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Fileira do Pescado Avaliação de Ciclo de Vida da sardinha fresca, congelada e em conserva

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Relatório Técnico

Setembro 2014

Fileira do Pescado

Avaliação de Ciclo de Vida da sardinha fresca,

congelada e em conserva

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Ficha técnica

Ficha técnica

Coordenador da Fileira

Luís Arroja, Universidade de Aveiro & CESAM

Grupo de trabalho

Sara Belo, Universidade de Aveiro

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Abreviaturas e Acrónimos

Abreviaturas e Acrónimos

AC – Alterações Climáticas ACV – Avaliação de Ciclo de Vida

AICV – Análise de Inventário de Ciclo de Vida AT – Acidificação Terrestre

CO – Monóxido de Carbono CO2 – Dióxido de Carbono

COVNM – Compostos Orgânicos Voláteis Não Metânicos DGPA – Direcção-Geral das Pescas e Aquicultura

DGRM – Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos EAD – Eutrofização de Água Doce

EM – Eutrofização Marinha GEE – Gases com Efeito de Estufa ICV – Inventário de Ciclo de Vida INE – Instituto Nacional de Estatística

IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change ISO – International Standard Organization

N – Azoto NH3 – Amoníaco

NOX – Óxidos de Azoto

NO2 – Dióxido de azoto

P – Fósforo

PEAD – Polietileno de alta densidade PEBD – Polietileno de baixa densidade

PM10 - Partículas inaláveis, de diâmetro inferior a 10 micrómetros

SO2 – Dióxido de Enxofre

SOX – Óxidos de Enxofre

SCA – Subsistema congelação e armazenamento

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Abreviaturas e Acrónimos

SPC – Subsistema processamento (conserva)

TAC – totais admissíveis de captura UF – Unidade Funcional

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Índice

Índice

ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS i 1 INTRODUÇÃO 1 1.1 ENQUADRAMENTO 1 1.2 OBJECTIVOS DO ESTUDO 1

2 DESCRIÇÃO GERAL DA FILEIRA DO PESCADO EM PORTUGAL 3

2.1 EVOLUÇÃO DO SECTOR DO PESCADO 5

2.1.1 DESCARGAS E CAPTURAS DE PESCADO 5

2.1.2 INDÚSTRIA TRANSFORMADORA DOS PRODUTOS DA PESCA E AQUICULTURA 6

3 METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA (ACV) 7

4 ACV DA SARDINHA 11

4.1 SARDINHA FRESCA 12

4.1.1 DEFINIÇÃO DO OBJETIVO E DO ÂMBITO 12

4.1.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 16

4.1.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 18

4.2 SARDINHA CONGELADA 20

4.2.1 DEFINIÇÃO DO OBJETIVO E DO ÂMBITO 20

4.2.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 23

4.2.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 23

4.3 SARDINHA EM CONSERVA 25

4.3.1 DEFINIÇÃO DO OBJETIVO E DO ÂMBITO 25

4.3.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 29

4.3.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 30

5 CONCLUSÕES E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 34

REFERÊNCIAS 36

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Índice

Índice de Tabelas

Tabela 4.1 – Aplicação de critérios de alocação (económica e mássica). __________________________________ 15 Tabela 4.2 – Inventário de ciclo de vida do subsistema operações de captura de sardinha (arte de cerco), expresso por UF. ____________________________________________________________________________________ 17 Tabela 4.3 – Inventário de ciclo de vida do subsistema operações de desembarque no porto e venda em lota, expresso por UF. _____________________________________________________________________________ 17 Tabela 4.4 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de sardinha fresca – Subsistema Pesca (SP), expressos pela unidade funcional. ______________________________________________________ 19 Tabela 4.5 - Inventário de ciclo de vida do subsistema congelação e armazenamento da sardinha (SCA), expresso pela

UF. _______________________________________________________________________________________ 23 Tabela 4.6 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema de produção de sardinha congelada, expressos pela UF. _______________________________________________________ Erro! Marcador não definido. Tabela 4.7 - Inventário de ciclo de vida do subsistema processamento (SPC). _______________________________ 30

Tabela 4.8 – Perfil dos transportes considerados no subsistema processamento (SPC). _______________________ 30

Tabela 4.9 – Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de sardinha em conserva, expressos pela UF. ___________________________________________________________________________ 31 Tabela A.1 – Volume máximo de desembarques e nº de dias máximo de actividade de pesca da sardinha. _______ 40

Índice de Figuras

Figura 2.1 - Capturas nominais totais em Portugal, segundo as espécies; gráficos superiores referentes ao ano 2011 e inferiores ao ano 2012, expresso em a) toneladas; b) euros (INE, 2013). ___________________________________ 4 Figura 2.2- Volume de pescado desembarcado, fresco ou refrigerado (%), por arte de pesca (Adaptado de INE, 2013) 4 Figura 3.1 - Fases de desenvolvimento metodológico de uma avaliação de ciclo de vida, segundo as normas ISO (ISO, 2006) ______________________________________________________________________________________ 7 Figura 4.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida dos produtos sardinha fresca, sardinha congelada e sardinha em conserva __________________________________________________ 11 Figura 4.2 – Fronteiras do sistema de produção de sardinha fresca (SP: Pesca). _____________________________ 13

Figura 4.3 - Contribuição relativa: a) dos subsistemas operações de captura e de desembarque no porto, envolvidos na pesca da sardinha; b) dos processos/actividades envolvidos nas operações de captura da sardinha. __________ 20 Figura 4.4 - Fronteiras do sistema de produção de sardinha congelada. __________________________________ 21 Figura 4.5 - Contribuição relativa dos subsistemas: pesca (SP) e congelamento e armazenamento (SCA). _________ 24

Figura 4.6 - Contribuição relativa dos processos/atividade incluídos no subsistema congelamento e armazenamento (SCA). ______________________________________________________________________________________ 25

Figura 4.7 - Fronteiras do sistema de produção de sardinha em conserva. ________________________________ 26 Figura 4.8 - Contribuição relativa dos subsistemas: peca (SP) e processamento (SPC). ________________________ 32

Figura 4.9 - Contribuição relativa dos processos/atividades incluídos no subsistema processamento de sardinha em conserva (SPC) de: a) azeite; b) óleo de girassol. _____________________________________________________ 32

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Introdução

1 Introdução

1.1 Enquadramento

O projeto ECODEEP - EcoEficiência e a EcoGestão no sector AgroIndustrial - tem como objetivo aumentar a competitividade, sustentabilidade e inovação no sector agroalimentar através do desenvolvimento de metodologias inovadoras com base no conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), contribuindo para a redução/minimização das incidências ambientais, a otimização da gestão dos recursos naturais enquanto matérias-primas e a adoção das melhores técnicas e práticas ambientais nas empresas que constituem o universo das diferentes fileiras de atividade do sector agroalimentar. Na prossecução deste objectivo, o projeto ECODEEP contribui de forma indelével para o aumento da competitividade das diferentes fileiras da indústria agroalimentar, pela identificação de oportunidades de racionalização de consumos de matérias-primas e de energia e da minimização da produção de resíduos, efluentes e emissões.

O presente relatório visa descrever o trabalho desenvolvido durante o projeto supracitado, no âmbito da fileira do pescado (caso de estudo: sardinha).

1.2 Objectivos do estudo

O objetivo geral do presente estudo foca-se na obtenção do perfil ambiental de produtos da fileira do pescado em Portugal, recorrendo à ferramenta de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) e ao caso de estudo da sardinha. A ACV é uma ferramenta de gestão ambiental que pode ser amplamente utilizada para avaliar os potenciais impactos ambientais associados a produtos, processos ou serviços, durante todo o seu ciclo de vida. Esta ferramenta tem vindo a ser amplamente aplicada na comunidade científica, em indústrias, e organizações que pretendem avaliar o impacto das suas atividades na perspectiva de ciclo de vida, nomeadamente na produção alimentar.

No presente projeto, a espécie foco de estudo para a fileira do pescado é a sardinha, dado ser uma das espécies marinhas mais capturadas a nível nacional. Neste sentido, são avaliados neste estudo os seguintes produtos: sardinha fresca, sardinha congelada e sardinha em conserva.

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Introdução

Por fim, são também objetivos deste trabalho, identificar os hotspots ambientais dos sistemas de produção dos respetivos produtos, isto é, identificar as fases ou processos mais críticos, que representam uma maior contribuição no impacte ambiental total do produto; e por fim, tendo em consideração os resultados obtidos, identificar possíveis oportunidades de melhoria no desempenho da produção destes produtos, visando o apoio a futuras decisões e melhorando projectos futuros.

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Caracterização da fileira do pescado em Portugal

2 Descrição geral da fileira do pescado em Portugal

A fileira do pescado, integrando a captura, transformação e comercialização do pescado representa para Portugal uma especial importância. A abundância de peixe e a sua qualidade, a extensão da linha de costa e a tradicional propensão para as artes de pesca, aliadas à simplicidade da técnica, criaram em Portugal condições ímpares para o desenvolvimento de actividades de pesca e estabelecimento da indústria conserveira (Castro e Melo, 2010). Esta actividade constitui uma importante fonte de subsistência, em especial para as comunidades ribeirinhas, muitas delas quase totalmente dependentes da pesca e actividades relacionadas (MADRP-DGPA, 2007). Neste sentido, esta fileira tem vindo a evidenciar-se como um importante motor da economia mas também do desenvolvimento social e cultural do país.

Sendo Portugal um país com fortes tradições marítimas, estas reflectem -se na sua gastronomia, tornando Portugal, o país da União Europeia com o consumo per capita de pescado mais elevado. Dados anunciados em 2014, referentes ao ano 2012, revelam o consumo per capita de 57 kg habitante -1 ano -1 em Portugal, face à média europeia de 22 kg de pescado (FAO, 2014). Este valor, que representa em Portugal um consumo individual de cerca de 160g de pescado por dia, corresponde a mais de 30 % do total da dieta proteica animal diária por habitante (MADRP-DGPA, 2007). Contudo, a produção nacional de pescado manifesta-se insuficiente face ao valor consumido pela população portuguesa (apenas permite satisfazer uma procura per capita de 23 Kg/ano) (MADRP-DGPA, 2007). Assim, para cobrir as necessidades, Portugal recorre à importação de mais de 300.000 toneladas de pescado por ano.

As principais áreas de pesca em Portugal continental localizam-se na zona costeira, essencialmente até às 6 milhas, onde a frota local opera quase exclusivamente. Os principais recursos explorados são fundamentalmente pequenos pelágicos como a sardinha, o carapau e a cavala, mas os mais importantes em termos económicos são os demersais como o polvo, a pescada, a gamba e o choco (figura 2.1) (DGRM, 2014).

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Caracterização da fileira do pescado em Portugal

Figura 2.1 - Capturas nominais totais em Portugal, segundo as espécies; gráficos superiores referentes ao ano 2011 e inferiores ao ano 2012, expresso em a) toneladas; b) euros (INE, 2013).

A frota nacional é composta, predominantemente, por embarcações de pequeno porte (cerca de 91% com comprimento de fora a fora inferior a 12 metros) que operam com diversas artes. Os principais métodos de pesca utilizados são a pesca polivalente (diversas artes de pesca), seguindo-se a arte de cerco (ANEXO A), na pesca pequenos pelágicos, e o arrasto, na captura das espécies carapau, pescada, tamboril, crustáceos e outros demersais (figura 2.2). Grande parte das capturas, em termos de volume total de pescado desembarcado, é realizada pelas frotas da pesca do cerco (44%), sendo a sardinha a espécie com transacções mais significativas, com aproximadamente 40% das capturas totais, logo seguida da cavala (INE, 2012 e 2013). Todavia, contrariamente à tendência geral, em 2012 as transacções de cavala foram superiores à da sardinha.

Figura 2.2- Volume de pescado desembarcado, fresco ou refrigerado (%), por arte de pesca (Adaptado de INE, 2013)

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Caracterização da fileira do pescado em Portugal

Várias espécies consumidas em Portugal são certificadas por organizações independentes, nomeadamente a pescaria da sardinha pela arte do cerco em Portugal, que obteve o eco-rótulodo MSC-Marine Steward ship Council, sendo a primeira pescaria certificada na Península Ibérica e única pescaria de sardinha certificada do mundo. A sardinha, que ocupa um lugar predominante entre o pescado consumido a nível nacional, após desembarque pode seguir para consumo direto (sardinha fresca), ser armazenada em entreposto frigorífico (sardinha congelada) ou enviada como matéria-prima para indústrias transformadoras, nomeadamente para uma das maiores indústrias alimentares de exportação Portuguesa – as indústrias conserveiras. Em Portugal, aproximadamente 50% da sardinha desembarcada nos portos nacionais é consumida fresca e cerca de 40% enviada para indústrias transformadoras de pescado, das quais 78% são indústrias conserveiras (Almeida et al 2015, cit Ernest and Young, 2009).

No sector transformador do pescado, a indústria conserveira é a única com contributo positivo para a balança comercial dos produtos da pesca e a que apresenta maior vocação para a utilização de matéria‐prima nacional (Castro e Melo, 2010). Desta forma, esta indústria é de grande importância para o país, não só economicamente, mas pela tradição com mais de 150 anos de existência. O sector das conservas absorve cerca de 40% dos desembarques anuais do cerco, tornando a indústria conserveira e a frota nacional do cerco interdependentes (Castro e Melo, 2010).

2.1 Evolução do sector do pescado

2.1.1 Descargas e capturas de pescado

A frota portuguesa capturou 197 512 toneladas de pescado em 2012, tendo-se verificado um decréscimo de 9,1% relativamente ao ano anterior (INE, 2013). Deste volume, cerca de 77 % corresponderam a pescado fresco ou refrigerado. Segundo os dados disponibilizados pelo INE (2013) a redução registada na captura deveu-se sobretudo à redução da captura de sardinha e atum (-43,2% e -10,1% do volume capturado, respetivamente), sendo que no caso da sardinha, esta diminuição resultou do estabelecimento da fixação, através dos Despachos nº 1520/2012 e 7509/2012, de

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Caracterização da fileira do pescado em Portugal

um limite de capturas restrito (36 mil toneladas), tendo em vista a preservação deste recurso. Em contrapartida, registaram-se aumentos relevantes de outras espécies igualmente capturadas pela frota de cerco, nomeadamente cavala (+19,4%) e carapau (+48,6%) devido a uma maior disponibilidade destes recursos e ao desenvolvimento de novos mercados para a cavala (INE, 2013).

2.1.2 Indústria transformadora dos produtos da pesca e aquicultura

De acordo com as Estatísticas da Pesca, em 2012 a Indústria Transformadora da Pesca e Aquicultura apresentou uma produção de 207 mil toneladas, representando um decréscimo de aproximadamente 2,2% em relação a 2011. Na estrutura da produção, os produtos mais importantes, em termo de volume, são os “congelados” (50%), seguindo-se o grupo dos “secos e salgados” (24%) e o das “preparações e conservas” (21 %). Este último grupo reforçou em 2011 a sua relevância no âmbito dos produtos desta atividade. A produção de sardinha em conserva representou, em 2011, aproximadamente 40% da produção de “preparações e conservas”.

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Metodologia de ACV

3 Metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)

A Avaliação de Ciclo de vida (ACV) é reconhecida como um dos métodos desenvolvidos mais importantes para avaliar o impacte ambiental de produtos, podendo ser usada como ferramenta de suporte na gestão ambiental. A ISO 14040:2006 define ACV como uma “compilação e avaliação de entradas e saídas e potenciais impactes ambientais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida, isto é, a ACV fornece modelos de processos quantitativos, que permitem avaliar processos produtivos e analisar opções para inovação, bem como melhorar a compreensão de sistemas complexos. Esta ferramenta permite identificar processos e áreas onde alterações de processo resultantes de investigação e desenvolvimento podem contribuir significativamente para a redução dos impactes ambientais.

As fases de desenvolvimento metodológico de uma ACV (ISO 14040:2006), encontram-se repreencontram-sentadas na figura 3.1, encontram-seguida de uma descrição mais pormenorizada de cada uma destas fases.

Figura 3.1 - Fases de desenvolvimento metodológico de uma avaliação de ciclo de vida, segundo as normas ISO (ISO, 2006)

Um estudo de ACV inicia-se com uma descrição explícita do objetivo e do âmbito do estudo. Quanto ao objetivo, este deve indicar claramente a aplicação e as razões para desenvolver o estudo, o público a que é dirigido, e se os resultados irão ser utilizados para fins comparativos (ISO 14040:2006). Em relação ao âmbito devem ser definidos, fundamentalmente:

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Metodologia de ACV

 A unidade funcional que é uma unidade quantitativa que corresponde ao fluxo de referência pelo qual todos os fluxos de entrada e saída do inventário de ciclo de vida estão relacionados.

 A função do sistema em estudo, que define as suas características de funcionamento. De realçar que um sistema pode ter diferentes funções e por essa razão nos estudos comparativos de ACV é utilizado o conceito de “funcional equivalente”, definido como uma representação das características técnicas e funcionais do produto. Por exemplo, num estudo comparativo de produtos alimentares, nomeadamente carne e peixe, poderia ser considerado que a principal função destes alimentos é o fornecimento de proteínas, e portanto poder-se-iam comparar os resultados utilizando o teor proteico dos alimentos como unidade funcional, por exemplo, “kg de proteínas ingeríveis”.

 O sistema, que incluí o conjunto de processos unitários e subsistemas considerados no estudo, bem como os fluxos de matéria e energia que interligam os processos, permitindo a produção do produto ou serviço que se pretende estudar.

 As fronteiras do sistema, que delimitam os processos unitários que são incluídos na análise. É necessário estabelecer as fronteiras do sistema em consonância com os objectivos do estudo, uma vez que se torna desnecessário incluir processos que não irão variar significativamente as conclusões do estudo. Desta forma, são importantes a consideração de resultados preliminares e/ou resultados de estudos semelhantes quando da elaboração do estudo. Neste contexto podem também ser adotadas diferentes abordagens. Com efeito, um estudo clássico de ACV inclui todo o ciclo de vida do produto ou serviço, ou seja, dentro das fronteiras do sistema estão incluídos todos os processos desde a exploração dos recursos até à gestão dos resíduos. Neste caso o estudo é designado como estudo do berço-até-à-cova (gradle-to-grave). No entanto, por vezes apenas uma parte do ciclo de vida do produto ou serviço é de interesse, normalmente incluindo o ciclo de vida desde a exploração dos recursos até ao final do processo de produção, isto é, não incluindo as fases de distribuição, utilização e deposição final. Nesta situação o estudo é denominado de estudo do berço-até-ao-portão (gradle-to-gate).

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Metodologia de ACV

 A alocação é o método usado para distribuir as cargas ambientais de um processo quando vários produtos ou funções partilham esse mesmo processo. A alocação pode ser baseada em vários critérios (por exemplo, mássico, económico e energético), devendo analisar-se qual o mais adequado para o processo em questão. Por exemplo a alocação económica é baseada no valor económico dos produtos produzidos pelo processo em análise, reflectido no seu preço de primeira venda. Este critério é usualmente usado em relação a produtos alimentares.

 A metodologia aplicada e as categorias de impactes avaliadas no estudo. Cada método difere nas categorias de impacte que considera, nas metodologias de cálculo, bem como nos fatores de emissão associados.

Noutra fase distinta, no inventário de ciclo de vida (ICV), é incluída a obtenção de dados e procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas relevantes em cada um dos processos unitários constituintes do sistema em estudo. Assim, é realizado um balanço a todos os fluxos elementares que saem e entram no sistema ao longo de todo o ciclo de vida do produto convertendo-os na unidade funcional seleccionada. Os fluxos contabilizados podem ser fluxos materiais (por exemplo recursos naturais, matérias-primas e produtos), fluxos energéticos (por exemplo electricidade e combustíveis) ou emissões para a atmosfera, água e solo.

Após o desenvolvimento do inventário, segue-se a avaliação de inventário de ciclo de vida (AICV), que visa compreender e avaliar a magnitude e a importância dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de (ISO 14040:2006). Nesta fase, os resultados do ICV são agrupados e avaliados de acordo com as categorias de impacte ambiental seleccionadas na fase anterior. São fases obrigatórias da AICV a classificação e a caracterização:

 Na classificação os dados de inventário são imputados a categorias de impacte específicas (por exemplo, alterações climáticas e acidificação terrestre), seguindo o método previamente seleccionado (por exemplo, ReCiPe ou CML).

 Na fase de caracterização, procede-se a uma avaliação dos fluxos contabilizados, segundo a sua relevância sob o ambiente. Os dados de inventários já agrupados por categorias de impacte ambiental são convertidos nas unidades dos

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Metodologia de ACV

indicadores (por exemplo kg CO2equivalentes) de cada categoria de impacte

ambiental, pela utilização de fatores de caracterização definidos pelo método selecionado. O resultado da caracterização descreve o perfil ambiental do sistema, composto pelo conjunto de indicadores correspondentes a cada categoria de impacte ambiental considerada.

Opcionalmente, após à caracterização pode proceder-se à normalização e ponderação. A fase de interpretação é um processo interactivo que deve ser executado durante toda a avaliação, na qual devem ser incluídos, entre outros, a identificação de questões significativas com base nos resultados, a avaliação de integridade, a verificação de sensibilidade, assim como limitações, conclusões e recomendações.

Entre as metodologias de impacte mais utilizadas em ACV, destacam-se as metodologias designadas de CML 2001 (Guinée et al., 2001), Ecoindicator (Goedkoop e Spriensma, 2001) ou ReCiPe 2008 (Goedkoop et al., 2009).

Para facilitar a aplicação da ACV têm sido desenvolvidos nas últimas décadas programas informáticos que ajudam o analista a fazer o inventário do ciclo de vida, calcular os resultados da avaliação de impactes e interpretar os resultados. As ferramentas mais conhecidas são o GaBi (PE International, Alemanha) e o SimaPro (Pré-Consultants, Países Baixos), ambos softwares de caracter geral, que podem ser utilizadas para avaliar qualquer produto.

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ACV da sardinha

4 ACV da sardinha

A actividade de pesca é responsável por gerar impactes ambientais e socioeconómicos significativos. Por esse facto, tem-se verificado uma crescente procura de informações ambientais sobre o sector do pescado, por diferentes partes interessadas das cadeias de abastecimento, designadamente autoridades, consumidores, associações de pesca, indústrias de processamento de produtos da fileira do pescado, entre outros (Vázquez-Rowe et al., 2010). Neste sentido, a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) tem sido utilizada em diversos estudos de produtos de peixe e marisco e tem provado ser uma ferramenta de gestão ambiental útil para avaliação do desempenho da pesca (Pelletier et al., 2007). No âmbito deste estudo, a sardinha foi a espécie avaliada, devido à sua importância no contexto nacional (figura 4.1).

Figura 4.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida dos produtos sardinha fresca, sardinha congelada e sardinha em conserva

De um modo geral, para que seja possível que o produto chegue ao consumidor final, a sardinha fresca é submetida, a duas etapas: a captura e descarga no porto onde decorre a primeira venda em leilão e por fim venda por parte dos retalhistas ao consumidor final. No caso da sardinha processada, após a primeira venda em lota, esta pode ser enviada para um entreposto frigorífico, onde é congelada e armazenada por um período de tempo e posteriormente vendida a retalhistas ou indústrias transformadoras de pescado, ou enviada fresca diretamente da lota para as indústrias transformadoras. Nesta perspetiva, foram considerados três produtos, cujos estudos de ACV são apresentados separadamente nas próximas secções: sardinha fresca (secção 4.1), sardinha congelada (secção 4.2) e sardinha em conserva (secção 4.3). É importante

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ACV da sardinha

salientar que não foram incluídos neste estudo as fases de ciclo de vida posteriores ao processamento, nomeadamente a distribuição aos revendedores, a venda nos retalhistas e o consumo final nas casas das famílias.

4.1 Sardinha fresca

4.1.1 Definição do objetivo e do âmbito 4.1.1.1 Objetivo

O presente estudo visa identificar e avaliar os potenciais impactes ambientais associados à produção de sardinha fresca, capturada pela frota portuguesa nas águas costeiras nacional (Divisão ICES IXa).

4.1.1.2 Unidade Funcional

Para desenvolver o estudo foi definida a unidade funcional (UF) de 1 kg de sardinha inteira à porta do porto de desembarque.

4.1.1.3 Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

A figura 4.2 mostra o sistema de produto, denominado de pesca (SP), onde são

apresentados sequencialmente os processos incluídos nas fronteiras do sistema da sardinha fresca, sendo considerada uma análise desde o berço até ao portão do porto de desembarque (“cradle-to-gate”). Assim, o sistema é subdividido em dois subsistemas, sendo incluídos os fluxos associados às operações desenvolvidas na captura do pescado no mar e às operações de desembarque do pescado no porto, até este ser vendido na lota (primeira venda).

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ACV da sardinha

Figura 4.2 – Fronteiras do sistema de produção de sardinha fresca (SP: Pesca).

Operações de captura de sardinha: A actividade de pesca é usualmente realizada perto do porto, em curtas viagens (diárias), onde as redes são lançadas uma ou duas vezes, geralmente de madrugada. Cada viagem inclui geralmente as seguintes 4 fases/actividades: navegação, pesquisa, pesca e descanso. Na primeira fase – navegação – a embarcação desloca-se do porto de partida em direcção à zona de pesca. A frota de cerco (constituída por traineiras) está autorizada para exercer a actividade a uma distância compreendida entre 1/4 de milha e 1 milha da linha da costa, a profundidades superiores a 20 m. Segue-se a fase de pesquisa, na qual a embarcação procura cardumes das espécies-alvo, neste caso sardinha, com a ajuda de meios electrónicos, tais como sonares e eco sondas. Quando é observada a marcação de pescado nestes equipamentos, inicia-se a terceira fase, a pesca, que consiste na realização do lance de pesca. Durante o lance, as embarcações cercadoras usam geralmente uma pequena embarcação auxiliar, a chalandra ou chata. Esta pequena embarcação é colocada na água e inicia a manobra do cerco, enquanto a outra extremidade fica na traineira. A traineira vai largando a rede, e cercando o cardume até se aproximar novamente da chalandra. Durante este processo realiza-se a viragem do cabo da retenida para fechar a rede pela sua parte inferior e o peixe é capturado. Posteriormente procede-se à alagem da rede, isto é, operação em que a captura é içada, e por último, ao transbordo, que consiste na passagem da captura para bordo e acondicionamento em contentores isotérmicos (dornas) com gelo. O gelo utilizado para refrigerar o pescado é produzido

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ACV da sardinha

numa fábrica de gelo situada junto ao porto. A quarta fase é a de paragem para descanso, que compreende o período em que a embarcação está com a máquina parada, normalmente à deriva, à espera de melhores condições de pesca, ou para regressar ao porto de desembarque. Caso sejam realizados mais lances de pesca, procede-se novamente à navegação, reinicia-se pesquisa e posteriormente ao lance. Finalmente decorre mais uma vez a navegação, para regresso ao porto e desembarque. Operações no porto de desembarque: Durante o desembarque, dá-se o transbordo da captura, dos contentores isotérmicos para cabazes de plástico estandardizados, com capacidade para 22,5 kg de peixe. Durante esta operação é também feita uma triagem, para separação das capturas acessórias e do peixe com tamanho inapropriado (no caso da sardinha, tamanhos inferiores a 11 cm), sendo este posteriormente rejeitado. Também poderá haver peixe rejeitado após a inspecção sanitária realizada após o desembarque. O pescado rejeitado é enviado para industrias especializadas em transformação de subprodutos de origem animal, que transformam estes resíduos orgânicos em produtos, nomeadamente em farinhas que servem de matéria-prima na aquicultura. Durante as operações de descarga, são usados empilhadores que transportam os cabazes em paletes e encaminham-nos para a lota (amostra) ou para o veículo do comerciante. Na lota efectua-se a primeira venda do pescado, por amostragem, em sistema de leilão decrescente, onde o peixe é vendido fresco, para outros comerciantes, nomeadamente para a indústria da conserva. Quando o peixe não atinge o preço estipulado, segue para um entreposto, para congelação. Por fim são lavados os cabazes e as instalações do porto de desembarque e lota, com água da rede. Considerando os processos descritos, foram incluídos no sistema sob avaliação, o consumo de gasóleo, quer no transporte marítimo quer na lota, de óleo lubrificante utilizado nas embarcações, de gelo usado para refrigerar o pescado durante a viagem, bem como de cabazes plásticos usados no transporte do pescado no porto. O consumo de água no porto e lota não foi considerado por falta de informação.

Os bens de capital, nomeadamente o barco, motor, equipamentos electrónicos e redes de pesca não foram incluídos neste estudo dado que trabalhos de investigação anteriores mostram não terem contribuições importantes para o impacte total da pesca e de produtos de peixe e marisco (Nijdam et al., 2012; Ziegler et al., 2013).

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ACV da sardinha

4.1.1.4 Alocação

O sistema em estudo é um sistema multifuncional do qual resultam a sardinha como produto e o peixe rejeitado (espécies não alvo e/ou sem condições para consumo humano) como subproduto, que se destina à transformação em farinhas para consumo animal. Todavia, após a análise dos resultados da aplicação de dois critérios de alocação (mássica e económica), apresentados na tabela 4.1, optou-se por alocar a totalidade dos impactes ambientais à sardinha para consumo humano, uma vez que esta representa a quase totalidade das capturas. Em relação à captura total, em 2011, a captura de peixes rejeitados (destinados à produção de farinhas de peixe) representou 2,16 % e 0,12 % em termos mássicos e económicos, respectivamente, e em 2012 representou 1,4 % e 0,08 %, respectivamente.

Tabela 4.1 – Aplicação de critérios de alocação (económica e mássica).

Ano Alocação Sardinha Peixe rejeitado 2011 Económica 99,88 % 0,12 %

Mássica 97,84 % 2,16 % 2012 Económica 99,92 % 0,08 % Mássica 98,86 % 1,14 %

4.1.1.5 Metodologia de avaliação de impactes

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da metodologia de ACV, apenas as etapas de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efectuadas, dado que estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os factores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkoop et al., 2009), sendo seleccionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

(24)

ACV da sardinha

4.1.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida

Em estudos de ACV é importante considerar dados reais e validados que permitam a obtenção de resultados ambientais representativos. Os dados primários utilizados neste estudo foram recolhidos, por inquérito, a uma frota de cerco portuguesa dirigida essencialmente à captura de sardinha, sendo esta, responsável por aproximadamente 35% das descargas de sardinha em Portugal. A frota é constituída por 20 embarcações, com uma média de potência de motor de 316 kW e comprimento entre 19 e 24m. A informação obtida incluiu o gasóleo consumido no transporte marítimo e volume de capturas de sardinha e peixe rejeitado, assim como o consumo de gasóleo nas operações de desembarque na lota. Relativamente aos óleos lubrificantes usados nas embarcações, foi fornecida uma estimativa pelos operadores da frota inquirida. Os dados de inventário para a produção de gelo, utilizado pelas embarcações durante as viagens, foram também recolhidos por inquérito numa unidade fabril situada no porto de desembarque da frota inquirida, os quais incluíram o consumo de água e eletricidade.

Contudo, para algumas das entradas consideradas no sistema não foram conseguidos dados específicos da amostra em estudo, e portanto, foram tidos em consideração dados bibliográficos. No que diz respeito ao consumo de cabazes plásticos foram considerados os dados referidos em Thrane (2004), que considera que que estes são feitos de polietileno de alta densidade (PEAD), têm uma capacidade de 25 kg de pescado por cabaz e podem ser reutilizados cerca de 50 vezes antes de quebrarem ou partirem.

As emissões resultantes da combustão do gasóleo, pelos barcos e empilhadores, foram calculadas com base nos factores de emissão (Tier 1) apresentados no “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” de 2006 e no “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” de 2013.

Os dados de primeiro plano do sistema da sardinha fresca (SP) são apresentados nas

tabelas 4.2 e 4.3, referentes aos inventários de ciclo de vida dos subsistemas operações de captura da sardinha (arte de cerco) e operações de desembarque no porto, respetivamente.

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ACV da sardinha

Tabela 4.2 – Inventário de ciclo de vida do subsistema operações de captura de sardinha (arte de cerco), expresso pela UF. Fluxo Unidade 2011 2012 Entradas da tenosfera Materiais e combustíveis Gasóleo g 80,90 115,3 Óleo lubrificante g 0,408 0,530 Gelo kg 80,64 104,8

Saídas para a tecnosfera

Produtos

Pescado descarregado kg 1,022 1,014

Saídas para o ambiente

Emissões para a atmosfera

CO2 kg 240,5 312,5 N2O g 0,006 0,008 NOX g 5,967 5,966 CO g 0,562 0,562 COVNM g 0,213 0,213 SOX g 1,520 1,520 PM10 g 0,114 0,114 CH4 g 0,023 0,030

Tabela 4.3 – Inventário de ciclo de vida do subsistema operações de desembarque no porto e venda em lota, expresso pela UF.

Fluxo Unidade 2011 2012 Entradas da tenosfera Materiais e combustíveis Pescado descarregado kg 1,022 1,014 Gasóleo g 2,066 2,476 Cabazes (PEAD) mg 3,000 3,000

Saídas para a tecnosfera

Produtos

Sardinha fresca kg 1,000 1,000 Subprodutos

Peixe rejeitado kg 0,022 0,014

Saídas para o ambiente

Emissões para a atmosfera

CO2 g 5,548 6,649 N2O mg 2,141 2,566 NOX mg 56,70 67,96 CO mg 18,54 22,22 COVNM mg 5,853 7,015 PM10 mg 3,607 4,323 CH4 mg 0,311 0,372 NH3 mg 0,014 0,017

(26)

ACV da sardinha

Por fim, os dados de segundo plano associados à produção de gasóleo, óleo lubrificante, caixas de PEAD, electricidade e água foram obtidas da base de dados Ecoinvent (Althaus et al., 2009)e GaBi (PE International, 2014).

O facto da grande maioria do sector do pescado depender da extracção de organismos de sistemas selvagens, e a actividade de pesca ser controlada de acordo com a estabilidade dos stocks das espécies alvo, por forma a tornar a actividade sustentável, implica que possam existir significantes flutuações na produção de pescado de ano para ano, e consequentemente nos respectivos impactes ambientais associados (Ramos et al., 2011). Por essa razão, o estudo foi elaborado com os dados referentes ao ano 2011, que representa, para a frota inquirida, um ano abundante de sardinha, com um total de 22321 toneladas de sardinha descarregada, e os dados referentes ao ano 2012, que representa um ano escasso de sardinha, com 17177 toneladas de pescado descarregado. Assim, um valor comum dos impactes ambientais associados à produção de sardinha fresca deverá estar compreendido entre os valores obtidos para estes dois anos.

4.1.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados

O desempenho ambiental da produção de sardinha fresca, expresso pela unidade funcional (1 kg de sardinha inteira à porta do porto de desembarque), é apresentado na tabela 4.4. Nesta tabela pode observar-se que os resultados variam, por exemplo para a categoria AC, entre 0,260 e 0,383 kg CO2 equivalente, que representa um aumento de 47,4 % em 2012 em relação a 2011. Em todas as categorias analisadas é verificado um aumento do impacte, comparando estes anos. Estas diferenças estão diretamente relacionadas com a intensidade de gasóleo na captura da sardinha, dado que a quantidade de gasóleo consumido por sardinha capturada apresenta uma variação importante no período considerado. A média anual de gasóleo consumido por kg de sardinha desembarcada no porto foi de 0,08 kg em 2011 e 0,11 kg em 2012. Os valores obtidos neste estudo estão em linha com outros estudos de ACV da literatura. Almeida et al. (2013) analisa a captura de sardinha em Portugal, entre 2005 e 2010, e considera o consumo de 0,09 kg de gasóleo / kg de peixe desembarcado. Vázquez-Rowe et al. (2010) e Ramos et al. (2011) cujo estudos são focados na pesca de outros pequenos pelágicos, designadamente a captura de carapau na Galizia e a pesca de cavala no País Basco,

(27)

ACV da sardinha

ambos no ano 2008, consideram, respetivamente, os consumos médios de 0,18 e 0,23 kg de gasóleo / kg de peixe desembarcado. De salientar que o estudo realizado na Galizia considera uma média de dois tipos de arte de pesca, a arte de cerco e de arrasto, sendo que a arte de arrasto requer um maior consumo de combustível que a de cerco.

Tabela 4.4 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de sardinha fresca – Subsistema Pesca (SP), expressos pela UF.

Categoria de impacte Unidade 2011 2012 Variação Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 0,260 0,383 +47,4%

Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 0,008 0,011 +45,1% Eutrofização marinha (EM) kg N equivalente 0,239 0,248 +4,0% Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 equivalente 3,739 4,014 +7,4%

De acordo com a representação gráfica dos resultados obtidos (figura 4.3ª), as operações de captura da sardinha apresentam uma grande contribuição em todas as categorias de impacte, para ambos os anos, representando mais que 97% do impacte total. Desta forma, apenas as operações de captura foram analisadas em mairor detalhe (figura 4.3 b), sendo verificado que os resultados são bastante similares em ambos os anos, em termos da contribuição relativa de cada processo. A produção de gasóleo e as emissões associadas à sua combustão são os processos responsáveis pela maior contribuição no impacte total. A emissões resultantes da queima de gasóleo durante a pesca representam a maior contribuição para todas as categorias analisadas (variando entre 84% e 96 % do impacte total), à excepção da categoria EAD, para a qual a produção de gasóleo é responsável por aproximadamente 100 % do impacte total. A contribuição dos restante processos, nomeadamente a produção de gelo e de óleo lubrificante, representam no seu conjunto menos de 1 % em todas as categorias.

(28)

ACV da sardinha

Figura 4.3 - Contribuição relativa: a) dos subsistemas operações de captura e de desembarque no porto, envolvidos na pesca da sardinha; b) dos processos/actividades envolvidos nas operações de captura da sardinha.

4.2 Sardinha Congelada

4.2.1 Definição do objetivo e do âmbito 4.2.1.1 Objetivo

É objetivo deste estudo identificar e avaliar os potenciais impactes ambientais associados à produção de sardinha congelada, capturada pela frota portuguesa nas águas costeiras nacional (Divisão ICES IXa).

4.2.1.2 Unidade Funcional

Para desenvolver a Avaliação de Ciclo de Vida, foi definida a UF de 1 kg de sardinha congelada, à porta do entreposto frigorífico.

4.2.1.3 Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

O estudo sob análise inclui todas as fases de ciclo de vida da sardinha congelada até à porta do entreposto frigorífico (“cradle-to-gate”), imediatamente antes do produto ser transportado para as distribuidoras ou outras indústrias para ser processada. Assim, o

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD EM AT AC EAD AM AT 2011 2012

Operações de desembarque no porto Operações de Captura da Sardinha

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD EM AT AC EAD AM AT 2011 2012 Produção de gasóleo

Emissões da combustão de gasóleo Produção de óleo lubrificante Produção de gelo

(29)

ACV da sardinha

sistema de produto (figura 4.4) é dividido em dois subsistemas principais: pesca (Sp) e congelação e armazenamento (SCA).

Figura 4.4 - Fronteiras do sistema de produção de sardinha congelada.

Subsistema Pesca (SP): Este subsistema inclui as operações de captura e descarga da

sardinha no porto, cuja descrição e respectiva ACV se encontram na subseção anterior (ver 4.1), referente à produção de sardinha fresca.

Subsistema congelação e armazenamento (SCA): Este subsistema engloba o processo de

congelamento da sardinha e o seu armazenamento no frio no entreposto e considera todas as entradas e saídas ambientalmente relevantes associadas ao processo que se segue.

As sardinhas são transportadas diretamente da lota para o entreposto frigorífico. Após a recepção das sardinhas na unidade industrial, estas são colocadas em dornas com água e gelo, seguindo para o alimentador do tapete que as conduzirá ao túnel de congelação, onde estão durante alguns minutos a temperaturas negativas. Quando saem do túnel, as sardinhas são passadas por água, processo denominado por vidragem, no qual se cria uma pelicula de gelo na sardinha, alargando assim o seu prazo para consumo. De seguida são acondicionadas em embalagens apropriadas e armazenadas em câmaras frigoríficas que armazenam o pescado a temperaturas negativas. O peixe é embalado dentro de um saco de plástico transparente, de polietileno de baixa densidade (PEBD) e colocado numa caixa de cartão, com capacidade para 10 kg de peixe congelado. O período de armazenamento do peixe nas câmaras frigoríficas até à sua expedição é em média de 4 meses.

(30)

ACV da sardinha

Assim, foram considerados como aspectos ambientais relevantes neste subsistema, os consumos de energia, tanto no processo de congelação, como no processo de armazenagem do peixe, assim como de água da rede e de embalagens para o produto final. A utilização de gás refrigerante é também considerada, uma vez que indesejavelmente ocorrem sempre fugas, prejudiciais ao ambiente. O consumo de agentes de limpeza foi excluído das fronteiras do sistema por falta de informação. Por fim, os bens de capital, nomeadamente infraestruturas e equipamentos também não foram incluídos neste estudo.

4.2.1.4 Metodologia de avaliação de impactes

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da metodologia de ACV, apenas as etapas de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efectuadas, dado que são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os factores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo seleccionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

4.2.1.5 Alocação

O subsistema de congelação e armazenamento da sardinha, à semelhança do subsistema da pesca, é multifuncional resultando a sardinha como produto e o peixe rejeitado (sem condições para consumo humano, peixe partido, etc) como subproduto, que se destina à transformação em farinhas para consumo animal. Pelos mesmos motivos apresentados na secção anterior (4.1), relativamente à sardinha fresca, a totalidade dos impactes foi alocada à sardinha congelada, dado que esta representa a quase totalidade da sardinha que entra no entreposto (98,5 %).

(31)

ACV da sardinha

4.2.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida

Os dados de primeiro plano do sistema sob avaliação (tabela 4.5) são dados primários, recolhidos por inquérito num entreposto de congelação e armazenamento, situado junto ao porto de desembarque da frota considerada para o subsistema da pesca. Os dados obtidos dizem respeito ao ano 2012 e incluem a quantidade de sardinha fresca rececionada anualmente na indústria, a produção de subprodutos (peixe rejeitado) destinados à produção de farinhas e a produção de embalagens para o produto final. Foram também fornecidas estimativas dos consumos de água e eletricidade (valores obtidos por kilograma de sardinha congelada e armazenada durante um período médio de quatro meses), e por fim fornecida uma estimativa das fugas indesejáveis de gás refrigerante (amoníaco) para a atmosfera.

Relativamente aos processos de segundo plano, nomeadamente a produção de eletricidade, água da rede nacional e embalagens, foram obtidos das bases de dados Ecoinvent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE International, 2014).

Tabela 4.5 - Inventário de ciclo de vida do subsistema congelação e armazenamento da sardinha (SCA), expresso pela

UF.

Fluxo Unidade Valor

Entradas da tenosfera

Materiais e Energia

Sardinha fresca kg 1,015 Embalagem de cartão g 0,081 Embalagem plástica (PEBD) g 0,081 Água da rede m3 0,004 Eletricidade kWh 0,726

Saídas para a tecnosfera

Produtos

Sardinha congelada kg 1,000

Subprodutos

Peixe rejeitado kg 0,015

Saídas para o ambiente

Emissões para a atmosfera

NH3 g 0,254

4.2.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados

Os resultados da etapa de caracterização da Avaliação de Ciclo de Vida de 1 kg de sardinha congelada à porta do entreposto frigorífico são quantificados na tabela 4.6 e

(32)

ACV da sardinha

as contribuições dos subsistemas incluídos no sistema de produto (SP e SCA)

apresentadas na figura 4.5. Pela análise destes resultados, pode verificar-se que o subsistema de produção de sardinha fresca (SP) é o que mais contribui para o impacte

total, variando entre 49 e 91 %, considerando todas as categorias e anos analisados. O aumento do impacte total da produção de sardinha congelada, entre o ano 2011 e 2012 deve-se portanto ao impacte resultante do SP.

Categoria de impacte Unidade 2011 2012 Alterações Climáticas (AC) kg CO2 Eq 0,537 0,662 Eutrofização de água doce (EAD) g P Eq 0,009 0,013 Eutrofização marinha (EM) g N Eq 0,308 0,318 Acidificação terrestre (AT) g SO2 Eq 5,72 6,00

Figura 4.5 - Contribuição relativa dos subsistemas: pesca (SP) e congelamento e armazenamento (SCA).

Pela análise da figura 4.6, que apresenta a contribuição relativa dos processos/atividades incluídos no subsistema congelamento e armazenamento da sardinha, pode verificar-se que em todas as categorias analisadas, a produção de eletricidade é o processo que mais contribui para o impacte total (variando entre 64% e 100%), à exceção da categoria EAD, na qual a produção de água da rede é o maior contribuinte (cerca de 85%). De realçar a importância da contribuição das emissões de NH3 da fábrica, resultantes das fugas deste gás refrigerante, que contribuem com

aproximadamente 32% e 35% da carga ambiental total nas categorias AM e AT, 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD EM AT AC EAD AM AT 2011 2012

(33)

ACV da sardinha

respetivamente. As contribuições dos processos de produção das embalagens mostram não ser importantes.

Figura 4.6 - Contribuição relativa dos processos/atividade incluídos no subsistema congelamento e armazenamento (SCA).

4.3 Sardinha em conserva

4.3.1 Definição do objetivo e do âmbito 4.3.1.1 Objetivo

Os principais objectivos deste estudo são identificar os aspectos ambientais mais relevantes na produção de conservas de sardinha em azeite e em óleo de girassol, fabricadas em Portugal; avaliar os respectivos potenciais impactes ambientais; e propor oportunidades de melhoria no desempenho ambiental do respetivo processo.

4.3.1.2 Unidade Funcional

A unidade funcional adotada é 1 kg (peso líquido) de sardinha em conserva em lata de alumínio à porta da indústria conserveira. Considerou-se a produção de latas de conserva com a capacidade para 125 g de produto (peso líquido), que inclui 90 g de sardinha (peso escorrido) e 35 g de conservante (azeite ou óleo de girassol).

4.3.1.3 Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

O diagrama ilustrado na figura 4.7 demonstra esquematicamente as fases de ciclo de vida da produção de sardinha em conserva e os processos incluídos no sistema de

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD AM AT

Produção de água da rede Produção de cartão

Produção de filme estirável Produção de amoníaco Emissões da fábrica Produção de eletricidade

(34)

ACV da sardinha

produto considerado na avaliação do perfil ambiental. Neste estudo foi assumida uma análise desde o berço até à porta da fábrica conserveira (“cradle-to-gate”), sendo por isso o sistema dividido em dois subsistemas principais: pesca (SP) e processamento

(SPC).

Figura 4.7 - Fronteiras do sistema de produção de sardinha em conserva.

Subsistema Pesca (SP): Este subsistema inclui as operações de captura e descarga da

sardinha no porto para obtenção da sardinha fresca, a principal matéria-prima das conservas de sardinha. A descrição e respectiva ACV deste subsistema encontram-se na subseção anterior (ver 4.1).

Subsistema processamento (SPC): Este subsistema engloba todos os fluxos de

entradas e saídas ambientalmente relevantes associados ao processo produtivo de conservas na indústria transformadora, desde a receção das sardinhas frescas até expedição das conservas, incluindo o transporte das matérias-primas.

A sardinha recepcionada na unidade fabril é armazenada numa câmara de conservação de frescos. No processo de laboração as sardinhas são manualmente desencabeçadas e colocadas numa grelha, sendo depois levadas a cozer em fornos próprios. Após a cozedura passam por um período de descanso para arrefecimento, normalmente de um

(35)

ACV da sardinha

dia para o outro. Após esse período, estas são novamente aparadas e colocadas nas latas de alumínio, onde vão receber os respectivos molhos e temperos (por exemplo, óleo de girassol ou azeite, sal), seguindo-se a cravação. Assim que as embalagens são seladas hermeticamente (cravadas) caem por gravidade num transportador que as conduz a uma lavadora/recuperadora de óleo e posteriormente para os carros de esterilização. Estes carros, depois de cheios, são colocados em autoclaves, onde se efectua a esterilização do produto. A esterilização é o tratamento térmico que tem por objectivo tornar as conservas estáveis à temperatura ambiente durante largos períodos de tempo. Durante a esterilização, as latas são submetidas a uma pressão e temperaturas elevadas, durante um período prolongado, seguindo-se o arrefecimento rápido das latas.Por fim, procede-se ao embalamento final e expedição.

Similarmente a outras indústrias de processamento de alimentos, os principais aspetos ambientais associados às atividades de processamento de peixe incluído neste subsistema são o consumo de energia e a produção efluentes e resíduos sólidos com elevado teor orgânico, assim como o consumo de conservantes (por exemplo azeite) e de embalagens primárias, secundárias e terciárias.

O elevado consumo de energia está relacionado com a tecnologia de processamento, nomeadamente, no forno de cozimento, equipamento de esterilização e cravagem. No sistema de produto sob análise, à exceção da autoclave para esterilização das conservas, que utiliza nafta como combustível, é utilizada eletricidade em todos os processos.

Durante o processamento da sardinha cerca de 20% da matéria-prima (sardinha fresca) é desperdiçada (nomeadamente as cabeças e as vísceras, peixes partidos ou não apropriados à conserva), sendo estes resíduos orgânicos destinados a industrias especializadas para transformação de subprodutos, geralmente em farinhas de peixe ou óleo de peixe.

O consumo de óleo de girassol ou de azeite usado na conserva de sardinha é também incluído no sistema; contudo, o consumo de outros temperos não é considerado por falta de informação.

(36)

ACV da sardinha

As embalagens primárias consideradas são latas de alumínio do tipo ¼ club (as mais produzidas), cujo peso médio é de 18 g e embalam 125 g de produto. Como embalagens primárias são ainda usadas cartonetes a envolver a embalagem de alumínio, cujo peso é aproximadamente 9 g. Para facilitar a expedição e o transporte dos produtos são utilizadas, como embalagens secundárias e terciárias, caixas de cartão, paletes e filme estirável. A produção de todas estas tipologias de embalagem foi considerada neste estudo.

A produção de água da rede e consequentemente as águas residuais, tratadas em ETAR municipal, assim como os agentes de limpeza usados na indústria para a lavagem e desinfecção dos equipamentos e instalações, foram excluídos das fronteiras do sistema pela falta de dados. Os bens de capital, nomeadamente as infraestruturas e equipamentos/máquinas também não foram incluídos.

4.3.1.4 Metodologia de avaliação de impactes

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da metodologia de ACV, apenas as etapas de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efectuadas, dado que são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os factores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo seleccionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

4.3.1.5 Alocação

Similarmente aos subsistemas anteriormente descritos no presente relatório, o sistema de produto da sardinha em conserva é multifuncional, pois os desperdícios de peixe resultantes do processo podem ser considerados subproduto, uma vez que, são usados como matéria-prima em indústrias de transformação de subprodutos de origem animal. No entanto, uma vez que estes desperdícios não representam valor

(37)

ACV da sardinha

económico para a indústria de pescado, o subsequente processo de transformação é excluído das fronteiras do sistema e os impactes ambientais são alocados na totalidade à sardinha em conserva.

4.3.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida

Os dados referentes aos processos de primeiro plano do sistema em estudo, utilizados na elaboração do ICV (tabela 4.7), são dados primários. Estes dados foram recolhidos numa indústria conserveira, cuja produção é caracterizada pelo método tradicional, consumindo unicamente peixe fresco capturado diariamente na costa portuguesa. No ano 2012, a produção da indústria supra referida representou 22,6% da produção nacional de conservas de sardinha (INE, 2014).

As emissões resultantes da combustão da nafta consumida na unidade industrial foram calculadas com base no “EMEP Corinair Emission Inventory Guidebook” de 2013 e no “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” de 2006.

Quanto à informação referente aos processos de segundo plano, esta é secundária, sendo os dados obtidos de bases de dados da bibliografia. Os processos associados à produção de gasóleo, nafta, electricidade e materiais de embalagem foram obtidos da base de dados Ecoinvent (Althaus et al., 2009) e da base de dados do GaBi (PE International, 2014). Os processos de produção dos conservantes - azeite ou óleo de girassol – são baseados no estudo de ACV destes produtos, elaborado no âmbito deste projeto. Para os conservantes, foram consideradas as fases de cultivo, colheita e transformação, mas excluída a fase de embalamento, dado que estas matérias-primas são transportadas para a indústria conserveira em depósitos de 1000 L, os quais são reutilizáveis.

(38)

ACV da sardinha

Tabela 4.6 - Inventário de ciclo de vida do subsistema processamento (SPC), expresso pela UF.

Fluxo Unidade Valor

Entradas da tecnosfera

Materiais e Energia

Sardinha fresca kg 0,900 Óleo de girassol ou azeite kg 0,280

Nafta g 0,031 Eletricidade kWh 0,049 Alumínio kg 0,117 Cartonetes g 72,0 Caixas de cartão g 9,64 Paletes g 0,003

Saídas para a tecnosfera

Produtos

Sardinha em conserva kg 1,00

Subprodutos

Peixe rejeitado g 225

Saídas para o ambiente

Emissões para a atmosfera

CO2 g 101 CH4 mg 0,825 N2O g 0,706 NOX g 0,091 CO g 0,034 COVNM g 0,065 PM10 g 0,028

Por fim, os transportes das matérias-primas até à unidade fabril de processamento da sardinha, considerados neste estudo, são apresentados na tabela 4.8.

Tabela 4.7 – Perfil dos transportes considerados no subsistema processamento (SPC).

Matéria transportada Tipo de veículo Distância considerada Qualidade dos dados Sardinha Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 6,1 km Dado real

Azeite Camião 16-32 toneladas (Euro 5) 771 km Dado real Óleo de girassol Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 329 km Dado real Latas de alumínio Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 267,5 km Dado real Cartonetes e cartões Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 30 km Dado real Europaletes Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 10 km Dado real Filmes plásticos Camião 7,5 toneladas (Euro 5) 30 km Dado estimado

4.3.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados

Os resultados da Avaliação de Ciclo de Vida da sardinha em conserva são apresentados na tabela 4.9, quantificados em função da unidade funcional adotada no estudo - 1 kg

(39)

ACV da sardinha

de sardinha em conserva (peso líquido) à porta da indústria conserveira. Os resultados absolutos são apresentados para a sardinha em conserva de azeite e em conserva de óleo, produzida com sardinha capturada em 2011 e em 2012. Da análise destes resultados pode constatar-se que o impacte ambiental da sardinha em conserva, por exemplo para a categoria CC, varia entre 1,72 e 1,99 kg de CO2 equivalente por kg de

sardinha em conserva. Pode concluir-se que as maiores variações nos resultados obtidos devem-se mais ao conservante utilizado do que ao ano de captura da sardinha, pelo que o impacte ambiental da conserva em azeite apresenta valores mais elevados em todas as categorias analisadas, à exceção da EAD. De salientar que nas categorias de impacte EM e AT o impacte ambiental da sardinha em conserva em azeite é mais do dobro do impacte da conserva em óleo de girassol. Em contrapartida, na categoria EAD o impacte da conserva em azeite é aproximadamente 20 % mais reduzido.

Tabela 4.8 – Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de sardinha em conserva, expressos pela UF.

Categoria de impacte Unidade 2011 2012 Conserva em azeite Conserva em óleo de girassol Conserva em azeite Conserva em óleo de girassol Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 1,88 1,72 1,99 1,84

Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 0,499 0,616 0,502 0,619 Eutrofização marinha (EM) g N equivalente 9,77 3,61 9,78 3,62 Acidificação terrestre (AT) g SO2 equivalente 18,04 8,16 18,3 8,40

Como se verifica na figura 4.8, que mostra a contribuição dos dois subsistemas, o processamento da sardinha para a produção de conservas (SPC) é o subsistema que mais

contribui para o impacte total do produto, em todas as categorias analisadas, variando entre 57% e 99%.

(40)

ACV da sardinha

Figura 4.8 - Contribuição relativa dos subsistemas: peca (SP) e processamento (SPC).

Assim, é analisado com maior pormenor o SPC e a contribuição dos processos/atividades

associados a este subsistema (figura 4.9). Pela análise desta, pode concluir-se que a produção de latas de alumínio e de conservantes, quer de azeite, quer de óleo de girassol, são dominantes no impacte ambiental resultante deste subsistema (SPC).

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

AC EAD EM AT AC EAD AM AT AC EAD EM AT AC EAD AM AT

2011 2012 2011 2012

Conserva em azeite Conserva em óleo de girassol SPC: Processamento (conservas) SP: Pesca

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD EM AT

Conserva em óleo de girassol

Óleo de girassol Paletes

Cartão Cartonete Alumínio Nafta 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% AC EAD EM AT Conserva em azeite Azeite

Figura 4.9 - Contribuição relativa dos processos/atividades incluídos no subsistema processamento de sardinha em conserva (SPC) de: a) azeite; b) óleo de girassol.

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ACV da sardinha

Na categoria AC, a produção de embalagens alumínio é o que mais contribui para o impacte total, variando entre 42% e 46%, dependendo do conservante usado. Esta contribuição resulta das elevadas necessidades energéticas requeridas para a extracção das matérias-primas e transformação do produto (alumínio). Noutros estudos de ACV de peixe e mariscos em conserva, são obtidos resultados similares. Quer no estudo de Almeida et al. (2015) quer no estudo de Vázquez-Rowe et al. (2014), em que ambos analisam a sardinha em conserva em embalagem de alumínio, a contribuição da produção das embalagens é dominante na emissão total dos GEE. Para além destes, em estudos que analisam outros peixes ou mariscos em embalagem de alumínio, identificam as embalagens primárias como foco para as oportunidades de melhoria ao nível ambiental (Iribarren et al., 2010; Hospido et al., 2006; Lokke e Thrane, 2008). As segundas maiores contribuições são a produção de conservante, 35 % no caso do azeite e 29% no caso do óleo de girassol, seguindo-se a produção de cartonetes, a produção de nafta e as emissões da indústria (combustão da nafta), cujas cargas ambientais de cada processo representam uma contribuição relativamente menor (6%). À excepção da categoria EM, nas restantes categorias analisadas as contribuições de cada processo/atividade seguem a mesma tendência. Na EM mais de 9 % dos impactes tem origem na produção do conservante utilizado.

A elevada importância dos conservantes (azeite ou óleo de girassol) nas categorias analisadas deve-se principalmente às fases de cultivo e colheita. Durante os cultivos são aplicados vários fertilizantes e pesticidas e são realizadas muitas operações mecanicamente, nomeadamente o semeio, irrigação, aplicação de fertilizantes, colheita, entre outros, que requerem energia, contribuindo assim para emissões para a água e solo.

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Conclusões

5 Conclusões e discussão dos resultados

Principalmente nos últimos anos tem-se verificado uma crescente procura de informações ambientais sobre o sector do pescado. Neste sentido, têm vindo a ser desenvolvidos diversos estudos que avaliam a cadeia produtiva dos produtos de peixe e marisco numa perspetiva integrada, utilizando ferramentas de gestão ambiental como a ACV (Almeida et al., 2014, 2015; Irribarren et al., 2010; Pelletier et al., 2007; Vázquez-Rowe et al., 2010, 2012, 2014; Ziegler et al. 2013).

Neste estudo foi desenvolvida a ACV à sardinha, devido à sua importância no contexto nacional, sendo avaliados três produtos: sardinha fresca, sardinha congelada e sardinha em conserva. De acordo com os resultados obtidos, os processos chave do impacte ambiental destes produtos são a produção e consumo de gasóleo no transporte marítimo para a pesca, comum aos três produtos, e no caso específico da sardinha em conserva, a que acresce uma fase de processamento, também a produção de conservantes (nomeadamente azeite e óleo de girassol) e a produção das embalagens primárias (latas de alumínio).

Segundo vários autores, o consumo de energia, em termos de combustível usado na captura, é muito preocupante, tanto associado aos efeitos ambientais, como aos custos para os pescadores (Schau et al., 2009; Thrane, 2004), podendo este ser afectado por muitos factores, nomeadamente: distância do local de pesca, o mau tempo e ondas fortes, temperatura ambiente, arte de pesca e conservação do pescado (Schau et al., 2009; Tyedmer, 2002). Contudo, deve salientar-se que quando comparados os resultados obtidos neste estudo (0,54-0,66 kg CO2 eq/ kg sardinha desembarcada) com

estudos de captura de sardinha ou de outros pequenos pelágicos analisados na literatura, a captura da sardinha em Portugal representa um impacte ambiental mais reduzido. Vázquez-Rowe et al. (2010) e Ramos et al. (2001) obtiveram o impacte de 0,80 kg CO2 eq e de 0,95 kg CO2 eq por kg de peixe desembarcado, respetivamente.

Por fim, considerando os diferentes hotspots identificados na cadeia produtiva dos produtos da fileira do pescado analisados neste estudo, são propostas algumas oportunidade de melhoria, que deverão ser futuramente analisadas conjugando não só

Referências

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