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1. INTRODUÇÃO. trabalho, quando da revisão de literatura, no capítulo 2.

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1. INTRODUÇÃO

No processo de aquisição de uma língua como língua estrangeira (L2), percebem-se naturalmente diversas dificuldades na produção de certos fones/sons de seu inventário. Cunhou-se o termo interlíngua para designar a linguagem do aprendiz durante o processo de aquisição da língua alvo (L2), ou como coloca ELLIS (1994, p. 16): “[interlíngua é 1] um sistema de transição que reflete o conhecimento de L2 presente do aprendiz”.

Especificamente no caso da fonologia, se aceita amplamente o fato de que a primeira língua do aprendiz influencia a aquisição da fonologia da segunda (ECKMAN, 2004, p. 515).

Segundo Flege (1995), em seu Speech Learning Model (SLM), que baseia seu estudo em similaridades e equivalências entre duas línguas – língua mãe (L1) e língua alvo (L2), justamente os sons equivalentes ou similares são os mais difíceis de serem reproduzidos, pois o aprendiz os percebe como sendo os mesmos sons de sua língua mãe, e não como um som novo, ou de uma nova categoria.

A produção dos fonemas / / e / / em posição de coda pode enquadrar-se nestes casos onde ocorrem dificuldades, se tomarmos o português como primeira língua ou língua mãe, e o inglês como a língua alvo. A falta de observação da diferenciação entre o inglês e o português na produção dos segmentos/sons [ ] e [ ] nesta posição (eles não ocorrem em final de sílaba em português; o que ocorre é que o grafema “m” ocorre em final de palavra, porém apenas marca a nasalização da vogal antecedente2) pode ser uma das causas dos problemas de pronúncia das seqüências vogal + consoante nasal. Segundo ELLIS, se constatados sistematicamente, constituiriam casos de “erros por transferência de estruturas”, ou simplesmente de “transferência”, “que ocorrem quando o aluno utiliza alguma característica de L1 (fonológica, lexical, gramatical ou

1 A tradução dos textos cujos originais estão em inglês é de responsabilidade da autora deste trabalho. Os

originais aparecerão em nota de rodapé, em itálico.

…a transitional system reflecting the learner’s current L2 knowledge.

2 A nasalidade no português é um aspecto ainda bastante controverso. Será abordada posteriormente neste

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pragmática) ao invés daquela característica desejada da língua alvo”3 (ELLIS, 1994, p. 59).

Outro aspecto a ser considerado, quando abordamos o problema de pronúncia de alunos de inglês,é o próprio processo de ensino-aprendizagem. Os livros didáticos de ensino de língua inglesa normalmente apresentam seções que privilegiam a pronúncia padrão. São comuns exercícios que mostram claramente o contraste, por exemplo, entre os sons de vogais (sheep [ovelha] x ship [navio]), consoantes consideradas “problema” (thin [magro] x tin [lata, no inglês britânico)], questões relacionadas à tonicidade, ritmo, entonação e outros aspectos relevantes de pronúncia, que melhoram tanto a compreensão auditiva, quanto a clareza do discurso em inglês. Há também alguns livros de apoio, que privilegiam especificamente a pronúncia. No entanto, no caso de [ ] e [ ] em codas, talvez por não serem considerados sons “problema”, muito pouco é dito. Os professores de língua inglesa, por sua vez, talvez também por não terem uma percepção clara de como se processa a produção destes sons quanto ao ponto e modo de sua articulação, especialmente em posição de final de sílaba, falham ao dar aos alunos o feedback necessário, e o problema persiste.

Decorre destas observações a hipótese de que os alunos brasileiros de inglês transferem para esta língua o conhecimento que têm do sistema fônico do português e suas convenções ortográficas, tendendo a produzir vogais nasalizadas, sem fazer distinção entre [ ] e [ ] em final de sílaba. Uma palavra como “pin” seria, então, provavelmente realizada como [ ].

O presente trabalho busca, portanto, identificar através de análise acústica, o que é produzido por aprendizes de inglês de nível pré-intermediário, cuja língua materna é o português brasileiro, nas codas de palavras inglesas monossilábicas que possuem a seqüência: vogal + consoante nasal ([ ] e [ ]), utilizando-se pares mínimos cujo contraste reside exatamente no som nasal, em dois ambientes distintos de vogal precedente à nasal: [ ] e [ ], e havendo silêncio após a nasal para se evitarem problemas de co-articulação, muito comuns entre estas.

Optou-se pela análise acústica de palavras onde ocorrem [ ] e [ ] em codas, ao invés da análise de outiva simplesmente, pois a caracterização de outiva do contraste

3 [ “ Transfer of structure” ] arises when the learner utilizes some L1 feature(phonological, lexical,

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entre tais segmentos parece ser difícil até mesmo para falantes nativos: “...crianças cegas têm dificuldade em aprender contrastes fáceis de ver e difíceis de ouvir como os de [ ] e [ ]”4 SCHWARTZ et al. (2002, p. 264). De 451 línguas estudadas por estes pesquisadores (UPSID-451 Database), 94% têm um contraste entre [ ] e [ ], porém eles concluem que é a alta “visibilidade” do contraste o que desempenha um papel importante no fato de que é quase universal (Ibid, p.279). KLUGE (2004, p. 42) em seu estudo de percepção e produção de nasais em final de sílaba, ao realizar testes de percepção entre falantes nativos de inglês em relação ao contraste [ ] x [ ], obteve em média 78.33% de acertos, o que também reitera a dificuldade de outiva de tal contraste até mesmo entre falantes nativos.

Portanto, através da análise espectrográfica da produção de tais segmentos, espera-se verificar, se não o que está sendo produzido, a tendência dos alunos no seu processo de aquisição, isto é, sua interlíngua, comparativamente ao que falantes nativos produzem em situação similar. A análise que será realizada neste trabalho será, então, eminentemente comparativa, e para isto foi feita uma análise acústica mais detalhada da produção dos dois nativos que compõem o grupo controle, para que se obtivessem parâmetros confiáveis na análise da produção dos aprendizes.

Então, o objetivo geral desta dissertação é observar e descrever, através da análise acústica, o que falantes nativos do português brasileiro estudando a língua inglesa em nível intermediário produzem ao realizar os sons relativos aos fonemas nasais / / e / / em codas de palavras monossilábicas, comparativamente ao que é produzido por falantes nativos de inglês.

Os objetivos específicos, por sua vez, consistem em: a) verificar a existência de diferenças acústicas entre nasais bilabiais e aveolares em codas de monossílabos produzidas por falantes nativos de inglês (grupo controle) para a definição de parâmetros comparativos; b) comparar a produção dos alunos de nível intermediário no estudo da língua inglesa com a do grupo controle com base no(s) parâmetro(s) comparativo(s) definido(s) previamente, verificando a similaridade de sua produção com a do grupo controle; c) tentar estabelecer se há ou não efeitos de ambientes (vogal antecedente à nasal) diversos na produção das nasais, favorecendo ou não tal produção.

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A estrutura desta dissertação está alicerçada em cinco capítulos. Além deste primeiro, introdutório, tem-se outros quatro. O capítulo 2 trata de uma revisão da literatura, com concentração na análise acústica, passando também por tópicos como a nasalização, tanto na língua inglesa, quanto na portuguesa, e estudos já realizados na interlíngua sobre nasais. O capítulo 3 desenvolve os aspectos metodológicos de como foi realizada a pesquisa. No capítulo 4 são apresentados os resultados da análise dos dados e discussão sobre os mesmos, e no capítulo 5 são apresentadas as conclusões do trabalho de pesquisa.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Uma das hipóteses deste trabalho de pesquisa é a de que os alunos brasileiros de inglês transferem para esta língua o conhecimento que têm do sistema fônico do português, isto é, este trabalho aborda a questão de transferência de características de L1 (língua mãe) para L2 (língua alvo).

Segundo ELLIS (1994, p. 28), “transferência de L1 usualmente se refere à incorporação de características da L1 nos sistemas de conhecimento da L2 que o aluno está tentando construir” 5. Como o termo “transferência” estava relacionado a teorias behavioristas de aprendizagem de L26, há uma questão terminológica ainda em aberto, sendo que Sharwood Smith & Kellerman (SHARWOOD SMITH & KELLERMAN7, apud ELLIS, 1994, p. 301) sugerem o termo “influência inter- lingüística” (“crosslinguistic influence”), como sendo neutro, independente de teorias de aquisição. Porém como o uso do termo “transferência” tem persistido, a definição de Odlin é bastante pertinente para este trabalho de pesquisa: “transferência é a influência resultante da similaridades e diferenças entre a língua alvo e quaisquer outras línguas que tenham sido previamente (e talvez não corretamente) adquiridas.8( ODLIN, 1989, p. 27)

A questão de transferência de características de L1 nos sistemas de L2 é considerada de relevância: “Apesar de contra-argumentos, entretanto, há um crescente e vasto campo de pesquisa que indica que a transferência é realmente um fator muito importante na aquisição de uma segunda língua ”(ODLIN, 1989, p.3-4)9. Esta transferência é evidente em todos os aspectos da língua – fonologia, sintaxe, semântica, pragmática. Reconhece-se, no entanto, que a transferência é mais pronunciada a nível fonético/fonológico - a existência de sotaques é inquestionável, e que é mais evidente nos primeiros estágios de aprendizado. Não se pode assumir,

5 L1 transfer usually refers to the incorporation of features of the L1 into the knowledge systems of the L2

which the learner is trying to build.

6 Teorias behavioristas de aprendizagem estão atualmente desacreditadas. Baseavam-se na idéia de que a

aprendizagem de uma segunda língua era uma questão de formação de hábitos (as bases do behaviorismo encontram-se em: SKINNER, B. Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957. Foram rechaçadas por Chomsky já em 1959).

7 SHARWOOD SMITH, M.; KELLERMAN, E. Crosslinguistic influence in second language

acquisition: an introduction. In: KELLERMAN, E.; SHARWOOD SMITH, M. (Ed.), 1986.

8 Transfer is the influence resulting from similarities and differences between the target language and any

other language that has been previously (and perhaps imperfectly) acquired.

9 Despite the counterarguments, however, there is a large and growing body of research that indicates

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no entanto, que os erros decorrentes da interferência10 de L1 que aparecem nos estágios iniciais de aprendizagem sejam subsequentemente eliminados, podendo se manifestar até em alunos com nível de aprendizado adiantado. (ELLIS, 1994, p. 331)

A nasalização de sons, um potencial caso de transferência que ocorre nas duas línguas em estudo, será vista a seguir.

2.1 NASALIZAÇÃO

A nasalização de alguns sons é característica tanto da língua portuguesa quanto da língua inglesa, porém ocorre em ambientes distintos e se manifesta de formas diferentes. Com relação ao português, constitui-se num dos aspectos mais desafiadores da língua (MATEUS & D’ANDRADE, 2000, p.130).

2.1.1 SONS CONSONANTAIS NASAIS

Por definição, um som consonantal nasal ocorre quando o véu palatino ou

velum encontra-se abaixado, forçando parte do ar que vem dos pulmões a dirigir-se à

cavidade nasal. O restante do ar se encaminha à cavidade oral, onde dois articuladores produzem uma obstrução completa da passagem desta corrente de ar. Ladefoged (2001[b], p. 164), no entanto, pontua que “o ar não precisa realmente sair pelo nariz para um som ser nasal. Basta que o véu palatino esteja abaixado tal que as ressonâncias das cavidades nasais afetem o som”. 11

2.1.1.1 No Português Brasileiro12

Três são os tipos de obstrução dos articuladores, resultando nas três consoantes nasais que ocorrem em português: [ ], [ ] e [ ]. A figura 1, a seguir, representa a articulação mais usual de cada um destes sons no PB.

10 O termo “interferência”, associado às teorias behavioristas de aprendizagem, era utilizado quando

ocorria “transferência negativa”, isto é, quando a língua alvo diferia de L1. Logicamente, há casos de “transferência positiva”.

11 Air does not actually have to come out of the nose for a sound to be nasal. It is just that the soft palate

has to be down so that the resonances of the nasal cavity affect the sound.

12 Há dois dialetos principais de português: o português brasileiro (PB) e o português europeu (PE), tendo

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FIGURA 1: SEÇÕES TRANVERSAIS MOSTRANDO OS PRINCIPAIS ARTICULADORES NAS FASES MEDIANAS DE PRODUÇÃO DAS NASAIS

(PORTUGUÊS)13

FONTE: LAVER, 1994, p. 210

Para a produção do [ ], oclusiva bilabial, o obstáculo é formado na cavidade bucal pelo fechamento dos lábios. No caso do [ ], oclusiva alveolar, a

13 A figura é meramente uma ilustração, pois é estática, e não capta pequenas variações articulatórias

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obstrução ocorre através da junção da ponta da língua com os alvéolos - região imediatamente posterior aos dentes incisivos superiores, condição mais usual, ou, dependendo do idioleto, diretamente com a parte posterior destes dentes: oclusiva dental. Estes dois segmentos ([ ] e [ ]) são uniformes em todos os dialetos do PB (CRISTÓFARO SILVA, 2003, p.33). Para a terceira consoante nasal [ ], a obstrução ocorre através da junção da coroa da língua com o palato duro – nasal palatal.

A consoante nasal palatal [ ] ocorre na fala de poucos falantes do PB. Geralmente um glide palatal nasalizado [y] ocorre no lugar da consoante nasal palatal para a maioria dos falantes do PB.( Ibid, p. 39)

Concentremos-nos, pois, na individualidade fonológica dos segmentos [ ] e [ ], que também estão presentes na língua inglesa. O segmento nasal bilabial [ ] ocorre em início de palavra (“mar”), e em meio de palavra, sejaseguindo consoante em outra sílaba (“norma”), seja em posição intervocálica (“homeopatia”). Os ambientes de ocorrência do segmento [ ] são semelhantes aos do [ ], ou seja, em início de palavra (“novela”), seguindo consoante em sílaba distinta (“ornar”), e em posição intervocálica (“guinada”).

Aqui é muito importante frisar que as letras m e n ocorrem ortograficamente em final de sílaba (tanto no interior de palavras -“limpo” e “tanto”, como no final delas –“tem”), não significando a articulação fonética dos segmentos [ ] e [ ].

[...] Neste caso [fim de sílaba e final de palavra] a letra m marca a nasalidade da vogal anterior e não a articulação de uma consoante nasal. [...] Neste caso [final de sílaba] a letra n marca a nasalidade da vogal anterior e não a articulação de uma consoante nasal. (Ibid, p.60)

Este poderia ser um dos exemplos que ilustrariam a afirmação de AVERY & EHRLICH (1992, p. 145) de que “muitos dos problemas de pronúncia incorreta de falantes de português podem ser originados na influência do sistema de grafia do português, e não na falta de habilidade de produzir determinados sons.”14

14 Many of the mispronunciations of Portuguese speakers can be traced to the influence of the Portuguese

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2.1.1.2 No Inglês

No caso da língua inglesa, as consoantes nasais também são três. As formas de obstrução que fazem com que o ar se propague pela cavidade nasal são similares às do português para o caso dos segmentos [ ] e [ ] (oclusivas bilabial e alveolar, respectivamente). Para o terceiro caso, ocorre a obstrução através da parte posterior da língua contra o palato mole ou também chamado véu palatino, e tem-se a nasal velar: [ ]. Nossos estudos se concentrarão nas duas primeiras nasais consonantais.

FIGURA 2 - PONTOS DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES NASAIS DA LÍNGUA INLESA

FONTE: UNDERHILL, 1994, p.141

Segundo ROACH (1983, p.58) “as consoantes m e n são simples e diretas, com distribuição similar aos oclusivos correspondentes [para [ ]: [ ] e [ ]; para [ ]: [ ] e [ ]]. Há, de fato, pouco para descrever ”15. A maior atenção é dirigida à nasal velar, “um som que traz consideráveis problemas a alunos estrangeiros e que é tão

15 The consonants m and n are simple and straightforward with distributions like those of the plosives.

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pouco usual no seu aspecto fonológico, que alguns discutem a sua existência enquanto fonema na língua inglesa. ”16 (Ibid, p.58).

Na língua inglesa, portanto, o segmento [ ] é produzido como bilabial em qualquer posição que ocupe dentro da sílaba, assim como o segmento [ ] é sempre alveolar, ambos podendo ocorrer tanto em início de palavra como em posição mediana ou final.

Um fato particularmente interessante é que as consoantes nasais no inglês mostram “timing” diferenciado entre os gestos17 que as compõem, quando estão no início ou em final de sílaba. Quando as nasais se encontram em início de sílaba (por exemplo, em see more [ver mais]), o final do abaixamento do véu aproximadamente coincide com o final do movimento de fechamento dos lábios, enquanto que as nasais em final de sílabas (como, por exemplo, em seem ore [parecem minério]) o final do abaixamento do véu coincide com o início do movimento de fechamento dos lábios (BROWMAN & GOLDSTEIN, 1995, p. 22), de onde se poderia prever uma nasalização da vogal antecedente, já que o abaixamento do véu começa durante a vogal. O fato das nasais em inglês poderem ocupar qualquer posição dentro da sílaba pode vir a causar problemas a falantes de português. AVERY & EHRLICH (1992, p. 147) deixam esta possibilidade clara:

Falantes de português frequentemente omitem nasais em final de palavras. As vogais precedentes frequentemente assumem a qualidade nasal da consoante nasal omitida, e então a distinção entre / /, / /, e / / é perdida no final de palavras. Palavras tais como “some” [algum/a], “sun” [sol] e “sung” [cantado] podem ser todas pronunciadas da mesma forma, com uma vogal nasal, mas sem uma consoante nasal.” 18

Este dado é bastante importante se levarmos em consideração a freqüência de uso das consoantes nasais em inglês: “Considerando as três juntas, as consoantes nasais [no inglês] são responsáveis por aproximadamente 10% dos sons na fala

16 …a sound that gives considerable problems to foreign learners, and one that is so unusual in its

phonological aspect that some people argue that it is not one of the phonemes of English at all.

17 Assumindo-se, evidentemente, uma perspectiva que toma como unidades de análise fônica os gestos

articuladores, como a Fonologia Articulatória de Browman & Goldstein (1986). Por esta perspectiva, as nasais bilabiais seriam constituídas de um gesto de abaixamento de véu, além de um gesto labial, que promove a oclusão dos lábios. Estes gestos sincronizam-se entre si de modo a resultarem na produção do segmento-alvo, sendo as diferenças nos padrões de sincronia responsáveis pelas variantes distintas – que neste caso das nasais se verificam em função de diferenças na posição silábica que a nasal ocupa.

18 Portuguese speakers often omit word-final nasals. Preceding vowels often take on the nasal quality of

the omitted nasal, and thus the distinction between / /, / / and / / is lost word-finally. Words such as “some”, “sun”, and “sung” may all be pronounced in the same way, with a nasal vowel but without a nasal consonant.

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corrente dos adultos” (MINES; HANSEN; SHOUP19, apud KENT & READ, 1992, p. 136) “e ocorrem em uma taxa média de aproximadamente duas [nasais] por segundo.” (KENT & READ, 1992, p. 136)

FIGURA 3: SEÇÕES TRANVERSAIS MOSTRANDO OS ARTICULADORES NAS FASES MEDIANAS DE PRODUÇÃO DAS NASAIS

(INGLÊS)

19 MINES, M.; HANSEN, B.; SHOUP, J. Frequency of occurrence of phonemes in conversational

English. Language and Speech, 21, 221-241, 1978.

Taken together, the three nasal consonants account for about 10% of the sounds in adult running speech…and occur at an average rate of about two per second.

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FONTE: LAVER, 1994, p. 210

2.1.2 NASALIZAÇÃO DE VOGAIS

A produção de vogais nasais ocorre quando há abaixamento do véu palatino, permitindo a entrada do ar na cavidade nasal, porém não há obstrução da passagem de ar através do trato oral através de nenhum dos articuladores.

2.1.2.1 No Português Brasileiro

Há intensa controvérsia quanto ao status fonológico das vogais nasais em português, basicamente resumida por CALLOU & LEITE (2000, p.87-88) em duas hipóteses:

A interpretação fonológica das vogais nasais em português tem sido sempre objeto de discussão por parte dos lingüistas. [...] Na primeira hipótese, admitimos que as vogais nasais são entendidas como fonemas distintos das respectivas vogais não-nasais.[...] Na segunda hipótese, as vogais nasais são interpretadas como variantes não distintas de suas correspondentes orais, resolvendo-se a questão em vogal seguida de um arquifonema consonântico [N].

A hipótese de ampliar o quadro de sete para doze vogais (acrescentando as cinco vogais nasais) é uma solução dada pelos estruturalistas, de cunho

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monofonêmico (vogais nasais como fonemas distintos das vogais orais, uma para

cada vogal oral correspondente ).

Dentro de uma abordagem estruturalista, existe ainda uma visão

bifonêmica sustentando que a vogal nasal é o produto de dois fonemas – uma vogal

oral condicionada pelo fonema supra-segmental de nasalidade (~): as vogais nasais seriam alofones das vogais orais, mas num ambiente em que haveria uma das consoantes nasais do português após a vogal.

A hipótese de que a vogal nasal é o conjunto de vogal seguida de consoante nasal na mesma sílaba tem em Mattoso Câmara o maior defensor:

A nasalidade pura da vogal não existe, aliás, fonologicamente, porque por meio dela não se cria oposição em português entre vogal pura envolvida de nasalidade e vogal seguida de consoante nasal pós-vocálica [...] Em face de tudo isso, é preferível partir do arquifonema nasal /N/ como o fato estrutural básico, que acarreta, como traço acompanhante, a ressonância nasal da vogal. (MATTOSO CÂMARA, 1975, p. 49) Esta seria uma visão arquifonêmica: o arquifonema [N] se realizaria como labial, dental, velar ou palatal, de acordo com a consoante que o seguisse, correspondendo então a um arquifonema dos fonemas nasais existentes em português, que deles só conservaria o traço comum da nasalidade.

Não há ainda um estudo conclusivo a respeito do status fonológico das vogais nasais no português. No entanto, a hipótese de Mattoso Câmara parece a melhor fundamentada até o momento (Sousa, 1994, p. 23).

2.1.2.2 No Inglês

Na língua inglesa, tanto o segmento [ ], como o segmento [ ], vindos depois de uma vogal, poderão vir a marcar a nasalidade desta: “vogais nasalizadas são comuns em todos os dialetos de inglês, particularmente quando há uma consoante nasal em cada lado da vogal, como, por exemplo, na palavra man”20 (LADEFOGED, 2001[b], p.164).

Um dos problemas para descrever a nasalização em vogais na língua inglesa é que ela não afeta todas as vogais da mesma forma. No entanto, “não faz

20 Nasalized vowels are common in all dialects of English, particularly when there is a nasal consonant

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diferença para o significado de uma palavra em inglês se a vogal é nasalizada ou não” (Ibid, p. 165). 21

KENT & READ (1992, p.136) citam que, como em geral vogais precedentes ou seguindo consoantes nasais tendem a se nasalizar em graus distintos, há experimentos que têm demonstrado “que os ouvintes são sensíveis à nasalização da vogal, e usam esta informação para fazer julgamentos perceptuais sobre as consoantes dos ambientes vizinhos.” 22

Dignas de nota são também as observações de SHOCKEY, que destaca uma mera tendência do inglês de, numa seqüência vogal + consoante nasal, nasalizar a vogal e não proceder à oclusão da consoante nasal (“ ...o processo é especialmente comum em inglês para grupos consonantais –nt em finais de sílabas/palavras”23 (SHOCKEY, 2003, p. 40). Porém, como ela mesma cita mais adiante,

... a nasalização de vogais antes de uma consoante nasal, e a perda do hábito de se proceder à oclusão para a nasal é considerada a razão de vogais fonemicamente nasais do francês (e.g. beau/bom) e do português (se/sim[si/s ]) onde se diz que as vogais foram “fonologizadas” porque a distinção passou formalmente da consoante para a vogal. Claramente, não pode se dizer que o inglês foi tão longe assim fonologicamente. 24(Ibid,

p. 41-42)

2.2 ANÁLISE ACÚSTICA DAS NASAIS

No estudo de nasais, os procedimentos acústicos para a coleta de dados são os que podem ser executados de forma mais prática: não são invasivos, não causam desconforto e são completamente seguros para os informantes (em oposição a métodos, por exemplo, que estudam os padrões de movimento dos articuladores, como as técnicas de imagem, como radiografia, ressonância magnética). Esta praticidade faz com que sejam os mais utilizados. No entanto, deve-se tomar cuidado, pois se sabe que algumas mudanças articulatórias não se refletem diretamente nas medidas acústicas: “além de um certo grau de abertura velo-faríngea, mudanças na posição do véu palatino tem um

21 It does not make a difference to the meaning of an English word if a vowel is nasalized or not. 22 São as transições, importantes nos estudos acústicos das consoantes nasais.

...that listeners are sensitive to the vowel nasalization and use this information to make perceptual judgments about the neighboring consonants.

23 …the process is specially common in English for final –nt clusters.

24 ...vowel nasalization before a nasal consonant and loss of the habit of making the closure for the nasal

is thought to be the source of phonemically nasal vowels of French (e.g. beau/bon) and Portuguese (se/sim [si/s ])where it is said to be ‘phonologized’ because the distinction has formally passed from the consonant to the vowel. Clearly, English can not be said to have gone that far phonologically.

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efeito não-linear na quantidade de fluxo nasal de ar, e um efeito mínimo nas propriedades espectrais da fala produzida.”25 (KRAKOW & HUFFMAN, 1993, p. 32).

2.2.1 PROPRIEDADES ACÚSTICAS DA FALA

Os principais componentes do aparelho fonador são os pulmões, responsáveis pelo fluxo de ar que se move para cima, passando pela traquéia, a laringe (onde se encontram as pregas vocais), a faringe (garganta) e cavidade oral - estas duas usualmente agrupadas em uma unidade chamada de trato oral, e a cavidade nasal ou trato nasal, que se inicia no véu palatino e termina nas narinas.

Quando falamos, produzimos ondas sonoras, que são variações na pressão de ar ao nosso redor. Estas ondas são complexas, isto é, são formadas a partir da combinação de diversas outras ondas ( tons puros ). As ondas sonoras são iniciadas nas pregas vocais, e o papel da laringe, faringe e cavidades oral e nasal é de ressonadores.(SOUZA, 2003, p.22-23)

A produção do som da fala humana pode ser considerada conseqüência da geração de uma ou mais fontes de som, e da filtração destas fontes pelo trato vocal e/ou nasal (STEVENS, 1998, p.56). O espectro26 de um som oral, por exemplo, compõe-se de formantes, que são o produto do espectro da fonte do som (as pregas vocais), e as propriedades de ressonância do trato vocal (o filtro), que pode atenuar ou ampliar certos componentes. “Um formante ou pico de ressonância no espectro é uma faixa de frequências que são seletivamente amplificadas pelo trato vocal. O pico desta ressonância é mais pontiagudo (a largura da faixa é mais estreita) se a maior parte da energia acústica se irradia da boca e pouca é absorvida pelas paredes do trato vocal.”27 (OHALA & OHALA, 1993, p.233).

KENT & READ (1992, p.11) esclarecem que o estudo da acústica da fala envolve a análise de um sinal (o sinal acústico vem a ser a contraparte física – as ondas sonoras -dos eventos articulatórios que produzem a fala) cuja energia está distribuída por uma faixa de freqüência de aproximadamente 10 kHz, tem uma faixa de energia

25 Beyond a certain degree of velopharyngeal opening, changes in velum position have a nonlinear effect

on the amount of nasal airflow and a minimal effect on the spectral properties of the speech produced.

26 O espectro é um gráfico que traz informação sobre a amplitude (eixo vertical) em relação à freqüência

(eixo horizontal) das ondas sonoras.

27 A formant or resonance peak in the spectrum is a band of frequencies which are selectively amplified

by the vocal tract. The sharpness of this resonance is greater (i.e., bandwidth is narrower) if most of the acoustic energy radiates from the mouth and little of it is absorbed by the walls of the vocal tract.

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(“dynamic range”) de aproximadamente 60 dB (decibéis) – o que quer dizer que os sons mais fracos são mais ou menos 60 dB menos intensos que os sons mais fortes, e tem variações significativas no tempo que ocorrem em 10 ms (milisegundos, ou milésimos de segundo) ou menos.

O sinal acústico da fala é, no entanto, um contínuo, devido a fenômenos co-articulatórios presentes na sua produção (o movimento dos articuladores é contínuo, existindo articulações de transição), e extremamente variável no tempo. Conclui-se daí que os limites do que se convencionou chamar de fones ou segmentos fonéticos não são fáceis de detectar (SOUSA, 1994, p.2-3).

2.2.2 AS CONSOANTES NASAIS NA TEORIA ACÚSTICA DA PRODUÇÃO DA FALA

A principal característica articulatória de um som consonantal nasal é que o canal velo-faríngeo está aberto, e a energia sonora é irradiada somente pelo trato nasal; o ressonante nasal se abre para a atmosfera, enquanto o oral está fechado. Apesar de a cavidade oral estar fechada em algum ponto, ela contribui para as qualidades de ressonância das consoantes nasais. Se assim não fosse, seria impossível distinguir uma consoante nasal da outra em produções isoladas. Porém, as narinas são menos eficazes que a boca na irradiação do som para a atmosfera, e isso faz com que, em geral, a “intensidade das consoantes nasais seja mais baixa do que a das vogais com que elas estão associadas, e isso pode ser visto por traços mais fracos nos espectrogramas”28 (FRY, 1979, p. 119).

As consoantes nasais constituem, então, uma classe única e complexa, pois são produzidas utilizando duas cavidades de ressonância. Além disso, como as outras classes de consoantes, sofrem influência do contexto vocálico em que se encontram e da interação dos pontos e modos de articulação (KUROWSKI & BLUMSTEIN, 1993, p.198). Uma complicação adicional está no fato de que há grandes diferenças na forma do trato nasal, o que significa que resultados de análises espectrais para um falante podem não dar uma previsão acurada do que poderá ser observado para outros falantes. (KRAKOW & HUFFMAN, 1993, p. 41-42)

28 … the overall intensity level of nasal consonants is noticeably lower than that of vowels with which

(17)

A principal razão da complexidade acústica das consoantes nasais está na sua estrutura espectral formada não apenas pelas ressonâncias das cavidades oral e nasal, mas também pelas anti-ressonâncias (anti-formantes) da cavidade oral, que são faixas de freqüência onde a energia acústica é seletivamente atenuada:

...quando a cavidade oral está fechada, em algum ponto, para uma consoante nasal, as freqüências dos anti-formantes são as freqüências nas quais a cavidade da boca curto-circuita a transmissão através do nariz. A energia, nestas freqüências, não passa através da cavidade nasal.29 (KENT & READS, 1992, p. 37-38)

FUJIMURA (1962, p.1871), foi um dos precursores de estudos acústicos de consoantes nasais. Tais estudos se basearam no murmúrio de consoantes nasais30 que ocorriam em um grande grupo de palavras inventadas, com a forma /h ’CVC/, isto é, uma sílaba consoante-vogal-consoante, onde caía o acento da palavra, precedida por uma sílaba não-acentuada. No caso das sílabas com / / e / / as consoantes iniciais e finais eram idênticas31. Três foram os informantes. Os resultados mostraram que o anti-formante ( que espectralmente está associado a vales de energia) está localizado, para a nasal / / , entre 750 e 1250 Hz, e para / /, entre 1450 e 2200 Hz, sendo o ambiente vocálico em que se encontram as nasais o fator responsável pela ocorrência dos anti-formantes em uma ou outra extremidade desta faixa de freqüência. Uma regra geral seria a de que quando o ponto de articulação se move para trás, a freqüência dos anti-formantes aumenta. No entanto, “o anti-formante muda sua posição apreciavelmente de palavra a palavra e mesmo dentro da mesma produção, dependendo da variação da configuração da cavidade oral”32 (Id). Fujimura conclui seu ensaio dizendo que apesar de ser possível separar as consoantes nasais por intermédio de seus anti-formantes, os formantes das transições das vogais adjacentes teriam um papel mais importante na individualização das nasais.

Então, uma das pistas para se verificar a qualidade da consonante nasal seria a freqüência dos anti-formantes. Porém, além dos estudos de Fujimura, outros indicam a dificuldade de se tomarem os anti-formantes como parâmetros de diferenciação entre as

29 ...when the oral cavity is closed at some point for a nasal consonant, the frequencies of the

antiformants are the frequencies at which the mouth cavity shortcircuits transmission through the nose. Energy at these frequencies does not pass through the nasal cavity.

30 Deve-se esclarecer que o murmúrio nasal é o segmento acústico associado à radiação exclusivamente

nasal da energia sonora, sendo um dos pontos, além das transições das vogais adjacentes, em que se estabelece o estudo espectral das nasais.

31 Os seus estudos incluiram também a nasal velar / /, em final de sílaba, da seguinte forma /h ’rV /. 32 …the antiformant changes its position appreciably from word to word and also within the same

(18)

consoantes nasais: “anti-formantes são extremamente difíceis de localizar e medir pelos métodos usuais de análise da fala.” (HOUSE33, apud KUROWSKI & BLUMSTEIN,1993, p.198).

Uma outra característica importante das consoantes nasais, além das faixas de freqüência de seus anti-formantes, é a existência de um chamado “formante nasal”, que ocorre frequentemente na faixa de 200-300 Hz. Este formante nasal está associado ao comprimento do tubo que se estende da laringe até as narinas, e que é relativamente longo – aproximadamente 12,5 cm em homens adultos. KENT & READ (1992, p. 231) colocam que, neste caso (para a fala do homem), o formante nasal pode chegar a uma freqüência de até 500Hz.

Uma ainda terceira característica para as consoantes nasais é que seus formantes tendem a ser altamente amortecidos, isto é, eles têm grandes larguras de banda, o que reflete uma rápida taxa de absorção da energia sonora.

Exemplos de espectrogramas para as palavras inglesas a Pam e a tan, ambas monossílabas com nasais em coda, são mostrados a seguir. São exemplos similares aos que foram utilizados para os estudos realizados neste trabalho.

FIGURA 4 - ESPECTROGRAMA DAS PALAVRAS “ A PAM” E “ A TAN”

FONTE: LADEFOGED, 2001(a), p. 181

33 HOUSE, A. Analog studies of nasal consonants. Journal of Speech and Hearing Disorders, 22, p.

190-204, 1957.

Antiformants are extremely difficult to accurately pinpoint and measure by the usual methods of speech analysis…

(19)

Ladefoged chama a atenção para uma marca clara das nasais, que é a mudança abrupta no espectrograma no momento de formação da obstrução articulatória, quando os lábios se juntam, no caso do [ ], ou quando a coroa da língua toca os alvéolos, no caso do [ ], mostrada pelas setas logo antes dos símbolos das nasais. A estrutura de formantes das nasais é similar à das vogais, com a diferença que suas bandas são mais fracas e suas freqüências dependerão das características de ressonância das cavidades nasais (particulares para cada indivíduo). Interessante de se observar que o autor relata que “usualmente” (e não “sempre”) há um primeiro formante situado em torno de 250 Hz ( que é o formante nasal) 34, e que a localização dos outros formantes varia, havendo geralmente uma extensa região acima de F1 sem energia. O autor ainda relata que a diferença entre cada uma das nasais (um dos objetivos deste presente trabalho) é frequentemente determinável a partir dos diferentes formantes de transição que ocorrem ao final de cada vogal, havendo um decréscimo no F2 da vogal antes de [m]. Porém, ao final da colocação, ele deixa claro: “Mas as pistas para o ponto de articulação às vezes não são muito claras”35 ( Ibid, p. 181-182).

Um outro exemplo:

FIGURA 5 - ESPECTROGRAMA DAS PALAVRAS “RAM” E “RAN”

FONTE: LADEFOGED, 2001(b), p.54

34 Quando da análise dos dados tanto do grupo controle quanto dos aprendizes, houve realmente

considerável variação em torno do valor deste valor de freqüência para F1.

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Neste caso, ele fala de um primeiro formante, com freqüência muito baixa, em torno de 200 Hz, cita novamente o ponto de distinção entre as nasais, não sendo toda a porção da nasal no espectrograma, mas apenas o seu início, e enfatiza que quando os lábios se fecham para [ ], “os formantes (especialmente o segundo) abaixam a freqüência.”36( LADEFOGED, 2001(b), p.54). Percebe-se que, tanto para a Figura 4, como para a Figura 5, que há pouca diferenciação entre os espectrogramas para [ ] e [ ] em codas.

KUROWSKI & BLUMSTEIN (1987) em seus estudos de propriedades acústicas para determinação do ponto de articulação das nasais (“pistas” acústicas37), partiram de dois experimentos: no primeiro (experimento I), três informantes produziram, cada um, cinco “palavras” com [ ] seguido das vogais [ ] , e cinco com [ ] seguido das mesmas vogais. A análise quantitativa de tais produções com os segmentos [ ] e [ ] + vogal indicou que acima de 89% das produções pode ser corretamente classificada com relação a ponto de articulação, comparando a proporção de mudança de energia na região espectral que vai do murmúrio até a soltura da nasal. No segundo experimento (experimento II), procedeu-se à análise de [ ] + [ ] ou [ ] + vogal, realizada por dois informantes na mesma região espectral, e 84% das produções foi corretamente classificada. Tendo demonstrado que os padrões espectrais para consoantes nasais são similares, ao menos em duas posições dentro da sílaba, as pesquisadoras partiram para o trabalho de nasais em posição de coda. A distinção entre as nasais, neste caso, mostrou-se mais difícil:

O próprio fato da transição gradual de vogal para completo murmúrio nasal na posição V[vogal]C[consoante], que contribui para a dificuldade de localizar a oclusão articulatória, também parece ter sérias conseqüências para uma medição que depende de uma rápida mudança de energia em um relativamente curto espaço[...] na forma da onda. Presentemente, usando os mesmos parâmetros para as medidas como nos experimentos I e II, as medições

36 …the formants ( particularly the second ) lower in frequency…

37 A função de uma “pista” acústica (acoustic cue) é possibilitar ao ouvinte fazer a distinção entre sons

(21)

puderam classificar corretamente 75% das nasais bilabiais para um dos falantes. Não mais que 56% para um segundo falante. Todas as alveolares foram problemáticas.38 (Ibid, p. 1924)

É interessante ressaltar o papel do murmúrio nasal. Acreditava-se, inicialmente, que ele não carregasse informações significativas sobre ponto de articulação (que define, na língua inglesa, uma nasal como bilabial, alveolar ou velar). Estudos de percepção de nasais indicaram, no entanto, que nem o murmúrio e nem e as transições isoladamente são indicações suficientes para ponto de articulação. Eles constituem pistas integradas utilizadas pelo aparelho auditivo para uma única representação, não sendo então os atributos acústicos para ponto de articulação segmentados pelo aparelho auditivo como componentes separados. (KUROWSKI & BLUMSTEIN39, apud KUROWSKI & BLUMSTEIN, 1993, p.206). No entanto, as autoras citam outros estudos que esclarecem que, apesar de tanto o murmúrio quanto as transições terem tanta informação sobre o ponto de articulação em sílabas VN ( vogal – nasal), como em sílabas NV (nasal-vogal) , as sílabas VN não foram identificadas tão bem quanto as sílabas NV 40.(REPP & SVASTIKULA41, apud KUROWSKI & BLUMSTEIN,1993, p.207).

Em outro estudo de percepção da distinção entre as nasais [ ] e [ ], OHDE, HALEY & BARNES (2006) também apontam para a contribuição do murmúrio nasal e a transição dos formantes das vogais como pistas de identificação das nasais. Nos experimentos destes pesquisadores, três crianças, três homens e três mulheres produziram sílabas NV e VN, com [ ] ou [ ] nas posições de consoantes, com as vogais [ ] ora precedendo, ora seguindo as consoantes. Os participantes dos testes de percepção foram dez falantes nativos. Uma das conclusões dos pesquisadores

38 The sheer gradualness of the transitions from vowel to full murmur in VC position, which contributes to

the difficulty of locating closure, also seems to have serious consequences for a metric that depends on rapid energy change over a relatively short (four glottal pulse) span in the waveform. At present, using all of the same parameters for the metric as in experiments I and II, the metric can correctly classify 75% of the labials for one speaker. It did no better than 56% for a second speaker. All alveolars were problematic.

39 KUROWSKI, K. M; BLUMSTEIN, S. E. Perceptual integration of the murmur and formant transitions

for place of articulation in nasal consonants, Journal of the Acoustical Society of America, v. 76, p. 383-390, 1984.

40 Conclusão a que as autoras haviam chegado em seu estudo de 1987, citado acima.

41 REPP, B; SVASTIKULA,K. Perception of the [ ]-[ ] distinction in VC syllables. Journal of the

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foi que, de forma geral, sílabas NV foram perceptualmente mais distinguíveis que as sílabas VN.

2.3 CONSOANTES NASAIS NA INTERLÍNGUA PB - INGLÊS

São poucos os estudos que relacionam as consoantes nasais na interlíngua de estudantes / falantes brasileiros de inglês.

Um deles é um estudo feito por Monahan, na Universidade da Flórida, dentro do programa de graduação em Lingüística (Monaham, 2001), cujo objetivo era, adotando a abordagem da teoria da otimalidade, listar as restrições da estrutura silábica do PB, e verificar se falantes nativos de PB as transferiam para o inglês, sua L2. Os processos a serem estudados estavam relacionados à assimilação regressiva da nasalidade e omissão da consoante nasal em codas, epêntese e glide lateral em codas. Os dados foram coletados através de leitura de sentenças por cinco informantes falantes nativos de PB, com idade variando de 21 a 28 anos, estudantes universitários que residiam nos Estados Unidos de quatro meses a três anos, e que lá estudavam inglês, tendo a maioria estudado inglês também aqui no Brasil. As suas conclusões, após análise fonética e fonológica dos dados, no caso específico das nasais, apontam para a nasalização das vogais:

Este processo [regressão da nasalidade e queda da consoante nasal em coda] é realmente evidente através de todos os dados, como se suspeitava, com poucas exceções. Através dos dados, forte nasalização de vogais estava presente, e na maioria dos casos não havia, ou havia pouca evidência de consoante nasal42 (MONAHAN, 2001, p.23)

As palavras apresentadas que serviram a estas conclusões foram (aparentemente) apenas quatro: plant, clan, owns, ounce. Tanto no caso de falantes nativos de inglês quanto para os brasileiros, o autor indica que ocorre nasalização da vogal anterior à consoante nasal, e se houver uma outra consoante em coda, ela também é articulada. A diferença que ele aponta está exclusivamente no apagamento da consoante nasal por parte dos falantes de PB(Ibid, p.24). Não aparecem dados estatísticos na pesquisa.

42 This process is indeed evident throughout the data, as it was suspected to be, with a few non-notable exceptions. Throughout the data, heavy nasalization of vowels was present and in most cases there was no, or in other cases very little, evidence of the nasal consonant surfacing.

(23)

BAPTISTA & SILVA FILHO (2006) estudaram a produção de codas simples (com uma única consoante) em palavras em inglês por seis estudantes, com idades entre 19 e 29 anos, alunos de graduação de inglês de uma universidade brasileira, falantes nativos de PB (o português permite somente /r/ e /s/ serem realizados foneticamente como consoantes em final de sílaba). Os autores citam o fato de que outros fonemas consonantais são modificados de alguma forma na sua realização fonética, como, por exemplo, as nasais “/m/ e /n/ são omitidas depois que sua nasalidade é assimilada pela vogal precedente, como em viagem, produzida como [ ’ ]”43 (Ibid, p. 78). O objetivo do estudo foi de examinar as codas produzidas pelos informantes primeiro em relação à sua marcação relativa ao segmento alvo, baseada na sonoridade, como também vozeamento, ponto e modo de articulação, e em segundo lugar com relação ao ambiente. O corpus foi composto por 432 sentenças, cada uma contendo uma palavra monossilábica, terminando numa de 16 consoantes alvo, grupo que incluía as nasais / / e / /. A nasal velar / / foi posteriormente excluída, pois a maioria dos informantes pronunciava um [ ] após a nasal, por questões de grafia. Cada uma das consoantes apareceu em 27 sentenças, em posição final, e seguida por palavras que iniciavam com outras 19 consoantes, glides e vogais.

Os resultados, especificamente para o caso das nasais, mostraram que:

As seqüências vogal-nasal foram frequentemente pronunciadas como vogais nasais, sem a consoante nasal final. Apesar deste resultado ter sido previsto, as consoantes nasais foram ainda incluídas no estudo por causa do conhecimento de que elas também algumas vezes causam paragoge [epêntese em final de palavra] ao invés de serem apagadas. Embora o conhecimento da fonologia do PB teria sido suficiente para predizer a estratégia preferida de paragoge e o processo de assimilação nasal e apagamento, a fonologia de L1 por si só não poderia ter predito quais consoantes finais causariam maior dificuldade ou em que ambientes. Por estas duas razões, foi necessário considerar a marcação.44( Ibid, p. 80)

43 /m/ and /n/ are omitted after their nasality is assimilated to the preceding vowel, as in viagem ( trip) ,

realized as [ ] .

44 Vowel-nasal sequences were frequently pronounced as nasal vowels without the final nasal consonant.

Although this result was also predicted, nasal consonants were still included in the study because of the knowledge that they also sometimes cause paragoge instead of omission. Although a knowledge of BP phonology would have been sufficient to predict the preferred strategy of paragoge and the process of nasal assimilation and deletion, NL phonology alone could not have predicted which final consonants would cause greater difficulty or in which environments. For these two questions, it was necessary to consider the markedness.

As nasais / / e / / juntas causaram paragoge em 3.7% das produções e assimilação / apagamento também em 3.7% das produções.

(24)

KLUGE (2004) conduziu experimentos de percepção e produção das nasais [ ] e [ ] em codas de palavras no inglês com 20 alunos de nível pré-intermediário cuja L1 era o PB, 13 mulheres e 7 homens, com idade variando entre 16 e 44 anos. Foram realizados 3 testes para a avaliação do desempenho dos alunos em termos de produção e percepção, todos de outiva. O primeiro teste era o de produção e consistia na leitura de uma lista de 72 sentenças com um monossílabo e 72 sentenças com um dissílabo, cada grupo com uma das nasais em questão em posição de coda. No caso dos monossílabos, quatro ambientes vocálicos foram utilizados como anteriores às nasais, / , , , / , e a nasal era seguida por uma vogal, por uma consoante ou por silêncio. No caso dos dissílabos, as palavras alvo seguiram quatro padrões relativos ao acento: as nasais poderiam pertencer à coda da primeira sílaba, com ou sem acento nesta sílaba, ou poderiam pertencer à coda da segunda sílaba, também com ou sem acento nesta sílaba. Através de análise de outiva, os resultados mostraram que em 38.66% dos dados analisados, as consoantes nasais não foram corretamente produzidas, porém a nasal [ ] apresentou resultados apreciavelmente melhores. Das estratégias utilizadas pelos informantes brasileiros, 91.96% consistiu no apagamento da consoante com conseqüente nasalização da vogal antecedente, 8.75% no apagamento sem a nasalização da vogal, e 0.18% de epêntese. Das palavras monossilábicas, 59.30% foram corretamente pronunciadas, e das dissílabas, 63.38% tiveram a produção correta.

O segundo teste foi de percepção, um teste de discriminação categorial, consistindo de 72 grupos de três palavras monossílabas. As palavras alvo eram cinco pares mínimos contrastando [ ] e [ ] em coda, com cinco vogais antecedentes (/ , , , , /), gravadas por falantes nativos. Menos da metade dos grupos das três palavras (44%) foi corretamente percebida pelos informantes brasileiros, porém os três falantes nativos utilizados como grupo controle também não tiveram o desempenho esperado: o percentual de respostas corretas foi de apenas 78.33% .

O terceiro teste foi também de percepção, para checar se os informantes brasileiros podiam discriminar as nasais em coda de uma pronúncia nativa das nasais em coda de uma pronúncia não nativa. Foram utilizados monossílabos, com as cinco mesmas vogais anteriores utilizadas no segundo teste. As palavras foram gravadas por dois falantes: um americano proficiente em português brasileiro, e um brasileiro proficiente em inglês (ambos gravaram cada palavra com uma pronúncia nativa e com

(25)

uma pronúncia intencionalmente não-nativa – nasalização da vogal antecedente à nasal e apagamento da nasal). Os alunos recebiam a forma escrita e tinham que identificar qual das duas pronúncias era a “mais nativa”, circulando “1” se fosse a primeira palavra pronunciada, “2” se fosse a segunda, “ambas”, se as duas pronúncias soavam nativas, ou “nenhuma” caso nenhuma soasse nativa. Os resultados mostraram que neste caso também menos da metade das respostas foram corretas (45.75%).

A conclusão do trabalho de pesquisa apontou para o fato de que o desempenho dos alunos foi melhor no experimento de produção do que no de percepção, sendo a produção aparentemente influenciada pelo processo de nasalização do português brasileiro ( nasalização da vogal e apagamento da consoante nasal).

Os resultados parecem indicar que há uma relação entre a identificação/discriminação das nasais em codas, que são o alvo da pesquisa, e sua correta produção. No entanto, a tendência do presente estudo é a produção ser mais precisa que a percepção. 45 ( Ibid, p. 68)

Com relação ao contexto fonológico, os resultados relativos à percepção sugeriram que tanto os alunos quanto os falantes nativos que participaram dos dois experimentos apresentaram dificuldades similares em ambos os testes, sendo que foi o ditongo / / o que mais desfavoreceu a percepção dos nativos para ambos os testes, e dos alunos no terceiro teste. A vogal / / foi a que mostrou os piores resultados para o grupo de alunos no teste de discriminação categorial.

Com relação ao contexto fonológico para as palavras monossilábicas, foi com a vogal antecedente / / que os participantes tiveram mais dificuldades nos testes de produção. No ambiente que segue a nasal, a maior dificuldade foi para as nasais seguidas de silêncio.

45 Results seem to indicate that there is a relationship between the identification/discrimination of the

target coda nasals and their accurate production. However, the tendency of the present study is for production to be more accurate than perception.

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2.4 CONCLUSÕES

Considerando-se a bibliografia disponível do estudo de nasais, em particular ao seu estudo acústico, verifica-se que a distinção entre as bilabiais e as alveolares continua sendo fonte de estudos ainda inconclusos.

Percebe-se que tanto o murmúrio nasal quanto as transições com o ambiente adjacente são indicações de possibilidade de distinção entre elas, e os estudos concentram-se na produção e percepção de dados obtidos com falantes nativos.

Com relação a estudos acústicos das nasais na interlíngua, tomando o português brasileiro como L1 e o inglês como L2, há ainda muito que ser feito. É nisso, especificamente no estudo das nasais em codas de monossílabos, que o presente trabalho de pesquisa pretende se concentrar.

(27)

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para que se pudesse levar a cabo as investigações que permitiriam atingir os objetivos estabelecidos na introdução deste trabalho, diversas variáveis foram definidas e entrelaçadas, conforme a descrição dos itens a seguir.

3.1 AMBIENTES QUE PRECEDEM AS NASAIS

Um dos objetivos específicos da pesquisa é avaliar a influência da vogal antecedente à nasal na produção desta. Inicialmente, imaginou-se detectar qual era o grau desta influência, com base no inventário dos quinze fonemas vocálicos do inglês americano (General American), segundo Carr (CARR, 1999, p.60-61)46.O próprio autor, no entanto, aponta que este número pode ser passivo de argumentação contrária ( o décimo sexto fonema vocálico seria o / / [schwa], porém este não ocorre em sílaba onde cai o acento da palavra, o que, no nosso caso, não é significativo, pois todas as palavras do corpus são monossilábicas e tônicas).

Devido à escassez de dados (palavras monossilábicas) para alguns destes fonemas e a abrangência de um trabalho de tal dimensão, optou-se por trabalhar, no estudo piloto, com quatro fonemas vocálicos:

Vogal anterior fechada / / e posterior fechada / /; Vogal anterior aberta / / e central aberta / /47.

Durante esta pesquisa piloto, conduzida no segundo semestre de 2005, perceberam-se diversos problemas de pronúncia entre os dois informantes que dela participaram, especialmente das vogais abertas (/ / e / /), no sentido de não se fazer a diferenciação entre elas, e da posterior fechada (/ /), que nem sempre era pronunciada como vogal longa. Decidiu-se, então, limitar-se a pesquisa a apenas dois ambientes anteriores às nasais: / / e / / . Utilizaram-se pares mínimos conforme a tabela a seguir:

46 Os fonemas vocálicos do GA segundo Carr: / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /, / /,

/ /, / /, / /.

47 A classificação das vogais no quadrilátero vocálico para a língua inglesa difere daquele da IPA

(International Alphabet Association), de modo que, por exemplo, o som vocálico que o IPA classifica como vogal meio-aberta ( ) é classificado, na literatura fonética do inglês, como uma vogal anterior aberta.

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TABELA 1 - PARES MÍNIMOS UTILIZADOS NA PESQUISA DE PRODUÇÃO DAS NASAIS [ ] E [ ] [ ] [ ] dim din gym gin [ I ] Pim pin skim skin Tim tin cam can dam Dan [æ ] gram gran jam Jan Pam pan 3.2 FRASES-VEÍCULO E DISTRATORES:

No estudo piloto já mencionado, utilizaram-se duas frases-veículo: “I’m going to say...”( eu vou dizer...) e “I say...quickly” ( eu digo...rapidamente) , para se

verificar qual seria a mais adequada . A primeira pareceu mais adequada, pois não

haveria interferência alguma de nenhum fone seguinte ao nasal, evitando problemas de co-articulação, o que prejudicaria sensivelmente os resultados. A segunda, de difícil dicção, também mostrou a interferência de seu valor semântico - quickly, em inglês, significa rapidamente, e assim era a frase pronunciada (optou-se por fazerseguir a nasal de uma palavra iniciada com o fone [ ] por causa da distância dos pontos de articulação deste e das nasais).

Para o estudo presente, as palavras da Tabela 1 foram inseridas numa frase-veículo ainda mais simples que a utilizada no piloto: “I say...” (Eu digo...) .Optou-se

(29)

por utilizar esta frase para evitarem-se os problemas de assimilação já mencionados, bastante comuns entre as nasais.

Foram utilizados distratores na proporção de um distrator para cada palavra em estudo.

3.3 LIVRETOS

Verificou-se no estudo piloto que algumas palavras bastante simples e seguramente do conhecimento dos dois alunos de nível intermediário de inglês que participaram do experimento, foram pronunciadas com bastante desvio da pronúncia considerada padrão. Acredita-se que este fato deveu-se, em parte, à falta de contexto em que elas apareceram. Para minimizar este problema, optou-se pela leitura de cada uma das frases acompanhada por um desenho esquemático mostrando o significado da palavra em questão. Assim, “I say gin” aparecia juntamente com o desenho de uma

garrafa indicando que gin era uma bebida. Os desenhos, juntamente com as frases, aparecem no apêndice 1.

Foram montados três livretos de 15x10cm onde cada página correspondia a uma frase-veículo carregando uma palavra com o som nasal a ser estudado e o seu respectivo desenho, alternada com uma página onde aparecia a mesma frase veículo com um distrator e também seu respectivo desenho. Cada livreto possuía, conseqüentemente, 40 páginas (20 páginas com palavras alvo alternadas com 20 páginas com os distratores). Como se decidiu que cada palavra seria repetida três vezes, foram montados três livretos, apenas variando a ordem em que as palavras relevantes apareciam nas frases-veículo, sempre intercaladas pelos distratores. As seqüências destes livretos aparecem no apêndice 2.

A necessidade da montagem de livretos deveu-se ao fato de que havia necessidade de se estabelecer uma ordem exata para a leitura das frases, para que quando da posterior análise, se soubesse qual foi – ou qual deveria ter sido - a palavra pronunciada, pois como as palavras não eram corretamente pronunciadas, corria-se o risco de não se saber o que tinha sido dito (palavras distintas eram pronunciadas sem distinção). Como este problema havia ocorrido no piloto, onde se usaram tiras com as frases, o uso dos livretos eliminou o perigo de não se saber qual palavra deveria ter sido lida.

(30)

3.4. INFORMANTES ALUNOS

Os informantes foram dez adolescentes, cinco meninos e cinco meninas, na faixa etária dos 14 aos 17 anos, alunos de língua inglesa de nível pré-intermediário, com três anos e meio a quatro anos de estudo formal de inglês na mesma escola de idiomas, onde o dialeto ensinado é o americano, tendo tido em torno de 350 a 400 horas de instrução (sem considerar as aulas em escolas regulares, de ensino fundamental ou médio). Nenhum deles havia morado ou visitado país de língua inglesa, ou tem o inglês como língua usual de comunicação em casa ou com amigos. O grupo era, portanto, bastante homogêneo.

3.5 GRUPO CONTROLE

Verificou-se a necessidade da utilização de um grupo controle formado por falantes nativos, para comparação dos dados acústicos obtidos através das gravações.

Foram feitas gravações com dois falantes nativos, ambos americanos, também adolescentes: uma menina, B, de 14 anos, natural de Los Angeles, Califórnia, e um menino, M, de 11 anos, natural de Phoenix, Arizona. São irmãos e estavam no Brasil há menos de um ano quando foram feitas as gravações. Ambos estudam em escola cujo idioma falado é o inglês (Escola Internacional de Curitiba), e têm aulas de português para estrangeiros.

3.6 COLETA E ANÁLISE DE DADOS:

A leitura e gravação das frases foram feitas em estúdio, tanto para os alunos, quanto para o grupo controle, a uma taxa de amostragem de 44.1 kHz, 16 bites, em.WAV. Para análise dos dados foi utilizado o software PRAAT, um programa de análise acústica e síntese de fala, desenvolvido no Departamento de Fonética da Universidade de Amsterdã, Holanda (esse programa pode ser constantemente atualizado através de download : www.praat.org ). Foi utilizada a versão 4.4.30.

Foram analisadas as 120 sentenças pronunciadas e gravadas pelo grupo controle (2 informantes x 20 sentenças x 3 repetições por sentença). Neste caso, como havia necessidade de se estabelecer quais seriam os parâmetros significativos na distinção entre os sons de [m] e [n], foram tabulados os valores correspondentes a:

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- duração da sentença pronunciada (milisegundos, ms); - duração da palavra que contém o som nasal (ms); - duração da vogal anterior à nasal (ms);

- freqüência dos quatro primeiros formantes da vogal (Hertz, ou Hz): F1, F2, F3, F4;

- duração da nasal (murmúrio nasal) (ms);

- freqüência dos quatro primeiros formantes da nasal (Hz): F1, F2, F3, F4. Os formantes, tanto da vogal, quanto da nasal, foram extraídos no ponto correspondente ao tempo médio de sua enunciação, isto é, se a duração do murmúrio nasal ou da vogal era de 140 ms (0.140s), por exemplo, os formantes foram extraídos a um tempo correspondente a aproximadamente 70 ms (0.070s), utilizando, na grande maioria das vezes a extração automática fornecida pelo próprio PRAAT (poucas vezes foi feita a extração manual, e isto ocorreu com o primeiro formante das nasais apenas).

No caso dos alunos, foram analisadas 600 palavras (10 informantes x 20 palavras x 3 repetições por informante). Neste caso, foram tabulados os valores correspondentes a:

- duração da palavra que contém o som nasal (ms); - duração da nasal (murmúrio nasal) (ms);

- freqüência dos quatro primeiros formantes da nasal (Hz): F1, F2, F3, F4. Os formantes foram extraídos utilizando-se dos mesmos procedimentos metodológicos dos utilizados com o grupo controle. O ambiente em que foram extraídos obedeceu à seguinte configuração, em ambos os casos (configuração padrão do programa):

- formante máximo (Hz): 5500,0; - número de formantes: 5,0; - comprimento de janela(s): 0,01; - dynamic range (dB): 30,0.

A média, a que se referem algumas das tabelas, corresponde à média aritmética de dados.

(32)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ANÁLISES DAS PRODUÇÕES DO GRUPO CONTROLE

Como exposto no capítulo anterior, referente à metodologia de pesquisa, para fins comparativos e devido também à falta de referências específicas na literatura sobre dados acústicos de nasais em codas, tanto de falantes nativos como de alunos brasileiros de língua inglesa, procedeu-se à análise dos dados de dois falantes nativos, adolescentes tal como os alunos, um menino(M) e uma menina(B), tal que pudéssemos, a partir daí, definir parâmetros para a análise da produção dos brasileiros.

No apêndice 3 encontram-se os resultados das análises das variáveis das três repetições para cada palavra de cada um dos falantes nativos, e em seguida, as médias aritméticas correspondentes. Optou-se por fazer a média dos três primeiros formantes – F1, F2, F3 - da vogal que antecede a nasal, assim como da nasal (mais propriamente do murmúrio nasal). Os símbolos ( ) e ( ), que aparecem na linha correspondente à média aritmética, foram inseridos apenas para reforçar a idéia de que estas médias referem-se aos dados obtidos com B, a menina, e M, o menino, respectivamente. Os dados aparecem na seguinte seqüência: em cada página, aparecem dados de um par mínimo, por exemplo, CAM x CAN. Inicialmente, os dados obtidos com as três repetições de

CAM de B, seguidos pelas respectivas médias aritméticas. Depois, os dados das três

repetições de CAN de B, também seguidos de suas médias. Na seqüência, obedecendo à mesma ordem, os resultados obtidos com M: CAM, dados de suas três repetições e as médias correspondentes, e CAN, dados de suas três repetições e as médias correspondentes. As médias sempre aparecem em negrito.

Para se facilitar a visualização dos resultados, em alguns casos (por exemplo, no caso dos valores de duração relativa, que não aparecem no apêndice 3) após apresentação das tabelas com dados, optou-se pela elaboração de gráficos que deixassem claras as relações entre os diversos parâmetros de cada um dos pares [ ] x [ ]. Por se acreditar que os valores referentes às durações relativas dos segmentos alvo em relação à palavra em que estavam inseridos, e os valores dos formantes da vogal antecedente à nasal e os da nasal propriamente dita se apresentariam como os mais expressivos, foram elaborados gráficos com ênfase específica nestas variáveis. Os gráficos foram, então, divididos nestes três grupos:

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- Gráficos referentes aos valores de duração relativa de segmentos;

- Gráficos relativos à média dos valores dos formantes da vogal que antecede a nasal;

- Gráficos relativos à média dos valores dos formantes da nasal (murmúrio nasal).

Também com o objetivo de facilitar a comparação dos dados, os gráficos para B foram seguidos dos similares para M.

4.1.1 VALORES DE DURAÇÃO RELATIVA DE SEGMENTOS

Os dados de duração (em milisegundos) que se obtiveram foram os seguintes: - duração da sentença em que a palavra alvo se encontrava (frase veículo + palavra alvo. Por exemplo, duração da frase: I say cam);

- duração da palavra (no exemplo, a duração da palavra cam); - duração da vogal (no exemplo, a duração de [ ]);

- duração do murmúrio nasal (no exemplo, a duração de [ ]).

Isoladamente, cada um destes dados está sujeito a variações por conta do idioleto, características pessoais do informante. Além disso, a velocidade da fala é muito variável e optou-se, então, por considerar-se um valor relativo, que neutralizasse esta variação, levando em consideração a duração do segmento alvo enquanto inserido na palavra alvo.48 Obteve-se este valor relativo, dividindo-se o valor médio da duração do murmúrio nasal (que nos dá a duração do segmento [ ] ou [ ], conforme o caso) pelo valor médio obtido com a duração da palavra alvo, e o resultado multiplicado por 100. O valor final nos diz qual é o percentual que o murmúrio nasal ocupa na duração total da palavra. As diferenças que aparecem nos comentários são diferenças em pontos percentuais.

48 A duração da vogal também se mostraria problemática se fosse usada como parâmetro comparativo,

Referências

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