TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL: AVALIAÇÃO DA LACTATO DESIDROGENASE COMO MARCADOR TUMORAL EM CÃES
Stefano Hideki Sato (PIBIC/CNPq), Mariana Palma Correa da Silva, Celmira Calderón, Ana Paula Millet Evangelista dos Santos, Fernanda Palmieri, Camilla Alcalá, Mariza Fordelone Rosa Cruz,
Anderson do Prado Duzanski, André Antunes Salla Rosa, Ellen de Souza Marquez, e-mail:
esmarquez@uenp.edu.br
Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Luiz Meneghel.
Ciências Agrárias / Patologia Animal Palavras-chave: TVT, LDH, Biomarcador Resumo
Tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia reticuloendotelial, a transmissão ocorre por implantação de células em tecido escarificado, especialmente durante o coito ou pelo hábito dos cães de lamber e farejar outros animais. Não existe predileção de raça ou sexo, no entanto há maior incidência em animais sexualmente ativos que tem livre acesso à rua, em especial às regiões onde o controle de cruzamentos é baixo e a densidade de cães errantes é alta. Dados hematológicos são importantes para avaliar as alterações provocadas pelo tumor. Marcadores tumorais ou biomarcadores, como a lactato desidrogenase (LDH), são substâncias produzidas em respostas ao desenvolvimento do tumor, que estão presentes no sangue ou em outros líquidos biológicos. As concentrações dessas substâncias nos fluidos corpóreos devem refletir a extensão do tumor, respostas ao tratamento e a progressão da doença. LDH é uma enzima que catalisa o último passo da glicólise, onde o piruvato é reduzido à lactato, que apresenta, frequentemente, níveis séricos aumentados em pacientes com câncer, pois a célula neoplásica apresenta elevada taxa de glicólise comparada à célula sadia. Foram analisadas amostras semanais de sangue, para avaliação dos níveis séricos da LDH. Dessa forma, o propósito desse estudo foi demonstrar a eficácia dessa enzima no TVT. Com isso a avaliação dessa enzima como um biomarcador, seria de grande ajuda para o tratamento e diagnóstico desse tumor. Entre os 12 animais acompanhados houve diminuição dos níveis séricos da LDH em cinco animais e em sete houve um aumento devido à enfermidade concomitante.
Introdução
O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia reticuloendotelial, benigna, comum
em cães e sexualmente transmissível encontrada predominantemente na genitália externa e
ocasionalmente na interna dos cães (AMARAL et al., 2003, VERMOOTEN, 1987, PEREZ et al.,
1994). Essa transmissão ocorre especialmente durante o coito ou pelo hábito social, que os animais
têm, de se lamber e farejar. O grande número de cães que tem acesso à rua em períodos de
reprodução propicia maior número de casos (COHEM, 1985; KROGER et al., 1991; PEREZ et al.,
1994). Existe maior incidência em animais sexualmente ativos que tem livre acesso à rua em
especial as regiões onde o controle de cruzamentos é baixo e a densidade de cães errantes é alta
(COHEM, 1985; ROGERS, 1997). Síndromes paraneoplásicas são sinais presentes em pacientes
com câncer, distantes do tumor ou das suas metástases, e que não são causadas por invasão,
obstrução ou efeito da neoplasia. Podem envolver vários sistemas do organismo animal, dentre eles o hematológico. (DALECK et al, 2008). No paciente com câncer a anemia provoca impacto negativo sobre o paciente, causando diminuição da qualidade de vida, da resposta terapêutica, da tolerância terapêutica e progressão da lesão neoplásica. (DALECK et al, 2008). Dentre os meios de diagnóstico se destaca o exame citológico, pois é simples, rápido, pouco doloroso, minimamente invasivo, de baixo custo e alto valor de diagnóstico (KROGER et al., 1991; ROCHA, 1998). A concentração sérica elevada de algumas enzimas também pode auxiliar no acompanhamento da evolução do tumor já diagnosticado em animais não tratados. Estas enzimas, como fosfatase alcalina e desidrogenase lática, são consideradas marcadores de baixa especificidade, pois podem encontrar-se elevadas em doenças não neoplásicas (ALMEIDA et al, 2007; CARVALHO, 1993;
KESHAVIAH et al, 2007). Embora a conversão de piruvato em lactato ocorra nas células normais em condições de hipóxia, as células tumorais produzem grandes quantidades de lactato, mesmo quando há oxigênio, não sendo este, portanto um fator limitante (FANTIN et al, 2006). Em neoplasias a LDH pode estar relacionada com o volume do tumor, podendo apresentar implicações prognósticas muito importantes (ALMEIDA et al, 2007). Em decorrência destes fatos, teve-se como intuito nesta pesquisa, avaliar o comportamento da enzima lactato desidrogenase em nível sérico frente a regressão tumoral mediante a realização terapêutica do paciente acometido por TVT.
Material e métodos
Foram coletadas amostras de sangue de animais provenientes do município de Bandeirantes e Abatiá acometidos pelo Tumor Venéreo Transmissível, comprovado por meio de citologia aspirativa. Os animais foram acompanhados desde o início do tratamento até a finalização do mesmo, a dosagem foi calculada conforme o peso do animal e a concentração do quimioterápico para aplicação da dose apropriada. As aplicações foram realizadas semanalmente, assim como as coletas de sangue e avaliações clínicas do animal. O número de aplicações dependiam da regressão do tumor, variando desde três doses até oito. As amostras de sangue foram colhidas utilizando-se seringa de 10 mL e agulha 25x7 para cada animal, sendo que 2 mL foram destinado ao exame do hemograma e 8 mL para análises bioquímicas. O hemograma foi processado semanalmente para acompanhamento dos animais antes de receberem a quimioterapia. O material foi processado em aparelho automatizado (Roche®) e para as análises bioquímicas utilizou-se kit comercial para LDH, ALT, FA, UREIA, CK, Creatinina, o qual foi processado em aparelho automatizado (Cobas®). Dos 18 animais avaliados, 12 apresentaram três amostras em sequência que possibilitou averiguar o comportamento da enzima LDH frente à regressão tumoral em virtude do tratamento.
Resultados e Discussão
Dos 12 animais analisados, cinco apresentaram uma diminuição dos níveis séricos de LDH
em transformar piruvato em lactato pelas células (tabela 1). Em sete animais acometidos por TVT e
outras doenças, houve a necessidade de interromper a quimioterapia para tratar dessas
enfermidades, e nesses animais a LDH se comportou elevando seus níveis séricos. A enzima LDH
está presente em diversos órgãos, por não ser um marcador tumoral específico, foram avaliadas as
funções hepáticas e renais que se encontraram dentro da normalidade, esses exames mostraram que
essas doenças não influenciaram negativamente nos resultados dos animais avaliados. O tratamento
com quimioterapia pode causar uma pancitopenia, somado a isso APTEKMANN (2005) afirma que
contagem média de hemácias, hematócrito e concentração de hemoglobina dos cães portadores de
TVT apresentam valores significativamente reduzidos, assim como as contagens médias de
eosinófilos, linfócitos e plaquetas desses mesmos animais, devido à ação do medicamento na
medula óssea. As alterações nos exames de sangue foram anemias, leucopenias, leucocitoses e
casos de trombocitopenias. Os animais que apresentaram leucocitose por neutrofilia, foi detectada a
causa e tratados com antibioticoterapia. A quimioterapia no cão (tabela 1) apresentou durante o
tratamento leucopenia devido à diminuição da linhagem leucocitária causada pelo quimioterápico, esse animal apresentava quedas bruscas nos números de leucócitos a cada aplicação sugerindo ser sensível ao medicamento, apresentou também um diagnóstico sugestivo de erliquiose devido ao histórico de carrapatos, apatia, anorexia, e trombocitopenia, outros animais com essa suspeita foram os cães 2 e 9, e assim apresentaram alterações negativas quanto aos níveis de LDH. Já o cão 3 apresentou estro o que gerou resposta negativa à concentração dessa enzima. Campos (2012), em seu estudo com a LDH em tumor de mama mostrou que os níveis séricos dessa enzima acompanham a regressão da neoplasia. No TVT esses níveis também acompanham essa diminuição tumoral como é possível notar no animal 4 (Imagens 1, 2 e 3). Os animais, os quais tiveram aumento da enzima LDH durante o tratamento foram aqueles que tiveram problemas concomitantes com o TVT e que tiveram o tratamento interrompido, portanto nestes animais o aumento da LDH também comprova que esta enzima pode ser utilizada como um bom marcador tumoral, pois esta acompanhou o crescimento tumoral após a interrupção do tratamento.
Tabela 1 – Tabela com os níveis séricos de LDH dos 12 animais com TVT.
LDH
1 ª coleta 2 ª coleta 3 ª coleta Valores Referência
Cão 1 40 61 63 42-130 U/L
Cão 2 39 74 35 42-130 U/L
Cão 3 824 457 726 42-130 U/L
Cão 4 254 132 23,6 42-130 U/L
Cão 5 53 370 388 42-130 U/L
Cão 6 254 164 99 42-130 U/L
Cão 7 4,8 79 63 42-130 U/L
Cão 8 146 69 27 42-130 U/L
Cão 9 168 33 222 42-130 U/L
Cão 10 121 111 74 42-130 U/L
Cão 11 587 356 181 42-130 U/L
Cão 12 824 457 726 42-130 U/L
Figura 1 – Primeira semana de tratamento do cão 4.
Figura 2 – Segunda semana de tratamento do cão 4, observa-se uma grande diminuição do tamanho do tumor.
Figura 3 – Terceira semana de tratamento do cão 4, nota-se o tamanho diminuído do tumor em relação às imagens anteriores.