• Nenhum resultado encontrado

Palavras-Chave: CPCs, IFRS, Índice de Comparabilidade, Lei

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Palavras-Chave: CPCs, IFRS, Índice de Comparabilidade, Lei"

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

Análise dos Impactos dos CPCs da Primeira Fase de Transição para o IFRS nas Empresas Abertas: um Exame Censitário dos Ajustes ao Resultado nas DFPs de 2008

Autoria: Edilene Santana Santos RESUMO

No contexto da harmonização internacional da contabilidade brasileira, a partir da Lei 11.638/07, este trabalho tem como objetivo mensurar e analisar o impacto de cada nova norma (CPCs 1 a 14) da primeira fase de transição para o IFRS (International Financial

Reporting Standard) nos resultados das empresas abertas. Os dados foram coletados de todas

as DFPs (Demonstrações Financeiras Padronizadas) de 2008 disponibilizadas até 10/04/2009 pelas empresas listadas na Bovespa (exceto instituições financeiras), totalizando 318 empresas. Destas, foram analisadas todas as empresas que publicaram nas Notas Explicativas das DFPs de 2008 a tabela de reconciliação do efeito da nova Lei no Lucro e Patrimônio Líquido de pelo menos um exercício (2007 e/ou 2008), totalizando 175 empresas. Para mensurar o efeito de cada categoria de ajuste aos resultados, foi utilizado o inverso do “Índice de Comparabilidade Parcial” (WEETMAN et al., 1998), no quadro teórico dos valores contábeis e do “Indice de Conservadorismo” de Gray (1980, 1988), que tem fundamentado outros estudos sobre a convergência para o IFRS na Europa (CORDAZZO, 2008; BECKMAN et al., 2007; e O’CONNELL & SULLIVAN, 2008; e outros) e no Brasil (SANTOS, 2009; e DOUPNIK & RICCIO, 2006; e outros). Dentro da abordagem censitária deste estudo, a análise utiliza métricas de estatística descritiva. Entretanto, para possível extrapolação dos resultados para além das empresas que reportaram determinado ajuste, foram também realizados testes de média (t-Student) e de mediana (teste de Wilcoxon). Dentre as normas que geraram aumentos mais expressivos no lucro das empresas, destacaram-se: a exclusão dos custos de transação e prêmios na emissão de títulos na apuração do resultado, o que em média triplicou o resultado de 2007 das empresas que o registraram; a inclusão dos incentivos fiscais no lucro, com aumento médio de 24% nos lucros de 2007 e de 21% em 2008; a inclusão do conceito de arrendamento mercantil financeiro e a proibição da reavaliação de ativos, ambos com aumento médio de 19% nos lucros de 2007. Dentre as normas que mais contribuíram para a redução do lucro, destacaram-se: a redução ao valor recuperável de ativos, que gerou um impacto negativo médio de 260% no resultado das empresas que o registraram em 2008; a extinção da capitalização de despesas, com redução média de 130% nos lucros de 2008 e de 40% em 2007. Em dois casos – extinção da capitalização de despesas e proibição da reavaliação de ativos – a nova norma, ao coibir exageros de práticas anteriores, corre o risco de se afastar da representação do valor econômico real de ativos e resultados. Em particular, a proibição da reavaliação de ativos atua em sentido expressamente contrário ao critério do IFRS, levantando a questão de se o combate ao gerenciamento de resultados seria mais eficaz via uma regulação formal, na linha tradicional brasileira, ou via melhorias no monitoramento do julgamento contábil da realidade, na linha do padrão internacional. Entretanto, no tratamento dos demais ajustes, as novas normas expressam a primazia da essência sobre a forma no julgamento da realidade econômica da empresa, dentro dos objetivos do IFRS.

(2)

1 – INTRODUÇÃO

O processo de harmonização com o padrão IFRS (International Financial Reporting

Standard) a partir da Lei 11.638/07 vem atraindo a atenção de reguladores, pesquisadores,

agentes do mercado e demais usuários da informação contábil. De fato, a convergência para o padrão internacional representa uma profunda transformação na contabilidade brasileira, da tradicional ênfase no formalismo das informações, mais voltadas ao fisco, para priorizar a essência sobre a forma, estimulando o julgamento contábil para a melhor expressão da realidade econômica da empresa, com vista ao mercado investidor.

Com a nova Lei, o início harmionização internacional imediatamente despertou as expectativas dos agentes econômicos e da imprensa especializada, tanto sobre as alterações normativas em si, como sobre os efeitos das novas normas nos relatórios financeiros, bem como sobre mudanças na atuação e perfil dos profissionais da contabilidade (ver, por ex., NIERO, 2008 e LIPPI, 2009).

Essas expectativas foram aumentadas pelo fato de a Lei 11.638/07 ter sido publicada no último dia útil de 2007 com vigência já a partir do início de 2008. Nesse ambiente de urgência, a autoridade reguladora – a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), em convênio com o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) – determinou que a adoção do IFRS no Brasil fosse efetuada em duas etapas: uma primeira, abrangendo normas de transição para 2008 e 2009 (conforme os CPCs 1 a 14, emitidos durante 2008) e a segunda, de adoção do full

IFRS a partir de 2010.

Para permitir a comparabilidade dos números gerados pelas novas normas com os produzidos na base normativa anterior, a CVM determinou (CPC 13) que na adoção inicial as empresas evidenciassem em Nota Explicativa a reconciliação do Lucro Líquido e do Patrimônio Líquido apurados conforme os dois conjuntos normativos.

Assim, a partir das primeiras publicações de relatórios sob as novas normas em 2009, abre-se a oportunidade para se investigar o impacto dessa mudança do padrão normativo nos resultados reportados pelas empresas.

Dentre os poucos estudos sobre o assunto até o momento, Santos (2009) identifica impactos das novas normas no resultado das empresas listadas na Bovespa. Entretanto, o referido estudo (assim como o de Grecco et al., 2009), é focado no impacto final das novas normas no resultado, e não efetua uma análise descritiva dos efeitos específicos de cada nova norma (CPCs 1 a 14) sobre os resultados das empresas, para o que o presente trabalho pretende contribuir.

Nesse contexto, o problema abordado na presente investigação pode ser assim definido: qual o impacto de cada nova norma (CPCs 1 a 14) da primeira fase de transição para o IFRS nos resultados reportados pelas empresas? Mais especificamente, o quanto cada nova norma impactou o Lucro Líquido e o Patrimônio Líquido das empresas brasileiras? Quais normas mais impactaram os resultados e quais afetaram o maior número de empresas?

Este trabalho tem como objetivo mensurar e analisar o impacto de cada nova norma (CPC) da primeira fase de transição para o IFRS nos resultados das empresas listadas na Bovespa, com base nas DFPs (Demonstrações Financeiras Padronizadas) de 2008. Ao identificar esses impactos, este trabalho pretende contribuir com informações para a análise financeira, sobretudo de empresas e setores mais afetados pelas novas normas.

Do ponto de vista metodológico, este estudo é empírico-analítico, de caráter descritivo. É aplicado o inverso do Índice de Comparabilidade Parcial (ICP) proposto por Weetman et. al (1998) para mensurar o impacto de cada novo CPC nos resultados das empresas. Os dados foram obtidos a partir da tabela de reconciliação dos efeitos das novas normas no Lucro Líquido e Patrimônio Líquido, apresentada pelas companhias abertas nas Notas Explicativas das DFPs de 2008.

(3)

2 - REVISÃO DA LITERATURA

A transformação profunda da prática contábil brasileira, ora em curso no processo de transição para o padrão internacional, traz consigo mudanças que ora também ocorrem em diversos países, evidenciando diferenças de posturas culturais, institucionais e profissionais dos respectivos sistemas contábeis, que vêm sendo estudadas na literatura há várias décadas.

Assim, Gray (1980, 1988), Radebaugh et al. (2006), Ding et al. (2005), Nobes e Parker (2006) e Saudagaran (2001) entre outros, identificam razões culturais e institucionais de tais diferenças contrapondo os países de influência anglo-americana, de direito consuetudinário (common law), aos países de influência eurocontinental (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, Japão, países da América do Sul), de direito formalista (code law). Gray (1988) sintetiza tais diferenças, classificando os sistemas nacionais pela gradação de quatro valores contábeis (accounting values): julgamento do profissional contábil x controle governamental e estatutário; flexibilidade x uniformidade diante de circunstâncias específicas; conservadorismo x otimismo na mensuração; e grau de transparência x segredo das informações (ver também Niyama, 2005 e Santos et al., 2007).

A mudança de valores com a convergência para o IFRS é caracterizada pelo Manual de Contabilidade da Fipecafi como uma “nova filosofia contábil” no Brasil:

“Talvez a mudança mais relevante que estejamos sofrendo no Brasil seja a relativa aos seguintes pontos: primazia da essência sobre a forma, normas contábeis orientadas por princípios, e não por enorme conjunto de regras detalhadas e, como conseqüência (...), a necessidade cada vez maior do julgamento por parte do profissional da Contabilidade (...)”. (IUDÍCIBUS et al., 2009, p. 66).

Essa nova postura contábil, como representação da realidade e não apenas como conformidade à forma legal, é ressaltada pelo CPC no seu Pronunciamento Conceitual Básico:

“Para que a informação represente adequadamente as transações e outros eventos que ela se propõe a representar, é necessário que essas transações e eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com a sua substância e realidade econômica, e não meramente sua forma legal” (CPC 00, item 35).

Desde o final do Séc. XX, a experiência das diferenças de posturas e de sistemas normativos nacionais tem ensejado a busca de indicadores aptos a mensurar comparativamente os impactos nos resultados reportados segundo normas diversas.

Gray (1980) propôs o “Índice de Conservadorismo” como instrumento para medir o quanto lucros maiores (caracterizando otimismo, observado na Inglaterra) ou menores (conservadorismo, observado na França e Alemanha), eram demonstrados pelos respectivos sistemas contábeis desses países em relação ao padrão inicial europeu. Weetman et al. (1998) renomearam o Índice de Gray como “Índice de Comparabilidade” total (IC, referente ao resultado) ou parcial (ICP, referente a cada ajuste específico ao resultado). Conforme esses autores, nas equações (1) e (1A), um IC/ICP menor que 1 denota conservadorismo (lucros/ajustes locais menores em relação aos USGAAP) e, vice-versa, um IC/ICP maior que 1 indica otimismo (lucros/ajustes locais superiores aos apurados pelos USGAAP).

(1) (1A)

Esses índices têm fundado estudos comparativos dos padrões internacionais e normas nacionais, sendo o ICP particularmente aplicado ao estudo dos ajustes ao resultado.

Beckman et al. (2007) identificam no período 1995-2002 a tendência da contabilidade

tradicional alemã para expressar lucros e PL menores em relação tanto ao IFRS como aos USGAAP. Dentre os ajustes que geram aumento no resultado, tanto pelo IFRS como pelos USGAAP, os autores ressaltam a reversão de provisões e de accruals e a reversão de

impairment de ativos (assets write downs). IC = 1 - LucroUSA- LucroLocal

|LucroUSA| ICP = 1

-Ajuste Parcial | LucroUSA|

(4)

O’Connell e Sullivan (2008) comparam as duplas demonstrações, pela norma local e pelo IFRS, de empresas de países de tradição eurocontinental (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, Holanda e Portugal), que anteciparam a adoção do IFRS em 2004, confirmando o aumento dos resultados pela nova norma, ressaltando o impacto de Business Combinations. Cordazzo (2008) aplica a metodologia de Gray/Weetman em empresas listadas da Itália, confirmando resultados menores pela norma italiana em relação ao IFRS, e destacando os ajustes: business combinations, provisões, instrumentos financeiros, e ativos intangíveis impactando o LL e o PL; e tributos e imobilizado impactando significativamente apenas o PL.

No Brasil, o impacto das novas normas de transição para o padrão IFRS nos resultados das empresas listadas na Bovespa foi estudado por Santos (2009), tendo-se verificado um aumento médio de 8 % no resultado de 2007 e uma diminuição de 7% no resultado de 2008, esta provavelmente afetada, em ajustes específicos, pela crise financeira global do período.

Em outro estudo comparativo da contabilidade brasileira, Santos e Cia (2009) aplicaram a metodologia de Gray/Weetman no estudo do impacto da harmonização internacional no lucro das emissoras brasileiras de ADRs na NYSE, tendo como proxy os ajustes BRGAAP/USGAAP, no período 2001-2006. Esse estudo identificou como ajustes mais significativos: correção monetária de 1996/1997, ágio na combinação de negócios, instrumentos financeiros, inclusive derivativos e reavaliação de ativos.

Entre outros estudos no Brasil que utilizam a metodologia de Gray, Lemes et al. (2007) investigam a comparabilidade da contabilidade brasileira com os USGAAP; Doupnik e Riccio (2006) comparam características culturais de profissionais brasileiros e americanos em julgamentos de probabilidade de aumento no resultado que obriguem evidenciação conforme as normas do IFRS, confirmando o conservadorismo brasileiro previsto por Gray (1988).

Após a Lei 11.638/07, Santos (2009) identifica impactos da Lei e sua regulamentação nos resultados das empresas listadas na Bovespa. Entretanto, esse estudo (assim como o de Grecco et al., 2009), é focado no impacto final das novas normas nos resultados, e não efetua uma análise descritiva dos efeitos específicos de cada nova norma (CPCs 1 a 14) sobre os resultados das empresas, para o que o presente trabalho pretende contribuir.

Conforme comentado, na regulamentação da Lei 11.638/07, a CVM (2008), optou por introduzir uma harmonização gradativa com IFRS no Brasil, em duas fases. Foi emitido um conjunto de normas para a primeira fase, de “adoção inicial”, em 2008 (ver CPC 13), ficando projetada para 2010 a segunda fase, de “integral convergência” para o full IFRS. Na Figura 1, anexa, é apresentado um resumo comparativo das normas anteriores com as novas normas determinadas pelo CPC e CVM para o exercício de 2008, a partir das Leis 11.638/07 e 11.941/09 (MP 449/08).

3 – METODOLOGIA

Para obtenção dos dados foram coletadas todas as DFPs de 2008 disponibilizadas até 10/04/2009 (dez dias após encerrado o prazo regulamentar) pelas empresas listadas na Bovespa (com exclusão das instituições financeiras, para as quais já vigiam algumas dessas normas), totalizando 318 empresas. Foram analisadas as empresas que publicaram nas Notas Explicativas das DFPs de 2008 a tabela de reconciliação do efeito da nova Lei no lucro e patrimônio líquido de pelo menos um exercício (2007 e/ou 2008), totalizando 175 empresas (55%).

Para possibilitar a comparação do impacto de cada CPC no resultado e PL, os respectivos ajustes aos resultados reportados pelas empresas nas referidas tabelas foram classificados em treze grupos, dos quais onze correspondem às categorias de ajustes apresentadas na Figura 1, acrescentando-se um grupo para “outros efeitos” e outro grupo para “efeitos tributários dos ajustes”, conforme a Tabela 1.

(5)

Foram utilizados os inversos do Índice de Comparabilidade de Gray (1980) [IC, equação (1)] e do Índice de Comparabilidade Parcial de Weetman et al. (1998) [ICP, equação (1A)], tomando-se como denominador a norma brasileira anterior (Lei 6.404/76), conforme as fórmulas (2) e (2A) a seguir:

Onde:

IC-1 = Índice de Comparabilidade Inverso (ICI)

LucroLei.6.407 = Lucro Líquido (ou prejuízo) apurado conforme as normas vigentes até 2007 (Lei

6.404/76 e respectivas normas da CVM)

LucroLei.11.638 = Lucro Líquido (ou prejuízo) apurado conforme as normas vigentes a partir de 2008

(Lei 11.638/07 e respectivas normas da CVM)

ICP-1 = Índice de Comparabilidade Parcial Inverso (ICPI)

A utilização dos índices inversos torna a análise mais intuitiva, tendo como base a norma antiga (aumentos geram valores maiores que 1 e vice-versa, ao contrário dos índices originais). Outros autores, como Cordazzo (2008), também adotam esses índices inversos.

Tratando-se neste estudo de uma abordagem censitária, a análise utiliza métricas de estatística descritiva. Entretanto, como indicação da possível extrapolação dos resultados da pesquisa para além das empresas que reportaram determinado ajuste, foram também realizados testes de média (t-Student) e de mediana (teste de Wilcoxon) para cada ajuste.

4 - RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 – Visão Geral do Impacto dos Ajustes da Primeira Fase de Transição para o IFRS

A Tabela 1 apresenta o impacto médio de cada ajuste para adequação às normas da primeira fase de transição para o IFRS no LL e PL das empresas nos exercícios de 2007 e de 2008. A coluna “exercício de 2007” retoma os valores obtidos por Santos (2009, p.7). Entretanto, a coluna “exercício de 2008” apresenta os resultados apurados no presente estudo para todas as 130 empresas que apresentaram a tabela de reconciliação (sem excluir outliers) nesse ano. Note-se que este estudo, ao não excluir outliers, apura um impacto médio das novas normas no LL de 2008 significativamente diferente: de um decréscimo de aproximadamente 7% (ICI médio de 0,932), apurado no referido estudo de Santos (2009), para um decréscimo médio de mais de 50% (ICI médio de 0,468) neste estudo. A não exclusão de outliers parece metodologia mais adequada a este estudo, pois a ocorrência de efeitos extremos pode ser relevante para a análise dos efeitos dos diversos CPCs.

A Tabela 1 mostra um comportamento bastante discrepante entre alguns ajustes: enquanto o ajuste “custos de transação e prêmios na emissão de títulos” em média triplicou (ICPI = 2,919) o resultado das empresas que o registraram em 2007, e a “redução de ativos ao valor recuperável” provocou uma queda média de mais de 260% (ICPI = -1,643) no lucro de 2008, a marcação a mercado dos instrumentos financeiros gerou um impacto bem menos significativo (em torno de 3% para mais em 2007 e para menos em 2008). Em alguns casos verificou-se uma discrepância também no efeito de um mesmo ajuste entre exercícios, como ocorreu com o ajuste decorrente de “mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis em moeda estrangeira”, que gerou um acréscimo da ordem de 10% em 2007 (ICPI = 1,097), mas reduziu o lucro de 2008 em mais de 70% (ICPI = 0,284).

IC -1= 1 - LucroLei 6.404 – LucroLei 11.638

|LucroLei 6.404| = 1 +

LucroLei 11.638 – LucroLei 6.404

|LucroLei 6.404| = ICI

(2)

ICP-1 = 1 + Ajuste Parcial

|LucroLei 6.404|

(6)

Uma análise detalhada do impacto de cada ajuste no LL e PL das empresas será efetuada a seguir.

Tabela 1: Impactos dos CPCs da Primeira Fase de Transição para o IFRS no Resultado e Patrimônio Líquido das Empresas

Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido

Nº % ICPI Média Nº % ICPI Média Nº % ICPI Média Nº % ICPI Média Valor Base

(valor pela lei 6.407/76) 1 1 1 1

Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos 11 13% 2,919 5 4% 0,987 15 12% 1,147 8 7% 1,005 Incentivos fiscais 10 12% 1,237 4 4% 0,994 23 18% 1,209 7 6% 0,979 Arrendamento Mercantil 23 27% 1,188 31 27% 1,014 33 25% 1,160 23 21% 0,990 Proibição da Reavaliação de Ativos 4 5% 1,186 8 7% 0,786 7 5% 1,083 6 5% 0,960 Outros efeitos 25 30% 1,039 34 30% 1,002 29 22% 1,015 38 35% 0,997

Efeitos de mudanças nas taxas de câmbio e conversão de Demonstrações contábeis 19 23% 1,097 2 2% 0,857 30 23% 0,284 15 14% 1,010 Valor Justo de Instrumentos Financeiros 33 39% 1,029 45 39% 1,003 59 45% 0,974 45 41% 0,965 Pagamentos baseados em Ações 28 33% 0,955 10 9% 0,993 43 33% 0,925 17 15% 0,997

Efeitos tributários sobre

os Ajustes 43 51% 0,927 52 46% 1,000 62 48% 1,222 46 42% 1,000

Ajuste a Valor Presente 27 32% 0,809 43 38% 0,986 68 52% 1,016 53 48% 0,994

Método de Custo/Equivalência Patrimonial 8 10% 0,774 9 8% 1,001 11 8% 0,974 12 11% 0,982 Extinção da Capitalização de Despesas 36 43% 0,612 43 38% 0,981 38 29% (0,305) 29 26% 0,990 Redução ao Valor Recuperável de Ativos - 0% - 0% 8 6% (1,643) 6 5% 0,986

ICI (valor pela Lei

11.638/07 e MP 449/08) 84 100% 1,083 114 100% 0,974 130 100% 0,468 110 100% 0,973

Ajustes efetuados para adequação à Lei 11.638/07 e MP 449/08

Exercício de 2007 Exercício de 2008

Lucro Líquido Lucro Líquido

Nota: Fonte: Adaptado de Santos (2009, p. 7).

4.2 – Análise do Impacto (ICPI) dos Ajustes mais Significativos da Primeira Fase de Transição para o IFRS

4.2.1 – Extinção da Capitalização de Despesas

A norma anterior previa o ativo diferido para agrupar as aplicações de recursos em despesas que contribuirão para a formação do resultado de mais de um exercício social. Como notam Iudícibus et al. (2007, p. 14), esse grupo abrangia “despesas incorridas durante o

(7)

período de desenvolvimento, contrução e implantação de projetos, anterior a seu início de operação”, segundo a lógica de que, como os benefícios de um “projeto ocorrem em resultados futuros mediante a geração de receitas, tais gastos seriam ativados para amortização futura, para manter o critério de contraposição de receitas e despesas”.

Num primeiro momento, com a Lei 11.638/07, houve apenas a limitação da prática do diferimento a gastos pré-operacionais e de reorganização que resultassem em aumento de receitas no futuro, mas, a seguir, a MP 449/08 determinou sua completa extinção. Com isso, praticamente todos os casos de diferimento de despesas comuns na prática contábil brasileira foram eliminados, e passaram a ser tratados como despesa do exercício em que ocorrerem, sendo capitalizáveis apenas os intangíveis adquiridos e os desenvolvidos internamente na fase de desenvolvimento que atentam a todos os requisitos expressos nos itens 51 a 66 do CPC 04.

A lógica da extinção da capitalização de despesas, estaria na

“quase impossibilidade prática de efetiva confrontação desses gastos transformados em despesas com as receitas a que se vinculam, tornando-se essa confrontação, na prática, feita mediante amortização sistemática, bastante arbitrária (...), [já que] praticamente não há forma de se verificar, posteriormente, se as premissas de vida útil econômica foram adequadas ou não” (IUDÍCIBUS et al., 2009, p. 32).

A despeito da relutância que alguns possam ter em relação a essas novas normas, dado o aumento do conservadorismo na mensuração dos ativos e resultados, com afastamento do seu valor econômico real, um benefício dessa nova norma está na sensível redução do espaço antes existente para práticas questionáveis de gerenciamento de resultados via capitalização de despesas de modo impróprio. Mas os que relutam diante da nova orientação teriam a seu favor o argumento de que o novo padrão terá gerado em outros itens oportunidades muito maiores para o gerenciamento de resultados que as anteriormente existentes no presente item.

Conforme demonstrado na Tabela 2, a impossibilidade de capitalização de despesas impactou significativamente o resultado das empresas, gerando uma queda média da ordem de 40% nos resultados de 2007 e de 130% nos resultados de 2008 (ICPI = -0,305), embora esta diminuição não seja estatisticamente significativa. Isso se confirma na distribuição de freqüência, que mostra que 1/3 das empresas que registraram este ajuste tiveram um impacto negativo de 10% ou mais no seu resultado. A capitalização de despesas mostra-se uma prática frequente entre as empresas: 36 das 84 empresas (43%) que apresentaram a tabela de reconciliação do lucro no exercício de 2007 efetuaram o ajuste para adoção dessa nova norma.

O impacto dessa nova norma foi especialmente significativo nas empresas do setor de construção, que tinham como prática capitalizar gastos com propaganda para lançamento de novos prédios no estoque (custo de construção do imóvel) e agora terão que lançá-los diretamente contra o resultado no momento em que ocorrerem, seguindo orientação específica da OCPC 01. Essa nova prática gerou uma queda média de 113% no lucro de 2007 das empresas do setor de construção que reportaram a tabela de reconciliação nesse exercício, e uma redução média de 17% nas que apresentaram a mesma tabela para o exercício de 2008.

Na continuidade de aplicação dessa norma, prevê-se uma equalização do seu impacto no resultado para os casos de despesas com pesquisa, propaganda e treinamento, se a empresa tiver como política manter uma “verba” constante para esses gastos, como uma espécie de “investimento contínuo” na expectativa de colher benefícios no futuro. Isso tende a acontecer também nas empresas desse setor que mantiverem uma taxa constante de lançamento de novos prédios. Já para os casos de despesas esporádicas e de valores significativos, como os gastos pré-operacionais, com implantação de sistemas e métodos, e com reestruturação, podem-se prever oscilaçoes nos resultados dessas empresas nos exercícios em que ocorrerem, já que seus efeitos não poderão mais ser diluídos entre os resultados de vários períodos.

Note-se que ainda será possível encontrar ativos diferidos no balanço das empresas, uma vez que a baixa imediata dos saldos anteriormente existentes não é obrigatória. A partir do banco de dados da Economática foi possível verificar que, entre as empresas que tinham

(8)

saldo no diferido no exercício de 2006, 40% não o baixaram até o exercício de 2008. Para elas, prevê-se um aumento no valor das despesas nos próximos anos, pois, além das novas despesas incorridas no período (antes passíveis de capitalização), terão que ser lançadas as amortizações de períodos anteriores até que os saldos tenham sido completamente eliminados.

Tabela 2: Impacto da Extinção da Capitalização de Despesas Métricas Gerais Mediana 0,980 0,995 0,995 0,996 Média 0,612 0,981 -0,305 0,990 Desvio-padrão 0,844 0,030 7,600 0,018 Estatística t -2,76 -4,13 -1,06 -2,84 p-value (teste t) 0,9% 0,0% 29,7% 0,8%

Estatística z (teste de Wilcoxon) -2,915 -4,507 -1,884 -3,086

p-value (teste de Wilcoxon) 0,1% 0,0% 0,7% 0,0%

Nº de Observações 36 43 38 29

% de Ocorrência 43% 38% 29% 26%

Maior Valor 1,046 1,014 1,054 1,016

Menor valor -2,563 0,884 -45,914 0,927

Distribuição de Frequência % Nº % Nº % Nº %

Lucro diminui 10% ou mais ICPI ≤ 0,9 12 33% 2 5% 12 32% 0 0%

Lucro diminui entre 5% e 10% 0,9 < ICPI< 0,95 1 3% 1 2% 2 5% 2 7%

Lucro diminui até 5% 0,95 ≤ ICPI < 1 10 28% 35 81% 10 26% 23 79%

Lucro permanece igual ICPI = 1 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%

Lucro aumenta até 5% 1< ICPI ≤1,05 13 36% 5 12% 12 32% 4 14%

Lucro aumenta entre 5% e 10% 1,05 < ICPI < 1,1 0 0% 0 0% 2 5% 0 0%

Lucro aumenta 10% ou mais ICPI ≥ 1,1 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%

2007 2008

ICPILL ICPIPL ICPILL ICPIPL

Nota: ICPILL = Índice de Comparabilidade Parcial Inverso do Lucro Líquido. ICPIPL = Índice de Comparabilidade Parcial Inverso do Patrimônio Líquido.

4.2.2 – Proibição da Reavaliação de Ativos

Nos períodos de alta inflação no Brasil, a reavaliação do imobilizado era praticada como antídoto à sua defasagem de valor, diante da aplicação de índices de correção monetária pouco realistas, definidos pelo governo como instrumento de política monetária. O problema é que essa prática gerou abusos, e não raras vezes foram praticadas reavaliações infladas, o que teria motivado, num primeiro momento, a determinação de condições para limitar sua prática por parte da CVM e, finalmente, sua completa proibição pela Lei 11.638/07.

Como mostra a Tabela 3, o estorno da depreciação a maior decorrente da reavaliação do imobilizado gerou um aumento médio de 19% no LL das empresas que o reportaram em 2007 e de 8% em 2008. Por outro lado, a baixa dos saldos da reserva de reavaliação anteriores gerou uma redução média de 21% no PL de 2007 e de 4% no de 2008. Assim, este ajuste foi o que mais impactou o PL das empresas. Surpreendentemente, em 2007, 8 empresas excluíram a Reserva de Reavaliação do PL, mas apenas 4 eliminaram do resultado o efeito da reavaliação na depreciação, o que indicaria uma inconsistência no lançamento deste ajuste.

Pela tabela, poucas empresas (5%) reportaram esse ajuste. Isso não se deve a uma baixa ocorrência da prática de reavaliação, mas ao fato de poucas empresas terem reportado o ajuste, dada a faculdade de não estornar os saldos remanescentes das reservas na data de transição para as novas normas, deixando-os reduzir gradativamente mediante depreciação ou outras formas de redução até sua extinção. De fato, verifica-se, com base na Economática, que 31% das empresas disponíveis nesse banco de dados tinham em 2006 saldo maior que zero na conta reserva de reavaliação, e que, dessas empresas, 64% ainda permanecem com saldo em

(9)

2008. Ou seja, quase 1/3 das empresas abertas praticavam a reavaliação, mas apenas 36% delas decidiram reverter totalmente os saldos na data de transição.

Tabela 3: Impacto da Proibição da Reavaliação de Ativos Métricas Gerais Mediana 1,010 0,974 1,044 0,998 Média 1,186 0,786 1,083 0,960 Desvio-padrão 0,359 0,430 0,109 0,071 Estatística t 1,038 -1,409 2,012 -1,390 p-value (teste t) 37,5% 20,2% 9,1% 22,3%

Estatística z (teste de Wilcoxon) 1,826 -2,240 3,669 -0,674

p-value (teste de Wilcoxon) 5,0% 1,5% 1,1% 14,7%

Nº de Observações 4 8 7 6

% de Ocorrência 5% 7% 5% 5%

Maior Valor 1,725 1,001 1,275 1,023

Menor valor 1,001 -0,257 1,000 0,863

Distribuição de Frequência Nº % Nº % Nº % Nº %

Lucro diminui 10% ou mais ICPI ≤ 0,9 0 0% 3 38% 0 0% 2 33%

Lucro diminui entre 5% e 10% 0,9 < ICPI< 0,95 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%

Lucro diminui até 5% 0,95 ≤ ICPI < 1 0 0% 4 50% 0 0% 2 33%

Lucro permanece igual ICPI = 1 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%

Lucro aumenta até 5% 1< ICPI ≤1,05 3 75% 1 13% 4 57% 2 33%

Lucro aumenta entre 5% e 10% 1,05 < ICPI < 1,1 0 0% 0 0% 1 14% 0 0%

Lucro aumenta 10% ou mais ICPI ≥ 1,1 1 25% 0 0% 2 29% 0 0%

2007

ICPILL

ICPIPL ICPIPL

2008 ICPILL

Pode-se levantar a questão sobre até que ponto a proibição da reavaliação do imobilizado constitui uma real melhora na qualidade da contabilidade brasileira.

Em primeiro lugar, ao eliminar a possibilidade de reavaliação, a lei 11.638/07 contradiz sua própria determinação de harmonização com o padrão internacional, já que esta é permitida no IAS 6. Para o bom êxito da harmonização contábil internacional, qual seria o limite de “customização” das normas do IFRS quando da sua adoção local por cada país?

Além disso, seria a proibição da reavaliação a ação mais eficaz para evitar eventuais abusos praticados por algumas empresas? Não seria preferível identificar e punir esses abusos para que eles não se repetissem? Com isso certamente seria preservada a prática desse instrumento nos casos em que ela gerasse informações contábeis mais próximas da realidade econômica das empresas. Além disso, caso fosse mais conveniente para um usuário específico manter os ativos na base de custo, sempre haveria a possibilidade de esse usuário excluir o efeito da reavaliação, simplesmente estornando o saldo da reserva de reavaliação contra o valor do imobilizado, e somando ao resultado a parte da reserva realizada na forma de depreciação (diferença entre os saldos da reserva de reavaliação de dois exercícios).

Pode-se, ainda, perguntar se a premissa de que os abusos ocorridos seriam um impeditivo ao julgamento da empresa, apoiado em laudos, sobre o valor justo do imobilizado seria consistente com a abertura de tantos outros espaços para o julgamento, dentro do princípio de “subjetivismo responsável” (IUDÍCIBUS et al. 2009, p. 67) inerente ao padrão IFRS.

É de notar que uma certa forma de reavaliação, sob o conceito de “custo atribuído” (deemed cost), será permitida, uma única vez, ao iniciar-se a depreciação pela vida útil econômica dos ativos quando da adoção do full IFRS a partir de 2010 (CPC 37). Ora, essa prática, que se insere no princípio de melhor expressão da realidade econômica dos ativos, pareceria menos útil se, ao longo do tempo, alguns desses ativos, sem poder ser reavaliados, se distanciarão inexoravelmente de sua realidade econômica.

(10)

4.3 – Análise do Impacto (ICPI) dos Demais Ajustes

A Tabela 4 apresenta um sumário das métricas gerais do impacto dos demais ajustes no Lucro Líquido das empresas nos exercícios de 2007 e 2008. Dada a limitação de espaço, não foram apresentados os impactos no Patrimônio Líquido, de resto, não tão expressivos, conforme Tabela 1.

Pela Tabela 4, um dos ajustes de maior impacto é o decorrente de custos de transação

e prêmios na emissão de títulos, que quase triplicou o resultado das empresas que o

registraram em 2007, e aumentou em 15% o resultado de 2008. A quase totalidade desse impacto foi causada pela mudança no tratamento dos custos de transação na emissão de títulos, notadamente nas aberturas de capital (IPO), antes tratados como despesa no momento em que eram incorridas, e agora como redução do valor captado. Essa mudança de tratamento encerrou de vez uma discussão aberta por algumas empresas, como a Gol, que à época pretendiam lançar seus gastos com IPO no Ativo Diferido, para evitar ter que lançá-los contra o resultado, e ter que lidar com vultosas reduções no seu lucro no exercício em que abriam seu capital (Ver ADASHI, 2005). Como observa Santos (2009), essa diferença na intensidade do impacto desse ajuste entre os dois anos estaria relacionada à grande queda no número de emissões em 2008 em função da crise financeira global - segundo a Bovespa, queda de 84% no número de emissões de ações em 2008 e de 51% no volume captado.

Outro ajuste que também gerou aumentos significativos no lucro das empresas foi o decorrente de subvenções governamentais, antes lançadas diretamente no Patrimônio Líquido como Reservas de Capital e, agora, lançadas como receita no período em que forem cumpridas todas as obrigações exigidas para que o benefício seja plenamente usufruído. Com isso, expressa-se melhor o desempenho econômico real de empresas que recebem benefícios governamentais. Como notam Iudícibus et al. (2009, p. 40), esse novo tratamento “faz com que sejam devidamente evidenciados, na Demonstração do Resultado, a todos os leitores, que há um resultado incentivado a compor o desempenho da empresa”. De fato, os resultados apresentados na Tabela 4 mostram que esses incentivos são uma componente bastante relevante do desempenho dessas empresas, gerando um aumento médio de 24% no lucro das empresas que o reportaram em 2007 e de 21% em 2008, ambos estatisticamente signicativos a 10%. Também pode ser verificado que a ocorrência de subvenções governamentais não é desprezível, uma vez que 12% das empresas que apresentaram a tabela de reconciliação dos resultados em 2007 efetuaram este ajuste e 18% o fizeram em 2008.

O novo tratamento das operações de arrendamento mercantil (leasing) financeiro constitui “uma espécie de corolário da primazia da essência sobre a forma” (IUDÍCIBUS et

al., 2009, p.66). Anteriormente, todas as operações de leasing eram tratadas como aluguel e as

prestações eram lançadas como despesa na arrendatária e como receita na arrendadora. Mas, na realidade, muitas operações de leasing não constituem um mero aluguel, mas se caracterizam na essência como uma compra financiada, o que é reconhecido no novo padrão.

De fato, podem ser apontadas duas razões principais para a prática da operação de

leasing financeiro. Originalmente essa operação foi criada para possibilitar às empresas a

manutenção de “passivos fora do balanço” (off-balance-sheet financing), seja por se acreditar que isso diminuiria o custo de captação de novos empréstimos, seja para evitar violar cláusulas restritivas a aumentos no nível de endividamento, previstas em contratos de dívidas anteriores (ver STICKNEY e WEIL, 2007, p.472). No Brasil, o leasing tem sido muito usado como mecanismo de planejamento tributário.

Como mostra a Tabela 4, essa nova norma teve uma abrangência expressiva, tendo seu ajuste sido reportado em pelo menos 25% das empresas que apresentaram a tabela de reconciliação dos efeitos das novas normas nos dois anos. Assim, essa mudança no tratamento do leasing financeiro gerou um aumento médio de 19% no lucro de 2007 e de 16% no de 2008, embora nem as médias nem as medianas sejam estatisticamente significativas.

(11)

Tabela 4: Sumário do Impacto dos Demais Ajustes no Lucro Líquido das Empresas (ICPILL) 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 2007 2008 Mediana 1,17 1,01 1,081,09 1,00 1,00 0,961,03 1,00 1,00 0,98 0,98 0,99 0,99 1,00 0,99 - 0,91 Média 2,92 1,15 1,211,24 1,19 1,16 0,281,10 1,03 0,97 0,95 0,93 0,81 1,02 0,77 0,97 - -1,64 Desvio-padrão 2,93 0,33 0,320,37 0,95 1,07 3,450,14 0,17 0,75 0,08 0,14 0,40 0,47 0,53 0,21 - 7,22 Estatística t 2,17 1,74 2,03 3,09 0,96 0,85 3,08 -1,14 0,97 -0,27 -3,11 -3,52 -2,50 0,28 -1,21 -0,41 - -1,03 p-value (teste t) 5,5% 10,4% 7,3% 0,5% 34,9% 40,0% 0,6% 26,5% 33,9% 79,0% 0,4% 0,1% 1,9% 78,2% 26,6% 69,0% - 33,5%

Estatística z (teste de Wilcoxon) 2,67 2,61 2,80 4,85 0,60 -0,07 3,99 -3,77 -0,06 0,12 -4,21 -5,30 -2,76 -3,22 -0,68 -0,97 - -2,52

p-value (teste de Wilcoxon) 0,4% 2,9% 0,3% 0,0% 42,2% 7,6% 0,1% 0,0% 36,7% 16,6% 0,0% 0,0% 0,2% 0,0% 14,7% 9,9% - 0,7%

Nº de Observações 11 15 10 23 23 33 19 30 33 59 28 43 27 68 8 11 - 8

% de Ocorrência 13% 12% 12% 18% 27% 25% 23% 23% 39% 45% 33% 33% 32% 52% 10% 8% - 6%

Maior Valor 10,07 1,97 2,11 2,38 5,51 7,13 1,40 1,94 1,95 3,54 1,02 1,02 1,02 4,78 1,02 1,39 - 1,00

Menor valor 1,00 0,95 1,01 1,00 0,87 0,63 0,92 -17,93 0,94 -3,39 0,64 0,23 -0,51 0,64 -0,52 0,47 - -19,52

Distribuição de Frequência % % % % % % % % % % % % % % % % % %

Lucro diminui 10% ou mais 0% 0% 0% 0% 13% 9% 0% 37% 0% 19% 14% 19% 33% 16% 25% 9% - 38%

Lucro diminui entre 5% e 10% 0% 0% 0% 0% 4% 3% 5% 10% 3% 3% 4% 14% 0% 15% 13% 9% - 25%

Lucro diminui até 5% 18% 33% 0% 0% 26% 52% 0% 40% 58% 37% 79% 58% 33% 38% 25% 55% - 38%

Lucro permanece igual 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% - 0%

Lucro aumenta até 5% 0% 40% 27% 40% 48% 27% 58% 7% 30% 27% 4% 9% 33% 24% 38% 18% - 0%

Lucro aumenta entre 5% e 10% 18% 7% 27% 40% 0% 3% 5% 3% 3% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0% - 0%

Lucro aumenta 10% ou mais 64% 20% 36% 73% 9% 6% 32% 3% 6% 14% 0% 0% 0% 6% 0% 9% - 0%

Valor Justo de Instrumentos Financeiros Custos de Transação e Prêmios na Emisão de Títulos Pagamentos Baseados em Ações Ajuste a Valor Presente Método de Custo / Equivalência Patrimonial Redução de Ativos ao Valor Recuperável Métricas Gerais Efeitos de Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão das Demonstra-ções Subvenções Governa-mentais Operações de Arrendamen-to Mercantil

(12)

A distribuição de freqüência mostra grande discrepância no impacto da nova norma entre as empresas: em 2007, aumento de 57% e em 2008, redução do lucro em 61%. Na grande maioria das empresas os impactos não foram tão significativos, permanecendo em torno de 5% para mais ou para menos em 74% das empresas em 2007 e em 79% em 2008.

As mais afetadas pela mudança do tratamento dessas operações são as companhias aéreas, que tinham grande parte de seus aviões obtidos por leasing financeiro. Na TAM essa mudança gerou um aumento de 4,5 vezes no seu LL e de 50% no seu PL em 2007 (não foi reportada a tabela de reconciliação para 2008). Na Gol o efeito foi o inverso: a mudança gerou uma redução de 32% no LL e de 22% no PL de 2008 (não foi reportada a tabela de reconciliação para 2007). Em escala um pouco menor, também foram afetadas as empresas de logística: a ALL reportou uma queda de aproximadamente 10% no lucro de 2007 e de 2008, e a Tegma teve um aumento da ordem de 12% no lucro de 2008 (não foi reportada a tabela de reconciliação para 2007).

Pela Tabela 4, o impacto do ajuste de mudanças nas taxas de câmbio e conversão de

demonstrações contábeis apresentou um comportamento um tanto heterogêneo, quer dentro

de um mesmo exercício, quer entre períodos: em 2007 ocorreu um aumento médio de quase 10% no lucro das 19 empresas que reportaram esse ajuste e uma queda de quase 15% no PL nas 2 empresas que o registratam (ver Tabela 1); em 2008 ocorreu uma redução média de 72% no lucro, sem praticamente afetar o PL.

Essa disparidade de comportamento pode ser atribuída à confluência de dois fatores. A diferença de impacto do ajuste de um exercício para outro provavelmente se deve às grandes oscilações nas taxas de câmbio nesse período (o Dólar, por exemplo, teve uma queda de 17% em relação ao Real no exercício de 2007 e uma valorização de 32% em 2008). Já as grandes diferenças entre os impactos no LL e no PL estariam relacionadas à definição da moeda funcional das empresas, que determina se os ganhos ou perdas decorrentes da conversão das demonstrações contábeis serão reportados no LL ou no PL. Na conversão para a moeda funcional os ganhos e perdas são reportados no resultado e, na conversão da moeda funcional para a moeda de relatório (no caso o Real), eles são reportados como ajuste no PL. Assim, se o Real for definido como moeda funcional, os ganhos e perdas na conversão de subsidiárias no exterior para o Real serão reportados no resultado. Caso a moeda funcional seja definida como o Dólar, como ocorreu na Embraer, poderão existir duas conversões: de uma outra moeda estrangeira para o Dólar, com os ganhos e perdas reportados no resultado, e do Dólar para o Real, com os ganhos e perdas reportados no PL.

Conforme a Tabela 4, a entrada em vigor da avaliação a valor justo de instrumentos

financeiros, com as diferenças lançadas no resultado, não trouxe impacto tão significativo no

lucro das empresas. O efeito ficou limitado a aproximadamente 3% para mais ou para menos nos dois anos (note-se que as instituições financeiras não estão abrangidas neste estudo). Isso não parece decorrer da preferência pela classificação dos títulos como “disponíveis para venda”, com vista ao registro dos seus efeitos diretamente no Patrimônio Líquido, pois, como pode ser observado na Tabela 1, este ajuste praticamente não impactou o PL em 2007, e gerou uma queda de apenas 3,5% em 2008. De fato, a distribuição de freqüência mostra que em 2007 este ajuste gerou efeitos no lucro em torno de 5%, para mais, em 30% das empresas e para menos, em 58%. Já em 2008, em pleno auge da crise financeira, observam-se grandes variações em posições contrárias: enquanto 19% das empresas reportaram perdas de mais 10% no lucro, 14% delas reportaram ganhos dessa mesma ordem. Dentre as empresas mais impactadas destacam-se, além da Sadia, com perdas de 340% do seu LL e 82% de seu PL, Hering e Eluma, com perdas de mais de 55% do lucro. Dentre os maiores ganhos, destacam-se o de 250% da Rede Energia, o de 165% da Iguaçu, o de 100% da Dasa e o de 84% da BR Malls. Assim, em 2008 grandes efeitos negativos e positivos acabaram se contrabalançando e

(13)

resultaram numa queda média pequena. Nota-se que a ocorrência deste ajuste foi bastante alta: 39% o reportaram em 2007 e 45% em 2008.

O impacto da mensuração de pagamentos baseados em ações pelo seu valor justo, reconhecendo os ganhos e perdas decorrentes da variação do valor de mercado do título diretamente no resultado do período em que ocorre, foi reportado por 1/3 das empresas e gerou uma redução média de 5% lucro de 2007 e de 7% em 2008. Confirma-se a expectativa de que esses instrumentos não pesariam muito no resultado das empresas, já que normalmente são reservados à remuneração de poucos altos executivos.

O ajuste a valor presente foi reportado por quase 1/3 das empresas em 2007 e por

mais de 50% em 2008. Em 2007 este ajuste gerou redução média de 20% no lucro das empresas que o reportaram, mas praticamente não gerou efeito em 2008 (sendo estatisticamente significativo apenas em 2007). As mais afetadas foram as empresas do setor de construção, que reportaram queda média de quase 40% no resultado de 2007. A distribuição de freqüência mostra nos dois anos queda no lucro de mais de 90% das empresas que reportaram este ajuste, indicando preponderância dos ajustes a valor presente de ativos sobre os de passivos.

As mudanças nas normas de aplicação do método de equivalência patrimonial parecem ter afetado poucas empresas, mas geraram efeitos bastante divergentes (nem a média nem a mediana são estatisticamente significativas). A grande ocorrência de diminuições nos resultados (em pelo menos 2/3 das empresas) nos dois anos indica que a extensão da aplicação do método de equivalência patrimonial, principalmente com a extinção do teste de relevância do investimento, aumentou a transparência dos resultados de investimentos em outras companhias, revelando prejuízos em investimentos antes não reportados.

O ajuste da redução de ativos ao valor recuperável (impairment) foi reportado por apenas 8 empresas em 2008, e por nenhuma em 2007. Exceto a queda de mais de 20 vezes no lucro da Invest Tur, que distorceu a média do impacto, as empresas mais afetadas por este ajuste foram a Tenda, com perda de 30% do lucro, seguida pela Eletrobrás, Bradespar e Vale, com perdas da ordem de 10%. O impairment também foi registrado pela Braskem, Copasa e Minerva, mas seu efeito ficou em apenas 1% nas duas primeiras e 3% na última.

5 – CONCLUSÃO

Este trabalho realizou uma análise dos impactos de cada nova norma (CPCs 1 a 14) da primeira fase de transição para o padrão IFRS nos resultados das empresas listadas na Bovespa, publicados nas DFPs de 2008. Utilizou-se para a mensuração desses impactos o “Índice de Comparabilidade Parcial” de Weetman et al. (1998), na sua forma inversa (ICPI), mais pró-intuitiva. O impacto de cada ajuste ao resultado, bem como sua relevância relativa, foi identificado mediante estatística descritiva, tendo sido ainda realizadostestes de média

(t-Studend) e de mediana (Wilcoxon).

Dentre as normas que geraram aumentos mais expressivos no lucro das empresas, destacaram-se: a exclusão dos custos de transação e prêmios na emissão de títulos da apuração do resultado, o que em média triplicou o lucro de 2007 das empresas que o registraram; a inclusão dos incentivos fiscais no resultado, com aumento médio de 24% nos lucros de 2007 e de 21% em 2008; a inclusão do conceito de arrendamento mercantil financeiro e a proibição da reavaliação de ativos, ambos com aumento médio de 19% no lucro de 2007. Dentre as normas que mais contribuíram para a redução do lucro, destacaram-se: a redução ao valor recuperável de ativos, que gerarou um impacto negativo médio de 260% no lucro das empresas que o registraram em 2008; a extinção da capitalização de despesas, com redução média de 130% nos lucros de 2008 e de 40% em 2007.

(14)

A análise dos efeitos de cada ajuste foi realizada dentro do princípio fundamental do padrão internacional, da primazia do julgamento e da essência sobre a forma, para melhor expressão da realidade econômica da empresa. Em dois casos – extinção da capitalização de despesas e proibição da reavaliação de ativos – a nova norma, ao coibir exageros de práticas anteriores, corre o risco de se afastar da representação do valor econômico real de ativos e resultados. Em particular, a proibição da reavaliação de ativos atua em sentido expressamente contrário ao critério do IFRS, levantando a questão de se o combate ao gerenciamento de resultados seria mais eficaz via uma regulação formal, na linha tradicional brasileira, ou via melhorias no monitoramento do julgamento contábil da realidade, na linha do padrão internacional. Tanto mais que outros itens das novas normas abrem oportunidades muito maiores para o gerenciamento de resultados, que demandarão tal controle pró-ativo do regulador. Entretanto, as demais novas normas estudadas expressam a primazia da essência sobre a forma no julgamento da realidade econômica da empresa, dentro dos objetivos do IFRS.

Ao mensurar os impactos de cada norma na primeira fase da transição para o padrão internacional nos resultados das empresas, este trabalho pretende ter gerado contribuições para a prática da análise financeira, sobretudo de empresas e setores mais afetados pelas novas normas. Nesse sentido, este estudo espera ter contribuído para a discussão das novas normas como evolução na qualidade da informação contábil para melhor representação da realidade econômica das empresas, dentro do objetivo do IFRS.

As várias limitações da presente investigação decorrem tanto das características das normas de transição, que facultaram às empresas diversas opções de seu cumprimento, como da inevitável diversidade do nível de assimilação das novas normas no primeiro ano de sua vigência. A conseqüente disparidade se expressa em discrepâncias acentuadas de comportamento estatístico em detrimento da acuidade desta pesquisa. É de esperar que tais dificuldades sejam atenuadas ao longo dos próximos períodos, em particular após a adoção do

full IFRS a partir do exercício de 2010, em benefício de novas pesquisas sobre o tema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADASHI, V. Gol poderá ter que republicar balanço. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 16/12/2005. Disponível em http://www.valoronline.com.br/. Acesso em 16/12/2005.

BRASIL, Lei nº 11.638 de 28/12/2007. Altera e revoga dispositivos da Lei 6.404/76. Disponível em http://www.cvm.gov.br/. Acesso em 10/01/2008.

BRASIL, Lei nº 11.941 de 27/05/2009. Conversão da Medida Provisória nº 449 de 03/12/2008 (MP 449/08) em Lei. Disponível em http://www.cvm.gov.br/. Acesso em 30/05/2009.

BECKMAN, J.; BRANDES, C.; EIERLE, B. German reporting practices: an analysis of reconciliation from German commercial code to IFRS or US GAAP. Advances in

International Accounting, v. 20, p. 253-294, 2007.

CORDAZZO, M. The impact of IAS/IFRS on accounting practices: evidence from Italian listed companies. In Séminaire DEMA/ERM, 2008. Disponível em

http://www.hec.unil.ch/irm/Research/Seminaire . Acesso em 14/05/2009.

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Instruções e Deliberações. Disponível em

www.cvm.gov.br. Acesso em 15/08/2009.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos. 2008. Disponível em www.cpc.com.br. Acesso em 15/08/2009.

DING Y.; JEANJEAN, T.; SOTOLOWY, H. Why do national GAAP differ from IAS? The role of culture. The International Journal of Accounting, v. 40, n. 4, p. 325-350, 2005.

(15)

DOUPNIK, T. S.; RICCIO, E. L. The influence of conservatism and secrecy on the interpretation of verbal probability expressions in the Anglo and Latin culture areas. The

International Journal of Accounting, v. 41, n. 3, p. 237-261, 2006.

GRAY, S. J. The impact of international accounting differences from a security analysis perspective: some european evidence. Journal of Accounting Research, v. 18, n.1, p. 64-76, 1980.

______.Towards a theory of cultural influence on the development of accounting systems internationally. Abacus, v. 24, n. 1, p.1-15, 1988.

GRECCO, M. C. P.; GERON, C. M. S.; FORMIGONI, H. O impacto das mudanças nas práticas contábeis no nível de conservadorismo das companhias abertas brasileiras. In: Congresso Brasileiro de Custos, XVI, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UNIFOR, 2009.

IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E.; GELBCKE, E. R. Manual de contabilidade das sociedades

por ações. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

______. Manual de contabilidade das sociedades por ações - Suplemento. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LEMES, S., CARVALHO, L. N. G, OLIVEIRA-LOPES, L. C. Comparabilidade entre os BR GAAP e os US GAAP: algumas evidências das companhias brasileiras listadas na NYSE. In:

ENANPAD, 31, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007.

LIPPI, R. Mudança contábil exige novo perfil de profissionais. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 03/04/2009. Disponível em http://www.valoronline.com.br/. Acesso em 03/04/2009. NIERO, N. Novas regras prometem emoções fortes. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 13/06/2008. Disponível em http://www.valoronline.com.br/. Acesso em 13/06/2008.

NIYAMA, J. K. Contabilidade Internacional. São Paulo: Atlas, 2005.

NOBES, C.; PARKER, R. Comparative International accounting. Harlow: Pearson, 2006. O’CONNELL, V.; SULLIVAN, K. The impact of mandatory conversion to IFRS on the net income of FTSEurofirst 80 firms. Journal of Applied Research in Accounting and Finance, v. 3, n. 2, p. 17-26, 2008.

RADEBAUGH, L. H.; GRAY, S. J.; BLACK, E. L. International accounting and

multinational enteprises. Hoboken: Wiley, 2006.

SANTOS, E. S., CIA, J. N. S., CIA, J. C. US GAAP x Normas Brasileiras: Há Diferenças Significativas no Valor do Lucro Reportado pelas Empresas Brasileiras com ADRs na NYSE?

In: ENANPAD, 31, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007.

SANTOS, E. S., CIA, J. N. S. Impactos esperados da harmonização internacional no lucro das empresas brasileiras, na proxy dos ajustes BRGAAP/USGAAP reportados pelas emissoras de ADRs na NYSE. Revista de Contabilidade e Organizações – RCO, vol 3, n. 6, p. 57-79, 2009. SANTOS, E. S. Impactos do início da harmonização contábil internacional (Lei 11.638/07) nos resultados de 2008 das empresas brasileiras abertas. Relatório de Pesquisa do NPP/FGV-EAESP, 2009. Não publicado.

SAUDAGARAN, S. M. International Accounting: a user perspective. Mason (Ohio): Thomson, 2001.

SOUSA, R. G. Normas internacionais de contabilidade: percepções dos profissionais quanto

às barreiras para sua adoção no Brasil. 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) -

EAESP, FGV, São Paulo.

STICKNEY, C. P.; WEIL, R. L. Financial Accounting. 12nd ed. Mason: Thomson, 2007. WEETMAN, P. E. et al. Profit measurement and UK accounting standards: a case of increasing disharmony in relation to US GAAP and IASs. Accounting and Business Research, v. 28, n. 3, p.189-208, 1998.

(16)

Categorias de Ajustes

IASB, CPC e Delib. CVM

Normas anteriores

(Lei 6.404/76 e Deliberações da CVM) Normas atuais (Lei 11.638/07, MP 449/08 e Deliberações da CVM) Mudanças com efeito potencial no Resultado e/ou Patrimônio Líquido

Instrumentos Financeiros

(Fase 1) IAS 32, 39 e IFRS 7 (partes) CPC 14 Delib. CVM 566/08

Instrumentos financeiros reconhecidos pelo custo amortizado.

No caso de títulos de renda fixa, os juros eram calculados pela taxa nominal.

Requer o reconhecimento e mensuração pelo valor justo de certos instrumentos financeiros e derivativos, como segue:

1. Mantidos para Negociação: mensurados ao valor justo por meio do resultado. 2. Disponíveis para Venda: diferenças entre o valor justo e o valor contábil

lançadas na conta Ajuste de Avaliação Patrimonial, no Patrimônio Líquido. 3. Mantidos até o Vencimento: avaliados ao custo amortizado, mas com juros

calculados pela taxa efetiva Operações de

Arrendamento

Mercantil IAS 17 CPC 06 Delib. CVM 554/08

Não havia distinção entre leasing operacional e financeiro e todos os arrendamentos eram tratados como operacionais.

Na arrendatária: prestação do leasing lançada integralmente como despesa, quando incorrida. Na arrendadora: o bem arrendado ficava no Imobilizado e era depreciado. A prestação do

leasing era lançada integralmente como receita.

Requer que itens objeto de contratos que apresentem características de arrendamento mercantil financeiro sejam contabilizados como ativo da arrendatária.

Na arrendatária: contabilização como compra financiada. Como a despesa com

leasing é substituída pela depreciação do ativo mais os juros, o valor total da despesa

pode mudar.

Na arrendadora: contabilização como venda financiada. O resultado da venda afeta o lucro no momento da venda. Durante o prazo do contrato são reconhecidos apenas os juros. Capitalização de Despesas IAS 38 CPC 04 Delib. CVM 553/08

Era permitida a capitalização de algumas despesas, como despesas pré-operacionais, gastos com reestruturação, pesquisa e desenvolvimento, alguns tipos de gastos com publicidade e propaganda e treinamento. Não havia o grupo ativo Intangível e o ágio na combinação de negócios e outros intangíveis era classificado como ativo Diferido.

Proíbe a capitalização de praticamente todas as despesas antes passíveis de serem lançadas no Diferido.

Extingue o grupo Ativo Diferido e cria o grupo Ativo Intangível. Cria uma série de exigências para reconhecimento de ativos intangíveis desenvolvidos internamente.

Além dos gastos antes diferidos que agora passam a ser lançados contra o resultado, pode haver uma redução adicional no resultado pela amortização de Ativos Diferidos lançados anteriormente se a empresa optar por não baixá-los integralmente na data de transação e continuar a amortizá-los pelo prazo remanescente.

Redução de ativos ao Valor recuperável (impearment) IAS 36 CPC 01 Delib. CVM 527/07

Não previsto Institui a exigência de se fazerem testes regulares de impearment para verificar a necessidade reduzir ativos ao seu valor recuperável, o que implica o lançamento de uma perda no resultado.

Ajuste a Valor Presente IASB: NA CPC 12 Delib. CVM 564/08

Não previsto Institui a exigência de se fazerem ajustes a valor presente de elementos integrantes do ativo e passivo decorrentes de operações de longo prazo, ou de curto prazo, quando houver efeitos relevantes.

O ajuste a valor presente deve ser efetuado na data de origem da transação,

utilizando-se a taxa contratual ou implícita. Na constituição, o ajuste pode ter como contrapartida um ativo, despesa ou receita; as reversões terão contrapartida em receita ou despesa (em geral) financeira.

(17)

Equivalência

Patrimonial IAS 28 Instr. CVM 469/08

São avaliados por equivalência patrimonial os investimentos relevantes em coligadas ou equiparadas em que a administração tenha influência significativa ou de que participe com 20% ou mais do capital, bem como em

controladas ou que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum.

São avaliados por equivalência patrimonial os investimentos em sociedades em que a administração tenha influência significativa, ou nas quais participe com 20% ou mais do capital votante, ou que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum.

Muda o conceito de coligada e, ao eliminar o teste de relevância dos investimentos, amplia o alcance da aplicação do método de equivalência patrimonial, com efeito no resultado. Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos IAS 39 (partes) CPC 08 Delib. CVM 556/08

Os custos de transação na emissão de títulos eram lançados no resultado.

Os prêmios na emissão de debêntures eram antes lançados na conta Reserva de Capital, no Patrimônio Líquido

Os custos de transação na emissão de títulos patrimoniais são lançados como conta redutora no Patrimônio Líquido.

Os títulos de dívida emitidos são contabilizados pelo valor líquido disponibilizado pela transação. Assim, os custos de transação, prêmios e outros são lançados no resultado pela apropriação da taxa efetiva (TIR).

Aumenta o resultado, na medida em que os custos de transação, antes lançados contra resultado, agora são lançados como redução do PL.

Subvenções e Assistências Governamentais IAS 20 CPC 07 Delib. CVM 555/08

Reconhecidos anteriormente no Patrimônio

Líquido, como Reserva de Capital. Reconhecidos como receita no resultado. Reavaliação de

ativos IAS 16 e 38 Lei 11.638/07

A reavaliação era permitida no Brasil apenas para o ativo imobilizado.

Pelas IFRSs a reavaliação é permitida, inclusive para ativos intangíveis.

Proíbe novas reavaliações. Os saldos previamente existentes podem ser revertidos ou depreciados até que o ativo se extinga ou seja vendido.

Aumenta o resultado pela exclusão do seu efeito na depreciação. Contraria o IAS 16 e 38. Pagamentos baseados em ações IFRS 2 CPC 10 Delib. CVM 562/08

A remuneração baseada em ações só era reconhecida no resultado quando a opção fosse exercida.

Institui o reconhecimento como despesa ou participações as remunerações baseadas em ações liquidadas com instrumentos patrimoniais (ações ou opções de compra de ações), mensuradas pelo valor justo, no momento em que são outorgados, em contrapartida da conta Ações/Opções Outorgadas, no Patrimônio Líquido. Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis IAS 21 CPC 02 Delib. CVM 534/08

Semelhante ao definido atualmente, exceto no que se refere à maior aplicação do Real como moeda funcional.

A moeda funcional de subsidiárias de empresas brasileiras no exterior deve ser o Real, a menos que essas subsidiárias constituam, em essência, unidade autônoma. Potencialmente, empresas que utilizavam o dólar como moeda funcional tenderão a substituí-lo pelo Real, mudando o método de conversão das demonstrações

contábeis, com efeitos no resultado. Normas da Adoção inicial da Lei 11.638/07 CPC 13 Delib. CVM 565/08

Não se aplica Regula as primeiras demonstrações contábeis (adoção inicial) a serem elaboradas aplicando as novas práticas contábeis no Brasil em atendimento à Lei 11.638/07 e MP 449/08.

Referências

Documentos relacionados

Os vários modelos analisados mostram consistência entre as diferenças de precipitação do experimento do século vinte e os experimentos com cenários futuros, no período de

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

An important factor when considering synergies and the structure of the deal is the acquisition price, its importance resides in the fact that if the price

(IPO-Porto). Moreover, we attempted to understand how and in which patients sFLC can be used as a differential marker in early disease relapse. Despite the small cohort, and the

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Assim, além de suas cinco dimensões não poderem ser mensuradas simultaneamente, já que fazem mais ou menos sentido dependendo do momento da mensuração, seu nível de