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A ORDEM JURÍDICA INTERNACIONAL COMO

CONCRETIZADORA DE DIREITOS HUMANOS

A incorporação de princípios de direitos humanos no sistema jurídico da UE tornou possível sua fruição, já que várias políticas implementadas na comunidade permitem a concretização efetiva de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. A eleição da solidariedade como valor informador sinaliza a comunhão de interesses e responsabilidades e o compromisso de coesão social em prol da dignidade da pessoa.

Nesse contexto, as regras do DS e da RSE incrementam a atividade econômica estabelecendo o compromisso de fornecer acesso ao emprego em condições dignas e consequentemente promover a erradicação da pobreza; a aquisição de bens materiais próprios da vida moderna fortalecendo a relação de confiança com consumidores e fornecedores; adoção de práticas que otimizem a exploração de bens naturais, bem como sua reutilização, criando mecanismos alternativos de produção com menores danos ao meio ambiente.

Tais ações reforçam a importância da criação de mecanismos que socializem os benefícios e reduzam os danos provocados pelo progresso, patrocinando a melhoria da qualidade de vida no mundo sem prescindir do direito das futuras gerações. A conscientização de que o

desenvolvimento deve privilegiar a dignidade humana é um primeiro

passo na compreensão de que o sistema econômico em vigor está a serviço do gênero humano e em prol dele se justifica.

É, pois, nesse sentido que a presente pesquisa pretende evidenciar que as diretrizes do DS permitem a concretização de determinados direitos humanos fundamentais, sendo que a RSE estabelece ações concretas que tornam o indivíduo participante direto na construção dessa nova concepção de sistema econômico, que propõe conciliar sociedade e meio ambiente.

Conforme se afirmou em capítulos anteriores, a definição de limites para a ação humana no que se refere ao progresso ocorreu como consequência do processo de desenvolvimento da sociedade. A busca pelo equilíbrio entre as necessidades humanas e os recursos que poderiam ser extraídos da natureza exigiu que o homem demarcasse sua atuação.

Os organismos internacionais, preocupados com o futuro da humanidade, delinearam as consequências inevitáveis da ação predatória a estabeleceram orientações que tutelassem esse patrimônio da humanidade. Desse modo, já em 1972, representantes de 113 países participaram em Estocolmo, na Suécia, da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (UNCHE).

Contudo, a recomendação de que as empresas realizassem sua atividade econômica “de forma diferente”, não se mostrou suficiente para coibir as “más práticas” e tampouco para vincular o modo de agir das organizações..

Nesse contexto, ao Direito impõe-se a grande missão: como conciliar interesses econômicos unicamente lucrativos com condutas ética e socialmente responsáveis.

Daniel Fink também evidencia o protagonismo da ordem jurídica, pois

“o crescimento populacional associado ao aparecimento de maiores necessidades e interesses tem gerado efeitos diretos na natureza, impondo ao Direito, como ciência reguladora das relações sociais, o fornecimento dos instrumentos jurídicos

capazes de conformar as relações humanas e a demanda por bens da natureza, de forma equilibrada, tal qual o faz com as demais relações jurídicas”.219

Contudo, o direito tradicional que estabelece condutas lícitas e prevê sanções em caso de descumprimento, não é suficiente para vincular comportamentos no âmbito internacional, que em geral é orientado pelas chamadas sotf law.

Na sociedade moderna em que a noção de fronteiras entre os Estados possui outros contornos em razão da globalização, bem como sua soberania é relativizada por interesses supranacionais, a ordem jurídica carece de outros paradigmas.

Willis Santiago, nesse sentido, explica:

“Já se torna cada vez mais difundido entre nós esse avanço fundamental da teoria do direito contemporâneo, que, em uma fase ‘pós-positivista’, com a superação dialética da antítese entre o positivismo e o jusnaturalismo, distingue normas jurídicas que são regras, em cuja estrutura lógico-deôntica há a descrição de uma hipótese fática e a previsão da conseqüência jurídica de sua ocorrência, daquelas que são princípios, por não trazerem semelhante descrição de situações jurídicas, mas sim a prescrição de um valor, que assim adquire validade jurídica objetiva, ou seja, em uma palavra, positividade”.220 Afirmar que a eleição de um valor confere positividade a determinados princípios, significa dizer que se tornam exigíveis dentro de determinado ordenamento jurídico.

Porém, nas questões que envolvem Direitos Humanos que não estão constitucionalmente incorporados em determinada ordem jurídica, a coercibilidade deve ser substituída por mecanismos que vinculam condutas em razão das vantagens trazidas e não propriamente pela sanção acarretada.

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219 FINK, Daniel Roberto (apud MARQUES, 2009, p. 199).

220 GUERRA FILHO, Willis S. Processo Constitucional e Direitos Fundamentais. 5. ed. rev.

Ao tomar como parâmetro o sistema jurídico comunitário da UE, que propõe uma abordagem proativa do direito, percebe-se que em determinadas situação a concretização de direitos se dará com maior eficácia pelo estímulo a não-regulação ou a auto-regulação, respeitando- se as especificidades dos Estados-Membros.

No intuito de instigar condutas desejáveis o direito regulatório promove a adoção voluntária a valores que orientam a vida em sociedade para a promoção do bem comum.

No capítulo que segue será demonstrado como a RS na legislação europeia tem caminhado para tornar-se uma prática espontânea por força do direito proativo.

6.1. A RSE no Quadro da Regulação Européia: uma abordagem proativa do direito

Considerando-se o caráter voluntário da RS - que assemelha-se mais a um “instituto social” do que propriamente jurídico -, sua efetividade será assegurada muito mais pelo estímulo do que pela força. Ao contrário, o excesso de leis pode interferir negativamente na atividade empresarial, principalmente nas corporações multinacionais. Tampouco se está a defender a total ausência de regulação na economia nos termos da “mão invisível” de Adam Smith.

O desenvolvimento tecnológico proporcionou um incremento nas relações comerciais internacionais e atualmente se pode negociar com qualquer país de qualquer parte do mundo em tempo real. Não se está aqui a falar apenas em compras pela internet, mas em investimentos no mercado de ações, vultosas negociações por meio de teleconferências, transferências de numerários que levam ao enriquecimento ou a bancarrota em questão de segundos. O setor econômico é medido em

escala mundial conforme se constatou com a crise de 2008, que provocou consequências globais.

Se a economia tem o poder de influir direta ou indiretamente na esfera privada, como por exemplo, o desemprego acarretado pela crise e a perda da propriedade causada por operações fraudulentas do mercado imobiliário, o particular tem o direito de que não lhe subtraiam o mínimo ético necessário para uma existência digna.

A sociedade moderna exige a criação de um meio termo que assegure o exercício dos direitos e liberdades, sem beneficiar uns em detrimento de outros. É, pois, nesse sentido que se propõe a juridicização da RSE para que o instituto adquira a “validade jurídica objetiva” anteriormente referida, e não apenas um valor ético-social voluntário.221

É a função promocional do Direito que orientará as condutas socialmente desejáveis, conforme ensina Catarina Serra:

“Começa a ser cada vez mais freqüente o uso, nas normas jurídicas, de técnicas de encorajamento, no sentido de promover e favorecer valores e motivar ou estimular condutas. O que não é meramente circunstancial, mas corresponde à transfiguração do Direito clássico num Direito novo, característico do moderno Estado social, que alguns autores – por exemplo, GUNTHER TEUBNER – denominam ‘Direito regulatório’ e definem «como um direito instrumental, como um mecanismo de regulação ou direcção social, em ordem à consecução de determinados objectivos formulados pelo sistema político”.222

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221 Cf. SERRA Catarina. A Responsabilidade Social das Empresas através do Direito (e o

Direito à luz da Responsabilidade Social das Empresas). In: FÓRUM NACIONAL- EMPRESAS, EMPRESÁRIOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL: OS PERCURSOS EM PORTUGAL. Lisboa, Artigo... Lisboa: Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações (SOCIUS), 4-5 de fev. 2010, p. 3.

Tais objetivos buscam incentivar os comportamentos desejáveis através de estímulos que tornem vantajosas tais condutas. No caso da UE essa abordagem permite conciliar a multiplicidade de interesses envolvidos nas relações econômicas, sociais e ambientais. O Parecer do Comité Económico e Social Europeu223 prescreve:

A abordagem proactiva do direito procura métodos mistos para atingir os objetivos desejados: e o centro de interesse não consiste apenas nas normas jurídicas e no seu cumprimento formal. Estabelecer os objetivos almejados e conseguir o conjunto mais apropriado de meios para os atingir implica a participação desde o início das partes interessadas, o alinhamento de objectivos, a criação de uma visão partilhada e de apoio e orientação para uma implementação de sucesso desde o início. ....

Pela sua natureza, o sistema jurídico comunitário é precisamente o tipo de domínio em que a abordagem proactiva deve ser adoptada quando do planejamento, redacção e aplicação das leis [...]; por vezes, o regulador poderá apoiar melhor objectivos válidos não regulando e caso seja apropriado, promovendo a auto-regulação ou a co-regulação. Nesse caso, os princípios fundamentais da subsidiariedade, proporcionalidade, precaução e sustentabilidade alcançarão nova importância e dimensão.224

Ao propor múltiplas possibilidades de ações na persecução dos objetivos, o Parecer busca ampliar a abrangência normativa, conferindo maior alcance e, consequentemente, ampliando a eficácia da norma. Também reconhece que em determinadas situações, a ausência de regulação ou o estímulo a auto-regulação seriam mais eficazes por respeitar as especificidades regionais.

Considerando-se que a UE congrega o maior bloco econômico do mundo, com a participação de 27 países, a regulamentação de comportamentos deve considerar a complexidade das relações

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223 Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre “A abordagem proactiva do direito:

Um passo para legislar melhor a nível da EU”, de 3 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://www.eesc.europa.eu. Bruxelas>.

existentes na comunidade. Nesse contexto, o Parecer é inovador ao propor o envolvimento de todos no processo de regulação, seja agindo ou abstendo-se de agir, patrocinando o que no documento é denominado “abordagem proactiva do direito: um passo para legislar melhor”, envolvendo tanto interessados diretos quanto aqueles que possam ser afetados pelas ações praticadas.

A proposta de que Estado, empresa, stakeholders atuem em comunhão na criação e aplicação das normas permite que vários aspectos da atividade regulada sejam encampados, numa perspectiva de conciliação do que até aqui se buscou defender: interesses econômicos, sociais e ambientais. Como já afirmado, esse deve ser o critério orientador que impulsionará a atividade empresária na atualidade.

Catarina Serra reforça essa nova concepção de atividade empresarial:

“Além da sua justificação prática, a RSE é sustentada por razões de ordem histórica. Ela enquadra-se na melhor tradição e representa, em certos termos, um regresso ao (bom) passado – o regresso à articulação entre a riqueza, o desenvolvimento económico, o progresso e a justiça social, a ordem económica e a ordem social, que ADAM SMITH personificava.

Evidentemente, ninguém espera já que o empresário seja, como outrora foi (ou se crê tenha sido), um indivíduo bem- formado, por definição, fiel a determinados valores e princípios éticos – o ‘comerciante honesto’ (ehrlicher Kaufmann) a que aludia KANT -, que (ainda) exista uma intrínseca moralidade empresarial ou económica. Ninguém tem já ilusões quanto a isso. Apesar de tudo, é possível que a responsabilidade social fique associada a um ‘comportamento adequado ou devido’, providenciando o ordenamento jurídico uma efectiva tutela da “adequação ou correcção social” da actividade dos agentes económicos.

A multiplicação, por todo o lado, de argumentos contra o ‘capitalismo selvagem’ e a diversificação de abordagens novas, como o ‘capitalismo criativo’, o ‘capitalismo humanista’ ou o ‘capitalismo consciente’, reforçam esta convicção”.225

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225 SERRA Catarina. A Responsabilidade Social das Empresas através do Direito (e o Direito à

6.2. Contribuições para uma concepção mais humanista da atividade econômica

Ante todo o até aqui exposto, poder-se-ia afirmar que uma nova concepção de exercício da atividade empresária é factível, desde que os sujeitos envolvidos adotem uma postura consciente das implicações que seu modo de agir acarreta.

Atitudes individualistas privilegiam o egoísmo e se mostram incompatíveis com o viver em sociedade, pois o próprio meio social exige que o indivíduo adote condutas que não contrariem o senso comum e não acarretem prejuízos ao coletivo.

No sistema econômico não há que ser diferente: a liberdade negocial não é ilimitada e deve considerar a repercussão de sua ação no meio social e ambiental. Tem-se, pois, que a atividade econômica ideal seria aquela realizada em prol do gênero humano.

Aldo Ocese Santoja tece uma reflexão sobre essa nova concepção de capitalismo:

“Esta crisis nos abre las ventanas para oxigenar el capitalismo pero requiere de nuevos dirigentes o de dirigentes que se sepan adaptar a esta nueva formulación, donde el corazón de las personas tiene mucho que ver y cuenta de manera muy especial en sus diferentes manifestaciones porque los conceptos vinculados a la ética, a la transparencia, al buen gobierno, a la responsabilidad social muchos de ellos tienen que ver con las emociones y las emociones tienen que ver con el corazón, tienen que ver con el compromiso de las personas y el compromiso de las personas tiene que ver a veces con la cabeza pero mucho con el corazón, son los compromisos de verdad, los que salen del corazón”.226

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EMPRESÁRIOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL: OS PERCURSOS EM PORTUGAL. Lisboa, Artigo... Lisboa: Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações (SOCIUS), 4-5 de fev. 2010, p. 28.

226 Aldo Ocese Santoja. Disponível em: <http://jmontoro.wordpress.com/2009/03/08/el-

A atuação ética é o mínimo que se espera do setor econômico, considerando-se que suas ações influem em todo o espectro social e, na sociedade globalizada, com maior grau de impacto. Em alguns casos, a responsabilidade empresarial mostra-se potencializada, especificamente nos casos daquelas empresas que se utilizam de recursos da natureza - que compõem o patrimônio da humanidade -, sem qualquer preocupação com o retorno social que lhe seria obrigatório. Aliás, esse ônus nasce simultaneamente ao seu exercício empresarial.

A possibilidade de gerar benefícios pode ter, em geral, a mesma dimensão que possui em causar prejuízos. Para Mary Robinson,

“As grandes multinacionais têm o poder de trazer grandes benefícios para as comunidades carentes, mas também têm o poder de causar profundos malefícios, como a degradação ambiental, a exploração das comunidades economicamente fracas e o uso do trabalho infantil. Nos últimos anos tem crescido a consciência do setor privado de que é necessário assumir responsabilidades no campo dos direitos humanos (...) O setor privado tem incorporado os direitos humanos mediante códigos éticos internos, códigos de conduta, acordos setoriais a respeito do trabalho infantil, ou mesmo códigos mais amplos como o Social Accountability 8000 (Responsabilidade Social 8000), o International Code of Ethics for Canadian Business (Código Internacional de Ética para as empresas canadenses) e o New Sullivan principles (novos princípios Sullivan)”.227 A autora reitera o que exaustivamente se defendeu na presente pesquisa: trata-se de modificação no modo de atuar, de agir, de perceber o ser humano. Essa nova cultura há que ser incorporada e praticada no sentido de se conferir aplicabilidade aos direitos humanos. As questões sociais e ambientais não são exclusivas do poder público, ao contrário, devem orientar a atividade privada, seja pessoa jurídica ou física.

Na pós-modernidade, a busca pela efetividade dos direitos humanos substitui a velha resignação em ter tais direitos positivados. O

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ser humano necessita que o mínimo essencial para sua existência digna lhe seja disponibilizado e não apenas proclamado. O conjunto de necessidades materiais e morais atendidos confere sentido à vida e torna o indivíduo ciente de seu lugar no mundo.

6.2.1. Códigos de Conduta

O Livro Verde da Comissão das Comunidades Europeias assim definiu:

Código de conduta: declaração formal de valores e práticas

comerciais de uma empresa e, por vezes, também dos seus fornecedores. Um código enuncia requisitos mínimos e constitui, simultaneamente, um compromisso solene da empresa para a sua observância e a exigência de que os seus contratantes, subcontratantes, fornecedores e concessionários os observem. Poderá tratar-se de um documento muito elaborado, que impõe uma conformidade com normas bem definidas e com um complicado mecanismo de aplicação. 228

A utlização desses códigos está diretamente ligada à responsabilidade social das empresas, que implicam em forte vinculação com a questão dos direitos humanos.

A situação torna-se complexa, quando existe a necessidade de delimitar a área de atuação da empresa frente às áreas de responsabilidade dos governos, principalmente nos países onde são verificadas violações dos direitos humanos e casos mais sérios de corrupção, que podem levar a suspensão de acordos de cooperação.

Manter a coerência e a transparência dessas práticas representa um desafio às empresas da Comunidade Europeia, que através de investimentos, principalmente em países em desenvolvimento, buscam assegurar o cumprimento de suas estratégias de expansão e comercial,

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visando preservar suas operações, sem contrariar diretrizes dos rigorosos padrões de conduta.

Os códigos de conduta não substituem disposições legais e normas vinculativas nacionais e tampouco as internacionais, já que disposições obrigatórias impõem a todos requisitos mínimos, enquanto os códigos de conduta e outras iniciativas voluntárias apenas as podem complementar e promover normas mais rigorosas para os seus subscritores.

Na UE a Confederação das Indústrias Dinamarquesas lançou um conjunto de orientações em matéria de direitos humanos destinadas às organizações comerciais, convidando as empresas a atingir o mesmo nível de responsabilidade social nos países de acolhimento do que no seu país de origem.

É crescente o número de multinacionais que, nos seus códigos de conduta, têm se empenhado explicitamente na causa dos direitos humanos e são cada vez mais os empresários europeus que adotam padrões éticos de produção das mercadorias importadas. Em 1998, a Eurocommerce aprovou uma Recomendação relativa às Condições de Aquisição Social que repudia o trabalho infantil, forçado e prisional.

Existem também vários exemplos de códigos de conduta, subscritos pelos parceiros sociais na europa, designadamente nos sectores têxtil, de vestuário e comercial, com os quais a Comissão se regozija.229

O movimento em torno da construção de padrões éticos nas empresas não é recente. Em nível mundial,

O direito internacional público, concebido pelos Estados para a organização das suas relações, não conhece directamente as empresas. Entretanto, importantes organizações internacionais produziram, em seu proveito e de acordo com os seus objectivos, instrumentos - alguns não vinculativos -, mas cujos princípios gerais e disposições desempenham, a pouco e ___________________

pouco, um papel normativo. O movimento teve início em 1976, na OCDE, com a declaração dos Princípios directores da OCDE para as empresas multinacionais. O Conselho de Administração da OIT adoptava, no ano seguinte, uma importante Declaração tripartida sobre as empresas multinacionais e a política social. Estes dois instrumentos enumeram as responsabilidades das empresas relativamente às questões do ambiente, das políticas positivas sobre o emprego e a valorização dos recursos humanos, do respeito pelos direitos do homem e pelas normas do trabalho, da governação transparente, e do desenvolvimento dos territórios e dos países de acolhimento. Em 2000 foi feita uma actualização, insistindo sobre os direitos fundamentais da pessoa no trabalho. O Parlamento Europeu adoptou igualmente, em 1999, um Código de conduta para as empresas européias a operar nos países em desenvolvimento, insistindo sobre as suas responsabilidades sociais e ambientais.230

6.2.2. Harmonização das dimensões econômicas, sociais e ambientais

Ao afirmarem a sua responsabilidade social e assumirem voluntariamente compromissos que vão para além dos requisitos reguladores convencionais a que, de qualquer forma, estariam sempre vinculadas, as empresas procuram elevar o grau de exigência das normas relacionadas com o desenvolvimento social, a protecção ambiental e o respeito dos direitos fundamentais e adoptam uma governação aberta em que se conciliam os interesses de diversas partes, numa abordagem global da qualidade e do desenvolvimento sustentável.231

Conforme já citado em capítulo precedente, a RSE configura aquele conjunto de ações que estão além daquelas impostas pela lei, ou

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230 NOTAT, Nicole. A responsabilidade social das empresas. Revista Futuribles, Paris, p. 7-9,

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