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O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

Rio de Janeiro 2019

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

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Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Maj Com GLAUBER JUAREZ SASAKI ACÁCIO

Rio de Janeiro

2019

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S586o Silva, Mateus Fernandes Brum da

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro. /Mateus Fernandes Brum da Silva. 一 2019.

110 f ; 30 cm.

Orientação: Glauber Juarez Sasaki Acácio.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares) 一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.

Bibliografia: fl 105-110.

1. GLOBALISMO 2. EXÉRCITO BRASILEIRO 3. METACAPITALISMO 4. AMBIENTALISMO I. Título.

CDD 363.7057

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Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em _____ de_______________ de________.

COMISSÃO AVALIADORA

_________________________________________________

Glauber Juarez Sasaki Acácio – TC Com QEMA - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________

Enio Corrêa de Souza – TC Com QEMA - 1º Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________

Anderson Luiz Alves Figueiredo - Maj Eng QEMA - 2º Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

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A todos os brasileiros, de ontem, hoje e sempre, que ajudaram a formar e manter esta única e maravilhosa nação.

Ao professor Olavo Pimentel de Carvalho, por ter avisado sobre os perigos contra a nação, quando ninguém acreditava.

Ao eterno Comandante do Exército, General-de-Exército Eduardo Villas-Bôas pela serenidade e firmeza em um dos momentos mais graves da vida nacional.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, TC Com GLAUBER, meus sinceros agradecimentos pela paciência durante a elaboração deste trabalho. Agradeço pelas orientações e sugestões que facilitaram a conclusão deste trabalho, sem jamais prejudicar o andamento dos mesmos.

Aos companheiros Maj VILLA e Maj MACHADO, pela preciosa ajuda nas sugestões de bibliografia e troca de ideias.

Aos meus pais Ronaldo e Inez, e a minha esposa Camila, pelo apoio incondicional.

A Deus e a todos meus amigos que me ajudaram nesta tarefa.

(7)

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo apresentar a ideologia globalista e seus impactos para a nação brasileira. Teve por objetivo, também, apresentar as estratégias globalistas, em particular o ambientalismo, o globalismo pedagógico e a revolução cultural, que tem como agentes os metacapitalistas encastelados nas Organizações Internacionais, como ONU e UNESCO. De igual forma, este trabalho objetivou apresentar o papel do Exército Brasileiro frente a este movimento, visto que o mesmo, por atacar frontalmente os estados-nação, atenta diretamente contra a missão constitucional da Força Terrestre de defesa da Pátria.

Palavras-chave: Globalismo, Exército Brasileiro, Metacapitalismo, Ambientalismo,

ONU, UNESCO.

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ABSTRACT

This paper aimed to present the globalist ideology and its impacts on the Brazilian nation. It also aimed to present the globalist strategies, in particular environmentalism, pedagogical globalism and the Cultural Revolution, whose agents are the metacapitalists embedded in the International Organizations, such as the UN and UNESCO. Similarly, this paper aimed to present the role of the Brazilian Army in facing this movement, due the frontal attack on the nation-states that directly undermines the Terrestrial Forcer constitutional mission of defense the Fatherland.

Keywords: Globalism, Brazilian Army, Metacapitalism, Environmentalism, UN,

UNESCO.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 11

1.1 PROBLEMA... 19

1.2 OBJETIVO... 20

1.2.1 OBJETIVO GERAL... 20

1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO... 20

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO... 20

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO... 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO... 25

2.1 O GLOBALISMO ... 25

2.2 OS MOVIMENTOS GLOBALISTAS E SEUS OBJETIVOS... 27

2.3 AS ESTRATÉGIAS DO MOVIMENTO GLOBALISTA... 32

2.4 O PAPEL CONSTITUCIONAL DO EXÉRCITO... 34

3 METODOLOGIA... 36

3.1 TIPO DE PESQUISA... 36

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA... 36

3.3 COLETA DE DADOS... 36

3.4 TRATAMENTO DE DADOS... 36

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO... 37

4 O GLOBALISMO E SUAS ORIGENS... 38

4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA: DA IDEIA DE IMPERIO À PAZ DE VESTFÁLIA ...

.

38

4.2 GLOBALISMO MODERNO E A AÇÃO INDIRETA: DA REVOLUÇÃO FRANCESA AO MOVIMENTO COMUNISTA...41

4.3 METACAPISTALISTAS E OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS...47

4.4 REAÇÃO SOBERANISTA: BREXIT, TRUMP E BOLSONARO...50

5 ESTRATÉGIAS GLOBALISTAS... 59

5.1 O GLOBALISMO ECOLÓGICO...60

5.2 O GLOBALISMO PEDAGÓGICO... 68

5.3 GLOBALISMO E A REVOLUÇÃO CULTURAL... 78

6 O PAPEL DO EXÉRCITO BRASILEIRO...88

7 CONCLUSÃO... 99

REFERÊNCIAS...104

(10)

1 INTRODUÇÃO

O Globalismo é uma ideologia e um movimento extremamente difuso. As definições em relação a este fenômeno são bastante diversas e, por vezes, possuem pontos de divergência. O mesmo é apresentado em um espectro que abrange desde uma simples confusão com a noção de globalização

1

até o extremo de um Governo Mundial Totalitário

2

Além da diversidade de definições, o Globalismo é também abordado com diferentes nomenclaturas, sendo reconhecido nas expressões “Governança Global”,

“Nova Ordem Mundial”, “Poder Mundial”, “Elite Global” ou simplesmente “Governo Mundial”. Para fins práticos, as expressões acima descritas serão tratadas como sinônimos de Globalismo.

Segundo Felipe G. Martins

3

(2018), o Globalismo seria uma ideologia que acredita que os problemas atuais são melhor abordados dentro de uma perspectiva global. Neste sentido, as instâncias decisórias nacionais seriam substituídas, em certa medida, por instâncias decisórias supranacionais, com destaque evidente para as Organizações Internacionais, em especial a ONU.

Alexandre Costa (2015), usa a expressão “Nova Ordem Mundial”, definindo-a como um conjunto de iniciativas que teriam como objetivo a criação de um governo mundial, que, embora pudesse estar estruturado em camadas, seria centralizado em uma entidade global. Ou seja, a “Nova Ordem Mundial” – expressão por vezes polêmica e com ares conspiratórios – seria a materialização da ideologia globalista em termos políticos e geopolíticos.

No tocante à concepção político-ideológica, Sérgio de Avelar Coutinho (2010) utiliza-se do termo “Governança Global”, caracterizando-a como uma nova ordem mundial caracterizada por um sistema transnacional de gestão. Estabelecer-se-ia

1 As diferenças fundamentais entre globalização e Globalismo estão muito bem especificadas em Globalismo: Bastidores do Mundo - Debate entre Olavo de Carvalho e Paulo R. de Almeida, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=CkgQhnApLow&t=1738s>. Acesso em 21 de março de 2019; e na entrevista de Felipe G. Martins à InfoMoney disponível em

<https://www.youtube.com/watch?v=IH8LP1dawK4&t=1908s>. Acesso em 21 de março de 2019.

2 Uma prospecção da inevitabilidade do totalitarismo de um governo global está sintetizada no artigo

“E se o mundo estivesse sob um só governo?”, da Superinteressante, disponível em

<https://super.abril.com.br/cultura/e-se-o-mundo-estivesse-sob-um-so-governo/>. Acesso em 21 de março de 2019.

3 Filipe G. Martins é Professor de Política Internacional, Analista Político e Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais.

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um pacto global, onde seria aceita uma autoridade normativa, judiciária e executiva que transcenderia a soberania das nações. Evidentemente, os Organismos Internacionais, e, novamente, em especial, a ONU, destacam-se como potenciais candidatos a exercerem esta “autoridade global”.

Olavo de Carvalho (2009), faz a abordagem do Globalismo caracterizando-o como um movimento revolucionário. Neste sentido, apresenta-o como um projeto civilizacional completo, que abrangeria a "mutação radical não só das estruturas de poder, mas da sociedade, da educação, da moral e até das reações mais íntimas da alma humana”. Este aspecto revolucionário do Globalismo será central no presente trabalho, tendo em vista os impactos que gera para o Brasil e, em particular, no que é de interesse nesta obra, para o papel de seu Exército.

Paul James (2006), em sua obra Globalism, Nationalism, Tribalism: Bringing Theory Back In, define o Globalismo como a ideologia dominante associada a diferentes formações históricas dominantes, de extensão global. Esta definição, mais abrangente, afirma, portanto, que existiam formas “pré-modernas” ou tradicionais de globalismo, muito antes do advento do capitalismo. Esta definição possibilita remontar ao Império Romano e talvez, antes mesmo disto, aos gregos do século V a.C.

Neste sentido, pode-se fazer um paralelo entre duas obras que tratam ou advogam sobre o globalismo. A primeira delas, escrita pelo já citado filósofo Olavo de Carvalho (2015), O Jardim das Aflições, tem como tese fundamental a ideia de Império no mundo Ocidental e as sucessivas tentativas de criá-lo. Idealmente, o objetivo seria a criação de um Império Global, em uma espécie de reedição do Império Romano. A finalidade da recriação de uma “Roma global”, poderia ser sintetizado na meta consubstanciada no termo Pax Romana. Esta seria, adaptando- se ao tempo atual, a Paz Mundial, gerada por meio da criação de um Império que tudo regularia, como Roma a seu tempo.

Tratando sobre a segunda obra, pode-se dizer que Immanuel Kant (2008), em

À Paz Perpétua, escrita originalmente em 1795, materializa a ideia da paz mundial

por meio de uma sociedade internacional regulada. Neste caso, o filósofo prussiano

advoga pela criação de organismos supranacionais que evitariam a guerra entre os

Estados. Ou seja, o Império global previsto no Jardim das Aflições não viria pela

expansão de uma nação em particular, como Roma em sua época, ou os EUA nos

tempos atuais. Este seria gerado artificialmente, por meio da criação de uma

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burocracia tecnocrata de nível mundial que definiria o que cada nação deveria fazer.

Aparentemente, este modelo kantiano de globalismo é o mais presente nos dias atuais, tendo em vista as ações presentes da ONU e outras organizações internacionais neste sentido.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, com o impacto profundo que o morticínio causou em todo o planeta, as ideias contidas na citada obra de Immanuel Kant começaram a sair do papel. A Liga das Nações, materialização do organismo supranacional previsto pelo filósofo prussiano, surge no pós-guerra como meio de se evitar uma repetição dos horrores da Grande Guerra. Esse modelo falhou, primeiramente pela ausência dos EUA na Liga (embora a ideia tenha partido do presidente americano Woodrow Wilson), e, posteriormente, pela conjuntura descrita por E. H. Carr, em sua obra Vinte Anos de Crise (1939), onde conclui que o idealismo kantiano estava gerando o resultado contrário ao que se propunha e um novo conflito estava na iminência de ocorrer. De fato, o mundo entraria em uma guerra ainda maior alguns meses depois do lançamento da obra, em setembro de 1939: a Segunda Guerra Mundial.

Paralelamente, o capitalismo liberal demonstrava toda sua eficiência como modelo econômico, pelo menos até 1929. Dentro deste escopo, este sistema gerou, em seu desenvolvimento, em especial na América, grandes fortunas pertencentes aos magnatas da indústria e das finanças, com destaque para Rockfeller, Carnegie, J.P. Morgan, entre outros, e manteve famílias tradicionais, como os Rothschild, na Inglaterra. Entretanto, paradoxalmente, o sistema liberal que alçou estas famílias à casa dos bilhões de dólares, a partir deste momento, passa a ser um risco aos ganhos destes mesmos bilionários. Neste sistema de livre mercado, novos atores e novas ideias poderiam sobrepujar antigos arranjos, diminuindo o poderio econômico destes agentes, até então vitoriosos no mundo liberal.

O que se depreende deste paradoxo é bastante óbvio: por mais capacidade

financeira que os magnatas pudessem acumular, esta situação jamais seria

estabilizada sem a posse do poder político e burocrático. Ainda assim, em países

com um sistema de livre mercado, onde os níveis de interferência estatal fossem

reduzidos, não seria suficiente para estes agentes a posse deste poder, pois não

haveria meios para estabilizar seus ganhos políticos em nações com Estados fracos

e não interventores.

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Completa-se, assim, o paradoxo. Os grandes capitalistas transcendem sua condição, passam apoiar movimentos estatizantes e tornam-se aquilo que Olavo de Carvalho (2004), em seu magistral artigo História de Quinze Séculos, chama de metacapitalistas. Ou seja, movimentos como o Comunismo, Socialismo ou qualquer outro de caráter estatizante, passam a ser apoiados pelas grandes fortunas.

No prosseguimento, a crise de 1929, causada pelo crash na Bolsa de Nova Iorque, supostamente, expõe as fraquezas do sistema liberal. Medidas estatizantes alcançam até mesmo os EUA. Utilizando-se das ideias de Jonh Maynard Keynes, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt cria o New Deal, quando o Estado americano passa a intervir fortemente no mercado, a fim de resolver os problemas causados pela crise. Em última análise, tendo sido causada deliberadamente ou não, a crise de 1929 depurou o mercado, sobrevivendo apenas aqueles com maior condição financeira, que, agora, passavam a ser uma espécie de sócios preferenciais dos governos, estabilizando sua situação sob o guarda-chuva de um Estado cada vez mais poderoso.

Neste sentido, um estudo sobre a economia fascista a aproxima bastante do que foi o New Deal. Tanto na Itália de Mussolini, quanto na Alemanha de Hitler, o cálculo econômico ainda era baseado no mercado, entretanto, este era controlado pelo Estado destes dois países por meio de empresas preferenciais. IG Farben e Bayer na Alemanha são exemplos claros deste modelo, e a economia chinesa da atualidade não foge muito destes padrões. As ligações da IG Farben com a Standard Oil

4

, da família Rockfeller, sugerem o movimento de apoio de uma grande fortuna a um modelo político-econômico de Estado forte, assim como não é difícil identificar movimentos de famílias influentes, como os Clinton, na ascensão da China, cujo modelo, bastante semelhante ao fascista, é a síntese do desejado pela Elite Financeira Ocidental

5

. As ligações de George Soros, grande magnata do

4 VIDFILE STORE. Support by the Corporations from UK and US for the Nazis Until 1945. Youtube, 2018. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=oNUED8goXrs>. Acesso em 25 de junho de 2019.

5 CARVALHO, Olavo de. O Brasil perante os conflitos da Nova Ordem Mundial (Palestra OAB/SP em

06 de agosto de 2004). Youtube, 2011. Disponível em

https://www.youtube.com/watch?v=DNGkOCi9Zi8&t=265s>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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mercado financeiro, com movimentos neonazistas da Ucrânia

6

também sinalizam esse movimento em direção do apoio a ideologias de Estado forte e centralizador.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, cujos horrores e morticínio foram ainda maiores do que o da Primeira Guerra Mundial, a ideia da criação de um organismo supranacional de modelo kantiano reaparece. Diferentemente de sua antecessora, a Organização das Nações Unidas (ONU) atinge sucesso em sua criação e desenvolvimento, com a adesão maciça dos países do mundo. Estava criada e estabilizada uma instância com potencial para se tornar uma burocracia de alcance global.

Aqui tem-se, então, a simbiose perfeita da ideia Imperial no mundo Ocidental:

grandes capitalistas bilionários desejam ter o controle sobre o processo político- social, a fim de se tornarem um poder dinástico durável por diversas gerações. Após duas guerras mundiais uma instância supranacional foi criada, com potencial para ser uma burocracia global. Não é difícil ligar os pontos. A maneira evidente de controlar o processo político-social, em um mundo globalizado pelo mercado, é apossar-se desta organização e instrumentalizá-la para que se torne uma instância de governança global.

Entretanto, há dois óbices neste caminho. O primeiro é que o liberalismo não atua, no Ocidente em especial, apenas no campo econômico. Ideias liberais no campo político, muito restritas à arranjos locais e nacionais, como a democracia representativa, a liberdade de expressão e de religião, e a própria aceitação das diferenças culturais, são empecilhos para o poder global. Neste sentido, a Nação norte-americana, não seu establishment, mas a Nação gerada nos ideais dos Founding Fathers, são, com efeito, o maior “inimigo interno” do globalismo ocidental.

Na visão de Alexis de Tocqueville, em sua obra Da Democracia na América, escrita em 1835, os EUA seriam uma das grandes nações do mundo pois eram os únicos a sintetizar os aspectos do liberalismo econômico e político, em particular o fervor da participação democrática e o livre mercado, com a moral judaico-cristã. Estes pilares são diametralmente opostos à ideologia globalista e estão sendo combatidos diariamente pelo estamento burocrático global, de maneira bastante clara.

6 ENGDAHL, F.William. George Soros: An American Oligarch's Dirty Tale Of Corruption. Signs Of The Times (website), 2015. Disponível em: <https://www.sott.net/article/297928-George-Soros-An-American- oligarchs-dirty-tale-of-corruption>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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O segundo é que o ideal de dominação global não é exclusividade do mundo Ocidental. Dois outros movimentos paralelos tinham, e ainda têm, em seus escopos, planos de dominação global. São eles o Comunismo e o Islamismo. Porém, como será visto mais a frente, estes dois movimentos não tem a envergadura do Globalismo ocidental e acabam sendo instrumentalizados por ele em alguns aspectos.

Sobre o Globalismo islâmico, ele é identificável na base mesma da doutrina do Profeta Maomé. O sentido globalista da religião e da ideologia política do islã, aspectos que acabam se fundindo, em última análise, é bem descrito por Kissinger (2015), na obra Ordem Mundial. Os islâmicos, basicamente, dividem o mundo em dar al-Islam, a “Casa do Islã” ou o domínio da paz, governado por um Califado; e o dar al-harb, o domínio da guerra, não islâmico. A missão do islã seria incorporar essas regiões ao seu mundo, a fim de alcançar a paz universal. Não difere muito daquilo que já foi descrito como a busca da Pax Romana. A estratégia para alcançar este estado de coisas é a Jihad, dever obrigatório de todo islâmico no sentido de expandir sua fé por todo o mundo, por qualquer meio.

O Comunismo sintetiza sua vocação global na derradeira frase do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels (1848): “Trabalhadores do mundo: uni- vos”. A obra apresenta a ideia da luta de classes como motor da história, independentemente do sentido nacional, prevendo que o mundo caminhava, irremediavelmente, para a dialética final entre os proletários e a burguesia, cujo desfecho seria a implantação do Comunismo em todo mundo e, de novo, da paz mundial. Iniciativas para a materialização deste intento foram iniciadas com a participação do próprio Karl Marx e Engels, na criação da Primeira Internacional (1864). Nascia, desta forma, um Movimento Comunista Internacional (MCI), que ainda teria uma Segunda Internacional em 1889. Entretanto, o sucesso da implantação deste novo sistema ocorre somente quase 70 anos depois do Manifesto, na Rússia, em 1917.

Neste sentido, em 1919, já com a estrutura de um país de dimensões

continentais sob seu controle, o Movimento Comunista Internacional cria a Terceira

Internacional, a Internacional Comunista ou Comintern, com alcance global. Por

meio deste órgão central, combinado com a atuação dos serviços secretos da

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própria URSS (KGB) ou de países satélites, como a StB, na Checoslováquia

7

, difundiram ideias e técnicas de tomada do poder em todo o mundo. O Comintern encontrou no Ocidente um conjunto de nações receptivas à subversão, infiltrando vários aparatos importantes como a mídia, universidades, Forças Armadas, entre outros

8

.

No entanto, a revolução proletária, prevista por Karl Marx, jamais aconteceu, nem mesmo na Rússia, e demorava-se cada vez mais nos países capitalistas, mesmo com todo o aparato subversivo. Assim, a concepção revolucionária original marxista começou a ser alvo de críticas, em especial devido ao fato dos proletários, nas duas Guerras Mundiais, terem preferido suas lealdades nacionais em vez da lealdade de classe, e pelo fato do sistema capitalista estar elevando o padrão de vida destes mesmos proletários, os quais, embora ainda explorados, perderam seu

“ardor” revolucionário.

Surgem, desta constatação, os estudos da chamada Escola de Frankfurt e as análises do então prisioneiro do governo fascista da Itália, Antonio Gramsci. Em ambos os casos, de maneira resumida, a conclusão sobre o motivo pelo qual a revolução prevista por Marx não ter acontecido eram os aspectos culturais incorporados pela sociedade burguesa, que funcionavam como uma espécie de

“amortecedor” da luta de classes. Neste sentido, o foco do movimento não deveria ser mais a classe proletária diretamente, mas sim o recrutamento de intelectuais na direção da criação de um novo senso comum, a chamada Revolução Cultural, que prepararia o campo para o advento da sociedade comunista.

Porém, com a denúncia dos crimes de Stalin em 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, e com a queda da URSS em 1991, decretando a derrota do sistema comunista na Guerra Fria, esta ideologia parecia estar com os dias contados. A própria Rússia encontra outra sistema de ideias, ainda que preservando algumas instituições e estratégias da antiga URSS, com base nas ideias de Alexander Dugin: o Eurasianismo.

Mas o comunismo sobrevive. Após a queda do URSS, observou-se um fenômeno bastante inesperado para um país supostamente comunista. Praticamente

7 KRAENSKI, Mauro; PETRILÁK, Vladimir. 1964. O Elo Perdido. O Brasil nos Arquivos do Serviço Secreto Comunista. Campinas. Vide Editorial, 2017

8 BEZMENOV, Yuri. A Subversão nos Países alvo da Extinta URSS (Los Angeles, 1983). Youtube, 2013. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=xgJD4YJ2TOc&t=505s>. Acesso em 29 de junho de 2019.

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no dia seguinte à queda da União Soviética, surgiram bilionários russos

9

. Teoricamente, em um país cujo capitalismo e o mercado não existiam, isso seria impossível. O fato é que, como já comprovou Ludwig Von Mises (2016), é impossível cálculo econômico sem cálculo de preços e é impossível o cálculo de preços fora de uma economia de mercado. Em síntese, a economia comunista era intrinsecamente impossível e mesmo na URSS, ainda que clandestinamente, o capitalismo existia.

No dia seguinte à queda do gigante comunista ele apenas apareceu para o mundo.

Este fato se apresentou para a elite globalista ocidental como uma oportunidade. O comunismo não vai acontecer, mas sua estratégia no campo cultural tem grande potencial. Além disso, ao final, caso um sistema comunista, socialista, progressista, ou qualquer nome que se dê para o controle totalitário estatal prospere, os grandes capitalistas não perdem suas fortunas. Ao contrário, apoiam-se no poder estatal para mantê-las. Na verdade, o grande inimigo do globalismo ocidental não era o Comunismo e o Islamismo – este último com ainda menor capacidade de ação – mas sim o liberalismo e a cultura Ocidental, materializada por dois polos, Europa e EUA, com destaque para este último.

Pois assim, em última análise, o que se apresenta no mundo hoje é a instrumentalização da Jihad islâmica e da Revolução Cultural Comunista por parte dos globalistas ocidentais. A primeira serve de estratégia para subjugar culturalmente a Europa e a segunda para apossar-se do poderio Norte-americano.

Em particular, a primeira não tem ação efetiva no Brasil, mas a segunda possui ações claras no país. Portanto, a ameaça considerada é a Guerra Cultural empreendida pelos globalistas ocidentais utilizando-se das estratégias culturais. É a partir deste momento que o Globalismo passa a mostrar seu caráter revolucionário citado por Olavo de Carvalho, já pontuado anteriormente neste trabalho.

Após as definições e o breve histórico do Globalismo até os dias atuais, resta evidente que a ação desta ideologia política é uma ameaça às soberanias nacionais, e o Brasil não foge à regra. Porém, a ameaça à soberania é de teor mais profundo que aquelas clássicas discutidas em instâncias militares, como violação do território, espaço aéreo, entre outras. O aspecto cultural presente na estratégia do Globalismo

9 FONTENELLE, Ênio. Globalismo & Brasil. Youtube, 2016. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=DkpcAKyO7lY&t=1040s>. Acesso em 29 de junho de 2019.

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coloca-o em posição de ataque a algo maior que a simples soberania, o coloca em choque direto com aquilo que se define como Pátria.

Estado, país, nação, soberania e Pátria, embora conceitos afins, possuem diferenças fundamentais. Certamente, de todos estes conceitos, aquele que mais profundamente segue na direção da identidade nacional é o conceito de Pátria.

Diferente do Estado, cujo conceito tende às características político-administrativas;

país, que evoca a localização territorial; nação, que engloba as similitudes no campo humano; e soberania, que significa liberdade de tomar decisões sem pressões exteriores, a Pátria engloba todos estes aspectos adicionando os fatores históricos que, em última análise, são os geradores dos valores nacionais e de sua cultura.

Pátria vem do mandamento bíblico “honrar pai e mãe”, é a materialização dos grandes feitos em comum, por todos os brasileiros, de todas as épocas. É o

“acidente capital” a defender.

Não é por acaso que a palavra aparece apenas uma vez na Constituição Federal do Brasil de 1988, justamente no Artigo 142, que trata da missão constitucional das Forças Armadas:

IArt. 142.As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.(grifos nossos) (BRASIL, 1988)

Desta forma, fica claro o antagonismo entre a missão constitucional das Forças Armadas e a ideologia globalista, que, em sua estratégia de dominação global, pretende defrontar-se com a ideia de Pátria e de Estado-Nação. No trabalho, entretanto, o foco da análise será o papel da Força Singular Exército Brasileiro, identificando as ameaças e as ações que pode tomar contra esse antagonista.

1.1 PROBLEMA

Os movimentos globalistas identificaram nos Estados Nacionais os maiores

obstáculos à consecução dos seus objetivos de poder. Desta forma, atacam as

culturas e os valores dos países a fim de vencer sua resistência e criar um mundo

mais homogêneo.

(19)

O Exército Brasileiro, por ser integrante das Forças Armadas, tem como missão constitucional defender a Pátria, a qual se sintetiza, principalmente, nos valores histórico-culturais.

O presente trabalho de conclusão de curso será desenvolvido em torno do seguinte problema: de que forma o Exército Brasileiro pode contribuir na Defesa Nacional, no tocante à ameaça globalista?

1.2 OBJETIVOS

Como forma de ajudar a elucidar o problema proposto, seguem abaixo os seguintes objetivos do trabalho.

1.2.1 Objetivo geral

Estabelecer de que forma o movimento globalista ameaça a integridade nacional e a defesa da Pátria e o papel do Exército Brasileiro a face a este movimento.

1.2.2 Objetivos específicos

a) caracterizar o globalismo;

b) apresentar o histórico do globalismo;

c) apresentar os principais movimentos globalistas;

d) apresentar a noção de metacapitalismo e suas consequências para o globalismo;

e) apresentar as estratégias globalistas

f) apresentar o papel da ONU e das diversas Organizações Intergovernamentais e não-governamentais no processo globalista.

g) apresentar a missão constitucional do Exército Brasileiro.

h) apresentar o papel do Exército frente ao globalismo.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

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O presente trabalho estará limitado ao estudo dos principais movimentos globalistas da atualidade, com foco no Globalismo Ocidental, seus objetivos, estratégias, seus impactos e a geração de responsabilidades para o Exército Brasileiro, baseado nas missões constitucionais das Forças Armadas, das quais faz parte.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O Globalismo é um assunto envolto de mistérios e teorias conspiratórias mas que tem entrado na pauta de discussões pelas evidências que confirmam sua existência as quais vêm se apresentando, em particular, após o fim da Guerra Fria. Em última análise, este movimento, ou o combate contra ele, foi o pano de fundo decisivo das eleições americanas e teve grande impacto no sufrágio brasileiro, mesmo que as pessoas não estejam familiarizadas com a fonte de seu poder, mas apenas com seus reflexos e consequências.

Alguns discursos de autoridades de nível nacional e mundial materializam a relevância e atualidade deste estudo. O primeiro é um discurso do atual presidente dos Estados Unidos da América, Donald J. Trump, em 2015, ainda em campanha presidencial:

O nosso movimento é sobre buscar substituir um establishment político fracassado e corrupto por um novo governo controlado por vocês: o povo americano. O establishment em Washington e as corporações financeiras e de mídia que o financiam, existem com apenas um objetivo: proteger e enriquecer a si mesmo. O establishment possui trilhões de dólares em risco nesta eleição. Aqueles que controlam o poder em Washington e os grupos globais de interesses especiais eles se unem com pessoas que não estão preocupadas com seu bem - estar. A nossa campanha representa uma verdadeira ameaça existencial, como eles nunca viram. Esta não é apenas uma eleição para quatro anos: é uma encruzilhada na história da nossa civilização para determinar se nós, o povo, iremos ou não retomar o controle do governo. O establishment político que tenta nos parar, é o mesmo que foi responsável pelos nossos acordos econômicos desastrosos, pela imigração ilegal em massa, e pelas políticas externa e econômica que sugaram o sangue do nosso país. O establishment político trouxe a destruição das nossas fábricas, nossos empregos, que vão para a China e outros países, em todo o mundo. Há uma estrutura global de poder que está tomando todas as decisões econômicas que saquearam a nossa classe trabalhadora, acabaram com as riquezas do nosso país e colocaram dinheiro nos bolsos de algumas corporações e entidades políticas. Esta é uma luta pela sobrevivência da nossa nação. Esta será a nossa última chance de salvá-la. Essa eleição irá determinar se somos uma nação livre ou se temos apenas a ilusão de uma democracia e somos controlados por um punhado de

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lobbystas globais manipulando o sistema. E ele é manipulado. Esta é a realidade. Vocês sabem. Eles sabem. Eu sei. Todo mundo sabe.10 (grifos nossos).

Embora não seja veiculado na mídia nacional, este discurso descreve o ponto nevrálgico da eleição americana. Não foi por acaso que os analistas mainstream erraram tão miseravelmente nas análises sobre a corrida presidencial nos Estados Unidos. Desconsiderada a existência do globalismo, por interesse de ocultá-lo ou por ignorância sobre a sua existência, não se teve acesso à chave explicativa que geraria a prospecção correta do processo eleitoral. Assim, revela-se a relevância fundamental desse assunto para orientação política no mundo atual.

Outro discurso que demonstra a importância e atualidade do assunto globalismo é o discurso de posse do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, do qual extraímos os seguintes trechos de interesse para este trabalho:

Diz o lema do Barão: Ubique Patriae Memor. Normalmente se traduz como

“em todos os lugares, lembrar-se da pátria.” Aqui, os senhores me perdoarão a um professor de latim frustrado, que nunca fui, antes de querer ser diplomata, para dizer que está errada essa tradução. Memor é uma primeira pessoa. Então, na verdade é: “em todos os lugares, eu me lembro da pátria.” É um compromisso de vida pessoal que cada um de nós assume, e não uma simples anotação na agenda. Onde quer que seja, eu me lembro da pátria. E “eu me lembro da pátria” aqui não significa simplesmente que, quando estamos no exterior, devemos pensar no Brasil. Significa, se nós pensarmos no conceito de Aletheia: eu sinto essa verdade profunda que é a pátria, eu sinto o que é ter uma pátria e lembrar-se da pátria, portanto, como uma verdade central, essa verdade que liberta e que só se pode conhecer pelo amor. Lembrar-se da pátria. Não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da ordem global, não é lembrar-se do que diz o último artigo da Foreign Affairs ou a última matéria do New York Times. É lembrar-se da pátria como uma realidade essencial. Não estamos aqui para trabalhar pela ordem global. Aqui é o Brasil. Não tenham medo de ser Brasil. Não tenham medo.

[...]

Vamos fazer alguma coisa pelas nossas vidas e pelo nosso país.

Mergulhemos no oceano de sentimento e na esperança do nosso povo. Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a ordem global. O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para a ordem global.

[...]

Nós buscaremos as parcerias e as alianças que nos permitam chegar aonde queremos, não pediremos permissão à ordem global, o que quer que ela seja. Defenderemos a liberdade e a vida. Defenderemos o direito de cada povo de ser o que é, com liberdade e dignidade, com a dignidade que unicamente a liberdade proporciona.

Quem ama, luta pelo que ama. Então nós admiramos quem luta, admiramos aqueles que lutam pela sua pátria e aqueles que se amam como povo, por isso admiramos por exemplo Israel, que nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo – em contraste com algumas nações de hoje, que mesmo tendo seu solo, suas igrejas e seus castelos já

10 Discurso legendado disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=WeEmqOHV0L0>. Acesso

em 25 de março de 2019.

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não querem ser nação. Por isso admiramos os Estados Unidos da América, aqueles que hasteiam sua bandeira e cultuam seus heróis.

Admiramos os países latino-americanos que se libertaram dos regimes do Foro de São Paulo. Admiramos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que estão construindo uma África pujante e livre. Admiramos os que lutam contra a tirania na Venezuela e em outros lugares. Por isso admiramos a nova Itália, por isso admiramos a Hungria e a Polônia, admiramos aqueles que se afirmam e não aqueles que se negam. O problema do mundo não é a xenofobia, mas a oikofobia – de oikos, oikía, o lar. Oikofobia é odiar o próprio lar, o próprio povo, repudiar o próprio passado.

[...]

Para destruir a humanidade é preciso acabar com as nações e afastar o homem de Deus, e é isso que estão tentando, e é contra isso que nos insurgimos.

O globalismo se constitui no ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano. Nação, natureza e nascimento, todos provém da mesma raiz etimológica e isso se dá porque possuem entre si uma conexão profunda.

Aqueles que dizem que não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que os países não têm direito a guardar suas fronteiras, são os mesmos que propalam que um feto humano é um amontoado de células descartável, são os mesmos que dizem que a espécie humana é uma doença e que deveria desaparecer para salvar o planeta. Por isso a luta pela nação é a mesma luta pela família e a mesma luta pela vida, a mesma luta pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura.

[...]

Quando eu era criança, ouvia, e adolescente também, ouvia muita gente dizendo: “O mundo caminha inexoravelmente para o socialismo”. Mas não caminhou. Não caminhou porque alguém foi lá e não deixou.

Hoje escutamos que a marcha do globalismo é irreversível.

Mas não é irreversível.

Nós vamos lutar para reverter o globalismo e empurrá-lo de volta ao seu ponto de partida.

[...]

Não deixem o globalismo matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o globalismo diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz que paz significa não lutar11.(Grifos nossos)

Esse discurso do Ministro Ernesto Araújo materializa não só a importância do estudo do Globalismo, mas suas relações com a Pátria e a luta pela sua sobrevivência, substância mesma deste trabalho, acrescido dos impactos para o Exército, que, constitucionalmente, tem esse dever de defendê-la. Além disso, as citações de outros países que estariam nesta luta contra o Globalismo, demonstram que o assunto está acima da Geopolítica. Os esforços geopolíticos atuais serão reflexos deste antagonismo entre os

11 Discurso do ministro Ernesto Araújo durante cerimônia de Posse no Ministério das Relações

Exteriores – Brasília, 2 de janeiro de 2019. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/pt- BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/ministro-das-relacoes-exteriores-discursos/19907- discurso-do-ministro-ernesto-araujo-durante-cerimonia-de-posse-no-ministerio-das-relacoes- exteriores-brasilia-2-de-janeiro-de-2019> . Acesso em 25 de março de 2019.

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globalistas e os soberanistas. Neste sentido, além do impacto para as políticas internas do Brasil, a análise deste assunto pode orientar a prospecção das alianças que o Brasil poderá ser integrante, ou ao menos das relações bilaterais preferenciais que irá praticar. Pode-se observar que a aproximação do Brasil com os Estados Unidos e com Israel, demonstrada claramente desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, encaixa-se perfeitamente neste escopo descrito pelo Ministro das Relações Exteriores. A criação do Prosul, recentemente anunciada, pode ser considerada um reflexo dessa dicotomia, quando enquadrada como uma reação ao Foro de São Paulo, organização de características globalistas. Uma aproximação com o Reino Unido (embora não citado no discurso) devido ao Brexit, movimento claramente anti-globalista, com Hungria, Polônia e com a Itália, podem ser previstas em breve, também fruto dessa disputa contra os ideólogos e praticantes do Poder Mundial. Os reflexos para assessoramentos no sentido de Defesa Nacional, a partir de uma perspectiva da política externa com este olhar, são evidentes.

Em síntese, é bastante provável que o assunto a ser estudado neste

trabalho seja um dos mais importantes fenômenos políticos da atualidade. Os

fatos geopolíticos, psicossociais, culturais e econômicos, que podem parecer

difusos para um observador que ignora o globalismo, sintetizam-se na luta, que

vem de séculos, de uma aristocracia que deseja um poder mundial e que, com

o avanço dos meios tecnológicos e psicológicos, pode finalmente transformar

a ideologia em realidade. Analisar o fenômeno e descrever meios de fazer face

a ele é, portanto, uma atividade de extrema relevância e urgência

(24)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O GLOBALISMO

O Globalismo é um movimento difuso, conforme já foi descrito na introdução deste trabalho. Existem várias definições e nomenclaturas, conforme já foi apresentado. Uma explicação que sintetiza e abarca as já citadas e que apresenta, de forma resumida, as suas origens imediatas, e que servirá de boa orientação para o transcurso deste trabalho, é este trecho da entrevista de Filipe G. Martins ao InfoMoney, em 03 de dezembro de 2018:

Globalismo [...] seria uma ideologia […] que acredita que todos os problemas que nós temos hoje no mundo são melhor abordados, melhor atacados, se feitos desde uma perspectiva global, ou seja, não nas instâncias decisórias nacionais, mas nas instâncias decisórias supranacionais. E como que isto se dá? Esta ideologia, embora seja anterior a isto, nós temos figuras como Kant12 que já falava de algum modo em ideias que poderiam ser classificadas como globalistas, mas essas ideias ganham força, sobretudo, após a Primeira Guerra Mundial (…) nós temos um saldo até então não conhecido de mortes, de fome, de miséria e aquilo causa, evidentemente, um impacto muito grande em estudiosos, em empresários e uma série de pessoas que tomam nas suas mãos a missão de buscar de algum modo uma paz. E é aí, o diagnostico que eles fazem era, basicamente, de que o problema todo da guerra tinha relação com os nacionalismos, com as nações, com as soberanias e acreditavam que nós havíamos chegado num momento que se justificava a criação de organismos internacionais para tomar o destino das nações, das relações internacionais, nas suas próprias mãos. A gente tem, dentre as coisas mais conhecidas, que influenciam de algum modo, ainda que resguardando um pouco a soberania, os 14 pontos do Woodrow Wilson, então presidente americano que propunha, dentre outras coisas a criação da Liga das Nações, já com essa perspectiva de buscar, dentro de algo que remetia muito a Kant, a paz e a prosperidade por meio da distribuição de democracias […] o objetivo declarado era basicamente esse, nós queremos a paz e para obter a paz, era diagnostico deles, nós precisamos diluir a força das nações, por que as nações se chocam, as nações entram em guerra, as nações levam aos conflitos e isto não é bom porque agora a guerra tomou uma proporção muito grande. Então, eu diria que do ponto de vista teórico-conceitual a gente tem que classificar o globalismo mesmo como uma ideologia, como um projeto de poder.

[...]

Interessante notar nisso aí, é que, como eu disse, o objetivo declarado deles é alcançar a paz, alcançar a prosperidade, mas segundo alguns críticos já de primeira hora, como E. H. Carro e o próprio Churchill eles não conseguiram isso, não só não conseguiram isso como causaram uma guerra ainda maior, ainda maior do que a Primeira Guerra Mundial, que foi a Segunda Guerra Mundial. O saldo de mortes maior, fome maior,

12 Filipe G. Martins refere-se à já citada obra À Paz Perpétua, de Immanuel Kant, que no ano de 1795

já advogava pela criação de organismos supra-nacionais para enfrentar o problema da guerra e alcançar a paz.

(25)

problemas econômicos também, [...] Grande Depressão e tudo mais, não diretamente relacionado com isso, mas também maior que havia na Primeira Guerra Mundial. Então se mostrou bastante ineficaz. A partir desse momento que que eles começaram a dizer: então não basta a ideia da paz, não basta a ideia da prosperidade, nós precisamos identificar um grupo de problemas globais para que esses problemas globais justifiquem também uma ação global. Então eles falam num processo de spillover, de esparramamento […] Você tem ali, sempre, na base, uma coisa de natureza política, eu diria filosófica até, e também um projeto de poder, então não se restringe a economia, como muitas vezes algumas pessoas parecem pensar. Naquele momento eles começam com esses estudos e dão ali esta justificativa, então se tem esse processo de spillover, significa basicamente que os problemas começam a se esparramar para além das fronteiras e uma vez que os problemas estão para além das fronteiras, o argumento deles é que as nações já não dão mais conta de resolver esses problemas por conta própria, sozinhas, então precisaria de instâncias superiores, em primeiro momento com cooperação dos estados para lidar com os problemas.

Cooperação com os estados: legal, não tem nenhum problema, soberania preservada. Mas a tendência que a gente assistiu desde a década de 40, década de 50, foi cada vez consolidar estas organizações em torno de uma burocracia permanente[...]vinda de fora, muito pouco transparente, não sujeita a nenhum tipo de controle democrático, ou seja, nós não votamos para colocar essas pessoas lá, são pessoas indicadas e como não há transparência, eu não sei quais são essas pessoas, não tenho o mapeamento completo delas […] há algo muito parecido no que acontece num sistema de poder interno, algumas poucas pessoas tem acesso a elas, seriam ali, digamos, que os lobbystas com alcance global, pessoas que tem capacidade de influenciar, de formar o pensamento dessas pessoas e é basicamente, que acostuma acontecer, via, sobretudo, as grandes fundações internacionais. O caso mais notório seria a Open Society do George Soros, que tem todo um aparato pronto para dialogar com essas pessoas, dar a elas subsídios do que pensar, do que defender, do que dizer, de qual mensagem adotar, e que a longo prazo acabam influenciando essas pessoas. Então qual situação que nós temos? Nós temos, basicamente, uma tentativa de transferência de poder das instâncias representativas das democracias liberais, dentro do pais, dentro de uma nação, com representantes eleitos, representantes colocados lá pela vontade popular, bem ou mal, e que tem um nível maior de transparência, que podem ser afetados em alguma medida pela população, para instâncias supranacionais ou transnacionais com poder decisório, mas que não são transparentes, não são passíveis de nenhum tipo de controle democrático e também são inacessíveis ao cidadão comum13. (Grifos nossos)

O mesmo Filipe G. Martins arrisca um conceito mais abrangente do Globalismo, no Seminário Globalismo, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores, em sua palestra Globalismo: teoria da conspiração ou fenômeno político observável?, onde expõe:

13Entrevista de Filipe Martins à InfoMoney – Globalismo, ONU e mudança climática, feita em 03/12/2018.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IH8LP1dawK4>. Acesso em 26 de março de 2019.

(26)

Globalismo é a tentativa de instrumentalização político-ideológica da globalização, com a finalidade de promover uma transferência do eixo do poder decisório das nações para um corpo difuso de burocratas cosmopolitas e apátridas que responde não às comunidades nacionais de eleitores, mas a um restrito conjunto de agentes de influência com acesso privilegiado a esses burocratas, o que, no limite, significa a substituição das democracias liberais representativas por um regime tecnocrático e pouco transparente no qual o poder decisório está concentrado nas mãos de alguns poucos privilegiados.(grifos nossos)14

2.2 OS MOVIMENTOS GLOBALISTAS E SEUS OBJETIVOS

Serão abordadas, neste trabalho, duas visões sobre o Globalismo ou Nova Ordem Mundial, em alguns pontos antagônicas, em alguns pontos convergentes, de Alexandre Dugin

15

e Olavo de Carvalho, retiradas de um debate entre os dois, que foi transformado no livro Os Estados Unidos e a Nova Ordem Mundial – Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho

16

, debate este ocorrido no ano de 2011.

Existem outras abordagens diversas, mas a extensão do assunto Globalismo exige que se decida por alguma linha de pensamento. A ameaça principal a ser considerada, para o caso do Brasil, é o chamado Globalismo Ocidental, ponto de convergência entre os dois contendores.

DUGIN (2012) apresenta a Nova Ordem Mundial a partir de um ponto de vista Norte-Americano e a partir de um ponto de vista não americano. Sobre o ponto de vista Norte-Americano apresenta três vias distintas:

1) Criar um Império Americano stricto sensu, com a consolidação técnica e social de uma área central desenvolvida (Cerne Imperial), ao passo que os espaços externos permaneceriam divididos e fragmentados em estado de permanente perturbação (próximo ao caos); parece que os neocons são a favor de tal padrão.

2) Criar uma unipolaridade multilateral em que os Estados Unidos cooperariam com os poderes amistosos na resolução de problemas regionais (Canadá, Europa, Austrália, Japão, Israel e possivelmente outros países) e fariam pressão nos “países canalhas” (Irã, Venezuela, Bielorússia, Coreia do Norte) ou também em países hesitantes que estão lutando para assegurar sua independência regional (China, Rússia, etc). Os democratas e Obama parecem inclinados a agirem assim.

14 MARTINS, Filipe G. Globalismo: Teoria da Conspiração ou Fenômeno Político Observável? In:

Seminário Globalismo, Ministério das Relações Exteriores, Youtube, 2019. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=OlywuFI5V4k&t=50s>. Acesso em 26 de junho de 2019.

15Alexandre Dugin é um cientista político russo, teórico da escola contemporânea de geopolítica russa Neo-Eurasiana, ideólogo e líder do Movimento Eurasiano e autor do livro A Quarta Teoria Política.

16 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit.

(27)

3) Promover a globalização acelerada com a criação do Governo Mundial e uma rápida destituição da soberania dos Estados Nacionais em função da criação dos Estados Unidos do Mundo que seria governado pela elite global em termos legais. Esse é o projeto do Conselho de Relações Internacionais (CFR) representado pela estratégia de George Soros e suas fundações.

Apesar da diferença evidente entre essas três imagens de futuro há alguns pontos essenciais em comum: em qualquer dos casos os Estados Unidos têm interesse em afirmar sua dominação estratégica e política; há um reforço do seu controle e enfraquecimento dos outros atores globais; uma gradual ou acelerada destituição da soberania dos Estados atualmente mais ou menos independentes; há uma promoção de valores

“universais” que refletem os valores do mundo ocidental: democracia liberal, parlamentarismo, livre mercado, direitos humanos, etc

No mundo contemporâneo, portanto, nos encontramos num campo geopolítico permanente e forte, em cujo cerne se situa os Estados Unidos e cujos raios de influência – seja estratégica, econômica, política, tecnológica, da informação, etc. - permeiam todo o resto do mundo, dependendo da vontade de aceitá-los, nos diferentes países ou atmosferas étnicas ou religiosas. Forma-se uma espécie de “rede imperial global”

operando em escala planetária17. (Grifos nossos)

Sinteticamente, para Alexandre Dugin, os Estados Unidos da América têm um projeto de dominação do mundo, mantendo-se como nação soberana, enquanto as outras ou estariam no caos, ou estariam, de alguma forma, subordinadas.

Entretanto, podemos observar que, na terceira linha de ação, sobre a criação de um Governo Mundial, o autor russo cita uma elite global cujo o centro de poder não necessariamente é o Estado ou a política interna americana, mas o Conselho de Relações Internacionais (em inglês Council Of Foreign Relations). Ou seja, neste caso, a própria soberania nacional norte-americana seria um empecilho para a consecução dos objetivos, algo não esclarecido ou não revelado por Dugin, não se sabe se por desatenção ou por motivos político-ideológicos.

Ele prossegue, desta vez apresentando a Ordem Mundial de um ponto de vista não americano, que seria apenas uma defesa contra o Imperialismo dos EUA, dividindo-os em duas categorias. Sobre a primeira categoria, de estados que não se contentariam em entregar sua soberania a uma autoridade supranacional exterior:

O desejo de conservação da soberania representa a contradição natural e o ponto de resistência diante das tendências pró-americanas ou globalistas. Esses países dificilmente têm uma visão alternativa da futura Ordem Mundial; o que eles querem é preservar, sob a forma atual, o seu status quo de Estados nacionais e fazer ajustes ou se modernizarem se necessário. Entre os membros desse grupo de Estados Nacionais há quatro tipos de atores:

1) Aqueles que tentam adaptar suas sociedades aos padrões ocidentais e manter relações amigáveis com o ocidente e com os EUA, mas no sentido

17CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 32-35.

(28)

de evitar a perda direta de soberania: Índia, Turquia, Brasil e, até certo ponto, a Rússia e o Cazaquistão.

2) Aqueles que estão dispostos à cooperar com os Estados Unidos sob a condição de não interferência em seus assuntos internos: Arábia Saudita, Paquistão, etc.

3) Aqueles que, ainda que cooperando com os EUA, observam estritamente as particularidades de suas sociedades, realizando um filtro permanente do que é e do que não é compatível, na cultura ocidental, com sua própria cultura, ao mesmo tempo em que tentam usar os dividendos recebidos nessa cooperação para fortalecer a independência nacional, como a China;

4) E há aqueles que tentam oferecer oposição direta aos Estados Unidos, rejeitando valores ocidentais, a unipolaridade e a hegemonia Americana:

Irã, Venezuela e Coreia do Norte18. (grifos nossos)

A segunda categoria seriam “grupos subnacionais, movimentos e organizações que se opõem, como estruturas do campo geopolítico, ao americanismo por razões ideológicas, religiosas e/ou culturais”. Lista então trê s projetos ou ideias:

1) A mais famosa ideia é a do mundo islâmico, que representa a utopia do Estado Mundial Islâmico (Califado Mundial). Esse projeto é oposto tanto à arquitetura americana como à dos Estados nacionais modernos. Bin Laden é o símbolo dessa tendência de ideias e a queda das torres gêmeas do World Trade Center, no 11 de setembro, é a prova da importância e da seriedade dessa rede.

2) Um outro projeto poderia ser definido como o plano neo-socialista representado pela esquerda sul-americana e, pessoalmente, por Hugo Chavéz. Esse projeto é, grosso modo, uma nova edição da crítica marxista ao capitalismo fortalecida pelo sentimento nacionalista ou, em alguns casos, étnico (zapatistas, Bolívia). Alguns regimes árabes poderiam ser considerados da mesma linha (como a Líbia de Kaddhafi, até recentemente). A Ordem Mundial Vindoura, nesse caso, é apresentada como a revolução socialista global precedida por campanhas anti-americanas em cada país. Esse grupo identifica a Transição como a encarnação do im perialismo clássico criticado por Lênin19.

3) O terceiro exemplo pode ser encontrado no projeto Eurasiano, também, conhecido como projeto multipolar ou dos “Grandes Espaços”, que propõe justamente um modelo alternativo ao da Ordem Mundial baseado no princípio das civilizações e de grandes espaços. Esse projeto pressupõe a criação de diferentes entidades políticas, estratégias e econômicas transnacionais unidas pela comunidade de civilização e de seus valores principais, em alguns casos religiosos e, em alguns, seculares e culturais. Esses blocos seriam formados por Estados integrados que representariam os pólos do mundo multipolar. A União Europeia poderia ser um exemplo formal disso. Teríamos também a União Eurasiana (Projeto do Presidente N. Nazrbayev do Cazaquistão), a União Islâmica, a União Sul-Americana, a União Chinesa, a União de todo o Pacífico, etc. O grande espaço Norte -

18CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 39-40.

19 Fica bastante claro que o autor está tratando do Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro em 1990, e conjugava as forças da esquerda da América Latina para um projeto de tomada de poder. Esse projeto teve sucesso entre os anos de 1999 e 2015, restando apenas o governo venezuelano de Nicolás Maduro.

(29)

Americano seria considerado como um dos vários pólos mais ou menos iguais, nada mais20. (grifos nossos)

Em resumo, os movimentos globalistas seriam o Norte-Americano, que tem o centro de poder nos Estados Unidos da América; o Islâmico, difuso, cuja liderança seriam grupos como a Al-Qaeda, e que tem como objetivo a criação de um Califado Mundial; A neo-socialista, cujo o centro de irradiação seria a América do Sul, como o objetivo de realizar uma revolução socialista global. O Eurasianismo, neste contexto, seria uma contraposição a ideia de dominação global, advogando a criação de “Grandes Espaços”, incluindo uma União Sul - Americana, da qual o Brasil faria parte. A atual presença da Rússia na Venezuela, último bastião da UNASUL, pode ser entendida neste contexto, embora existam outras explicações. A presença da China explicar -se-á mais a frente pelas definições de Olavo de Carvalho.

CARVALHO (2012) adota outra divisão dos movimentos globalistas:

as forças históricas que hoje lutam por poder no mundo se concertam em três projetos de dominância global, os quais chamarei provisoriamente de "russo-chinês", "ocidental" (às vezes chamado equivocadamente de "anglo-americano") e "islâmico".

Cada um deles tem uma história bem documentada, que mostra suas origens remotas, as transformações que sofreram através do curso do tempo e o atual estado de sua implementação.

Os agentes que personificam estes projetos hoje são, respectivamente:

1. A elite dirigente da Rússia e da China, sobretudo os serviços secretos destes dois países.

2. A elite financeira ocidental, tal qual representada sobretudo pelo Clube Bilderberg, o Council on Foreign Relations e a Comissão Trilateral.

3. A Irmandade Muçulmana, os líderes religiosos de vários países islâmicos e alguns governos de países islâmicos.

Destes três agentes, só o primeiro pode ser concebido em termos estritamente geopolíticos, já que seus planos e ações corre spondem a interesses nacionais e regionais bem -definidos. O segundo, que está mais avançado na implementação de seus planos de governo mundial, se coloca explicitamente acima de quaisquer interesses nacionais, inclusive os dos países onde ele se originou e que servem como suas bases de operações. No terceiro, os conflitos de interesses entre os governos nacionais e o objetivo abrangente de um Califado Universal sempre terminam sendo resolvido em favor do último, o qual, embora existindo atualmente apenas como um ideal, goza de uma autoridade simbólica fundada sobre mandamentos corânicos que nenhum governo ousaria desafiar abertamente.

As concepções de poder global que estes três agentes se esforçam por implementar são muito diferentes umas das outras, porque elas brotam de inspirações heterogêneas e às vezes incompatíveis.

Portanto, eles não são forças similares, espécies do mesmo gênero.

Eles não lutam pelos mesmos objetivos e, quando recorrem ocasionalmente às mesmas armas (por exemplo, a guerra econômica) ,

20CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 41-42.

(30)

eles o fazem em diferentes contextos estratégicos, nos quais o emprego de tais armas não serve necessariamente aos mesmos objetivos.

Embora nominalmente as relações entre eles sejam de competição e disputa, às vezes até de natureza militar, há vastas zonas de fusão e colaboração, tão flexíveis e mutáveis quanto se possa imaginar.

Este fenômeno desorienta os observadores, produzindo todo tipo de interpretação equivocada e fabulosa, algumas sob a forma de "teorias conspiratórias", outras como refutações auto-proclamadas "realistas" e

"científicas" destas teorias.

Muito embora elas tentem levar em conta a totalidade dos fatores disponíveis, o projeto russo-chinês enfatiza o ponto de vista geopolítico e militar, o projeto ocidental o econômico e o islâmico a disputa entre as religiões.

[...]

Assim, pela primeira vez na história do mundo, as três modalidades essenciais de poder -- político-militar, econômico e religioso -- encontram-se personificados em blocos supranacionais distintos, cada um deles com seus próprios planos de dominação mundial e seu modo peculiar de ação.

[...]

Embora nos debates atuais estes três blocos sejam quase invariavelmente designados por nomes de nações, Estados e governos, descrever suas interações como uma disputa entre nações ou interesses nacionais é um hábito residual da velha geopolítica que não nos ajuda de modo algum a entender a presente situação. É apenas no caso russo-chinês que o projeto globalista corresponde simetricamente aos interesses nacionais e que os principais agente s são os respectivos Estados e governos. Isto se dá pela simples razão de que o regime comunista, governando lá por décadas, dissolveu ou eliminou todos os outros possíveis agentes. A elite globalista da Rússia e da China é o governo destes dois países.

Por sua vez, a elite globalista ocidental não representa nenhum interesse nacional e não se identifica com nenhum Estado ou governo em particular, embora controle vários deles. Pelo contrário:

quando seus interesses se chocam com os das nações onde ela se originou (e isto necessariamente acontece), ela não hesita em se voltar contra sua própria pátria, em subjugá-la e, se necessário, destruí-la.21

Os globalistas islâmicos servem, a princípio, aos interesses gerais de todos os Estados muçulmanos, unidos no grande projeto de um Califado Universal. Divergências surgidas de choques entre interesses nacionais (como, por exemplo, entre o Irã e a Arábia Saudita) não se mostraram suficientes para abrir feridas incuráveis na unidade de longo-prazo do projeto islâmico. A Irmandade Muçulmana, principal líder do processo, é uma organização transnacional: ela governa alguns países e em outros é o partido da oposição política, mas sua influência é onipresente no mundo islâmico22. (grifos nossos).

É mister observar que dois movimentos descritos por Olavo de Carvalho e Alexandre Dugin são mais ou menos coincidentes: o “ocidental”, embora abordados sob diferentes aspectos, e o “islâmico”, abordados de maneira bastante semelhante.

21 O discurso de Donald J. Trump, em parte transcrito neste trabalho (pág 8), confirma parcialmente esta tese.

22 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 45-48.

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