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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP ANDRÉA DE MELO VERGANI

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ANDRÉA DE MELO VERGANI

Direito Regulatório na Responsabilidade Social

das Empresas – a promoção do desenvolvimento

sustentável pela via da doutrina humanista

DOUTORADO EM DIREITO

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ANDRÉA DE MELO VERGANI

Direito Regulatório na Responsabilidade Social

das Empresas – a promoção do desenvolvimento

sustentável pela via da doutrina humanista

Tese apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Direito (Direito das Relações Sociais), sob orientação do Professor Doutor Ricardo Hasson Sayeg e co-Orientação da Professora Doutora Catarina Serra.

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BANCA EXAMINADORA

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DEDICATÓRIA

Ao meu marido, Luiz Antonio Vergani, meu alento e companheiro de todas as horas.

Aos meus pais, José e Sônia, pela credibilidade e confiança.

Aos meus queridos irmãos, Sandra, Simone, Ricardo e Jéssica, pelo amor e incentivo que não me deixam esmorecer. À minha querida cunhada Denise, que sempre está ao meu lado.

Aos meus sobrinhos João Luiz, Gabriel e Lucca, por deixarem minha vida mais rica e feliz.

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Aos Doutores Ricardo Hasson Sayeg e Catarina Serra, meus orientadores, pelo apoio, credibilidade, incentivo e estímulo, sem os quais este trabalho não seria concluído. Agradeço, sobretudo, pela disposição e paciência que me concederam - requisitos essenciais para superação das etapas mais difíceis.

Aos queridos amigos Adriana Vieira, Donata Barros, Silvia Helena, Rui Oliveira e Rafael de Araujo, que contribuíram para a consecução desse trabalho.

A todos os colaboradores que me forneceram subsídios para a construção e desenvolvimento dessa pesquisa, principalmente na pessoa de Carlos Duarte e Profa. Dra. Carla Freire.

Àqueles familiares e amigos que, mesmo a distância, sempre se fizeram presentes transmitindo carinho, alento e conforto, estímulo que tornou a distância menos dolorida e solitária.

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O avanço científico e as novas tecnologias da informação determinaram o modelo da sociedade do século XXI. Em época tão avançada, o desenvolvimento deve se dar através de mecanismos que compatibilizem interesses econômicos, sociais e ambientais, assegurando-se a sustentabilidade do planeta e conseqüente sobrevivência das gerações futuras. Nesse contexto a Responsabilidade Social das Empresas surge como compromisso de modelo econômico aliado aos interesses sociais e ambientais, patrocinando a dignidade humana como elemento fundamental do desenvolvimento. É, portanto, baseada em levantamento bibliográfico que a presente pesquisa pretende explicitar os instrumentos de viabilização do desenvolvimento sustentável, bem como os instrumentos legais que orientam a sua realização. Ao final, de maneira propositiva apontar-se-á paradigmas orientadores da ação humana para realização do progresso sem comprometer a vida no planeta.

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Scientific progress and new information technologies led to the society’s model in the XXI century. Mankind gradually becomes aware that the development should take place through mechanisms that reconcile the economic, social and environmental impacts, ensuring the sustainability of the planet and the consequent survival of future generations. In this context, Corporate Social Responsibility emerges as an ideal model of progress, because it proposes the harmony of the tripod economy/society/environment, sponsoring human dignity as a fundamental element for development. It is, therefore, based on bibliographical survey that the present research intends to identify the instruments for enabling sustainable development, as well the legal instruments that guide its accomplishment. At the end, in a propositive way will be pointed guiding paradigms of human action for achieving progress without compromising the planet's life.

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CC Código de Conduta

CCE Comissão das Comunidades Europeias CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável CE Comunidade Europeia

CEDH Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais

CEEP Confederação Europeia das Empresas Públicas e de interesse económico geral

CES Confederação Europeia de Sindicatos

CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

CSR Europe Corporate Social Responsability DD Direito ao Desenvolvimento

DF Direitos Fundamentais DH Direitos Humanos DI Direito Internacional

DS Desenvolvimento Sustentável

DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos EE Ética das Empresas

EUA Estados Unidos da América FCPA Foreign Corrupt Practices Act FMI Fundo Monetário Internacional

FSGO Federal Sentencing Guidelines for Organizations

GEF Global Environment Fund

GM General Motors

ICLEI Conselho Internacional paras as Iniciativas Ambientais Locais IIED International Institute for Environment and Development ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial

ISO 26000 Organização Internacional de Normalização (International Organization of Standardization)

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NM Norma Moral

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico

OIT Organização Internacional do Trabalho OMC Organização Mundial do Comércio OMS Organização Mundial da Saúde ONG Organizações Não Governamentais ONU Organização das Nações Unidas PIB Produto Interno Bruto

PNDS Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente RL Responsabilidade Legal

RS Responsabilidade Social

RSE Responsabilidade Social das Empresas TL Tratado de Lisboa

TUE Tratado da União Européia UE União Europeia

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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO...12

Os problemas... 15

O objetivo... 17

A metodologia... 20

CAPÍTULO II – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SOB A PERSPECTIVA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS... 23

2.1. Definição e contexto de Desenvolvimento Sustentável... 24

2.2. Diretivas internacionais para a promoção do DS ... 28

2.3. Responsabilidade Social das Empresas ... 35

2.3.1. Conceito ... 42

2.3.1.1. Ética nas Empresas... 46

2.3.2. Requisitos para uma empresa ser “socialmente responsável”... 51

2.3.3. Responsabilidade Social versus Responsabilidade Legal ... 61

CAPÍTULO III – RELEVÂNCIA DO DIREITO NA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ... 68

3.1. Norma moral e norma jurídica... 69

3.2. Costume como fonte de Direito ... 76

3.3. O conceito de soft law... 81

3.4. Normas Coercitivas e Normas Regulatórias no “Dever-ser” ... 90

3.5. A função do Direito como regulador de condutas sociais ... 97

3.6. O papel do Direito na promoção da Responsabilidade Social das Empresas ... 100

CAPÍTULO IV – DIREITOS HUMANOS NA ATIVIDADE ECONÔMICA ... 105

4.1. Humanismo ... 107

4.2. Evolução histórica: humanismo na antiguidade, na idade medieval, após a Reforma e o Renascimento e na atualidade ... 114

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CAPÍTULO V – O SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS NA UNIÃO

EUROPEIA... 154

5.1. Documentos orientadores dos Direitos Humanos na UE ... 158

5.2. Carta dos Direitos Fundamentais da UE... 162

5.3. O Livro Verde da Comissão Europeia ... 166

5.4. Direitos Fundamentais no Tratado de Lisboa ... 174

CAPÍTULO VI – A ORDEM JURÍDICA INTERNACIONAL COMO CONCRETIZADORA DE DIREITOS HUMANOS... 180

6.1. A RSE no Quadro da Regulação Européia: uma abordagem proativa do direito ... 183

6.2. Contribuições para uma concepção mais humanista da atividade econômica... 187

6.2.1. Códigos de Conduta ... 189

6.2.2. Harmonização das dimensões econômicas, sociais e ambientais... 191

6.2.3. Promoção de políticas sustentáveis... 192

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 200

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 203

ANEXOS ... 219 Anexo 1. Carta das Nações Unidas – Declaração do Milênio

Anexo 2. Convenção Européia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais

Anexo 3. O Livro Verde da Comissão das Comunidades Européias para Promover um Quadro Europeu da RSE

Anexo 4. Tratado de Lisboa

Anexo 5. Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia, de 7 de dezembro de 2000, com adaptações de 12 de dezembro de 2007

Anexo 6. Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre A abordagem proactiva do direito: Um passo para legislar melhor a nível da UE

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Preocupações com o desenvolvimento sustentável entraram na agenda internacional com a constatação de que o progresso, da forma como tem sido realizado, representa situação de risco à sobrevivência do planeta. Atualmente há grande mobilização por parte dos organismos internacionais em estabelecer limites à ação humana, que sob a justificativa de crescimento, pode se tornar um predador dos mais nocivos.

A busca do equilíbrio desenvolvimento x sustentabilidade é condição essencial na promoção de Direitos Humanos, desde que os benefícios daí advindos possam alcançar a humanidade. É nesse sentido que na presente pesquisa busca-se evidenciar que a aplicação prática dos preceitos do Desenvolvimento Sustentável (DS) – dentre os quais destaca-se a Responsabilidade Social das Empresas -, configura um profícuo instrumento promotor da dignidade humana.

O mundo moderno é complexo, pois à medida que possibilita aumento da expectativa de vida em razão do avanço da medicina, cria um paradoxo quando se verifica a mortalidade infantil pela falta de acesso a tratamentos de saúde. Essa lógica de concentração de poder e riquezas sem a respectiva contrapartida é contrária àquilo que humaniza o homem.

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atendidas o que, nas palavras de Flávia Piovesan1, representariam o “mínimo ético irredutível”, sem o que não seria pleno em sua dignidade. Por outro lado, o progresso desordenado atenta contra aquilo que é essencial ao gênero humano: a sobrevivência do planeta.

É, portanto, para manutenção da vida que se busca o equilíbrio entre as necessidades vitais do ser humano – que tenha direito ao desenvolvimento, mas que tal se dê com a preservação dos bens naturais que pertencem à humanidade.

Nesse sentido, pretende-se demonstrar que as várias dimensões do desenvolvimento – sejam de ordem tecnológica, científica, cultural, política, biológica, industrial - pode ocorrer em conformidade com a preservação do meio ambiente, assegurando à humanidade o equilíbrio entre os interesses econômicos, sociais e ambientais.

Uma das formas de garantia desses interesses, que aparentam certa antagonia, se verifica nas práticas da Responsabilidade Social das Empresas (RSE), instituto que estabelece parâmetros de concretização do desenvolvimento sem olvidar dos interesses da sociedade e preservação do meio ambiente.

Nessa pesquisa apresentar-se-ão os instrumentos capazes de assegurar a harmonização de interesses econômicos, sociais e ambientais, especificando-se a relevância dos instrumentos regulatórios que os orientam - sejam tratados, diretrizes, convenções, declarações – que podem se tornar efetivos a partir de políticas de conscientização que disseminem a relevância da adoção de determinadas práticas na maneira de exercer a atividade empresarial. Desde a reciclagem do lixo aos incentivos fiscais, todas as formas de proteção da vida e do meio ambiente apresentam-se na ordem do dia como requisitos para a manutenção da vida no planeta.

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A partir da definição dos institutos de DS e RSE, passando-se para a abordagem normativa, demonstrar-se-á que mesmo as normas de caráter não vinculatório, ou seja, aquelas que não possibilitam uma sanção do Estado em caso de descumprimento, poderão ser amplamente difundidas e incorporadas através de medidas que induzam sua adoção, bastando que se evidenciem os benefícios para aqueles que as praticam.

Tais benefícios podem traduzir-se em vantagens fiscais, valorização da imagem da empresa, aumento de sua cotação no mercado de ações, obtenção de subsídios governamentais, enfim, uma série de medidas que incentivem a incorporação de ações socialmente recomendáveis na rotina empresarial.

Ainda no âmbito normativo, a tese ora defendida da precedência

do Direito Regulatório enquanto espécie adequada para

Responsabilidade Social (RS) é embasada também no “Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre a Abordagem proactiva do direito: um passo para legislar melhor a nível da UE”, que será apreciado nesta investigação.

Tem-se, desse modo, uma nova modalidade de direito – normas proativas – que vinculam condutas não em razão da conseqüência jurídica pelo seu descumprimento, mas que as vinculam de forma voluntária pela simples razão de ser a maneira correta de agir – o agir em conformidade ao esperado pela sociedade.

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Os problemas

Diz-se que DS é o desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras fazerem face às suas próprias necessidades.

Um dos grandes obstáculos do Desenvolvimento Sustentável reside na adoção voluntária dos preceitos contidos nos documentos que recomendam determinadas “formas de agir” para as organizações. A adoção espontânea pelas empresas de tais princípios sugere que deva haver uma contrapartida e/ou um ganho efetivo em institucionalizar determinadas práticas na rotina da atividade comercial.

As orientações sobre práticas socialmente adequadas para as empresas, por não serem vinculativas e padecerem da força coativa do Direito positivo para sua imposição, são denominadas de sotf Law, pois apenas oferecem indicativos para a atuação socialmente responsável pelo setor econômico, que pode ou não adotá-las.

Em segundo lugar, é preciso salientar que as ações sugeridas, quando adotadas, representarão um custo maior no exercício empresarial e esse custo pode recair no valor final do produto ou do serviço, encarecendo-o. Dessa forma um problema se apresenta: como reduzir o custo dos chamados preços éticos?

Ademais, o encarecimento do preço do produto e/ou serviço reduziria significativamente sua procura por parte dos consumidores, ainda mais se se considerar o baixo custo dos produtos fabricados nas economias com menor sensibilidade aos aspectos da responsabilidade social como, por exemplo, a China.

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dos salários dos empregados e no aumento do preço final ao consumidor2. Qual seria então, o limite de ação desses gestores e até

que ponto podem “dispor” do dinheiro alheio – dos sócios e empregados da empresa e também dos consumidores do produto e/ou serviço. Como se concilia a responsabilidade dos gerentes e administradores e a RSE sem se incorrer na prática da gestão temerária?

Nesse contexto, por que as empresas adotariam os princípios recomendados para um desenvolvimento sustentável, se tal prática acarretaria no aumento de seu custo de produção e consequentemente na redução de seu lucro e o encarecimento de seu produto?

E quanto às micro e pequenas empresas, teriam elas condições de atuar de maneira socialmente responsável, considerando-se o ônus que tais práticas representam?

Há que se reconhecer que a atividade comercial visa objetivamente o lucro e qualquer situação que possa obstaculizar essa finalidade deveria, por si só, ser rechaçada. Mas o que, afinal, levaria as empresas a voluntariamente adotarem condutas éticas e sociais na realização de suas atividades? Como incitá-las a adotar tais práticas?

Considerando-se que as práticas socialmente responsáveis não são impostas pelo Direito positivo, uma vez que constam de documentos sem caráter vinculatório, estar-se-á diante de uma nova modalidade

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2 Afirmava Milton Friedman que a empresa tem uma e só uma responsabilidade social: usar os

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jurídica, o chamado Direito Regulatório? Como esse Direito Proativo atuaria no sentido de promover práticas socialmente recomendáveis?

Na resposta às questões acima, analisar-se-ão os documentos que contêm recomendações para um desenvolvimento de forma socialmente responsável, dentre os quais destacamos a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Carta das Nações Unidas – Declaração do Milênio, Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, Direito ao Desenvolvimento dos Povos e dos Países e Declaração Internacional de Direito do Desenvolvimento, o Livro Verde da Comissão Europeia, o Tratado de Lisboa, entre outros.

A eleição desses documentos baseia-se em seu conteúdo humanitário, que recomenda que a atividade econômica seja realizada respeitando-se os interesses da coletividade em seu aspecto social, ambiental e humano.

Pretende-se, desse modo, responder às dúvidas suscitadas, demonstrando ser viável a realização do sistema capitalista de forma ética e socialmente responsável, assegurando o desenvolvimento econômico sustentável e em harmonia com os interesses da coletividade, sem prejuízo do direito das gerações futuras.

O objetivo

Pretende-se demonstrar na presente pesquisa as vantagens da adoção das recomendações contidas nos documentos que orientam a realização de atividades empresariais de maneira socialmente responsável.

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desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade. Para tal, faz-se necessário por parte das empresas a incorporação de medidas que conciliem o interesse lucrativo com práticas eticamente recomendáveis. Os organismos internacionais têm-se empenhado em estudar medidas de mitigação dos danos ao meio ambiente e à humanidade, assegurando que o direito à liberdade econômica seja realizado em harmonia com preocupações de ordem ambiental, social e humana.

Nesse sentido, os aportes trazidos nos documentos relativos ao Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social das Empresas, bem como pelas diretrizes constantes dos chamados Códigos de Conduta em vigor em países membros da Comunidade Europeia, evidenciam o surgimento de uma nova concepção de desenvolvimento da sociedade.

Essa nova forma de agir foi singularmente expressa nas palavras de Kofi Annan: Não estamos a pedir às empresas para fazerem algo diferente de sua actividade normal; estamos a pedir-lhes que façam a sua actividade normal de forma diferente.3

O que se verifica é uma preocupação real com o destino da humanidade, uma vez que o progresso realizado de forma desenfreada está a acarretar uma série de danos ao meio ambiente e tem deixado parcela do contingente humano à margem de seus benefícios e vantagens.

A premissa é clara: não há intenção de se alterar a ordem natural das coisas, mas tão somente de assegurar que o exercício da liberdade econômica ocorra em harmonia com o interesse da coletividade, sem colocar em risco o direito das futuras gerações.

Nesse sentido, os aportes reguladores da Responsabilidade Social das Empresas surgem com papel preponderante na execução da atividade empresarial, que passou a considerar o tríptico

economia-___________________

3 ANNAN, Kofi. Discurso proferido na Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.

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ambiente-sociedade como elementos de gestão. Na economia moderna, a empresa não possui atuação ilimitada em função da atividade lucrativa devendo, como contrapartida, responder pela intervenção que pode causar no meio ambiente e na coletividade. É a tentativa de conciliação dos direitos econômicos com o interesse social, ou seja, uma visão humanista do capitalismo.

O século XXI é representativo de uma nova fase na história humana iniciada no final do século XX, especialmente em sua última década, na qual se verifica uma alteração gradual dos valores e concepções que evidenciam a preocupação de parcela da sociedade com o destino da humanidade.

No Direito, percebe-se também uma alteração de significativa proporção, com a ampliação da força dos tratados, convenções e acordos internacionais. Tais documentos, por serem de adoção facultativa aos Estados - que poderão ou não tornar-se seus signatários - acarretam certa relativização da soberania desses países.

Assim, o Direito Internacional com suas Recomendações, Declarações, Resoluções e Tratados, ganha força à medida que sua esfera de incidência recai sobre interesses da humanidade e sendo supranacionais, tem consequências de ordem mundial.

Ainda, a prática reiterada de determinados atos também pode adquirir conotação vinculatória - como o Direito consuetudinário -, que vem preencher lacunas e antinomias do sistema normativo. Essa fonte autônoma de Direito vem ganhando espaço nas situações em que a ausência de normas requer alternativas para dirimir conflitos, como, por exemplo, questões que envolvam interesses sociais, ambientais, humanos e econômicos, principalmente em nível internacional.

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A metodologia

Partindo-se de uma abordagem geral do Desenvolvimento Sustentável, verifica-se uma crescente preocupação com o futuro da humanidade, hoje ciente das consequências danosas que o progresso pode acarretar ao planeta. A trajetória do desenvolvimento humano é inevitável, mas pode ser realizada a partir da harmonização dos interesses econômicos, sociais e ambientais.

É a partir da conciliação desses interesses que surge a idéia da Responsabilidade Social das Empresas que significa, principalmente, que a manutenção do processo de desenvolvimento ocorra através de um conjunto de práticas que assegurem a sustentabilidade dos recursos naturais. As ações socialmente recomendáveis representam para as empresas uma nova forma de ver seus negócios, a partir da perspectiva de que a vantagem econômica perseguida ocorra sob uma perspectiva social e ambiental. Ou seja, é a manutenção de sua atividade fim, mas realizada de maneira eticamente recomendável.

Essa visão humanista do capitalismo reputar-se-á factível a partir da compreensão do sentido e alcance dos direitos humanos desde sua concepção, sendo que na presente pesquisa, buscar-se-á demonstrar o significado axiológico desse instituto e sua importância na história da civilização, culminando na acepção moderna do termo e evidenciando sua relevância neste século XXI.

Na sequência, se abordará o modelo econômico capitalista desde seu provável surgimento, esmiuçando sua estrutura e paradigmas com objetivo de reforçar a tese de que esse sistema requer uma nova concepção de atuação, que seja compatível com os interesses sociais, ambientais e humanos.

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analisar as recomendações dos organismos internacionais no que se refere às políticas para o desenvolvimento sustentável, demonstrando que o progresso pode ocorrer de forma mais equilibrada e de maneira mais humana.

Nesse sentido, o estudo das orientações contidas na Declaração Universal dos Direitos do Homem, na Carta das Nações Unidas – Declaração do Milênio, Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, Direito ao Desenvolvimento dos Povos e dos Países e Declaração Internacional de Direito do Desenvolvimento, no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, no Livro Verde da Comissão Europeia, e no Tratado de Lisboa, servirão de parâmetro para a formulação de uma concepção humanista do desenvolvimento sustentável.

Para reforçar esse argumento, os referenciais para o Desenvolvimento Sustentável, a Responsabilidade Social das Empresas e a Ética das Empresas, fundados nos documentos de Direitos Humanos, fornecerão a estrutura de sustentação necessária para a consecução de um novo modelo de atuação econômica.4

Esse novo paradigma deve considerar, sobretudo, o gênero humano como maior beneficiário das vantagens proporcionadas pelo desenvolvimento, que deve aliar as dimensões econômicas, sociais e ambientais, em prol da justiça social.

No âmbito subjetivo, pretende-se evidenciar a relevância da educação no processo de transformação cultural, uma vez que cada sujeito é parte essencial no processo de desenvolvimento da sociedade

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4 À luz das disciplinas limitativas do direito econômico, que teve Milton Friedman, prêmio Nobel

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e, como tal, exerce papel fundamental na prática e defesa dos valores ditados pela coletividade.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SOB

A PERSPECTIVA DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL DAS EMPRESAS

Dentro do instituto do DS, a RSE apresenta-se como uma variável de sua aplicabilidade pragmática, propiciando às empresas uma atuação que atenda aos anseios da sociedade, cumulando o exercício da atividade econômica com a preocupação real dos impactos que essa sua ação possa acarretar à vida humana. Desse modo, a organização passa a adotar determinadas práticas que não coloquem em risco os bens naturais de que faça uso e que pertencem à humanidade, bem como incorporam condutas que beneficiem direta e indiretamente a comunidade na qual está inserida.

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2.1. Definição e contexto de Desenvolvimento Sustentável

O desenvolvimento é característica peculiar da natureza humana e o homem, nesse processo irreversível, faz uso de todos os meios disponíveis e necessários ao seu processo de evolução. Para assegurar sua sobrevivência, desenvolveu habilidades específicas, seja para se defender – como ocorreu nos primórdios da humanidade – seja para se alimentar. Nessa luta pela preservação, aprendeu a caçar, pescar, eliminar ameaças, descobriu o fogo, enfim, aprendeu a viver em comunidade e a se organizar, aprimorando gradativamente seu modo de vida.

Dentre as várias consequências da ação humana no seu processo de evolução, evidencia-se sua atuação predatória na natureza. O aprimoramento tecnológico, industrial, científico, econômico e social, por sua característica, interfere diretamente no meio ambiente, que atua como fornecedor da matéria-prima necessária ao incremento do desenvolvimento humano.

O progresso, enquanto característica essencial à condição humana, não há que ser interrompido, mas a humanidade clama por alternativas que possam assegurar que a sua realização não comprometa os recursos naturais do planeta. Como obter a conciliação entre dois interesses que, em princípio, apresentam-se conflitantes?

A essa questão, a comunidade internacional tem se debruçado na busca por respostas que possam estabelecer o equilíbrio necessário a manutenção do processo de desenvolvimento da humanidade em conformidade com a proteção ambiental e o interesse social.

Primeiro, buscou-se assegurar o direito ao desenvolvimento na certeza de que essa prerrogativa daria ao homem condições mínimas para o exercício de uma vida digna. Assim, em 4 de dezembro de 1986, a Assembléia Geral das Nações Unidas5, através da Resolução 4/128,

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6 A Assembléia Geral da ONU, em 1986, proclamou a Declaração sobre o Direito de

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adotou a Declaração dos Direitos ao Desenvolvimento consolidando, dessa forma, o desenvolvimento como um direito humano. Mesmo estando já disciplinado no corpo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, especificamente naqueles artigos que tratavam dos direitos econômicos, sociais e culturais, ao surgir como um documento específico, o direito ao desenvolvimento adquire um novo status que evidencia sua relevância na sociedade moderna.

O primeiro artigo da Declaração conceitua o direito ao desenvolvimento como “um direito humano inalienável, em virtude do qual todo ser humano e todos os povos têm direito de participar, contribuir e gozar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político no qual todos os direitos e liberdades fundamentais podem ser plenamente realizados”.

Não se trata, portanto, de um documento que estabelece políticas e programas para o desenvolvimento, mas sim de um conjunto de regras que evidencia a pessoa humana como seu sujeito e principal beneficiário, assegurando-lhe uma vida digna.

Nesse novo contexto global, verifica-se uma ampliação das tutelas dos direitos humanos - outrora centrado na proteção dos direitos civis e políticos -, incorporando àqueles, direitos econômicos, sociais e ambientais e também o direito ao desenvolvimento.

Contudo, a idéia de desenvolvimento estava associada, em geral, às vantagens econômicas que poderia proporcionar, ou seja, à quantidade de riquezas que se poderia acumular e ao acesso aos bens que o indivíduo numa sociedade moderna poderia usufruir. Assim, o

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acesso aos bens de consumo – sejam duráveis ou não - e alimentos em quantidade que satisfaça uma população mundial em constante crescimento -, desencadeou o aumento da produção industrial, mercantil e agrícola.

Nesse contexto, deu-se o fenômeno desenvolvimentista que foi favorecido pelo progresso tecnológico e industrial verificado entre as décadas de 1960 a 1980, o que acarretou, como grande consequência, impactos ambientais que despertaram a atenção da comunidade internacional para os problemas com o meio ambiente.6 A noção de que o crescimento econômico se dava às custas da exploração da matéria- prima ambiental resultou em várias ações no sentido de se discutir políticas de sustentabilidade.

___________________

6 “Rachel Carson publicou “Primavera Silenciosa” – no original Silent Spring (1962). Esta

bióloga americana estabeleceu as primeiras conexões de ecossocioeconomia – meio ambiente, economia e bem-estar social. Carson chamou a atenção mundial sobre a degradação excessiva do meio ambiente e a diminuição acentuada de recursos naturais (IISD, 1997). A seguir, Garrett Hardin publicou “A Tragédia dos Bens Comuns” (1968). As questões relacionadas a deterioração ambiental e os modos de crescimento económico estavam nas pautas dos estudos e da preocupação dos países ocidentais (IISD, 1997). O Clube de Roma encomenda um estudo para a equipa do MIT formada por: Donella H. Meadows, Dennis l. Meadows, Jorgen Randers, William W. Behrens III. Em 1970 o relatório “Limites do Crescimento”, no original The Limits to Growth, é publicado por esta equipa que assevera que a Terra entrará em colapso no período máximo de 100 anos. O relatório é uma análise mais profunda, supra-nacional e transdisciplinar sobre o crescimento industrial, aumento da população, causas à desnutrição generalizada, esgotamento dos recursos naturais e degradação do meio ambiente. Como solução, entre outras coisas, propôs a elaboração de directrizes para um planeamento que integrasse desenvolvimento e protecção ambiental (Mori, 2003). Em 1972, representantes de 113 países participam em Estocolmo, na Suécia, da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano – UNCHE. No nosso entendimento a tese do desenvolvimento local sustentável apareceu pela primeira vez como saída para a resolução do dilema – meio ambiente, desenvolvimento e crescimento socioeconómico – segundo Sachs (2007) trata-se de uma questão ecossocioeconómica.”

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Nesse momento, a idéia de desenvolvimento já surge associada à de sustentabilidade e, conforme J. Roberto Marques, poder-se-ia

“...à primeira vista, pensar que há incompatibilidade entre a dignidade da pessoa humana e o desenvolvimento nacional, uma vez que este implica sempre degradação ambiental, ainda que em grau reduzido. A conciliação entre as vertentes é o que se pode chamar de desenvolvimento sustentável. É a busca do equilíbrio entre a degradação inevitável e a máxima proteção possível, considerando-se que esses dois elementos devem coexistir, mas com respeito ao aspecto social, ou seja, aos benefícios de toda essa operação”.7

Considerando-se essas três dimensões do desenvolvimento sustentável como parte de seu conceito, tem-se que:

1) a dimensão ambiental da sustentabilidade diz respeito aos impactos da organização sobre sistemas naturais, vivos ou não, incluindo os ecossistemas terra, água e ar;

2) a dimensão econômica da sustentabilidade diz respeito aos impactos da organização sobre as circunstâncias econômicas da partes interessadas e sobre os sistemas econômicos nos níveis local, regional, nacional e global;

3) a dimensão social da sustentabilidade refere-se aos impactos da organização sobre os sistemas sociais (incluindo-se as questões políticas, cultural, institucional, espacial e espiritual, entre outras) nos quais opera.8

Tais dimensões hão que ser consideradas para que o desenvolvimento sustentável atinja um alto grau de efetividade na realização de suas metas e objetivos.

___________________

7 MARQUES, José Roberto. O desenvolvimento sustentável e sua interpretação jurídica.

2009. 236f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009, p. 114.

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2.2. Diretivas internacionais para a promoção do DS

Por se tratar de questões que afetam interesses supranacionais, verificou-se uma preocupação crescente na formulação de estratégias e acordos internacionais no sentido da conciliação dos interesses econômicos com a preservação do meio ambiente e do interesse social.9

No entender de Mohammed Bedjaqui:

“Na realidade, a dimensão internacional do direito ao desenvolvimento é nada mais que o direito a uma repartição eqüitativa concernente ao bem-estar social e econômico mundial. Reflete uma demanda crucial de nosso tempo, na medida em que os quatro quintos da população mundial não

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9 “À escala internacional, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

(WBCSD) congrega, desde 1995, perto de 130 empresas multinacionais de entre cerca de vinte sectores, tendo como objectivo a elaboração de políticas ambientais e sociais compatíveis com o desenvolvimento sustentável. A nível europeu, o CSR Europe (Corporate Social Responsability) reune 59 grandes empresas, numa rede dedicada à promoção da noção de responsabilidade social nas estratégias empresariais.” NOTAT, Nicole. A responsabilidade social das empresas. Revista Futuribles, Paris, p. 8-9, jun./ago. 2003.

No âmbito da América do Sul, a Câmara Brasil-Alemanha, em conjunto com o Centro de Competência Mercosul para Responsabilidade Social Empresarial realizou, no dia 30/10/2009, a 4ª edição do Congresso Mercosul de Sustentabilidade, em São Paulo. A intenção foi discutir tendências da sustentabilidade sob os aspectos ambiental e social e apresentar possíveis cenários para a responsabilidade social no momento de pós-crise econômica. Os destaques do Congresso foram:

- o panorama da responsabilidade social no MERCOSUL e as tendências para o setor ambiental, mudanças climáticas e construção verde;

- em razão da crise econômica, temas "relacionados ao emprego e à capacitação de profissionais” também foram abordados sob a ótica da RS;

- durante o debate sobre "Novos panoramas da sustentabilidade", o Diretor Presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, falou sobre a responsabilidade social empresarial na perspectiva do consumidor do século XXI. "Cerca de 70% da população incentiva outras pessoas a comprar produtos de empresas que investem em projetos sociais e ambientais ou que cuidem de seus funcionários. O consumidor brasileiro espera “responsabilidade cidadã” das empresas, sendo que o desafio é maior para as companhias multinacionais do que para as nacionais,revela Mattar;

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mais aceitam o fato de um quinto da população mundial continuar a construir sua riqueza com base em sua pobreza”.10

Nesse sentido, a concreta realização do direito ao desenvolvimento através da manutenção das formas de produção do modelo capitalista, não deveria estar dissociada das preocupações com a preservação do meio ambiente nem se dar à custa da exploração do ser humano por seu semelhante.

Para Joseph Stiglitz, “Desenvolvimento diz respeito a transformar sociedades, melhorar a vida dos pobres, permitir que todos tenham uma chance de sucesso e acesso à saúde e à educação”11, por sua vez, Flávia Piovesan pondera que desenvolvimento seria uma forma de exercício do direito de liberdade e como tal, faz referência a Amartya Sen, que ensina:

“Nesse sentido, a expansão das liberdades é vista concomitantemente como: 1) uma finalidade em si mesma; e 2) o principal significado do desenvolvimento. Tais finalidades podem ser chamadas, respectivamente, como a função constitutiva e a função instrumental da liberdade em relação ao desenvolvimento. A função constitutiva da liberdade relaciona-se com a importância da liberdade substantiva para o engrandecimento da vida humana. As liberdades substantivas incluem as capacidades elementares, como a de evitar privações como a fome, a subnutrição, a mortalidade evitável, a mortalidade prematura, bem como as liberdades associadas com a educação, a participação política, a proibição da censura...Nesta perspectiva constitutiva, o desenvolvimento envolve a expansão destas e de outras liberdades fundamentais. Desenvolvimento, nesta visão, é o processo de expansão das liberdades humanas”.12

É sob essa perspectiva que se pode conceber o Desenvolvimento pela via da doutrina humanista, ou seja, deve

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10 BEDJAQUI, Mohammed, 1991.

11 STIGLITZ, Joseph E. Globalização e seus malefícios. A promessa não cumprida de

benefícios globais. Tradução de Bazan Tecnologia e Lingüística. São Paulo, Editora Futura, 2003, p. 303.

12 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva, 2007,

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contemplar a elevação da qualidade de vida, provocando verdadeira transformação social em favor do ser humano. Deve privilegiar também a harmonização das dimensões econômicas, sociais e ambientais.

É, portanto, no reconhecimento universal da necessidade de garantia daqueles direitos essenciais humanos que o direito amplia seu âmbito de alcance, despertando a comunidade internacional para preservar um mínimo essencial. Nesse sentido, Cançado Trindade também ponderou que

“En efecto, los grandes desafíos de nuestros tiempos – la protección del ser humano y del médio ambiente, la superación de lãs disparidades alarmantes entre los paises y dentro de ellos así como de la exclusión social y del dessaraigo generados por la llamada “globalización” de la economia, la erradicación de la pobreza cronica y el fomento del desarrollo humano, el desarme, - han, - han incitado a la revitalizacion de los proprios fundamentos y principios del Derecho Internacional contemporâneo, tendiendo a hacer abstracción de soluciones jurisdiccionales y espaciales (territoriales) clásicas y desplazando el énfasis para La noción de solidaridad”.13

Dentre os principais significados do Desenvolvimento destaca-se o engrandecimento da vida humana através de melhorias de ordem qualitativa e quantitativa, proporcionando o bem estar coletivo e o exercício da vida digna. Aliado a isso estão as preocupações de ordem ambiental, pois o desenvolvimento deve ser realizado de forma sustentável.

O ser humano é, portanto, o cerne de preocupação deste Direito, pois a Declaração, ao enunciar que “A pessoa humana é o sujeito central do desenvolvimento e deve ser ativa, participante e beneficiária do direito ao desenvolvimento”, consolida a idéia do DD como um direito humano fundamental.

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13 CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto; RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. La nueva

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No contexto global, o DD faz parte da agenda da comunidade internacional, Estados desenvolvidos deverão promover ações e políticas para que o processo de globalização ocorra de maneira ética e solidária.

Nesse sentido, Sharon Souza lembra que,

“(c)omo os problemas ambientais não possuem fronteiras e sendo que o fenômeno da globalização mostra-se um processo irreversível, a comunidade internacional desde 1970 vem se mobilizando no sentido de discutir e procurar soluções. A Organização das Nações Unidas (ONU) cria em 1972 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), demonstrando justamente essa tendência de organização supranacional para discussão de problemas globais, extremamente difíceis de serem realizados no âmbito isolado de apenas um Estado”.14

Desse modo, tem-se que a preservação do meio ambiente ultrapassou as fronteiras entre os países e passou a ser pauta na agenda mundial, mobilizando a comunidade internacional na busca por medidas de contenção do processo predatório, bem como de assegurar que o progresso ocorra de forma sustentável e em equilíbrio com o meio ambiente15.

É o que se observou na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, que preconizou em seu Princípio 1:

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14 SOUZA, Sharon Cristine Ferreira de. Globalização, meio ambiente e desenvolvimento

sustentável. 214f. Dissertação (Mestrado em Direito Negocial), CESA, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009, p. 3.

15 “A questão do ‘desenvolvimento sustentável’ é emblemática. O conceito, desenvolvido em

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Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza;

e, em seu Princípio 3, que:

O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.

No quadro abaixo, destacam-se os vários movimentos da comunidade internacional que discutiram mecanismos para a promoção do DS16:

1972 Conferência das Nações

Unidas sobre o Ambiente Humano – UNCHE – Estocolmo.

Declaração de Estocolmo. Constituiu o primeiro conjunto de sotf law – leis internacionais sem aplicação prática, apenas intencionais – para questões ambientais internacionais. Entre seus princípios encontra-se a prevenção da poluição industrial, contrabalançando o crescimento económico e a protecção ambiental. Criou-se o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e o International Institute for Environment and Development (IIED). Desde então, a aceitação mundial da importância das questões do desenvolvimento sustentável ganhou maior repercussão (Dalal-Clayton ; Bass, 2002).

1983 Relatório Brundtland (The Brundtland Report)

A ONU, propõe uma “Agenda Global para a Mudança” e instala a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) que é liderada pela primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. O resultado das análises feitas pela CMMAD, em 1987, origina o Relatório Nosso Futuro Comum (Our Common Future). Coloca-se em relevo a sustentabilidade das dimensões socioeconómicas e expõe-se a transversalidade dos problemas. Este documento aponta estratégias para estimular o crescimento económico e a superação da pobreza através do desenvolvimento humano, e estabelece a referência “desenvolvimento sustentável” como novo elemento semântico da linguagem internacional (Santos et al, 2005).

1992 Cimeira da Terra Na cidade do Rio de Janeiro realizou-se a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD). O objectivo principal desta Cimeira era encontrar condições concretas de equilíbrio entre desenvolvimento socioeconómico com a conservação e protecção do meio ambiente (Strange e Bayley, 2008). Cria-se a Agenda 21, documento assinado por 179 países, é um programa mundial de acções para o desenvolvimento local sustentável dirigido para 40 sectores e assuntos diferentes. Trata com atenção especial da legislação, medidas, planos e

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16 BITTENCOURT, Bernadete. O desafio do desenvolvimento local sustentável nos sectores

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programas nacionais como um instrumento legal e económico de gestão administrativa (Dalal-Clayton; Bass, 2002). Instala-se a preocupação com o local.

1994 Carta de Äalborg - Carta da Sustentabilidade das Cidades Europeia

Aprovada pelos participantes na Conferência Europeia sobre cidades sustentáveis. Organizada pelo Conselho Internacional paras as Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI). As cidades europeias comprometeram-se a participar nos processos locais relacionadas com a A21 e a desenvolver planos de acção a longo prazo tendo em vista o desenvolvimento local sustentável. Refere-se a rede de sociabilidade (parceria), partilhando as responsabilidades a todos os níveis de modo a alcançar o bem estar do homem e da natureza. Torna facto que a cidade desempenha um papel essencial no processo evolutivo dos hábitos de vida, da produção, do consumo e das estruturas ambientais. Ratifica que o conceito de desenvolvimento sustentável contribui a adoptar um modo de vida baseado no capital da natureza. Constata a necessidade de atingir a equidade social, economias sustentáveis e sustentabilidade ambiental. Sublinha a cidade como a menor unidade na qual se poderá resolver os problemas, duma forma eficaz, integrada, global e sustentável. Denota que a cidade deve integrar os princípios da sustentabilidade em todas as políticas e fazer das suas especificidades a base das estratégias local adequadas (CA, 1994).

1997 Rio + 5 Realizou-se na cidade de Nova York para rever a implementação da Agenda 21. Os Chefes de Estados apontaram que os maiores problemas e dificuldades estavam em atingir as metas relacionadas à equidade social e reduzir os níveis de pobreza. Denotou-se uma preocupação com relação a morosidade e o cumprimento das metas estabelecidas na implementação da A21, mesmo com certo progresso em relação ao desenvolvimento sustentável (Santos et al, 2005). O relatório final ratificou a necessidade de cumprir o compromisso assumido na Rio-92. Anotou que as convenções e acordos internacionais referentes ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável deveriam ser mais eficientes em suas implementações. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) solicitou que um novo encontro fosse realizado em 2002 para avaliar a evolução dos acordos assumidos (OCDE, 2001; Santos et al, 2005; UN, 1997).

2002 Rio + 10

Cimeira do Milénio Joanesburgo

A comunidade internacional reconhece a necessidade de uma maior responsabilidade diante do agravamento das questões ambientais, acentuação da pobreza e da fome. Reviu-se metas, acordos e tratados estabelecidos pela Agenda 21 e elaborou um plano de acção global que conciliasse e atendesse as necessidades de desenvolvimento socioeconómico sustentável para o novo milénio (OCDE, 2001). A Cimeira Mundial não teve bom êxito. Concluiu-se o evento sem atingir os seus propósitos: encontrar soluções de ordem ecossocioeconómicas, problemas que além de graves são também complexos (UN, 2002). As nações ali representadas assumiram uma responsabilidade colectiva, comprometendo-se em fortalecer as vigas que amparam o DS, desenvolvimento socioeconómico e protecção ambiental, em que suas políticas de acções partem do local para o global (Santos et al, 2005). 2007 Cimeira de Bali Foi a 13ª Cimeira das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Criou-se o

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globais. Na opinião dos especialistas é um objectivo bastante ambicioso, pois muitos países, principalmente os em desenvolvimentos têm receio de que as novas directrizes ambientais limitem sua capacidade de crescimento.

2009 COP15

Cimeira de Copenhaga

Foi em Dezembro de 2009. Tinha como proposta selar o acordo sobre as alterações climáticas, ou seja, estabelecer um novo pacto justo, equilibrado e eficaz sobre as alterações climáticas que substituísse o Protocolo de Kyoto. Não fez-se um acordo pós-Kyoto e isto criou nas pessoas um sentimento de impotência. Líderes de 193 países não foram capazes de definir um novo acordo climático global, nem metas eficazes de redução da emissão de gases de efeito estufa em todo o mundo. As principais negociações envolveram em torno de 30 países, o resultado mais significativo envolveu apenas cinco deles: EUA, China, Brasil África do Sul e Índia que decidiram limitar o aumento da temperatura global a 2ºC, sem prever metas para países desenvolvidos. Também ficou definido um fundo para ajudar países pobres com as mudanças climáticas. Uma nova reunião, em seis meses, deve ser realizada em Bonn, na Alemanha, para preparar a próxima conferência sobre o clima, no México, no fim de 2010.

Essa mobilização em nível internacional propiciou o estabelecimento de várias condutas na realização do desenvolvimento, reafirmando a importância de determinadas restrições como condição para a própria manutenção do sistema. Concluiu-se, nesse sentido, que o,

“aumento da atividade econômica somente poderá ser repelido (1) se a produção comprometer a qualidade do meio (e, nesse caso, a proibição não se refere à atividade, mas à forma como ela é desenvolvida) e, (2) se a extração de matéria-prima (recursos ambientais) indicar o seu esgotamento, caso em que deve ser considerado o direito das futuras gerações, mas desde que isso não comprometa a sadia qualidade de vida das atuais que, sem dúvida alguma, têm preferência em relação às outras”.17

Dito de outra forma, tem-se que a atividade econômica não poderá ser exercida ilimitadamente, pois as condições impostas para o desenvolvimento sustentável exercerão influencia direta na atividade empresária que, no contexto atual, deverá ter sua atuação voltada também para questões sociais e ambientais, além da anterior exclusiva finalidade econômica.

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17 MARQUES, José Roberto. O desenvolvimento sustentável e sua interpretação jurídica,

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Desse modo, não há que se cogitar uma atuação empresarial que não seja também socialmente responsável, colocando em risco a existência dos recursos naturais necessários à sobrevivência humana18, o que reforça a tese de que uma das vertentes do desenvolvimento sustentável se realiza, com muita evidencia, pelo exercício da RSE.

2.3. Responsabilidade Social das Empresas

Conforme anteriormente afirmado, as empresas mostram-se sensibilizadas com as consequências sociais e ambientais trazidas por sua atividade. Não se está aqui a defender uma posição puramente altruísta das empresas, uma vez que essa conscientização se deu, em grande medida, pela mobilização da sociedade civil e de organizações sociais, que passaram a lhes exigir responsabilidade sobre suas ações.

Catarina Serra ensina que,

“Na realidade, a RSE foi – é – um resultado de pressões externas, das pressões ou exigências do mercado; é, mais concretamente, a reacção das empresas às sucessivas campanhas da sociedade civil [sobretudo por parte das Organizações Não Governamentais (ONG)], ao desenvolvimento do “consumo ético”, à generalização do Investimento Socialmente Responsável (ISR), à introdução da

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18 “É possível dividir os recursos em renováveis (aqueles que são capazes de regenerar-se por

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Corporate Governance e aos riscos da reputação e da publicidade negativas”.19

Assim, surge uma nova concepção de atividade empresarial, voltada, além da produção e comercialização de bens ou serviços, aferição de lucro e harmonização das relações internas de seu corpo de profissionais, uma obrigação – voluntária ou fruto de pressões externas -, de compatibilizar sua atividade econômica com os interesses da coletividade.

Além das dimensões sociais e ambientais que incentivaram mudanças no seu modo de atuação, o setor empresarial já vinha, gradativamente, exercendo alguma intervenção na sociedade. Atribui-se como fator preponderante nessa mudança de paradigma a redução do papel do Estado na vida social, ocasião em que as empresas ampliaram sua participação na comunidade, ocupando funções que antes eram especificamente públicas, realizando investimentos em projetos nas áreas da saúde, educação, ações filantrópicas etc.

Tais práticas denominadas “assistencialistas” foram gradativamente incorporadas pelas empresas e à medida que aumentavam seu âmbito de atuação na sociedade, maior se tornava sua responsabilidade junto à comunidade em que estavam inseridas.

Entretanto, a concepção de “empresa” enquanto sujeito responsável pelos interesses do corpo social já era praticada desde o século XVIII e emergiu como corolário de ações beneméritas realizadas a título de caridade, ou seja, estava relacionada a atos beneficentes dos

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19 SERRA, Catarina. A Responsabilidade Social das Empresas através do Direito (e o Direito à

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empresários, que selecionavam seus beneficiários através de critérios morais e religiosos.

Em referência ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, especificamente nos EUA e Reino Unido, Catarina Serra assinala que,

“era habitual, as congregações religiosas seleccionarem os seus títulos de investimento de acordo com critérios de exclusão de produtos ou de actividades (tabaco, armamento, actividade nuclear, jogo, pornografia, etc.). Eram preteridas as empresas que produzissem tais produtos ou prosseguissem tais actividades, mesmo que não o fizessem a título principal; bastava tratar-se, por exemplo, de uma sociedade gasolineira em cuja estação se vendessem bebidas alcoólicas. Nasciam assim os ‘fundos éticos’”.2021

É, portanto, a partir de atos de caridade baseados em critérios éticos, morais e religiosos que se verificam as primeiras manifestações das empresas no sentido de realizar práticas sociais.22 Gradativamente,

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20 SERRA, Catarina. A responsabilidade social das empresas – Sinais de um instituto jurídico

iminente? Questões Laborais: Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra, Ano XXI, 2005, p. 45.

21 Em resposta a esse anseio mundial, surgem os índices de sustentabilidade empresarial no

mercado financeiro. O primeiro deles foi o Sustainability Index, lançado em 1999 pela Dow Jones, empresa americana dedicada a informações sobre negócios. Funciona como uma ferramenta para investidores que busquem empresas ao mesmo tempo lucrativas e eficientes na integração dos fatores econômicos, ambientais e sociais nas estratégias de seus negócios. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) lançou em 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que reflete o retorno de uma carteira composta por ações de empresas reconhecidamente comprometidas com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial e atua como promotor de boas práticas no meio empresarial brasileiro. Texto disponível em: < http://www1.ethos.org.br/Ethos>. Acesso em: 17 fev.2010.

22 Ações coletivas visando à caridade, envolvendo o Estado e o empresariado já apareciam no

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esse âmbito de atuação foi se alargando e, em grande medida, essa ampliação ocorreu em virtude da mobilização internacional em prol dos interesses ambientais e sociais.

Aliado a esses fatores, verifica-se também uma iniciativa do empresariado em participar de forma mais ampla nas discussões políticas orientadas aos interesses mundiais. Nesse sentido, Nicole Notat explica que:

“algumas empresas e, em particular, algumas multinacionais começaram a atribuir-se responsabilidades próprias. Porque, relativamente a desafios tais como sejam a preservação do ambiente, o respeito pelos direitos do homem, a valorização dos recursos humanos, a observância de regras fiáveis de governação ou a luta contra a corrupção, etc., a empresa já não está apenas confrontada com críticas de sentido e valor, mas ela incorre em riscos.

A sua gestão e actividade suscitam preocupações que dizem respeito a um vasto leque de partes interessadas (accionistas, assalariados, sindicatos, consumidores, opinião pública e poderes públicos, ONG, etc.), e que são susceptíveis de lhes pedirem responsabilidades”.23

Ressalte-se também um aspecto primordial relacionado à sustentabilidade da atividade empresarial: “a empresa é um negócio, e pode-se afirmar que o centro de interesse do investidor é o lucro, e os stakeholders24 são o meio para alcançá-lo. Mas uma empresa também é

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riqueza e afirme publicamente o seu prestígio social” (Geremek, 1986, p. 16). COSTA, Maria Alice Nunes. Os padrões da ação coletiva de responsabilidade e solidariedade social do empresariado Português: uma interface com o Brasil. In: FÓRUM NACIONAL- EMPRESAS, EMPRESÁRIOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL: OS PERCURSOS EM PORTUGAL. Lisboa, Artigo... Lisboa: Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações (SOCIUS), 4-5 de fev. 2010, p. 2.

23 NOTAT, Nicole. A responsabilidade social das empresas. Revista Futuribles, Paris, p. 5,

jun./ago. 2003.

24 Segundo Mitchell (1997) existem três âmbitos que devem ser analisados para se identificar o

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uma organização social25 formada por grupos que buscam a satisfação de suas necessidades. Assim, definir linhas de atuação que compatibilizem diferentes interesses, embora seja um grande desafio, é uma necessidade que o próprio mercado impõe.

No contexto internacional, Flávia Piovesan lembra que as empresas devem ter consciência de sua responsabilidade social, especialmente “[...] empresas multinacionais, na medida em que constituem as grandes beneficiárias do processo de globalização, bastando citar que, das 100 maiores economias mundiais, 51 são empresas multinacionais e 49 são Estados nacionais.”26 Rosemeri

Alessio ressalta que:

“Para as multinacionais, a prática socialmente responsável significaria uma forma de devolver à sociedade, uma compensação pelo uso do patrimônio da humanidade. Ademais, numa sociedade empobrecida, cada vez menos produtos e serviços serão consumidos, comprometendo a viabilidade econômica da empresa em longo prazo. Logo, os empresários estão, necessariamente, sendo compelidos a refletirem sobre uma gestão orientada além de interesses

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stakeholders que antes pareciam estar dormindo, são denominados stakeholders ocultos, e se manifestam em momentos oportunos.

Além desses stakeholders ocultos ou inesperados, os gestores devem estar cientes que as ações da sociedade são tão dinâmicas que em determinadas condições pode ocorrer a aliança entre dois stakeholders, a fim de aumentar suas forças e suas legitimidades perante a empresa. Ricardo Miyashita, etal. Disponível em: <www.gpi.ufrj.br/.../Miyashita,%20Sellim,%20 Santos,%20Cotrim%20%20Responsabilidade%20Social%20e%20Resultados%20Economi?> Acesso em: 05 jul. 2010.

25 Sobre a função social da empresa, tem-se que “encarando a função social de forma ativa,

seria um poder-dever, trazendo ao direito privado, algo típico do direito público: o condicionamento do poder a uma finalidade. Nestes termos, o princípio da função social legitima e justifica a propriedade e este princípio se tornou indispensável à realização do fim da ordem econômica, quanto demonstra a modernização do capitalismo nacional.” A função sócia da empresa como princípio do direito civil constitucional. PESSOA, Mariana Alves. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/8908/8474.> Acesso em: 13 nov. 2010.

26 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva, 2007,

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meramente econômicos, por uma questão de sustentabilidade econômica das empresas.”27

Tal assertiva remete à conclusão de que a sobrevivência da atividade empresarial não se dá sem a contrapartida da demanda por seus produtos e serviços.

Notadamente a empresa, na atualidade, está presente em todas as esferas da sociedade, com atuação significativa na economia, cultura, política, educação, saúde, enfim, além de perseguir objetivos econômicos, tem incorporado em sua rotina de gestão, determinadas práticas que sinalizam sua preocupação em atuar de maneira conjunta com os todos os elementos possivelmente atingidos por sua atividade econômica.

Dentre as dimensões de atuação socialmente responsáveis, Nicole Notat, apresenta alguns níveis em que a empresa pode se manifestar:

“Um primeiro nível de responsabilidade, bastante clássico, exprime-se nas acções de filantropia ou mecenato das empresas. Sobre isto, e para evitar tendências maniqueístas, nem todas as despesas relativas ao mecenato participam necessariamente da responsabilidade social, e não ser mecenas não significa que a empresa seja socialmente irresponsável.

Uma outra forma de expressão é a da responsabilidade social ‘preventiva’, que consiste em agir de acordo com as regras, não correr riscos, sendo o objetivo proteger a reputação da empresa. Esta pode mesmo ser a fase do código de boa conduta ou da carta ética entregue aos ‘interlocutores’ juntando, sendo esse o caso, classificações de serviço de sinal proibitivo relativamente àquilo que poderia atentar contra a notoriedade. A proteção da reputação compreende uma consciência dos riscos e a sua identificação. Mas compreende também riscos sérios, incluindo processos de publicidade enganosa quando, no que diz respeito à aplicação, a responsabilidade social é apenas uma encenação.

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27 ALESSIO, Rosemeri. Responsabilidade social das empresas no Brasil: reprodução de

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Encontramos igualmente uma certa forma de responsabilidade social ‘pró-activa’ sempre que a empresa escolhe – relativamente ao investimento estratégico, criador de valor – a integração das dimensões sociais e ambientais na definição das suas políticas, e na aplicação e controle dos seus procedimentos”. 28

Desse modo, a atuação socialmente responsável pode resultar na promoção de alterações profundas nas políticas e estratégias de gestão das empresas, através da incorporação de condutas que possibilitam uma maior integração com a comunidade, reforçando sua imagem e reputação na sociedade, como pode também estar adstrita ao âmbito de cumprimento das leis, ou seja, a empresa cumpre suas obrigações legais e desse modo estaria agindo de maneira responsável.

Uma outra vertente refere-se à eleição de critérios morais e éticos quando da escolha, pela empresa, dos beneficiários de seus investimentos. Isso significa que só serão beneficiadas aquelas empresas que adotarem práticas de RS.

Todos esses fatores influem de forma direta no conceito que se constrói sobre determinada empresa, pois,

“no dia-a-dia da organização, a identidade corporativa aparece na forma das práticas administrativas empregadas nas relações internas e externas da empresa. Na nossa sociedade, baseada na linguagem, atribui-se nomes a tudo o que pode ser percebido ou reconhecido, para distinguir algo de outras coisas no mundo (TADELIS, 1999). O mesmo ocorre com as firmas. A partir do momento em que uma empresa se estabelece, passa a ser reconhecida pelo seu nome, que é unicamente associado à suas características e desempenho passado. O nome, ou de fato, a reputação conferida por este nome é um bem intangível desta empresa”.29

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28 NOTAT, Nicole. A responsabilidade social das empresas. Revista Futuribles, Paris, p. 16,

jun./ago. 2003.

29 MACHADO FILHO, Claudio Antonio Pinheiro. Responsabilidade social corporativa e a

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O fato é que as empresas podem praticar ações sociais e ambientais, além das vantagens financeiras, admitindo que existem maneiras de se exercer a atividade econômica respeitando-se os direitos humanos fundamentais30 e os interesses sociais, sem colocar em risco a

sobrevivência do planeta.

2.3.1. Conceito

O conceito de RSE nasce imbricado com o conceito de DS. Os institutos se complementam, pois através da viabilização do primeiro que uma dentre as várias vertentes do desenvolvimento sustentável concretizar-se-ia de maneira pragmática.

Nesse sentido, Catarina Serra esclarece,

“Não é fácil delimitar espacio-temporalmente as etapas do processo de autonomização do conceito de RSE relativamente ao conceito de desenvolvimento sustentável. Nem é correcto tentar dissociá-los completamente. Os seus caminhos intersectam-se e isso é particularmente visível quando se enumeram as principais intervenções das organizações internacionais neste domínio”.31

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30 A tentativa de fazer integrar os valores fundamentais nas políticas empresariais teve início

em 1976, com a declaração da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) “Princípios Directores para as empresas multinacionais.” Logo no ano seguinte, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) adoptava a “Declaração tripartida sobre os princípios relativos às empresas multinacionais e a política social”. Surgiu, depois, o “Pacto Global”(Global Compact). Trata-se de uma proposta do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, anunciada no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos (Suíça), e, 31 de janeiro de 1999, e lançada formalmente na sede da ONU, em 26 de Julho de 2000[...]. Estão em causa, designadamente, a protecção dos direitos humanos, o respeito pela liberdade de associação e pelo direito à negociação colectiva, o repúdio do trabalho forçado, do trabalho infantil e da discriminação no emprego e a responsabilidade ambiental[...]. Em 24 de junho de 2004 foi acrescentado o princípio “contra a corrupção”. SERRA, Catarina. A responsabilidade social das empresas – Sinais de um instituto jurídico iminente? Questões Laborais: Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra, Ano XXI p.48, 2005.

31SERRA, Catarina. A responsabilidade social das empresas – Sinais de um instituto jurídico

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Conforme anteriormente afirmado, deu-se em torno do “desenvolvimento sustentável” uma grande mobilização de organismos internacionais no sentido de formular políticas, programas, metas e propostas de ação para a promoção de novas formas de se exercer a atividade econômica, tendo a sustentabilidade como paradigma.

Dessa assertiva, destaca-se como principal ator as empresas, sejam multinacionais ou de pequeno, médio ou grande porte. O certo é que a atividade empresarial tem contribuído significativamente para a destruição do meio ambiente, uma vez que é o maior usuário das riquezas naturais – que são patrimônio da humanidade -, e muitas vezes o realiza de forma predatória. Desse modo, a Responsabilidade Social das Empresas surge como instituto autônomo, com a finalidade de concretizar o chamado tripple bottom line (people,planet,profit)32, ou seja, o tripé da sustentabilidade preconizado nos documentos sobre o DS: harmonização das dimensões econômicas, sociais e ambientais.

Em torno do assunto foram formuladas diversas conceituações e Catarina Serra destaca:

“Mas o contributo mais significativo para a autonomização da RSE é datado de 18 de julho de 2001, quando a Comissão (europeia) apresenta o Livre Verde “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas” e define expressamente o conceito: a RSE é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas

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32 De acordo com isto, a RSE desdobra-se em “Responsabilidade Social”, “Responsabilidade

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