USO DO COLOSTRO BOVINO NO CONTROLE DE OÍDIO NA CULTURA DO QUIABEIRO

USO DO COLOSTRO BOVINO NO CONTROLE DE OÍDIO NA CULTURA DO QUIABEIRO

Luciane Reis Sales¹; Maria de Lourdes Resende¹; Ernani Clarete da Silva¹; Laís de Oliveira Avila Terra¹; Marco Antônio de Carvalho¹

¹Centro de Ciências Agrárias – Unifenas – Alfenas-MG; e-mail: luciane_lavras@yahoo.com.br;

mlourdesresende@bol.com.br;

RESUMO

O oídio (Erysiphe cichoracearum) é a principal doença foliar da cultura do quiabo (Abelmoschus esculentus), este fungo pode causar perdas significativas, pois afeta toda parte aérea da planta, sendo as folhas as mais afetadas. A produção orgânica tem tomado lugar de destaque no comércio de produtos agrícolas. O objetivo deste trabalho foi observar o comportamento do colostro bovino (secreção da glândula mamária extraída nos três a quatro dias após o parto, sem valor comercial e que garante a sobrevivência do bezerro nas primeiras semanas após o nascimento, fornecendo anticorpos) para controle preventivo desta doença como método alternativo. As avaliações foram realizadas em 2009 em folhas de quiabeiros da cultivar Santa Cruz 47 no Setor de Olericultura e Experimentação da Faculdade de Agronomia da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) 60 e 75 dias após a germinação das sementes. As aplicações de soluçõesw de colostro foram realizadas a cada 15 dias, iniciando-se 30 dias após a germinação das sementes. Os resultados obtidos, apesar de iniciais, mostram que foi possível controlar esse fungo em quiabeiro usando a estratégia de uso de colostro em concentrações elevadas. A incidência da doença, apesar de baixa, foi reduzida à metade com a solução a 54,3%, enquanto que com a maior concentração a

redução foi de 68,5%, mostrando que é possível combater esse fungo em quiabeiro usando a alternativa natural de colostro em concentrações mais elevadas.

PALAVRAS-CHAVE: Erysiphe cichoracearum, Abelmoschus esculentus, controle alternativo.

ABSTRACT

Okra powdery mildew control with bovine collustrum

The powdery mildew (Erysiphe

cichoracearum) is the main leaf disease of okra

(Abelmoschus esculentus). This fungus can

cause significant losses, because it affects

every aerial part of the plant, being the leaves

the most affected. The organic production has

been taking a prominence place in the trade of

agricultural products. The objective of this work

was to observe the behavior of the bovine

collustrum (secretion extracted of the mammary

gland in the three to four first days after the calf

birth, without commercial value and that

guarantees the survival of the calf in the first

weeks after the birth, supplying antibodies) for

preventive control of that disease as an

alternative method. The evaluations were

accomplished in 2009 in okra plants leaves of

cultivar Santa Cruz 47 in the Vegetable Garden

and Experimentation Department of the

Agronomy Faculty of José do Rosário Vellano

(UNIFENAS) University 60 and 75 days after

INTRODUÇÃO

O quiabeiro é uma hortaliça originária da África, e foi introduzida no Brasil pelos escravos.

É cultivada em quase todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo. No Brasil, o quiabo não consta entre as hortaliças de maior importância econômica, mas é muito popular, estando sempre presente em todos os mercados e feiras. O quiabo pode ser utilizado em vários pratos típicos da região (Massola & Bendendo, 1997).

O oídio (Erysiphe cichoracearum) é a principal doença foliar da cultura do quiabo, podendo causar perdas significativas, pois afeta toda parte aérea da planta, sendo as folhas as mais afetadas (Massola & Bendendo, 1997).

Geralmente, encontra-se presente, no campo, durante todo o ano, mas os maiores danos são observados quando as condições climáticas estão associadas à baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas. O controle desta doença é difícil devido ao ciclo longo do quiabeiro, fazendo-se necessário um número elevado de aplicações de fungicidas (Massola & Bendendo, 1997).

A produção orgânica tem tomado lugar de destaque no comércio de produtos agrícolas em geral ( Bettiol & Tratch, 1997). O uso do leite de vaca para controle do oídio constitui-se em uma alternativa em substituição ao controle químico convencional para produtores de hortaliça, segundo Bettiol (2004), Broek et al. (2002) e Passos et al. (2004). Há disponibilidade do produto em Minas Gerais, uma vez que as microrregiões mineiras, Varginha, Passos, Santa Rita do Sapucaí, Lavras e Alfenas são os expoentes mineiros que constituem a bacia leiteira mais tradicional do estado (Galinari et al., 2002). No atual sistema de criação de bovinos leiteiros, o animal nascido macho recebe um tratamento bastante inferior em relação à fêmea e isto é justificado pelo fato de o objetivo principal do sistema ser a produção leiteira e, portanto, a fêmea acaba recebendo um tratamento especial.

No entanto, existe probabilidade de 50% de os animais nascerem machos, representando elevado número de bezerros subaproveitados, eliminando-se importante fonte de renda (Signoretti et al., 1995). Cogitou-se então, a idéia de usar o colostro no controle de oídio, uma vez que constitui-se em um dos sucedâneos que mantém características nutritivas mais similares às do leite, tendo boa disponibilidade, fácil armazenagem e, principalmente, valor comercial nulo (Wattiaux, 1996).

Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo mostrar a eficiência do colostro bovino no controle de oídio em plantas de quiabo.

the germination of the seeds. Collustrum solutions were applied in intervals of 15 days.

The obtained results, in spite of initials, show that it was possible to control that disease in okra plants using the strategy of high concentrations of collustrum solutions. The incidence of the disease, in spite of low, was reduced in half with the solution to 54.3%, while

with the largest concentration the reduction was of 68.5%, showing that it is possible to control that fungus in okra plants using the natural alternative of collustrum in higher concentrations.

KEYWORDS: Erysiphe cichoracearum,

Abelmoschus esculentus, control alternative.

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente foi realizada uma amostragem de solo da área experimental para análise física e química do solo e de acordo com as necessidades reveladas pelos resultados, realizou- se a correção do solo, seguindo as recomendações da cultura do quiabo conforme 5 aproximação de adubação para o Estado de Minas Gerais (CFSEMG, 1999). O cultivar usado foi Santa Cruz 47. A semeadura foi realizada manualmente em 09/02/2009, colocando 4 sementes por cova, em espaçamento de 60cm entre linhas e 50 cm entre plantas. Após 20 dias da germinação realizou-se o desbaste, deixando somente uma planta por cova. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições no esquema de parcelas subdivididas. As parcelas compreenderam, os tratamentos principais (concentração do colostro) e as subparcelas, os tratamentos secundários (épocas de amostragem das folhas: 60 e 75 dias após a germinação). Para quantificação da doença, estimou-se a área foliar afetada por notas de 0 a 10, coletando-se uma amostra de 5 folhas por parcela, sendo cada parcela composta por 10 plantas. Usou-se os seguintes tratamentos com as devidas concentrações: T1 = Testemunha (0%), T2 = Colostro 10% , T3 = 25%, T4 = Colostro 50%, e T5 = 75%.

O colostro foi coletado na 1ª ordenha após o parto, congelado a -12ºC, e 12 horas antes da primeira aplicação sofrendo descongelamento em geladeira. As concentrações foram realizadas cuidadosamente em laboratório, em seguida aplicadas com bomba costal em campo de acordo com as parcelas e concentrações, sendo que no tratamento 1 não foi aplicado nenhum produto. Os intervalos de aplicação foram de 15 em 15 dias. Sendo a primeira com 30 dias após a germinação. Atentou-se para aplicação protegendo uma parcela da outra com uma lona plástica para que não houvesse interferência nos resultados, uma vez que o vento pode levar gotas de um tratamento para o outro (Bettiol, 1997). Outro detalhe observado foi o horário das aplicações, sempre no período da manhã, período que a planta responde melhor aos tratamentos (Bettiol, 1997).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve efeito significativo das concentrações de colostro na incidência de oídio em quiabeiro. À medida que as concentrações foram aumentadas houve diminuição na incidência da doença, com efeito linear (Figura 1). Os resultados obtidos, apesar de iniciais, mostram que foi possível controlar esse fungo em quiabeiro usando a estratégia de uso de colostro em concentrações elevadas. A incidência da doença, apesar de baixa, foi reduzida à metade com a solução a 54,3%, enquanto que com a maior concentração a redução foi de 68,5%.

Conclui-se que é possível combater esse fungo em quiabeiro usando a alternativa natural de colostro em concentrações mais elevadas.

LITERATURA CITADA

BETTIOL W; TRATCH R; GALVÃO JAH. 1997. Controle de doenças com biofertilizantes .

Circular Técnica, Centro Nacional de Pesquisa do Meio Ambiente. Jaguariúna: Embrapa n.2,

p.1-22. (Circular Técnica)

BETTIOL, W. 2004. Leite de vaca cru para o controle de Oídio. 14 . Jaguariúna:

E m b r a p a M e i o A m b i e n t e . ( C o m u n i c a d o T é c n i c o ) D i s p o n í v e l e m h t t p : / / www.cnpma.embrapa.br/download/comunicado_14.pdf Acessado em 10 de novembro de 2008.

BROEK RVD; IACOVINO GD; PARADELA AL. 2002. Controle alternativo de oídio (Erysiphe cichoracearum) em quiabeiro (Hibiscus esculentum). Espírito Santo do Pinhal, Revista Ecossistema Vol. 27: 1-2.

CFSEMG, 1999. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. Viçosa. 359 p. (5ª aproximação).

GALINARI R; LEMOS MB; SANTOS F; CAMPOS BC ; BIAZI E. 2002. Tecnologia, especialização regional e produtividade: um estudo da pecuária leiteira em Minas Gerais. In: SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA MINERIA, 10. Anais do Seminário Sobre a Economia Mineira. Belo Horizonte: CEDEPLAR-UFMG, Disponível em: http:/

/econpapers.repec.org/bookchap/cdpdiam02/200225.htm. Acessado em 27 de maio de 2009.

MASSOLA JR NS; BEDENDO IP. 1997. Doenças do Quiabeiro (Hibiscus esculentus L.). In: KIMATI, H. et al. (Eds). Manual de Fitopatologia – Doenças de Plantas Cultivadas. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres. p. 616 – 620.

PASSOS FA; MELO AMT; AZEVEDO FILHO JA. 2004. Comportamento de Seleções IAC e de Cultivares Comerciais de Quiabo no Sistema Orgânico de Produção. In:

ANAIS CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, Disponível em http://

www.abhorticultura.com.br/Biblioteca/Default.asp?id=3867 Acessado em 20 de dezembro de 2008.

SIGNORETTI RD; CASTRO ACG; SILVA JFC. ; CAMPOS JMS; CECON PR;

VALADARES FILHO SC. 1995. Utilização do farelo de gérmen de milho no concentrado inicial de bezerros de raças leiteiras em sistema de desaleitamento precoce. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 24, n. 5, p. 841-851.

WATTIAUX MA. 1996. Raising dairy heifers. Wisconsin: Technical Dairy Guide. 126p.

ns, * e **, equivalem à não significativo, significativo à 5%, e significativo à 1% de probabilidade, respectivamente.

Figura 1. Efeito de concentrações de colostro no controle de oídio em quiabeiro. Unifenas, 2009.

[Effect of collustrum concentrations in okra powdery mildew control]

y = -0,0179x + 1,9727 R

= 0,88

0 0,5 1 1,5 2 2,5

0 15 30 45 60 75

Concentração de Colostro (%)

In c idê nc ia d e O id ío (%)