinica.
4.5. Biópsia
de
pele.O
Serviço deAnatomia
Patológicada
UniversidadeFederal
do Rio
de Janeiro(UFRJ)
propôs-se a fazer a análisedo
tecido dos indivíduos descritos neste trabalho,porém,
por limitações técnicasdo
Serviço deAnatomia
Patológicada
Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC),
esseprocedimento não
foi realizado.4.6.
Estudo
Genético.O
DNA
foi extraído de leucócitosdo sangue
periférico e enviado para
o
DNA-Diagnostic
Laboratory(Departament of
Human
and
Clinical Genetics-
Wassennaarseweg/Holanda).
Foram
rastreadasmutações
no
geneNotch3
pelométodo
PCR
(PolymeraseChain
Reaction).4.7. Critérios Diagnósticos.
O
diagnóstico desses pacientes foibaseado nos
e/ou arteriopatia de
pequenos
vasoscom
depósito granular eosinofilicomostrada
na
analise patológica de tecidoProvável 1.Idade de início
<5O
anos. 2.Apresentar pelomenos
2 dos achados clínicos seguintes: ataques isquêmicos cerebraiscom
sinais neurológicos permanentes, enxaqueca, distúrbios maiores
do humor, demência
subcortical. 3.Ausência de fatores de riscocomo
etiologia dos déficits. 4.Evidência de herança autossômicadominante. 5.Substância branca
anormal
na Ressonância
Magnética
e ausência de infartos corticais.Possível 1.Idade de início
>50
anos. 2.ataques isquêmicos cerebraissem
sinais neurológicos permanentes, distúrbios
menores do humor,
demência
global. 3.Fatores de riscomenores
paradoença
vascularcomo
hipertensão leve, hiperlipidemia leve, tabagismo,uso de
contraceptivo oral. 4.Árvore genealógica desconhecida
ou
incompleta.
Slmagem
atípicada
substância brancana
Ressonância Magnética.
Exclusão 1.Idade de início
>70
anos. 2.Hipertensão severaou
complicações cardíacasou doença
vascular sistêmica. 3.Ausência de qualquer outro casona
família. 4.RessonânciaMagnética nonnal
acima
dos35 anos.
Quadro I: CADASIL: critério diagnóstico proposto por Patrick Davous em 19983 .
5.
RELATO
DE
CASO
5.1. Paciente 1 (indivíduo III-l, Figura 1).
EMSO,
63 anos, feminino, branca, casada,sem
filhos, professora aposentada, natural e procedente deSão
Joaquim
(SC), 9 intemações anteriores.Não
havia história de etilismoou
tabagismo.Os
seus níveis de PressãoArterial
(PA)
eram
nonnais.Na
33década
de vidacomeçou
a apresentar crises deenxaqueca
com
aura,que
eram
freqüentes (2 vezes pormês)
e se caracterizavam por cefaléia intensaem
região frontal,do
tipo pulsátil, associada a náuseas e vômitos,com
duração deaproximadamente
4 horas e precedida porescotomas
cintilantes. Parao
alívioda
dor, a paciente fazia uso de paracetamol e procuravaum
dormitório escuro esilencioso para deitar-se.
Aos
52
anos de idade apresentouo
primeiro ataque isquêmico transitório(AIT), manifestado clinicamente, ao amanhecer, por estrabismo interno
do
olho esquerdo e desvioda
comissura labial para à direita, associado a plegia dosmembros
direitos.A
partir de então,começou
a apresentar lapsos dememória.
O
quadro regrediu
completamente
dentro de 1 semana. Foi realizadauma
Tomografia
AxialComputadorizada
(TAC)
de crânioque
evidenciou a presença depequenas
lacunas localizadasna
área semi-oval esquerda e núcleo lenticular;redução difusa
do
“VAT”
na
substância branca das áreas semi-ovais,mesencéfalo, cerebelo, ponte e bulbo.
Outra
TAC
de crânio, realizada para investigaçãoem
1992,mostrou
múltiplas lacunas profundas localizadas
no
núcleo lenticular direito, coroaradiata e centros semi-ovais bilaterais
com
reduçãodo
“VAT”
da
substância branca nos centros semi-ovais e principalmente peri-comuais frontais.Essa
senhora,há
4 anos manifestou outro episódio de isquemia cerebral.Ao
acordar apresentou-se
com
disartria e paresia demembros
direitos.A
disartriaregrediu completamente,
porém
omembro
inferior direitopermaneceu
parético.Com
o
passardo
tempo, foi-se tornando evidente a presençade
distasias (distúrbiodo
equilíbrio estático) e disbasias (distúrbiodo
equilibrio dinâmico), assimcomo
a reduçãona
freqüência das crises deenxaqueca
(8 crises por ano).Ao
exame
fisico dos pares cranianos expressavacomprometimento
do
XI
eXII pares cranianos e déficit cognitivo leve.
Apresentava
uma
atrofiamuscular
leve e generalizada.
Os membros
inferioresestavam
resistentes àflexão
(espásticos) e
com
forçamuscular
simétrica e diminuída.Nos
membros
superiores, notava-se sinais de lesão de neurônio
motor
superior, pois a paciente apresentava-se incapaz demanter
osmembros
superiores estendidos e supinados por curto período de tempo.A
marcha
erado
tipo paraparética; os pésmantinham-se
estendidos,com
desvio para linhamediana
ecom
restrição àmovimentação.
Os
reflexos tendíneosestavam
hiperativos,sem
clônus ecom
o
sinal deBabinski presente bilateralmente.
Com
relação a parte sensitivado
exame
neurológico, haviaum
certo graude
hipoestesia nos
membros,
que eramais
intensa nas porções distais; haviadisdiadococinesia e dismetria moderadas.
No
ano
de2000
essa paciente foi submetida auma
RessonânciaMagnética
(RM)
de crânio,que mostrou
presença de lesõesbem
definidascom
hipersinalem
T2
e hipossinalem
T1, localizadas nos hemisférios cerebelares, transição ponto-mesencefálica à esquerda e substância branca dos centros semi-ovais, compatíveiscom
infartos lacunares.Os
gângliosda
base, tálamo e substância branca profunda,poupando
as fibras corticaisem
“U”, apresentavam hipersinal21
Os
demais
exames
laboratoriais realizados (glicemia, curva glicêmica,hormônios
tireoidianos,hemograma,
ácido úrico, uréia, creatinina, parcial deurina,
VHS,
coagulograma, lipidograma,dosagem
de proteínas S e C,VDRL)
sempre
estiveram dentrodo
limiteda
normalidade, assimcomo
oECG,
o
Testeem
esteira ergométrica eo
Ultra-sonografia de carótidas.I 1 z 2'
E
::. _,a
~Tšl- ~›§-~
N ‹~`®- aQ_ ~@- "”@_ °°\®_ »~@- sfl-5%
:[1- ¡Ú- L. Gâ- :[1- :C1- °" zm- B1l2
3 4 5 6 7 B 9 l0 1112 l3 14 1515I
.
Dizgzózúw óefizúúvo de cADAs1L@
Provável diagnóstico deCADASILFigura 2: Lesão hiperintensa em hemisfério cerebelar esquerdo em imagem T2 de
RM
da paciente III-1.Figura 3: Lesões hiperintensas em substância branca subcortícal e periventricular em imagem T2 de
RM
da23
A
B
Figura 4: Lesões hiperintensas em gânglios da base, centro semi-oval e substância branca periventricular, em
5.2. Paciente
2
(indivíduo III-4, Figura 1).DAST,
54
anos, feminino, branca, casada, 4 filhos, professora aposentada,natural e procedente de
São Joaquim
(SC), 4 internações anteriores.Sem
história de etilismoou
tabagismo.As
medidas da
PA
também
semostraram
normais.Esta paciente iniciou
com
crises deenxaqueca
com
aura aindana
adolescência (quadros semelhantes ao
da
paciente III-1).Há
13 anos apresentou desviodo
olho esquerdo para esquerda e desvioda
comissura labial para direita, sintomas
que
persistiram poraproximadamente 30
dias e que, após, resolveram-se completamente.
Desde
então, lapsos dememória
tomaram-se
freqüentes.Aos
43
anos de idade, a pacientecomeçou
a relatarque
estava tropeçandocom
muita
fieqüência, oque
foi explicado pela presença de paresia demembros
inferiores.
A
marcha
erado
tipo paraparética. Foi, então, submetida auma
Angiografia
Cerebralque
atomou
plégica poraproximadamente
1 semana.Além
disso,houve
períodosem
que
se apresentavacom
irritabilidade,desorientação espacial, disartria e depressão.
Reconhecia
os familiares e eraboa
para cálculos.Com
o
passar dos anos foi se evidenciando piora gradativado
movimento
de seusmembros
eda
sua função cognitiva, necessitando, então, de ajuda para executar atividades corriqueirascomo
vestir-se, alimentar-se e realizar sua higiene pessoal.Há
3 anos emeio
a paciente passou a usar cadeira de rodas pornão mais
poder
se conduzirsem
auxílio.Os
movimentos
espontâneosforam
desaparecendo,
acompanhado
por incontinência esfincteriana.Há
aproximadamente
1ano
e meio, a paciente desenvolveu status epilético, tipoconvulsivo,
na
vigênciado
uso de droga anti-epilética maior.Pennaneceu
nos
próximos
2meses
em mau
estado geral ecom
rigidez demembros,
porém
ainda25
se alimentava por via oral.
A
partir dos 53 anos de idadepermaneceu
restrita aoleito e sendo alimentada por
sonda
nasogástrica.Em
1999, foi realizadauma
TAC
de crânioonde
se evidenciou a presença de extensas hipodensidadesna
substância branca,mais notadamente nos
lobosfrontais, nos centros semi-ovais e nas regiões periventriculares.
Haviam
pequenas
áreas hipodensas circunscritas nas regiões peri-ventriculares, cápsula extema, núcleosda
base e tálamos.A
substância cinzenta e lobos temporaisestavam
preservados.Havia
também
a presença de sinais de atrofia cerebral.Ao
exame
fisico apresentava-se alerta, apática,com
sinais vitais estáveis,paralisia
do músculo
reto medial esquerdo, atrofia de todos os grupos musculares palpáveis, hipertonia dosmembros,
hiperreflexia, sinal de Babinskibilateralmente;
movimentava
espontaneamente
apenas a cabeça enão
havia qualquer resposta aos estímulos verbais, táteisou
dolorosos.O
déficit cognitivoera acentuado e a paciente apresentava-se
com
descontroleemocional
(choros/risos espasmódicos).
Todos
osdemais
exames, laboratoriais e complementares, realizados nessa paciente tiveram seus resultados dentrodo
limiteda
nonnalidade.5.3. Paciente
3
(indivíduo III-6, Figura 1).LCS,
44
anos, masculino, branco, solteiro,sem
filhos, funcionário público,natural de
São
Joaquim, procedente de Florianópolis,nenhuma
intemação
anterior.
Esse senhor apresentava-se assintomático e
com
níveis dePA
normais.Também
não
tinha história detabagismo
ou
etilismo.Em
1996
foi realizada urnaRM
de crânio, cujo resultado foi normal.Porém,
no
ano
de 2000,uma
nova
RM
mostrou
a presença depequenos
focos de hipersinal,
com
aspecto inespecífico,na
densidade de prótons eem
T2, localizadosna
substância branca frontal esquerda e centro semi-oval esquerdo (Figura 5).Todos
osdemais
exames
desse indivíduo, laboratoriais e complementares,27
A
B_
Figura 5: Lesão hiperintensa em substância branca do lobo frontal esquerdo, em T2 (A) e FLAIR (B), do paciente III-6.
6.1.
Achados
clínicos. Dentre os trêsmembros
da
famíliaque
foram
analisados, dois (paciente 1 e 2)
tinham
sinais e sintomas de anormalidadesneurológicas, e
um
(paciente 3) era clinicamente assintomático,porém
todos eles apresentavam lesãoem
exame
deneuroimagem.
Nenhum
desses pacientes tinha qualquer fator de risco clássico paradoença
vascular. Dentre os indivíduosfalecidos, sete (II-1, II-5, II-12, II-15, III-2 e III-3)
foram
consideradoscomo
prováveis afetados de acordo
com
a história obtida através dos familiares;não
houve
avaliação dos arquivosmédicos
desses pacientes e a idademédia
de
óbitofoi
aproximadamente
54,3 anos.O
sintoma inicial dos indivíduos sintomáticos foi aenxaqueca
com
aura,que
surgiu ainda
na
juventude.Os
déficits neurológicos,que
surgiram entre os40
e50
anos de idade,eram
de inicio súbito e apresentavam recuperação totalou
parcial.Os
pacientes analisados apresentavam-seem
estágios diferentesda
doença.O
paciente 3 encontrava-seno
estágio 1 (assintomático,com
lesãobem
delimitada
na
Ressonância Magnética-RM);
a paciente 1 encontrava-seno
estágio 2 (déficits motores e
demência do
tipo subcortical demoderada
intensidade, associada a lesões coalescentes
na
RM);
e a paciente 2 encontrava-se
no
estágio 3 (paralisia pseudobulbar e grau acentuadode
déficitmotor
edemência
do
tipo subcortical).De
acordocom
o
heredograma
dessa família, adoença
exibeum
padrão
de herançado
tipo autossômico dominante.A
geraçãoIV
era,em
sua grande maioria,composta
por indivíduosna
2”ou
3adécada
de vida eque
aindanão
apresentavam manifestações clínicasda
29
doença. Sobre os indivíduos
da
geração I,não
se obtiveram informaçõessuficientes para se sugerir a presença de
um
portadorda mutação do gene
Notch3.
6.2.
Estudo
neurorradiológico.Nos
indivíduosque
realizaramRM
observou-se a presença de sinais hipointensos
em
T1
e hiperintensosem
T2. Dentre esses, as lesõesna
substância brancaeram
bem
delineadasno
assintomático e coalescentes
na
paciente sintomática.Na
pacienteque
realizou apenasTAC
de crânio observou-se extensas hipodensidadesna
substância branca, compatíveiscom
infartos lacunares.E
ambas
as pacientes sintomáticas apresentavam-secom
sinais de leucoencefalopatia difusa.O
córtex cerebral e as fibrasem
“U”
estavam
preservadasem
todos ospacientes.
As
lesõesforam
encontradas nos hemisférios cerebelares, transição ponto-mesencefálica, substância brancado
centro semi-oval, gângliosda
base, tálamo, substância brancado
lobo frontal, regiões periventriculares e cápsulas.A
paciente 2, a qual foi submetida auma
Angiografia
Cerebral, apresentoudano
neurológico reversívelcomo
complicação desseexame.
6.3.
Estudo
genético. Encontrou-seuma
mutação no éxon
19do gene
Notch3,
onde
há
uma
alteraçãona
seqüência de nucleotídeosdo
tipoT
-›
C
(timina para citosina)
na
posição 3121.Essa
éuma
mutação
já conhecidaque
leva a
uma
alteração nos aminoácidosda
proteínaNotch
3,onde
ocorreuma
Infaitos cerebrais isquêmicos são a terceira causa de
morte
edemência
vascular é a
segunda
causa dedemência”
_CADASIL
(CerebralAutosomal
Dominant
Arteriopathy with Subcortical Infarctsand
Leukoencephalopathy),doença
causada poruma
mutação no gene Notch3 do
cromossomo
19,tem
como
características clínicas essenciais a presença de eventos cerebraisisquêmicos recorrentes e
demência
secundários aos múltiplos infartos subcorticais.Exames
deneuroimagem
evidenciam
lesões difusasda
substância branca e depósitos granulares eosinoñlico são visualizados
na
análise ultra-estrutural de tecidos dos indivíduos afetadosl5”l6'"'19”2°'2l'25.
Além
do
mais, essadoença
é aforma mais
comum
dedemência
vascular familial”.Os
pacientes descritos neste relato de casoexibiam
uma
variedadede
características
que
são típicasdo CADAS1Ll9°32, que
incluem enxaqueca,infartos cerebrais isquêmicos recorrentes,
demência
e distúrbiosdo humor.
Igualmente ao
que
ocorre nos pacientescom
CADASI[,l9°32”39,em
nossos pacientes os sintomas iniciaram-seem
fase precoceda
vida adulta,não
existiam fatores de risco para
doença
vascular(como
tabagismo, dislipidemia,Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica) e havia evolução para
paralisia pseudobulbar.
A
doença
dessa família era caracterizada poruma
herança depadrão
autossômico dominante, tendo
em
vistaque
havia envolvimento demais
deuma
geração, ocorria transmissão de pai parafilho
ehomens
e mulhereseram
afetados
com
amesma
freqüência e gravidade.Em
relação aos achados nosexames
deneuroimagem,
nósobservamos
31
1 e 2, semelhante ao
que
mostram
os estudos prévios realizadosem
indivíduos
com
CADASII,3*9'13”19”21;porém
nóstambém
notamos
um
envolvimento adicional
da
substância branca nos lobos frontais dessespacientes.
Da
mesma
forma que
0 apresentado pela literatLna3”9°13°l9°2l, nessesindivíduos
não
haviacomprometimento
do
córtex cerebral e observou-se evidências de leucoencefalopatia e lesõesbem
delimitadasou
coalescentes, através de sinais hipointensosem
T1
e hiperintensosem
T2, os quais são compatíveiscom
infaitos lacunares.O
paciente 3não
apresentava sintomas; contudo,uma
RessonânciaMagnética
(RM)
recente evidenciou lesãona
substância branca
do
lobo frontal esquerdo.À
propósito, alguns estudos publicados anteriormente relataram a existência de pacientes afetados,assintomáticos e
com
RM
alterada9°12”14”19'25'32.O
diagnóstico definitivo deCADASIL
foi concedido atravésdo
estudodo
gene
Nozch3,em
19pl3, através dePCR
(PolymeraseChain
Reaction)em
DNA
dos pacientes, quemostrou
uma
dasmutações
já conhecidas e jádescritas
em
outras famílias afetadas22'24”34'39.O
estudo de Chabriat et al (1995) afirmavaque
a penetrânciacompleta
de
CADASIL
sedava
entre os30
e40
anos de
idade”.O
mesmo
não
foiobservado
em
um
de nossos pacientes (indivíduo III-6), vistoque
aos40
anosele ainda
permanecia
assintomático esem
lesão visívelna
RM.
O
primeirosinal de alteração
em
seuexame
deneuroimagem
foi encontrado apenas aos44
anos. Isto indicaque
a penetrânciacompleta
destadoença
se dáalém
dos40
anos de idade.Apesar
de termos nosbaseado
nos critérios diagnósticos paraCADASIL
propostos porDavous P
(l998)3°, estamos convencidos deque
estesprecisam
ser reavaliados. Por exemplo,um
dos critérios de exclusão para estadoença
éa
presença de
RM
normal
em
indivíduosacima
de
35 anos
idade eno
entanto,de idade. Sugerimos,
com
isso,que
os critérios diagnósticos paraCADASIL
devam
ser revisados e reformulados.Gostaríamos de ressaltar
também
que
os pacientescom
CADASIL
não
devem
ser submetidos àAngiografia
Cerebral, tendoem
vista que, semelhante aoque
ocorreucom
a paciente 2, a literatura afirmaque
o graude
complicação perante este
exame
é bastante elevado”.Por
outro lado,além
de tratar-se deuma
entidade aindasem
tratamento,um
outro grandeproblema que
os pacientescom
CADASIL
enfrentam éa
dificuldade para
um
diagnóstico apropriado.Por
se tratar deuma
condiçãodescrita
há poucos
anos,CADASIL
permanece
ignorada pela maioria dos profissionais.Apesar
disso, ela deverá ganhar notoriedade crescente naspróximas
décadas, pois tudo indica seruma
etiologianão
rara dedemência
s.
coNcLUsÕEs
Este trabalho descreveu os aspectos clínicos, de
neuroimagem
e genéticos demembros
deuma
família catarinensecom CADASIL,
cujamutação
no
gene
Notch3
foi encontradano éxon
19.O
diagnóstico deCADASIL
deve ser suspeitadoem
todo indivíduocom
antecedentes deenxaqueca
e/ou depressãoque
desenvolva infartos cerebraisisquêmicos
em
fase precoceda
vida adulta eque não
apresente fatores derisco para
doença
vascular.A
análise genéticado
DNA
de pacientescom
CADASIL
éo melhor
método
diagnóstico, apesar de serum
procedimento
de dificil acessoem
nosso
meio
científico.A
biópsia de peledeve
serponderada
como
método
deabordagem
diagnóstica, tendo
em
vistaque
alguns centros de pesquisano
Brasil já estão aptos a fazer a análise histológica e ultra-estrutural dos tecidos de indivíduoscom CADASIL.
Apesar
dos inúmeros relatos de casos realizadosem
outros países,nosso
conhecimento
sobreCADASIL
permanece
limitado devido a sua expressividade variada.Os
critérios diagnósticos deCADASIL
propostosem
1998
necessitam de reformulação.Angiografia
Cerebralnão deve
ser realizada nos pacientes afetados devidoao alto risco de complicações.
Certamente
CADASIL
seráuma
causa dedemência
vascularque ganhará
importância significativa