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AULAS ESPECIAIS AS OBRAS DA UNICAMP

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Academic year: 2021

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1. BIOGRAFIA

Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, província de Gaza, Sul de Moçambique, em 4 de junho de 1955, em uma família cujas línguas usadas eram Chope e Ronga. Na escola, a autora aprendeu a Língua Portuguesa, oficial do país, a qual é empregada em suas obras para que elas alcancem um público leitor mais amplo, divulgando, principalmente, a realidade da mulher moçambicana.

Uma das primeiras escritoras femininas de Moçambique, Paulina Chiziane é considerada forte expoente da literatura pós-colonialista moçambicana, especialmente do romance, embora em sua obra ainda existam resíduos do imperialismo português.

Duas distinções, no entanto, incomodam Paulina Chiziane: ser considerada a autora número um da prosa de Moçambique e taxada como feminista. Chiziane rejeita a classificação de romancista, autodefinindo-se como uma “contadora de histórias” e nega a denominação de feminista, justificando-se com o argumento de que ela é apenas uma mulher que relata, a partir de sua experiência e de seu ponto de vista, a realidade feminina de seu país. Paulina Chiziane estudou Linguística na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, capital de Moçambique, mas não concluiu o curso. Ela também foi membro da FRELIMO (Frente de Libertação Moçambicana), porém abandonou a militância política para se dedicar como enfermeira na Cruz Vermelha, durante a guerra civil, e à carreira de “contadora de histórias”. Destaque-se também a designação da autora, pela União Africana (UA), como embaixadora da paz para África, em Julho de 2010.

2. OBRAS E PRÊMIO Romances

Balada de Amor ao Vento (1990) O Sétimo Juramento (2000) O Alegre Canto da Perdiz (2008) As Andorinhas (2009)

Na mão de Deus (2013)

Por Quem Vibram os Tambores do Além (2013 com Rasta Pita)

Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento, (2015)

O Canto dos Escravizados (2017) Outras obras

Eu, mulher… por uma nova visão do mundo (1994) Prêmio

Prêmio José Craveirinha de 2003, pela obra Niketche: Uma História de Poligamia

3. RESUMO DO ENREDO

Rami, a narradora da história, criada com base no catolicismo europeu e monogâmico, é surpreendida com o som de um vidro estilhaçando e, ao ser alertada pelos vizinhos, descobre que seu filho mais novo havia quebrado o vidro de um automóvel. Ela conversa com o dono do carro dizendo-lhe que seu marido acertaria as despesas do conserto do veículo. Ao entrar em casa, Rami lamenta a ausência do marido Tony, homem do Sul de Moçambique, afirmando que, se ele estivesse presente no lar, ela estaria mais segura, protegida e seria respeitada pela vizinhança.

Casada há 20 anos com um alto funcionário da polícia de Maputo, Rami, mulher do Sul moçambicano, relata que só conheceu a felicidade do matrimônio por dois anos e não compreende o motivo do desprezo de Tony, uma vez que ela sempre cumpriu honradamente seu papel de esposa e dona de casa.

Rami sabe que o marido tem outra mulher e que, depois da promoção dele no trabalho, ele passou a trair mais. Decidida, a narradora vai à casa da rival, Julieta, e percebe que ela tem uma moradia melhor do que a sua, objetos de decoração que Tony não permite a Rami ter, e as roupas que Julieta usa são joviais e alegres, ao contrário das suas, por proibição do marido.

NIKETCHE, UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA

AULAS ESPECIAIS

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Julieta e Rami brigam fisicamente, mas, depois, a rival ajuda a esposa de Tony a se recompor. As duas conversam e Rami descobre que o marido tem mais uma mulher.

Ao retornar para casa, Rami pensa em abandonar Tony, mas desiste da ideia, pois não quer que outras mulheres ocupem o lugar dela de esposa. Ao conversar com Tony sobre adultério, ele argumenta que os homens são livres, tripudiando das acusações feitas por Rami.

A narradora, decidida a procurar métodos para reconquistar o marido, inscreve-se em um curso de aulas de amor com uma professora/feiticeira oriunda do Norte de Moçambique, aprendendo com ela a importância da realização de rituais de amor e de sexo, no entanto, os ritos de iniciação não dão resultados positivos.

Rami decide procurar a outra amante de Tony, Luísa, com quem tem uma luta corporal que resulta na prisão das duas mulheres. Na cadeia, elas conversam e Rami descobre que Luísa também é traída por Tony. Ao serem libertadas, já que são mulheres de um homem importante na polícia, a narradora parte em busca de Saly, uma maconde, e, depois, de Mauá, uma macua, duas outras esposas de Tony.

Surpreendida com a existência de várias mulheres na vida do marido, Rami recorre a alternativas como magia, tatuagem íntima e banhos especiais para reconquistar a exclusividade de Tony, mas não obtém sucesso.

Na conversa que a narradora tem com uma das amantes de Tony, ela descobre que o marido mantém a vida financeira e o lar de Saly e de seus dois filhos, no entanto, visita-a apenas uma vez por mês.

Rami procura por sua tia Maria, a qual lhe fala sobre seu casamento com um rei, realizado quando ela tinha apenas dez anos, como forma de pagamento das dívidas do pai, tornando-se ela a vigésima quinta esposa do rei. Para tia Maria, que vive com dois maridos, a partilha no matrimônio é normal, considerando o casamento como forma de “democracia social”.

Luísa, uma das esposas de Tony, percebendo a solidão amorosa de Rami, partilha seu amante, Vítor, com ela, proporcionando-lhe atenção, carinho e amor, justamente o que faltava a Rami por parte de Tony.

A partir dessa situação, a narradora começa a ver a poligamia de uma maneira diferente, isto é, percebe que nela não há substituição de mulher, mas o acréscimo de outra, configurando-se o sistema matrimonial formado por um homem e diversas mulheres.

Rami procura por seus familiares, mas não obtém o apoio deles, ouvindo de seu pai que, se o marido tem outras mulheres, a culpa é da esposa. Já a mãe de Rami demonstra certa solidariedade à filha, mas diz que, quando Tony voltasse para casa, ela lhe deveria obediência.

A narradora procura novamente pelas outras mulheres de Tony e descobre que ele não lhes dá a devida assistência econômica e amorosa, e, caso ele decidisse abandoná-las, elas não teriam nenhum direito legal, uma vez que a única esposa oficial, isto é, registrada juridicamente, é Rami.

Assim, a narradora reúne todas as mulheres pro -pondo-lhes união, estimulando-as a encontrarem caminhos para a própria manutenção econômica e sugerindo a oficialização do sistema poligâmico que, conforme a tradição, determinaria obrigações para ele e para as suas esposas.

Havendo anuência de todas as mulheres, Rami decide comunicar ao marido o acordo feito entre suas mulheres durante a festa de 50 anos dele. Na ocasião, diante da família e amigos de Tony, as esposas aparecem usando trajes idênticos, trazendo todos os filhos, e sendo apresen -tadas por Rami a todos.

A mãe de Tony orgulha-se do filho pela sua fertilidade e, com o apoio de todos, as mulheres de Tony são loboladas, isto é, recebidas no lar poligâmico, passando a viver de acordo com as regras da poligamia em que cumpre a Tony manter-lhes as casas e a frequência semanal nelas, numa espécie de rodízio.

Diante da cena, resta a Tony reconhecer publicamente todas as esposas e filhos, sendo Rami elevada à função de primeira esposa, ou pilar da família, numa situação que não o satisfaz, mas da qual ele não tem como fugir.

Frente à nova realidade conjugal, o marido passa a ter algumas responsabilidades que devem ser cumpridas, tanto de ordem sexual, quanto econômica, o que assusta Tony e o faz tentar fugir de suas obrigações.

Enquanto isso, Rami auxilia as esposas nas maneiras de terem um sustento sem a necessidade de uma presença masculina. A narradora vai emprestando dinheiro, em forma de rodízio, às mulheres: Saly para comprar cereais e vendê-los no mercado; Luísa para comercializar roupas de segunda mão; Mauá para iniciar seu salão de cabeleireira na varanda de sua casa; Julieta para vender bebidas no varejo, iniciativas que não agradam a Tony.

Os negócios prosperam: Rami e Luísa vendem roupas usadas em sociedade por seis meses até conseguirem fundos para passarem ao comércio individual de vestimentas novas; Saly constrói uma loja de bebidas no atacado, além de um café e um salão de chá; Julieta monta um armazém e Mauá abre um salão de cabeleireiros no centro da cidade.

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A situação provoca uma espécie de revolta das esposas, que se reúnem em frente a Tony, expondo-lhe suas faltas como marido polígamo e ameaçando abandoná-lo. As cinco mulheres, por iniciativa de Saly, desnudam-se e ficam em frente dele para a realização do ato sexual com todas elas, uma “orgia de amor”, mas Tony, assustado com a afronta que é também sinal de má sorte, foge após revelar que a sexta mulher é apenas uma amiga, doutora e diretora de uma empresa, rica e sem família, motivo este que faz Tony se tornar companheiro dela para lhe espantar a solidão.

Tony convoca uma reunião familiar, durante a qual revela a todos o comportamento de suas esposas, sendo elas recri minadas pelos membros da família pela atitude de afronta ao marido.

Determinado, Tony, para punir Rami, pede o divórcio, pois ela teria instigado a revolta das mulheres, mas todas as esposas de Tony são solidárias à narradora, uma vez que, na verdade, Rami as auxiliou a encontrarem uma vida melhor.

A narradora não aceita o divórcio e Tony desaparece. Ocorre um atropelamento, no qual um homem morre. Todos acreditam que ele seja Tony, mas Rami nota a ausência de uma marca no corpo do morto que o marido tinha, no entanto, nada diz por que ninguém acreditaria nela.

Inicia-se o ritual da viuvez em que Rami tem os cabelos raspados, o corpo besuntado com óleos fétidos, os móveis da casa cobertos e objetos retirados pelos familiares de Tony, além das exigências de que ela deixasse a casa em trinta dias e se preparasse para ter atividades sexuais purificadoras, ou Kutchinga, com o irmão do marido, Levy.

Eva visita Rami, revelando que Tony lhe havia contado ter apenas Mauá como esposa. Conta também que ele viajara com outra mulher, Gabi, para Paris, para ele tratar do joelho, mas, embora Eva tenha providenciado a viagem, ele levara Gabi em seu lugar. Rami conta a Eva toda a verdade sobre Tony e, ao saber das aventuras sexuais dele, Eva decide não só auxiliar no funeral, mas também manter o segredo de que Tony não estava morto.

A noite de sexo com Levy dá a Rami muita satisfação e felicidade, pois, nela, a narradora é tratada com carinho. Tony regressa da viagem e se depara com a notícia de sua morte e a casa vazia. Prometendo a Rami que iria recuperar tudo o que fora retirado de seu lar, ele pede perdão, comprometendo-se com todas as esposas de que cumpriria devidamente suas funções de marido polígamo, isto é, pagamento de contas e obediência à escala semanal na casa de cada uma delas, protegendo-as todas.

Após algum tempo, com tudo tendo voltado à normalidade, Rami convida Luísa para almoçar. Durante a refeição, a narradora recomenda à Luísa que se case com Vítor, seu amante, porque ele a tratava bem e a amava, além de que, assim, não sofreria o mesmo que Rami padecia com Tony.

O tempo passa e as mulheres de Tony se encontram muito atarefadas com os negócios, não querendo mais a relação com ele, uma vez que as obrigações de esposas lhes dão muito trabalho.

Tony convoca uma reunião com todas as mulheres para discutir a relação de Luísa e Vítor, os quais já tinham marcado o casamento. Indignado, Tony culpa Rami por ela não ter cumprido o papel de primeira esposa e orientado as demais quanto à fidelidade.

Todas as mulheres de Tony vão ao casamento de Luísa com Vítor, ocasião em que a noiva convida Rami para ser a segunda esposa dele, como forma de agradecimento por tudo que a narradora fizera por ela.

Tony, sentindo-se preterido pelas mulheres, propõe à Rami ser sua única esposa. A narradora informa às demais mulheres a proposta do marido e elas, então, decidem procurar outra mulher, Saluá, para Tony, o qual rejeita a nova esposa.

Como a recusa de Tony desrespeita a tradição da poligamia, as mulheres planejam uma reunião familiar para informar a impotência dele e, pelo direito que lhes é assegurado, segundo as regras poligâmicas, para pedirem assistentes conjugais.

No entanto, Mauá confessa que já possui seu assistente, com o qual irá se casar dentro de quinze dias. Julieta revela que está envolvida com um português rico há dois anos e que, em breve, estará casada com ele.

Tony fica arrasado com as revelações e tenta valorizar Rami que sempre esteve ao seu lado. Ao abraçá-la, ele percebe o ventre dela duro e, ao perguntar se ela estava grávida, escuta de Rami que ela espera um filho de Levy, irmão de Tony, fruto do Kutchinga.

Saly envolve-se com padre italiano que abandona a batina por ela, Rami fica com mais um filho e Tony, que tinha cinco esposas, fica só.

4. PERSONAGENS1

A RAINHA: Primeira mulher e verdadeira rainha do rei. É descrita como uma mulher bonita e fina, contudo é uma mulher amarga, posto que as obrigações reais somente incidam sobre ela. Era muito magra e sem curvas (...) sempre dormia sozinha, já que seu marido estava nos braços de outras. Além de ser a mãe do herdeiro do rei, é a única que não pode ter assistente conjugal.

1Os verbetes foram extraídos do Dicionário de personagens da obra de Paulina

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ANTÓNIO TOMÁS: É um personagem central na vida das cinco mulheres que compõem a narrativa. Conhecido como Tony, o personagem é um homem do sul de Moçambique de cinquenta anos de idade. É possuidor de consideráveis posses, sendo ele de origem machangana. Sua profissão é de policial com o cargo de comandante. É considerado pelos seus subordinados como um homem honrado. (...) Tony com o passar do tempo possui cinco mulheres e dezesseis filhos, mas não as trata segundo o estatuto da poligamia. (...) Na opinião das mulheres, o esposo é um colecionador do sexo feminino. Coleciona mulheres uma para cada ocasião, cansado delas, descarta-as. (...) Assim, Tony massageava constantemente seu ego, fortalecia-se porque era covarde, sentia-se necessário e importante socialmente na vida de suas mulheres. Não assumia a sua condição de polígamo até ser desmascarado pela primeira esposa. (...) Ao longo da narrativa, Tony passa a ser apresentado como um homem fraco, uma vez que recorre à família em vários momentos da trama, principalmente quando há conflitos matrimoniais. (...) A cada traição Tony perde um pedaço de si mesmo, não por amar as esposas, mas devido a seu orgulho de macho dominador.

AS VAGINAS: Entram na trama em um momento de desânimo e desespero na vida de Rami. (...) Desgosto -samente ela (...) senta em um banco de esquina e começa a estabelecer um diálogo com “as vaginas”. Somente agora é ela que percebe o poder que o órgão sexual feminino possui. (...) Rami para e pergunta: quem são vocês? São felizes? Quais as marcas que trazem em si? Rami ousa perguntar: somos todas iguais? Em coro logo respondem: não somos iguais. Felizes, cada uma revela sua identidade como mulher: eu sou a lua, eu as estrelas, outras celebram a virtude de proporcionar orgias xi-maconde, si-sena, xi-nianga; outras foram silenciadas pelo Licalho. Assim as estórias vão sendo contadas; uma tem grandes lulas para proporcionar prazer ao seu homem, bem como fechar a entrada da vagina para não serem violadas. Têm voz as violentadas. As do subterrâneo contam que por não verem a luz do dia choram e lamentam a escassez de homens, não dormem e passam fome de amor. Felizes são as que não têm falta de um varão devido aos feitiços que lançam sobre eles; usam magias para que seus homens lhes sejam fiéis. AVÔ MATERNO DE RAMI: A personagem aparece como lembrança na memória de Rami após a farsa da morte de Tony. Em uma conversa com o marido a protagonista do romance rememora as atitudes machistas e desumanas de seu avô materno para com sua esposa. O velho senhor tinha por costume beber muito e, quando bebia, gabava-se por ter uma mulher que era seu tambor. Dizia-se feliz por ter uma esposa para surrar.

BETINHO: Caçula dos cinco filhos de Rami. (...) Ao jogar uma pedra para pegar uma manga o menino quebra o vidro de uma carro e a mãe fica muito brava. Quando questionado sobre o ato o menino, com toda inocência e ternura, revela que só queria pegar uma manga! Rami ao ver-se sozinha e com aquele problema para resolver, percebe-se abandonada, sem apoio do esposo para cuidar dos filhos. A travessura do filho levou a mãe a refletir sobre a necessidade de mudar a direção de sua vida. CONSELHEIRA DO AMOR: Esta personagem se configura em uma mulher coberta por uma aura mágica, personificação da deusa Afrodite, deusa do amor e beleza da antiga Grécia. É uma mulher que encanta a todos pelos seus conselhos e sabedoria. Auxilia relações amorosas, em que o homem ou mulher se encontram perdidos no relacionamento. (...) A Conselheira ensina que o sexo é bom, e tanto a mulher como o homem devem frequentar uma escola do amor para serem felizes. (...) A Conselheira mostra para Rami um mundo de possibilidades na questão do amor, bem como em relação ao seu próprio corpo. Para a Conselheira, ensinar a amar a si como mulher é um caminho seguro para sentir-se realizada no amor. Amar a si mesma e sentir-se bela faz com o que os olhares masculinos se voltem para o amor. São as mulheres detentoras do poder de serem mães e fazerem fluir a vida em prazer dentro de si.

CONVIDADOS DO ANIVERSÁRIO DE TONY: Eram famílias do marido e da esposa, amigos, policiais, ministros, padrinhos, ministros amigos. Era a nata da sociedade ali reunida. Todos se apresentavam para o grande evento, o aniversário de cinquenta anos de Tony. CUNHADAS DE RAMI: Estas mulheres aparecem no momento da suposta morte de Tony na casa da viúva maior, da rainha das mulheres, Rami. Não são individualizadas, somente denominadas cunhadas. ESPELHO: Rami em certo momento de sua vida se vê sozinha e desamparada pelo marido, neste instante ela encontra um companheiro, seu espelho, um personagem constante no romance. (...) Ao deparar-se com o Espelho e sua imagem, a protagonista sente que aquela mulher não é ela. Há neste instante uma busca pela identidade perdida, ali, no Espelho, a Rami, amargurada quer ser a Rami de antigamente bela e formosa. (...) Os diálogos estabelecidos com este personagem, tão peculiar em contos de fadas, são inundados com emoções.

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e, principalmente, é a única que não depende financeiramente de Tony. Mulata bonita, nascida e criada no norte, é tratada de modo diferente na cultura moçambicana, visto que não é negra e nem branca. Para as mulheres negras, as mulatas são uma ameaça sem precedentes, já que possuem a pele mais clara. É tida como a única mulher a qual uma negra não pode competir, pois é carne clara. Eva é abandonada pelo marido por ser estéril e sem condições de procriar, propósito pelo qual a mulher existe no mundo, segundo o patriarcado. É divorciada, situação excludente na sociedade, é uma coitada, pois não tem marido, como aponta a narrativa. Assim é descrita no romance. GABY: Entra na história em um momento decisivo, visto que Tony manifesta o desejo de divorciar-se de Rami. (...) Após voltar de viagem, bem vivo, ele explica para suas mulheres que Gaby é uma simples amiga, e afirma não ter nenhum envolvimento amoroso entre eles. Diz, ainda, que não quer nada com ela, pois não a ama, é só uma amizade inocente.

IRMÃ MAIS VELHA DA MÃE DE RAMI: Tia de Rami. Após ser cruelmente surrada pelo marido, uma das tias de Rami, a irmã mais velha de sua mãe, volta para a casa dos pais, conforme ordenou o esposo. O motivo de ter sofrido a violência? Deixou o gato comer uma moela de galinha. E por que tanta raiva? Faz parte do costume africano destinar este pedaço do frango ao homem, o chefe da família. Totalmente enfurecido e sentindo-se desrespeitado pela esposa, o esposo não acredita na história da mulher e julga que a própria comeu o pedaço desejado. Assim, ele a surra e a manda de volta ao lar materno para ser reeducada. Por causa de um simples pedaço de moela, a irmã mais velha da mãe de Rami, que não tem mais direito nem ao próprio nome, sai sozinha, à noite, em direção ao lar paterno, localizado a mais ou menos dez quilômetros de sua casa, sem saber que caminha rumo à morte. No meio do caminho é surpreendida por um leopardo, que a devora.

JULIETA: É a segunda mulher do Tony e a primeira rival de Rami. É denominada pela rival como “a enganada”. Julieta é acostumada com a poligamia devido à sua cultura, ela tem seis filhos com Tony, o mais velho tem dezenove anos. É a mais nova e a mais bonita, porém, também é mais sofrida. É uma mulher muito bela, mas sem encanto nenhum. Quando Rami conhece Julieta, a rival está à espera do sexto filho com Tony.

LADRÃO: Entra na história quando Rami procura o Mercador da Sorte para lhe ensinar um feitiço para conseguir Tony de volta. Como não aceita as sopas mágicas propostas pelo Mercador, pensa então em um

milagre. Acredita em milagres, lembra-se do ladrão no dia em que ele roubou uma loja. Ela não viu os acontecimentos, somente viu o ladrão algemado e a destruição que causou. O meliante tinha o propósito de roubar a loja; entretanto, quando se aproximava da porta ele engordava, ao se distanciar emagrecia. Tentou várias vezes até enlouquecer, chorar e ser preso. Rami pensa na situação e acredita na intervenção divina para ajudá-la em seus problemas conjugais.

LEVY: Irmão de Tony, com ares de nobreza, assim o descreve Rami para Eva. Descreve-o antes de ser chingada pelo mais belo exemplar de homem na terra. Levy foi o escolhido para ser o purificador sexual da viúva do irmão e mostra-se ansioso para tomar a cunhada em seus braços durante a cerimônia de kutchinga. LUÍSA: Terceira amante de Tony, com o qual possui dois filhos, é denominada por Rami como a mulher desejada. (...) É fogosa, transborda vida e sensualidade das mulheres nortenhas. Mulher elegante e bem vestida, geralmente usa as cores do norte ao vestir-se. Rami a descreve com ricos detalhes, visto que se impressionou com a beleza da rival. Segundo Rami, ela tem uma voz suave e a pele perfumada, além disso, seus cabelos são desfrisados e fartos. Ela é uma pessoa franca e não usa de falsos argumentos para colorir a verdade; fala com sinceridade sobre todos os acontecimentos. (...) Quando pequena, Luísa, sofreu um estupro. Ainda menina sofre as dores de ser violentada, rasgada em seu íntimo, chora a sua aflição sozinha. A solidão, a tristeza, a agonia interior de Luísa não impedem sua mãe de proporcionar outra agressão à filha: a velha senhora a entrega em casamento a um velho da zona. Em troca da filha a mãe recebe uma manta de algodão para os irmãos. (...) Cansada da vida que levava, foge do velho e acaba se encontrando com Tony em uma esquina da cidade, o qual rapidamente trata de fazer dela sua amante.

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MARCOS: Segundo marido de tia Maria e pai de suas filhas. Casou-se com ela quando seu primeiro esposo, o rei, faleceu, Marcos a deixou algum tempo após o casamento. Saiu pelo mundo, trabalhou carregando sacos e dormiu em lugares sombrios. Foi um homem que viveu em meio aos excluídos da sociedade. Quando finalmente arrumou um trabalho melhor nos subterrâneos do ouro, na África do Sul, de tanto trabalhar ficou com os pulmões dourados, e logo passou a sentir o gosto do sangue em sua boca, e não mais o da saliva como conta tia Maria no romance. Após contrair “silicose”, doença adquirida por meio da ingestão de sílica – uma das doenças pulmonares mais antigas e mais graves existentes no mundo – ele é deportado. É insinuado na narrativa que o ex-marido de tia Maria era homossexual. Para ela, ele não era nada mais do que um homem devasso. Tia Maria conta que Tomás, seu novo marido após a fuga de Marcos, acolheu-o quando voltou para casa, adoecido. A partir deste momento passa a morar na mesma casa em que vivem Tia Maria e Tomás.

MAUÁ SUALÊ: Quinta esposa do Tony. Tem a mesma idade da terceira filha do esposo de Rami, é praticamente uma criança ainda, deve ter quase dezenove anos. Mauá é extremamente apaixonada por Tony, como nos aponta a narrativa, e vive sempre junto dele. Ela acha que não tem jeito para fazer nada, nem pensa em trabalhar, porque não tem estudo e não sabe fazer nada. Como boa nortenha que é, aprendeu somente a arte de amar e agradar ao seu homem. Para Tony, ela é o seu franguinho, uma doçura, porque passou por uma escola de amor. Mauá tem a cultura do norte e por isso é mais alegre e mais humana. Veste-se de cores e de fantasia.

MERCADOR DA SORTE: Um homem sem descrições físicas, mas com grande sabedoria na ciência e na magia. Mediante um bom pagamento ensina às mulheres os encantos mágicos para trazerem de volta seus homens que por ora estão nos braços de outras.

MULHERES DO MERCADO: Quando Rami e Luísa vão ao mercado de esquina vender roupas, encontram-no cheio de mulheres. Falam alto, gritam à caça de clientes, quando o movimento declina, elas se reúnem em rodas e dividem suas “histórias de amor”. Os seus relatos são, de uma modo geral, sobre o abandono das mulheres deixadas à própria sorte, havendo apenas uma ou duas que descrevem viver uma boa vida. O que predomina são os casos de mulheres abandonadas pelos maridos, os casos de pedofilia, os de estupro, os de violência doméstica, os de esterilidade, os de traições e os de doenças.

MULHERES DO SUL: Aparecem em momentos de descrição feitos pelas mulheres do norte. Para as nortenhas, as mulheres do sul são frouxas e frias, afinal,

ao contrário das nortistas, as sulistas não são vaidosas, usam roupas de cores frias. Este modo de vestir as deixa com o rosto triste e sofrido. Os homens do norte, no entanto, já gostam das mulheres do sul porque, ao contrário das mulheres de sua região, as do sul são servis. Eles ficam encantados pela obediência aos esposos, e também pela beleza natural que elas possuem. Por não gostarem de usar maquiagem e se apresentarem com os cabelos sem desfrisar, os homens do Norte se encantam por elas, segundo a narradora. As mulheres do sul são submissas ao marido, como ensinadas desde pequenas, sofrem caladas. Embora só sejam partilhadas com irmão de sangue ou de circuncisão do esposo, se este for estéril, vivem casamentos infelizes, nos quais os maridos, além de ausentes, procuram constantemente o prazer nos corpos e nas relações sexuais com outras mulheres, afinal, suas esposas, as mulheres do sul, servem apenas para reproduzir.

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castigada e penalizada, assim como aconteceu com a própria filha do Rei, a princesa. No entanto, ao visualizarem a imagem de Vuyazi, as mulheres costumam vê-la como uma heroína que lutou pelos direitos de igualdade e pela justiça entre os gêneros, e não como uma mulher desobediente, um exemplo a não ser seguido. POLÍCIA: Jovem oficial da polícia chamado, pelos vizinhos de Luísa, para apartar a briga entre ela e Rami. Prende as duas mulheres, acusando-as de perturbar a ordem pública em função de seus gritos e de suas agressões físicas de uma para com a outra no meio da rua. Joga-as em uma cela pequena, fedida, quente e repleta de mulheres. Ele trata as esposas de Tony com desdém, e afirma que se brigaram por causa de homem são arruaceiras, afinal, mulheres casadas não brigam no meio da rua. O policial fica perturbado ao saber que Rami é esposa de seu superior, António Tomás, porém não perde sua postura arrogante, e afirmar que se o marido arranjou outra mulher, é porque a esposa não o satisfaz. PROPRIETÁRIO DO CARRO: Homem que tem o vidro do carro quebrado por Betinho. Embora fique muito enraivecido por conta do ocorrido, conversa com a mãe do menino com muita educação.

RAMI: Narradora, protagonista da história. Seu nome verdadeiro é Rosa Maria. É uma mulher do sul, educada, bela e inteligente que durante a juventude foi amada e disputada por vários homens. Ela causou paixões arrebatadoras, mas escolheu casar-se com Tony, seu marido. Ela se acha a mulher mais perfeita e dedicada do mundo, pois sacrificou seus projetos de vida para ver o esposo realizar os seus. Ama e respeita incondi -cionalmente o marido, orgulha-se de nunca tê-lo traído ou pensado se quer em deitar-se com outro homem. (...) Rami, como fora apelidada, chora constantemente as ausências do marido. Ela sempre vai ao espelho, seu companheiro de conversas e conselheiro para desabafar. Ao olhar-se, vê no espelho o reflexo de uma mulher sofrida, dura e cheia de olheiras de tanto chorar. Ao olhar novamente, vê sua “gêmea” no lugar de sua triste imagem. (...) Rami desconhecia o poder de sedução de uma fêmea, por pertencer a uma família cristã, que coloca todas as armas de poder feminino em desuso por ser pecado. Associam a beleza e a sedução aos recursos usados por Eva, no paraíso, para enganar Adão e obter a desejada liberdade do conhecimento. A África cristianizada ensina às suas filhas a se esconderem e, principalmente, a se manterem mortas para o sexo. (...) Ela foi educada com os costumes das mulheres europeias. Antes de casar aprendeu a cozinhar bolinhos dos anjos, a bordar e a ter boas maneiras; enfim, foi ensinada a comportar-se como uma dama europeia. No entanto, para uma mulher africana

estes ensinamentos não são importantes, o que é relevante são os segredos do amor, os quais as fazem prender os maridos em seus braços.

SALUÁ: Escolhida a dedo pelas mulheres de Tony, seria sua última esposa para o velho marido, porém ele a rejeitou. Menina bonita, de dezoito anos, possuía todas as qualidades e o perfil de uma boa mulher para casar-se com ele. Era uma mulher do norte, portanto vaidosa e bem cuidada. Quando Tony a viu ficou impressionado: a garota era extremamente bela. Mesmo com tanta beleza ele a rejeitou. Argumentou que não queria mais casar-se. No fundo ficou com medo de não poder satisfazê-la, pois era jovem e possuía toda disposição do mundo, enquanto Tony, no alto de seus cinquenta e poucos anos, já estava velho e acabado.

SALY: Quarta amante de Tony. Saly é maconde, de outro povo do norte, de Cabo Delgado. Mulher irritante e provocante, que gosta de uma boa briga. Tenta roubar Tony de Luísa a todo custo e ainda a agride com todo o tipo de violência. Também dá uma surra em Rami, a primeira mulher do amante. Tem dois filhos com Tony. O amante os trata com desprezo, assim como faz com os outros filhos. Só vê os rebentos rapidamente sem oferecer nenhum carinho ou amor. Dinheiro também só dá as migalhas. Saly insiste em dizer que ele a fez muito feliz e mendiga o seu amor, mesmo estando com António somente uma vez por mês. (...) Saly encontra um padre italiano, que por amor a ela, deixa a batina para poder casar-se com aquela que o marido não apreciava. Todas as mulheres de Tony celebram a felicidade de Saly. Juntas repartiram o mesmo pão seco, agora compartilham a alegria de serem independentes.

SOGRA DE RAMI: Mãe de Tony. Descrita como uma viúva frágil, brava e enérgica, é profundamente apaixonada pelo filho, o marido de Rami. Uma mulher altamente respeitável, que, de certo modo, inspira temor na sua nora, a qual tem a obrigação de respeitá-la, segundo manda a tradição. (...) A Sogra de Rami é de procedência cristã, mas acaba deixando a voz da África falar em seu interior: diz sim à poligamia, mas acima de tudo defende a justa poligamia que favorece a mulher, a mãe criadora na terra, descrita nas linhas mitológicas das histórias orais africanas.

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TOMÁS: Personagem narrado por tia Maria. Casou-se com ele após ser abandonada por Marcos, junto com suas duas filhas. Tomás é um bom homem, pois cuida dela com carinho e a ajudou a criar suas filhas. Recolheu Marcos, muito enfermo, em sua casa após seu retorno da África. Os três têm um relacionamento amigável. Tomás e Marcos se tornaram almas gêmeas como conta tia Maria. Existiam até comentários de que os dois se gostavam e tinham um relacionamento sexual. Tia Maria deixava o mundo falar sem importar-se com os comentários maliciosos dos outros, afinal de contas, era feliz em seu casamento a três.

VELHAS DAMAS: No ciclo dos lobolos são elas que ensinam os velhos costumes para as velhas mulheres de Tony. São descritas como uma porção de pássaros: falam, falam e falam, com suas vozes mórbidas. Destilam conhecimentos de humilhações para as mulheres: devem servir seu homem de joelhos, aos homens se servem os melhores pedaços de carne. Criticam as mulheres modernas que não se empenham em alimentar bem seus esposos, dando-lhes comidas guardadas na geladeira.

VELHO CASAL: Aparece sugestivamente logo nos capítulos iniciais apontando para o tratamento reservado à mulher nas culturas patriarcais. (...) O velho está muito doente e a esposa, já idosa também, o acompanha em uma consulta. Quando o médico está a consultá-lo, a mulher, solícita, começa a descrever o estado de gravidade do esposo. Recuperando as forças, o velho ouve a mulher falando com o médico e sem hesitar começa a gritar com a velha senhora, ordenando que se cale. Grita que nunca permitiu a ela dirigir a palavra a nenhum homem. Não contente pelos insultos já proferidos, desconsidera-a dizendo que ela não possui categoria para se dirigir a um médico. A mulher simplesmente olha para ele e diz que já o aguentou muito e vai embora sozinha.

VÍTOR: Também chamado de Vito ao longo da obra. Homem do Sul, de origem machangana, bonito, afável e sério, é amante de Luísa. Conhece a bela mulher, quando ela vaga sozinha na noite, repleta de sangue e hematomas. Tony, seu amante, a tinha espancado grávida, prestes a dar à luz. Vítor, compadecido pelo estado da desconhecida, a leva para o hospital, salvando ela e o bebê. Vítor foi um marido ruim para sua esposa, espancava, traía e não lhe oferecia amor. Um dia bateu nela grávida e ela foi embora, tempos depois ela se casou com outro. Desta forma, o homem aprendeu que uma mulher se deve tratar com amor, carinho e respeito.

VIZINHOS DA LU: Presenciam a luta entre Luísa e Rami. Enquanto alguns, assustados, chamam a polícia, outros incitam a briga. Os homens, principalmente, ficam aos berros, instigando uma contra a outra. Divertiam-se com a situação: duas mulheres brigando por causa de um homem em pleno dia, no meio da rua.

VIZINHAS DE RAMI: Faladeiras e companheiras na dor de Rami. Contam histórias dos filhos, dos amores perdidos, dos sofrimentos e dos maridos que as deixam por mulheres mais novas. Estão sempre à procura de bisbilhotar as vidas das outras.

5. BREVE ANÁLISE DO ROMANCE 5.1 A poligamia e as mulheres moçambicanas

Quarto romance de Paulina Chiziane, Niketche, uma história de poligamia, tem um enredo em torno da tradição da poligamia avaliada a partir de um olhar feminino moçambicano.

Moçambique, um país caracterizado por imensa diversidade social, cultural, religiosa e étnica, foi colonizado por portugueses e alcançou sua Independência em 25/6/1975. O clima do país é tropical e sua divisão administrativa compõe-se de dez províncias: Niassa, Cabo Delgado, Nampula do Sul, Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Inhambane, Gaza e Maputo do Sul.

Cerca de dezesseis milhões de mulheres compõem a sociedade moçambicana, a maioria pertencendo à zona rural, sendo-lhes a fonte de renda decorrente de setores informais, seja no meio rural ou urbano.

A diversidade cultural de Moçambique divide-se entre a tradição do Sul do país, região de valores patriarcais, em que a mulher é considerada submissa ao poder masculino, e a do Norte, onde a maioria das cidades são matriarcais e a figura feminina é tida como indivíduo que merece respeitabilidade, possui voz ativa e é valorizada por sua beleza e sensualidade.

A poligamia também é vista de maneiras distintas no país, embora a sociedade pregue a monogamia de valor ocidental. No Norte de Moçambique, a poligamia, de influência muçulmana, destaca-se entre o povo macua, e, no Sul do país, de formação católica, prega-se a monogamia, embora os homens casados mais ricos tenham diversas mulheres.

Quanto ao comportamento das mulheres do Norte e do Sul de Moçambique, ele apresenta diferenças de ordem cultural: no Norte, por exemplo, a mulher destaca-se pela vaidade e sensualidade como uma das principais manifestações de feminilidade; já as mulheres do Sul têm seus desejos de beleza cerceados.

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ordem católica por que passou Moçambique, mas, também, pode ser associada a outros elementos culturais que, amalgamados com os europeus, fazem do país uma pátria multifacetada: convivem a Língua Portuguesa e as Línguas locais, o patriarcalismo e o matriarcalismo, o marxismo e o capitalismo, a monogamia e a poligamia, a formação muçulmana e a cristã.

A situação da mulher parece ser a preocupação central de Paulina Chiziane que relata as dores, a solidão, a infelicidade, as faltas de espaço e de liderança, o sentimento de impotência e a submissão feminina, fortalecendo a ideia de que, embora Moçambique tenha conquistado sua independência, a mulher moçambicana está muito distante de consegui-la.

Assim, a autora revela o mundo interior da mulher e seus sentimentos ocultos por meio da atribuição da voz narrativa à figura feminina, explorando a força que a faz lutar pelo seu reconhecimento social e papel importante na formação da identidade de Moçambique.

Embora, na cultura moçambicana, a mulher tenha sua importância como símbolo de fertilidade, a divisão social, a opressão e dominação que a vitimizam (e, também, as mulheres de outros diversos espaços mundiais) são retratadas na obra Niketche, uma história de poligamia, sob o estigma do desprezo, da obrigatoriedade do trabalho no lar e na criação dos filhos, da violência e rebaixamento moral.

As personagens femininas da obra metaforizam a trajetória da mulher moçambicana em uma luta contínua de equilíbrio moral, econômico e, principalmente, psicológico, dentro de valores e padrões estabelecidos pelo machismo e patriarcalismo imperantes em Moçambique. Por sua vez, o convívio com a prática da poligamia, de que trata o romance, permite a Paulina Chiziane um leque de constatações a respeito do papel da mulher numa sociedade de valores cristãos ocidentais e culturais africanos, não havendo condenação imparcial da prática poligâmica masculina, mas um forte debate com relação a ela.

Acrescente-se também que a valorização da figura masculina comprova o machismo hegemônico em Moçambique, sendo ele, de certa forma, autorizado e cultuado pelas mulheres, contradição aparente, uma vez que, dentro da cultura africana, a poligamia é admitida como uma forma de segurança das mulheres que não conseguem um casamento monogâmico e, por isso, submetem-se à dominação de homens casados legalmente e que lhes sustentam um lar e filhos, mesmo que preca -riamente e de forma insegura.

Destaque-se que o direito à poligamia é apenas masculino. Às mulheres é vetada a opção de partilharem seus corpos com outros homens, sendo obrigadas a suportarem humilhações e maus-tratos, rebaixadas, muitas vezes, à condição de mercadorias. Na região Norte de Moçambique, por exemplo, é considerada normalidade a

entrega da esposa a outro homem e, no Sul, em casos de esterilidade masculina, ser ela partilhada com um homem que lhe possa gerar filhos.

O medo de perder o homem é frequente nas mulheres moçambicanas, sejam elas esposas ou amantes e, para evitar o possível abandono, elas se valem de mecanismos variados para a manutenção da figura masculina em seus lares. Exemplo disso são as simpatias, tatuagens, alongamentos genitais, rituais, escolas de amor, técnicas múltiplas de que as mulheres lançam mão para não serem abandonadas pelos seus homens.

Os ritos de iniciação também são valorizados, principalmente no Norte moçambicano, como instituições de aprendizado de atividades sexuais garantidoras da conquista de um marido ou de um amante.

Niketche é, para além de ser apenas o título do romance, um desses aprendizados, uma dança de erotismo e amor, comum na Zambézia e em Nampula, no Norte de Moçambique, que marca a iniciação sexual da mulher e sua capacidade de fertilidade, uma espécie de rito de passagem da infância para a fase adulta feminina, garantidor da atividade sexual, representando a morte da menina e o renascimento dela como mulher.

A submissão da figura feminina à obrigatoriedade do exercício sexual atravessa a vida da mulher em Moçambique até mesmo em casos de viuvez. O Kutchinga é um ritual de seis dias consecutivos em que uma viúva é purificada dos maus espíritos do marido morto por meio de atividade sexual com um familiar próximo a ele. É uma purgação que envolve o sofrimento físico, perda de valores materiais e da beleza feminina, como o corte dos cabelos e a retirada de roupas extravagantes, garantindo-se a mulher como propriedade masculina mais uma vez. 5.2 Características do estilo narrativo de Paulina

Chiziane

Niketche, uma história de poligamia é um romance

narrado em primeira pessoa por Rami, personagem protagonista, que interfere na história por meio de digressões frequentes, opiniões contundentes, questio -namentos, conversas com o leitor e intensas metáforas, procurando a narradora elucidar suas angústias e dramas existenciais, denunciando a violência de que a mulher moçambicana é vítima.

Em sua trajetória, Rami é a heroína do romance se considerarmos que, no final da narrativa, a punição de seu algoz e a conquista da liberdade de um casamento poligâmico, denunciando as agruras sofridas pela mulher condenada à submissão de ser explorada pelo homem, são realizadas.

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moçambicana, onde, ao lado da Língua oficial, o português, as línguas maternas são também empregadas. A oralidade se manifesta por meio das diversas vozes (polifonia de Bakhtin) articuladoras de discursos subje -tivos das mulheres que procuram por sua identificação social, embasadas num processo de aprendizagem liderado por Rami.

As diferenças de linguagem e de discurso são marcadamente apresentadas nos diálogos das esposas de Tony, as quais simbolizam a diversidade cultural de Moçambique, uma vez que cada uma delas tem suas origens em espaços diferentes do país. As conversas entre Rami e as demais mulheres da narrativa veiculam confissões de violência e de impotência das quais elas são vítimas, registrando as diversas desigualdades sociais da mulher moçambicana por meio da oralidade, mecanismo de comunicação imperativo na África.

A estrutura poética de Niketche, uma história de

poligamia caracteriza um experimento linguístico estético

da autora, numa ruptura com as formas tradicionais das narrativas consagradas na literatura de Moçambique. Além disso, o romance é permeado por micronarrativas, fábulas, intertextualidades e narrativas orais que aproximam Paulina Chiziane da “contadora de histórias”, conforme ela se auto classifica, mas que se vale do registro escrito para a manutenção concreta da oralidade moçambicana, bem como da diversidade cultural e histórica do país.

O próprio título do romance resgata a cultura de Moçambique (Niketche, a dança da sexualidade e fertilidade, e a poligamia), metaforizando a dança para a nova vida da mulher que, no contexto da obra, assume uma ressignificação do sentido original, isto é, passa a ser a dança das mulheres em torno das amarras a que são submetidas pelo machismo em voga.

Paulina Chiziane recorre frequentemente a conversas com o leitor, chegando a pedir opiniões dele a fim de propiciar uma reflexão do destinatário e convidá-lo a participar da narrativa como agente e testemunha do que é narrado:

Ela fala-me do alto da catedral por ser mais amada do que eu. Eu sofro, quase que morro, como se ela estivesse a meter-me uma tesoura de aço na raiz do meu coração. Vocês sabem o que dói ser tratada com altivez por quem vos rouba o marido? Eu não vou deixar-me rastejar diante de uma ladra sentimental, não posso. Ela é uma mulher, eu também sou. Tenho fogo no corpo, vou libertá-lo, tenham a santa paciência. Vou fazer a prova dos nove e saldar esta conta, olho por olho, dente por dente (Niketche, uma história

de poligamia, 2021, p. 19).

Vale ressaltar que, em muitos momentos, o romance é construído por fortes ironias da narradora, como, por exemplo, a reunião das mulheres de Tony num processo

de vingança à sua dominação e ao seu comportamento polígamo, fazendo cumprir suas obrigações de marido, econômica e sexualmente, que exaurem Tony, tornan -do-o vítima de sua própria atividade poligâmica, transformando-se de dominador em dominado, o que confere uma espécie de humor ao romance e configura a moralidade do livro.

A própria epígrafe, um provérbio zambeziano,

Mulher é terra. Sem semear, sem regar, nada produz,

mote do romance, é de tendência moralizante, prefigu -rando a função feminina na sociedade moçambicana e estimulando uma interpretação consciente dos novos papéis da mulher no país, no que concerne à atuação política, econômica e cultural, a partir das retomadas que a autora faz de provérbios ao longo da narrativa:

— Isso tudo é conversa, xingondos desgraçados. Vocês investem nas mulheres? Que tipo de investimento?

—Investimos, sim. Porque a mulher é terra. Sem adubar, sem regar, ela nada produz. Enquanto vocês batem nelas, pisam nelas, nós as enfeitamos, amamos e cuidamos como plantas do mais belo jardim (Niketche, uma história de

poligamia, 2021, p. 181).

(...) O coração do universo inteiro palpita no ventre de uma mulher. Toda a mulher é terra, que se pisa, que se escava, que se semeia. Que se fere com pisadas, com pancadas, com socos e pontapés. Que se fertiliza. Que se infertiliza. A mulher é a primeira morada (Niketche, uma

história de poligamia, 2021, p. 240).

A abertura por meio de provérbio é uma das marcas da intertextualidade recorrente ao longo do romance. A Bíblia é também citada por meio de uma alegoria associada à ideia positiva de poligamia:

– Cada tempo a sua história – diz ela. – A prosperidade mede-se pelo número de propriedades. A virilidade pelo número de mulheres e filhos. Um grande patriarca deve ter várias cabeças sob o seu comando. Quando se tem poder é preciso ter onde exercê-lo, não é assim? Abraão, Isac, Jacob, foram polígamos, não foram? Os nossos reis antigos também o foram e ainda são. Que mal é que há? Na bíblia, só Adão não foi polígamo. (Niketche, uma história de poligamia, 2021, p. 64)

Mas, a intertextualidade dominante na narrativa vincula-se ao diálogo com o conto Branca de Neve e os

sete anões. Paulina Chiziane parodia a história dos irmãos

Grimm, intensificando os questionamentos de Rami frente ao espelho, confrontando a narrativa maravilhosa com a vida infeliz da narradora.

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vive. As respostas do espelho impulsionam Rami à revelação de sua própria identidade, trazendo-a do mundo da fantasia em que estava inserida, para a realidade cruel que lhe é imposta. A vaidade da rainha do conto infantil converte-se na observação do rebaixamento visual em que Rami se encontra, já que não vê mais no espelho a beleza da juventude feliz que tinha.

Enquanto a rainha descobre no espelho, a existência de uma donzela mais linda do que ela, o que caracteriza a honestidade do objeto mágico, Rami conhece por meio dele a consciência de quem ela realmente é: uma esposa abandonada pelo marido envolvido com outras mulheres mais jovens

O espelho é zombeteiro em relação a Rami e não submisso como o espelho de Branca de Neve e os sete

anões, que apenas responde aos questionamentos estéticos

da rainha sem se intrometer diretamente em sua identidade psicológica, além de que o espelho de Rami reflete a sua própria imagem viva enquanto o da rainha tem uma imagem individual distinta do reflexo da personagem que nele se mira.

Vejamos uma passagem da conversa de Rami e o espelho:

— Quem és tu? — pergunto eu.

— Não me reconheces? Olha bem para mim. — Estou a olhar, sim. Mas quem és tu? — Estás cega, gémea de mim.

— Gémea? Não sou gémea de ninguém. Dos cinco filhos da minha mãe, não há gémeo nenhum. Estou diante do meu espelho. Que fazes tu aí?

— Estás cega, gémea minha. Por que choras tu? Solto da boca uma enxurrada de lamentos. Conto toda a tristeza e digo que as mulheres deste mundo me roubam o marido.

— Pode-se roubar uma pessoa viva, ainda por cima um comandante da polícia?

— Um marido rouba-se, nesta terra.

— Não sejas criança, gémea minha. Ele cansou-se de ti e partiu.

— Mentes!

Entro em pânico. Enquanto eu soluço a imagem dança. Paro de soluçar e fico em silêncio para escutar a canção mágica desta dança. É o meu silêncio que escuto. E o meu silêncio dança, fazendo dançar o meu ciúme, a minha solidão, a minha mágoa. Aminha cabeça também entra na dança, sinto vertigens. Estarei eu a enlouquecer? — Por que danças tu, espelho meu?

— Celebro o amor e a vida. Danço sobre a vida e a morte. Danço sobre a tristeza e a solidão. Piso para o fundo da terra todos os males que me torturam. A dança liberta a mente das preocupações do momento. A dança é uma prece. Na dança celebro a vida enquanto aguardo a morte. Por que é que não danças? (Niketche, uma

história de poligamia, 2021, p. 14, 15).

Dois espelhos diversos sendo o dos irmãos Grimm o da idealização e o de Niketche, uma história de poligamia, o da crítica. A semelhança entre a imagem refletida no espelho e Rami é, no entanto, apenas física e não comportamental, caracterizando-se o objeto mágico como uma espécie de conselheiro, de psicólogo da narradora, muito claro e sincero em suas pontuações.

Pode-se notar também intertextualidade com o espelho de Alice através do espelho, de Lewis Carol, pois, nas duas obras, as travessias proporcionadas pelos objetos mágicos estão repletas de questionamentos e descobertas das identidades formadoras do caráter das duas personagens, promovendo um mergulho no mundo interior de cada uma delas.

Desse modo, o espelho de Rami é seu melhor amigo, pois reflete uma imagem desconhecida pela narradora, contemplando seu duplo, uma estranha que era a partir dela mesma, mas que lhe estende a mão solidária e salvadora, companheira e amiga.

Psicologicamente, as conversas com o espelho em

Niketche, uma história de poligamia, permitem o contato

entre o consciente e o inconsciente de Rami, além de representarem a alma exterior e a interior da protagonista, causando, paradoxalmente, medo e segurança na personagem.

O receio se desencadeia em Rami por descobrir um eu que desconhecia, causador de inquietações e dúvidas comportamentais. A segurança resulta das reflexões que proporcionam a compreensão da necessidade de agir ressignificando sua existência.

O comportamento submisso de Rami encontra na lenda de Vuyazi, ou mito da princesa insubmissa, força para superação, já que a narradora se espelha nas atitudes da deusa, identificando-se com a necessidade de lutar pelos seus direitos e por sua felicidade, além de questionar a obediência desejada no contexto poligâmico, no qual o poder é unicamente masculino.

Para Rami, e não só para ela, a lenda de Vuyazi representa a libertação feminina, uma vez que o mito simboliza a resistência da mulher.

5.3 Rami: de submissa a subversiva

Rami, personagem principal e narradora, criada conforme o catolicismo europeu colonizador, é uma mulher infeliz amorosamente, submissa inicialmente aos dogmas da monogamia que lhe foram impostos, além de representar ficcionalmente uma imensidade de mulheres moçambicanas.

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A protagonista dialoga consigo mesma a partir da perspectiva de seu outro eu, seu duplo, manifestado, principalmente, no espelho, encontrando nele aquela mulher que já foi feliz no passado. No desejo de ser amada e tratada gentilmente pelo marido, Rami se submete ao sistema imposto pela sociedade moçambicana, represen tando as mulheres de Moçambique vítimas do desprezo e do obscurecimento na sociedade.

Rami experimenta uma viagem de iniciação do reconhecimento de sua importância como mulher, atravessando as diversas manifestações culturais de seu país, de Norte a Sul, por meio do contato com as outras amantes de seu marido Tony.

Uma das surpresas desagradáveis experimentadas pela narradora é a descoberta da pobreza material e do abandono de suas antagonistas, situação essa que as leva a aceitarem o relacionamento com Tony que, de certa forma, garante-lhes segurança econômica.

Mesmo sem permissão para ter voz ativa, Rami torna-se a heroína que redimirá todas as demais amantes de Tony e imputará a ele sofrimento e arrependimento no final da narrativa, vingando o contexto precário em que vive e, também, o das demais mulheres de seu marido, as quais são orientadas por Rami quanto à maneira de tratá-lo, como são seus hábitos alimentares e sexuais, sendo esse convívio transformado em forte amizade.

Inicialmente, ainda crendo na possibilidade de fazer Tony voltar para ela e tornar-se monogâmico, Rami faz um curso de aulas de sedução e amor, nas quais tem contato com diversos mecanismos mágicos de sedução, aos quais as mulheres do Norte de Moçambique são apresentadas na cerimônia iniciática do Niketche.

A transformação de Rami em ritmo ascendente faz com que ela questione as tradições moçambicanas determinadas às mulheres e, embora, no princípio, preze pela obediência ao marido, transforma sua existência, aliando-se às rivais agora tornadas amigas, conseguindo a elevação de sua autoestima e autossuficiência, descobrindo-se como mulher de valores a serem respeitados.

De princípio, Rami se posiciona contrária à poligamia em decorrência de sua formação católica, mas, depois, transforma a poligamia do marido em munição para a sua travessia de submissão para a subversão.

A humilhação que a narradora sofre ao ter dividido o marido com outras mulheres faz com que ela exerça sua autoridade feminina e erga-se do limbo em que se encontra, transformando-se de mulher fraca, fragilizada pelos padrões concedidos à figura feminina, à comandante de sua própria vida.

Iniciando sua ação de revolta, Rami, primeiramente, volta-se contra suas rivais, mas, ao agredi-las, percebe que ataca a si mesma, já que as condições de vida são semelhantes, isto é, mulheres usadas por Tony em sua necessidade de confirmação de masculinidade, conforme as tradições moçambicanas.

A única diferença entre Rami e as outras mulheres de Tony é que ela é a esposa oficial, casada legalmente com ele, o que não lhe permite descer ao nível de amante e, por isso, talvez, ela se posicione como líder das demais na revolta contra o marido.

As reflexões de Rami quanto à condição feminina em Moçambique vão evoluindo ao longo da narrativa por meio de uma série de questionamentos quanto às práticas culturais limitadoras da ação e dos desejos femininos, concluindo que, embora haja diferenças étnicas e culturais, a solidão, o desprezo e o abandono são comuns a todas as moçambicanas. Madura e autônoma, no final da narrativa, Rami transforma o desconforto da poligamia e o dos fortes contrastes culturais em alimentos para a subversão. Exemplo disso ocorre quando Tony é dado como morto e a narradora percebe que o homem atropelado não é seu marido, mas deixa todos realizarem o funeral e os rituais do Kutchinga, pois sabe que ninguém ouviria dela a afirmação de que Tony não havia morrido no acidente.

A cerimônia Kutchinga permite a Rami o envolvimento sexual com Levy, irmão de Tony, após ela ter passado pela privação de sua beleza, de seus cabelos e de seus pertences, talvez sabendo que, por ocasião da suposta volta de Tony, ele se arrependeria de suas atitudes, tornando-se outro homem, o que parcialmente acontece.

A submissa Rami difere intensamente da subversiva Rami, a qual transforma suas múltiplas obrigações femininas na sociedade moçambicana numa forma de independência das amarras repugnantes à liberdade das mulheres do mundo todo.

6. BIBLIOGRAFIA

BONNICI, Thomas. O pós-colonialismo e a literatura: estratégias de leitura. Maringá: EDUEM, 2000. CHABAL, Patrick. Vozes Moçambicanas: Literatura e Nacionalidade. Lisboa: Veja, 1994.

CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania. Caminhos da ficção da África portuguesa. Revista Biblioteca Entre Livros – Vozes da África. São Paulo: Duetto, n. 6, p. 44-51, 2007.

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FERREIRA, António Manuel. Paulina Chiziane: a poesia da prosa. In: MIRANDA, Maria Geralda Miranda; SECCO, Carmen Lúcia Tindó (ed.) Paulina Chiziane: vozes e rostos femininos de Moçambique. Curitiba: Editora Appris, 2013. GONÇALVES, Adelto. O feminismo negro de Paulina Chiziane. In: Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a literatura moçambicana, de Rita Chaves e Tania Macêdo (organizadoras). Maputo: Marimbique Conteúdos e Publicações, 2012.

HAMILTON, Russel G. Niketche – a dança de amor, erotismo e vida: Uma recriação novelística de tradição e linguagem por Paulina Chiziane. In: MATA, Inocência; PADILHA, Laura Cavalcante (orgs.). A mulher em África: vozes de uma margem sempre presente. Lisboa: Colibri, 2007.

MUNANGA, Kabengele. O que é africanidade. In: Vozes da África – Biblioteca entre livros. Editora Duetto, edição especial nº 6, 2007.

Paulina Chiziane: vozes e rostos femininos de Moçambique. Curitiba: Editora Appris, 2013.

ROSÁRIO, Lourenço do. Moçambique: história, culturas, sociedade e literatura. Belo Horizonte: Nadyala, 2010.

1. A partir da interpretação do provérbio zambeziano, “Mulher é terra. Sem semear, sem regar, nada produz”, considere as afirmações:

I. “Semear” e “regar” vinculam-se à fertilidade, à procriação e à dependência femininas;

II. A referência à terra vincula-se metaforicamente à ideia de espaço, habitação e solo moçambicanos, como milagre da vida do país a renovar-se;

III. A ausência de possibilidade de procriação pode ser associada à infertilidade feminina.

Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, apenas. e) I, II e III.

Texto para a questão 2.

Não ter amor não é sina, é desastre. Aprende bem esta minha lição. O amor é um investimento. Nasce, morre, renasce, como o ciclo do sol. Olha, não diz que não te ensinei. O amor é o pavio aceso, cabe a ti manter a chama. Tudo o resto são truques, minha linda. Técnicas. Artimanhas. Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe nas curvas de uma mulher.

(Niketche, uma história de poligamia, 2021, p. 38.)

2. Os comentários da conselheira amorosa podem ser interpretados de duas maneiras distintas. Explique-as.

Texto para o teste 3.

Fizemos várias fotografias no portal da igreja. Sento-me na escadaria sozinha, para captar imagens da ocasião um, na máquina fotográfica dos meus olhos ponto choro ponto por mim ponto pelos milhões de mulheres que vagueiam náufragas na lixeira da vida.

(Niketche, uma história de poligamia, 2021, p. 252.)

A partir da interpretação do fragmento anterior, considere as afirmações:

I. Rami é porta-voz dos sentimentos femininos das mulheres moçambicanas;

II. A visão paralela ao processo fotográfico é um registro das lembranças de Rami;

III. A vida é metaforizada na lixeira onde as mulheres são colocadas de modo desordenado.

A partir da interpretação do fragmento apresentado, está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, apenas. e) I, II e III.

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1) Todas as afirmações apresentam interpretações possíveis do provérbio zambeziano de acordo com o enredo de Niketche, uma história de poligamia. Resposta: E

2) Os comentários, inicialmente, parecem valorizar a mulher na arte de seduzir, enaltecendo-lhe os aspectos físicos e fortalecendo a ideia de que é de responsabilidade feminina a manutenção do amor entre o casal. No entanto, a apresentação da mulher como uma espécie de feiticeira do amor feminino, no sentido de que só por meio de rituais mágicos ela seria capaz de controlar um homem, produz um rebaixamento da mulher. Ressalte-se que o fragmento revitaliza a ideia da “fêmea fatal”, perigosa e cheia de artimanhas na conquista sexual, desvalorizando-se a capacidade feminina de obter a felicidade conjugal por meios lícitos de sedução e amor.

3) Todas as afirmações apresentam interpretações possíveis do fragmento apresentado, conforme o enredo de Niketche, uma história de poligamia. Resposta: E

NIKETCHE, UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA

GABARITO

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