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RESCISÃO PELO TRABALHADOR LEI DOS SALÁRIOS EM ATRASO

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 07S4480

Relator: VASQUES DINIS Sessão: 18 Junho 2008

Número: SJ200806180044804 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA Decisão: NEGADA A REVISTA

RESCISÃO PELO TRABALHADOR LEI DOS SALÁRIOS EM ATRASO

RETRIBUIÇÃO AJUDAS DE CUSTO ÓNUS DA PROVA

Sumário

I - Anteriormente a 1 de Dezembro de 2003, encontravam-se em vigor, simultaneamente, para a rescisão do contrato pelo trabalhador, o Regime Jurídico da Cessação do Contrato Individual de Trabalho e da Celebração e Caducidade do Contrato de Trabalho a Termo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 64-A/89, de 27 de Fevereiro (LCCT), e a Lei dos Salários em Atraso, Lei n.º 17/86, de 14 de Junho (LSA).

II - Neste contexto normativo, a falta de pagamento da retribuição era susceptível de se reconduzir, em abstracto, ao fundamento desses dois regimes.

III - Ao trabalhador cabe optar, quando procede à rescisão do contrato de trabalho, pelo regime jurídico a que pretende ver submetido o seu acto

negocial extintivo – LCCT ou LSA –, devendo este regime aplicar-se “in totum”.

IV - No âmbito da LCCT, a desvinculação contratual por declaração unilateral do trabalhador, sem necessidade de observar o período de aviso prévio

previsto no seu artigo 38.º, n.º 1, é permitida, em situações consideradas anormais e particularmente graves, designadamente as elencadas,

exemplificativamente, nos n.os 1 e 2 do artigo 35.º, em que deixa de ser

exigível ao trabalhador que permaneça ligado à empresa por mais tempo, isto é, pelo período fixado para o aviso prévio.

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V - Deste modo, o trabalhador só pode rescindir o contrato de trabalho com justa causa subjectiva se o comportamento do empregador for ilícito, culposo e tornar imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho, em razão da sua gravidade e consequências.

VI - Na rescisão do contrato de trabalho com fundamento no art. 3.º, n.º 1, da LSA – falta de pagamento pontual da retribuição que se prolongue por período superior a 30 dias sobre a data do vencimento da primeira retribuição não paga –, ao contrário do que sucede na rescisão com fundamento na LCCT, é irrelevante a existência ou inexistência de culpa da entidade patronal na não satisfação tempestiva dos salários.

VII - Também o prazo de caducidade do direito de rescindir o contrato que o artigo 34.º, n.º 2, da LCCT estabelece, não tem equivalente no regime da LSA.

VIII - E, enquanto no regime da LSA o atraso retributivo tem que ter uma duração superior a 30 dias – ou inferior, mas neste caso desde que o empregador emita a declaração a que alude o n.º 2 do seu artigo 3.º –, no regime do artigo 35.º da LCCT não há qualquer limite legal de tempo da mora no pagamento da retribuição.

IX - Igualmente são distintos os requisitos formais das duas hipóteses de rescisão, exigindo-se na LSA, além da comunicação por carta registada com aviso de recepção à entidade patronal, uma comunicação à Inspecção do Trabalho que deve obedecer ao mesmo formalismo.

X - É de considerar que a rescisão do contrato operada pelo autor se submete ao regime jurídico da LCCT, se aquele, na carta de rescisão que remeteu à ré, após expor os motivos da mesma, invocou a violação grave e reiterada de deveres contratuais por parte da ré, com a menção das atinentes normas jurídicas da LCCT e na petição inicial, bem como nos recursos interpostos, invocou também a violação, por parte da ré, de normas previstas neste último diploma legal.

XI - Da conciliação das presunções consignadas nos n.os 2 e 3 do artigo 82.º da LCT com a norma do artigo 87.º do mesmo diploma legal, resulta que cabe à entidade empregadora, nos termos dos artigos 344.º, n.º 1 e 350.º, n.º 1, do Código Civil, provar que a atribuição patrimonial por ela feita ao trabalhador reveste natureza de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de

transporte, abonos de instalação e outras equivalentes, sob pena de não lhe

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aproveitar a previsão do artigo 87.º e de valer a presunção dos n.os 2 e 3 do artigo 82.º de que se está perante prestação com natureza retributiva.

XII - Tendo as instâncias dado como assente que a retribuição mensal do autor era de 250.000$00 e que a ré procedia “ainda, ao pagamento, a título de

ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000

$00, que veio a ser actualizado para 150.000$00”, é de concluir que, apesar de não concretizados os custos suportados pelo autor para a execução do contrato, as importâncias que lhe eram pagas a título de “ajudas de custo”

tinham fundamento específico diverso da prestação do trabalho, ou, mais rigorosamente, da disponibilidade de prestar o trabalho, a que corresponde a retribuição.

XIII - Não procede a rescisão do contrato pelo trabalhador com fundamento na diminuição da retribuição, por retirada da viatura que lhe estava atribuída, se o autor não prova que, enquanto durou o contrato, foi privado dessa

retribuição em espécie que constitui o uso pessoal da viatura (artigo 342.º, n.º 1, do Código Civil).

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça:

I

1. AA demandou, em acção com processo comum emergente de contrato individual de trabalho, proposta em 24 de Abril de 2003 no Tribunal do Trabalho de Aveiro, “P. J. F..., Lda.”, pedindo a condenação desta no

pagamento da quantia global de € 21.814,54 – respeitante a indemnização por rescisão do contrato com justa causa (€ 5.985,60), diferenças de subsídio de férias gozadas em 2002 (€ 748,20) diferenças salariais dos meses de Maio a 13 de Setembro de 2002 (€ 3.317,00), diferença de remuneração de férias,

respectivo subsídio e subsídio de Natal (€ 1.593,18), proporcionais de férias, respectivo subsídio e subsídio de Natal do ano de 2002 (€ 1.686,63),

reembolso de desconto, a título de rescisão (€ 1.541,29), e reembolso do que o Autor despendeu com a viatura 87-57-SC (€ 6.942,54) –, acrescida dos juros legais, calculados desde a citação até integral pagamento.

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Alegou, em síntese, que:

– Foi admitido ao serviço da Ré, em 21 de Abril de 2001, para exercer o cargo de Responsável do Gabinete Técnico, mediante a retribuição mensal líquida de Esc.: 400.000$00 (equivalente a € 1.995,20), da qual apenas constava nos recibos de vencimento a importância de Esc.: 250.000$00, sendo o

remanescente, Esc.: 150.000$00, pago “por fora” e não declarado oficialmente;

– O contrato de trabalho que vigorava entre as partes foi pelo Autor

rescindido, mediante comunicação escrita enviada à Ré em 2 de Setembro de 2002, com fundamento em justa causa, consubstanciada: i) na falta de

pagamento daquele remanescente no subsídio de férias de 2002, e nas remunerações dos meses de Maio a Setembro do mesmo ano; ii) no prejuízo que lhe adveio pelo facto de, enquanto esteve de baixa, a partir de 18 de Julho de 2002, ter auferido um subsídio de doença calculado sem inclusão do mesmo remanescente; iii) na destituição do cargo de chefia para que fora contratado, que fez difundir, através de comunicado interno (“Nota de Serviço”), datado de 1 de Julho de 2002; iv) em ofensas graves à sua liberdade, honra e

dignidade.

– Tendo a Ré considerado que o Autor rescindiu o contrato sem justa causa, descontou-lhe a quantia de € 1.541,29, como se tratasse de denúncia do contrato sem aviso prévio, pelo que tem direito ao seu reembolso;

– O Autor despendeu, para a aquisição e manutenção da viatura 87-57-SC, que lhe foi distribuída no desenvolvimento normal da relação laboral, e que

entregou à Ré, quando tal lhe foi ordenado, a importância de € 6.942,54, que deve ser-lhe devolvida, segundo as regras do enriquecimento sem causa.

Na contestação, a pugnar pela absolvição do pedido, a Ré impugnou os fundamentos de facto e de direito da acção.

Realizada a audiência de discussão e julgamento, foi lavrado despacho em que se decidiu a matéria de facto, contra o qual o Autor apresentou reclamação de que o tribunal não conheceu, por a considerar intempestiva.

Seguiu-se a prolação da sentença que considerou: i) verificada a caducidade do direito de rescindir, com justa causa, o contrato, com fundamento na “Nota de Serviço” que difundiu a destituição do cargo que o Autor exercia; ii) não procederem os fundamentos da justa causa invocados pelo Autor para

rescindir o contrato de trabalho; iii) não assistir ao Autor qualquer direito a diferenças salariais, umas por não serem devidas e outras por terem sido pagas pela Ré; iv) não haver lugar ao reembolso da importância alegadamente

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despendida com a aquisição e manutenção da viatura ...-...-SC, porque o Autor não provou ter efectuado as despesas; v) assistir à Ré o direito à

indemnização, no valor de € 1.246,99, correspondente ao período de aviso prévio em falta.

Em consequência, foi a acção julgada parcialmente procedente e a Ré

condenada no pagamento ao Autor da importância € 294,30, correspondente à diferença entre o valor descontado pela Ré e aquele a que ela tinha direito, por incumprimento, pelo Autor, do prazo de aviso prévio (€ 1.541,29 - € 1.246,99).

2. Apelou o Autor, sem sucesso, pois o Tribunal da Relação de Coimbra confirmou integralmente a sentença.

Ainda irresignado, o Autor interpôs o presente recurso de revista, que veio a motivar mediante peça alegatória onde formulou as seguintes conclusões:

1 - Nos termos do artigo 249.º, n.º 1 da Código do Trabalho (artigo 82.º do DL 49408, de 24 de Novembro [de 1969]) “só se considera retribuição aquilo [a]

que, nos termos do contrato, das normas que a regem ou dos usos, o

trabalhador tem direito como contrapartida da seu trabalho”, conceito onde se incluem “a retribuição base e todas as prestações regulares e periódicas

feitas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou espécie”.

2 - Recorrente e Recorrida acordaram na fixação, de uma “remuneração, mensal de 400 mil escudos líquidos, dos quais 120 são, pagos até ao dia 8 de cada mês como ajudas de custo não declaradas”, como resulta do doc. 1 junto com a p.i. e não impugnado.

3 - Ainda que assim não fosse, e como resulta de extensa jurisprudência, o certo é que as ajudas de custo só o serão, se se destinarem a custear despesas que a trabalhador tenha que suportar no âmbito da execução do contrato de trabalho e só nessa medida.

4 - Em nenhum momento a Recorrida sequer alegou que as pretensas ajudas de custo se destinavam a custear qualquer despesa extraordinária em que o Recorrente incorresse na execução da sua prestação de trabalho e não o fez porque não existem tais despesas.

5 - Resta-nos, assim, um montante que era pago ao Recorrente com carácter de regularidade e periodicidade, o que, de per si implica a sua classificação como integrante da retribuição do trabalhador.

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6 - A decisão de não considerar as ajudas de custo como parte da retribuição foi, por isso, e com a devida vénia, proferida contra legem e sem observar o princípio do dispositivo, atenta a incapacidade da recorrida em demonstrar não serem as ajudas de custo retribuição e a capacidade probatória do recorrente em demonstrar que dela faziam parte.

7 - Isto posto, deverão ser pagas as diferenças salariais peticionadas,

designadamente, diferença de subsídio de férias pago em 2002, referente às férias gozadas nesse ano, diferenças salariais nos meses de Maio a 13 de Setembro de 2002, diferença de remuneração de férias, respectivo subsídio e de subsídio de [N]atal, vencidos em 1 de Janeiro de 2002, devendo, ainda, tal quantia ser tida em conta para efeitos dos proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de [N]atal de 2002.

8 - Por outro lado, e igualmente essencial, é a consideração de tal falta de pagamento pontual da retribuição como fundamento para a rescisão com justa causa do contrato de trabalho, tanto mais atento o disposto no n.º 1 do artigo 3.º da Lei 17/86 de 14 de Junho.

9 - Ainda no que se refere à retribuição, o uso pessoal e profissional, por parte do ora Recorrente, do veículo marca Mercedes, com a matrícula ...-...-SC, constitui uma prestação em espécie que integra a sua retribuição.

10 - Não pode a Recorrida reflectir nas obrigações decorrentes, para si, do contrato de trabalho, a violação, por parte do Recorrente, de obrigações decorrentes de contrato diverso.

11- Na verdade, estão em causa contratos distintos: por um lado temos o contrato de trabalho, nos termos do qual o Recorrente presta o seu trabalho, por conta, no interesse e de acordo com as instruções da Recorrida contra o pagamento de uma retribuição (na qual se inclui, inquestionavelmente, o valor correspondente à utilização plena da viatura); por outro temos um contrato- promessa de compra e venda, nos termos do qual a Recorrida se compromete a vender ao Recorrente a viatura, por um determinado preço.

12 - O incumprimento das obrigações resultantes, para o Recorrente, do contrato promessa de compra e venda, não pode acarretar mais do que o seu incumprimento definitivo, com o direito da Recorrida reter as quantias pagas a título de sinal. Nenhum sinalagma poderá ser estabelecido relativamente ao contrato de trabalho.

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13 - Assim, tendo havido diminuição ilícita da retribuição, também por esta via, cfr. al. b), n.º 1 do artigo 35.º do DL 64-A/89, de 27/02, conjugado com o disposto na al. c) do artigo 21.º do DL 49 408, de 24/11/1969, assiste ao Recorrente direito a rescindir, com justa causa, o contrato de trabalho que o une à Recorrida.

14 - Não pode proceder a excepção de caducidade do direito de rescindir o contrato com justa causa no tocante à publicação da Nota de Serviço, publicada em 15 de Junho (1) de 2002, pela qual o Autor foi destituído das funções que desempenhava.

15 - Tal decisão estaria correcta se este fosse o único fundamento invocado pelo Recorrente, o que, como é consabido, não sucede.

16 - Com efeito, este não é mais do que um dos fundamentos invocados pelo Recorrente, mais não é do que um elemento de um processo de maturação de uma decisão – a única ao alcance do trabalhador, como, bem, salienta o

tribunal recorrido a fls. 4 a 6 do aresto em crise – extremamente difícil pela incerteza que acarreta para o trabalhador.

17 - Sendo parte de um todo, não pode este facto, ou os demais, ser

considerado isoladamente, à imagem do que pretende o tribunal a quo tanto mais que o mesmo se inscreve numa actuação continuada da Recorrida, de gravidade crescente.

18 - Assim, só em Agosto, mediante a diminuição ilícita da sua retribuição, a manutenção da relação laboral, do ponto de vista do Recorrente, se tornou insustentável, alvo que fora, já, de incontáveis violações.

19 - Nesta conformidade, deve a decisão que julga procedente a excepção de caducidade, e que assenta na análise parcelada dos fundamentos invocados pelo Recorrente, ser revogada e substituída por outra que declare, também com fundamento neste facto, assistir razão ao Recorrente para rescindir o contrato com justa causa, com todas as consequências daí decorrentes.

Nestes termos, e nos mais de Direito que V. Exas. suprirão, deve ser julgado procedente o presente recurso, com a consequente verificação da existência de justa causa para a rescisão do contrato de trabalho, por parte do

Recorrente, e, bem assim, ser a Recorrida condenada a pagar a este as

diferenças salariais e a indemnização a que alude o artigo 36.º do DL 64-A/89, de 27/02,

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Com o que se fará a habitual e mais elementar JUSTIÇA!

Contra-alegou a recorrida a pugnar pela confirmação do julgado.

No mesmo sentido se pronunciou a Exma. Magistrada do Ministério Público neste Supremo Tribunal, em parecer que não foi objecto de qualquer resposta.

Corridos os vistos, cumpre decidir.

II

1. Os factos materiais da causa foram, pelas instâncias, fixados nos seguintes termos:

1 - O autor foi admitido ao serviço da ré em 21 de Abril de 2001.

2 - Para mediante retribuição lhe prestar trabalho subordinado.

3 - A ré cometeu ao autor o cargo de responsável do gabinete técnico.

4 - A ré contratou o autor mediante a retribuição mensal de 250.000$00, procedendo ainda ao pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser actualizado para a quantia de 150.000$00.

5 - Autor e ré acordaram em que, no ano de 2001, o autor gozaria férias repartidas nos períodos de 30 de Julho a 10 de Agosto e de 17 a 21 de Setembro.

6 - No ano de 2002, o autor entrou de gozo de férias no período de 24 de Junho a 5 de Julho.

7 - No decurso do exercício da sua actividade profissional ao serviço da ré, o autor desenvolveu a sua actividade levando a cabo diversos erros de cariz técnico, a seguir indicados que deram causa aos prejuízos também a seguir indicados:

F0B7 Em Janeiro de 2002, foi detectado um erro de planificação de uma

ferramenta desenhada e aprovada pelo autor, do qual resultou um custo de não qualidade no valor de € 4.900,00; -

F0B7 Em Janeiro de 2002, foi detectado um outro erro de planificação de uma ferramenta, desenhada pelo trabalhador N... e aprovada pelo autor, do qual resultou um custo de não qualidade no valor de € 2.750,00; -

(9)

F0B7 Em Fevereiro de 2002, foi detectado um erro na localização de um CAM, desenhado pelo trabalhador P... e aprovada pelo autor, do qual resultou um custo de não qualidade no valor de € 292,00; -

F0B7 Em Fevereiro de 2002, foi detectado um outro erro na planificação de uma ferramenta definida pelo autor, que não só resultou em elevados custos de não qualidade porque o cliente pôde alterar o desenho da peça; -

F0B7 Em Março de 2002, foi detectado um erro de planificação de uma lâmina de corte desenhada pelo autor e trabalhador P... e aprovada pelo autor, do qual resultou um custo de não qualidade no valor de € 604,00; -

F0B7 Em Abril de 2002, foi detectado um conjunto de orientações erradas dadas pelo autor ao trabalhador N..., o que originou que grande parte do projecto tivesse de ser repetido e do que resultou um custo de não qualidade no valor de € 1.204,00; -

F0B7 Em Junho de 2002, foi detectada uma construção totalmente errada de uma ferramenta, por culpa do autor, donde resultaram custos de não qualidade, então, computados em € 1.575,00, mas que entretanto vieram a agravar-se de forma muito significativa; -

F0B7 Em Julho de 2002, foi detectado que um desenho datado de 28 de Abril, validado pelo autor que estava completamente desactualizado, tendo daí resultado um custo de não qualidade de € 1.100,00; -

8 - O autor persistia em ignorar os procedimentos instituídos no seio da ré, demonstrando falta de interesse [e de] cooperação com o departamento de qualidade.

9 - O autor entrou em conflito e não cooperava com os outros trabalhadores da ré.

10 - Constatando tais factos, e com vista a evitar que o autor continuasse a liderar o gabinete de desenho, a ré fez publicar a Nota de Serviço, cujo teor consta de fls. 16 do autos e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

[Tal documento apresenta os seguintes dizeres:

«NOTA DE SERVIÇO 01-07-2002 Assunto: Sala de Projectos

(10)

Informam-se todos os colaboradores, que por motivo de elevados custos de não qualidade apresentados por este departamento e pela actual incapacidade da actual chefia para soluções adequadas. A partir da presente data será

modificada a sua estrutura funcional.

Acaba a figura de chefia optando-se por uma liderança de projecto.

Significa que a cada profissional do respectivo gabinete será distribuído cada projecto em função da sua dificuldade, que partilhará o seu desempenho com responsável de bancada.

Inicialmente será da competência da direcção geral a coordenação do novo modelo.

Espera-se que as alterações introduzidas tragam melhorias significativas ao funcionamento da empresa.

A Direcção R... S...»].

11 - Após a publicação de tal nota de serviço, o autor não mais exerceu

funções para a ré, já que não trabalhou nos dias 16 e 17 de Julho e entrou em situação de baixa no dia 18 de Julho de 2002.

12 - O autor remeteu à ré a carta cuja cópia se acha a fls. 17 a 19, dos autos e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

[Nessa carta, datada de 2 de Setembro de 2002, lê-se:

«Atendendo a que, decorridos mais de 30 dias sobre as datas dos respectivos vencimentos, ainda não me foi pago parte das remunerações de Junho de 2002, no valor de 150.000$00, equivalente a 748,20 €, Julho de 2002, no valor de 75.000$00, equivalente a 374,10 €, tudo no total de 1.870,50 €, referente ao trabalho que venho prestando para esta Empresa, venho comunicar a V.

Ex.ªs que, nos termos do n.º 1 do art.º 3.º da Lei n.º 17/86, de 14/6, na

redacção do D.L. n.º 402/91, de 16/10, rescindo o contrato de trabalho que nos vem vinculando, com a produção de efeitos de imediato, a partir da Vossa recepção desta minha comunicação, no caso de, até à apontada data e no

decurso do referido prazo de 10 dias, não ser regularizada tal situação da falta de pagamento; Acresce que:

(11)

Por “Nota de Serviço”, datada de 1 de Julho de 2002 e que foi publicada em 15 de Julho de 2002 e o que também me afirmaram pessoalmente na mesma data, destituíram-me das funções que tínhamos contratado e que vinha

desempenhando, de coordenação, organização técnica, participação com a Gerência e Responsável fabril na elaboração de orçamentos, análise e

aprovação com clientes de Ante projectos e o demais previsto no contrato de trabalho que outorgámos, com o argumento de não apresentar qualidade e por minha incapacidade, pelo que modificaram a estrutura funcional da Empresa;

Em 17 de Julho de 2002, quando cheguei à Empresa, o Gerente, Sr. R...S...

chamou-me ao Gabinete da Gerência e disse-me: ou o Sr. Se despede ou despeço-o eu;

Decorrida uma hora, recebi telefonemas de outras empresas a afirmarem-me taxativamente a frase proferida pelo Sr. R... S..., que ou me despedia ou era despedido, sendo evidente que só poderiam saber desta frase por informação do Sr. R... S...;

No dia 24 de Julho de 2002, recebi um telefonema de uma Funcionária da Empresa, para proceder à entrega do auto-ligeiro que vinha usando, Mercedes ...-...-SC, o que fiz no dia 26 de Julho de 2002;

Desde o dia 8 de Agosto de 2002, o Sr. R... S... vem dizendo--me que tem matéria para me despedir e diz-me que se o meu assunto fora para a frente com a Empresa e eu fizer valer os meus direitos, vou ter os Trabalhadores da Fábrica à minha porta a “lixarem-me” a vida e que me arranja maneira de eu nunca mais arranjar trabalho;

Em 20 de Agosto de 2002, o mesmo Sr. R... S... disse-me que eu era um

“chulo”, um “filho da puta” e a minha mulher era uma “puta”, acabando por me ameaçar na minha integridade física;

Obviamente que o Sr. R... S... vem dispensando e perpetuando tais desmandos perante mim, com o especial cuidado de não haver provas;

Devido ao mau ambiente e coacção que, entretanto, desde há tempos o Sr. R...

S... me vinha dispensando, venho estando de baixa desde o dia 18 de Junho de 2002 e sujeito a assistência psicológica;

Tal conduta da Entidade Patronal constitui violação grave e reiterada dos seus deveres para comigo, de me manter a categoria profissional para que me contratou e me tratar e respeitar como seu colaborador, de me proporcionar

(12)

boas condições de trabalho, tanto físicas como morais e de contribuir para a elevação do meu nível de produtividade, consignados, respectivamente, nas als. a), c) e d), do art.º 19.º da L.C.T.;

Com o que a Entidade Patronal infringiu também a minha garantia de não exercer sobre mim uma pressão que influiu desfavoravelmente nas minhas condições de trabalho, consignada na al. b), do art.º 21.º, da L.C.T.;

E violou ainda culposamente as garantias legais e convencionais e ofendeu-me gravemente na minha liberdade, honra e dignidade, consignadas,

respectivamente, nas als. a), b) e f), do n.º 1, do art.º 35.º, do D.L. n.º 64-A/89, de 27/2;

O que, tudo, não me permite ter mais condições para continuar no

desempenho de funções e também constitui justa causa da rescisão unilateral do contrato de trabalho que nos vem vinculando, nos termos do mesmo art.º 35.º do D.L. n.º 64-A/89, de 27/2;

Em face desta rescisão, ficarei a aguardar até ao próximo dia 15 do corrente mês de Setembro o cumprimento de todos os direitos que penso assistirem- me, nomeadamente, o pagamento da indemnização devida nos termos do art.º 36.º, conjugado com o n.º 3 do art.º 13.º, ambos do D.L. n.º 64-A/89;

[...]».

13 - A ré remeteu ao autor a carta cuja cópia se acha a fls. 25 a 28, dos autos e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

14 - A ré procedeu ao pagamento, a favor do autor, do montante relativo às ajudas de custo relativo aos meses de Maio e Junho de 2002, tendo ainda após 13 de Setembro de 2002 procedido a um acerto de contas com o aqui autor.

15 - A pedido do autor, a ré procedeu à aquisição de 1 veículo de Marca Mercedes pelo qual despendeu a quantia de 3.500.000$00.

16 - Para aquisição do veículo a ré emitiu então dois cheques: um no montante de Esc. 2.652.938$00 a favor de V... L... A... e outro, no valor de Esc. 847.062

$00 a favor da Direcção Geral do Tesouro.

17 - Foi acordado, entre autor e ré, que, enquanto o contrato se mantivesse em vigor, o autor seria o responsável pelo pagamento de todas as despesas relativas a manutenção, combustíveis, seguros, taxas e quaisquer outros custos relativos ao veículo.

(13)

18 - Foi acordado entre autor e ré que o mesmo procederia ao pagamento de um quantitativo mensal, de valor não estipulado de forma a amortizar o preço pago pela ré durante 3 anos, prazo findo o qual a propriedade do veículo seria transferida para o autor.

19 - O autor nunca pagou qualquer prestação relativa ao preço do veículo aludido.

20 - Após a rescisão contratual, o veículo ficou na posse da ré.

2. A questão essencial que vem colocada na revista é a de saber se se verificou justa causa para a rescisão do contrato por parte do Autor, conferindo-lhe o direito à indemnização e às diferenças salariais que peticionou.

A resposta a tal questão pressupõe que, previamente, se averigúe:

– Se deve considerar-se parte integrante da retribuição a importância que a Ré pagava ao Autor a título de ajudas de custo;

– Se ocorreu diminuição da retribuição por privação do uso pessoal e profissional do veículo ...-...-SC;

– Se procede, ou não, a excepção da caducidade do direito de rescindir o contrato com fundamento na “Nota de Serviço” datada de 1 de Julho de 2002;

3. Tendo os factos ocorrido anteriormente à entrada em vigor do Código do Trabalho, tem aplicação ao caso, em face do disposto nos artigos 3.º, n.º 1 e 8.º, n.º 1, da Lei n.º 99/2003, de 27 de Agosto, a disciplina decorrente da

legislação que vigorou até 1 de Dezembro de 2003, de que importa destacar o Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho (LCT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 49 408, de 24 de Novembro de 1969, e o Regime Jurídico da Cessação do Contrato Individual de Trabalho e da Celebração e Caducidade do Contrato de Trabalho a Termo (LCCT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 64-A/89, de 27 de Fevereiro, e a Lei n.º 17/86, de 14 de Junho, também conhecida como Lei dos Salários em Atraso (LSA).

Segundo o regime estabelecido na LCCT, a desvinculação contratual por declaração unilateral do trabalhador, sem necessidade de observar o período de aviso prévio previsto no seu artigo 38.º, n.º 1, era permitida, em situações consideradas anormais e particularmente graves, designadamente as

elencadas, exemplificativamente, nos n.os 1 e 2 do artigo 35.º, em que deixa de ser exigível ao trabalhador que permaneça ligado à empresa por mais tempo, isto é, pelo período fixado para o aviso prévio.

(14)

Dispõe o artigo 34.º da LCCT que, “[o]correndo justa causa, pode o

trabalhador fazer cessar imediatamente o contrato” (n.º 1); “[a] rescisão deve ser feita por escrito, com a indicação sucinta dos factos que a justificam, dentro dos 15 dias subsequentes ao conhecimento desses factos” (n.º 2); e

“[a]penas são atendíveis para justificar judicialmente a rescisão dos factos indicados na comunicação referida no número anterior” (n.º 3).

Segundo o artigo 35.º, n.º 1, constituem justa causa (subjectiva) de rescisão do contrato pelo trabalhador, entre outros comportamentos da entidade

empregadora, a “[f]alta culposa de pagamento pontual da retribuição na forma devida” [alínea a)]; “[a] violação culposa das garantias legais ou convencionais do trabalhador” [alínea b)]; e as “[o]fensas à integridade física, liberdade, honra ou dignidade do trabalhador, puníveis por lei, praticadas pela entidade empregadora ou seus representantes legítimos” [alínea f)].

E o n.º 2 do mesmo artigo prevê, ainda, como fundamento da rescisão com justa causa (objectiva), a “[f]alta não culposa de pagamento pontual da retribuição do trabalhador” [alínea c)]”.

Nos casos de justa causa subjectiva, o trabalhador tem direito a uma

indemnização correspondente a um mês de remuneração de base por cada ano de antiguidade ou fracção, não podendo ser inferior a três meses, contando-se para o efeito todo o tempo decorrido até à data da sentença (artigo 36.º com referência ao artigo 13.º, n.º 3).

Nos termos das disposições combinadas dos artigos 36.º, 38.º, n.º 1, e 39.º da LCCT, a rescisão do contrato pelo trabalhador com invocação de justa causa, quando esta venha a ser declarada inexistente, confere à entidade

empregadora direito a uma indemnização de valor igual à remuneração de base correspondente a 30 ou 60 dias, consoante o trabalhador tenha, respectivamente, até dois anos ou mais de dois anos de antiguidade.

Para que exista justa causa, que, nos termos expressos do citado artigo 34.º, condiciona o direito do trabalhador a rescindir o contrato, sem aviso prévio, é ainda necessário que aquelas faltas culposas do empregador se revelem de tal modo graves que tornem imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho que o contrato pressupõe.

O n.º 4 do artigo 35.º dispõe que a justa causa de resolução imediata por parte do trabalhador, tem de ser apreciada pelo tribunal nos termos do n.º 5 do artigo 12.º do mesmo diploma, com as necessárias adaptações, ou seja, deve o

(15)

tribunal atender ao grau de lesão dos interesses do trabalhador, ao carácter das relações entre as partes e às demais circunstâncias que no caso se

mostrem relevantes e verificar se é de concluir pela impossibilidade imediata e prática da subsistência da relação de trabalho.

Deste modo, o trabalhador só pode rescindir o contrato de trabalho com justa causa subjectiva se o comportamento do empregador for ilícito, culposo e tornar imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho, em razão da sua gravidade e consequências.

Lança-se, assim, mão do conceito de justa causa consagrado pelo artigo 9.º da LCCT, considerando-se que, embora a lei não o explicitasse, se achava

subjacente ao conceito geral de justa causa, a ideia de “inexigibilidade” que enforma igualmente a noção de justa causa disciplinar consagrada na lei no domínio da faculdade de ruptura unilateral da entidade patronal (2)

A falta prolongada de pagamento pontual da retribuição como fundamento da rescisão do contrato de trabalho foi objecto do regime específico estabelecido pela supra referida LSA, que, no seu artigo 3.º, n.º 1, conferiu aos

trabalhadores afectados por falta de pagamento da retribuição que “se prolongue por período superior a 30 dias sobre a data do vencimento da primeira retribuição não paga”, o direito de “rescindir o contrato com justa causa, após notificação à entidade patronal e à Inspecção-Geral do Trabalho, por carta registada com aviso de recepção, expedida com antecedência

mínima de 10 dias”, de que exerce tal direito, “com eficácia a partir da data da rescisão”.

Em tal caso, nos termos do artigo 6.º, alínea a), da LSA, o trabalhador tem direito a uma indemnização, “de acordo com a respectiva antiguidade, correspondente a um mês de retribuição por cada ano ou fracção, não podendo ser inferior a três meses, salvo regime mais favorável previsto na regulamentação colectiva aplicável”

Este regime é essencialmente distinto do estabelecido na LCCT, embora, em parte, ambos possam abarcar situações factuais coincidentes (o que sucede quando é invocada a falta do pagamento da retribuição).

E essa distinção consiste, desde logo, em que a rescisão do contrato de trabalho com fundamento no artigo 3.º, n.º 1, da LSA – falta de pagamento pontual da retribuição que se prolongue por período superior a 30 dias sobre a data do vencimento da primeira retribuição não paga – confere direito à

indemnização prevista no artigo 6.º, alínea a), da mesma lei,

(16)

independentemente de a falta de pagamento ser, ou não, devida a culpa da entidade patronal e de, em concreto, se considerar que é inexigível para o trabalhador a subsistência da relação de trabalho.

Ou seja, na rescisão do contrato efectuada ao abrigo da LSA é irrelevante a existência ou inexistência de culpa da entidade patronal na não satisfação tempestiva dos salários (3) e, em qualquer caso, não se impõe ao trabalhador o ónus de demonstrar factos que integrem o conceito indeterminado de justa causa.

A LCCT, por sua vez, consagra, como se viu, nos artigos 34.º a 36.º um regime legal de rescisão imediata do contrato de trabalho por falta de pagamento pontual da retribuição, mas, desta feita, com justa causa que pode assentar em conduta culposa da entidade patronal – artigo 35.º, n.º 1, alínea a) – ou em conduta não culposa – artigo 35.º, n.º 2, alínea c). Em ambos estes casos (justa causa subjectiva e justa causa objectiva), e por força do que estabelece o n.º 4 do mesmo artigo, a justa causa deve ser apreciada nos termos prescritos no n.º 5 do artigo 12.º do mesmo diploma.

Por outro lado, enquanto no regime da LSA o atraso retributivo tem que ter uma duração superior a 30 dias – ou inferior, mas neste caso desde que o empregador emita a declaração a que alude o n.º 2 do seu artigo 3.º –, no regime do artigo 35.º da LCCT não há qualquer limite legal de tempo da mora no pagamento da retribuição.

Também o prazo de caducidade do direito de rescindir o contrato que o segundo regime estabelece (artigo 34.º, n.º 2, da LCCT) não tem equivalente no regime da LSA.

Igualmente são distintos os requisitos formais das duas hipóteses de rescisão, exigindo a lei no primeiro regime (artigo 3.º, n.º 1, da LSA), além da

comunicação por carta registada com aviso de recepção à entidade patronal, uma comunicação à Inspecção do Trabalho que deve obedecer ao mesmo formalismo.

A própria necessidade do decurso do prazo de dez dias sobre a emissão da declaração rescisória para a respectiva eficácia no primeiro regime (artigo 3.º, n.º 1, da LSA), se distingue da eficácia imediata da declaração no segundo regime (artigo 34.º, n.º 1 da LCCT).

(17)

Ao trabalhador cabe optar, quando procede à rescisão, pelo regime jurídico a que pretende ver submetido o seu acto negocial extintivo, devendo este

regime aplicar-se “in totum” (4) .

4. No caso que nos ocupa, vem invocado, no articulado inicial, que, com base na falta de pagamento de parte da retribuição convencionada, “em 2 de

Setembro de 2002, o A. comunicou à Ré e ao I.D.I.C.T. que rescindia

unilateralmente o contrato de trabalho que os vinha vinculando, nos termos do n.º 1 do art.º 3.º da Lei n.º 17/86, de 14/6, na redacção do D.L. n.º 402/91, de 16/10, se no prazo de 10 dias não fosse regularizada tal falta de pagamento” – artigo 15.º da petição.

Na verdade, na carta cujo teor acima se transcreveu, o Autor começa por invocar o regime da LSA, ao abrigo do qual afirma que rescinde o contrato

“com a produção de efeitos de imediato, a partir da Vossa recepção desta minha comunicação, no caso de, até à apontada data e no decurso do referido prazo de 10 dias, não ser regularizada tal situação de falta de pagamento”;

mas, tal como alega nos artigos 16.º e segs. da petição, através da mesma carta, “comunicou à Ré que rescindia também o contrato de trabalho devido à sua Gerência ter violado grave e reiteradamente os seus deveres para com o A., ao não o manter na sua categoria profissional para que o tinha contratado e de não o respeitar como seu colaborador e de não lhe proporcionar boas condições de trabalho, tanto físicas como morais”, com infracção aos deveres consignados nos artigos 19.º, alíneas a), c) e d) e 21.º, alínea b), da LCT, concluindo que a violação desses deveres “também constitui justa causa de rescisão unilateral” nos termos do artigo 35.º, n.º 1 alíneas a), b) e f), da LCCT.

E finalizou a carta dizendo que “[e]m face desta rescisão, ficarei a aguardar até ao próximo dia 15 do corrente mês de Setembro o cumprimento de todos os direitos que penso assistirem-me, nomeadamente, o pagamento da

indemnização devida nos termos do art.º 36.º, conjugado com o n.º 3 do art.º 13.º, ambos do D.L. 64-A/89”.

E, já na petição, conquanto tenha referido que “[a] Ré recebeu a comunicação do A. da rescisão do contrato de trabalho em 3 de Setembro de 2002” e “não procedeu à regularização dos pagamentos em atraso reclamados”, “[p]elo que a rescisão do contrato produziu efeitos para o dia 13 de Setembro de 2002”

(artigos 27.º a 29.º), veio a afirmar que “[p]or força desta rescisão do contrato de trabalho com justa causa, o A. tem direito à legal indemnização, calculada

(18)

nos termos do artigo 35.º (5) , conjugado com o n.º 3 do art.º 13.º, do D.L. 64- A/89, de 27/2” (artigo 31.º).

No recurso de apelação, o Autor dirigiu a sua crítica ao juízo alcançado pela decisão da 1.ª instância quanto à natureza das prestações auferidas a título de ajudas de custo, sustentando fazerem parte da retribuição, daí extraindo a conclusão de que, como tal, deveriam ter sido pagas, aduzindo, outrossim, que a falta do seu pagamento pontual constitui fundamento para a rescisão com justa causa do contrato “tanto mais atento o disposto no n.º 1 do artigo 3.º da Lei 17/86, de 14 de Junho” (conclusões 1 a 7).

Mas não ficou por aí, pois, relativamente à alegada privação do uso pessoal e profissional da viatura automóvel 87-57-SC, argumentou que, “tendo

diminuição ilícita da retribuição, também por esta via, cfr. al. b), n.º 1 do artigo 35.º do DL 64-A/89, de 27/02, conjugado com o disposto na al. c) do artigo 21.º do DL 49 408, de 24/11/69, assiste ao Apelante direito a rescindir, com justa causa, o contrato de trabalho que o une à Apelada” (conclusões 8 a 12).

E também manifestou a sua discordância quanto à declaração da caducidade do direito à rescisão com justa causa com fundamento na supra referida “Nota de Serviço”, à face do regime estabelecido na LCCT (conclusões 13 a 18).

E, a finalizar, defendeu que “deve ser julgado procedente o presente recurso, com a consequente verificação da existência de justa causa para a rescisão do contrato de trabalho, por parte do Recorrente, e, bem assim, ser a Recorrida condenada a pagar a este as diferenças salariais e a indemnização a que alude o artigo 36.º do DL 64-A/89, de 27/02”.

Em sede de revista, adoptou o Autor a mesma posição, ao reproduzir, no essencial, as conclusões que havia formulado no recurso de apelação.

Atendendo ao modo como o Autor, na carta de rescisão, expôs os motivos da rescisão do contrato, dando particular relevo ao seu efeito imediato e ao apelo feito às normas da LCCT, e, por outro lado, ao modo como, já no articulado inicial, já nas alegações dos recursos, formulou as suas pretensões, somos levados a considerar que foi ao abrigo do regime estabelecido na LCCT que decidiu pôr termo ao contrato.

Assim, será este o regime a que vai atender-se para dilucidar as questões acima enunciadas.

(19)

5. Apreciando a questão do não pagamento de parte das remunerações de Junho e Julho de 2002 e parte do subsídio de férias de 2002, invocado na carta de rescisão, a sentença da 1.ª instância observou:

[...]

Conforme resulta da alegação do Autor a divergência quanto aos créditos laborais em dívida prende-se com a questão de saber qual o salário auferido pelo Autor.

O Autor alega que auferia o salário mensal de Esc.: 400.000$00, enquanto a Ré alega que o salário era apenas de Esc.: 250.000$00 acrescido do montante de Esc.: 120.000$00 - depois aumentado para Esc.: 150.000$00 – a título de ajudas de custo, montante esse a ser pago apenas nos meses efectivamente trabalhados.

Conforme resulta da matéria provada a ré contratou o autor mediante a retribuição mensal de 250.000$00, procedendo ainda ao pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser actualizado para a quantia de 150.000$00. Os montantes pagos a título de ajudas de custo não poderão, por isso, ser havidos como retribuição – cfr. art.º 87.º do Decreto-Lei n.º 49408 de 24 de Novembro de 1969.

Assim, o valor pago pela Ré a título de ajudas de custo, e apenas nos meses efectivamente trabalhados, não é devido nos meses em que o Autor não trabalhou por se encontrar de baixa médica – Julho de 2002 – ou no gozo de férias no ano de 2002 – vide ponto 11. dos factos assentes ..

Por outro lado, quanto às ajudas de custo referentes ao mês de Junho de 2002, a Ré logrou provar ter procedido ao seu pagamento – vide ponto 14. dos factos assentes.

Improcede, por isso, este fundamento invocado pelo Autor para justificar a rescisão com justa causa do contrato de trabalho.

[...]

O acórdão revidendo, perante o alegado pelo Autor contendendo com a matéria de facto provada, no afirmado propósito de esclarecer melhor a questão, discorreu do seguinte modo:

[...]

(20)

A este respeito a 1.ª instância deu como provado que “a ré contratou o autor mediante a retribuição mensal de 250.000$00, procedendo ainda ao

pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser actualizado para a quantia de

150.000$00”.

A audiência de julgamento não foi objecto de gravação, pelo que esta Relação não dispõe de todos os elementos de prova que lhe permitissem reapreciação de facto.

Não podemos é certo deixar de notar que o documento de fls. 13, intitulado como “proposta de acordo de trabalho”, subscrito por autor e ré utiliza a expressão “remuneração mensal de 400 mil escudos líquidos, dos quais 120 são pagos (…) como ajudas de custo não declaradas”.

A expressão parece referir-se claramente a uma cláusula de retribuição, mas é equívoca no seu conteúdo: não se percebe realmente se o que ficou acordado foi uma retribuição de 400 mil escudos, sendo a referência à parcela de

120.000$00, uma “habilidade” tantas vezes usada para tornear encargos sociais e fiscais, ou se constitui um mero cálculo do que o autor receberia líquido contabilizando a remuneração e o valor das ajudas de custo a que

tivesse direito. De resto, da leitura do documento percebe-se que o mesmo não terá sido elaborado por um jurista, dadas as várias imprecisões terminológicas que contém.

Daí que fosse admissível prova testemunhal para interpretar o contexto declarativo do documento (393.º n.º 3 do Código Civil).

E, assim, o resultado factual alcançado pela 1.ª instância não pode ser colocado em causa por esta Relação.

Assim sendo, temos que ao trabalho prestado pelo autor correspondia “a retribuição mensal de 250.000$00”.

Mas a ré procedia ainda “ao pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser

actualizado para a quantia de 150.000$00”.

Será que esse valor de ajudas de custo integra a retribuição, como o apelante defende?

(21)

Importa notar que, como se referiu na sentença, como todos os factos em causa ocorreram em data anterior a 1 de Dezembro de 2003, é aplicável ao caso em apreço a legislação laboral em vigor antes da entrada em vigor do actual Código do Trabalho – cfr. artigos 3.º, n.º 1 e 8.º, n.º 1 da Lei n.º 99/2003 de 27 de Agosto.

Nos termos do artigo 87.º do DL n.º 49.408, de 24/11/69, não se consideram retribuição as importâncias recebidas a título de ajudas de custo.

Temos que a matéria de facto estabelecida identifica o pagamento dos valores de 120.000$00 e 150.000$00 como reportando-se claramente a ajudas de custo. Embora não se concretize quais os custos efectivos que tais quantias se destinavam a compensar, uma vez que essa concretização não foi questão realmente colocada pelas partes, não pode deixar de concluir-se que “ajudas de custo” pode, por si só, assumir-se como um facto (embora complexo) pois revela uma causa específica e individualizável diversa da remuneração do trabalho. Facto consolidado, enquanto tal, na medida em que se deu também como provado que o seu pagamento só ocorria “nos meses efectivamente trabalhados” – normalmente, só ocorrerão custos suportados pelo trabalhador quando preste efectivamente o trabalho a que se obrigou.

Por isso mesmo, não merece censura a sentença quando considerou tais pagamentos como não integrantes da retribuição.

[...]

Sustenta o recorrente que as partes «acordaram na fixação de uma

“remuneração, mensal de 400 mil escudos líquidos, dos quais 120 são, pagos até ao dia 8 de cada mês como ajudas de custo não declaradas”, como resulta do doc. 1 junto com a p. i. e não impugnado».

Na petição inicial, foi alegado (artigos 4.º e 5.º) que o Autor auferia a retribuição mensal líquida de Esc.: 400.000$00, sendo que, no recibo de vencimento, a Ré fazia constar a remuneração mensal base, líquida, de Esc.:

250.000$00, quantia que era declarada oficialmente e sobre a qual descontava para a Segurança Social, pagando a Ré ao A. o remanescente de Esc.: 150.000

$00, “por fora” e não declarando oficialmente, ou seja, até perfazer a remuneração total.

A Ré, na contestação, impugnou esta alegação.

(22)

No que concerne, a decisão proferida sobre a matéria de facto considerou provado que “[a] ré contratou o autor mediante a retribuição mensal de 250.00$00, procedendo ainda ao pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser actualizado para a quantia de 150.000$00”, mencionando-se na motivação daquela decisão que, para firmar a sua convicção, o tribunal atendeu aos depoimentos de sete testemunhas, ali devidamente identificadas, “que

disseram [...] quais as funções exercidas pelo autor [...] e bem assim o salário pelo mesmo auferido”, umas, ou “que afirmaram [...] o vínculo contratual existente entre autor e ré, as funções exercidas pelo autor, a remuneração pelo mesmo auferida bem como o pagamento de ajudas de custo”, outras.

Referiu-se, outrossim, que o tribunal atendeu, entre outros, ao documento de fls. 13.

Este documento (apresentado com a petição inicial, como “doc. 1”) é um escrito, não datado, intitulado “PROPOSTA DE ACORDO DE TRABALHO”, no qual, após o respectivo texto, figuram duas assinaturas ilegíveis, uma sob a menção “P. J. F..., L.da – A Gerência” e outra sob a menção “AA”.

Nele se escreveu, no que aqui interessa ter presente, que, no seguimento de reuniões efectuadas entre o ora recorrente e o gerente da Ré, “ficou

determinado e aceite entre as partes as seguintes condições de trabalho:”

[...]

Remuneração mensal de 400 mil escudos líquidos, dos quais 120 são pagos até ao dia 8 de cada mês como ajudas de custo não declaradas.

Relativamente à forma de pagamento acordada proponho que anualmente e a somar ao aumento salarial anual o valor de 120 contos seja diluído no salário declarado em recibo por um máximo de 5 anos a partir de 2002.

[...]

A minha entrada ao serviço está sujeita às leis em vigor ou a outro tipo de acordo a efectuar com a minha actual empresa.

Foi acordado por ambas as partes o conteúdo desta proposta entrando em vigor a partir de 21 de Abril de 2001, abaixo assinaram.

O texto que se refere à “remuneração” e “ajudas de custo” e respectiva forma de pagamento mostra-se, como bem se observa no douto parecer do Ministério

(23)

Público, ambíguo, tendo cada uma das partes conferido ao mesmo sentidos diferentes.

Daí, como notou o acórdão revidendo, ser admissível a prova testemunhal, nos termos do n.º 3 do artigo 393.º do Código Civil, destinada a interpretar “o contexto do documento”.

Por outro lado, comportando aquele texto, quer o sentido que lhe foi atribuído pelo Autor, quer aqueloutro que lhe foi atribuído pela Ré, sempre seria

permitido recorrer-se a prova que incidisse sobre a execução do contrato.

E parece ter sido isso que o tribunal da 1.ª instância fez, quando, com base na prova testemunhal, considerou que, além da “retribuição mensal de 250.000

$00”, a ré procedia, “ainda, ao pagamento, a título de ajudas de custo, nos meses efectivamente trabalhados, pelo valor de 120.000$00, que veio a ser actualizada para a quantia de 150.000$00”.

Face aos limitados poderes de intervenção do Supremo Tribunal no que respeita à fixação da matéria de facto (artigos 722.º, n.º 2 e 729.º, n.os 2 e 3, do Código de Processo Civil), que não autorizam este órgão jurisdicional a exercer censura sobre decisão proferida com base em provas submetidas à livre apreciação do julgador, como é o caso da prova por testemunhas, e

considerando que o texto do documento em causa, pela sua ambiguidade, não tem virtualidade para fazer prova plena do alegado pelo Autor, os factos a atender são os que constam da decisão proferida na 1.ª instância e confirmada pela Relação.

Alega o recorrente que, ainda que não vingue a sua posição relativa ao ponto de facto em causa, sempre os valores recebidos a título de ajudas de custo haveriam de ser considerados parte integrante da retribuição, porque tendo sido regular e periodicamente pagos, a Ré não alegou “que as pretensas ajudas de custo se destinavam a custear qualquer despesa extraordinária em que o Recorrente incorresse na execução da sua prestação de trabalho e não o fez porque não existem tais despesas”.

De acordo com o artigo 82.º da LCT, “[s]ó se considera retribuição aquilo a que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o

trabalhador tem direito como contrapartida do seu trabalho” (n.º 1); “[a]

retribuição compreende a remuneração de base e todas as outras prestações regulares e periódicas feitas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou em espécie” (n.º 2); “[a]té prova em contrário, presume-se retribuição toda e qualquer prestação da entidade patronal ao trabalhador” (n.º 3).

(24)

O artigo 87.º do mesmo diploma previne que “[n]ão se consideram retribuição as importâncias recebidas a título de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de transporte, abonos de instalação e outras equivalentes, devidas ao trabalhador por deslocações ou novas instalações, feitas em serviço da entidade patronal, salvo quando, sendo tais deslocações frequentes, essas importâncias, na parte em que excedam as respectivas despesas normais, tenham sido previstas no contrato ou se devam considerar pelos usos como elemento integrante da retribuição do trabalhador”.

Conciliando as presunções consignadas nos n.os 2 e 3 do artigo 82.º da LCT com a norma do artigo 87.º do mesmo diploma, observou-se no Acórdão deste Supremo de 13 de Julho de 2006, proferido na Revista n.º 1539/06-4.ª Secção (6) : “Cabe à entidade empregadora, nos termos dos art.os 344.º, n.º 1 e 350.º, n.º 1, do CC, provar que a atribuição patrimonial por ela feita ao trabalhador reveste natureza de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de

transporte, abonos de instalação e outras equivalentes [...], sob pena de não lhe aproveitar a previsão do art.º 87.º e de valer a presunção dos n.os 2 e 3 do artigo 82.º de que se está perante prestação com natureza retributiva”.

No caso vertente, os termos em que se expressou a decisão da matéria de facto (e respectiva fundamentação) permitem afirmar, como se afirmou no acórdão impugnado, que, apesar de não concretizados os custos suportados pelo Autor para a execução do contrato, a(s) importância(s) que lhe eram pagas “a título de ajudas de custo” tinham fundamento específico diverso da prestação do trabalho, ou, mais rigorosamente, da disponibilidade de prestar o trabalho, a que corresponde a retribuição.

Com efeito, surpreende-se naquela decisão que o pagamento só ocorria “nos meses efectivamente trabalhados”, expressão que interpretada no quadro do que fora alegado pelo Autor e pela Ré, consente afastar a consideração de que aquele pagamento era efectuado (ou fora convencionado) na ausência de

disponibilidade da prestação do trabalho, assim se podendo intuir, em termos de normalidade, que só a efectiva prestação do trabalho originaria os custos subjacentes às referidas atribuições patrimoniais.

Deste modo, se considera ilidida a presunção do seu carácter retributivo decorrente da periodicidade e regularidade do pagamento.

Assim sendo, soçobra a pretensão do Autor fundada na falta de pagamento parcial da retribuição, quer relativa ao reconhecimento de justa causa para a

(25)

rescisão do contrato, quer relativa à condenação no pagamento de diferenças salariais.

6. Quanto ao problema da diminuição da retribuição, por via da privação do uso do automóvel, que o Autor alega como fundamento da justa causa de rescisão, a decisão proferida sobre a matéria de facto manifestamente não autoriza a que se lhe dê razão.

Neste particular, o Autor invocou na carta de rescisão, entre os fundamentos da justa causa, que, tendo recebido, em 24 de Julho de 2002, um telefonema para proceder à entrega da viatura que vinha usando, efectuou essa entrega dois dias depois.

No articulado inicial, tais factos não foram expressamente alegados para alicerçar o pedido de reconhecimento da justa causa.

Porém, a sentença da 1.ª instância debruçou-se, nessa perspectiva, sobre a questão, aduzindo fundamentos no sentido da sua improcedência, o que

mereceu a concordância do acórdão impugnado, por remissão para os mesmos fundamentos.

Sucede que aqueles factos não foram declarados provados, pois, no que concerne, apenas ficou demonstrado que “[a]pós a rescisão contratual o veículo ficou na posse da ré”.

Ao Autor incumbia a prova de que, enquanto durou o contrato, foi privado dessa retribuição em espécie que constitui o uso pessoal da viatura, por se tratar de facto constitutivo do direito invocado (artigo 342.º, n.º 1, do Código Civil), o que não logrou fazer.

Nesta conformidade, outras considerações são desnecessárias, para se concluir pela improcedência desse fundamento da justa causa.

7. Resta apreciar a questão da caducidade do direito à rescisão com justa causa com fundamento na “Nota de Serviço”, consubstanciando a

comunicação da destituição do cargo para o qual o Autor fora contratado.

Tal documento, datado de 1 de Julho de 2002, chegou ao conhecimento do Autor, segundo a carta de rescisão, no dia 15 do mesmo mês.

A comunicação da rescisão foi expedida em 2 de Setembro, por conseguinte, muito depois do prazo consignado no supra citado artigo 34.º, n.º 1, da LCCT,

(26)

sendo certo que a excepção da caducidade foi, expressamente, invocada pela Ré no seu articulado de defesa.

Perante argumento do Autor, colocado no recurso de apelação, segundo o qual a decisão da 1.ª instância, que considerou verificada a caducidade, estaria correcta “se este fosse o único fundamento invocado”, mas, sendo ele parte de um todo, não pode ser considerado isoladamente, para efeito de caducidade, por se inserir numa actuação continuada, de gravidade crescente, a Relação observou:

[...]

Verificada a caducidade, é certo que tal facto poderia ser valorizado, apesar de tudo, já não como facto directamente possibilitador da rescisão com justa

causa, mas como facto instrumental, co-ilustrativo de determinadas condições gerais em que outro facto, que pudesse fundar directamente o direito à

rescisão, convencesse de suficiente gravidade de um comportamento culposo da entidade patronal para tornar imediata e praticamente impossível a relação de trabalho (por força da apreciação que se imporia em cumprimento do

disposto no artigo 34.º n.º 4 do DL n.º 64--A/89, de 27 de Fevereiro, o qual remete para o art.º 12.º n.º 5).

Ora, concordando com a apreciação efectuada na sentença da 1.ª instância, não encontramos outros factos com consistência suficiente para directamente permitirem o direito à rescisão com justa causa pelo autor.

Daí que não haja lugar a fazer a referida valorização instrumental.

[...]

Subscrevem-se estas considerações, que respondem cabalmente ao alegado no recurso de revista, em reprodução dos argumentos constantes do recurso de apelação.

III

Por tudo o exposto, decide-se negar a revista.

Custas a cargo do Autor.

Lisboa, 18 de Junho de 2008.

Vasques Dinis (Relator)

(27)

Bravo Serra Mário Pereira

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(1) Certamente, queria escrever-se “Julho”.

(2) Cfr. António Monteiro Fernandes, Direito do Trabalho, 10.ª Edição, Almedina, Coimbra, 1998, pp. 539-540; e, entre outros, o Acórdão de 10 de Fevereiro de 1999, Colectânea de Jurisprudência – Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, Ano VII, Tomo I, 271..

(3) No sentido da irrelevância da culpa para a rescisão nos termos da Lei n.º 17/86, entre muitos outros, os Acórdãos deste Supremo de 26 de Março de 1998 (Revista n.º 147/97), de 30 de Junho de 1999 (Revista n.º 155/99), de 21 de Setembro de 2000 (Revista n.º 1671/00), de 26 de Setembro de 2001

(Revista n.º 3436/00), e de 19 de Junho de 2002 (Revista n.º 1586/02), todos da 4.ª Secção e sumariados em www.stj.pt, Jurisprudência/Sumários de Acórdãos.

(4) Neste sentido, os Acórdãos deste Supremo de 28 de Maio de 2003 (Revista n.º 2906/02) e de 18 de Outubro de 2006 (Revista n.º 2064/06), ambos da 4.ª Secção, sumariados em www.stj.pt, Jurisprudência/Sumários de Acórdãos.

(5) Certamente quereria escrever-se “36.º”.

(6) Na linha de orientação dos Acórdãos de 23 de Maio de 2001 (Revista n.º 880/01), 29 de Janeiro de 2003 (Revista n.º 1102/02), e 5 de Fevereiro de 2003 (Revista n.º 3607/02).

Referências

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