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DIREITOS HUMANOS NA ATIVIDADE ECONÔMICA

Para alguns essa simples denominação poderia parecer incompatível com a própria natureza do sistema capitalista, mas sendo ele o modelo econômico que se consolidou e que está em vigor na sociedade moderna, há que se refletir sobre a melhor maneira de o realizar, possibilitando que cada vez mais pessoas estejam incluídas no rol de seus beneficiários, facultando à humanidade, a realização plena daqueles preceitos contidos nos documentos que estabelecem os chamados Direitos Humanos. Nesse sentido, deve-se reconhecer a Responsabilidade Social como mecanismo de consecução do direito ao desenvolvimento que privilegia os direitos humanos.

A maneira possível de concretizar a vida digna se dá através da viabilização pragmática dos preceitos contidos nas normas que estabelecem Direitos Fundamentais e na perspectiva de que tais direitos sejam estendidos a todos os seres humanos. Apenas a garantia de vida não supre todas as necessidades básicas do ser humano.

Há que se ter em conta que seus anseios são superiores ao mínimo de garantia de subsistência. Sobreviver apenas não torna ninguém digno - dignidade está muito além disso -, e a vantagem do progresso reside em poder suprir tais necessidades mínimas. A perspectiva de conciliação do desenvolvimento econômico com a dignidade humana é capaz de sublevar o nível e a qualidade de vida do ser humano.122

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122 A globalização pode ser reformulada e, quando isso acontecer, quando ela for gerenciada

A justificativa para o desenvolvimento econômico, social, cultural, político, tecnológico, científico, deveria assegurar que todos compartilhem de suas benesses.

Cançado Trindade ensina que

“Al Derecho está reservado un papel de fundamental importancia para atender a las nuevas necessidades de protección del ser humano, particularmente en el mundo deshumanizado en que vivimos. Al inicio del siglo XXI, urge, en definitiva, situar el ser humano en el lugar que le corresponde, a saber, en el centro de las políticas públicas de los Estados (como las poblacionales) y de todo proceso de desarrollo, y ciertamente por encima de los capitales, inversiones, bienes u servicios. Urge, además, desarrollar conceptualmente el derecho de la responsabilidad internacional, de modo a abarcar, a la par de la estatal, también la responsabilidad de actores no-estatales. Es éste uno de los mayores desafíos del poder público y de la ciencia jurídica en el mundo globalizado en que vivimos, desde la perspectiva de la protección de los derechos humanos”.123

É, pois, nesse sentido, que neste capítulo se pretende evidenciar a relevância da compatibilização do interesse econômico com os valores humanistas, assegurando a igualdade de acesso a todos em relação às vantagens econômicas, tais como alimentação, educação, saúde, lazer, trabalho digno, entre outros.

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políticas que os afetam, é possível que ajudará a criar uma nova economia global, na qual o crescimento não seja apenas mais sustentável e menos volátil, mas os frutos desse crescimento sejam compartilhados com mais igualdade. STIGLITZ, Joseph E. Globalização e

seus malefícios. A promessa não cumprida de benefícios globais. Tradução de Bazan

Tecnologia e Linguística. São Paulo: Editora Futura, 2003, p. 49.

123 CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto; RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. La nueva

dimension de las necesidades de proteccion del ser humano del siglo XXI. Edición San

4.1. Humanismo

Na compreensão do humanismo, há que se considerar o homem e suas virtudes em seu aspecto mais puro, convicto de sua capacidade de ser justo, solidário, correto, probo e íntegro como atributos subjetivos, em consonância com os valores morais e éticos da coletividade em que está inserido.

O aspecto humano do homem realiza-se em maior grau no seu contato com outros indivíduos, ocasião em que demonstra sua capacidade de pôr em prática aquele conjunto de adjetivos que compreende suas convicções pessoais aliadas às normas morais comumente aceitas. Não se trata, pois, de regras impostas pela lei e com caráter coercitivo, mas de valores aceitos e praticados em determinada cultura e que refletem seu modo de agir e de pensar.

Movido pelos ideais de solidariedade e fraternidade o homem evidencia seu respeito pelo outro e sua disposição em usufruir seu direito à liberdade, em conformidade com o mesmo direito que assiste aos seus iguais.

O pleno direito de liberdade do indivíduo não pode ser exercido sem a contrapartida de seus deveres, isto é, essa liberdade encontra seu limite no seu dever de também respeitar a liberdade do próximo.124

Tais valores de ordem moral, durante a Idade Média estiveram associados à fé e aos dogmas religiosos. Foi em obediência aos preceitos divinos que o homem viveu em harmonia com seus

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124 E alheio a quaisquer deveres. O individualismo liberal – e, de um modo geral, todas as

declarações de direitos (mesmo as de pendor socializante) – esqueceu os deveres. Preocupou- se apenas com a consagração dos direitos e esta, tornada um ‘hábito’, convenceu os homens de que a sua fundamental dignidade os intitulava a reclamar sempre novas faculdades. O que em muito dificulta, hoje, uma inflexão de sentido que pretenda consciencializar os indivíduos de que a efectiva realização do Direito e dos direitos passa, em grande medida, pelo cumprimento de um número também significativo de obrigações. JERÓNIMO, Patrícia. Os direitos do

homem à escala das civilizações – proposta de análise a partir do confronto dos modelos

semelhantes, certo de que agindo com amor ao próximo e obedecendo aos preceitos ditados por Deus, ele estaria salvo na eternidade.

Foi também movido pela fé que o homem se sujeitou às regras morais a que esteve submetido: o sentido de amor ao próximo, de fraternidade e solidariedade tinham seu equivalente nos preceitos divinos que asseguravam a vida no paraíso.

Nesse contexto, a vida terrena e material era apenas meio e não fim em si mesmo, pois a glorificação se daria com a morte, como na oração de São Francisco […] e é morrendo que se vive para a vida

eterna. Era, portanto, um humanismo ditado por desígnios divinos que

movia os homens e os impelia a agir dentro dos preceitos morais de cunho religioso.

É da característica do homem ser social, isto é, faz parte de sua natureza viver em comunidade. Nos primórdios da história, essa sociabilidade envolvia um círculo restrito de pessoas: a convivência era centrada na família consanguínea e nos laços formados na vida no campo e tinha como objetivo assegurar a subsistência desse pequeno grupo.

Com o desenvolvimento das sociedades, quer pelo aumento quantitativo, quer pelo aumento da complexidade das interações humanas possíveis, o princípio do parentesco, pela sua pobreza, é, pouco a pouco, diferenciado e substituído como base da organização social[...]125

É nessa sociedade ampliada que se verifica uma maior preocupação com o indivíduo enquanto ser necessitado de sentido de pertencimento, de integração num coletivo. O êxodo rural fez com que o homem se reunisse em torno das cidades e a vida em grupo ganhou outras dimensões.

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125 FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. Técnica, decisão,

É sobretudo, o momento em que o ser humano exercita essa sua aptidão natural de viver de forma coletiva, interagindo com o outro e reconhecendo seus direitos e limites. Nesse contexto, o “humanismo é o modo pelo qual o ser humano tende a se tornar mais verdadeiramente humano, fazendo-o adquirir riqueza interior e proporcionando uma melhor visão do mundo. Para o humanismo, o ser humano não apenas está no mundo, mas interage com ele e o transforma. Ao mesmo tempo, o humanismo exige que o ser humano se utilize de todas as forças do mundo para trabalhar em prol de seu próprio crescimento”126.

Naquele período histórico verificou-se a força do humanismo

teocêntrico, pois os homens eram movidos pela união espiritual e pelas

virtudes religiosas. Os bens materiais representavam dádivas concebidas por Deus a serviço da subsistência humana. A ambição do homem residia numa existência harmonica e fraterna.

Nas palavras de Jacques Maritain,

“o humanismo [....] tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e a manifestar sua grandeza original fazendo-o participar de tudo o que o pode enriquecer na natureza e na história…… ele exige, ao mesmo tempo, que o homem desenvolva as virtualidades nele contidas, suas forças criadoras e a vida da razão, e trabalhe por fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade”.127

Com o advento da Reforma de Lutero e do Renascimento, houve profunda alteração na concepção do humanismo, uma vez que o teocentrismo dá lugar ao antropocentrismo, sobrepondo-se os interesses do homem aos preceitos divinos. Esse momento coincide com a

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126 POZZOLI, Lafayette. Maritain e o direito. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 70-71. 127 MARITAIN, Jacques. Humanismo integral - uma visão nova da ordem Cristã. Tradução

expansão comercial, principalmente por vias marítimas, acarretando no fortalecimento e ascensão da classe burguesa.128

Gradualmente, a concepção da produção de subsistência vai sendo substituída pela cultura da cumulação de bens e a riqueza não é mais considerada pecado, mas é sinal de que o indivíduo bem sucedido materialmente fora abençoado por Deus. Em Max Weber129 verifica-se essa máxima, quando infere que tanto a Reforma quanto o Calvinismo foram fatores determinantes nessa mudança de paradigma, pois a distribuição desigual de riquezas, naquele período, refletia o desejo de Deus. É também nesse período que o sentido de trabalho ganha relevo, pois o ócio e o lazer eram pecado, já que o tempo não efetivamente utilizado no trabalho deveria ser dedicado à glorificação de Deus.

Vê-se que o homem vai gradativamente ocupar o lugar “central” dos interesses humanos na medida em que a religiosidade vai adquirindo outros contornos: a vida terrena deixa de ser apenas meio e com a ascensão da classe burguesa, os valores morais de base religiosa dão lugar aos de cunho patrimonialista. Tem-se então, um humanismo mitigado pelo patrimonialismo.

É o individualismo desse período que vai sedimentar e impulsionar o liberalismo econômico, que perdura num grau mais latente até os dias atuais. É o ser humano voltado para si e para seus interesses de ordem material, sendo o espírito de comunhão e irmandade que

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128 “Tudo deflui suavemente na doutrina de Santo Tomás: a circunstância de decorrer o direito

de propriedade do direito natural; a circunstância de que o homem, exatamente para sobreviver, urge se alimentar; a circunstância de que esta necessidade básica deriva da produção levada a cabo pelo homem sobre a terra; a circunstância de se compreender que a sociedade justa é aquela que garante a todos pelo menos o essencial, ainda que compreenda ser legítimo o fato de que alguns possuam mais que os outros, desde que a estes últimos não escasseie o vital”. HIRONAKA, Giselda Novaes. A função social do contrato. Revista de

direito civil, imobiliário, agrário e empresarial, São Paulo, n. 45, p. 142, jul/set.1998.

129 WEBER, Max. O termo “espírito do capitalismo” é atribuído ao autor em A ética protestante

e o espírito do capitalismo, obra publicada em 1920, em que o autor atesta a origem do

orientava os cristãos do mundo ocidental, substituído pelo isolamento e pela perda de seu referencial dogmático.130

O “humano” em seu sentido sagrado dá lugar a um novo humanismo, fundado não mais na fé e crenças religiosas, mas baseado nos preceitos e regras praticados pela comunidade. O homem, antes relegado a um segundo plano, adquire uma nova posição e passa a ser o

centro de interesses. Conforme a sociedade se desenvolve, o indivíduo

passa a ser medido pelo que possui e não por seus valores.

Nesse novo cenário, e após um longo processo histórico marcado por guerras, conflitos, epidemias, genocídios, massacres, surge um novo “humano” - carente de direitos e necessitado de proteção -, contra as arbitrariedades praticadas por seres “humanos”. É, pois, para se proteger de si próprio que o homem impôs limites para sua atuação.

O estabelecimento de uma proteção mínima ocorreu com maior intensidade após o advento da Segunda Guerra Mundial131 e as

atrocidades ali cometidas: surge então, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU), que elabora a Declaração Universal dos Direitos do Homem no intuito de globalizar os direitos humanos. Esse documento

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130 “O Ocidente emergiu, vitorioso, num tempo de fervorosas vontades contra a tradição

eclesiástica e os seus pergaminhos. Apesar disso, permitiu-se tolerar as igrejas e optou por integrá-las, subordinando-as, nas estruturas seculares dos seus Estados. Orgulhoso da sua secularidade,acompanhou, satisfeito, o progressivo afastamento dos fiéis, agora mais comprometidos com a causa pública do que com o seu Deus. Hoje, no entanto, lamenta que aquele afastamento se tenha consumado numa completa ruptura. São ainda maioritariamente cristãos os indivíduos ocidentais, mas é inexpressivo o número dos que entre eles se dedicam a uma confiante prática religiosa. Uma ‘erosão da fé’ que, no entender de observadores mais alarmistas, se traduzirá, inevitavelmente e a breve trecho, numa erosão global dos valores de que depende a específica indentidade do Ocidente.” JERÓNIMO, Patrícia. Os direitos do

homem à escala das civilizações – proposta de análise a partir do confronto dos modelos

Ocidental e Islâmico. Coimbra: Almedina, 2001, p. 80.

131 “Apresentado o estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi

marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a campos de concentração, com a morte de 11 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais e ciganos. O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direito, ao pertencimento à determinada raça – a raça pura ariana.” PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça

representou um marco na proteção dos direitos humanos, principalmente porque visava a adoção incondicional por todos as nações do mundo.

Mesmo não sendo uma norma vinculatória, pois uma Declaração não tem a faculdade de impor condutas e sanções, e tampouco possuindo a força de um tratado – que poderia ser ratificado pelos países signatários tornando-se Lei - sua finalidade foi atingida ao estabelecer o

ser humano como sujeito de direitos, assegurando-lhe direitos sociais,

econômicos, culturais, civis e políticos, como o mínimo ético essencial de vida digna.

Ao erigir direitos inatos ao ser humano, a ONU considerou que a Declaração seria aceita consensualmente pela comunidade internacional adquirindo caráter obrigatório e vinculante da vontade dos Estados, com eficácia universal e imperativa.

O consenso acerca da relevância da Declaração, não obstante, impediu algumas divergências sobre seu alcance e caráter universal. Considerando essa sociedade cada vez mais fragmentada e com diversidade cultural, social, política e religiosa não assentada em valores únicos - o que importa em respeitar essa diversidade dos povos – dificilmente se poderia impor preceitos ocidentais como se fossem unânimes. Uma tal pretensão poderia subverter a aceitação de tais princípios.

A divergência universalismo x relativismo cultural não retira, contudo, a necessidade do estabelecimento de regras de Direitos Humanos. Esse novo humanismo deve respeitar a multiculturalidade dos povos, retirando seu fundamento de validade de concepções que coloquem a dignidade humana acima de interesses regionais.

Celso Lafer considera que a superação desse embate ocorreu em 1993 por ocasião da Conferência de Viena, que em seu item. 5 estabeleceu:

“Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais”.132

Nessa mesma linha, Flávia Piovesan133 defende que,

“A Declaração de 1948 vem a inovar ao introduzir a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade desses direitos. Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos, considerando o ser humano um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade, esta como valor intrínseco à condição humana. Indivisibilidade porque a garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são. Os direitos humanos compõem, assim, uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos com o catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais”.

Tal concepção moderna de humanismo é baseada numa consciência ética, cuja finalidade, no dizer de Flávia Piovesan, é a “salvaguarda de parâmetros protetivos mínimos – do mínimo ético irredutível” e, como tal, extrapola os limites territoriais do Estado.

Desse modo, na concepção contemporânea de direitos humanos a divergência universalismo x relativismo carece de sentido, pois tudo aquilo feito em prol do gênero humano deve ser praticado numa lógica do “o melhor do homem para o homem”. Os preceitos de compaixão,

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132 LAFER, Celso. Comércio, Desarmamento, Direitos Humanos. Reflexões sobre uma

experiência diplomática. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 194.

133 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva: 2007,

fraternidade, solidariedade e amor ao próximo - independentes de religião, credo, cultura e crença -, devem orientar as ações humanas.

Nesse sentido, Cançado trindade ensina que

“En el alba del siglo veintiuno el desafío consiste en edificar un mundo en cuyo seno las personas y los pueblos aceptem plenamente y sin equívocos las responsabilidad de los demás seres humanos y de los habitantes de toda la tierra... La condición de todos esos esfuerzos es el reconocimiento de la dignidad y de la centralidad de cada ser humano en tanto miembro igual de la familia humana y, para los creyentes, en tanto que igual hijo de Dios.

Frente al mundo que aguarda con urgencia las decisiones y acciones de todos los hombres de buena voluntad, se deben recordar las palabras del himno de vísperas del domingo de Penteconstés: “El cuerpo del Señor está hecho de dolores del hombre aplastado por la injusticia. Entreguemos nuestro ser a

los gérmenes del Espíritu para que nos de toda fuerza a su

servicio”.134

O humanismo reconhece as condições de opressão que alguns seres humanos estabeleceram no mundo e percebe a necessidade de uma ética social, uma luta contra as causas dessa opressão que geram o sofrimento no ser humano135.

4.2. Evolução histórica: humanismo na antiguidade, na Idade medieval, após a Reforma e o Renascimento e na atualidade

A indagação sobre o “sentido da vida” esteve presente na história da humanidade desde a Grécia Antiga com os pré-Socráticos, enriquecida com enorme legado de Aristóteles. Foram várias as teses que buscaram explicar e compreender a “essência” do homem e

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134 CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto; RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. La nueva

dimension de las necesidades de proteccion del ser humano del siglo XXI. 2ª Edición. San

José, CR: Impressora Gossestra Internacional, 2002, p. 123.

questões relativas aos problemas humanos através de soluções racionais em oposição às teorias sobrenaturais.

Nesse período, as inquietações humanas eram suscitadas pela tentativa de explicação racional dos fenômenos naturais, e os filósofos da civilização helênica desenvolveram teorias baseadas na razão, sendo que a explicação do conhecimento estaria dissociada de questões mitológicas.

Foram os estóicos que, por volta de 300 a.C., primeiro utilizaram o termo “humanismo” para referir-se ao homem como preocupação primeira da filosofia. Defendiam que a moral deveria ser buscada através da observação da natureza e foram os primeiros a demonstrar preocupação com o coletivo, através do cuidado com pobres e doentes.

A chamada Idade Antiga foi, portanto, pontuada por discussões filosóficas baseadas em leis naturais aplicáveis aos seres humanos, fundadas na razão e não em mitos, tendo seu início marcado pelo surgimento da escrita (cerca de 4.000 a.C) e seu término com a decadência e queda do Império Romano do ocidente no século V.

A era medieval caracterizou-se por alterações políticas, econômicas, culturais e religiosas, em que configurou-se a transposição do sistema escravagista para o feudalismo, a consolidação do

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