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Eixos temáticos investigados referentes à religiosidade/ espiritualidade e os valores

5. R/ E e VALORES EM ADOLESCENTES DO DISTRITO FEDERAL

5.2. Eixos temáticos investigados referentes à religiosidade/ espiritualidade e os valores

Os eixos temáticos abordados no contexto das entrevistas, em conexão com os itens do questionário, estão sistematizados na Figura 1. O

círculo central corresponde ao tema principal do trabalho: a Religiosidade/ Espiritualidade na Adolescência. Os círculos interconectados ao maior correspondem aos eixos temáticos, cujos sentidos apreendidos serão expostos em quadros e diagramas complementares, na sequência.

FIGURA 1: A RELIGIOSIDADE/ ESPIRITUALIDADE E OS EIXOS TEMÁTICOS INVESTIGADOS

Cada eixo temático possui quadros que foram estruturados conforme questões específicas do Questionário, em consonância com as entrevistas.

5.3. Tema-eixo 1: R / E e família

Este eixo temático possui quatro quadros, apresentados na sequência: contexto familiar; relacionamento familiar; influência religiosa familiar e religiosidade/ espiritualidade e família.

Para estruturação do Quadro 3 – Contexto Familiar – foram consideradas as respostas às questões 3, 4, 5, 6 e 7 do Questionário respondido pelos adolescentes.

QUADRO 3: CONTEXTO FAMILIAR

Nome

Adultos com quem convive Situação sociocultural

Livros Pai Mãe Irmãos Outros

(quem) Moradia Situação Financeira Grau de Instrução do pai Grau de instrução da mãe

Adriana Poucos - X - Padrasto Alugada M. B 2º 1º

Adriano Pouquíssimos - X - - Própria Razoável 2º 2º

Bruna Muitos X X - - Alugada M.B Superior Superior

Bruno Muitos _ X _ Padrasto Alugada M. B. 2º 2º

Carla Razoável _ X _ Padrasto Cedida Razoável Superior 1º

Carlos Pouquíssimos _ X - - Própria Médio

Sabe ler, mas não foi à

escola

Analfabeta

Daniela Poucos _ X - Padrasto Própria M. B. 1º 1º

Daniel Médio X X - - Própria M.B 2º incompleto 2º incompleto

Nome

Dinâmica Familiar

Quantidade de irmãos Experiências difíceis Como se sente

afetado

Adriana 0 Sim, falecimento do irmão Muito.

Adriano 2 Não Não se aplica.

Bruna 1 Sim, falecimento da avó Muito.

Bruno 4 Sim, separação dos pais e perda de ente querido Em nada.

Carla 13 Sim, divórcio dos pais Pouco.

Carlos 1 Sim, falecimento da prima Razoável.

Daniela 2 Não Não se aplica.

Verificou-se que todos os adolescentes entrevistados moram com a mãe, porém apenas dois deles moram também com o pai, a Bruna (evangélica) e o Daniel (agnóstico) – os dois de três adolescentes que possuem pai e mãe evangélicos.

Percebeu-se maior presença das mães que dos pais na vida dos adolescentes. Todos residem com a mãe. Apesar de eles mencionarem alguns conflitos, todos disseram se sentir bem perto da mãe, exceto o menino agnóstico, que disse raramente se sentir bem perto da mãe. Somente dois adolescentes residem com o pai e a mãe, ou seja, os pais não são separados. Nos dois casos, tanto o pai quanto a mãe são evangélicos.

Dentre as experiências difíceis mencionadas pelos adolescentes, dois deles (Carla e Bruno) mencionaram o divórcio dos pais, porém um deles disse se sentir nada afetado com isso atualmente, enquanto o outro disse se sentir pouco afetado. Nos dois casos, os adolescentes não possuem bom relacionamento com o pai, nem o pai com os irmãos, e nem o pai com a mãe. Nesses dois casos, as mães se recasaram e eles convivem atualmente com o padrasto.

Outras duas adolescentes convivem também com o padrasto (a menina agnóstica e a menina católica), o que demonstra também terem vivido o rompimento do relacionamento dos pais. Cinco dos oito casos apresentam dificuldades de relacionamento entre o pai e a mãe dos adolescentes.

O Quadro 4 nos apresenta questões sobre o relacionamento entre os membros familiares. Para sua composição, foram consideradas as respostas às questões 8, 8.1, 9 e 10 do Questionário.

QUADRO 4: RELACIONAMENTO FAMILIAR

Nome

Qualidade do relacionamento

Eu-Mãe Eu-Pai Mãe-Pai Eu-Irmão(os) Mãe-Irmão(os) Pai-Irmão(os)

Adriana Medianamente bem Nada bem Raramente bem _ _ _

Adriano Medianamente bem Medianamente bem Raramente bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem

Bruna Não respondeu Não respondeu Muito bem Muito bem Não respondeu Não respondeu

Bruno Muito bem Nada bem Nada bem Muito bem Muito bem Nada bem

Carla Muito bem Nada bem Nada bem Muito bem Muito bem Raramente bem

Carlos Razoavelmente bem Medianamente bem Nada bem Raramente bem Muito bem Muito bem

Daniela Muito bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem Razoavelmente bem

QUADRO 4: RELACIONAMENTO FAMILIAR (CONTINUAÇÃO)

Nome Poder de decisão na família Papel dos pais na família

Eu Mãe Pai Irmãos(ãs) Outros(as) Mãe Pai

Adriana Raramente decide

Decide qualquer

coisa

Não decide nada _ -

Raras vezes castiga, apoia muitas vezes e compreende às

vezes.

Nunca castiga, nunca apoia e às vezes compreende. Adriano Na maioria das vezes decide Na maioria das vezes decide

Decide qualquer coisa

Mais novo não decide nada; mais velho raramente decide algo

_

Raras vezes castiga, nunca apoia e raras vezes

compreende.

Às vezes castiga, raras vezes apoia e sempre

compreende. Bruna Na maioria das vezes decide Decide qualquer coisa

Decide qualquer coisa Mais velho decide

qualquer coisa -

Raras vezes castiga, sempre apoia e sempre compreende.

Raras vezes castiga, sempre apoia, sempre

compreende. Bruno Na maioria das vezes decide Decide qualquer coisa

Não decide nada

Mais velho não decide nada; mais novo às vezes

sim, outras não.

- Raras vezes castiga, sempre apoia e compreende.

Nunca castiga, nunca apoia e nunca compreende. Carla Às vezes sim, outras não. Decide qualquer coisa

Não decide nada

Mais velho não decide nada; mais novo raramente decide algo.

_ Raras vezes castiga, sempre apoia e sempre compreende.

Nunca castiga, nunca apoia e nunca compreende. Carlos Raramente decide Decide qualquer coisa

Não decide nada Mais velho raramente

decide algo. -

Raras vezes castiga, às vezes apoia e às vezes compreende.

Nunca castiga, às vezes apoia e raras vezes

compreende. Daniela Não decide nada Decide qualquer coisa

Na maioria das vezes

decide Não decide nada _

Raras vezes castiga, às vezes apoia e nunca compreende.

Nunca castiga, raras vezes apoia e raras vezes compreende. Daniel Raramente decide Na maioria das vezes decide Às vezes decide,

outras vezes não. Raramente decide -

Nunca castiga, nunca apoia e raras vezes compreende.

Nunca castiga, às vezes apoia e às vezes

A respeito das mudanças que alguns adolescentes gostariam de realizar na mãe, a menina católica gostaria que a mãe não fosse complicada; o menino católico gostaria que a mãe dele fosse menos rígida; os agnósticos gostariam que as mães não fossem preconceituosas, sendo que o menino gostaria também que a dele não gritasse.

Todos os adolescentes mencionaram que, quando a mãe e os irmãos deles estão juntos, sentem-se bem, variando em intensidade – o que mostra influência positiva da mãe no desenvolvimento desses filhos. Outro fator interessante foi a respeito do poder de decisão das mães na família: seis dos adolescentes disseram que a mãe decide qualquer coisa e dois deles disseram que ela decide na maioria das vezes. Quanto ao papel da mãe, sete adolescentes disseram que ela raras vezes castiga, e um disse que ela nunca castiga. Seis adolescentes disseram receber apoio da mãe, ainda que às vezes, e sete disseram que a mãe os compreende, ainda que não da forma como gostariam.

O relacionamento dos adolescentes com o pai apresentou significativos problemas na metade dos casos, estendendo esse relacionamento conflituoso para os irmãos dos adolescentes. Somando-se a isto, quatro adolescentes disseram que o pai não decide nada na família – e é exatamente nas famílias em que os adolescentes possuem conflitos com esse pai –, o que difere muito dos resultados a respeito das mães. Somente o menino católico e a menina evangélica disseram que o pai decide qualquer coisa na família. O pai que às vezes castiga os filhos é o que possui maior poder de decisão na família, em mais de um caso. Mais da metade dos adolescentes disse ter problema quanto ao apoio do pai, sendo que três nunca o recebem e dois raramente o recebem. Seis adolescentes responderam ter problemas com relação à compreensão do pai. Somente o menino agnóstico mencionou o pai como companheiro. A menina evangélica disse que tanto o pai quanto a mãe são legais, dão liberdade, mas com regras.

Três adolescentes (Adriana, Carla e Carlos) mencionaram a ausência paterna de forma naturalizada, como se eles esperassem que esses pais realmente fossem ausentes, e não demonstraram esperança de que pudesse ser diferente.

A figura paterna exerce influência na vida dos adolescentes quanto a acompanhá-los a celebrações religiosas. Apesar da intensidade dos conflitos do pai com Carla, este é o único pai que sempre acompanhou a filha a celebrações religiosas. Três adolescentes tiveram ausência do acompanhamento do pai a celebrações religiosas. Já a respeito de rezar ou orar com o adolescente, somente o pai de Adriano e o de Bruna raras vezes o fizeram com eles. Os outros pais nunca rezaram ou oraram com os filhos, diferença significativa quando se compara às mães.

Todos os adolescentes responderam se sentir bem na presença dos irmãos, exceto o menino espírita. A menina católica, apesar de ter duas irmãs paternas, considera não ter irmãos.

O menino católico e os participantes evangélicos demonstraram ser os adolescentes que possuem maior autonomia para tomar decisões, de acordo com suas respostas. Quanto à autonomia religiosa, somente os participantes evangélicos disseram que os pais lhes conferem autonomia por completo. O pai do participante católico, o do espírita, e o do agnóstico concedem mais autonomia religiosa a eles que a mãe. Já a mãe da menina espírita concede- lhe mais autonomia que o pai. Tanto o pai quanto a mãe da menina agnóstica lhe concedem autonomia de forma mediana. No caso da menina católica, nem a mãe, nem o pai lhe concedem autonomia religiosa.

O quadro 5 apresenta conteúdos sobre a influência religiosa familiar. Para a composição, foram consideradas as respostas às questões 11, 12 e 13.

QUADRO 5: INFLUÊNCIA RELIGIOSA FAMILIAR

Nome

Papel da religião na família Respeito às datas

comemorativas

Seguimento de mandamentos

religiosos

Ajuda nos momentos difíceis

Pais unidos em questões religiosas

Apoio ao

próximo Autonomia em questões religiosas

Adriana Completamente Nada Nada Nada Nada Nada

Adriano Completamente Razoavelmente Completamente Nada Medianamente Pelo pai, completamente; pela mãe,

razoavelmente.

Bruna Completamente Completamente Completamente Completamente Razoavelmente Completamente

Bruno Razoavelmente Completamente Completamente Não respondeu Razoavelmente Completamente

Carla Razoavelmente Pouquíssimo Medianamente Medianamente Nada Pelo pai, nada; pela mãe, completamente.

Carlos Razoavelmente Pouquíssimo Medianamente Completamente Razoavelmente Pelo pai, completamente; pela mãe,

razoavelmente.

Daniela Medianamente Pouquíssimo Nada Pouquíssimo Nada Medianamente

Daniel Medianamente Pouquíssimo Nada Pouquíssimo Nada Pelo pai, completamente; pela mãe,

medianamente.

Nome

Principal influência

religiosa Natureza da influência

Pessoa que exerce

influência religiosa Mãe Pai Outros(as)

Adriana _ Às vezes acompanhou as celebrações e nunca

rezou c/ a adolescente Nunca acompanhou as celebrações e nunca rezou c/ a adol. _

Adriano Pais, tios e quase toda a família.

Sempre acompanhou as celebrações e sempre rezou c/ o adolescente

Muitas vezes acompanhou as celebrações e raras vezes rezou

c/ o adol. _

Bruna _ Muitas vezes acompanhou as celebrações e às

vezes rezou c/ a adolescente

Muitas vezes acompanhou as celebrações e raras vezes rezou

c/ a adol. _

Bruno Um amigo Sempre acompanhou as celebrações e sempre

rezou c/ o adolescente

Às vezes acompanhou as celebrações (obs.: não respondeu

quanto à reza) _

Carla O pai Raras vezes acompanhou as celebrações e muitas

QUADRO 5: INFLUÊNCIA RELIGIOSA FAMILIAR (CONTINUAÇÃO)

Carlos _ Às vezes acompanhou as celebrações e muitas vezes

rezou c/ o adolescente Raras vezes acompanhou as celebrações e nunca rezou c/ o adol. _

Daniela _ Sempre acompanhou as celebrações e raras vezes

rezou c/ a adolescente Nunca acompanhou as celebrações e nunca rezou c/ a adol. _

Daniel _ Às vezes acompanhou celebrações e nunca rezou c/

Os participantes agnósticos responderam que a família deles respeita as datas comemorativas medianamente, sendo os participantes que apresentam famílias menos comprometidas com estas datas. Já as famílias dos demais adolescentes respeitam estas datas completa ou razoavelmente.

A respeito do seguimento dos mandamentos religiosos pela família, somente os participantes evangélicos responderam que a família os respeita completamente. O menino católico também respondeu que a família dele respeita estes mandamentos. Os demais adolescentes responderam que a família não segue esses mandamentos.

O menino católico e os participantes evangélicos foram os que disseram que a religião ajuda nos momentos difíceis completamente. Os participantes que não frequentam uma atividade religiosa responderam que não ajuda nada: os agnósticos e a menina católica.

A menina evangélica e o menino espírita responderam que os pais são completamente unidos em questões religiosas. Os demais adolescentes responderam que os pais não são unidos em questões religiosas, ou que são pouco unidos.

Outra questão importante, que nos permite visualizar sobre os valores da família, é a que questiona se na família existe o costume de apoiar o próximo. Quatro adolescentes responderam que nada, sendo os três adolescentes que não frequentam nenhuma instituição religiosa e a menina espírita. Os participantes evangélicos responderam que razoavelmente, assim como o menino espírita. O participante católico respondeu que medianamente.

Uma das questões do questionário pergunta se uma pessoa ou experiência influenciou em especial a opinião do adolescente sobre questões religiosas, e pergunta, caso sim, quem ou qual experiência. Somente três adolescentes responderam que sim. O menino católico respondeu que a principal influência vem dos pais, dos tios e de toda a família. A menina espírita respondeu que a principal influência vem do pai – o que é muito interessante, pois o pai é ausente e eles vivenciam muitos conflitos. O menino evangélico disse que a principal influência religiosa vem de um amigo. Os demais adolescentes responderam que na vida deles não houve uma pessoa em especial, ou uma experiência que os influenciou religiosamente.

Complementando as informações apresentadas nos quadros anteriores, elaborados a partir das respostas ao Questionário relacionadas ao primeiro tema-eixo, religiosidade/ espiritualidade e família, organizou-se também o Quadro 6, apresentado a seguir, composto a partir do que se pôde apreender das entrevistas.

QUADRO 6: R / E e FAMÍLIA

RELIGIOSIDADE / ESPIRITUALIDADE E FAMÍLIA

Contextualização Como percebe a família Como gostaria que a família fosse

Adriana

Reside com a mãe. Ausência paterna. O irmão foi assassinado, e isto atinge a família intensamente. A mãe a culpa pela morte do irmão. O relacionamento com a mãe é muito conflituoso. Fim de namoro recentemente. Tentou matar-se dois meses antes da entrevista. É católica, mas não vai mais à igreja. Já foi a igrejas evangélicas, mas a mãe critica isso.

"Eu sou complicada, acho que puxei minha mãe". "Eu e minha mãe ‘briga’ demais, quase todo dia, porque ela trabalha um dia sim e um dia não. Quando ela está em casa, a gente briga. Hoje ela está em casa, e é por isso que eu nem quis ir para casa logo". "Meu irmão morreu há três anos. Minha mãe sempre tratou ele bem e eu mal". "Eu não considero ele (o pai) da minha família". O carinho dele (o pai) é para as outras filhas, que não são minhas irmãs".

"Primeiro eu gostaria de ter um irmão, ‘né’, porque eu não tenho. Eu gostaria de voltar a ser criança, pois quando eu era criança eu não passava por essas coisas, eu tinha meu irmão, ‘né’? Eu queria que esses problemas passassem, que eu parasse de brigar com minha mãe. Eu queria mais carinho da minha mãe".

Adriano

Os pais são divorciados. Reside há três meses com os tios (a irmã do pai e seu esposo). É católico, vai regularmente à igreja.

"Minha família é normal. Minha mãe está desempregada, meu pai é motorista, meus irmãos moram com a minha mãe. Minha mãe está solteira, meu pai também está solteiro".

"Eu mudaria o jeito da minha mãe só. Eu gostaria que ela fosse mais liberal, só isso, porque ela prende muito, não gosto disso".

Bruna Reside com os pais. É evangélica, da Igreja Universal do Reino de Deus.

"Minha família é bem unida, todo mundo pensa a mesma coisa. Meu pai deixa a gente, eu e minha irmã, fazer bastante coisa, mas tem regras. Minha mãe é bem legal e meu pai também; eles são bem flexíveis".

"Eu mudaria uma tia minha, eu não a mudaria de família, mas mudaria o jeito dela. Ela é meio maluca, estressada. Ela mora com a minha avó. Ninguém pode ir lá, porque ela dá a doida lá. Eu queria que ela fosse normal, igual a gente, menos estressada e aceitasse mais os outros".

Bruno Reside com a mãe, o padrasto e quatro irmãos. É evangélico, da Igreja Arca da Aliança.

"Ué, minha família é normal: todo mundo divertido, todo

QUADRO 6: R / E e FAMÍLIA (CONTINUAÇÃO)

Carla

Reside com a mãe e o padrasto. Morava com o pai e foi morar com a mãe devido à intensidade dos conflitos com o pai. O pai tem 13 filhos, e ela tem dificuldade de relacionamento com a família paterna. É espírita kardecista.

"Minha família, olha, eu posso dizer que a minha família, a minha mãe, eu, meu irmão e a minha avó, porque eu excluí o meu pai da minha família, da parte da família dele eu não tenho mais contato nenhum. Minha família é uma família boa, bem estruturada, como toda família, tem erros. Minha mãe está se acostumando a mim, tem oito meses que moro com ela e ela ainda está com desconfiança de que vou aprontar. Minha avó, quando me vê, me abraça, me agarra, aquele mimo de ‘vó’, me mima demais. A primeira vez que ele (o pai) me bateu, me deixou toda marcada. Meu pai é preconceituoso, ele disse: 'ai meu Deus, não quero minha filha namorando um preto'. Ele (o pai) começou a falar que ia me matar".

"Só mantenho contato com duas sobrinhas minhas da parte da família do meu pai. Não mantenho contato com ninguém de lá, pouco me importa como estão ou não. Eu espero que estejam bem, mas eles no canto deles, e eu no meu".

Carlos

Reside com a mãe e a irmã. O pai foi preso quando Carlos tinha 5 anos, e saiu quando ele tinha 11 anos. Ajudava a mãe a catar lixo reciclável para vender. Sempre enfrentou muita dificuldade financeira. Quando o pai saiu da prisão, voltou para casa grosseiro com a família, e Carlos incentivou a mãe a se separar. É espírita kardecista.

"Quando meu pai saiu da prisão e voltou para casa, a minha mãe aceitou ele, ‘né’, era bobinha. Aí eu falei que se ela não queria mais ele como marido, não adiantava ele morar com a gente. Ele era muito grosso, xingava muito e minha mãe é muito religiosa, ela não gostava. Eu não tinha o meu pai, mas eu tinha o meu tio, que faleceu, mas ele ia muito lá em casa e conversava".

"Eu mudaria só o jeito da minha irmã, que é muito mandona. Ela gosta de ficar mandando em mim, ‘né’. Se tem uma louça amontoada, ela fala: ‘tem louça pra tu lavar, pode ir lavar!’ Aí, eu fico indignado e saio pra rua, porque minha irmã fica o dia todo em casa; ela estuda à noite".

Daniela Reside com a mãe e o padrasto. Tem o cabelo azul e alargador na orelha. Denomina-se agnóstica.

"Eu não tenho, tipo... Meu irmão por parte de mãe, eu não tenho muita proximidade com ele. Mas ele todo dia vai lá em casa. Ah, mas meus irmãos são todos legais. Eu prefiro minha irmã, claro! Ela, nossa, ela também é uma das coisas mais importantes para mim (...) eu amo ela demais. Minha família é feliz".

"Minha mãe, ela tem alguns preconceitos, tipo, sei lá, ela diz que queria que eu fosse, sei lá, ela diz que queria que eu fosse uma menina normal".

Daniel Reside com os pais. Ele possui o cabelo grande, tatuagem, piercings, e alargador na orelha. É agnóstico.

"Minha família é uma família normal. Eu sou o único diferente da família, é tudo da igreja evangélica, família normal, família pacata. Meus pais tinham problema com álcool, hoje têm, mas é pouco".

"Eu mudaria o preconceito deles (de pessoas da família) e a forma de agir da minha mãe. Meu pai conversa, tenta saber o que acontece, minha mãe grita, então eu nem escuto muito".

O conjunto de percepções dos sentidos que emergem do primeiro núcleo temático permitiu a elaboração da Figura 2, com base em conteúdos das entrevistas, que busca ilustrar uma síntese dinâmica das principais divergências e convergências que caracterizam esse núcleo.

FIGURA 2: TEMA-EIXO – R / E e FAMÍLIA, E SEUS SENTIDOS APREENDIDOS

O diagrama apresenta os sentidos apreendidos na leitura fenomenológica das entrevistas. Quatro adolescentes relataram ter relacionamento conflituoso com a mãe e manifestaram desejo de mudá-la (a menina católica, porque a mãe é complicada; o menino católico, pela rigidez; a menina agnóstica, pelo preconceito; o menino agnóstico, pelo preconceito e