Globalização, Economia
Subterrânea e Fraude
Cap. I
PIMENTA, C. (2004).
Globalização: Produção, Capital Fictício e Redistribuição.
Lisboa: Campo da Comunicação.
Escrever em 2004 que o
modo de funcionamento do capitalismo não era viável continuar muito mais tempo
• Parecia um contrassenso • Exigia muito cuidado
Metodológico Argumentação
Qual a evolução futura da
globalização?
1º cenário: crise de sobreprodução
• Razões:
Procedimentos do capital-financeiro, centralização do capital, desresponsabilização do Estado, …
Capital financeiro não é produtivo
Capital financeiro contra capital produtivo
2º cenário: tomada de posição unilateral
dos EUA
3º cenário: alteração profunda da
Começa por abordar temáticas que
hoje são despiciendas:
• Metodologia seguida
• Alerta contra as evidências
• Cuidado com as palavras polissémicas • Análise crítica de algumas justificações
O que entendemos por globalização
• Várias designações para o mesmo
• Utilização com significados diferentes conforme os autores
Para não haver ambiguidades
precisemos o que entendemos neste
trabalho por globalização.
Mundialização da sociedade
• (maior densidade e frequência de relações entre cidadãos e instituições,
independentemente da sua localização geográfica)
• Globalização
Sociedade 198? – 2008 …
Sociedade capitalista... fortemente concentrada Desdobra-se em globalizações várias
Consideramos predominantemente as dimensões económicas
Precisão de conceitos. Questões Metodológicas.
Não existem mudanças qualitativas ou quantitativas no período em análise Caracterização da globalização. Importações e Exportações Há uma tendência de aumento da importância relativa do comércio externo A vantagem do comércio livre para uns é desvan- tagem para outros
Cada vez é mais importante, em termos
relativos, o investimento direto estrangeiro no conjunto da atividade económica do país (A e C) e no conjunto dos investimentos (B). Desde o início da globalização verificam-se sintomas para o aumento da importância deste
agregado.
A situação é muito desigual nos diversos países, como é particularmente visível nos “Países de Baixo Rendimento”
Alterações no tipo de IDE
• “o desenvolvimento das formas de partenariado de relações interempresas, nomeadamente ao nível internacional (alianças estratégicas, redes, acordos de cooperação...);
• o domínio das fusões-aquisições em detrimento das formas tradicionais de criação de filiais; • a diminuição drástica do número de
subcontratações e o estabelecimento de acordos de longo prazo com fornecedores, selecionados mais pela complementaridade tecnológica
(fornecimento de módulos cada vez mais complexos) que pelo valor baixo dos custos”
As deslocações de força de trabalho são mais marcadas pelas conjunturas do
capitalismo central (abundância/carência de mão-de-obra; dinâmicas verticais, ascendentes ou descendentes, entre segmentos de força de trabalho;
dinâmica demográfica; políticas
económicas e sociais, etc.) do que pelo processo estrutural de aceleração da mundialização.
Poderemos dizer que a este facto apenas escapam, o que não deixa de ser
relevante, as dinâmicas resultantes dos processos de integração económica que conduzem à «quase-igualdade» de
direitos e deveres de cidadãos de
diversos países, de que a EU é um caso paradigmático.
Sinais crescentes de movimentos e situações ilegais.
Caracterização da globalização.
a partir de 1983 há um aumento
das desigualdades entre os diversos países.
O aumento das desigualdades entre países é uma situação inevitável
das características da globalização. A importância da componente
tecnológica exclui muitas
sociedades da dinâmica global. A importância dos conhecimentos e da investigação científica conduz aos mesmos resultados.
Aumento das desigualdades na distribuição do rendimento dentro da grande maioria dos países.
Caracterização da globalização.
Aumento da hegemonia das empresas
multinacionais
Mudanças de comportamento dessas empresas
• (vide IDE)
• importância da inovação tecnológica
• importância dos novos conhecimentos e sua utilização (metanacionais)
• da influência política sobre os Estados na defesa da doutrina liberal e neoliberal
• intervenção nos mercados financeiros • ...
A economia mundial tende a ser gerida por
alguns poucos conselhos de administração de grandes empresas ou fundos de investimento.
Caracterização da globalização.
Caracterização da globalização.
Mercados financeiros
«Para a maioria das pessoas um milhão de dólares é muito dinheiro. Medido em montes de notas de 100 dólares, atinge a altura de vinte centímetros. Um bilião de dólares ou, por outras palavras, um milhar de milhões, ultrapassa em altura a catedral de S. Paulo, em Londres. Um trilião de dólares um milhão de milhões ultrapassaria os 193 quilómetros de altura, ou seja, mais de vinte vezes a altitude medida no cimo do monte Evereste. Mas, atualmente, os mercados financeiros globais movimentam mais de um trilião de dólares por dia. É um aumento maciço em relação a 1980, sem falarmos de anos mais distantes»
O valor médio diário das transações nos
mercados principal e paralelo (em todo o mundo) foi, em 2001, 168,26 x 109
dólares, isto é 1,96 vezes o produto
interno bruto a nível mundial durante esse mesmo ano.
Em 2008 ultrapassava a relação de 3
vezes
Hoje estima-se que o valor dos títulos
“tóxicos” acumulados é 46 vezes o PIB mundial.
Durante a globalização houve um aumento
estrondoso da importância dos mercados financeiros.
Houve uma maior e mais veloz interligação entre
os diversos mercados financeiros
Aumentou a variedade das transações nos
mercados financeiros
Grande diminuição da importância relativa das
operações nos mercados financeiros diretamente relacionados com a produção.
Logo estrondoso aumento do capital fictício
Caracterização da globalização.
Globalização também é Estado
• A desregulamentação social e a hegemonia dos
«mercados» tem sido uma decisão política.
• O Estado tem tido um papel importante em
diversos países que são partes integrantes do sistema capitalista mundializado.
• A aldeia global tem um castelo.
• Esta internacionalização exige pouco défice
estatal, desproteção social e fiscalidade ligeira, que são decisões políticas.
• Importantes conflitos militares
Para a caracterização da globalização, esta fase
do capitalismo:
• Todos os atos sociais fazem parte, com maior ou menor
autonomia, dessa dinâmica global de organização capitalista.
• Reforço da ideologia neoliberal.
• Aumento do capital fictício até níveis nunca
anteriormente atingidos, num contexto de articulação e mundialização acelerada dos seus mercados e pela
adoção de políticas económicas que reforçam o papel
das multinacionais, empresarizam a economia mundial.
• Este capitalismo sem rosto dificulta a resistência dos
povos.
Caracterização da globalização.
Para a caracterização da globalização, esta fase
do capitalismo:
Esta mundialização atinge todas as vertentes da sociedade, mas manifesta-se de forma desigual conforme os
momentos e os locais, ora integrando a acumulação
capitalista mundial ora desarticulando as sociedades integradas/marginalizadas.
Enquanto o mercado de capitais usufrui de toda a liberdade de ação o mercado de trabalho continua a ser um mercado
fragmentado e segmentado. As desigualdades sociais aumentam.
Na luta intracapitalista a globalização é a vitória do modelo
regional americano, também ele em transformação.
As contradições do capitalismo continuam a existir e a
Constatado que há atividades produtivas e
improdutivas
Que só a produtivas criam valor novo Que as atividades improdutivas apenas
fazem circular e redistribuem rendimento
As atividades bolsistas são improdutivas E que a circulação do capital fictício para
além de improdutivo nem estimula o produtivo
As operações financeiras que
caracterizam a globalização
• “garantem a reprodução do sistema” • “são necessárias e úteis”
• “vantajosas para muitos”
• “não são produtivas” = “são improdutivas” • redistribuem produto (rendimento).
Confronto com Modelos Teóricos.
Onde é criado o produto utilizado na
financiarização da economia e como
é transferido para os mercados
financeiros?
Confronto com Modelos Teóricos.
A pergunta ainda é mais premente
porque:
• O financeiro está separado do económico
• O financeiro está frequentemente contra o económico
Vai absorver recursos importantes no económico
O “ocidente” vai especializar-se no
financeiro e localizar o económico nos países “periféricos”
Dispensando-nos aqui de uma análise
pormenorizada das possíveis fontes
de rendimento,
Conclui-se que
• Estes processos de canalização de recursos para o mercado financeiro eram insuficientes para justificar os montantes da financiarização.
• Superação das crises financeiras
pareciam mostrar existirem bastantes recursos susceptíveis de utilização em situações de emergência
Economia Paralela
• “Economia não-registada” sem ser por deficiência do aparelho estatístico
• na terminologia da OCDE
“economia subterrânea” “economia ilegal”
“economia informal”
• mobilizam elevados recursos
• nos passados 35 anos houve um aumento da economia subterrânea
Observação da realidade. Formulação de Hipóteses. Construção de modelos.
De que estamos a falar?
Economia subterrânea
• Fuga ao fisco em atividades legais • Offshores
Economia ilegal
• droga / armamento e guerra / resíduos tóxicos / órgãos humanos / animais em extinção / escravatura / pescado ilegal / pirataria / cibercrime / …
Economia paralela está associada à
fraude (em sentido lato)
• É “fraude fiscal”
• Estimula certos tipos de fraude (ex. corrupção política)
• Cria condições permissivas para a fraude
Concomitantemente gera
branqueamento de capitais
Gera degenerescência das relações
Logo
• A economia paralela, a fraude e o branqueamento de capitais não são fenómenos acidentais.
• São partes integrantes da globalização, com o significado que lhe atribuímos.
Cap. II
Constatações
Surgimento da crise não foi surpresa.
Só foi “surpresa” o momento do
surgimento a forma que assumiu.
Nos períodos de crise há maior
probabilidade de rutura social
• Torna-se evidente o que antes não era (recorde-se as declarações do
Greenspan).
• Há a perceção de que o “modelo” se esgotou
A lógica seria:
• Se na atual crise de sobreprodução o mais relevante foi o excesso de capital financeiro em relação à base produtiva, “permitir” a destruição do capital
fictício, com salvaguarda de interesses das populações.
• Restringir a liberdade de circulação dos capitais e ativar um controlo
• Encerrar os offshores como centros
nevrálgicos da especulação, da fraude e do branqueamento de capitais
• Dar prioridade às atividades produtivas e apoiar nela a retoma do crescimento • Reforçar a intervenção do Estado numa
Se assim se procedesse
• Combatia-se a causa da crise atual • Desautorizava-se as entidades
especuladoras
• Poder-se-ia pôr fim a esta fase a que designamos por globalização.
O que se fez foi exatamente o
contrário
• Apoio prioritário ao sistema bancário inundado de capital fictício (teoria do perigo da crise sistémica)
• Em alguns casos transferência da
“falência bancária” para a “falência dos Estados”
• Manutenção dos offshores e da
Fraude
Rutura nos pagamentos veio por fim a
diversos esquemas de Ponzi. Reveladas diversas fraudes
Crise na bolsa veio por a descoberto diversas
operações ilegais no sistema financeiro
A sobrevivência de diversas instituições
financeiras passam pelo branqueamento de capitais.
Reforça o controlo da economia legal pelas
Economia subterrânea tem
aumentado assim como a respetiva
fraude fiscal
As empresas de rating continuam a
Semelhanças e diferenças com
a crise de 1929/33
Semelhanças
• Ambas são partes integrantes do ciclo de negócios, são crises de
sobreprodução
• Ambas se desencadeiam numa fase em que o capitalismo domina à escala
mundial
• As formas de manifestação da crise são semelhantes
Grandes diferenças
• O hiato e antagonismo entre o capital financeiro e a base produtiva hoje é maior
• O poder produtivo (capital industrial) está em países diferente dos que
possuem o “poder” financeiro intoxicado • A economia não registada é muito mais
poderosa e florescente
• Em 1929/33 era recente a Revolução Russa
Cap. III
Algumas particularidades
É o elo mais fraco do centro capitalista É uma união económica e monetária em
que as decisões políticas não assentaram na realidade objetiva da economia
É o espaço atual de maior defesa do
neoliberalismo
• Substituição dos seus valores endógenos pela “atividade comercial”
Algumas causas
O fim do sistema económico socialista foi antevisto vários anos antes pela elite governante, tendo muitos
pertencentes à referida elite organizado a economia paralela
Essas máfias reforçaram o seu poder às escalas europeia e mundial (controlando empresas, negócios e pessoas,
aparecendo frequentemente de uma forma populista (ex. no futebol), ramificando-se em instituições culturais e
filantrópicas. Influenciam ativamente a política nacional e internacional. Alguns conflitos têm-lhe sido particularmente benéficos (ex. Guerra dos Balcãs).
As medidas tomadas pelos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001 tornaram aquele país menos apetecível (veja-se o «Patriot Act») para ser o centro principal das atividades ilegais à escala mundial e de lavagem de dinheiro.
A Europa é detentora de vários offshores onde, com grande impunidade, se pode colocar os sites informáticos de
atividades ilegais, fazer lavagem de dinheiro e controlar as redes económicas criminosas.
Segundo o Fundo Monetário Internacional temos, na Europa: Andorra, Campione (Itália),
Chipre, Dublin (Irlanda), Gibraltar (RU), Guernsey (RU), Man (RU), Jersey (RU),
Liechtenstein, Londres (RU), Luxemburgo, Madeira (Portugal), Malta, Mónaco, Holanda e Suiça. Fora dela: Tahiti (França), Anguilla (RU), Aruba (Holanda), Bermuda (RU), Ilhas Virgens (RU), Ilhas Caimão (RU), Montserrat (RU), Antilhas Holandesas (Holanda), Turks e Caicos (RU), Estados Associados das Índias Ocidentais (RU). Outros pertencem à
O interesse da Europa em ser parceiro privilegiado da China torna-a particularmente condescendente com os atentados aos direitos humanos naquele país, à entrada (disfarçada) das máfias chinesas na Europa.
A China é a campeã da contrafação (dos bens de consumo corrente aos medicamentos,
da tecnologia e programas informáticos às peças de avião), da pirataria marítima e na sua área de influência atuam importantes redes da criminalidade internacional. Com a «paciência de chinês» vão construindo a sua rede comercial e especulativa internacional.
Geral
A globalização continua. Garantiu a
continuidade nesta fase da crise.
A crise de sobreprodução continua
• Está por resolver a destruição do capital fictício
• Solvência dos países é posto em causa • O desemprego alastra-se
• A economia paralela e a fraude continuam
Modifica-se profundamente a
correlação internacional
• Supremacia da economia chinesa e de outros países “emergentes”
• Decadência da velha Europa
• Agravamento das desigualdades económico-sociais
Economia Paralela e fraude
A luta contra a fraude é um
imperativo
• Económico e Social • Político
• Ético
São necessários vários planos de
atuação
• Individual (ex. educação ética, formação)
• Nas empresas (ex. cultura de empresa, controlo interno, prática fiscal correta, efetiva responsabilidade social)
• Nos países (ex. combate à corrupção política)
Por uma nova ordem económica
internacional
• Objeto da economia seja o bem estar dos cidadãos
• Evitar a empresarização do Estado e dos Organismos Internacionais
Contactos
http://www.fep.up.pt/docentes/cpimenta