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A Lei nº. 10. 639/03: limites da norma antirracista no município de Tocantinópolis (TO).

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS DE TOCANTINÓPOLIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

CESAR SERGIO ALVES

A LEI Nº. 10. 639/03: LIMITES DA NORMA ANTIRRACISTA NO MUNICÍPIO DE TOCANTINÓPOLIS (TO).

TOCANTINÓPOLIS (TO) 2019

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CESAR SERGIO ALVES

A LEI Nº. 10. 639/03: LIMITES DA NORMA ANTIRRACISTA NO MUNICÍPIO DE TOCANTINÓPOLIS (TO).

Monografia foi avaliada e apresentada à UFT – Universidade Federal do Tocantins – Campus Universitário de Tocantinópolis para obtenção do título de Pedagogo e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora

Orientador: Dr. Mauro Torres Siqueira.

TOCANTINÓPOLIS (TO) 2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Tocantins S484l Sergio, Cesar.

A LEI Nº. 10. 639/03: LIMITES DA NORMA ANTIRRACISTA NO MUNICÍPIO DE TOCANTINÓPOLIS (TO).. / Cesar Sergio. – Tocantinopolis, TO, 2019.

46 f.

Monografia Graduação - Universidade Federal do Tocantins – Câmpus Universitário de Tocantinopolis - Curso de Pedagogia, 2019.

Orientador: Mauro Torres

1. LEI Nº. 10. 639/03. 2. NORMA ANTIRRACISTA. 3. LIMITES. 4. IMPLEMENTAÇÃO. I. Título

CDD 370

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Elaborado pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica da UFT com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por me permitir alcançar meus objetivos. À minha família e amigos pelo apoio.

Ao Prof. Dr. Mauro Torres Siqueira, pela orientação, disponibilidade e paciência.

Aos colegas de curso, em especial aos amigos Adriano Andrade, Caio Borges, Carlos Alberto e Rodrigo Oliveira, pela parceria durante o decorrer do curso.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar os entraves para implementação da lei nº. 10.639/03, na cidade de Tocantinópolis, localizada no norte estado do Tocantins. Por ser a referida lei um marco para a história em geral, é imprescindível que suas determinações estejam presentes em todas as unidades escolares, como um instrumento para o combate ao racismo. A pesquisa se deu por meio da análise de monografias realizadas por alunos da UFT, as quais enfocaram diversas unidades escolares dentro do município. Buscavam, como neste trabalho, analisar aspectos da Lei n° 10.39/03 nestes espaços: como se dá sua aplicação e a forma como ela vem sendo trabalhada dentro e fora da sala de aula. A partir da análise dessas monografias pudemos então traçar quais os desafios enfrentados na implementação da lei.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the obstacles to the implementation of law no. 10.639/03, in the city of Tocantinópolis, located in the northern state of Tocantins. Since this law is a landmark for history in general, it is essential that its determinations be present in all school units, as an instrument to combat racism. The research took place through the analysis of monographs made by UFT students, which focused on several school units within the municipality. They sought, as in this work, to analyze aspects of Law No. 10.39 / 03 in these spaces: how it is applied and how it has been worked inside and outside the classroom. From the analysis of these monographs we could then trace the challenges faced in the implementation of the law. Keywords: Law nº. 10.639/03; Implementation; Anti-Racist Measure.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1. ANGUNS APONTAMENTOS SOBRE “RAÇA” E RACISMO BRASILEIRO 11 1.1 Uma abordagem das noções de “raça” e racismo ... 11

1.2 Racismo no Brasil: a teoria do branqueamento e o movimento eugenista ... 13

1.3 O mito da democracia racial brasileira ... 16

1.4 O racismo contemporâneo ... 20

2. A LEI Nº. 10. 639/03: TRAJETÓRIA E ASPECTOS ... 24

2.1 O papel do movimento negro na criação da Lei ... 24

2.2 Aspectos sobre a Lei Nº. 10.639/03 ... 27

3. PESQUISA: LIMITES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI Nº. 10.639/03 NO MUNICÍPIO DE TOCANTINÓPOLIS (TO) ... 30

3.1 Breve apresentação das monografias analisadas ... 31

3.2 Dificuldades para a implementação da lei no município ... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

ANEXO ... 43

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9 INTRODUÇÃO

A história do Brasil está inteiramente ligada a trajetória histórica da população negra, uma vez que os negros chegaram com os primeiros colonizadores e aqui se estabeleceram como a força produtiva, influenciando diretamente a cultura, a religiosidade, e os costumes brasileiros. O nosso país sem a presença negra, não alcançaria o desenvolvimento que atinge hoje, já que ela proporcionou a força motriz que alavancou o Brasil, ajudando-o a se constituir em uma nação.

Desde antes da própria abolição da escravidão, os negros clamavam por ascensão social, econômica e política, por acesso à educação e melhores condições de vida. Essa ascensão não seria possível sem o acesso à escola, portanto, acessar a escola sempre foi objetivo das organizações negras1. Mesmo com a tentativa da elite em dificultar o acesso dos

negros a educação, as diversas organizações negras criadas desde o pós-abolição, procuraram meios para a inserção dos negros no processo de instrução.

As representações do negro ao longo da história do Brasil, o transformaram em um sujeito rejeitado da História, ou seja, é como se houvesse uma negação da sua presença no país, sempre o apresentando como escravo e não como escravizado. Portanto, a luta dos negros, desde a escravidão até os dias de hoje, não se fez por questões de disputa de poder com não negros. É uma luta por direitos, pela igualdade, e pelo respeito na condição de ser humano.

O negro é pouco abordado nos livros didáticos, e a sua história frequentemente recai apenas a escravidão. Sua imagem também continua sendo atrelada constantemente a pobreza, fome, violência e marginalidade. Contudo, com a redemocratização do país, à luta do movimento negro permite que haja conquistas relevantes, com a criação leis que passam a dar atenção as reivindicações históricas dos negros, iniciando um período de conquistas que irão chegar até o ano de 2003, com a assinatura da Lei Nº 10.639/03, tornando obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas em todos os níveis.

A lei é o reflexo da mobilização de negros ao longo dos mais de 500 anos de história do Brasil, e vem na contramão de todo o discurso racista que impregnou nosso país. Se a lei hoje propõe fazer um resgate histórico e ensinar para todos os brasileiros, independentemente

1 O Brasil teve diversas organizações negras em sua história, dentre elas, destacamos a Frente Negra Brasileira

(1931), a União dos Homens de Cor (1943), o Teatro Experimental do Negro (1944), e mais recentemente o Movimento Negro Unificado (1978), que se perpetua até os dias atuais.

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10 de sua etnia, a importância histórica dos africanos e afro-brasileiros na história do Brasil, isso significa que a luta dos negros desencadeou uma grande conquista.

Porém não significa dizer que essa luta terminou, pois o racismo e a discriminação racial permeiam até a contemporaneidade na realidade brasileira. Reflexo disso, a produção bibliográfica revela que a lei de fato não vem sendo implementada da forma como deveria. Dessa forma, a luta dos negros continuará, e terá enfoque na implementação da lei em todo o país.

Esse trabalho está organizado em três capítulos, sendo o primeiro dedicado a apontamentos históricos sobre “raça” e racismo no Brasil. Para tanto, foram utilizadas majoritariamente as referências presentes no plano da disciplina Educação e Cultura Afro-brasileira, cursada durante a graduação em Pedagogia. O intuito foi de demonstrar o quanto o negro lutou em busca de melhores condições de vida, enfrentando o racismo e o preconceito que a elite brasileira sempre tentou omitir.

O segundo apresenta um pouco da luta negra que consequentemente ocasionou na criação da Lei 10.639/03. A história dessa conquista, assim como a lei, ainda se mostram bastantes desconhecidas por grande parte da sociedade brasileira. São apresentadas também o que prevê cada artigo da lei.

O terceiro está dedicado à análise de monografias que nos trazem informações acerca da implementação da lei no município. Assim, essa etapa do trabalho, terá como objetivo identificar/apontar os motivos que impedem a implementação da lei no espaço escolar do município de Tocantinópolis – TO.

O tema abordado nesse trabalho foi escolhido após a participação na disciplina “Educação e Cultura Afro-brasileira” em 2017, no curso de pedagogia na Universidade Federal do Tocantins, campus de Tocantinópolis. Nesse momento, constatei com base na minha vida escolar, que a abordagem da temática referente ao ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, se difere bastante da forma com que a mesma é tratada na disciplina estudada na universidade.

O trabalho se justifica pela relevância da implementação lei, que deve ser percebida como fruto de uma luta histórica e um ganho para toda a sociedade brasileira, que poderá perceber o quanto o racismo, a desinformação a negação de uma cultura e da história de um povo, é nocivo para a construção de uma nação e para uma verdadeira democracia.

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11 1. ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE “RAÇA” E RACISMO BRASILEIRO

1.1 UMA ABORDAGEM DAS NOÇÕES DE “RAÇA” E RACISMO

Sem a intenção de definir um conceito universal, podemos conceber o racismo como um conjunto de ideias que defendem a existência de “raças” superiores umas às outras. “Racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros” (RUFINO, 1984, p. 11). Assim, o racismo pode ser um ato dirigido a pessoas de diversas origens e não somente aos negros, como comumente se acredita, por esses serem historicamente os mais afetados.

O racismo não é uma prática isolada de um indivíduo intolerante. É algo visto na própria forma de organização da sociedade, no agir e na propagação de ideias que alimentam as desigualdades. É composto pela junção do preconceito e discriminação, ou seja, de uma ideia preconcebida anterior ao conhecimento da verdade e de uma ação equivocada baseado num pré-julgamento.

Lopes (2005), explica como o racismo é aprendido:

As pessoas não herdam, geneticamente, ideias de racismo, sentimentos de preconceito e modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na família, no trabalho, no grupo religioso, na escola. Da mesma forma, podem aprender a ser ou tornar-se preconceituosos e discriminadores em relação a povos e nações (LOPES, 2005, p. 188).

Para uma melhor compreensão acerca do racismo, é necessário elencar também o que se entende por “raça”. Atualmente no campo biológico, o termo faz referência aos subgrupos de uma espécie. Como disse Pena (2005, p. 323), um dos maiores geneticistas do Brasil, “[...] ‘raça’ pode ser usada em um sentido biológico, para caracterizar uma população geneticamente diferenciada, isto é, uma subespécie".

Sobre o uso do termo dirigido a seres humanos, os trabalhos científicos abordam que, mesmo os indivíduos que possuem características físicas externas consideradas mais divergentes são, sob o olhar da genética, semelhantes ao ponto de não ser possível distingui-los em “raças”. Segundo Pena (2005), existe um vasto consenso entre antropólogos e geneticistas de que, do ponto de vista biológico, “raças” humanas não existem.

Portanto, como vimos é incorreto dizer que existem diferentes “raças” humanas, uma vez que espécie humana não possui subespécies ou subcategorias. Mesmo assim, vemos a

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12 regularmente a palavra sendo empregada para designar diversos grupos étnico-culturais. Desse modo, esse termo voltado a humanos é uma construção fruto do imaginário social, perpetuada principalmente pelo preconceito.

Efetivamente, a população brasileira é formada por representantes de todas as “raças” existentes na humanidade (embora se deva advertir que o conceito de “raça”, sociologicamente, é um constructo social, tendo em vista que num sentido estrito existe apenas uma raça humana). (STRIEDER, 2001, p. 26)

Segundo Munanga (2004), apesar da inexistência de “raça” para um geneticista ou um biólogo, ainda existem na cabeça e nas atitudes de inúmeras pessoas, as “raças” inventadas, baseadas em diferenças fenotípicas, a exemplo, a cor de pele. E são por meio dessas “raças” socialmente construídas, que o racismo é popularmente mantido e propagado.

Essas ideias, que têm como pressuposto a classificação de indivíduos em “raças”, foram ganhando forma desde meados do século XVI, principalmente nos processos de expansão, onde os europeus travam contatos regulares com povos diferentes no aspecto cultural e fenotípico, e por essas divergências os consideram pertencer a “raças” inferiores.

O surgimento da ideia de raça como a conhecemos é datado dos séculos XVIII e XIX. No entanto, anteriormente a esse período, já se verificava a existência de formas proto-racistas nas relações. Nos séculos XVI e XVII, na França, começava a se delinear uma proto-ideia de raça, quando foram estabelecidos padrões de segregação calcados nos pressupostos de linhagem (TAGUIEF, 2002 apud SIQUEIRA, 2015, p. 28).

A ciência no século XIX, defendendo um posicionamento divergente ao atual, formalizou uma doutrina racialista, por meio de uma obra (ensaio sobre as desigualdades das “raças” humanas) do filósofo francês Arthur de Gobineau.

O livro implicava basicamente em critérios de divisão e hierarquização entre supostas “raças” humanas, para justificar a dominação racial. “Nos séculos XVIII e XIX, a ciência buscou elaborar uma teoria científica que pudesse identificar os determinantes sociais e biológicos para uma classificação entre raças.” (SIQUEIRA, 2015, p. 30)

A priori, intelectuais da época ajudaram a fortalecer essas teses que defendiam a segregação da espécie humana em “raças”, que poderiam ser facialmente identificadas a partir de aspectos observáveis e por consanguinidade.

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13 A posteriori, essas ideias foram sendo incorporadas e difundidas na sociedade principalmente pelas classes ocidentais dominantes. A justificação para a segregação racial acontecia da seguinte maneira:

Para a distinção entre nobreza e plebe não havia outro caminho que não os aspectos morfobiológicos, os quais justificariam as relações de dominação, hierarquização e sujeição de coletividades. Cristalizou-se, a partir de então, uma diferença baseada no sangue, no parentesco, na linhagem e na descendência. (MUNANGA, 2004 apud SIQUEIRA, 2015, p. 28)

As crenças racialistas serviam para tentar justificar as desigualdades existentes, bem como estado de sujeição a qual grupos étnicos eram submetidos. Amparava a forma que estavam estruturados hierarquicamente os povos, onde os brancos situavam-se no topo da sociedade e os outros grupos se distribuíam pela base.

O branco europeu se portava assim como um “detentor da verdade”, onde somente seus posicionamentos sobre o mundo e os diferentes povos tinha validade. “Ao branco europeu restava então, o encargo de levar ao mundo o sentido da humanidade, revelando aos outros povos o que havia de incorreto em seus modos de vida e indicando-lhes suas limitações genéticas e psíquicas.” (SIQUEIRA, 2015, p.30)

O racialismo como doutrina, impulsionou a discriminação racial e trouxe sequelas á povos de várias nações. “O pensamento racialista impulsionou o nacional-socialismo nazista, na Alemanha; e o Apartheid, na África do Sul, resultando na morte de milhares de pessoas, portadores dos estigmas raciais considerados inferiores” (MUNANGA, 2004 apud SIQUEIRA, 2015, p. 30).

O racialismo hoje é entendido como uma pseudociência, que queria legitimar uma forma de dominação social, usando para tanto uma máscara científica. No entanto, independentemente desse fato, as ideias segregacionistas foram amplamente divulgadas e apoiadas durante bastante tempo, e suas consequências e reprodução perpassam até os dias atuais, pontua Siqueira (2015).

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14 1.2 RACISMO NO BRASIL: A TEORIA DO BRANQUEAMENTO E O MOVIMENTO EUGENISTA

Após o abolicionismo no Brasil, o processo de miscigenação se intensificou, atingindo seu auge até então, aumentando assim de forma impactante o número de mestiços no país, criando um tipo nacional de homem.

É importante ressaltar conforme Strieder (2001), que as camadas sociais tidas como inferiores, não foram tratadas como verdadeiros cidadãos. As autoridades brasileiras não cogitaram a realização de medidas de inclusão na sociedade da população negra e mestiça, de modo que estes pudessem receber o mesmo tratamento que os indivíduos de cor de pele branca recebiam. Portanto, essa realidade foi propulsora de desigualdades e da pobreza vista rotineiramente.

Com a grande quantidade de mestiços vivendo no Brasil, predominavam ideias de que a mestiçagem era o problema que causava atraso no país. Dessa forma, tiveram respaldado planejamentos que visavam a imigração exclusiva de pessoas brancas. Esperava-se com essa medida, que haveria um processo de branqueamento da população, explica Strieder (2001).

Nesse período, as teorias de inferiorização do negro e do mestiço associadas ao incentivo da imigração europeia, tornaram possível a manutenção do ordenamento hierárquico no qual o negro era desqualificado, ocupando os estádios inferiores da sociedade. Nesse contexto, desenvolveu-se uma das mais importantes teorias racistas no Brasil, a ideologia do branqueamento. (SIQUEIRA, 2015, p.31)

O próprio Arthur de Gobineau, esteve em missão diplomática no brasil no ano de 1869, onde se encontrava com o então imperador Dom Pedro II. O conde não via com bons olhos os Brasileiros. Para ele, o nosso país não teria futuro devido a mestiçagem, que levaria ao desaparecimento da população. A solução segundo ele, seria a imigração de “raças” europeias superiores.

Aos olhos de Gobineau, além de se mostrarem “esteticamente repugnantes”, os brasileiros carregavam defeitos ainda mais graves, como o de serem avessos ao trabalho, “evitam mover uma palha para fazer qualquer coisa de útil, até mesmo para se afogarem”, dados a vícios e, também, eram pouco férteis e fisicamente enfraquecidos, o que garantiria sua diminuição e aniquilamento em menos de dois séculos. (SOUSA, 2012, p. 21)

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15 A teoria do branqueamento visava o clareamento visível na cor de pele das pessoas. Dessa forma achava que “[...] o sangue branco purificava, diluía e exterminava o negro, abrindo assim a possibilidade para que os mestiços se elevassem ao estado civilizado” (GUIMARÃES, 1999 apud SIQUEIRA, 2015, p. 31).

Além disso, queria a desconstrução de culturas diferentes do modelo europeu vigente. “Logo, o branqueamento não se restringia ao aspecto físico, envolvendo um modelo de humanidade eurocêntrico”. (SIQUEIRA, 2015, p. 32).

Essas ideias foram apresentadas no Congresso Mundial das “Raças” em Londres, no ano de 1911. O Brasil participou enviando como seu principal representante, João Batista de Lacerda, que mostrou ao mundo como o nosso país estava resolvendo o problema do negro, como era chamado, pela via da miscigenação.

A meta então seria a combinação da “raça” branca, tida como superior, com outras consideradas inferiores, a qual pertenceriam negros e mestiços. O discurso de Lacerda demonstra claramente essa ideia. “Segundo ele, o cruzamento racial tenderia a fazer com que negros e mestiços desaparecessem do território brasileiro em menos de um século, ou seja, antes mesmo do final do século XX, possibilitando o branqueamento da população.” (SOUZA e SANTOS, 2012 p. 754)

Almejava-se que nas décadas seguintes, houvesse uma diminuição progressiva na quantidade negros e mestiços, uma espécie de purificação das “raças”, até quando as próximas gerações fossem todas brancas. “Com base em tais ideias, foi montado o projeto de imigração do governo brasileiro, e começou-se a recrutar europeus para emigrarem ao Brasil. o projeto imigratório brasileiro fundamentava-se, portanto, num conceito ideológico racista”. (STRIEDER, 2001, p. 21)

Antes da liberação da imigração de qualquer grupo étnico para o Brasil, examinavam-se as suas características relativas a cor da pele, de sua estrutura familiar, propensão para o trabalho manual, criminalidade, sujeição política, etc. .... averiguando a sua capacidade de integração na sociedade brasileira. Tais averiguações raciais derrubam a tese de que na lei brasileira não há discriminação racial. (STRIEDER, 2001, p. 25)

Os índios, os negros, os mulatos e os mestiços não eram caracterizados somente como desiguais. Na realidade eram tidos como diferentes. Uma vez que as desigualdades poderiam até algum dia serem superadas, mas as diferenças não. Principalmente a diferença do tom de pele. Nessa linha de pensamento, os sujeitos supracitados eram julgados como grupos raciais

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16 inferiores aos brancos e, consequentemente uma causa de retardo no desenvolvimento do país, salienta Strieder (2001).

O movimento de eugenia no Brasil também foi impulsionador de práticas racistas. A eugenia é crença de que os seres humanos devam ser selecionados por meio de suas características hereditárias com o intuito de melhorar as próximas gerações. “Criada no século XIX por Francis Galton, a eugenia é um conjunto de ideias e práticas relativas a um ‘melhoramento da raça humana’[...]” (MACIEL,1999, p.121).

O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a adotar as ideias de eugenia, sendo criada a sociedade eugênica de São Paulo (1918), pelo principal propagandistas e articulador dessas teorias no brasil, o médico Renato Kehl.

A eugenia baseava-se no racismo e na justificativa do fim à imigração de negros como meio de garantir uma “raça” superior. Como argumenta Maciel (1999, p.121), “baseando-se num determinismo racial (se pertence a tal “raça”, será de tal forma) fazia com que a hierarquia social fosse traduzida por hierarquia racial”.

Numa sociedade fortemente hierarquizada como a brasileira, onde, dentro da perspectiva de hierarquia racial, o branco europeu era considerado como sendo “civilizado e superior”, os indígenas e os negros como “selvagens, primitivos e inferiores” e os mestiços “degenerados”, surgiram projetos de “salvação nacional” via o “amelhoramento da raça”, ou seja, a eugenia. Não foi essa que criou a discriminação e o racismo, esses já existiam, mas ela, a partir de critérios pseudocientíficos, tornou-se um projeto político que previa a implantação de medidas excludentes e segregacionistas. (MACIEL,1999, p.126).

Os adeptos da eugenia, queriam barrar o crescimento da população negra, mestiça e indígena do Brasil. “Para que o ideal eugênico fosse efetivado, seria necessário que fosse estimulada a procriação entre os considerados ‘tipos eugênicos superiores’ e coibida a procriação dos outros de modo a impedir a proliferação dos chamado ‘inferiores’” (MACIEL,1999, p.122).

Sob o pretexto de proporcionar prosperidade ao Brasil, rompendo com o atraso, as alegações eugênicas demonstram a face do racismo empregado. O primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia (1931), aconselha a exclusão de todas as correntes imigratórias que não sejam de “raça” branca.

As práticas e políticas, com ideias respaldadas por uma suposta desigualdade adquirida de forma hereditária e natural no nascimento, eram aplicadas e partiam desde discriminação e

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17 exclusão, chegando até a mutilação dos indivíduos considerados inferiores, afirma Maciel (1999).

Importante destacar também que, a própria Constituição Federal de 1934 defendia a educação baseada em princípios eugenistas, sendo por esse e outros motivos considerada a mais racista. Conforme o Art. 138, alínea b, apregoava que caberia a estados e municípios “estimular a educação eugênica” (BRASIL, 1934).

1.3 O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL BRASILEIRA

A partir da década de 1920, o Brasil não queria se mostrar como um país em que havia discriminação racial. Principalmente pelas transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas, e também pela maior valorização da cultura brasileira pelos intelectuais, que tinham o intuito de formar uma identidade nacional, relata Maio (1999).

Com isso, o debate sempre negativo acerca das diferentes “raças” brasileiras foi sendo apaziguado, dando lugar a um novo discurso racial que queria demonstrar tolerância e harmonia.

O Brasil almejava construir uma autoimagem, contraditória em relação as ideias que pregava, de uma nação que seria um paraíso racial, uma sociedade caracterizada pela ausência de atritos entre as “raças”, onde os negros seriam tratados de maneira humana. Isso porque no brasil não existia as formas mais cruéis e humilhantes de racismo que se desenvolveram nos Estados Unidos da América.

O problema racial brasileiro, referente aos afro-brasileiros, pode ser visto a partir de dois aspectos. O primeiro refere-se a ideia, bastante espalhada, de que o Brasil é um "paraíso racial", ou, em expressões mais recentes, uma "democracia racial". O segundo aspecto considera que o Brasil é uma sociedade "pluri-racial", em contraste com a sociedade "bi-racial" dos Estados Unidos. (STRIEDER, 2001, p. 20)

Segundo Santana (2017), nos Estados Unidos da América (EUA) existia a segregação por lei, onde os negros eram considerados jurídica e socialmente inferiores, aconteciam lixamentos por milícias racistas, como a Ku Klux Klan, e a proibição de casamento inter-racial.

Havia também uma norma que não existiu nem no apartheid da África do sul, ou no nazismo de Hitler. One drop rule (regra de uma gota), lei que vigorou até a década de 1960, e

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18 discriminava qualquer americano que tivesse algum grau de ancestralidade não branca, pejorativamente chamados de pessoas de cor, pontua Santana (2017).

Como não havia nada desse tipo no Brasil, poderia se afirmar que o racismo aqui era mais brando do que nos Estados Unidos. Então passou-se ao exagero de apresentar o Brasil como modelo, já que não havia aqui segregação por lei. Contudo, havia a segregação por costume (em festas, clubes), bastante semelhante, pois frequentemente o costume é a lei sancionada pelo Estado. Em suma, a comparação entre Brasil e Estados Unidos, do ponto de vista da discriminação, construiu em grande parte o mito da democracia racial brasileira, explica Santana (2017).

Com a imagem de um Brasil sem atritos entre “raças” no cenário mundial, aconteceu um episódio curioso. Alguns negros americanos tentaram emigrar para o então “paraíso racial” brasileiro, e essa notícia causou muita discussão. Pois o interesse claramente era branquear a população e não trazer mais problemas.

Assim, foram ordenadas as embaixadas e consulados brasileiros nos Estados Unidos, que não dessem vistos aos negros americanos, que posteriormente protestaram. A resposta obtida foi, em outras palavras, que o Brasil não compartilhava das ideologias do grupo de imigrantes, e como sendo um país autônomo, tem o poder de decidir quem pode ou não adentrar em seu território, explica Strieder (2001).

Segundo Strieder (2001), as ideias de Gilberto Freyre, também contribuíram com a ideia de democracia racial. Pois, por um lado trazem avanços, na medida que ele defende a ideia de que os negros não eram inferiores aos brancos, onde todos nós seríamos um só povo brasileiro.

Por outro lado, essas ideias paralisam os movimentos que lutam contra a discriminação racial, uma vez que Freyre caracteriza o Brasil pela harmonia racial. “Com certeza, a ideologia da "raça única", da "metaraça" de Gilberto Freyre, do "paraíso racial" e da "democracia racial" inibiram movimentos de luta pela igualdade racial no Brasil”. (STRIDER, 2001, p. 24)

As ideias de Freyre são adotadas pelo Estado novo, divulgadas nos meios de comunicação, e ensinadas nas escolas. Ideias das elites divulgadas que se tornam as ideias da sociedade, e transformaram-se em senso comum. Para o Governo, temos um problema social e não racial. Isso foi um obstáculo ao avanço, pois se não há problemas, não é preciso fazer nada. O pior disso foi transformar em inimigos da nação os negros que ousam denunciar a discriminação.

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19 O estado novo também dissuadiu os movimentos negros na época, entre eles da frente negra brasileira, criada em 1931, a mais importante entidade negra do país no momento, que se expandiu por vários estados. O objetivo do movimento era criar o novo negro e fazer a verdadeira abolição, considerando que a abolição era incompleta. “Com a instauração da ditadura do “Estado Novo”, em 1937, a Frente Negra Brasileira, assim como todas as demais organizações políticas, foi extinta. O movimento negro, no bojo dos demais movimentos sociais, foi então esvaziado” (DOMINGUES, 2007, p. 107)”.

A ideia de pluralismo brasileiro, dificulta o reconhecimento das discriminações reais e contribui, em última análise, para retardar mudanças estruturais necessárias. Strieder (2001, p. 24), afirma que essa ideia seria “[...] instrumento ideológico nas mãos dos racistas para continuarem a sustentar a superioridade da “raça” branca e o branqueamento da população, inibindo movimentos raciais reivindicatórios.

Logo, o mito da democracia racial não se firmou naturalmente, mas sim em grande parte por imposição política e divulgação dessa falsa ideia pelo estado novo, chegando até a proibição de comentários e denúncias sobre racismo e preconceito racial.

Contudo, essa realidade começou a mudar na década de 50, quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), financiou uma série de pesquisas sobre relações raciais no Brasil. “A Unesco, em perspectiva igualitária e universalista, estimulou a produção de conhecimento científico a respeito do racismo, abordando as motivações, os efeitos e as possíveis formas de superação do fenômeno.” (MAIO, 1999, p.143).

A escolha do Brasil como campo de pesquisa, deve a imagem que o país tinha no exterior, a partir relatos de viajantes, cientistas, jornalistas e políticos, que demonstravam um certo espanto quanto a suposta convivência pacífica entre brancos, negros e índios no Brasil. A autoimagem criada por intelectuais, de nação onde não haveria conflitos raciais, também influenciou muito na decisão da Instituição internacional a patrocinar essas pesquisas em solo brasileiro.

A controvertida crença numa democracia racial à brasileira, que teve no sociólogo Gilberto Freyre a mais refinada interpretação, tornou-se assim um dos principais alicerces ideológicos da integração racial e do desenvolvimento do país e foi suficientemente substantiva para atrair a atenção internacional (MAIO, 1999, p.144).

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20 Objetivo da pesquisa era mostrar ao mundo traumatizado por crimes realizados em nome da “raça”, como o holocausto, o Brasil como um exemplo de harmonia racial, em contraposição a ideias segregacionistas. “Foi no contexto pós-genocídio nazista que o Brasil adquiriu ainda maior notoriedade quanto ao panorama de suas relações raciais e étnicas. A imagem positiva do país repercutiu no interior da Unesco”. (MAIO, 1999, p.144).

Contudo, após o resultado das pesquisas realizadas, constatou-se que o Brasil tinha problemas sérios em relação a discriminação racial. A pesquisa da Unesco frustrou as expectativas iniciais da instituição. A partir desse momento, a então intocável “democracia racial” brasileira, é ampla e fortemente questionada. Os Cientistas sociais 2foram importante

ponto de referência para tais reflexões.

Na esperança de encontrar a chave para a superação das mazelas raciais vividas em diversos contextos internacionais, a agência intergovernamental teria acabado por se ver diante de um conjunto de dados sistematizados sobre a existência do preconceito e da discriminação racial no Brasil. (MAIO, 1999, p.151).

A conclusão a que se chegou, basicamente, era de que a discriminação racial no Brasil, podia ser diferente da que era vista nos Estados Unidos e na África do sul, mas se mostrava muito presente. Assim, os sociólogos afirmam que essa diferença era de grau, ou seja, fora do Brasil havia uma discriminação racial em maior proporção, com formas mais desumanas de racismo. A diferença, portanto, não se dava pela inexistência de racismo em território Brasileiro, ideia essa que era fortemente disseminada, pontua Maio (1999).

Os resultados obtidos, foram um grande passo para passar-se a questionar e debater o mito da democracia racial brasileira, pelo menos no âmbito acadêmico. Nosso país “[...] avançava em suas denúncias contra a versão disseminada no senso comum de que o Brasil era um paraíso racial e que a sociedade desfrutava de harmonia racial” (GRIN e MAIO, 2013, p. 35).

1.4 O RACISMO CONTEMPORÂNEO

Atualmente, vivemos num país onde grande parcela da população acredita de maneira equivocada ou proposital, na inexistência de racismo. No senso comum, ideias como essa são

2 Florestan Fernandes foi um dos cientistas sociais que merece destaque. Segundo ele, seria função do sociólogo

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21 introjetadas na sociedade brasileira e muitos sujeitos usam dessa falsa democracia racial para esconder e justificar o racismo. Basta observar a diferença de oportunidades oferecidas a negros e brancos que teremos uma visão ampla da realidade brasileira.

Parte da sociedade brasileira, estabelece critérios para qualificar as pessoas, atribuem estigmas que são considerados naturais, mas que não passam de uma atitude racista e discriminatória. É possível perceber que a maioria dos brasileiros não admite que são preconceituosas e racistas, mas simples atitudes como chamar uma pessoa negra de “negão” ou “macaco” revela um extremo racismo que não quer ser revelado.

Discriminamos os negros, mas resistimos a reconhecer a discriminação racial que praticamos contra esse grupo racial, [...] o racismo está no outro bairro, na outra empresa, na outra universidade, na outra cidade, no outro estado, em outro país, entre outros, menos em nós mesmos. Nós, por mais que os dados estatísticos oficiais e não oficiais nos indiquem abismais desigualdades entre negros e brancos, achamos que não temos nada a ver com isso, pois a maioria absoluta dos brasileiros só vê o racismo dos outros e nos outros, nunca neles mesmos (SANTOS apud FREITAS, 2016, p.75).

Com o passar dos anos, a discriminação contra os negros no Brasil passou a ser menos negativa e agressiva, mas esse declínio não quer dizer que o racismo esteja sendo erradicado, muito pelo contrário, ele apenas está mudando a forma de se expressar.

Acabaram as chicoteadas, mas eles continuam sendo tratados de maneira diferenciada e atuando em funções inferiores, geralmente submissos aos brancos, já que dificilmente vemos um negro ocupando cargos de chefia nas grandes e pequenas empresas. O simples fato de omitir a participação do negro na história brasileira e dificultar o acesso do mesmo ao ensino de qualidade, já demonstra uma prática racista na própria educação. Assim a discriminação racial vem se perpetuando na contemporaneidade.

Tudo isso indica que estamos diante de um tipo particular de racismo, um racismo silencioso e sem cara que se esconde por trás de uma suposta garantia da universalidade e da igualdade das leis e que lança para o terreno privado o jogo da discriminação. Com efeito [...] o racismo só se afirma na intimidade, [...], pois não se regula pela lei, não se afirma publicamente (SCHUWARCZ apud FREITAS, 2016, p.73).

Esse fator deve-se as mudanças dos estereótipos que são atribuídos aos negros ao longo dos anos. O que se constata é que independente da aplicação das leis a prática racista está presente na sociedade brasileira, às vezes de modo visível ou mascarado, mas está lá, em

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22 vários contextos e segmentos, e ainda carece de muitas reflexões e ações para tentar amenizar os danos causados pela discriminação racial.

Sem dúvidas a ideia de que todos somos iguais perante a lei, se traduziu em inercia do estado durante muito tempo, no sentido de realização medidas para uma real inclusão na sociedade brasileira. “Este modo de pensar fez com que até hoje as elites políticas brasileiras nunca tivessem feito um projeto sério e eficiente de inclusão das populações negras, indígenas e mestiças no desenvolvimento nacional”. (STRIEDER, 2001, p. 14)

Principalmente nas últimas décadas, ocorreram avanços em relação a políticas de ação afirmativa e leis no combate ao racismo no Brasil. No entanto, a intervenção do estado ainda se mostra insuficiente. Strieder (2001, p. 27) afirma que “Os miseráveis das favelas, os sem-teto e os sem-terra, os prisioneiros, os analfabetos e os alienados de todas as formas são em sua maioria, descendentes dos escravos e dos indígenas”. Observa-se que ainda hoje, são mais suscetíveis a condições sociais inferiores, os indivíduos que foram historicamente ignorados e excluídos.

O maior avanço, no sentido de lei antirracista, veio sem dúvidas com a Constituição Federal de 1988, que se estabelece no art. 5º, XLII, que "a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei" (Brasil, 1988). Essa é a maior pena do mundo hoje para o racismo, apesar de não resolver todos os problemas. Pois sempre existe a tentativa de transformar o crime de racismo3 em injúria

racial4, e consequentemente a punição será abrandada. Não obstante, devemos considerar o

decreto constitucional um grande avanço e marco no combate ao racismo no Brasil.

Para reverter esse cenário, é necessária uma maior conscientização da sociedade juntamente com a formulação de ações que visam eliminar o racismo da sociedade brasileira. Isso fará com que os políticos e as elites, sintam-se pressionados a realizar projetos que proporcionem a inclusão de todos os oprimidos da sociedade. É necessário a criação e o fortalecimento das políticas de ação afirmativa, que possam permitir iguais oportunidades aos indivíduos, com a participação em um sistema democrático verdadeiro, aponta Strieder (2001).

3 O crime de racismo, previsto na Lei n. 7.716/1989, implica conduta discriminatória dirigida a determinado

grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos.

4 A injúria racial, prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, pode ser entendida como um crime que

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23 É indispensável também o reconhecimento do racismo e o debate do mesmo. E as escolas são locais privilegiados para esse debate, e devem ser utilizadas para a construção de uma consciência social nas próximas gerações. A lei 10.639/03, que institui ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas redes públicas e particulares da educação, se mostra como uma ferramenta essencial para que esse debate aconteça de maneira eficaz no Brasil.

Sem dúvida alguma, a discriminação, o racismo e o preconceito contra os negros existem e atualmente é tratado como um crime, pelas leis federais, embora pouco se nota a aplicação das penas. Essa luta merece a união de vários segmentos da sociedade brasileira, inclusive das instituições educacionais. Portanto, acreditamos que os personagens que integram o cenário escolar – alunos, professores, pais, servidores e comunidade – têm como função primordial romper com o ciclo de discriminação, preconceito e racismo contra os negros

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24 2. A LEI Nº. 10.639/03: BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE A TRAJETÓRIA E ASPECTOS

2.1 O PAPEL DO MOVIMENTO NEGRO NA CRIAÇÃO DA LEI

A obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira é uma reivindicação antiga dos movimentos negros e de lideranças da área da Educação, que vêm discutindo o assunto desde pelo menos a década de 1940. É interessante lembrar, por exemplo, que vários debates e encontros para discutir a necessidade da revisão dos estudos sobre a presença negra no Brasil e a forma como ela aparece nos currículos escolares ocorreram em décadas anteriores a assinatura da lei.

Questões relacionadas à educação sempre tiveram muita importância para os movimentos negros brasileiros. A educação formal, mesmo não resolvendo todos os problemas, era vista como uma via que possibilitaria a ascensão social, os daria mais voz na busca de maior valorização cultural e também na luta contra a discriminação racial.

Contudo, na educação formal brasileira havia um grande problema. Os negros logo constataram que o sistema de ensino brasileiro demonstrava claramente, com suas práticas e currículo vigente, o intuito de valorizar a cultura europeia em detrimento à cultura africana. “A educação formal não era só eurocentrista e de ostentação dos Estados Unidos da América, como também desqualificava o continente africano e inferiorizava racialmente os negros, quer brasileiros, quer africanos ou estadunidenses” (SANTOS, 2005, p. 22).

O Sistema de ensino Brasileiro não trabalhava as contribuições históricas dos negros para a formação do povo brasileiro e desenvolvimento nacional. Mais que isso, eram retratados em livros didáticos sempre com papeis inferiores, geralmente de servidão e com outras características negativas. Em contrapartida, as culturas europeias nos mesmos livros, apareciam como primordiais, recebendo todo o crédito pelos avanços do país.

Portanto, ao perceberem a inferiorização dos negros, ou melhor, a produção e reprodução da discriminação racial contra os negros e seus descendentes no sistema de ensino brasileiro, os movimentos social negros (bem como os intelectuais negros militantes) passaram a incluir em suas agendas de reivindicação junto ao Estado Brasileiro, no que tange à educação, o estudo da história do continente africano e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileiro e o negro na formação da sociedade nacional brasileira. (SANTOS, 2005. P.23)

Essa e outras várias reivindicações, ganharam força juntamente com o processo de redemocratização, quando houve a reorganização e mobilização do movimento negro,

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25 culminando na criação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978. “O nascimento do MNU significou um marco na história do protesto negro do país, porque, entre outros motivos, desenvolveu-se a proposta de unificar a luta de todos os grupos e organizações antirracistas em escala nacional” (DOMINGUES, 2007, p. 114).

Nesse novo período dos Movimentos Negros, houve um rompimento, no que se refere a adesão dos valores culturais europeus, com uma valorização dos símbolos associados à cultura negra, como a capoeira, o samba, e as religiões de matriz africana. A valorização do padrão de beleza, da culinária e da indumentária africana, a adoção oficial do termo negro, foram ícones poderosos na conquista de reconhecimento identitário negro, posicionamento político e status social.

Para incentivar o negro a assumir sua condição racial, o MNU resolveu não só despojar o termo “negro” de sua conotação pejorativa, mas o adotou oficialmente para designar todos os descendentes de africanos escravizados no país. Assim, ele deixou de ser considerado ofensivo e passou a ser usado com orgulho pelos ativistas, o que não acontecia tempos atrás. O termo “homem de cor”, por sua vez, foi praticamente proscrito. (DOMINGUES, 2007, p. 115).

O objetivo, portanto, não era de simplesmente integrar o negro a sociedade brasileira, pois houve uma grande pressão ao poder público, para que os problemas raciais passassem a fazer parte da agenda política brasileira, e o intuito de denunciar sistematicamente o mito da democracia racial. Essas reivindicações foram extremamente relevantes, e influenciaram o Estado na criação de leis e políticas públicas que temos hoje.

Da formação do MNU, participavam pessoas de formações distintas, seja no campo profissional ou intelectual, desde doutores, estudantes, e até mesmo donas de casa. Todos tiveram sua importância e parcela de contribuição para com o movimento. Vitorino (2011), destaca a relevância dos trabalhos produzidos em meio acadêmico, atribuindo a eles, a oportunidade de vislumbrar acerca dos problemas raciais que envolviam o Brasil, que consequentemente fortaleceram a luta contra o racismo em nossa sociedade, principalmente na área da Educação.

Questões relacionadas à educação são temáticas centrais e de grande relevância ao MNU. Consideravam que a escola deveria ser um local privilegiado para o estudo da contribuição dos africanos na formação da sociedade brasileira, com ênfase na superação do racismo e para a reflexão sobre as contradições e desigualdades de nossa sociedade, conforme demonstra Vitorino (2011, p. 36):

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26 A educação e a luta contra o sistema de discriminação e de preconceito que envolve o ensino no Brasil era um dos focos de combates do MNU. O movimento entendia que, havendo racismo dentro da escola e do ensino, seja qual for a instituição, pública ou privada, era função do Movimento Negro Unificado combate-lo. (VITORINO, 2011. P. 36)

Santos (2005) explica que em âmbito nacional, algumas das reivindicações dos movimentos negros foram atendidas pelo Governo federal a partir do ano de 1980, com medidas ainda tímidas, que foram desde a revisão da imagem dos negros nos livros didáticos e até mesmo a exclusão de livros cuja aparição dos negros viesse representada de forma estereotipada.

Importante mencionar ainda, segundo Santos (2005), que devido às pressões dos movimentos negros, foram alteradas e até mesmo criadas leis municipais e estaduais que atendessem a algumas das exigências dos mesmos, ou seja, que se adequassem a perspectiva de uma educação antirracista. Com isso, livros que propagavam discriminações raciais e preconceito, foram barrados por alguns municípios.

A pressão maior e fundamental dos Movimentos Negros, no âmbito educacional, continuava sendo a cobrança pela criação de uma legislação educacional a nível nacional, que visasse a valorização e ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas brasileiras. “Essa nova forma de combater o racismo e suas práticas também foram incorporadas à educação com a reivindicação que, no currículo escolar, fosse inserida a história e a cultura da África e do “negro brasileiro”. (VITORINO, 2011. p. 36)

Essa era uma reivindicação antiga dos Movimentos Negros, que já alcançava décadas de lutas, que finalmente resultou na criação da Lei nº 10.639, no ano de 2003, assinada pelo então Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Com isso, passa a vigorar a lei que torna obrigatório em todos os níveis de ensino no Brasil, o trabalho interdisciplinar e a valorização da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil.

Segundo Damásio (2015), a Luta dos Movimentos Negros, a partir de então, é para a real efetivação da Lei 10.639/03. Isso se dá através do acompanhamento das práticas que envolvem a aplicação da Lei dentro do sistema educacional brasileiro, conferindo se as mesmas estão de acordo com o que determina a norma.

Com vimos, a Lei 10.639/03 não foi criada de forma espontânea pelo Estado, mas sim ela foi uma resposta dos Movimentos Negros às décadas de reivindicações na busca de maior valorização da cultura negra na educação brasileira. A Lei é mais uma das contribuições dos

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27 Movimentos Negros ao longo de sua história, onde as próximas gerações poderão ter a oportunidade de desfrutar de uma educação dentro das perspectivas inter-raciais, conhecendo e valorizando todas as culturas que formam o nosso país.

2.2 ASPECTOS SOBRE A LEI 10.639/03

A Lei 10.639, sancionada em 09 de janeiro de 2003, foi criada para fazer algumas alterações a já existente Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394 (LDB), de 20 de dezembro de 1996. Assim, foram adicionados três novos artigos (26-A, 79-A e 79-B) à legislação que regulamenta o sistema educacional público e privado do Brasil.

O Art. 26-A, dispõe sobre a obrigatoriedade, a partir da vigência da lei, de serem ensinados conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira, em todas as escolas de nível fundamental e médio do território brasileiro, independentemente de serem instituições pública ou privadas. “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira” (BRASIL, 2003).

O Art.26-A, em seu § 1º, versa sobre quais conteúdos o currículo escolar deve abranger, para que sejam trabalhados em sala de aula. “O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.” (BRASIL, 2003)

O Art.26-A, em seu § 2º, trata de quais disciplinas devem dar ênfase aos conteúdos relativos à História e Cultura Afro-Brasileira, informando ainda que esse também é um trabalho de todas as outras disciplinas pertencentes à grade curricular “Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras” (BRASIL, 2003).

O Art.79-A, acabou sendo vetado, por tratar a respeito de cursos de capacitação para professores, uma vez que a LDB 9496/96 não dispõe e nem faz menções, em nenhum de seus artigos, sobre o referido assunto.

O Art. 79-B, institui no calendário escolar brasileiro, a inclusão do dia 20 de novembro, presumível dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, a qual foi eleito como o Dia

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28 Nacional da Consciência Negra “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.” (BRASIL, 2003).

Segundo Vitorino (2011), após o anúncio da Lei foram desenvolvidos vários trabalhos para que acontecesse sua implementação de forma gradativa. A Lei também passou a ser trabalhada como uma ação afirmativa 5e assim determinados órgãos públicos e departamentos

se propuseram estabelecer trabalhos que atendessem as diretrizes propostas pela lei.

Ainda em 2003, temos a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que foi convertida posteriormente na Lei nº 10.678/2003. Ela foi uma instituição projetada pelo governo federal, responsável pela formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial, visando o combate ao racismo no Brasil, com diversos projetos no âmbito educacional relacionados a serviço da implementação da lei 10.639. A SEPPIR foi extinta em 2016 pelo presidente em exercício.

Em 2004, temos dois documentos importantes elaborados pelo Conselho Nacional Educação (CNE), com o fim de nortear a implementação da Lei 10.639/03 no sistema de ensino no Brasil, sendo eles o Parecer nº 003/2004 a resolução nº 02/2004.

Primeiro a ser formulado o Parecer nº 003/2004 estabelece as diretrizes curriculares que deverão regular o processo de ensino aprendizagem em todo o país, em relação a temáticas étnico/raciais e do ensino da história e da cultura africana e do negro brasileiro em escolas públicas e privadas. “Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros.” (BRASIL, 2004)

Em seguida, temos o segundo documento elaborado pelo CNE, a resolução nº 02/2004, que estabelece a necessidade de inclusão de temáticas acerca do ensino da história e da cultura africana e do negro brasileiro, na grade curricular dos cursos de formação de professores do ensino fundamental ou de licenciatura plena e de cursos de graduação em todo o país.

A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, em especial, por Instituições que

5 Ações afirmativas são atos ou medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado,

espontânea ou compulsoriamente, com os objetivos de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a igualdade de oportunidades e tratamento, compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.

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29 desenvolvem programas de formação inicial e continuada de professores. (CNE, 2004)

Vitorino (2011) destaca os efeitos provocados pelo Parecer nº 003/2004, em que secretarias de educação municipais e estaduais de múltiplos estados brasileiros, ainda que de forma tímida, cobram a chegada da Lei 10.639/03 nas escolas públicas e privadas.

A SEPPIR, naquele momento, também cobrava um posicionamento do Ministério da Educação (MEC), que logo solicitou às secretarias que produzissem material para que a lei em pauta estivesse presente nas salas de aula de todas as escolas do Brasil.

Com isso, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD)6 apoiada pelo MEC, iniciou a produção de diversos materiais que tinham relação

com a questão racial, educacional e logicamente com a Lei 10.639/03, para que os professores fossem instruídos e consequentemente pudessem trabalhar atendendo a questão étnico e cultural em sala de aula.

Existem por todo o Brasil, várias tentativas de implementação da Lei 10.639/037. Seja

pelo trabalho realizado pelas Organizações Não Governamentais (ONGs), por associações negras, intelectuais negros e todos aqueles que prezam pelo cumprimento da mesma, destaca Vitorino (2011). Esses trabalhos, quase sempre voluntário, são direcionados principalmente à formação de professores e outros profissionais pertencentes a área da educação, de instituições de ensino públicas e particulares.

6 A SECAD, que posteriormente passou a SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,

Diversidade e Inclusão), foi extinta em 2019 pelo atual presidente da república.

7 A pesquisa Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnico-Raciais na Escola na Perspectiva da Lei n.º

10.639/03, organizado por Nilma Lino Gomes, investiga o processo de implementação da Lei n.º 10.639/03 por meio das práticas pedagógicas desenvolvidas pelas escolas pertencentes as redes públicas de ensino de todas as cinco regiões do Brasil.

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30 3. LIMITES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI Nº. 10. 639/03 NO MUNICÍPIO DE TOCANTINÓPOLIS -TO

De modo geral, pesquisas revelam que os encargos definidos pela lei nº 10.639/03 não estão sendo cumpridos por parte das instituições de ensino brasileiras. Diante também de inúmeros casos de racismo em ambientes escolares noticiados frequentemente, partimos da premissa de que a lei não está sendo implementada de fato pela maioria das escolas no país.

Dessa forma, buscamos identificar os entraves para a implementação da lei nº 10.639/03 em escolas pertencentes à cidade de Tocantinópolis - TO. Para tanto, temos como objeto de estudo, cinco monografias que tratam do assunto neste município, disponíveis na biblioteca do campus da Universidade Federal do Tocantins - UFT.

Esses trabalhos basicamente abordaram questões referentes à lei nº 10.639/03 e sua aplicação, visando compreender qual o nível e a forma que esta lei está sendo trabalhada/discutida pelo(a)s professore(a)s em escolas de nível fundamental. As monografias apontam também as principais dificuldades encontradas no processo de sua implementação.

As monografias escolhidas foram as seguintes: 1ª – “A Prática Pedagógica Sobre o Olhar da Lei 10.639/2003: um levantamento bibliográfico sobre as questões raciais”, de Marlúcia Neves Da Silva, defendida no ano de 2017; 2ª - “’Pra não passar em branco’: uma reflexão etnográfica das comemorações do Dia da Consciência Negra em uma escola de Tocantinópolis – TO”, de Dayane da Silva Ramos, defendida no ano de 2017; 3ª –“Educação das Relações Étnico-Raciais na Formação de Professores”, de Wilmara dos Santos Silva, defendida no ano de 2017 ; 4ª – “O que Conhecem os Profissionais da Educação Sobre a Lei 10.639/03 em Tocantinópolis - TO”, de Sheila Pereira Costa, defendida no ano de 2016 e 5ª – “Lei 10.639/03 e o Ensino Fundamental: a implementação e seus desdobramentos na Escola Paroquial Cristo Rei”, de Iracélia Borges Taveira, defendida no ano de 2016.

A priori foram realizados breves resumos de cada uma das monografias analisadas. Nas sínteses constam uma apresentação dos principais aspectos dos trabalhos, expondo as temáticas das pesquisas, suas metodologias adotadas pelo(a)s pesquisador(a)s, bem como os seus objetivos e, por fim, seus resultados obtidos.

A posteriori, foram elencados os motivos/razões encontradas como entraves à implementação da Lei 10.639/03 no município de Tocantinópolis. Isso se deu através da análise dos resultados das pesquisas dispostas nas monografias que são alvo de nossa análise.

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31 As dificuldades identificadas pelos pesquisadores, são mencionadas em categorias, para facilitar a exposição das mesmas, como também para apresentar convergências ou divergências nos resultados obtidos. A partir da leitura de cada trabalho, foram encontrados pontos considerados relevantes e que serviram de base para esclarecer os motivos para a não aplicação da lei.

3.1 BREVE APRESENTAÇÃO DAS MONOGRAFIAS ANALISADAS

Título da Monografia: lei 10.639/03 e o ensino fundamental: a implementação e seus desdobramentos na escola paroquial cristo rei.

Autora: Iracélia Borges Taveira. Ano: 2016.

A pesquisa buscou investigar como ocorreu a implementação da Lei 10.639/03 nesta escola do município de Tocantinópolis – TO. Para tanto, a autora buscou conhecer como o(a)s professore(a)s estão trabalhando o assunto em sala de aula, por meio da análise de planos de aulas das disciplinas e até mesmo de entrevistas com o(a)s professore(a)s.

O objetivo desta pesquisa intencionava identificar se realmente a lei está sendo

colocada em prática, ou seja, saber se a questão étnico-racial está sendo trabalhada na escola com o intuito de contribuir para a construção da identidade do aluno seja ele negro, branco ou indígena.

A pesquisa se compõe em três capítulos, em que o primeiro aborda os conceitos de “raça”, etnia e ainda sobre identidade, incluindo o seu processo de construção a partir do meio social, família e escola.

O segundo trata de explicar como funciona, como se organiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e as práticas de racismo e discriminação reproduzidas pelos indivíduos na sociedade.

No terceiro, temos uma análise de planos de aula das disciplinas de Língua Portuguesa, Artes e História, das turmas de 3°, 4° e 5° anos e uma análise das entrevistas realizadas com as professoras da instituição escolar.

Como resultado da pesquisa, foi constatado que planos anuais da disciplina de língua Portuguesa não contempla as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações

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32 Étnico-raciais e Para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. A pesquisadora ressalta que é necessário lutar, reivindicar para que seja incluída a questão étnico-racial na disciplina de Língua Portuguesa dos 3°, 4°, e 5° anos.

Título da Monografia: “O que conhecem os profissionais da educação sobre a lei 10.639/03 em Tocantinópolis - TO”.

Autora: Sheila Pereira Costa. Ano: 2016.

Esta pesquisa consistiu em uma investigação que procurava averiguar o nível de preparação e conhecimento de professore(a)s, e demais profissionais da educação, quando se trata da Lei da lei 10.639/03, verificando também como está acontecendo a sua aplicação.

O trabalho está organizado em três capítulos, sendo o primeiro uma exposição do processo histórico desde a criação da lei 10.639/03, destacando as lutas e debates que se deram no seu entorno. No segundo são apresentadas concepções sobre “raça”, na visão de estudiosos do assunto. Já o terceiro trata da análise dos resultados de entrevistas realizadas com os profissionais da educação de Tocantinópolis -TO, buscando conhecer como esses funcionários trabalham a temática referente as relações raciais de acordo com o que propõe a lei em estudo.

O objetivo do trabalho foi compreender se a formação acadêmica e continuada do(a)s professore(a)s, foi suficiente para que estes estivessem preparados para trabalhar de acordo com o exposto na Lei n° 10.639/03, que inclui no currículo oficial da rede de ensino, os estudos da educação e cultura afro-brasileira e africana nas salas de aula ou em outros ambientes da escola.

A pesquisa se deu em quatro instituições de ensino. Duas de nível infantil e duas de nível fundamental e médio. De cada instituição foram escolhidos três participantes: o(a) diretor(a), o(a) coordenador(a), e um(a) professor(a) (a) de história. Na pesquisa não são mencionados nomes verdadeiros das escolas e nem dos profissionais dela participante.

Como resultado a pesquisa demonstrou que grande parte dos profissionais da educação desconhecem ou não se lembram do conceito essencial da Lei 10.639/03, em seus artigos 26-A e 79-B, em que está estabelecido a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro brasileira e africana no ensino fundamental e médio, no âmbito de todo o currículo escolar e inclui no calendário o dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra.

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33 Título da Monografia: “Pra não passar em branco”: uma reflexão etnográfica das comemorações do dia da consciência negra em uma escola de Tocantinópolis - TO.

Autora: Dayane da silva ramos. Ano: 2017.

Esta pesquisa tem como tema analisar o processo de implementação da Lei 10.639/03 atentando para os desafios e dilemas enfrentados pelo(a)s profissionais da educação no cotidiano escolar.

O trabalho está organizado em três capítulos, sendo o primeiro dedicado à discussão teórica a respeito da luta e conquistas do negro brasileiro nas relações sociais. O segundo analisa os percalços e avanços na implementação da Lei 10.639/03 a partir de uma avaliação nacional, com ênfase nos resultados da região norte e o terceiro trata de uma observação etnográfica, numa escola do município de Tocantinópolis - TO, verificando como é trabalhado o Dia da Consciência Negra na instituição que a própria pesquisadora também atua como docente.

O principal objetivo do trabalho foi analisar se as práticas dos profissionais da educação daquela unidade escolar, em especial no dia 20 de novembro, contribuíam para uma educação voltada para a valorização da cultura Africana e Afro-brasileira.

Como resultado, o fato mais preocupante constatado, foi que a escola não tinha nada planejado até antes da chegada da pesquisadora, cerca de três semanas antes do Dia da Consciência Negra. Depois de sua chegada, o clima muda rapidamente, o planejamento que não existia, começa a surgir após uma reunião em que são delegadas tarefas individuais aos (às) professore(a)s.

Título da Monografia: A prática pedagógica sobre o olhar da lei 10.639/2003: um levantamento bibliográfico sobre as questões raciais.

Autora: Marlúcia Neves Da Silva. Ano: 2017.

Esta pesquisa consistiu em uma investigação, que buscou compreender através de fundamentação teórica, as questões étnico-raciais e sua relevância no âmbito educacional, observando se os profissionais do ensino estão desenvolvendo propostas curriculares em consonância com o que está estabelecido na Lei n° 10.639/03.

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34 O trabalho está organizado em dois capítulos, sendo o primeiro de fundamentação teórica sobre as questões étnico-raciais, em que é feito um apanhado histórico sobre as questões étnico-raciais no Brasil, visando localizar a implementação da lei 10.639/2003. No segundo foi realizado um levantamento bibliográfico, que buscou analisar quatro Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC’s), defendidos no curso de Pedagogia do campus Tocantinópolis - TO, trabalhos esses que tinham como objeto analisar a implementação da Lei 10.639/03 nas escolas do munícipio de Tocantinópolis.

Os trabalhos analisados foram: 1º. “As Leis 10.639/03 e 11.645/08: Implementação e Aplicabilidade nas Escolas de Tocantinópolis/TO”, de Pedro Nonato (2009); 2º. “A Lei 10.639/2003 nas Escolas de Educação Infantil de Tocantinópolis: intenção e realidade”, de Raimundo Almeida Silva (2009); 3º. “A Questão Étnico-Racial na Lei 10.639/2003 e o Seu Espaço em Escolas de Séries Iniciais do Ensino Fundamental de Tocantinópolis – TO”, de Marcilene Silva (2015) e 4º. “A Lei 11.645/08 e sua Aplicabilidade em Instituições de Ensino Médio de Tocantinópolis - TO: da intenção à realidade”, de Josivânia Dourado (2010).

O objetivo da pesquisa era investigar como a Lei 10.639/03 se desenvolveu dentro das escolas municipais, demonstrando sua relevância no âmbito educacional e abrindo reflexões a a respeito da prática docente e da valorização racial na prática pedagógica. São observados os avanços e desafios encontrados para a implementação de fato da referida lei.

Como resultado, a pesquisa revela que a maioria dos professores conhecem a lei de maneira superficial, onde não costumam incluir em seus planos de aulas, conteúdos e estratégias que explorem de forma mais efetiva as questões étnico-raciais.

Título da Monografia: Educação das relações étnico-raciais na formação de professores. Autora: Wilmara dos Santos Silva.

Ano: 2017.

Esta pesquisa buscava investigar as bases teóricas que envolvem as questões étnico-raciais no âmbito escolar, bem como se deu a implementação da Lei 10.639/03 e a elaboração das novas Diretrizes Curriculares Nacionais que regem essa temática, para em seguida problematizar a formação docente como um desafio para a realização da educação das relações étnico-raciais no espaço escolar.

O objetivo desta pesquisa consistiu em investigar as questões étnico-raciais no espaço escolar, através da prática docente, bem como os pressupostos da lei 10.639/03, as Diretrizes

Referências

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