• Nenhum resultado encontrado

Avaliação das metodologias de gestão da qualidade nos processos de gestão e de tratamento dos resíduos urbanos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Avaliação das metodologias de gestão da qualidade nos processos de gestão e de tratamento dos resíduos urbanos"

Copied!
167
0
0

Texto

(1)

Avaliação das

metodologias de

gestão da

qualidade nos

processos de

gestão e de

tratamento dos

resíduos urbanos

Ana Filipa de Sousa e Silva

Mestrado em Ciências e Tecnologia do Ambiente – Área de

Especialização em Tecnologias de Remediação Ambiental

Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território 2020

Orientador

António José Guerner Dias, Professor Auxiliar, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Coorientador

Alexandre Ventura Miranda Ferreira, Chefe da Divisão de Logística e Infraestruturas, LIPOR

(2)

Todas as correções determinadas pelo júri, e só essas, foram efetuadas. O Presidente do Júri,

(3)

Agradecimentos

Ao meu orientador, o Professor António José Guerner, pelo acompanhamento, apoio e orientação, não só neste período, mas ao longo da minha formação académica. Ao meu orientador, Eng. Alexandre Ventura, pela oportunidade de realizar o estágio na LIPOR. Agradeço a ajuda, a disponibilidade, a paciência e os seus comentários.

Aos Controladores da Qualidade, Alexandre Barbosa e Paulo Barbosa, que foram muito importantes para a realização deste trabalho. Pela partilha de conhecimentos, pelo esclarecimento de dúvidas, pela amizade e pela oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Aos colaboradores da DLI, pela boa disposição, amizade e capacidade demonstradas. Conjuntamente, com outros elementos da LIPOR e da Ferrovial, fizeram-me sentir parte da equipa.

(4)

Resumo

Numa perspetiva de futuro, são cada vez mais os documentos legais e normativos que, a nível nacional e internacional, pretendem contrariar um dos maiores desafios da atualidade: a tendência exagerada de produção e de deposição de resíduos em aterro. Com metas, gerais e individuais, assumidamente orientadas para a concretização dos níveis mais favoráveis da hierarquia de resíduos e para a implementação de uma economia cada vez mais circular, cresce na LIPOR a necessidade de acompanhar a evolução dos procedimentos e das práticas de gestão do setor.

Todavia, as dificuldades em adquirir informação atualizada e detalhada, são um desafio que reserva ao desenvolvimento de um estágio, orientado para a avaliação e a melhoria das práticas do sistema de gestão da qualidade, implementadas nas atividades operacionais (recolha, triagem e preparação dos materiais) da LIPOR I. Com início no estudo dos quantitativos dos resíduos urbanos rececionados nesta organização, e do conhecimento dos materiais e dos municípios com mais registos de cargas contaminadas (cargas Não Conformes e cargas Razoáveis), segue-se uma análise à qualidade do produto acabado. Visando contribuir para a melhoria dos resultados quantitativos e qualitativos da organização, procurou-se identificar eventos de risco nos processos de controlo da qualidade, desde a chegada dos resíduos à LIPOR I, até ao momento em que são enviados para o retomador e, através de uma matriz de análise da qualidade, implementar medidas potencialmente transversais a toda a organização.

Palavras-chave

(5)

Abstract

In a future perspective, more and more legal and normative documents that, nationally and internationally, aim to counter one of the greatest challenges of today: the exaggerated trend of production and landfill of waste. With general and individual goals, clearly oriented towards the achievement of the most favorable levels of the waste hierarchy and the implementation of an even more circular economy, the need to monitor the evolution of the sector's management procedures and practices are growing in LIPOR.

However, the difficults in acquiring updated and detailed information, are a challenge that leads to the development of an internship, oriented to the evaluation and improvement of the practices of the quality management system, implemented in the operacional activities (collection, sorting and preparation of materials) of LIPOR I. Starting with the study of the quantitivity of urban waste received by this organization, and the knowledge of the materials and municipalities with the most records of contamination loads (Non-Conforming and Reasonable loads), follows an analysis of the quality of the finished product. Aiming to contribute to the improvement of the organization's quantitative and qualitative results, we seek to identify risk events in the quality control processes, since the arrival of waste at LIPOR I, until the moment they are sent to the waste reclaimer, and through a matrix quality analysis, to implement measures potentially transversal to the entire organization.

Keywords

(6)

Índice

Agradecimentos ... i Resumo ... ii Palavras-chave ... ii Abstract ... iii Keywords ... iii

Índice de Figuras ... vii

Índice de Tabelas ... ix

Lista de Abreviaturas ... xi

1. Introdução ... 1

Enquadramento do Estágio Curricular ... 1

Objetivos ... 1

Organização e estrutura do Relatório ... 1

2. Gestão de Resíduos Urbanos ... 3

Os resíduos ... 3

2.1.1. Conceito e importância ... 3

2.1.2. Caraterização e classificação ... 4

A economia circular no contexto da gestão de resíduos... 5

Gestão de Resíduos Urbanos em Portugal ... 8

2.3.1. Enquadramento legal ... 8

2.3.2. Regulação do Setor ... 15

2.3.3. Organização dos sistemas de gestão de resíduos ... 15

2.3.4. Dados sobre os Resíduos Urbanos: produção e destino ... 19

3. Gestão da Qualidade ... 22

Sistema de Gestão da Qualidade ... 22

3.1.1. Qualidade ... 22

3.1.2. Norma ISO 9001:2015 ... 22

(7)

Integração da Gestão da Qualidade na Gestão de Resíduos Urbanos ..

... 25

3.3.1. Sunshine Regulation ... 26

3.3.2. Lean Management e Six Sigma ... 27

Avaliação do desempenho ... 30

4. Apresentação da instituição LIPOR ... 31

Caraterização geral ... 31

Sistema Integrado de Gestão de Resíduos da LIPOR ... 33

4.2.1. Recolha/Descarga ... 35

4.2.2. Separação ... 36

4.2.3. Preparação dos Materiais ... 42

4.2.4. Análise da qualidade ... 43 5. Métodos ... 50 Recolha de dados ... 50 5.1.1. Resíduos ... 50 5.1.2. Controlo da Qualidade ... 51 Matriz da Qualidade ... 53 5.2.1. Enquadramento ... 53 5.2.2. Construção da Matriz ... 53 6. Resultados e Discussão ... 57 Análise de dados... 57 6.1.1. Resíduos ... 57 6.1.2. Controlo da Qualidade ... 65 Matriz da Qualidade ... 79 Discussão de resultados ... 82 7. Conclusão ... 86 Referências ... 88 Anexos ... 91 I. Organograma da LIPOR ... 91

(8)

Apêndices ... 92

I. Matriz de Análise do Sistema de Gestão da Qualidade ... 93

II. Taxa de Capitação ... 99

Recolha Seletiva de Bioresíduos ... 99

Recolha Seletiva Multimaterial em 2017 ... 101

Recolha Seletiva Multimaterial em 2018 ... 104

Recolha Seletiva Multimaterial em 2019 ... 107

III. Controlo da Qualidade na descarga – Não Conformidades ... 110

Município de Espinho ... 110

Município de Gondomar ... 112

Município da Maia ... 114

Município de Matosinhos ... 116

Município do Porto ... 118

Município da Póvoa de Varzim ... 120

Município de Valongo ... 122

Município de Vila do Conde ... 124

IV. Controlo da Qualidade na descarga – Não Conformidades em Ecocentros ... 126

Ecocentros em 2017 ... 126

Ecocentros em 2018 ... 130

Ecocentros em 2019 ... 134

Ecocentros em 2020 ... 138

V. Controlo da Qualidade na descarga – Cargas Razoáveis ... 140

VI. Controlo da Qualidade na descarga – Proveniência das descargas 142 VII. Controlo da Qualidade no Produto Acabado ... 144

VIII. Caraterizações ... 148

(9)

Índice de Figuras

Figura 1 - Composição física média dos RU ... 5

Figura 2 - Modelo de Gestão Integrada da LIPOR ... 6

Figura 3 - Hierarquia de gestão de resíduos ... 7

Figura 4 - Comparação das metas definidas pelo PERSU I e a situação verificada nesse período de tempo ... 11

Figura 5 - Sistemas de Gestão de RU em Portugal Continental. ... 17

Figura 6 - Esquema representativa do ciclo do fluxo material e monetário dos sistemas de gestão de resíduos de embalagens... 18

Figura 7 - Gráfico com a evolução da produção e da capitação anual de RU em Portugal Continental ... 19

Figura 8 – Taxa de Capitação da União Europeia em 2017 (kg/hab.)). ... 20

Figura 9 - Destino direto dos RU em Portugal Continental ... 21

Figura 10 - Principais elementos de um processo simples ... 23

Figura 11 - Ciclo PDCA ... 24

Figura 12 - Esquema com a representação dos pilares do Lean Management. ... 29

Figura 13 -Posicionamento geográfico da LIPOR ... 31

Figura 14 - Certificações atribuídas à LIPOR ... 32

Figura 15 - Esquema representativo do SIGR da LIPOR ... 34

Figura 16 - Caixa de deposição seletiva (tri-fluxo) do Parque Aventura ... 35

Figura 17 - Cais de descarga (a), boxes (b), enfardamento e acondicionamento dos resíduos (c). ... 37

Figura 18 - Esquema representativo das fases do processo do CT. ... 38

Figura 19 - Zona de receção de plásticos (a) e Linha Multiusos (b). ... 39

Figura 20 - Zona de receção e de triagem dos REEE (a) e Ponto Vermelho (b) ... 40

Figura 21 - Estação de Transferência e rejeitados ... 40

Figura 22 - Fases dos processos da produção de composto na CVO. ... 41

Figura 23 - Tipos de acondicionamento: em big-bags (a) e em palete (b) ... 42

Figura 24 - Exemplo de uma NV. ... 44

Figura 25 - Boletim de Carga NC. ... 45

Figura 26 - Processo de inspeção a um fardo de Plásticos Mistos: pesagem (a) e monitorização (b) ... 46

Figura 27 - Inspeção aos fluxos internos do CT: mesa de caraterização (a) e baldes CQA (b) ... 47

(10)

Figura 29 - Evolução da quantidade de resíduos de Papel/Cartão, de Vidro e de Embalagens Plásticas e Metálicas rececionados na LIPOR I, por mês, entre 2017-2019 ... 58 Figura 30 - Evolução da quantidade de resíduos de Plástico (a), Sucatas (b), REEE (c), EPS (d) e Outros Seletivos (e), rececionados na LIPOR I, por mês, entre 2017-2019. ... 59 Figura 31 - Evolução da quantidade de resíduos de Verdes-Cemitérios (a) e de Verdes

(b) rececionados na LIPOR I, por mês, entre 2017-2019 ... 60 Figura 32 - Evolução da quantidade de RU da Recolha Seletiva Multimaterial, por

município, entre 2017-2019 ... 61 Figura 33 - Evolução da quantidade de RU da Recolha Seletiva de Bioresíduos, por

município, entre 2017-2019 ... 62 Figura 34 - Capitação dos resíduos de Papel/Cartão, Vidro e Embalagens Plásticas e

Metálicas, por município, entre 2017-2019. ... 63 Figura 35 - Posicionamento dos municípios face às metas estabelecidas no PERSU 2020 - Retoma de Recolhas Seletivas (kg/(hab.ano)). ... 64 Figura 36 - Evolução temporal das descargas entregues na LIPOR entre 2017-2020 65 Figura 37 - Cassificação final atribuída às descargas NC (a) e Razoáveis (b) entre 2017-2020 ... 71 Figura 38 - Proveniência das cargas NC por município. ... 71 Figura 39 - Comparação entre cargas NC e cargas NC dos Ecocentros em 2017 (a), 2018 (b), 2019 (c) e 2020 (d) ... 74 Figura 40 - Proveniência das cargas Razoáveis por município ... 75 Figura 41 - Variação da relação entre as inspeções e as NC por material, nos Fardos ... 78 Figura 42 - Peso percentual da significância dos eventos de risco ... 79 Figura 43 - Peso percentual da abordagem responsável ao risco ... 80 Figura 44 - Peso percentual dos riscos identificados nas áreas/atividades operacionais. ... 80 Figura 45 - Nível de Significância dos eventos de risco por área/atividade ... 81 Figura 46 - Abordagem responsável ao risco por área/atividade ... 81 Figura 47 - Caraterização na GreenPaper's: fardo (a), resíduos de embalagem primária (b) e com resíduos orgânicos (c) ... 149 Figura 48 - Caraterização na Extruplas: lote (a) e contaminante – Plástico Não Embalagem (b) ... 150

(11)

Figura 49 - Caraterização na Micronipol: lote (a), sacos urbanos e filme expandido (b),

filme estirável (c) ... 151

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Metas nacionais de gestão de RU para o PERSU 2020 ... 13

Tabela 2 - Ponto de situação dos indicadores de desempenho nacionais ... 14

Tabela 3 - Metas nacionais do PERSU 2020+ ... 14

Tabela 4 - Indicadores de qualidade do serviço de gestão de RU... 26

Tabela 5 - Principais caraterísticas dos municípios da área LIPOR ... 51

Tabela 6 - Critérios de avaliação do Índice de Probabilidade do Risco ... 54

Tabela 7 - Critérios de avaliação do Índice de Gravidade do Risco ... 54

Tabela 8 - Matriz de Risco ... 55

Tabela 9 - Nível de Significância do risco ... 55

Tabela 10 - Estrutura da matriz de Análise do SGQ da LIPOR ... 56

Tabela 11 - Quantitativos dos RU rececionados entre 2017-2019 ... 57

Tabela 12 - Quantitativos dos resíduos (recolha seletiva Multimaterial e dos Bioresíduos), por município, entre 2017-2019 ... 60

Tabela 13 - Capitação global (Recolha Seletiva Multimaterial e de Bioresíduos) dos municípios da LIPOR, entre 2017-2019 ... 62

Tabela 14 - Capitação por recolha seletiva, entre 2017-2019. ... 63

Tabela 15 - Descargas por município entre 2017-2020. ... 66

Tabela 16 - Descargas por fluxos de resíduos entre 2017-2020 ... 66

Tabela 17 - Qualidade das cargas por município entre 2017-2020 ... 67

Tabela 18 - Peso percentual das cargas NC por município entre 2017-2020 ... 67

Tabela 19 - Peso percentual das cargas NC por material entre 2017-2020 ... 68

Tabela 20 - Qualidade de cargas e peso percentual das cargas Razoáveis por município entre 2017-2020 ... 69

Tabela 21 - Peso percentual das cargas Razoáveis por município entre 2017-2020 .. 69

Tabela 22 - Peso percentual de cargas Razoáveis por material entre 2017-2020 ... 70

Tabela 23 - Cargas NC e percentagem de cargas NC por município ... 72

Tabela 24 - Cargas NC e percentagem de cargas NC por sistema de recolha de resíduos ... 73

Tabela 25 - Cargas NC provenientes dos Ecocentros entre 2017-2020)... 73

Tabela 26 - Cargas Razoáveis e percentagem de cargas Razoáveis por município ... 75

Tabela 27 - Cargas Razoáveis e percentagem de cargas Razoáveis por sistema de recolha de resíduos. ... 76

(12)

Tabela 28 - Circuitos com mais registos de NC). ... 76

Tabela 29 - Inspeções ao produto final do CT. ... 77

Tabela 30 - Nível de Significância ... 79

Tabela 31 - Resultados (média) da caraterização ao papel/cartão. ... 148

Tabela 32 - Resultados (média) da caraterização ao Plásticos Mistos ... 149

Tabela 33 - Resultados (média) da caraterização ao Filme Plástico ... 150

(13)

Lista de Abreviaturas

ANR Autoridade Nacional dos Resíduos

APA Agência Portuguesa do Ambiente

CQA Controlador de Qualidade e Ambiente

CT Centro de Triagem

CVE Central de Valorização Energética

CVO Central de Valorização Orgânica

DL Decreto-Lei

ERSAR Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos

ET Especificações Técnicas

FCUP Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

FER Fim do Estatuto do Resíduo

G Gravidade

IRAR Instituto Regulador de Águas e Resíduos

ISO International Organization for Standardization

I&D Investigação e Desenvolvimento

KPI Key Performance Indicator

LER Lista Europeia de Resíduos

LM Lean Management

MM Monstros Metálicos

MNM Monstros Não Metálicos

NC Não Conforme NR Nível de Risco NV Norma Visual P Probabilidade PAP Porta-a-Porta PDCA Plan-Do-Check-Act PE Plataforma Exterior

PERSU Plano Estratégico de Resíduos Urbanos

(14)

PIP Política Integrada do Produto

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RARU Relatório Anual de Resíduos Urbanos

RCDs Resíduos de Construção e Demolição

REACH Registration, Evaluation and Authorisation of Chemicals

RH Resíduos Hospitalares

RI Resíduos Industriais

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

RU Resíduos Urbanos

RUB Resíduos Urbanos Biodegradáveis

SGQ Sistema de Gestão da Qualidade

SGQA Sistema de Gestão de Qualidade e Ambiente

SGRU Sistema de Gestão de Resíduos Urbanos

SIG Sistemas Integrados de Gestão

SIGR Sistema Integrado de Gestão de Resíduos

SIGRE Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens

SIQA Sistema Integrado de Gestão de Qualidade e Ambiente

SIRER Sistema Integrado de Registo Eletrónico de Resíduos

SPV Sociedade Ponto Verde

TM Tratamento Mecânico

TMB Tratamento Mecânico e Biológico

UE (EU) União Europeia (European Union)

(15)

1. Introdução

Enquadramento do Estágio Curricular

O presente documento exibe o estágio curricular em contexto empresarial desenvolvido na LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto – com vista à obtenção do grau de Mestre do curso em Ciências e Tecnologia do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

O estágio na LIPOR decorreu de 1 de outubro de 2019 a 30 de junho de 2020. Com incidência em temáticas ambientais, mais precisamente nas do Sistemas de Gestão da Qualidade dos Resíduos Urbanos (RU), serviu como formação complementar para a aquisição de experiência profissional numa entidade exterior à faculdade.

Sob a orientação do Eng. Alexandre Ventura Miranda Ferreira da LIPOR e do professor Dr. António José Guerner Dias da FCUP foram aplicados os conhecimentos teóricos adquiridos durante a formação académica.

Objetivos

O presente relatório tem por objetivo geral, analisar e compreender a aplicabilidade da qualidade nos processos de gestão e de tratamento dos RU da área de atuação da LIPOR. Pretendendo clarificar como a aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) acompanha a evolução e transversalmente potencia o enquadramento de melhorias nos procedimentos e nas práticas operacionais implementadas, este trabalho pretende ainda:

 Avaliar e sistematizar o atual modelo de gestão da qualidade implementado na área das operações (recolha, triagem e preparação de materiais);

 Perceber os processos definidos no âmbito do SGQA;

 Desenvolver uma matriz de análise do sistema com respetivas propostas de melhoria;

 Efetuar a análise e revisão do relatório mensal da qualidade.

Organização e estrutura do Relatório

Este trabalho é composto por sete capítulos.

No primeiro capítulo é feita uma pequena introdução, contextualizando a organização e os objetivos do estágio. Com auxílio de literatura, no segundo e terceiro

(16)

capítulos são definidos conceitos, princípios e fundamentos teóricos e legais onde se insere a temática dos RU e do Sistema de Gestão de Qualidade e Ambiente (SGQA). Segue-se no quarto capítulo a descrição da entidade acolhedora do estágio, com enfoque para as atividades operacionais que desde logo, incorporam a qualidade como um princípio base.

O capítulo seguinte é dedicado à metodologia adotada para a análise dos dados e a discussão dos resultados obtidos é apresentada no sexto capítulo.

O relatório termina com as principais conclusões e propostas de melhoria e seguidamente com as referências e anexos que complementam o trabalho desenvolvido.

(17)

2. Gestão de Resíduos Urbanos

Os resíduos

2.1.1. Conceito e importância

Entender os problemas relacionados com a gestão dos resíduos é caminhar paralelamente com a evolução da sociedade e aferir que esta é uma problemática ambiental, social e económica cuja gravidade dos seus impactes compromete o desenvolvimento das gerações futuras. É partir do princípio de que a notabilidade desta temática é fruto da existência de um desequilíbrio na gestão das atividades humanas, as quais originam efeitos nefastos sobre o ambiente e sobre a saúde humana.

Neste contexto, conhecer os fatores que influenciam o padrão de gestão dos resíduos, para além de ser viável na determinação do montante produzido por uma região ou país, é útil para avaliar o sucesso das ações anteriormente adotadas e planear novas abordagens para as operações de deposição, recolha, transporte, tratamento e armazenamento.

A adoção de práticas ambientalmente sustentáveis tem por condicionantes o desinteresse ou mesmo o desconhecimento acerca do que realmente são os resíduos. Por ser uma palavra diariamente utilizada é “definida por todos, mas não é verdadeiramente compreendida por ninguém” (Vallero & Shulman, 2019), isto porque, está vulgarmente associada ao termo “lixo” e é-lhe atribuída uma conotação negativa para nomear qualquer objeto que urge de ser rejeitado.

Neste âmbito, uma definição precisa em termos legais é o mais desejável quando se pretende desenvolver políticas de gestão. A fim de clarificar este conceito, o direito europeu consignou um resíduo como “qualquer substância ou objeto de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou obrigação de se desfazer” (Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro). Num sentido mais estrito, é a rejeição de um material que não é aproveitado ou que deixou de exercer as funções anteriormente requeridas para uma atividade (Abdel-Shafy & Mansour, 2018).

A Diretiva n.º 2008/98/CE, de 19 de novembro, vai mais longe e aponta que um resíduo pode ser mais do que um produto rejeitado quando se agiliza uma utilização lógica e sustentável do mesmo. Afirma que um resíduo originário de um processo produtivo (resíduo de produção) pode ser reconhecido como uma substância, ou melhor, como um subproduto que, sem qualquer tipo de processamento, poderá constituir a matéria-prima inicial de um novo processo. Em função das caraterísticas do resíduo são

(18)

equacionados modelos de negócio que privilegiam o Fim do Estatuto do Resíduo (FER), a valorização e o aproveitamento do uso dos recursos (APA, 2011).

2.1.2. Caraterização e classificação

Ao abrigo da heterogeneidade de resíduos, equacionar corretamente o serviço de gestão mais adequado é apenas possível com o conhecimento das suas caraterísticas.

Um modelo de classificação europeu – Lista Europeia de Resíduos (LER) – surgiu como um guia que possibilitou, através da definição de um código com seis dígitos, a identificação dos resíduos como perigosos (código LER com asterisco) ou não perigosos. O LER garante que a gestão de resíduos seja considerada ao longo de todo o seu ciclo de vida: desde a sua separação por tipologia na origem e classificação pelos produtores, até à sua eliminação, em circunstâncias não nocivas para o ambiente e para a saúde humana (APA, 2020). Justo pela complexidade deste processo, optou-se por uma abordagem mais simples que, de acordo com o maior ou menor caráter inflamável, corrosivo, reativo, tóxico e patogénico, define-os em termos generalistas como resíduos perigosos, não perigosos e inertes.

Com base no DL nº 178/2006, de 5 de novembro, os resíduos perigosos são aqueles, que apresentam propriedades, que os tornam suscetíveis de causar perigo para o ambiente e para a saúde humana. Pelo contrário, os resíduos não perigosos não representam uma ameaça à vida terrestre. Os resíduos inertes têm reduzida capacidade de transformação e/ou reação física ou química com outras substâncias pelo que, mesmo com pequenas alterações na cor ou turbidez da água, não afetam negativamente a sua qualidade nem colocam em perigo as substâncias com as quais entram em contacto.

O DL n.º 73/2011, de 17 de junho, relativo ao regime geral de gestão de resíduos, identifica em termos da sua fonte de produção, a existência de: Resíduos Urbanos (RU), Resíduos Industriais (RI), Resíduos Hospitalares (RH) e outros não incluídos nestas categorias (Resíduos Agrícolas e Resíduos de Construção e Demolição (RCD)).(Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de Junho)

Segundo este mesmo documento, os RU são definidos “como o resíduo proveniente de habitações bem como outro resíduo que, pela sua natureza ou composição, seja semelhante ao resíduo proveniente de habitações”. Na sua maioria são os resíduos produzidos pelos grandes centros urbanos que, pela pluralidade das suas frações, assemelham-se aos gerados por atividades habitacionais ou equiparadas

(19)

a estas, desde que a produção diária seja inferior a 1100 L. São um grupo que inclui resíduos de origem comercial, doméstica e de limpeza pública (Abdel-Shafy & Mansour, 2018) e cuja natureza distinta dos seus componentes permite agrupá-los em categorias de certa homogeneidade (figura 1), tais como a sua composição afeta à existência de materiais orgânicos e inorgânicos.

Figura 1 - Composição física média dos RU (Fonte:(APA, 2019b).

O termo RU está muitas vezes associado a uma terminologia que inclui os resíduos de origem doméstica e de serviços comerciais, industriais e de cuidados de saúde (hospitalares) num único grupo, os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) (Abdel-Shafy & Mansour, 2018). Para formular objetivos e implementar medidas centralizadas nos aspetos ambientais, políticos, institucionais, económicos e financeiros esta correspondência não deve ser utilizada como referência.

A economia circular no contexto da gestão de resíduos

A intensificação das atividades humanas e as suas consequências impuseram a que nas últimas décadas fossem formalizadas, numa lógica de utilização sustentável, estratégias orientadoras de um tratamento ambientalmente mais favorável dos RU.

Com o intuito de ultrapassar o paradigma “Tradicionalmente, o resíduo urbano tem sido tratado como um problema e não como um recurso” (Bugge et al., 2019), a crescente tomada de decisões surge numa ótica de procurar um processo que não siga

(20)

as bases do modelo linear de produção de bens, mas sim um modelo que segundo Paes et al. (2019) firme a inter-relação dos pilares da economia, da sociedade e do meio ambiente. (Bugge, Fevolden, & Klitkou, 2019; Paes, Bezerra, Deus, Jugend, & Battistelle, 2019)

Considerando os fatores que influenciam estes padrões é exequível transitar para uma nova tendência de gestão “onde o valor de produtos, materiais e recursos é mantido na economia pelo maior tempo possível e a produção de resíduos é minimizada” (Pires & Martinho, 2019) (figura 2).

Figura 2 - Modelo de Gestão Integrada da LIPOR (Fonte:(Lipor, 2015).

A implementação de um modelo cíclico de recursos endossa a criação de novos padrões de consumo, ao mesmo tempo que se vincula com as prioridades da União Europeia (UE) de criar uma cadeia de valor que se dissocia do uso de materiais virgens. Esta diminuição das pressões sobre os ecossistemas contraria o modelo de fim de vida

(21)

de um produto e cria um loop que estimula a criação de oportunidades de emprego e negócio, melhora a integração social e a qualidade de vida (Commission, 2015).

A economia circular, para assegurar um processo harmonioso em cada etapa de gestão dos resíduos, nomeadamente desde a “recolha, o transporte, a valorização e a eliminação de resíduos, incluindo a supervisão destas operações, a manutenção dos locais de eliminação no pós-encerramento, bem como as medidas adotadas na qualidade de comerciante ou corretor”(Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de Junho), integra de forma basilar:

 componentes legislativos e normativos dos resíduos;

 estratégias nacionais e internacionais de prevenção de resíduos;  a hierarquização da gestão de resíduos; e

 o pensamento baseado no ciclo de vida do produto.

Zhang et al. (2019) reconhece que a correta gestão dos RU baseia-se no alinhamento funcional entre a circularidade de recursos e o envolvimento de governos locais, municípios e outras partes interessadas, na exploração de caminhos focados numa hierarquia de princípios que incentiva à prevenção do resíduo na fonte e à valorização dos esforços da reciclagem (figura 3) (APA, 2011).(Zhang et al., 2019)

Figura 3 - Hierarquia de gestão de resíduos (Fonte:(APA, 2011).

Para isso, a Diretiva (EU) 2018/851, de 30 de maio, a qual insere-se num programa de quatro diretivas publicadas em matéria de economia circular (Diretiva (EU) 2018/849, de 30 de maio; Diretiva (EU) 2018/850, de 30 de maio; Diretiva (EU) 2018/852, de 30 de maio), para além de alterar a Diretiva 2008/98/CE, de 19 de

Prevenção e redução

Preparação para reutilização

Reciclagem

Outros tipos

de valorização

(22)

novembro, (Diretiva Quadro Resíduos), clarifica que para tornar uma economia verdadeiramente circular é imperativo reconhecer a gestão de resíduos como uma gestão de recursos. Com meios humanos, logísticos e infraestruturas reforça a importância da aplicação de um princípio que relega os níveis mais baixos da hierarquia e atribui ao produtor a responsabilidade de aplicação das medidas tomadas pelos Estados-Membros.(Diretiva (UE) 2018/851 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de maio de 2018, que altera a Diretiva 2008/98/CE relativa aos resíduos)

Van Ewijk e Stegemann (2016) argumentam que o que falha na sua implementação é a inexistência de métodos capazes de medir a qualidade, a eficiência e a sustentabilidade destes processos. Embora a prevenção da produção de resíduos seja a etapa com maior potencial é a que, contrariamente à taxa de reciclagem, recebe menor atenção pela dificuldade em ser monitorizada. (Van Ewijk & Stegemann, 2016)

A transformação dos resíduos em energia pode ser vista como uma das chaves do plano de ação da economia circular quando a reciclagem deixa de ser possível. A incineração é um processo de tratamento térmico que a Zero Waste Europe (ZWE) declara ser ambientalmente insustentável em termos de emissões de carbono, pois recorrer a este tipo de tecnologias é acrescentar valor aos produtos e materiais e ceticamente minorar o papel da reciclagem. Quando a ideia é evitar a deposição de resíduos em aterro a fim de diminuir as emissões de metano, a incineração torna-se viável, desde que não comprometa a consecução dos três primeiros níveis de hierarquia de resíduos (Malinauskaite et al., 2017).

Este é um dos motivos pelos quais se questiona se o desvio dos princípios da hierarquia de resíduos resultará na melhor técnica ambientalmente disponível, na medida em que se predefine opções que priorizam a proteção ambiental e a saúde humana e que não assumem os RU apenas como uma ferramenta que gere e assegura oportunidades, ou seja, como algo que acrescenta valor à economia nacional e internacional (APA, 2014).

Gestão de Resíduos Urbanos em Portugal

2.3.1. Enquadramento legal

A transposição de diretivas e normas comunitárias para direito nacional, fruto da entrada de Portugal na UE, marcaram positivamente a alteração do modelo organizacional de tratamento de RU. À luz da insuficiente gestão de resíduos, o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional decidiu olhar para o país como uma fonte de riqueza e através da implementação de

(23)

diretivas-quadro, DL e planos estratégicos para os RU, definir metas e estabelecer prioridades (Ministério do Ambiente, 2007).

Fazendo uma breve contextualização do quadro legal de gestão de resíduos, sabe-se que:

2.3.1.1. Contexto legislativo

 Com a publicação da primeira Lei-Quadro dos Resíduos (o DL nº 488/85, de 25 de novembro), o setor da gestão de RU em Portugal, considerado atrasado em relação aos demais Estados-membros da UE, definiu, planificou e priorizou a implementação de estratégias e responsabilidades que orientaram as atividades de normalização do setor (Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro);

 Consequência da evolução rápida do meio, o diploma anterior deu lugar ao DL nº310/95, de 20 de novembro, que surgiu de molde à delineação de programas nacionais e setoriais;

 O DL n.º 239/97, de 9 de setembro, reafirmou a base conceptual da antiga Lei-Quadro dos Resíduos, estabelecendo a aplicabilidade da hierarquia de operações de gestão e a elaboração dos planos anteriormente mencionados (um nacional e quatro setoriais);(Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro)

 O DL nº178/2006, de 5 de setembro, apontou a necessidade de elaboração de instrumentos municipais de gestão que assegurassem a concretização de diretrizes a um nível mais restrito e a imposição da obrigatoriedade de registo dos resíduos no SIRER (Sistema Integrado de Registo Eletrónico de Resíduos);

 A Diretiva nº2006/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de abril, enalteceu a proteção da saúde humana e do ambiente e apelou à implementação de medidas de autossuficiência das operações de valorização e eliminação dos resíduos;(Directiva 2006/12/CE Do Parlamento Europeu e Do Conselho, de 5 de Abril de 2006, relativa aos resíduos)

 A Diretiva nº2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro, reforçou a abordagem global do ciclo de vida dos produtos através da promoção da “conceção-ecológica” dos mesmos; (Directiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Novembro de 2008 , relativa aos resíduos e que revoga cert as directivas)

 O DL n.º 183/2009, de 10 de agosto, sobre o regime jurídico de disposição de resíduos em aterro, teve em foco a fixação de metas de redução da quantidade de Resíduos Urbanos Biodegradáveis (RUB) depositados em aterro;(Decreto-Lei n.º 183/2009, de 10 de agosto)

 O regime geral de gestão de resíduos foi extensivamente alterado pelo DL n.º 73/2011, de 17 de junho, que previu a regulação da gestão de resíduos, com a aprovação de programas que certificassem o cumprimento de metas até 2020 e o prolongamento dos resíduos na economia;

(24)

 A Decisão da Comissão 2014/955/EU, de 18 de dezembro, que vem alterar a Decisão 2000/532/CE, da Comissão, de 3 de maio, relativa ao LER, vem aplicar a obrigatoriedade de classificação dos resíduos de acordo com a sua origem e composição (LER), pelos Estados Membros a partir de a de junho de 2015.

 O âmbito da gestão integrada de resíduos de embalagens ficou unificado ao princípio de responsabilidade alargada do produtor estabelecido no DL n.º 152-D/2017, de 11 de Dezembro, com a renovação da licença da Sociedade Ponto Verde (SPV) e a concessão de duas novas – Novo Verde e Eletrão (antiga Amb3E – Associação Portuguesa de Gestão de Resíduos para Eletrão) – entidades gestores de resíduos de embalagens.(Decreto-Lei n.º 152-D/2017, de 11 de dezembro)

2.3.1.2. Contexto estratégico PERSU I

Em 1996, o Instituto de Resíduos publicou a primeira referência estratégica prática para a gestão integrada de resíduos em Portugal – Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU). Aprovado para um horizonte temporal de 10 anos (1997-2007), este plano despontou um novo patamar da qualidade ao acompanhar-se por uma onda de ações capazes de reestruturar e transformar o setor dos RU (Decreto-Lei n.º 310/95, de 20 de Novembro):

 Encerramento das lixeiras;

 Construção de infraestruturas adequadas à gestão de resíduos e à otimização dos sistemas de recolha de RU;

 Infraestruturação do setor dos RU, partindo da delineação de modelos institucionais de gestão: multimunicipais e intermunicipais ou municipais; A aposta na otimização de espaços e recursos, marcou o início do encerramento das 354 lixeiras ativas e em funcionamento e a criação de laços entre órgãos de poder local e regional. Como consequência desta revolução estrutural e institucional, foram criadas e requalificadas algumas unidades de deposição ilegal em estruturas adequadas à gestão dos resíduos, nomeadamente aterros, estações de transferência e unidades de valorização energética, orgânica e multimaterial (Ministério do Ambiente, 2007). Paralelamente foram definidos modelos institucionais de gestão que implementaram soluções de valorização e deposição sustentável dos resíduos, mediante a introdução de redes de ecopontos, ecocentros e sistemas de recolha Porta-a-Porta (PAP) (Ferreira, 2015).

(25)

À luz da conjuntura do setor, as ações aplicadas foram insuficientes para o cumprimento dos objetivos e metas a que o PERSU I se tinha proposto (figura 4), pois apesar do referido anteriormente, as metas de valorização previstas não foram alcançadas e a redução da quantidade de RU produzidos por habitante foi insuficiente, estando associada à diminuição do poder de compra desses mesmos anos (ERSAR, 2006).

Figura 4 - Comparação das metas definidas pelo PERSU I e a situação verificada nesse período de tempo (Fonte:(Ministério do Ambiente, 2007).

PERSU II

Em 2006 é aprovado pela Portaria nº 187/2007, de 12 de fevereiro, um novo plano estratégico, o PERSU II. Consubstanciando as orientações consignadas no PERSU I, foram estabelecidas para o período de 2007 a 2016 linhas de ação focadas na concretização dos níveis mais favoráveis da hierarquia de resíduos (reduzir, reutilizar e reciclar), na melhoria da validação da informação setorial de gestão e na reconfiguração da sustentabilidade dos sistemas de gestão de RU (APA, 2018a), (Ferreira, 2015).(Portaria n.º 187/2007, de 12 de Fevereiro)

Para a articulação destes pontos foram equacionados cinco eixos de atuação (Ferreira, 2015):

(26)

Afigura a redução da quantidade de resíduos produzidos e a perigosidade dos mesmos com a implementação de mecanismos que sustentam: a abordagem da Política Integrada do Produto (PIP); o maior investimento na Investigação e Desenvolvimento (I&D); a sensibilização dos produtores para a utilização de substâncias perigosas (Registration, Evaluation and Authorisation of Chemicals (REACH)); e a contabilização ambiental de substâncias futuramente convertíveis em resíduos.

 Eixo II: Sensibilização/mobilização dos cidadãos

Equaciona o acesso a informação mais completa e esclarecedora sobre a gestão dos RSU e apela à cooperação dos cidadãos/consumidores e dos cidadãos/agentes económicos em ações que viabilizassem o cumprimento do primeiro nível da figura 3.

 Eixo III: Qualificação e otimização da gestão de resíduos

Apresenta um conjunto de vetores que intervêm na reconfiguração e verticalização do quadro de operações e de custos dos fluxos de resíduos em todo o país, nomeadamente com a otimização dos Sistemas de Gestão e realização de estudos (I&D) e “experiências-piloto” para, uma maior abertura do mercado de gestão dos resíduos (Ministério do Ambiente, 2007).

 Eixo IV: Sistema de informação como pilar de gestão dos RSU

A disponibilização de informação em tempo útil e de fácil utilização foi concebida pelo Simplex (Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa), através de um sistema de informação online (SIRER).

 Eixo V: Qualificação e otimização da intervenção das entidades públicas no âmbito da gestão de RSU

Na sequência de ultrapassar questões inclusivas e exclusivas à gestão de resíduos, foram propostas medidas que conduzissem à celeridade e à simplificação dos procedimentos de licenciamento das estruturas de gestão de modo a que, com o aumento da fiscalização e da regulamentação, se salvaguarde os interesses das entidades gestoras.

Uma vez mais a aplicação de um plano estratégico ficou aquém das metas impostas, e uma revisão antecipada da legislação aplicada poderia ter resultado numa maior alteração de comportamentos e, consequentemente, em valores mais promissores (Ferreira, 2015).

(27)

Em virtude do posicionamento de Portugal face às metas comunitárias impostas em matéria dos RU, foi apresentado pelo governo e aprovado pela Portaria n.º 187-A/2014, de 17 de setembro, o novo plano estratégico do setor – o PERSU 2020. Revogando o documento anteriormente descrito, sintetizou:

Tabela 1 - Metas nacionais de gestão de RU para o PERSU 2020 (Fonte: adaptado de (APA, 2014);(APA, 2019b).

Para assegurar uma gestão que integra o ciclo de vida dos produtos e garante uma maior eficiência dos recursos naturais, o PERSU 2020 estipulou um posicionamento diferente dos Sistemas de Gestão dos Resíduos Urbanos (SGRU) face ao cumprimento de certas metas nacionais. Reconhecendo a relevância do desempenho de cada sistema de gestão, estas três metas individuais surgem na sequência de responsabilizar cada SGRU pelo esforço demonstrado na concretização dos objetivos propostos. Assim foram definidas a (APA, 2014):

 Preparação para reutilização e reciclagem;  Deposição de RUB em aterro;

 Retomas de materiais com origem em recolha seletiva.

Analisando o desempenho nacional para os anos de 2017 e 2018 face ao ano visado (tabela 2), podemos concluir que existe uma evolução global positiva ainda que insuficiente à aproximação dos valores pretendidos.

2016 2020

Prevenção de resíduos 456 kg/(hab.ano)

Diminuir a produção de resíduos por habitante em, pelo menos, 7,6% em peso face

ao valor verificado em 2012 (421 kg/(hab.ano))

Diminuir a produção de resíduos por habitante em, pelo menos, 10% em peso face

ao valor verificado em 2012 (410 kg/(hab.ano)) Preparação para reutilização e

reciclagem (nacional)* 25%

-Aumento mínimo global para 50% em peso Reciclagem de resíduos de

embalagens -

-Reciclagem de, no mínimo, 70% em peso dos resíduos urbanos

de embalagens Redução da deposição RUB em

aterro (nacional)* 62%

-Redução para 35% da quantidade total, em peso, dos

RUB produzidos em 1995 Designação Valor de referência

(2012)

Metas

(28)

Tabela 2 - Ponto de situação dos indicadores de desempenho nacionais (Fonte:(APA, 2019b);(APA, 2018b).

PERSU 2020+

A visão de uma maior articulação dos sistemas de gestão aos desafios que os RU representam, conduziu à aprovação pela Portaria nº241-B/2019, de 31 de julho, de um documento que reajustasse e reforçasse os pilares estratégicos do PERSU 2020 ao nível da produtividade das instalações existentes e do financiamento à construção de novas infraestruturas (PERSU 2020+). É projetado que, até 2025, se proceda à implementação de soluções e à execução de investimentos para efeitos de corrigir a presente trajetória. Para certos objetivos estão ainda estipuladas novas metas, ambicionando a sua concretização para anos posteriores. A tabela 3 compreende os objetivos mais importantes do PERSU 2020+. (Portaria n.º 241-B/2019, de 31 de julho)

Tabela 3 - Metas nacionais do PERSU 2020+ (Fonte:(APA, 2018a).

2025 2030 2035

55% 60% 65%

Total 65% 70%

-55% plásticos;

60% madeira; 75% madeira;

75% metais ferrosos 85% metais ferrosos (aço);

75% alumínio; 85% alumínio;

75% vidro; 85% vidro;

75% papel/cartão. 85% papel/cartão.

- no máximo 10%

-Deposição em aterro (para todos os resíduos)

Metas -Por material Preparação para reutilização e reciclagem de resíduos de embalagens Designação

Preparação para reutilização e reciclagem de resíduos urbanos

2017 2018

Prevenção de resíduos 456 kg/(hab.ano) 485 kg/(hab.ano) 507 kg/(hab.ano) 410 kg/(hab.ano)

Preparação para reutilização

e reciclagem (nacional)* 25% 38% 40% 50%

Reciclagem de resíduos de

embalagens - - - 70%

Redução da deposição RUB

em aterro (nacional)* 62% 43% 46% 35%

Retomas de recolha seletiva

(nacional)* 33 kg/(hab.ano) 40 kg/(hab.ano) 43 kg/(hab.ano) 47 kg/(hab.ano) * valor de referência e meta para 2020 imposta por SGRU está presente no Despacho n.º 3350/2015

Meta 2020 Resultado

Designação Valor de

(29)

Importa referir que existem outros documentos legais e planos precursores do PERSU 2020+, que visam, com a conjunção dos seus instrumentos, cumprir metas e caminhar para um futuro mais sustentável.

2.3.2. Regulação do Setor

No quadro institucional do setor dos resíduos, Portugal é composto por dois órgãos que desempenham um papel crucial na execução das estratégias nacionais de gestão de resíduos: a ERSAR e a Autoridade Nacional de Resíduos (ANR).

A ERSAR tem atribuições ampliadas no que respeita aos setores de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais urbanas e da gestão de RU. Esta entidade foi constituída em 2009, como resultado da restruturação do antigo Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR). Num regime de monopólio tem por objetivo avaliar a eficácia do serviço ao preservar os interesses dos seus utilizadores em termos da qualidade e custos associados (Decreto-Lei n.º 277/2009, de 2 de Outubro ).

Compete à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) enquanto ANR, acompanhar e monitorizar os procedimentos de licenciamento e execução dos princípios técnicos normativos e dos planos aplicáveis ao domínio das operações de gestão de resíduos. Ao mesmo tempo esforça-se pela aplicação de medidas que visam um tratamento mais eficiente aquando de desvios significativos dos objetivos inicialmente propostos (APA, 2014).

2.3.3. Organização dos sistemas de gestão de resíduos

A introdução de novas reformas em Portugal vigorou o desenvolvimento de regras que, numa lógica de sustentabilidade e de custo-benefício, definiram a alteração do modelo que envolvia tradicionalmente a recolha, o transporte e o destino final de resíduos. Dando lugar à normalização do setor, a indústria dos RU dividiu-se em dois segmentos distintos: serviço em “baixa” ou retalhista e serviço em “alta” ou grossista.

O serviço em “baixa” (mercado primário) compreende a recolha indiferenciada de RU, ou seja, de resíduos não exclusivos a tratamento. Este é um serviço bastante fragmentado e restringe-se fundamentalmente ao circuito intra-município. Ainda que as suas 259 entidades gestoras estejam a cargo das recolhas provenientes de habitações, uma pequena parte dá seguimento à recolha seletiva multimaterial (APA, 2018a).

Foi com a publicação do DL nº379/93, de 5 de novembro, que a estratégica de gestão em Portugal deixou de estar apenas associada ao municipalismo e, na sequência de dar resposta às exigências comunitárias, abriu caminho à implementação de um

(30)

regime jurídico que admitiu intervenção privada (Ministério do Ambiente, 2007). Esta nova organização criou um mercado incumbido pela realização de um serviço “em alta” (mercado secundário), responsável pelas operações de recolha seletiva e tratamento de RU.

Atualmente, os 23 SGRU (serviços em “alta”) que existem em Portugal categorizam-se em modelos institucionais (Ferreira, 2015):

 Intermunicipais ou Municipais – são aqueles cuja operacionalidade e gestão é efetuada pelos municípios, pela associação destes ou concessionada a qualquer empresa;

 Multimunicipais – servem no mínimo dois municípios e a sua criação é precedida por razões de interesse que exigem intervenção do Estado em função de capital nacional.

Na figura 5 é apresentado o mapa de Portugal Continental com a respetiva identificação dos 23 SGRU: 11 Intermunicipais e 12 Multimunicipais. Apesar de cobrirem a totalidade do país e de serem dotados de infraestruturas próprias para aumentar os quantitativos de reciclagem e o desvio de resíduos em aterro, mostram assimetrias: no número de municípios e na população abrangidos, nas condições socioeconómicas da população servida e no fluxo e infraestruturas dotadas para a sua gestão (APA, 2019b).

(31)

Figura 5 - Sistemas de Gestão de RU em Portugal Continental (Fonte:(APA, 2019b).

Relativamente aos resíduos de embalagens, Marques e Simões (2008) asseveram que o segmento que garante a retoma, recuperação e reciclagem de embalagens não reutilizáveis está inserido num mercado terciário.

São três as entidades que em Portugal regulam o fluxo de embalagens e resíduos de embalagens: a SPV, a Novo Verde e a Eletrão. Contribuindo para o cumprimento das obrigações legais e ambientais, bem como para a obtenção de um potencial de sustentabilidade que preza pela reciclagem e pelo FER, são responsáveis por um circuito de gestão denominado Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE) (APA, 2019a).

O sucesso do SIGRE, ou do Sistema Ponto Verde, é conseguido pela articulação de vários parceiros (figura 6): aqueles que colocam as embalagens no mercado (importadores e embaladores) e que o consumidor compra e separa por fluxo, até às

(32)

autoridades locais ou SGRU que procedem à sua recolha e triagem, respetivamente; ao disponibilizarem estes resíduos à SPV ou a uma das outras entidades, possibilitam a valorização e a reciclagem por parte de um operador, finalizando a última etapa do SIGRE (SPV, 2019).

Figura 6 - Esquema representativa do ciclo do fluxo material e monetário dos sistemas de gestão de resíduos de embalagens (Fonte: adaptado de Rubio et al., 2019 e(SPV, 2019). (Rubio, Ramos, Leitão, & Barbosa-Povoa, 2019)

A SPV, a Novo Verde e a Eletrão, por prestarem um serviço de revenda e de recuperação de embalagens e resíduos de embalagens, recebem uma contribuição financeira (ECO-VALOR) (Rubio et al., 2019), enquanto os operadores de triagem, um Valor

Este financiamento era exclusivo a todos os resíduos de embalagens com o símbolo “Ponto Verde” e servia como marca de responsabilidade ambiental do produtor pela sua contribuição para a reciclagem e não como um indicador de embalagem reciclada ou reciclável. Porém, com a entrada em vigor do o Decreto-Lei nº 152-D/2017, de 11 de dezembro, referente ao regime da gestão de fluxos específicos de resíduos sujeitos ao princípio da responsabilidade alargada do produtor, a partir de 1 de janeiro de 2019 deixou de existir a obrigatoriedade de marcação de embalagens primárias.(Decreto-Lei n.º 152-D/2017, de 11 de dezembro)

(33)

2.3.4. Dados sobre os Resíduos Urbanos: produção e destino

Analisando a figura 7, podemos assumir que desde 2010 existe uma tendência de variação nos padrões de consumo em Portugal Continental. Admite-se que no período 2009-2013, os sinais de decréscimo da produção total de RU (15%) deveram-se à recessão económica enfrentada pelo país e à aposta em políticas ambientais direcionadas à prevenção. Uma inversão desta tendência entre 2013-2018, equivalente a um aumento de aproximadamente 14% da produção de RU, poderá indicar resultados opostos aos esperados com a implementação das estratégias comunitárias e nacionais (APA, 2019b).

Figura 7 - Gráfico com a evolução da produção e da capitação anual de RU em Portugal Continental (Fonte:(APA,

2019b).

O posicionamento de Portugal em relação aos demais países do mundo, em especial aos da UE, está representado na figura 8 (destacado a amarelo).

Verifica-se que Portugal está bem posicionado face aos países europeus (16º lugar) e relativamente à média europeia, no entanto, os 16 kg de diferença em relação a esta meta ou os 328 kg que tem abaixo da Dinamarca, não deixam de demonstrar que parte das políticas deveriam ser mais direcionadas para a população e os seus hábitos de consumo. Ressalva-se que se um país está em primeiro ou último lugar, como é exemplo a Dinamarca e a Sérvia, respetivamente, não significa que seja o que tem maior produção de resíduos. A variabilidade populacional, o estilo de vida adotado pelos cidadãos ou até os recursos económicos das regiões são diferentes (Bugge et al., 2019) e variam “significativamente de um município para outro e de país para país” (Abdel-Shafy & Mansour, 2018).

(34)

Figura 8 – Taxa de Capitação da União Europeia em 2017 (kg/hab.) (Fonte: elaborado com base em dados da(Eurostat, 2019).

Relativamente ao encaminhamento final dos resíduos (figura 9) podemos concluir que um terço dos RU têm o aterro como principal destino de deposição (direto) (APA, 2019b). Embora os dados apontem para uma evolução positiva, esta não considera a fração não valorizável que é depositada em aterro, ou seja, não contabiliza os refugos e os rejeitados dos processos de tratamento (destino final (direto + indireto) = 58%).

Fruto dos esforços e dos investimentos dos SGRU, tem-se registado um ligeiro incremento dos resíduos indiferenciados ou equiparados a estes que são enviados para unidades de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB) e Tratamento Mecânico (TM). Contudo, estas ações podem ser insuficientes e necessitar de novos planos focados nestes problemas, uma vez que a percentagem de deposição de RUB em aterro continua a 11% da meta para 2020 (tabela 2).

Mesmo que as infraestruturas de fim de linha devam ser evitadas, elas servem de apoio a situações de paragem de equipamentos ou de impossibilidade de utilização de unidades de valorização energética. Segundo o Relatório Anual de Resíduos Urbanos (RARU) de 2018 da APA, prevê-se que parte desse financiamento esteja refém

(35)

não só de unidades de TMB como também da construção de novos aterros ou ampliação dos 32 já existentes.

(36)

3. Gestão da Qualidade

Sistema de Gestão da Qualidade

3.1.1. Qualidade

A qualidade é o termo aplicado para expressar o grau de satisfação que um produto e serviço proporciona ao consumidor, durante o seu uso. A qualidade não é o produto em si, mas a propriedade ou o atributo que atende a um requisito mínimo de um padrão de desempenho específico e declarado a partir de um conjunto de caraterísticas (caraterísticas funcionais e caraterísticas técnicas) (Hanaysha & Abdghani, 2016).

Diversos especialistas/gurus foram ao longo dos anos referindo que a “Qualidade é a conformidade com requisitos “, “(…) é livre de deficiências”, “(…) é evitar perdas”, a abordagem que contabiliza as fases dos processos de “marketing, engenharia, fabrico e conceção” (Ackaradejruangsri, 2012). Em suma, a qualidade é tudo aquilo que expressa em termos de funções, as necessidades e expectativas de um segmento de mercado. Deve ser alcançada, enfatizada e incluir o planeamento, o controlo e a melhoria contínua, segundo um sistema que providencie recursos que motivem a procura de problemas e o desenvolvimento de soluções que revertam em ganhos. Não deve transmitir elegância, mas um padrão cujo desempenho permite fazer bem à primeira (Zero Defeitos), segundo o paradigma de que a qualidade e o custo são uma soma, não uma diferença.

Dizer que existe uma definição universal e completamente correta para este termo seria errado (Ackaradejruangsri, 2012), pois a perceção da qualidade varia do consumidor ao produtor e a sua correta definição é aquela que se adapta a cada caso concreto.

3.1.2. Norma ISO 9001:2015

A ISO 9001:2015 (International Organization for Standardization) é um documento de referência que não contendo requisitos endereçados para nenhum setor em particular, visa melhorar o desempenho global das organizações ao proporcionar uma base sólida de iniciativas e regras que dão continuidade às exigências de qualidade das partes interessadas.

No quadro do alinhamento com outras normas, a ISO 9001:2015 cancela e substitui alguns conceitos e secções da 4ª edição da ISO 9001 (ISO 9001:2008), mas mantém uma forte ênfase na Abordagem por Processos, a qual envolve a compreensão

(37)

de que todas as atividades são geridas por processos que se inter-relacionam e funcionam como um sistema coerente. Ordenados com o foco da organização, o seu resultado varia em função dos riscos, ou seja, em garantir que cada processo recebe a entrada necessária e entrega a saída esperada (figura 10).

Figura 10 - Principais elementos de um processo simples (Fonte:(ISO, 2015).

Através da abordagem por processos, esta norma acaba por funcionar como um modelo que planeia e tira vantagem das oportunidades dos seus processos produtivos. A procura de excelência de um produto exige uma filosofia comum a todos os colaboradores de uma organização em que, com a criação de uma cultura proactiva onde a ideia de qualidade está assente em todos os níveis e unidades, a gestão de topo garante a diminuição dos desvios e a reposição dos processos nas condições desejadas.

Ao ser gerida desta maneira, acaba por incorporar uma metodologia científica que utiliza a iteração como um fundamento que auxilia a execução estratégica e a melhoria contínua de uma organização, o Ciclo PDCA ou Ciclo de Deming1.

Com o intuito de simplificar os processos de gestão, este ciclo divide-se em quatro etapas: aquela que consoante as metas almejadas, estabelece os objetivos e os processos do sistema (Plan); após implementação (Do), avalia e compara a eficácia dos mesmos com as especificações desejadas (Check); e por fim emprega ações corretivas para aprimorar o plano traçado (Act) (figura 11).

1 William Edwards Deming (1900-1993) é um dos principais nomes associados ao desenvolvimento da cultura da Qualidade. Desafiou um modelo que acrescentava custos e que afetava negativamente a produtividade (Modelo Tradicional da Qualidade) e propôs uma abordagem orientada para a melhoria de processos, segundo o conhecimento do negócio e do poder de satisfação dos envolvidos na organização (Os 14 Princípios de Deming para a Transformação).

(38)

Figura 11 - Ciclo PDCA (Fonte:(ISO, 2015).

O pensamento baseado no risco é algo que se faz espontaneamente e continuamente ao longo de todos os processos de gestão. Embora o conceito de risco tenha estado presente nas normas anteriores, a ISO 9001:2015 torna-o transversal a todo o sistema de gestão. A “prevenção” passa a ser tratada como uma cláusula integral e inerente do planeamento estratégico e operacional, através do qual, com o empreendimento de ações preventivas, se diminui a recorrência de efeitos de não conformidade e a probabilidade de atingir os objetivos propostos é melhorada.

A melhor forma de tratar o risco é evitá-lo ou considerá-lo como uma oportunidade. No entanto, todas as oportunidades têm riscos associados, mas isso não significa que todos os efeitos positivos de um risco se traduzam em oportunidades.

A implementação de um SGQ não visa substituir a legislação vigente. Em linhas gerais, pretende adotar as regras e os princípios da ISO 9001:2015 (foco no cliente, liderança, comprometimento das pessoas, abordagem por processos de melhoria, tomada de decisões baseada em evidências e na gestão de relações) e formalizar um grau de rigor e de confiança na tomada de decisões e na execução de tarefas. Embora condicionadas pela mudança e pela demanda do segmento do mercado, as diretrizes desta norma estimulam a construção de uma política organizacional aberta à inovação, à reorganização e à mudança disruptiva.

(39)

Sistema de Gestão da Qualidade e Ambiente

Num ambiente cada vez mais dinâmico e complexo, os sistemas de gestão são os canais de resposta e de interpretação dos problemas estruturais e de planeamento da política e da cultura de uma organização. Cientes de que a sua posição competitiva está comprometida sem um, muitas organizações vêm na integração de vários sistemas a abordagem que formaliza e que permite que todos os componentes e processos de uma organização permaneçam transparentes. Pretendendo ser mais do que uma ferramenta de marketing, os Sistemas Integrados de Gestão (SIG) permitem integrar vários processos já implementados, tanto em termos de qualidade, como meio ambiente, energia, entre outros (Maier et al., 2015). (Maier, Vadastreanu, Keppler, Eidenmuller, & Maier, 2015).

O Sistema Integrado de Gestão de Qualidade e Ambiente (SIQA) é um desafio máximo para muitas organizações e um exemplo da combinação dos modelos de gestão das normas ISO 9001 e ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental).

Tendo como referência a norma do SGQ, a norma ISO 14001 é uma ferramenta orientada para gerir de forma eficiente e sistemática os aspetos ambientais. Com diferenças óbvias no foco, objetivos e campos de aplicação, a semelhança na escrita e estrutura de alto nível, bem como compatibilidade nos princípios subjacentes à melhoria contínua (Ciclo PDCA), potenciam com esta união, entre outras coisas o(a) (Marimon Viadiu et al., 2006): (Marimon Viadiu, Casadesús Fa, & Heras Saizarbitoria, 2006):

 melhoria do desempenho ambiental para com os stakeholders;  quebra de barreiras comerciais;

 cumprimento das obrigações de conformidade;

 eficiência operacional perante o envolvimento de todos os colaboradores, independentemente das funções desempenhadas;

 redução de custos, riscos e tempo.

Todavia, integrar um sistema não é combinar processos, mas antes gerir um mecanismo de defesa que, com a flexibilidade e a adaptabilidade oferecidas, dá continuidade à política, ao planeamento, à operação e às ações de um mercado cada vez mais globalizado (Maier et al., 2015).

Integração da Gestão da Qualidade na Gestão de

Resíduos Urbanos

O setor do RU compreende métodos e habilidades práticas que, em conjunto com ferramentas de gestão da qualidade, priorizam os interesses dos

(40)

utilizadores/cidadãos ao garantirem uma boa adequabilidade do serviço prestado e ao contribuírem para o cumprimento de legislação cada vez mais restritiva.

Visto que a otimização de processos e a criação de valor permanecem dependentes da maturidade, da inovação e do conhecimento crítico da entidade de gestão, são várias as alternativas que potenciam benefícios na qualidade deste serviço, entre as quais, as mais relevantes, serão descritas a seguir.

3.3.1. Sunshine Regulation

A ERSAR tem implementado um sistema composto por indicadores de desempenho (Sunshine Regulation) que avaliam a efetividade e a adequabilidade das atividades realizadas planeadas e dos resultados atingidos por cada entidade multimunicipal e municipal. Num regime de comparação regular (benchmarking) com entidades em posições semelhantes, este método fornece uma visão tendenciosa da realidade e da transparência do serviço, segundo a distribuição de 16 KPIs (Key Performance Indicators) por três níveis distintos (ERSAR, 2020):

 Social – referente à acessibilidade e à qualidade do serviço fornecido;  Económico – inclui a avaliação das medidas básicas tomadas, segundo

critérios de produtividade física e de sustentabilidade económica e infraestrutural do serviço;

 Ambiental – traduz o nível de salvaguarda dos aspetos ambientais tendo em conta as atividades da entidade gestora.

Como disposto na tabela 4, alguns dos indicadores de qualidade estão limitados ao perfil das entidades gestoras, porém no seu conjunto espelham os aspetos mais relevantes do sistema.

Tabela 4 - Indicadores de qualidade do serviço de gestão de RU (Fonte:(Marques & Simões, 2008);(ERSAR, 2020).

Sistema em Alta Sistema em Baixa

Qualidade do serviço prestado aos utilizadores

RU04 – Lavagem de contentores (-) RU05 – Resposta a reclamações e sugestões (%)

Adequação da interface com os

utilizadores

RU03 – Acessibilidade económica do serviço (%) Indicadores

Objetivos

Acessibilidade do serviço aos utilizadores

RU01 – Acessibilidade física do serviço (%) RU02 – Acessibilidade do serviço de recolha seletiva (%)

(41)

Levando ainda em consideração informação de apoio à interpretação dos resultados, referente à entidade gestora, ao sistema, a dados de suporte e a outros fatores de contexto, no final há a emissão de um relatório com classificações qualitativas (boa, mediana, insatisfatória) e comentários aos indicadores avaliados (Marques & Simões, 2008).

3.3.2. Lean Management e Six Sigma

O Lean Management (LM) e o Six Sigma são duas filosofias que adotam abordagens diferentes para um objetivo comum: eliminar e/ou reduzir o desperdício para níveis mínimos e criar um sistema o mais eficiente possível. Alinhados com as estratégias de negócio e as atividades que acrescentam valor aos produtos e serviços exigidos, ambos auxiliam detalhadamente diversas operações de gestão (Setter & Certification, 2018).

Lean Management

O LM é definido por Piotr (2015) como uma filosofia ou mesmo um sistema de gestão que incrementa a coordenação e a flexibilidade das operações de uma organização, segundo a inserção de princípios que Melovic et al. (2016) reconhecem ser fundamentais para a criação de um fluxo de valor contínuo, nomeadamente (Jedynak, 2015):

RU08 – Reciclagem de resíduos de recolha

indiferenciada (%)

-RU09 – Valorização de resíduos por TMB (%)

-RU10 – Capacidade de encaixe de aterro

disponível (meses)

-- RU12 – Rentabilização do parque de viaturas

[kg/(m . ano)]

RU14 – Utilização de recursos energéticos (kWh/t)

RU14 – Utilização de recursos energéticos (tep*/1000 t)

RU15 – Qualidade dos lixiviados após

tratamento (%)

-- RU17 – Emissão de gases com efeito de estufa

da recolha indiferenciada (kg CO /t)

*tep - tonel a da equi va l ente de petról eo

Sustentabilidade económica

Sustentabilidade ambiental

RU07 – Reciclagem de resíduos de recolha seletiva (%)

RU11 – Renovação do parque de viaturas (km/viatura)

Produtividade física dos recursos humanos

RU13 – Adequação dos recursos humanos (n.º/1000 t)

Sustentabilidade da gestão do

serviço

Eficiência na utilização de recursos ambientais Sustentabilidade infraestrutural

RU06 – Cobertura dos gastos (%)

Eficiência na prevenção da poluição

(42)

 Valor – Identificar o produto e serviço que realmente importa para as partes interessadas;

 Cadeia de Valor – Sequenciar as operações que acrescentam valor ao processo (planeamento – conceção – comercialização), gerindo a cadeia de valor como um todo;

 Fluxo – Sincronizar todas as atividades de um processo, garantindo que o valor flui ao longo de toda a cadeia, evitando barreiras (interrupções no caminho);

 Sistema Pull – Iniciar um processo sempre que necessário;

 Perfeição – Procurar a perfeição à medida que se inicia um processo, através de melhorias incrementais ou de mudanças radicais.

Objetivando eliminar e/ou reduzir o desperdício para níveis mínimos e criar valor às partes interessadas, o modelo LM motiva a uma mudança no paradigma das etapas ao fornecer apenas o necessário e quando necessário (Just-in-Time). Especifica que a otimização de processos e a redução de perdas ocorre em diferentes fases do processo de trabalho (no transporte de materiais e recursos, no inventário, no tempo de espera, no sobreprocessamento, na sobreprodução, na movimentação interna e nos defeitos) (Melovic et al., 2016), desde que sejam implementados instrumentos como respostas temporárias para esses problemas ou mudanças (figura 12). (Melovic, Mitrovic, Zhuravlev, & Braila, 2016)

Referências

Documentos relacionados

No capítulo 1 são clarificados conceitos-chave essenciais à contextualização do estudo efectuado, destacando autores como Conceição Lopes, John Thompson, Mcluhan, Sara Pereira e

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

exercício profissional. Relativamente a Pediatria, apesar da maioria das patologias que observei terem sido do foro reumatológico, penso que o meu contacto com esta

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

Que objetiva produzir ou gerar novos significados durante a interação discursiva.. Assim, do nosso ponto de vista, relacionar algumas características dos programas de pesquisa