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Introdução à Teoria da Imagem

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Academic year: 2021

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Introdução à Teoria da Imagem 

 

Definição do Conceito de Imagem 

O conceito de imagem, parecendo à uma primeira abordagem de simples definição revela­se, após um  estudo mais aprofundado, como de difícil precisão. Desde os primórdios da história do conhecimento  que filósofos e pensadores se debruçam sobre a complexa relação que une imagem e realidade, bem  como sobre as respectivas definições. Já no livro sexto da República Platão se debruça sobre o  problema, definindo imagem como “... primeiramente [as] sombras depois [os] reflexos que se vêem  nas águas ou na superfície dos corpos opacos, polidos e brilhantes, e a todas as representações  semelhantes”  Mais tarde, a retórica medieval define imagem como “aliquid stat pro aliquo” algo que  está em lugar de uma outra coisa, apontando já para algo que pode ser fabricado. No entanto,  qualquer que sejam as posições teóricas adoptadas, parece incontornável que se entende por imagem  algo utilizado para representar uma outra coisa, na sua ausência, existindo em qualquer imagem três  dados incontornáveis: uma selecção da  realidade (que em casos­limite pode passar  por excluir  qualquer representação da realidade – veja­se a pintura não­figurativa), uma selacção de elementos  representativos, uma estruturação interna que organiza os referidos elementos. Da relação complexa  que une imagem e realidade lhe advêm o seu carácter quase mágico que lhe permite simultanemanete  represemtar um objecto e sua ausência, e que a leva a ser encarada –sobretudo quando o objecto sobre  o qual se debruça é a representação humana – com notáveis reticências pela grande maioria das  religiões. De um ponto de vista pedagógico, também durante longo tempo foi a imagem alvo de  grande desconfiança pois, “se é imprópria para produzir argumentação, a imagem é porém notável  para intensificar o ethos e o pathos.”

A Classificação das Imagens 

A classificação das imagens, sem a qual nenhuma operação de análise pode ser efectuada, pode ser  feita a partir de diversas perspectivas.. A primeira grande divisão estabelece­se precisamente entre  imagens naturais – entendendo com tais as que são produzidas sem intervenção humana (os reflexos e  sombras de que fala Platão) –e imagens articiais ou fabricadas – as que exigem essa intervenção para  que possam surgir. Deixando de parte todas as imagens naturais, por mais interessante que o seu  estudo se possa revelar, ocupar­nos­emos aqui apenas das imagens fabricadas. No que respeita às  imagens fabricadas cinco grandes oposições podem ser estabelecidas ab initio: 1. no que respeita à sua materialidade estabelece­se uma primeira distinção entre imagens  materiais (um quadro, uma fotografia ou uma estátua) e não­materiais (uma iamgem mental  ou uma projecção holográfica)  2. no que respeita à sua espacialidade pode estabelecer­se uma distinção entre imagens bi­ dimensionais e imagens tri­dimensionais;  3. no que concerne à temporalidade das imagens é necessário proceder a uma separação entre  imagens estáticas e imagens móveis 

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4. no que à sua intenção sémica concerne a distinção efectuar­se­á entre imagens representativas  e não­representativas;  5. finalmente, no atinente às suas condições de produção a oposição estabelece­se entre imagens  produzidas por meios mecânicos e imagens produzidas por meios humanos  Durante largo tempo foi crença comum que a presença de certos parâmetros invalidava alguns outros  (p. e.; que era impossível produzir imagens tri­dimensionais móveis), mas os modernos avanços das  técnicas demonstram que para uma completa análise do objecto visual é necessário analisar em  simultâneo   os   quatro   parâmetros   acima   mencionados   embora,   por   comodidade,   se   limite  frequentemente a análise a apenas um ou dois dentre eles, consoante os interessses específicos do  analista. Tal processo, se bem que frequentemente justificável de um ponto de vista pragmático, não  deixa de apresentar, de um ponto de vista teórico, as desvantagens da imcompletude. 

Análise da Imagem Fixa 

Os modernos teóricos do estudo da imagem costumam, conforme a escola teórica em que se situam,  abordar a imagem a partir de dois pontos de vista distintos: um a que se pode chamar textual, de  tradição  essencialmente  americana,  entende  a   imagem  como  um   texto,   possuidor   das   mesmas  características da produção linguística, tratando então o estudo da imagem de descobrir os seus  “constituintes mínimos”, os equivalentes pictóricos dos componentes gramaticais da frase: Típico  desta escola, é a abordagem que postula que qualquer imagem pode ser analisada através de um  conjunto de treze elementos fundamentais distribuidos por três categorias “gramaticais”: os elementos  morfológicos (ponto, linha, plano, textura, cor e forma), os elemntos dinâmnicos (movimento, tensão  e ritmo) e os elementos escalares (dimensão, formato escala e proporção), cuja análise detalhada não  cabe numa exposição deste tipo; um outro ponte de vista, a que habitualmente se designa como  semiótico,  mais  habitualmente  ligado  à  tradição  europeia, considera a  imagem  enquanto  signo,  tratando a sua análise de descobrir as suas relações quer com o “objecto” que representa quer com os  outros sistemas de signos utilizados em sociedade, radicando aí as razões da sua significação. O  método típico desta segunda escola consiste em tentar estabelecer um paralelo entre dois tipos de  planoss – por um lado entre o plano de expressão da imagem (o que ela mostra) e o seu plano de  contéudo ( o que ela significa), ­ por outro entre o plano do significante (a realidade exterior a que ela  faz referência) e o plano do significado (o conteúdo material da imagem).  Dito de outra forma, existira um paralelismo entre o contéudo físico da imagem e o seu significado e  entre esse mesmo contéudo físico e a sua semelhança/diferença com a realidade exterior para que  remete. Independentemente do ponto de vista adoptado, a análise de uma imagem deverá ter em vista  diversos pontos distintos entre os quais os seguintes – mencionados sem qualquer preocupação de  hieraquização – são essenciais:  1. a sua materialidade e dimensionalidade (bi ou tri­dimensional, natural ou criada, real ou  virtual, ...);  2. o seu processo de elaboração – onde se tem em conta as “ferramentas” utilizadas para elaborar  a imagem em questão (humana, mecânica, informática....);  3. a matéria da expressão – que leva em linha de conta a organização interna da imagem  (contrastes, semelhanças, cores, linhas, efeitos de escala, ...); 

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4. as chamadas funções icónicas que se entendem como as relações tecidas entre a imagem e o  seu objecto de representação, distinguindo­se aqui três tipos básicos de relação –  representativa (quando a iamgem se pretende uma cópia, o mais fiel possível, da realidade que  representa), simbólica (quando existe uma transferência de uma imagem para um significado  abstracto – a pomba da paz, por exemplo) e convencional (quando a relação entre a imagem e  aquilo que representa se radica apenas numa convenção social). Numa imagem podem estar  simultanemente presentes mais que uma das funções mencionadas, pelo que mais que falar do  tipo ou função da imagem é preferível refrirmo­nos à sua função icónica dominante; e) o nível  de realidade da imagem, onde se analisa a semelhança/diferença entre a imagem e aquilo que  representa. Justo Villefane apresenta uma escala de 11 graus, a que chama graus de iconidade,  que descrevem as sucessivas relações de semelhança entre a imagem natural (que estabelece  uma relação de identidade consigo prória) e a imagem não­representativa (que não representa,  como o seu nome indica qualquer realidade exterior). A escala proposta por Villefane, da qual  a seguir se apresenta uma versão simplificada, constitui uma excelente base de trabalho,  pecando por, para uma abordagem não­profissional ser deamsiado complexa: 

Grau Nível de Realidade Função

  Imagem Natural Reconhecimento   Modelo tridimensional à escala Imagens Estereoscópicas e Hologramas  Fotografia colorida Fotografia a Preto e Branco Descrição   Pintura Realista  Representação Figurativa Não­Realista Artística   Pictogramas Esquemas Sinais Arbitrários Informação   Representação Não­Figurativa Especulação 5. critérios de aceitabilidade, que se prendem com as convenções de género (fotografia, quadro,  caricatura ....);  6. critérios de adequação que estão relacionados com as competências (previstas) do espectador  (grau de cultura, faixa etária, situação de observação ...);  notemos que estes níveis de análise não se excluem mutuamente antes se interpenetarm para uma  compreensão o mais perfeita possível do funcionamento da imagem. Diga­se a terminar, provisoriamente, que os elementos acima referidos não servem apenas enquanto  discodificadores académicos de imagens propostas, mas devem antes ser uma base de reflexão da  qual partir ao elaborar imagens, mormente quando elas têm uma finalidade tão definida quanto a  didáctica e um público tão difícil e particular como o que é constituído por crianças de idades  compreendidas entre os 6 os 10 anos. Notas 1)Platão – A República, Lisboa, Europa­América, s.d., p. 225 

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2)Reboul, Olivier (1991) – Introdução à Retórica, São Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 83  3) Para uma análise deste tipo mais completa, por exemplo, Villefane, Justo – Introduccíon a la  Teoria da la Imagem, Madrid, Piramide, 1988 4) Pode encontrar­se uma aboragem deste tipo em: Joly, Martine (1994) – Introdução à Análise da  Imagem, Lisboa, Ed. 70, 1999  5) Ver a escala completa em anexo . 

Anexo 1

Escala de iconicidade de Villefane

Grau Nível de Realidade Critério Exemplo 1 Imagem natural Restabelece todas as  propriedade do objecto.  Identidade Qualquer percepção  “natural” da realidade   Modelo  tridimensional à  escala Restabelece todas as  propriedades do objecto.  Identificação mas não  identidade Estatuária naturalista.  “Kits”   Imagens  estereoscópicas Restabelecem as formas  e dimensõesdos objectos  emissores de raediações  presentes no espaço Hologramas   Fotografia colorida O grau de definição da  imagem está equiparado  ao poder de resolução de  um olho médio Fotografia de  Reportagem   Fotografia a preto e branco O grau de definição da  imagem está equiparado  ao poder de resolução de  um olho médio Fotografia de  Reportagem 6 Pintura realista Restabelece  razoavelemente as  relações espaciais num  espaço bidimensiona Las Meninas de  Velasquez 7 Representação  figurativa não  realista Ainda se produz  identificação mas as  relações espaciais estão  Guernica de Picasso  Caricaturas

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alteradas 8 Pictogramas Todas as características  sensíveis, excepto a  forma estão alteradas Silhuetas 9 Esquemas motivados Abstração de todas as  caracteristicas sensíveis.  Apenas se restabelecem  as relações orgânicas. Organigramas. Planos 10 Sinais arbitrários Não representam  características sensíveis.  As relações de  dependência entre os  elementos não seguem  nenhum critério  “natural” Sinais de trânsito 11 Representação não figurativa Fazem abstração de todas  as qualidades sensíveis e  relacionais uma obra de Miró

Bibliografia Básica 

Alonso, Manuel e Matilla, Luis (1990) — Imágines en Movimiento, Madrid Akal, 1997 Aparici, Roberto y Garcia—Matilla, Agustin — Lectura de Imágines, Madrid, de la Torre,  1989  • Aristarco, Guido e Teresa (eds) — O Novo Mundo das Imagens Electrónica, Lisboa, Ed. 70,  1990  • Barlow, Horace et al. — Images and Understanding, Cambridge, CUP, 1990 Aumont, Jacques — L'image, Paris, Ferdinand Nathan, 1990Daucher, Hans (1967) — Visión artística y Visión Racionalizada, Barcelona, Gustavo Gili,  1978  • Gombrich, E. H. – The Uses of Images, London, Phaidon, 2000 Groupe  — Traité du Signe Visuel, Pour une Rhétorique de l'Image, Paris, Seuil, 1992 I Ramió, Joaquim Romaguera —El Lenguaje Cinematográfico, Madrid, de la Torre, 1991 Jiménez, Jesús Garcia —Narrativa Audiovisual, Madrid, Catedra, 1996 Joly, Martine (1994) —Introdução à Análise da Imagem, Lisboa, Ed 70, 1999 Martin, Marcel — Le Langage Cinématographique, Paris, Cerf, 1985 Panofsky, Erwin (1955) – Meaning in the Visual Arts, London, Penguin, 1995 Sousa, Rocha de — Ver e Tornar Visível, Lisboa, Universidade Aberta, 1992 St. John Marner, Terence — A Realização Cinematográfica, Lisboa, Ed. 70, sd Vilches, Lorenzo — Lectura de la Imagén, Prensa, Cine, Televisíon, Barcelona, Paidós, 1992 Villefane, Justo – Introduccíon a la Teoria da la Imagem, Madrid, Piramide, 1988 

Referências

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