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Religiosidade/espiritualidade e valores em adolescentes do Distrito Federal

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu

em

Psicologia

RELIGIOSIDADE / ESPIRITUALIDADE E VALORES

EM ADOLESCENTES DO DISTRITO FEDERAL

Autora: Janaina Bahia Oliveira Barrêto

Orientadora: Profª. Dra. Marta Helena de Freitas

(2)

JANAINA BAHIA OLIVEIRA BARRÊTO

RELIGIOSIDADE / ESPIRITUALIDADE E VALORES EM ADOLESCENTES DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de

Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Prof ª. Dra. Marta Helena de Freitas.

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

B273r Barrêto, Janaina Bahia Oliveira.

Religiosidade/espiritualidade e valores em adolescentes do Distrito Federal. / Janaina Bahia Oliveira Barrêto – 2014.

227 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2014.

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TERMO DE APROVAÇÃO

Dissertação de autoria de Janaina Bahia Oliveira Barrêto intitulada –

RELIGIOSIDADE / ESPIRITUALIDADE E VALORES EM ADOLESCENTES DO DISTRITO FEDERAL, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da

Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada em 05 de dezembro de 2014, pela banca examinadora abaixo assinada:

___________________________________________________________________ Profª. Dra. Marta Helena de Freitas – (Orientadora) - Diretora do Programa de

Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília

___________________________________________________________________ Profª. Dra. Luciana Fernandes Marques (Membro externo)

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

___________________________________________________________________ Profª. Dra. Silvia Renata M. Lordello - (Membro interno)

Universidade Católica de Brasília

___________________________________________________________________ Profª. Dra. Maria Alexina Ribeiro - (suplente)

Universidade Católica de Brasília

(5)

Ao meu grande amor, com quem compartilho a intimidade da existência:

(6)

AGRADECIMENTO

A Deus, por me capacitar e me fortalecer nesta caminhada. Ao meu esposo, pela motivação e amor.

À minha família, pelo apoio e compreensão. Aos amigos, pelo carinho e pela torcida.

À maravilhosa equipe do CAPS onde atuo, pelo apoio.

À Dra. Marta Helena de Freitas, pelo incentivo e orientações.

À Arlene e Rafaela, estagiárias voluntárias, pelo apoio na transcrição das entrevistas.

À CAPES/CNPQ, pelo financiamento a esta pesquisa – sem o qual não seria

possível.

Aos doutores Vicente Alves, Sílvia Lordello, Alexina Ribeiro, Luciana Marques, e Christoph Käppler pelas riquíssimas contribuições.

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RESUMO

BARRÊTO, Janaina Bahia Oliveira. Religiosidade/ espiritualidade e valores em adolescentes do Distrito Federal. 2014. 227 páginas. Dissertação de mestrado do

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica

de Brasília. Brasília, 2014.

A adolescência é a fase crucial do desenvolvimento da identidade, e a religiosidade costuma ser um dos aspectos geradores de mobilizações importantes e significativas ao longo deste processo, tendo sido objeto de atenção dos pioneiros neste campo. Entretanto, este tema tem sido pouco estudado na contemporaneidade, mesmo em um contexto onde a religiosidade se faz tão presente na cultura e na vida das pessoas, como têm demonstrado os censos demográficos nacionais. Brasília, contexto onde se desenvolve o estudo aqui relatado, é conhecida pela sua forte aura mística, pois abriga uma diversidade de

templos e comunidades religiosas – em muitas delas, destaca-se a participação da

juventude brasiliense, a despeito do processo de secularização. Considera-se, pois, relevante investigar as relações entre a religiosidade e os valores desses jovens, sendo este o objetivo deste estudo, de cunho qualitativo e exploratório. Foram participantes deste estudo oito jovens com idade entre 15 e 17 anos, sendo uma menina e um menino de cada uma das seguintes religiões/ espiritualidades: católica apostólica romana, espírita kardecista, evangélica neopentecostal e agnóstica. Como metodologia de investigação, empregaram-se entrevistas individuais e em

grupo, complementadas com a aplicação do Questionário de religiosidade e valores

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sociais e políticas: preconceito sofrido pelos espíritas e agnósticos; críticas às regras e falta de liberdade que a sociedade impõe; desinteresse por política e tendência a não confiar nos políticos; 5. Vivência pessoal da religiosidade/ espiritualidade: questionamento da fé/ religião pelos adolescentes mais velhos, e também da conversão; participação em atividades na instituição religiosa; crença de que a religião ajuda os jovens, e melhora o bem-estar, embora a crença seja muito menor nos agnósticos. De modo geral, identificaram-se relações entre a religiosidade e a formação de valores, e verificou-se também que muitos valores são compartilhados, tanto por adolescentes religiosos como pelos não religiosos. Brasília, conforme consta na literatura, é um solo fértil para o surgimento de novas religiosidades/ espiritualidades. Surgiram muitas manifestações de jovens agnósticos querendo participar, o que não foi possível devido ao prazo para concluir a pesquisa. A experiência desta investigação permitiu também o aperfeiçoamento do questionário empregado, visando sua aplicação em maior escala. Sugere-se fortemente a realização de mais pesquisas na área, estendendo-a para outras regiões do país, para compreender melhor o papel da religiosidade na constituição dos valores dos jovens, e sua respectiva variabilidade em termos sociais e regionais.

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ABSTRACT

BARRÊTO, Janaina Bahia Oliveira. Teenage religiosity/ spiritualism and values in

Distrito Federal. 2014. 227 pages. Master’s degree thesis for Stricto Sensu Post-Graduation program in Psychology from Universidade Católica de Brasília, 2014.

Teenage years are a crucial time to define identity, and religiosity is one of the agents of important and significant changes during this process; thus, being a matter of study by the pioneers in psychology. Although, adolescence has not been studied enough lately, even in a country where religiosity is widely spread – as the demographic censuses have shown. The research for this thesis was developed in Brasília, due to its “mystic aura”, and because there are several temples and religious communities in the city – in many of them, there are many young people and adolescents involved, despite the secularization process. Investigating the link between the adolescents’ religiosity and values has proven to be a relevant issue, and it is the purpose of this study – a qualitative and exploratory analysis. Eight teenagers from 15 to 17 years old took part on this study. There was a girl and a boy from each of the following religions/ spiritualities: roman catholic church, kardecist spiritism, pentecostal evangelic faith, and agnosticism. The investigation method was based on individual and group interviews, along with a Questionnaire on teenage religiosity and value. The questionnaire was originally brought by a group of researchers from Germany and Switzerland, and it has been adapted and improved for Brazilian teenagers. This study shows the latest version of the questionnaire. This research adopted the phenomenological approach to carry out the interviews and organize data. The investigation and analysis are supported by Amatuzzi’s theory on religious development – which is based on phenomenological approach and other classic contributions, such as Piaget’s and Fowler’s. Five themes of study

have been created in order to organize and analyze the results – and whether they

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In general, there is relation between religiosity and construction of values, and teenagers have many of those values in common, whether they are religious or agnostic. Literature supports that Brasília is a fertile ground for new religions/ spiritualisms. Many agnostic teenagers volunteered, but it was not possible to include all of them due to the short deadline to close this research. This research made it possible to improve the questionnaire, so that a large-scale research can be achieved. More research on religiosity is strongly encouraged. It can be taken to other parts of the country in order to reach better understanding about the role of religiosity on young people’s values, as well as its social and regional variations.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: A R / E e OS EIXOS TEMÁTICOS INVESTIGADOS

FIGURA 2: TEMA-EIXO – R / E e FAMÍLIA, E SEUS SENTIDOS APREENDIDOS

FIGURA 3: TEMA-EIXO – R / E e VIDA PESSOAL, E SEUS SENTIDOS

APREENDIDOS

FIGURA 4: TEMA-EIXO – R / E e CÍRCULO SOCIAL, E SEUS SENTIDOS

APREENDIDOS

FIGURA 5: TEMA-EIXO – R / E e QUESTÕES SOCIAIS E POLÍTICAS, E SEUS

SENTIDOS APREENDIDOS

FIGURA 6: TEMA-EIXO – VIVÊNCIA PESSOAL DA R / E, E SEUS SENTIDOS

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: CONTEXTUALIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES QUADRO 2: DADOS DEMOGRÁFICOS DOS ADOLESCENTES

QUADRO 3: CONTEXTO FAMILIAR

QUADRO 4: RELACIONAMENTO FAMILIAR

QUADRO 5: INFLUÊNCIA RELIGIOSA FAMILIAR QUADRO 6: R / E e FAMÍLIA

QUADRO 7: CARACTERÍSTICAS E VALORES PESSOAIS

QUADRO 8: SOBRE SI MESMO I

QUADRO 9: SOBRE SI MESMO II

QUADRO 10: SITUAÇÃO NA ESCOLA

QUADRO 11: R / E e VIDA PESSOAL

QUADRO 12: VALORES EM RELAÇÃO À SUA E ÀS DEMAIS RELIGIÕES QUADRO 13: R / E e CÍRCULO SOCIAL

QUADRO 14: INTERESSES E VALORES POLÍTICOS

QUADRO 15: AUTOPERCEPÇÃO DA IDENTIDADE SOCIOCULTURAL E

EXPECTATIVAS PARA O FUTURO

QUADRO 16: R / E e QUESTÕES SOCIAIS E POLÍTICAS QUADRO 17: CONCEPÇÃO RELIGIOSA PESSOAL

QUADRO 18: PAPEL E IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA À RELIGIÃO NA VIDA E NO DIA A DIA.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

2. REVISÃO DA LITERATURA ... 20

2.1. Esclarecimentos conceituais: religião, religiosidade, experiência religiosa e espiritualidade ... 20

2.2. Religiosidade em Brasília ... 25

2.3. Adolescência e religiosidade ... 27

2.3.1. A fase da adolescência ... 27

2.3.2. Religiosidade na adolescência: a perspectiva de Amatuzzi ... 35

2.3.3. A religiosidade como fator de proteção e de bem-estar na adolescência ... 42

2.4. Valores e moral na adolescência ... 47

3. OBJETIVOS ... 58

3.1. OBJETIVO GERAL ... 58

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 58

4. MÉTODO ... 59

4.1. PARTICIPANTES ... 59

4.2. INSTRUMENTOS ... 59

4.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS ... 60

4.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ... 62

5. R/ E e VALORES EM ADOLESCENTES DO DISTRITO FEDERAL ... 63

5.1. Contextualização dos participantes ... 63

5.2. Eixos temáticos investigados referentes à religiosidade/ espiritualidade e os valores 66 5.3. Tema-eixo 1: R / E e família ... 67

5.4. Tema-eixo 2: R / E e vida pessoal ... 81

5.5. Tema-eixo 3: R / E e círculo social ... 102

5.6. Tema-eixo 4: R / E e questões sociais e políticas ... 109

5.7. Tema-eixo 5: vivência pessoal da R / E ... 119

6. DISCUSSÃO ... 136

6.1. Do consultório ao colégio ... 136

(14)

6.3. Relações entre a R / E e valores em adolescentes do DF e a Teoria do

Desenvolvimento Religioso de Amatuzzi ... 155

6.4. Reflexões e sugestões a respeito do Questionário e sua aplicação ... 158

7. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS ... 160

REFERÊNCIAS ... 163

Apêndice A ... 170

Roteiro de entrevista individual ... 170

Apêndice B ... 171

Roteiro de entrevista em grupo ... 171

Anexo 1 ... 172

Questionário sobre valores e orientações religiosas na adolescência – versão feminina utilizada na coleta de dados ... 172

Diferença que há na versão masculina (em comparação com a feminina) do Questionário sobre religiosidade e valores na adolescência, aplicado na coleta de dados ... 175

Anexo 2 ... 179

Questionário sobre valores e orientações religiosas na adolescência – versão feminina revisada ... 179

Diferença que há na versão masculina (em comparação com a feminina) do Questionário sobre religiosidade e valores na adolescência – Versão revisada ... 180

Anexo 3 ... 185

(15)

APRESENTAÇÃO

Compreender a complexidade da experiência humana requer sensibilidade para levar em conta todos os seus aspectos. Dentre eles se encontram as vivências da religiosidade/ espiritualidade – vivências estas que são objeto de estudo da Psicologia da Religião. Buscou-se, neste estudo, compreender as vivências da R / E e suas relações com os valores em adolescentes do Distrito Federal, estudo muito relevante por estar localizado no centro do Brasil, país em que a maior parte da população se declara religiosa.

Os pioneiros em Psicologia se pesquisaram sobre o tema da religiosidade na adolescência, porém esse tema tem sido pouco explorado atualmente, a despeito da grande participação de jovens em eventos religiosos. Portanto, esta pesquisa visa contribuir para ampliação do conhecimento da religiosidade na adolescência, e de sua relação com a formação de valores, o que contribui para o campo da Psicologia do Desenvolvimento ampliando o conhecimento sobre fenômenos da adolescência; para a Psicologia Social, quanto à compreensão de influências do tema em grupos sociais; para a Psicologia da Religião, que também possui poucas pesquisas nessa temática; e para a Psicologia Clínica, permitindo a abordagem ao adolescente de maneira integral.

Participaram desta pesquisa oito adolescentes – com idades entre 15 e 17 anos,– sendo um menino e uma menina de cada uma das seguintes religiões: católica apostólica romana, evangélica neopentecostal, espírita Kardecista, e da espiritualidade agnóstica. Para tanto, utilizou-se de postura fenomenológica na coleta e organização dos dados. Os resultados foram avaliados à luz da Teoria do Desenvolvimento Religioso de Amatuzzi.

Inicialmente o trabalho apresenta, no capítulo 2, uma revisão de literatura sobre o tema para realizar esclarecimentos conceituais a respeito de: diferenças e aproximações entre os conceitos de religião, religiosidade, experiência religiosa e espiritualidade; a religiosidade em Brasília; a adolescência e suas principais características; a religiosidade na adolescência sob a perspectiva de Amatuzzi; A religiosidade como fator de proteção e de bem-estar na adolescência e, por fim, valores e moral na adolescência.

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DF, saber especificidades de cada religiosidade/ espiritualidade, perceber como os adolescentes lidam com religiosidades/ espiritualidades diferentes das suas, relações entre a religiosidade e os valores nos contextos familiar e social, e aperfeiçoar o Questionário sobre religiosidade e valores na adolescência.

O capítulo 4 é dedicado ao método da pesquisa, apresentando melhor o instrumento utilizado, e as adaptações ocorridas no mesmo, bem como os procedimentos de coleta e análise dos dados.

Os resultados são descritos no capítulo 5, onde se contextualiza os participantes da pesquisa, e são apresentados os eixos nos quais o material foi organizado: 1. Religiosidade/ espiritualidade e família; 2. Religiosidade/ espiritualidade e vida pessoal; 3. Religiosidade/ espiritualidade e círculo social; 4. Religiosidade/ espiritualidade e questões sociais e políticas; e 5. Vivência pessoal da religiosidade/ espiritualidade.

Posteriormente os resultados foram discutidos, no capítulo 6, onde são articulados com a literatura, com a Teoria do Desenvolvimento Religioso de Amatuzzi, e são realizadas reflexões e sugestões para aperfeiçoamento e aplicação do Questionário.

(17)

1. INTRODUÇÃO

Ao longo de boa parte do século XX, e de certa forma até os dias de hoje, no contexto de certas filosofias e teorias das ciências sociais e biológicas, houve a tendência de se olhar a religião com desconfiança. De certo modo, isso se deveu ao

fato de que a linha predominante no meio acadêmico-científico – e mesmo no âmbito

da Psicologia – foi positivista ou neopositivista, as quais tomam a racionalidade, lógica ou empírica, como único instrumento de conhecimento. Entretanto, em seu início, a Psicologia levava muito a sério o estudo da religiosidade e seus diversos aspectos subjetivos, sociais e culturais. Todos os seus pioneiros deram atenção ao assunto, como Wundt e William James, e também os pioneiros em psicologia da adolescência, como Stanley Hall e Erik Erickson.

Por outro lado, nas últimas décadas, o tema da religião tem sido retomado sob uma nova perspectiva, que revê mais criticamente a postura de suspeita que predominou ao longo do Século XX, e procura investigar também os fatores potencializadores da saúde mental, presentes na religião ou na espiritualidade. Atualmente, após as contribuições de Pargament (1990; 1997), e Paloutizian (1996), dentre outros autores, fala-se muito em religious coping (ou enfrentamento religioso/ espiritual – CRE) – ou em religiosidade e espiritualidade como fatores de resiliência, que estão, portanto, associados à saúde e à qualidade de vida. Apesar desse novo olhar, a religiosidade dos adolescentes no Brasil e suas respectivas implicações psicossociais ainda são pouco exploradas.

Em função de sua complexidade, a abordagem ao assunto requer uma perspectiva interdisciplinar, ou seja, deve levar em conta o ser humano de forma integral. Por esse motivo, trata-se de um objeto de interesse da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia Social, da Psicologia da Religião, e mesmo da Psicologia Clínica – o interesse desta se dá, por exemplo, em função das estreitas relações entre religiosidade e saúde mental. O DSM V também leva em conta as

experiências de natureza religiosa enquadrando-as em “Outras condições que

podem ser foco de atenção clínica”:

(18)

com uma igreja ou religião institucionalizada (DSM V, p. 725. – tradução da autora).

Geralmente, o saber que se baseia única e exclusivamente no modelo clínico psiquiátrico está pautado na busca por sintomas, visando enquadrar os sinais de adoecimento ao discurso médico sistematizado – o qual não é o modelo mais adequado quando se trata de compreender a manifestação religiosa com respeito, qualificando-a em sua legitimidade. Embora algumas vezes a religiosidade/ espiritualidade possa ser vivenciada de forma não saudável, a literatura em Psicologia da Religião mostra que seria um equívoco tomar esta situação como necessariamente anuladora das possibilidades de benefícios e do papel protetor muitas vezes encontrado nas adesões a manifestações religiosas, principalmente no caso da adolescência, como se verá adiante.

Como já foi mencionado, desde autores pioneiros em Psicologia da Religião e do Desenvolvimento, como Pratt (1904) e Stanley Hall (1916), a adolescência pode ser considerada a fase mais importante do ponto de vista da evolução religiosa do ser humano – é quando começa o que há de mais fascinante e atraente. Neste processo, existe a necessidade de explorar o mundo além da comunidade familiar e, ao mesmo tempo, manter algo da segurança que vem da família, junto à qual ele internaliza alguns valores básicos.

Por outro lado, a adolescência é a fase crucial da formação da identidade, porque é quando ocorre a busca pela autonomia e a liberdade (ERIKSON, 1980). Nessa fase, geralmente ocorrem o distanciamento do grupo familiar pela necessidade de autonomia, e a afiliação a grupos com os quais se identifica

(HURLOCK, 1975; BEE, 1997; AMATUZZI, 1999; COLE & COLE, 2003). É

importante a compreensão da necessidade de o adolescente se sentir autor das próprias escolhas. No processo de afastamento do adolescente quanto às famílias, percebe-se dificuldade tanto dos adolescentes quanto das famílias, porém, desvela ser um fenômeno necessário para a formação da identidade dos jovens. O adolescente desvela necessitar do distanciamento familiar e ao mesmo tempo da proteção que a família provê.

(19)

vivência religiosa pode ser uma saída positiva e potencialmente saudável para a emancipação do adolescente. Durante esse período pode haver um abandono provisório ou definitivo da prática religiosa seguida pelos pais (AMATUZZI, 1999).

Se, por um lado, a conversão religiosa se revela relacionada ao processo de elaboração de identidade, por outro, pode exercer também a própria função paterna (ou materna). Assim, por exemplo, em pesquisa realizada anteriormente como parte do Trabalho de final de curso na graduação em Psicologia (OLIVEIRA; FREITAS, 2012), percebeu-se a influência positiva da vivência religiosa na vida dos participantes como forma de suprir a falta dos pais, colocando limites e delineando as escolhas dos adolescentes. Ao fazerem parte de um grupo religioso, os jovens entrevistados na referida pesquisa desejavam: relacionar-se melhor com as pessoas, principalmente com os familiares; perdoar as faltas cometidas pela família contra eles; praticar sexo apenas após e dentro do casamento, o que contribui para uma proteção maior quanto às doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez precoce. Eles também se mostraram críticos quanto ao uso de bebidas alcoólicas, cigarro e outras drogas. Esses resultados despertaram na pesquisadora o interesse pela relação entre religiosidade e valores em adolescentes, e foram o ponto de partida para sua posterior participação em uma pesquisa oriunda da Alemanha e da

Suíça – que, então, se estendia ao Brasil, acolhida no âmbito do Programa de

Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Segundo os resultados do Censo Demográfico de 2010, houve um crescimento da diversidade de grupos religiosos no Brasil. Conforme tendência das duas últimas décadas, observou-se uma redução na proporção de católicos apesar de serem ainda a maioria. A população evangélica cresceu. Houve crescimento também dos espíritas, dos que se declararam sem religião (embora em menor número que na década anterior) e do grupo pertencente a outras religiões (IBGE, 2010).

Do ponto de vista social e cultural, considera-se importante investigar a religiosidade no Brasil, visto que ela está explicitamente dada: o Cristo Redentor, na cidade do Rio de Janeiro, um dos cartões postais do país; nas cédulas do Real, moeda brasileira, está escrita a frase “Deus seja louvado”; um de seus Estados chama-se Espírito Santo, outro se chama São Paulo, além de tantas pequenas

cidades com nomes de mártires religiosos. Não por acaso o país foi escolhido, em

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Romana, pois ela possui um significativo número de adeptos jovens. Além disso, a Carta Magna, ou seja, a Constituição da República Federativa do Brasil, inicia seu texto com a frase: “... promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL” (CONSTITUIÇÃO, p.11).

Por outro lado, podemos ainda destacar alguns movimentos de jovens de diferentes religiões no Brasil, dentre os quais a Pastoral da Juventude e os grupos de jovens da Igreja Católica; os grandes encontros de mocidade de diferentes igrejas evangélicas, em especial a União de Mocidade das Assembleias de Deus e das Igrejas Batistas, e a Mocidade Espírita. Periodicamente são promovidos encontros onde há presença maciça de jovens. Tais manifestações são significativas, porém pouco abordadas pelos meios de comunicação no país – e praticamente nada abordada pelos estudos em psicologia social ou psicologia da adolescência.

Considera-se relevante pesquisar a religiosidade de adolescentes brasilienses pelo fato de Brasília ter um histórico que a leva a ser, muitas vezes, caracterizada como uma capital mística (SIQUEIRA, 2003; FREIRE & DANTE JÚNIOR, 2011). Um importante evento a ser considerado a respeito do seu desenvolvimento religioso ocorreu em 1957, com o nome “batismo espiritual”. Um cruzeiro foi armado na parte mais elevada de Brasília e uma missa foi celebrada. O evento ficou marcado com o comentário do presidente Juscelino Kubitschek de que aquela missa era o plantio da “semente espiritual” de Brasília (VASCONCELOS, 2007). Percebe-se que, desde o início, o aspecto religioso esteve muito presente na construção desta cidade. Nos próprios Arquivos relacionados à memória do Distrito Federal há menção à visão de Dom Bosco quanto ao surgimento de uma nova civilização entre os paralelos 15 e 20, sendo entre estes paralelos a localização de Brasília (ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL, 2011). Portanto, pesquisar a vivência religiosa de adolescentes que vivem em Brasília se faz importante para a compreensão de como essa religiosidade se apresenta hoje.

Devido a sua diversidade religiosa e a tendência à miscigenação, também neste campo, o Brasil tem atraído muitos pesquisadores interessados no tema, incluindo-se um grupo de pesquisadores da Alemanha e Suíça, liderados pelo Prof. Christoph Käppler (KÄPPLER et al., s/d) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

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Sensu em Psicologia da UCB recebeu, em 2012, uma doutoranda alemã, Mirjam Amberge, para realizar coleta de dados para uma pesquisa que faz parte do referido grupo, orientada pelo Prof. Käppler e co-orientada pela Profa. Marta Helena de Freitas. No âmbito de um doutorado sanduíche, Amberge coletou dados na Bahia e

no Distrito Federal. Empregou o mesmo instrumento – originalmente empregado nas

pesquisas anteriormente realizadas na Alemanha e na Suíça–, previamente

traduzido e adaptado para o seu emprego no Brasil (AMBERGE et al., 2012). A partir dos resultados, percebeu-se a necessidade de realizar pesquisas qualitativas que permitissem um melhor refinamento do instrumento de acordo com a realidade brasileira e, a partir disso, ampliar a amostra estendendo-a a outros estados.

A pesquisadora desta dissertação participou da coleta de dados do estudo de Amberge sob a orientação da mesma orientadora no Distrito Federal. A participação permitiu uma espécie de estudo piloto para elaboração do projeto de pesquisa apresentado nesta dissertação. Assim, optou-se pelo estudo qualitativo, nos moldes da pesquisa fenomenológica. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de natureza, como foi caracterizada por Amatuzzi (2005).

Este trabalho pretende sondar a religiosidade e os valores de adolescentes participantes das três religiões com maior proporção de brasileiros e brasilienses adeptos, de acordo com o IBGE (2010). Além disso, incluiu-se na pesquisa adolescentes sem religião, de ambos os sexos, dado o grande índice de brasilienses que se declararam sem religião no referido censo. Por abordar adolescentes sem religião e por compreender que existem aspectos convergentes e divergentes entre as concepções de religiosidade e de espiritualidade, optou-se por mencionar ambos, inclusive no título deste trabalho, o que será melhor explicitado em subitem específico, devido às aproximações entre os termos que alguns autores têm feito atualmente.

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A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas e pela aplicação do Questionário sobre valores e orientações religiosas na adolescência

(Vide Anexos 1 e 2) na versão readaptada por Taceli (2014). Como referencial teórico, ancorou-se no esboço de uma Teoria do Desenvolvimento Religioso de Amatuzzi (1999), e nos principais teóricos que o embasaram. Também foi utilizada a Teoria de Kohlberg e o desenvolvimento moral.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Esclarecimentos conceituais: religião, religiosidade, experiência religiosa e espiritualidade

Diversas teorias referentes à essência da religião foram elaboradas por diferentes escolas. Umas a viam como essencialmente interior; outras, como essencialmente exterior; e ainda outros adotam uma perspectiva interacionista. Isso decorreu também da grande complexidade deste campo conceitual, no âmbito do qual surgiram variadas interpretações e leituras por diversos autores e épocas. A seguir, algumas delas são apresentadas e discutidas como as que mais se destacaram, ou que apresentam maior consonância com a perspectiva adotada neste trabalho.

William James (1842–1910) é um dos pioneiros mais citados nos estudos em

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psicológica e cultural positiva. O outro ponto da abordagem pragmática proposta por James refere-se à emoção individual como base da religiosidade. Para ele, a religião deve ser vista não a partir de seu lado intelectivo e socioinstitucional, mas a partir de seu componente emocional. As emoções podem transformar os rumos da vida de uma pessoa por completo, redimensionando-os por inteiro, de maneira imprevista e rápida e, muitas vezes, duradoura (JAMES, 1995).

Discutindo a posição adotada por James, o pesquisador brasileiro Edênio Valle (1998) parte do princípio de que a religião é tomada como uma matriz instituída. Para ele, a religiosidade se refere à experiência subjetiva e, em seu nível mais profundo, levanta a questão de sua dimensão inconsciente. As funções psicológicas e socioculturais das duas se completam. O sucesso e a sobrevivência das religiões se devem à sua função utilitarista e à sua capacidade funcional de dar

respostas a perguntas como, por exemplo: “como Deus e a religião servem na busca

humana da felicidade?” (p.76).

Já para Vergote (1969), a religião é, por um lado, o encontro com o divino e, por outro, uma resposta por meio de uma práxis: “A religião é um conjunto orientado e estruturado de sentimentos e de pensamentos. O ser humano e a sociedade tomam, por meio dela, consciência vital de seu ser íntimo e último e, simultaneamente, nela se torna presente o poder do sagrado” (p. 25 - 26).

Além de Edênio Valle, outro autor brasileiro contemporâneo que contribui para o entendimento desses conceitos é Mauro Martins Amatuzzi, do Instituto de Psicologia da Unicamp. Ele tem se debruçado sobre o estudo do desenvolvimento religioso, fundamentando-se na fenomenologia. Ele nos apresenta a ideia de desenvolvimento religioso e desenvolvimento psicológico. Compreende a religião como um campo no qual crescemos ou deixamos de crescer, sendo este o campo das indagações últimas, indagações pelo sentido. O crescimento está relacionado ao abrir-se para experiências novas que levam adiante as referidas indagações:

“concepções e experiências se articulam no desenvolvimento religioso” (AMATUZZI,

1999, p. 124). Nesse sentido, no campo das indagações últimas, as religiões se apresentam como sistemas de crenças e ritos sociais de asseguramento, produzidos pelo ser humano.

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experiência e seus desdobramentos serem ditos sempre de novo. No adulto, as reflexões a respeito desse campo de experiência podem estar mais ou menos trabalhadas. Quando se tratam de reflexões infantis, esse adulto toma posição que reflete sua inadequação. Consequentemente, ele se priva de novas experiências que seriam importantes para seu desenvolvimento global como pessoa humana.

Amatuzzi (1999) apresenta que a religião praticada ou declarada não está necessariamente ligada à fé. A fé é uma confiança básica, é o que dá sentido à vida do ser humano, é a forma de sua energia de viver. A superação das dicotomias “concepção humana amadurecida e concepção religiosa infantil”, e entre “religião declarada e fé” só é possível por meio de um retorno à experiência e seus desdobramentos no campo humano e religioso. É possível as grandes linhas de um desenvolvimento religioso serem descritas a partir das raízes de uma fé ou confiança básica, de seus pontos de fixação e de bifurcação, de seus desdobramentos, de sua articulação com experiências novas, partindo do início da vida até a maturidade. Por ser uma descrição bastante complexa, o campo religioso e sua energia básica (que é a fé) devem se articular com experiências, descobertas e encontros, onde se desenvolverão incorporando ou rejeitando sistemas religiosos

– ou quase religiosos (AMATUZZI, 1999). Conforme proposta de Amatuzzi (2001, p.

32), religião pode, então, ser assim definida:

Organização externa, mais ou menos coerente, de crenças, valores, mitos e ritos que giram em torno de um enfoque da questão do último, e que frequentemente corresponde à existência histórica de um corpo social hierarquizado ao qual algumas pessoas dão a sua adesão.

Outra referência muito citada no campo da Psicologia da Religião é Gordon Allport, para quem a religiosidade pode ser considerada predominantemente intrínseca ou extrínseca (ALLPORT & ROSS, 1967). A religiosidade intrínseca é caracterizada por uma fé mais internalizada, independente de fatores externos e associada de forma positiva com a saúde física e mental. Já a religiosidade extrínseca é mais voltada para rituais sem ressonância interior, com forma utilitarista da religião, para obter segurança, reconhecimento e sociabilidade, e é menos relacionada à saúde física e mental.

(26)

superior. Já o conceito de religiosidade desvela estar mais relacionado à atitude pessoal, à maneira de ser de cada pessoa frente à religião.

Quanto à experiência religiosa, Paiva (1998) – outro pesquisador brasileiro

reconhecido neste campo – enumera as cinco modalidades da experiência religiosa

a partir das modalidades da estruturação da consciência, tal como proposta por Vergote (1997):

“(I) experiência do sagrado, conhecimento intuitivo da realidade sobrenatural, que se percebe ao mesmo tempo inerente ao mundo e mistério manifestado; (2) apreensão súbita, geralmente afetiva, da realidade sobrenatural que surpreende a pessoa e a interpela em sua existência; (3) o conhecimento que é fruto de contato prolongado com Deus; (4) a experiência dos místicos, dom de união imediata, mas preparado por trabalho sistemático; (5) conhecimento perceptivo imediato das visões e

revelações pessoais” (VERGOTE, 1997 apud PAIVA, 1998, p.158).

Amatuzzi (1997) caminha na mesma direção e afirma que: A experiência

religiosa abre a pessoa para um mundo inteiramente novo e diferente do cotidiano, do qual só é possível dar conta a partir de dentro dele mesmo(p. 37).

Em consonância com o exposto, Valle (2005) cita Mouroux (1952) ao mencionar a experiência religiosa:

“a experiência religiosa se apresenta como a experiência estruturada por

excelência. Consiste efetivamente em tomar consciência de uma relação pensada, querida, provada e comprometida com a vida; inserida na comunidade humana. Mais exatamente, consiste em captar o relacionamento em que todos esses elementos se integram na simplicidade de um ato que os contém virtualmente a todos eles, que os separa uns dos outros segundo cada ocasião, mas que os unifica e os transcende porque é o ato da pessoa que se entrega inteiramente ao Deus que a chama. A experiência religiosa é a consciência dessa resposta à chamada [...] é a descoberta da presença divina dentro de nós que nos faz entrar nela e, em consequência, a consciência da unificação (ao menos inicial) do ser e da

vida sob a ação de Deus” (MOUROUX, 1952 apud VALLE, 2005, p. 98). Tomando essa temática sob a perspectiva fenomenológica, o conceito de experiência religiosa está bastante relacionado ao conceito de religiosidade, pois pressupõe uma experiência pessoal de cada pessoa com o que se entende por religião, sendo esta a perspectiva da qual se parte para esta pesquisa.

(27)

para o porquê último da vida. Neste sentido, para Boff (2006, p.23), colocar

questões fundamentais e captar a profundidade do mundo, de si mesmo e de cada coisa constitui o que se chamou de espiritualidade. Assim, a espiritualidade é

inerente ao ser humano, não sendo possível se tornar um ser psicologicamente adulto sem que seja espiritual. Desta forma, compreende-se que um ateu pode ser espiritualmente rico (VALLE, 2005), apesar de não ser religioso. Assim, espiritualidade não implica ligação com uma realidade superior ou um ser transcendente; significa deixar-se levar pelos valores e pelos significados (GIOVANETTI, 2005). Na espiritualidade se constrói o sentido por meio da reflexão sem a ligação com um ser superior; já na religiosidade, a construção de sentido se dá por meio da vivência de uma crença (GIOVANETTI, 2005). Paiva (2005) defende

que se mantenham em separado os termos psicologia da religião e psicologia da

espiritualidade. Ele critica o termo espiritualidade quando compreendido como antagônico da religiosidade e afirma que uma espiritualidade como objeto da psicologia seria aquela que:

“no sentido de busca de autonomia, de construção pessoal da relação com

a totalidade, de respeito à singularidade do indivíduo, de abertura e de experimentação do novo, de recusa da rigidez, do autoritarismo e da

alienação, é um bem desejável e condizente com o aprimoramento humano”

(p. 43).

Segundo Aletti (2012, p.166): “a religião é uma das respostas possíveis à demanda geral de sentido colocada pelo ser humano. Essa demanda de sentido, por sua vez, pertence à espiritualidade”.

Para Farris (2005, p. 165), a confusão entre os termos espiritualidade e religiosidade pode ser explicada, em parte, pelo fato de que segundo as tradições

nos contextos religiosos ocidentais, o termo espiritualidade “evoca, quase

automaticamente, imagens de devoção, piedade e práticas religiosas relacionadas aos conceitos de espírito e alma”. Porém, o autor menciona outra descrição possível, que compreende a espiritualidade como descoberta de significado por meio de relacionamentos entre a pessoa com o outro e com o mundo, sendo, muitas vezes, um processo inconsciente, ou não intencional, porém, aparentemente universal.

(28)

sentido por meio de uma crença religiosa, mas por meio de uma construção pessoal da relação com a totalidade. Pelo fato de este trabalho abranger também participantes não religiosos, em uma perspectiva qualitativa, compreende-se que pretende conhecer a espiritualidade destes participantes. Será, portanto, adotado aqui o termo religiosidade, partindo-se do princípio de que ele está necessariamente imbuído de aspectos do conceito de espiritualidade (STROPPA; MOREIRA-ALMEIDA, 2008; MARQUES, 2009). Entretanto, ao se abordar os participantes da pesquisa que alegam não terem religião, poderá ser empregado o termo espiritualidade, sem necessariamente manter conexão com aspectos do conceito de religiosidade. Isto está em consonância com o que propõe Marques, Cerqueira-Santos e Dell’Aglio (2011, p.79): “[...] observa-se que vários estudos internacionais tendem a utilizar ambas as terminologias de maneira complementar e intricada, como se a religiosidade envolvesse espiritualidade, sendo o oposto também verdadeiro para alguns casos”.

Esclarecidas as questões conceituais, a seguir são apresentados e discutidos alguns aspectos históricos e contemporâneos da realidade brasiliense, a fim de contextualizar socioculturalmente o local em que se situam os participantes desta pesquisa.

2.2. Religiosidade em Brasília

Vasconcelos (2007), autor de livros sobre a história da construção de Brasília, apresenta, de modo muito entusiasmado, informações a respeito do processo de

interiorização da capital do Brasil. Uma delas é a respeito de Dom Bosco – um ser

humano dedicado aos ensinamentos cristãos na cidade italiana de Turim, fundador da Congregação Salesiana – que teve, aos 68 anos de idade, em 1883, um sonho/visão profético, no qual viu o “surgimento de uma nova civilização entre os paralelos 15 e 20, numa enseada bastante extensa, que partia de um ponto, onde se formava um lago” (p. 27).

(29)

Outro fato importante ocorreu no início das obras da construção de Brasília, quando foi realizado o evento conhecido como “batismo espiritual” da cidade na realização de uma missa. Após esse evento seguiram-se: em dezembro de 1956 foi edificada uma ermida a Dom Bosco, no alto de um morro do outro lado do lago; o padre salesiano Osvaldo Sérgio Lobo se fixou no canteiro de obras; houve a fundação da primeira Loja Maçônica, a Estrela de Brasília; o pastor Elias Brito Sobrinho inaugurou a Primeira Igreja Batista; o padre Roque Valiatti Baptista criou a Paróquia de Dom Bosco; pouco depois, chegaram os espíritas e construíram o Centro Espírita Sebastião, o mártir; e Yokanan e seus seguidores, em uma região próxima a Brasília, fundaram a Cidade Eclética (VASCONCELOS, 2007). Também vale mencionar a criação por “tia Neiva”, em 1959, do movimento doutrinário e religioso conhecido como “vale do amanhecer”, hoje localizado no norte do Distrito Federal. Os monumentos mais visitados de Brasília são religiosos: a Catedral, a Igreja Dom Bosco e o Templo da Legião da Boa Vontade.

De fato, a identidade mística de Brasília tem sido objeto de vários estudos. Freire e Dante Júnior (2011), por exemplo, realizaram um trabalho com base na fenomenologia da Geografia, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e entrevistas. Por meio da retrospectiva realizada sobre o processo de interiorização, identificaram que o místico já estava presente em seus idealizadores por eles acreditarem que, a partir da transferência da capital do Brasil, o país alcançaria o progresso. Além disso, por meio das funções políticas e econômicas de Brasília, esta acaba por ser também centro de concentração do imaginário popular e, por trás da paisagem institucional, existe uma cultural, construída pela subjetividade do ser humano e suas experiências íntimas na relação com o lugar em que vive.

(30)

Pelo que esses e outros estudos indicam, tanto por ter sido uma cidade planejada, sonhada, quanto por possibilitar o surgimento de uma “nova civilização” – entenda-se nova civilização por um povo advindo de várias partes do país, com diferentes culturas, costumes, culinárias, sotaques –, Brasília se tornou solo fértil ao surgimento de novas religiosidades / espiritualidades. No Censo de 2010, constatou-se que a cidade possuía aproximadamente 2.570.160 habitantes e um território de 5.779.999 Km², e que a população residente de religião católica apostólica romana era de 1.455.134; a evangélica era de 690.982; a sem religião era de 236.528; e a espírita era de 89.836 (IBGE, 2010).

A adolescência, como já se disse antes, é uma faixa etária do desenvolvimento que vivencia a religiosidade de maneira peculiar. Considera-se importante conhecer como se manifesta a vivência religiosa / espiritual de adolescentes no contexto da “Terra Prometida”. Na sequência, portanto, abordar-se-á o modo com as pesquisas têm revelado a maneira de os adolescentes vivenciarem a R / E para depois apresentar em mais detalhes os objetivos e a metodologia empregada nesta pesquisa.

2.3. Adolescência e religiosidade

2.3.1. A fase da adolescência

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relações, os fatos sociais surgem dessas relações e os homens atribuem significados a estes fatos, criando e definindo conceitos (AGUIAR; BOCK E OZELLA, 2001).

No Brasil, um marco dessas mudanças na compreensão da adolescência foi a criação da Lei nº 8.069, de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 2005). Desde então esta fase tem recebido mais atenção, o que pode ser observado, por exemplo, com a disponibilização da caderneta de saúde do(a) adolescente, que foi desenvolvida pelo Ministério da Saúde. Ela possui versões femininas e masculinas, e é bastante completa e orientadora quanto a aspectos da saúde física e psicológica dessa fase (CADERNETA DA SAÚDE DA ADOLESCENTE, 2009; CADERNETA DA SAÚDE DO ADOLESCENTE, 2009).

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (2005), considera-se adolescente a pessoa entre doze e dezoito anos de idade – o estatuto pode ser aplicado excepcionalmente nos casos expressos em lei, às pessoas com idade entre

dezoito e vinte e um anos. A questão da religiosidade na adolescência é vista como

um direito fundamental por este Estatuto, visto que a cita em seu Artigo 16, Parágrafo III, que a criança e o adolescente têm direito à crença e culto religioso. Este direito está citado mais especificamente no Capítulo II, que trata do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade (ECA, 2005). O ECA foi um marco na transformação do tratamento dado às crianças e adolescentes. Com ele, passou-se a observar as necessidades, direitos e deveres do ser em desenvolvimento e clarificou o que se espera de seus cuidadores. Alguns criticam a necessidade da criação deste estatuto por entenderem que o Estado passou a interferir na vida familiar; outros compreendem que ele se tornou necessário, tendo em vista que as famílias precisavam desse apoio e orientação. O mais importante é que houve mudança significativa na maneira de compreender a criança e o adolescente, que antes eram compreendidos como um ser formado e pronto, podendo ser tratado da mesma forma que um adulto, e que agora é visto como carente de cuidados por parte de seus cuidadores.

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dos 15 aos 19 anos, corresponde ao término da fase de crescimento e desenvolvimento morfológicos, e nele as características de mudança na personalidade e relacionamento social podem ser facilmente percebidas (OMS, 1995). Estas classificações são necessárias para padronizar uma linguagem compreensível a todos. Em se tratando de uma organização mundial, facilita a comunicação, principalmente em termos de pesquisas e de políticas públicas.

De forma geral, a adolescência é compreendida como a fase do desenvolvimento humano que ocorre no período de transição entre a infância e a idade adulta (ERIKSON, 1980; COLE & COLE, 2003). A palavra “adolescência” se origina do latim adelesco que significa “crescer”. Jean-Jacques Rousseau (1712– 1778), o primeiro grande teórico da adolescência, em seu tratado sobre a natureza humana e a educação, sugeriu três características da adolescência que ainda desempenham um papel predominante nas discussões atuais: 1. A maturação biológica provoca instabilidade e conflito emocional; 2. As mudanças biológicas e sociais que ocorrem mais proeminentemente nessa fase acompanham-se de uma mudança fundamental nos processos psicológicos; 3. O adolescente recapitula os primeiros estágios pelos quais a criança passou (COLE & COLE, 2003).

O tema da religiosidade se fez presente no início da Psicologia, tendo sido abordado pelos grandes pioneiros em Psicologia do Desenvolvimento, tais como Stanley Hall (1844–1924), que se destaca por ser um dos primeiros grandes teóricos em estudos da adolescência, no âmbito específico da Psicologia. Ele também acreditava na recapitulação, tendo desenvolvido a Teoria da Recapitulação do Desenvolvimento; porém de forma diferente de Rousseau, pois era baseada no evolucionismo. Para ele, o desenvolvimento normal da mente envolvia uma série de estágios evolucionários, onde o ser humano passa desde a infância por uma repetição da história da raça humana até se tornar um humano racional e civilizado na vida adulta. Hall ampliou o conceito da evolução biológica de Darwin e, desenvolveu sua teoria no campo da Psicologia Biogenética, onde estabeleceu que a história experimental da espécie humana se tornou parte da estrutura genética de cada indivíduo. Em sua perspectiva, ao passar pela recapitulação, a pessoa revive o desenvolvimento da espécie humana desde o seu estado de animal selvagem nas eras primitivas até os estados de vida civilizada mais recente (HALL, 1916).

Para Hall, a adolescência é o período denominado “tempestade e tensão”. Na

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humanidade passava por turbulência e transição. Hall vê esse período como o momento de renascimento, em que a emotividade e o estresse estão aumentados. O grupo de companheiros tem muita influência sobre o adolescente, e ele nunca mais sofrerá tanta influência quanto nessa fase. Ao mesmo tempo em que o

adolescente deseja solidão e reclusão, ele se encontra emaranhado em “paixonites”

e amizades. Algumas vezes ele poderá demonstrar insensibilidade e crueldade; em outras, ele se mostrará extremamente sensível e terno. Há uma fome de ídolos e autoridades, mesmo com o radicalismo revolucionário dirigido a qualquer tipo de autoridade. O indivíduo alcança a sua maturidade quando recapitula o estágio do começo da civilização moderna (HALL, 1916).

Oliveira (2006) critica esta tendência inaugurada por Hall, que possui raízes em Aristóteles, passando por Rousseau até chegar aos psicólogos da atualidade. Para a autora, essa concepção revestiu a modernidade de um enquadre negativo do que seja adolescência e juventude, com a ideia de que o jovem é arrebatado por emotividade e estresse aumentados. Ela destaca também a contribuição de obras psicanalíticas para a proliferação dessa vertente, tais como as de Freud (1978, 1995) e as de Aberastury (1983) e Aberastury & Knobel (1988), para citar alguns nomes (OLIVEIRA, 2006).

Não existe uma teoria sobre a adolescência que seja amplamente aceita. Observa-se que uma das vertentes de compreensão da adolescência concentra-se em aspectos biológicos. Esta vertente também é importante, pois é complementar a outras vertentes que se lançam a compreensões contextuais, psicológicas e existenciais. É necessário conhecer as limitações dessa abordagem, já que tende a universalizar o fenômeno biológico da adolescência, abrindo pouco espaço para diferenças individuais. Por muito tempo a adolescência foi vista apenas sob esse aspecto. Posteriormente, o termo começou a ter uma conotação psicossocial. Em geral, os autores são unânimes em apontar que a adolescência passa por um momento denominado puberdade, que se trata do amadurecimento fisiológico e corporal. O consenso não existe quanto às questões emocionais e psicológicas.

(34)

1996; BEE, 1997; COLE & COLE, 2003). O momento de início da puberdade entre meninos e meninas possui variação, apesar de se observar em várias culturas que esse fenômeno tem se iniciado mais cedo do que há alguns anos (COLE & COLE, 2003). Sabe-se que as transformações biológicas têm implicações sociais, psicológicas e existenciais, como também questões sociais e culturais atribuem diferentes significados às mudanças pubertárias.

No aspecto sociológico, ocorre transição da dependência infantil para a autossuficiência adulta. Passa-se de um estado de dependência para uma condição de autonomia, em que se começa a assumir funções e responsabilidades que caracterizam o mundo adulto. Para Erikson (1980), outro importante pioneiro nesse campo, a adolescência é uma espécie de morada entre a infância e a vida adulta; ela molda a base para uma personalidade adulta estável (COLE & COLE, 2003). Existe também um desejo de maior independência em relação aos pais, o que pode gerar conflitos em casa (MUUSS, 1966; ROSA, 1996; COLE & COLE, 2003). Porém,

a maior parte dos adolescentes compartilha valores de seus pais – ao contrário da

hipótese de uma cultura jovem diferente e separada dos adultos –, sendo o diálogo o método principal para a resolução de desacordos entre os adolescentes e seus pais (COLE & COLE, 2003).

Pesquisas têm revelado diferentes maneiras de vivenciar a fase da adolescência, de acordo com diferenças na idade, no sexo, na classe socioeconômica e na etnia. Dependendo desses aspectos, o adolescente pode vivenciar esta fase sem percebê-la como conflituosa e tendo um bom relacionamento com os pais, por perceber que a limitação imposta pelos pais se deve a questões da ordem da proteção ao adolescente. Assim, desmistifica-se a concepção de adolescência problemática (OZELLA; AGUIAR, 2008). Pode-se falar de várias adolescências, sobretudo ao considerar um país cuja extensão territorial é grande como o Brasil.

A adolescência deve ser compreendida em seu contexto sócio-histórico. Bock (2004) só considera possível a compreensão do psiquismo humano considerando o seu processo de inserção na cultura e nas relações sociais. Ela critica trabalhos que priorizam a caracterização da adolescência por meio de aspectos biológicos, o que simplificaria a adolescência a uma vertente naturalizante:

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processo, todo o processo social constitutivo da adolescência” (BOCK, 2004, p. 33).

Quanto à identidade na adolescência, Erikson (1980) ficou conhecido por abordar esse aspecto, ressaltando que o dilema central da adolescência é o da

identidade versus confusão de papéis. É necessário forjar uma nova identidade a fim de colocar o jovem entre os papéis da vida adulta – papéis profissionais, sexuais e religiosos. A confusão em face dessas escolhas é inevitável. Com relação à América do Norte, Bee (1997) afirma que o status de obtenção da identidade costuma ocorrer durante os primeiros anos de universidade. No entanto, um terço dos jovens desvela não enfrentar crise alguma, pois encontram-se no status de exclusão, bastante comum em culturas não industrializadas, onde se espera que crianças sigam as escolhas profissionais e sexuais dos pais. No caso dos jovens que vão trabalhar, eles adquirem uma identidade profissional mais cedo, pois frequentar a universidade adia o status adulto total. No final da adolescência ocorre

uma espécie de reorganização no conceito de self, com a criação de uma identidade

nova, voltada para o futuro – sexual e ideológica.

Também para Schoen-Ferreira et al. (2003), assim como para Erikson, a tarefa mais importante da adolescência é a construção da identidade, o passo crucial da transformação do adolescente em adulto produtivo e maduro. A formação da identidade é influenciada por três fatores: intrapessoais (as capacidades inatas do indivíduo e as características adquiridas da personalidade); interpessoais (identificações com outras pessoas) e culturais (valores a que uma pessoa está exposta, tanto globais quanto comunitários). No aspecto psicológico, deve ocorrer a definição da identidade, em que há repercussões com consequências para o

adolescente e a sociedade. Nesse sentido, adolescência é uma “situação marginal”,

em que novos ajustamentos devem ser feitos para distinguir o comportamento da criança do comportamento do adulto (MUUSS, 1966; ROSA, 1996).

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convencionais. Quanto a pensar além dos limites convencionais, pode ser a capacidade do uso de suas habilidades cognitivas mais sofisticadas para pensar de uma nova maneira questões fundamentais das relações sociais, da moralidade, da política e da religião. Há uma motivação alta para a descoberta da maneira adequada de agir, já que o adolescente percebe as disparidades entre os ideais da comunidade e o comportamento dos adultos que o cercam.

A qualidade do pensamento do adolescente varia segundo o conteúdo e os contextos. Entretanto, consideram-se importantes as contribuições de Piaget quanto ao pensamento operatório formal, desde que consideradas as variações culturais em que ele se apresenta. Inhelder e Piaget (1958) são mencionados por Cole & Cole (2003) por tratarem das mudanças ocorridas na maneira como os adolescentes pensam. Nessa fase ocorrem mudanças sobre como eles pensam a respeito de seus relacionamentos pessoais, sobre a natureza da sociedade e sobre si mesmos, o que se deve ao desenvolvimento de uma nova estrutura lógica chamada de operações formais, segundo a qual o adolescente adquire a capacidade de pensar de forma sistemática sobre todas as relações lógicas dentro de um problema, desenvolvendo interesse em ideias abstratas e no processo de pensamento em si. As operações formais são um tipo de operação mental em que todas as combinações possíveis são consideradas para a resolução de um problema; assim, o raciocínio opera de forma contínua como uma função de um todo estruturado. O pensamento operatório formal permite que os jovens pensem sobre questões políticas e jurídicas como princípios abstratos, permitindo-lhes pensar sobre o lado benéfico das leis e não apenas o punitivo. Podem também observar e interessar-se nos princípios éticos e nas incoerências dos adultos, por estes dizerem uma coisa e realizarem outra. Os escritos de Piaget sugerem que o pensamento operatório formal ocorre de forma consistente em diferentes domínios do pensamento do adolescente, e que esse pensamento é tão universal quanto a puberdade, devendo entender-se que há grande variação em quando e sob que circunstâncias ele se manifesta, considerando-se que cada pessoa atinge esse estágio em diferentes áreas e de acordo com suas aptidões. Logo, a maneira como as estruturas formais são utilizadas não é a mesma em todos os casos.

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incentivo da família para com os estudos; 82,1% dos adolescentes relataram que a família oferece segurança; 71,1% relataram que não há conflitos relevantes na família; 57,9% disseram ter privacidade em casa; 62,3% disseram que em casa há respeito mútuo entre as pessoas; 57,3% disseram que, quando falam em casa, têm a atenção da família; e 53% disseram que na família as pessoas tendem a se ajudar mutuamente. Nessa pesquisa, observa-se que os jovens têm uma percepção predominantemente positiva do ambiente familiar. A rede de amigos também se mostrou como um grupo importante, tanto para a proteção quanto para a constituição da identidade dos adolescentes, pois 96,3% disseram ter amigos que lhes fornecem apoio emocional, espiritual, material, social e também nas tarefas escolares. Outro fator de proteção mencionado por este grupo de pesquisadores se refere ao envolvimento que eles têm com a escola: 90,5% mencionaram a importância dos estudos atualmente, e 84,1% mencionaram a importância dos estudos futuramente; 84,1% mencionaram o desejo de fazer faculdade e o mesmo percentual reconhece a necessidade de muito esforço pessoal para isso. No que concerne a autoestima, que é considerada um fator pessoal de proteção, 80,5% dos jovens desta pesquisa declararam sentir-se pessoas de valor; 72,1% acham que têm boas qualidades e 57,8% se consideram criativos. Porém, 28,6% declararam sentir que não “prestam” para nada; 24,8% declaram ter manifestações ocasionais de inutilidade, e 18,1% declararam ter sentimentos de fracasso. Esses dados, observados em seu conjunto, mostraram a convivência entre aspectos positivos e negativos de forma harmônica e previsível, e permitem a visualização de uma juventude comprometida consigo mesma e consciente de limites e frustrações importantes para o próprio amadurecimento.

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desvela a mais adequada para medir a religiosidade afro-brasileira, pois esta está ancorada no sincretismo religioso. Em síntese, o estudo revelou uma diminuição da adesão à religião institucionalizada; os adolescentes brasileiros continuam a acreditar em Deus embora haja uma tendência à individualização da fé.

Segundo Almeida e Montero (2001), jovens de nível socioeconômico baixo são a população que mais muda de religião no Brasil – questionam a religião dos pais e procuram respostas em outras afiliações. Eles disseram que no Brasil, tradicionalmente, o índice de autoafirmação como católicos é maior, ainda que de fato não pratiquem esta religião. Parte disso se explica pela questão cultural, pois a religião faz parte da cultura brasileira e foi introjetada na identidade dos que se afirmam católicos, muitas vezes pelo fato de terem sido criados em famílias católicas – e batizados, como iniciação na religião. Assim, os jovens apresentaram, nesta

pesquisa, alto percentual de respostas “sem religião”, o que demonstrou que nessa

fase há um maior afastamento das religiões institucionalizadas e um maior trânsito religioso.

Pode-se dizer que na adolescência ocorrem transformações biológicas, psicológicas, sociais, e existenciais – dentre as quais, incluem-se mudanças nos valores, que deixam de ser exclusivamente emitidos pela família e passam a ser produto de uma reflexão e experiência pessoal do adolescente. Ele passa a desenvolver seu próprio jeito de visualizar o mundo, incluindo reflexões acerca das instituições religiosas e sua maneira de lidar com elas. Sendo a adolescência a fase de mudanças nos papéis, inclusive religiosos (Erikson, 1980), no próximo tópico aborda-se mais especificamente a adolescência e sua maneira peculiar de vivenciar a religiosidade.

2.3.2. Religiosidade na adolescência: a perspectiva de Amatuzzi

Vários teóricos, especialmente os pioneiros da área, abordaram o tema da religiosidade na adolescência, considerando sua importância nos estudos do adolescente de forma integral. Atualmente, entretanto, encontram-se poucos estudiosos que têm se debruçado sobre essa questão específica, principalmente no Brasil.

(39)

sobre o período da adolescência. Embora o autor busque em outros autores elementos para elaborar o seu próprio esboço teórico, ele toma as noções de experiência e de consciência como conceitos-chave, em consonância com os pressupostos da fenomenologia. Ele buscou elementos nos seguintes autores para a elaboração de sua teoria: Piaget e as etapas da construção de um eu; Maslow e a hierarquia das necessidades; Erik Erikson e sua visão abrangente das oito idades da vida; e James Fowler e sua pesquisa sobre os estágios da fé.

Um dos conceitos mais importantes que embasam a hipótese geral do desenvolvimento religioso é o de experiência, o qual implica um grau mínimo de consciência. Não se refere ao pensamento sobre o que aconteceu, mas trata-se de uma experiência vivida, e não apenas de ter passado materialmente pela situação. É um contato com uma realidade da ordem da consciência que pode ser emocionalmente muito forte e até mesmo impactante. É a experiência de outra dimensão da realidade. As interpretações das experiências podem nos distanciar das mesmas, já que podemos utilizar essas interpretações para nos proteger das experiências, de forma a distorcê-las quando as sentimos como ameaçadoras. Essas interpretações, mais próximas ou não do que realmente aconteceu no âmbito da experiência, podem se tornar rígidas e passar a determinar nosso comportamento posterior, o que pode nos impedir de nos dar conta de certos fatos, isto é, experienciar verdadeiramente. Essas interpretações possuem vida própria e corremos o risco de ficarmos presos no mundo dos conceitos. Isso caracteriza uma espécie de dogmatismo. O grau da experiência não se refere a esses pensamentos posteriores às experiências, ele se refere à capacidade de nos darmos conta do que acontece “sem pensar”. Seria um pensar diferente, diretamente ligado ao que acontece, que permite remeter-se inteiramente à realidade. Seria um pensar transparente; o que se revela é a própria realidade. Portanto, o grau de elaboração da experiência relaciona-se com a consciência que se tem da realidade – uma experiência plena, elaborada, é uma experiência plenamente consciente. Plenamente consciente não significa haver pensado bastante sobre a experiência, mas diz respeito à consciência sobre a experiência, uma consciência que se aproxima ao máximo do vivido (AMATUZZI, 1999).

Em consonância com a perspectiva piagetiana, o autor estabelece que,

quando não se usam os pensamentos secundários como esquema rígido – que faz

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ser úteis em decisões pragmáticas. O interessante é que o desdobramento da experiência só é permitido pelo grau de elaboração da experiência. Quando se tem consciência plena do que está acontecendo, abre-se para novas experiências, para perceber outras coisas, e há compreensão mais profunda das experiências anteriores.

O campo religioso, campo das indagações sobre tudo o que acontece, indagações sobre o sentido último, questões do transcendente, o dar-se conta plenamente dessas questões de sentido, experienciando-as verdadeiramente, abre o ser humano para novas experiências. No caso das experiências acumuladas e cristalizadas pela humanidade no decorrer do tempo, religiões ou filosofias se apresentam de forma que não é em conexão com o campo de experiência tal como vivido pelo ser humano. A religião da família, por exemplo, chega com uma resposta pronta que pode ser assimilada ou não. Existe uma separação entre a resposta pronta (a religião da família) e o campo de experiência da pessoa (o que ela sente). Nessa separação, um todo rígido, uma elaboração secundária tornada autônoma, que exclui as questões existenciais que se possa ter, é a forma como a resposta pronta pode ser vista, ou seja, de forma a distanciar as pessoas das próprias questões existenciais que carrega, da própria experiência. Desta forma, cria-se a religião como alienação. Seria esta a religião usada para abafar as questões que a pessoa traz dentro de si, o que não facilita ações no sentido de solucioná-las. O que pode ocorrer nesse caso é a pessoa rejeitar essa religião para então poder retornar à sua experiência original, ou aceitá-la nessa condição e utilizá-la para se proteger de sua experiência original sentida como ameaçadora. A primeira possibilidade é a mais saudável. O que desencadeia isso é a separação entre o sistema religioso e a experiência. Isso faz com que a religião seja vista como algo fora da pessoa, desvirtuando, assim, o sentido humano da religião. Outro problema que pode ocorrer é a pessoa associar as questões de sentido a esse tipo de religião e anestesiar suas questões por rejeitar essa religião. Com isso, a pessoa fica com um conceito infantil, inadequado e rígido de religião. Então, ao rejeitar essa religião, e juntamente com ela as questões de sentido da vida, a religião também serve como anestesia da pessoa (AMATUZZI, 1999).

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FIGURA  1:  A  RELIGIOSIDADE/  ESPIRITUALIDADE  E  OS  EIXOS  TEMÁTICOS  INVESTIGADOS
FIGURA  2:  TEMA-EIXO  –  R  /  E  e  FAMÍLIA,  E  SEUS  SENTIDOS  APREENDIDOS
FIGURA 3: TEMA-EIXO – R / E e VIDA PESSOAL, E SEUS SENTIDOS  APREENDIDOS
FIGURA 4: TEMA-EIXO – R / E e CÍRCULO SOCIAL, E SEUS SENTIDOS  APREENDIDOS
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