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Evolução de uma ideia. 1789-1914. O Antigo Regime

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William Doyle

AMIGO

Tradução de

Lólio Lourenço de O liveira

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S a m ira Y o ussef C am p ed el li Preparação de texto S érgio R oberto Torres E dição de arte (miolo)

M ilton T aked a D ivina R ocha C orte

C o m p o sição /P ag in ação em vídeo M a rc o A ntonio Fernandes

C apa Ary N orm an ha

A ntonio U birajara D om iencio

© W illia m Doyle 1986

T ítu lo do o rig in al em inglês: The A ncien R egim e P ublicado por M A C M IL L A N E D U C A TIO N LTD H o u n d m ills, B asingstoke, H am p sh ire RG21 2XS and London

IS8N 85 08 03981 6

1991

Todos os direito s reservados

E ditora Á tic a S.A. — Rua Barão de Iguape, 110 Tel.: (PABX) 278-9322 — C a ix a Postal 8656

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As referências bibliográficas são citadas entre colche­ tes, segundo a respectiva numeração na “ Bibliografia comentada” ; quando necessário, a referência a páginas é indicada por dois-pontos após o número da referência bibliográfica.

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Não se visa com este ensaio nem a relatar o que foi o Antigo Regime, nem a analisá-lo. Sua meta é descrever e discutir o modo como o Antigo Regime tem sido pensado e como se tem escrito a respeito dele desde que os revolucio­ nários franceses cunharam essa expressão. A seu ver, o sig­ nificado dela era evidente por si mesmo. Contudo, o debate e as discussões subseqüentes ampliaram aquele significado para muito além do que quer que seus criadores tenham sonhado, de tal modo que a idéia de Antigo Regime se tor­ nou extremamente elástica. Os historiadores têm discor­ dado, muitas vezes radicalmente, a respeito do que ele foi, de onde atuava, como funcionava, quando começou e quando terminou. Freqüentemente, os estudantes não têm consciência da ampla gama de questões que estão deixando de tratar toda vez que utilizam essa expressão aparente­ mente fácil de compreender. O que se segue é uma tenta­ tiva de guiá-los através desse campo minado intelectual até agora não-mapeado: de explicar como o conceito de Antigo Regime se originou e se desenvolveu até chegar a nosso século, e por que os historiadores continuam a considerá- lo um quadro de referência frutífero, ainda que problemá­ tico, para se refletir a respeito da época pré-moderna.

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Evolução de uma

idéia, 1789-1914

O Antigo Regime — Ancien Régime — foi uma cria­ ção da Revolução Francesa. Era o que os revolucionários pensavam estar destruindo em 1789 e nos anos a seguir. Antes daquele momentoso ano, ninguém pensava em si mesmo como vivendo sob algo chamado Antigo Regime.

Ancien significa, mais precisamente, “ antigo” , antes do

que “ velho” ; e não pode haver um regime antigo antes que haja um regime novo.

Os historiadores divergem quanto ao momento em que a velha ordem terminou e a nova começou. Os que viviam naquela época também não estavam certos quanto a isso. A primeira vez em que se utilizou a expressão Antigo Regime parece ter sido em 1788; quem o fez foi um nobre panfletá­ rio, ao prenunciar as glórias de um novo regime que have­ ria de erguer-se em torno dos Estados-Gerais. As eleições para esse organismo, na primavera de 1789, pareceram uma sólida evidência de que de fato raiava a nova aurora, e eram encontrados alguns eleitores do clero fazendo refe­ rência às condições sob as quais haviam vivido até então, como o “ regime antigo” . Assim que os Estados-Gerais se reuniram, que se transmutaram na Assembléia Nacional

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Constituinte e que sobreviveram a suas primeiras crises, em julho e outubro de 1789, os deputados começaram a referir-se regularmente em seus discursos e decretos ao regime “ precedente” , ou simplesmente ao regime velho

{vieux) [40: 10-6\. No início de 1790, contudo, Antigo

Regime tornara-se a expressão padrão para o que havia vigorado antes da Revolução. Em 1792, a expressão Ancient

Regime, uma tradução direta ainda que não inteiramente

precisa, era utilizada em inglês para exprimir a mesma coisa.

Definições iniciais

Que espécie de regime as pessoas de 1789 julgavam estar substituindo? É evidente que, ao utilizar pela primeira vez essa nova expressão, tinham em mente duas coisas dife­ rentes, ainda que interligadas.

O primeiro significado era político. O Antigo Regime fora um sistema de governo. Ainda hoje, muitos dicioná­ rios dão por suficiente essa definição. As características básicas do governo do Antigo Regime, segundo pensavam os revolucionários, eram que o rei governava com poder arbitrário e sem instituições representativas. Na monarquia absoluta, levada ao augè do refinamento em fins do século XVII por Luís XIV — e tendo mudado pouco desde então —, toda a soberania, toda a autoridade e todo o poder esta­ vam concentrados na pessoa do rei; e por seu exercício ele não era responsável perante ninguém, exceto Deus. Sob um governo desse tipo, acreditavam as pessoas de 1789, ninguém possuía direito algum, nenhuma pessoa ou pro­ priedade estava segura, e não havia regras ou leis ajustadas que estabelecessem limites à condução dos assuntos públi­ cos. As pessoas lembravam-se do modo como, em novembro de 1787, Luís XVI, pego desprevenido, declarara que o que era legal, era o que ele desejava. A maioria ainda acredi­ tava, em 1789, que as tendências despóticas do velho governo

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provinham mais das ambições desenfreadas dos conselhei­ ros, ministros e representantes do rei, do que das próprias tendências do monarca. Parco, porém, era o consolo que isto oferecia. Durante as lutas e debates políticos que cul­ minaram no colapso do velho governo, no verão de 1788, as pessoas começaram a falar da necessidade de uma cons­ tituição para regulamentar todos esses assuntos de maneira

permanente. Elas tinham conhecimento de que, naquele exato momento, os norte-americanos estavam elaborando precisamerite um documento desse tipo. E a 7 de julho de 1789, antes mesmo da queda da Bastilha, a recém-instituída Assembléia Nacional declarava-se um organismo com poder constituinte. À constituição que ela finalmente veio a produ­ zir, em setembro de 1791, pretendia encarnar o oposto de tudo quanto havia sido o Antigo Regime. Ela cultuava: a soberania da nação; o império da lei; a separação dos pode­ res; o governo eletivo, representativo; e uma ampla gama de garantias de direitos individuais.

Porém, essa imagem negativa do Antigo Regime não era simplesmente um conjunto de princípios políticos. Desde bem o início, a Revolução Francesa estivera igualmente preo­ cupada com questões sociais. Exatamente dois meses depois que os Estados-Gerais se haviam reunido pela primeira vez, na famosa sessão da noite de 4 de agosto, os deputados puseram abaixo toda uma série de instituições sociais e eco­ nômicas básicas. Essas revogações, juntamente com muitas outras que se seguiram no correr de 1790 e 1791, foram consideradas tão fundamentais, que foram elas também incorporadas à constituição. A Assembléia Nacional, decla­ rava o preâmbulo:

abole irrevogavelm ente as institu ições que feriam a liber­ dade e a igualdade de direitos.

D eixa de existir quer nobreza, quer pariato, ou distin­ ções h ereditárias, ou distin çõ es de ordens, pu regim e feudal, ou ju s tiç a privada, ou q u aisq u er dos títu lo s, denom inações ou prerrogativas daí derivados, ou qualquer ordem de

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cavala-ria, ou q uaisquer corporações ou co ndecorações para as quais se exig iam provas de nobreza, ou que im plicavam dis­ tin çõ es de nascim ento, ou q ualquer o utra superioridade que não a de fu ncio nário s públicos no exercício de seus deveres.

D eixam de exis tir ven alid ad e ou h ered itaried ad e de car­ gos públicos.

D eixam de existir, para qualquer parte da nação e para q ualquer indivíduo, q u alq u er privilégio ou e xceção em rela­ ção à lei com um de to dos os franceses.

Deixam de e x is tir guildas, ou corporações de profis­

sões, artes e ofícios. ____

A lei não m ais reconhece quaisquer ju ram en to s relig io ­ sos ou qualquer outro com prom isso contrário aos direitos natu rais ou à co n stitu ição .

Assim, o Antigo Regime foi também uma forma de sociedade. Fora dominado pelas “ ordens privilegiadas” do clero e da nobreza, que haviam estado isentas de mui­ tos dos encargos comuns, mas haviam monopolizado todos os poderes e vantagens públicos. As oligarquias privilegia­ das, autoperpetuadas, haviam, na verdade, transformado o conjunto da sociedade pré-revolucionária numa selva caó­ tica e irracional de casos especiais, exceções e desigualda­ des. No início de 1790, um outro termo foi amplamente utilizado para descrever tudo isso: aristocracia. E a mani­ festação mais flagrantemente irracional da aristocracia havia sido o feudalismo, ou “ regime feudal” , aquele sis­ tema em cuja vigência senhores feudais, que não eram donos da terra, podiam arrecadar tributos e obter favores de pessoas que o eram. Para aquela maioria de franceses que era camponesa, o desaparecimento do feudalismo foi talvez a mais fundamental das mudanças que separaram o velho regime do novo — muito embora o “ tempo dos senhores” devesse permanecer na memória popular até o início do século XX [40: 17].

A ideologia da Revolução Francesa não nasceu de uma só vez. Desenvolveu-se e refinou-se acompanhando a marcha dos acontecimentos. O mesmo se deu com o con­

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ceito de Antigo Regime dos revolucionários. O mais momentoso progresso a ter lugar após as mudanças iniciais de 1789 foi a querela com a Igreja Católica que se tornou pública com o malfadado juramento de lealdade imposto ao clero em novembro de 1790. O sentimento anti-religioso fora pequeno, em 1789, mas o anticlericalismo havia sido considerável. Este se manifestara na abolição dos dízimos, no confisco e revenda das propriedades da Igreja, na aboli­ ção do monasticismo e, finalmente, na tentativa de reorga­ nizar completamente a Igreja francesa na Constituição Civil do Clero. Muitos clérigos encararam também a introdução da tolerância para com os protestantes como uma agressão à Igreja. Fosse essa ou não a intenção, a política eclesiás­ tica da Assembléia Constituinte constituiu certamente um repúdio a um Antigo Regime no qual uma Igreja Católica, abastada e controlada pelos nobres, desfrutara do monopó­ lio da veneração pública e dominara o atendimento tanto da educação quanto da assistência aos pobres. Esse repúdio tornou-se mais determinado depois que muitos clérigos se recusaram ao juramento de 1790 e que, finalmente, o papa condenou publicamente a Revolução. Em 1794, muitas regiões da França foram assoladas por um movimento de “ descristianização” e o Estado recusou-se a reconhecer qualquer associação religiosa. Até mesmo os revolucioná­ rios que deploravam essas posições extremadas passaram a encarar o Antigo Regime como uma época de superstição e de fanatismo. Evidentemente, este era, então, um terceiro significado: o Antigo Regime foi um modo de organização religiosa e espiritual, tanto quanto política e social.

O ataque à religião estabelecida tornou a Revolução um assunto mais do que meramente francês. A Igreja Cató­ lica Romana era um organismo internacional e uma agres­ são contra ela nessa escala não podia deixar de ter repercus­ sões internacionais. O impulso inicial dos revolucionários havia sido viver em paz com o mundo exterior e renunciar

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ao uso da força nas relações internacionais. Os governos estrangeiros, de sua parte, estavam na maioria muito satis­ feitos em manter-se afastados e assistir à França chafurdar num caos sem remédio. Porém, o ato mesmo de racionali­ zar o país levou os revolucionários a entrar em conflito com autoridades estrangeiras, algumas das quais gozavam de direitos soberanos sobre encraves dentro da França. Uma dessas autoridades era o papa, em Avignon, e a solicitação bem-sucedida de seus súditos para se incorporarem à França complicou ainda mais suas relações com o novo regime. Os príncipes alemães também gozavam de direitos na Alsá- cia, que foram contestados pelas novas doutrinas de sobera­ nia nacional da França. Depois da frustrada tentativa de Luís XVI de emigrar, em junho de 1791, os monarcas estrangeiros começaram a ter um interesse mais sério por seu destino e, quando o imperador e o rei da Prússia deixa­ ram claras suas preocupações na declaração de Pillnitz (agosto de 1791) e ofereceram franca hospitalidade aos aris­ tocratas émigrés franceses, tornou-se cada vez mais evidente que o Antigo Regime ainda podia ser restaurado mediante maquinações estrangeiras. A França foi à guerra em abril de 1792 para evitar isso, e o primeiro resultado da guerraj foi pôr abaixo a monarquia. Assim, quando os exércitos franceses assumiram finalmente a ofensiva naquele outono, fizeram-no em nome de uma república e contra os monar-j cas e todas as instituições que os apoiavam. Oferecendo “ fraternidade e ajuda a todos os povos que desejem recupe­ rar sua liberdade” , convocavam os súditos a que se revol­ tassem por toda parte. Com o lema “ Guerra aos castelos, paz aos casebres” , identificaram-se com as revoluções sociais onde quer que fossem. Em dezembro, os generais franceses receberam instruções para instalar novas autoridades nos territórios ocupados e cuidar da eleição de pessoas “ fiéis à liberdade e à igualdade, e que renunciassem a privilégios” . O feudalismo devia ser destruído; e as terras da Igreja, con­ fiscadas. Em outras palairjas, o Antigo Regime passava a

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ser encarado como um fenômeno não simplesmente francês. Podia ser encontrado onde quer que houvesse reis, nobres, privilégios, feudalismo e propriedades eclesiásticas. E isto representava a maior parte da Europa.

A polarização de opiniões

A objetividade histórica não teve nenhum papel na definição inicial do Antigo^Regime. Os revolucionários defi­ niam-no a fim de condena-lo. Isto estabeleceu um padrão para grande parte da discussão subseqüente sobre ele como fenômeno histórico, até mesmo entre respeitáveis especialis­ tas. O que eles pensavam sobre o Antigo Regime dependia, em muito, do que pensavam da Revolução. A primeira rea­ ção de espectadores desinformados, ou mesmo informa­ dos, era supor que os representantes eleitos da nação fran­ cesa sabiam sobre o que estavam falando. Se condenavam e rejeitavam tão veementemente o Antigo Regime, este cer­ tamente havia merecido isso, e havia sido o que eles diziam. Desse modo, a princípio a maneira como os revolucioná­ rios pintavam o governo, a sociedade e a Igreja que estavam demolindo conseguiu ampla aceitação. Até mesmo Arthur Young, o viajante inglês que, mais do que qualquer outro, assistira aos estertores do Antigo Regime, admitiu, em 1791, que “ será muito difícil que se tente insistir em que uma revolução não fosse absolutamente necessária para o bem- estar do reino” . Contudo, poucos anos depois, modificaria sua opinião de maneira bastante radical. A essa altura, havia-se chegado a extremos que nenhuma opressão ante­ rior parecia justificar. Ao lado disso, a essa altura também, o Antigo Regime começara a encontrar defensores.

O primeiro, e maior deles, foi Edmund Burke. Suas

Reflectións on the Revolution in France, de 1790, consis­

tiam, principalmente, numa refutação indignada da idéia de que a liberdade inglesa e a liberdade proclamada pela

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Revolução Francesa tivessem algo em comum. Enquanto os ingleses edificaram com base nas instituições que haviam herdado, os franceses haviam repudiado globalmente as suas, e desse modo as reformas destes eram desprovidas de raízes. Melhor teriam feito se modificassem e emendas­ sem o Antigo Regime, no qual “ dispunham dos elementos de uma constituição quase tão boa quanto se podia dese­ ja r” . Era bem verdade que faltavam nele as instituições representativas da Inglaterra, mas essas poderiam ter sido introduzidas sem as convulsões sociais que realmente ocor­ reram. Apesar de todos os seus abusos, a velha monarquia fora “ um despotismo antes na aparência do que na realida­ de” e se havia mostrado, quando menos, disposta a dar apoio a reformas, sob o governo de Luís XVI.

Houvera muito exagero a respeito dos privilégios de que desfrutavam a nobreza e o clero; sua conduta havia sido honrada e civilizada, e não marcada por quaisquer “ v í-, cios incorrigíveis” . Em todo caso: “ Receber honras e até mesmo privilégios conforme as leis, opiniões e costumes arraigados de nosso país, originários dos preconceitos de séculos, nada tem que provoque horror e indignação em quem quer que seja” . Mais do que tudo, Burke escandali­ zava-se com o ataque à Igreja, o qual, de fato, apenas começava no momento em que ele escreveu. A religião ofi­ cial, perfeita com todos os seus dons independentes, consti­ tuía, a seu ver, um dos fundamentos de qualquer sociedade bem equilibrada: “ Sabemos, e mais do que isso, sentimos intimamente que a religião é a base da sociedade civil e a fonte de todo bem e de todo conforto” .

O que isso significava é que a Revolução havia des-| truído um Estado, uma sociedade e uma instituição religiosa que eram fundamentalmente sadios e fortes: talvez necessi­ tando alguma reforma, mas não destruição. Isto punha Burke diante do problema de por que, nesse caso, tinha havido uma revolução. A resposta que deu a isso foi uma

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resposta que iria continuar repercutindo pela historiografia do Antigo Regime até os dias de hoje. Houvera uma cons­ piração. A mente dos franceses havia sido corrompida pelos escritos de uma “ cabala literária” que “ alguns anos antes havia montado algo parecido com um plano completo para a destruição da religião cristã” . Esses escritores haviam-se aliado ao “ interesse monetário” de plutocratas sem raízes — que miravam, com cobiça, as enormes propriedades da Igreja e, com inveja, o prestígio social da nobreza — para pôr abaixo e saquear a preciosa herança de séculos de desenvolvimento histórico da França. Variantes da teoria conspiratória da Revolução Francesa proliferaram também por toda a década de 1790 na França, Alemanha, Escócia e alhures [16], mas poucos de seus defensores dedicaram muito tempo à discussão da natureza do Antigo Regime. Admitiam suas virtudes como evidentes por si mesmas, pois, ao contrário de Burke em 1790, se dirigiam em grande parte a um público que já tinha posição tomada. A Revolu­ ção era o mesmo que saque, violência, carnificina irracio­ nal e caos. Era totalmente desnecessário salientar que o Antigo Regime fora uma época de tranqüilidade, ordem, subordinação, respeito pela propriedade e reverência à reli­ gião.

Contudo, isto significava aceitar, da versão que os revolucionários tinham das coisas, uma parte maior do que seus detratores gostariam de ter admitido. Ambas as ver­ sões dependiam do pressuposto de que 1789 assinalara uma ruptura fundamental na história da França; de que não havia continuidade, e nada de comum entre o que prece­ dera a grande convulsão social e o que a ela se seguira. O mais importante de todos os admiradores do Antigo Regime, o próprio Napoleão, tinha certamente essa opinião. Essa a razão por que seu regime foi marcado por uma deliberada tentativa de trazer de volta os traços mais proeminentes da era pré-revolucionária — Igreja, monarquia, corte e nobreza. Seu objetivo era, bem conscientemente, harmoni­

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zar a velha França com a nova. Essa política foi extrema­ mente controvertida, mas não fez progredir o debate histó­ rico a respeito do Antigo Regime. Qualquer espécie de debate era abafado ao tempo de Napoleão. Somente depois de 1815 é que os estereótipos da década de 1790 começaram a ser modificados.

Mesmo então, a preocupação principal era com a Revolução, e a discussão sobre o Antigo Regime continuava a ser um subproduto. Muito embora os Bourbons não pudessem ter sido reintegrado^ se não aceitassem grande parte de tudo quanto se fizera desde 1789, nem eles, nem os émigrés, que com eles voltaram, sentiram-se constrangi­ dos a gostar daquilo. Nem fizeram segredo algum de sua entranhada preferência pelo Antigo Regime. Afinal de con­ tas, sua própria reivindicação de legitimidade, bem como seus modelos sociais, políticos e espirituais provinham daquela época. Nessa atmosfera hostil, os adeptos do legado revolucionário punham-se na defensiva e, pela primeira vez, começaram a argumentar que a Revolução havia sido tanto parte das tradições francesas quanto um repúdio a elas [11]. Os monarquistas exaltavam os poderes dos ancestrais do rei restaurado; os aristocratas, as proezas dos antepassados dos émigrés que haviam regressado; e os clérigos, a autori- ' dade cristã da velha Igreja galicana. Enquanto isso, os liberais afirmavam que a liberdade não era novidade para a França em 1789. Uma tradição de liberdade remontava às brumas frânciças, e a Revolução apenas a reafirmara após um século e meio de despotismo real, tirania aristocrá­ tica e fanatismo clerical. Isso implicava que o Antigo Regime não era algo de imóvel e de imutável. Desenvolvera-se, ainda que de maneira indesejável; e, longe de ser tranqüiía, orde­ nada e respeitosa, sua história foi tumultuada e cheia de conflitos, na verdade tão espetaculares e horríveis quanto os da Revolução. Ainda que lançada, fora de sua rota, em excessos que poucos se interessavam em defender, a Revolu­ ção fora uma tentativa sincera de restaurar e salvaguardar

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a tradição francesa de liberdade, dotando a nação de uma constituição. Ao que alguns conservadores replicavam dizendo ser absurdo afirmar que não houvera uma consti­ tuição ao tempo do Antigo Regime. As realizações do Estado pré-revolucionário provavam o contrário.

.. Nisso tudo se encontram as sementes de uma avaliação mais elaborada do Antigo Regime como fenômeno histórico. Nem todas elas germinaram imediatamente, e de fato, preci­ sariam ser fertilizadas com novas pesquisas antes que o fizes­ sem. Dos que discutiram esses assuntos entre a restauração e a revolução de 1848, foram poucos os que fizeram alguma pesquisa original, especialmente sobre o Antigo Regime. Afinal de contas, ele constituía apenas a introdução à sua verdadeira preocupação. A exceção foi Joseph Droz [10], que em 1839 começou a elaborar o primeiro estudo sério sobre a queda da velha ordem. É bem verdade que seu obje­ tivo ainda era polêmico: Droz pretendia refutar o que, na época, era a louvação mais popular da inevitabilidade da Revolução, a feita por François Mignet [9]. Seu argumento básico se tornaria clássico: que a Revolução poderia ter sido evitada se as ordens privilegiadas, egoístas e sem visão, hou­ vessem se agrupado em apoio a um monarca reformador, em vez de obstruir seus planos. O livro de Droz foi fruto de 28 anos de reflexão e leitura, notavelmente pormenori­ zado e bem informado, bem como sereno em seu julga­ mento. Infelizmente, seu impacto foi abafado em meio a uma reativação generalizada do entusiasmo pela tradição revolucionária que marcou os últimos insípidos anos da monarquia de julho. Os anseios românticos, que transforma­ ram em grandes best-sellers as histórias da Revolução de Michelet ou de Louis Blanc, não encontraram atrativo algum no Antigo Regime, uma “ dessas eras de decadência em que nenhum ideal cresce ou floresce” (Carlyle). Somente depois de 1848, quando mais uma vez se tentara a revolução e, uma vez mais, dera errado, foi que as virtudes de uma aná­ lise mais tranqüila recuperaram parte de sua atração.

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Rumo a uma análise acadêmica

O estudo acadêmico sério do Antigo Regime teve iní­ cio em 1856. Esse foi o ano da publicação de UAncien

Régime et la Révolution Française, de Alexis de Tocqueville.

Não que o objetivo desse político liberal desiludido fosse fundamentalmente acadêmico. Ele escreveu, não para com­ preender o passado, mas sim sua própria época. Contudo, isto por si só implicava compreender melhor o passado, e para consegui-lo Tocqueville foi mais além das memórias e das polêmicas revolucionárias, que até então constituíam as fontes principais para a história do Antigo Regime. Foi aos arquivos, até mesmo aos arquivos provinciais. É bem verdade que ali despendeu apenas alguns meses, e que o que encontrou confirmou, em grande medida, idéias suas e serviu para rechear idéias cujas linhas básicas já tinha em mente há duas décadas [1; 3]. Não obstante, indicou o caminho de tesouros não-explorados que, até hoje, estão sendo garimpados pelos historiadores. Tocqueville foi além dos historiadores liberais da restauração na minimização da ruptura de 1789. Segundo ele, a Revolução meramente fortaleceu e completou certo número de tendências subja­ centes de longo prazo da sociedade francesa. Considerava que a tendência inevitável da história moderna era na dire­ ção da igualdade. O perigo era que ela abrisse o caminho para o despotismo e para a destruição da liberdade. Esse perigo fora aumentado incomensuravelmente pela Revolu­ ção, que, muito longe de instaurar a liberdade, havia feito desaparecer a maioria das instituições mediante as quais ela funcionava, abrindo desse modo o caminho para o despo­ tismo desenfreado de Napoleão. A centralização, que Toc­ queville e seus contemporâneos liberais culpavam por mui­ tos dos males da França do século XIX, não constituía, na verdade, nada de novo. Fora um traço fundamental do Antigo Regime. Igualmáite fundamental, porém, haviam

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sido os obstáculos que a ela se interpunham, vestígios da liberdade mais completa da Idade Média, sob a forma de privilégios, imunidades, direitos consagrados pelo uso, e instituições independentes, tais como o clero e os tribunais de justiça. O despotismo jamais fora inteiramente bem-suce­ dido em aboli-los. Essa foi a tarefa histórica da Revolução, cuja força motora, o impulso para a igualdade, era o impulso da própria história.

Essa interpretação, muito embora fosse um panfleto desassombrado para a própria época de Tocqueville, impli­ cava que o Antigo Regime era algo a ser compreendido, em vez de atacado ou defendido. Era um tema merecedor de estudo de pleno direito; pois afinal de contas tinha havido homens vivendo sob, reconhecivelmente, a mesma organização do Estado e da sociedade durante vários sécu­ los antes de 1789, e durante essa época, como na década , de 1790, o curso da história fluíra com igual força, ainda que menos espetacularmente. Para Tocqueville, o Antigo , Regime era a Idade Média em ruínas. E isso não foi pecu­ liar à França. A maior parte da Europa possuía exatamente as mesmas instituições, fragmentos daquilo que ele situou no século XIV como “ a velha constituição da Europa” [18:

cap. 4}. Grande parte do livro foi dedicado a investigar por

que, se as instituições européias eram tão uniformes, a Revolução que iria finalmente destruí-las, e nivelar os des­ troços, ocorreu primeiro na França. Essa indagação condu­ ziu Tocqueville para dentro de áreas de investigação mal tocadas por seus predecessores, mas que têm constituído o centro da preocupação dos historiadores que se seguiram. Ele foi o primeiro a estudar de que modo o governo doí Antigo Regime realmente funcionava fora dos corredores de Versalhes. Foi o primeiro a olhar por trás da pintura da sociedade e das instituições francesas feita pelos homens de 1789 e á perguntar até que ponto ela era precisa. Foi o primeiro a prestar atenção ao caráter econômico da velha ordem, a qual, afirmou, terminou num esplendor de pros­

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peridade. O relato que fez de todas essas coisas foi muito corrigido e modificado por pesquisas posteriores, mas não sua avaliação da importância delas. Contudo, sua resposta final à pergunta que o havia levado a tratar delas condu­ ziu-o de volta a suas preocupações originais mais gerais. A derrubada do Antigo Regime começou na França porque ali o governo centralizado havia excluído todo mundo de qualquer voz ativa ou experiência nos assuntos públicos, e com isso privado as pessoas de qualquer senso de dever público. Nessas circunstâncias, elas se deixaram seduzir pelos sonhos impraticáveis do Iluminismo, que lhes ofere­ ceu um desprezo fatal pelas instituições existentes. Assim, curiosamente, o estudo pioneiro de Tocqueville terminou muito perto da idéia de Burke de que a Revolução resultou de um complô filosófico.

As teorias conspiratórias exerceram evidente atração sobre todos os que encontravam algo a admirar no Antigo Regime. Para Tocqueville, esse algo foram ^os vestígios de uma antiga liberdade. Para Hyppolite Taine, foram a ordem e os frutos de um crescimento orgânico. Escrevendo umà geração depois de Tocqueville, Taine foi mais um liberal desiludido. Partidário da revolução de 1848 na juventude, tornara-se, com o passar dos anos, cada vez mais hostil a idéias democráticas, e sua aversão foi legitimada pelos excessos da Comuna de 1871. Ele veio para a história tar­ diamente, quando já tinha assegurada sua reputação como crítico literário e psicólogo. O objetivo de Les origines de

la France contemporaine (1875-93) era buscar explicar por

que a França se havia dotado de treze constituições em oitenta anos e, no entanto, estava ainda insatisfeita. Taine considerou que a resposta estava em haver-se abandonado irresponsavelmente o Antigo Regime, em 1789; e o primeiro, melhor e mais famoso volume de sua obra foi dedicado ao estudo desse regime. Como Tocqueville, recorreu aos arquivos, e o livro foi dedicado aos arquivistas e bibliotecá­ rios que o haviam ajudado. Porém recorreu a eles mais

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em busca de colorido do que de novas informações, uma vez que sabia basicamente o que pensava antes de começar. Como Burke, com quem defrontara em sua extensa leitura da literatura inglesa, acreditava que toda sociedade tem seu caráter peculiar, produto de uma evolução singular. Isso não exclui a evolução futura, mas abandonar em bloco a herança do passado era atrair a má sorte e abrir as portas para a espécie de anarquia que se viu na França após 1789. Taine não aprovava mais do que Tocqueville o Antigo Regime como um todo. Via muito bem que continha mui­ tas injustiças, desigualdades e ineficiências. Mas era um cres­ cimento natural e mantinha os homens dentro das normas; e essas qualidades contrabalançavam todos os seus defei­ tos. Ele podería ter continuado a evoluir; porém em 1789 os franceses tomaram a trilha errada, induzidos a abando­ nar inteiramente sua herança sob a liderança de uma mino­ ria instruída, seduzida pelo “ espírito clássico” e pelo hábito de pensar em categorias racionais e abstratas representadas pelo Iluminismo. A razão lhes ensinava que tudo pode ser mudado e, de imediato, posto em ordem; mas “ em história, melhor é ir em frente do que começar novamente” [19: 55] e a derrubada do Antigo Regime apenas liberou as energias maníacas de uma massa ignara decidida a destruir toda a ordem e toda a propriedade. Assim, o Antigo Regime era perfeitamente viável, mas foi subvertido. Taine apresentou pouca evidência nova em apoio às suas opiniões, ao contrá­ rio de Tocqueville. Expressou-se, porém, em estilo brilhante, e sua denúncia da Revolução atraiu todos aqueles a quem desgostava a Terceira República, numa época em que polí­ ticos republicanos, para não falar em historiadores, procu­ ravam defender a legitimidade do regime mediante ruido­ sos apelos às tradições revolucionárias [12]. Taine não era católico, mas seus argumentos seduziram os defensores da Igreja oficial e os que se opunham à separação entre a Igreja e o Estado. Também não era monarquista, mas os que acreditavam na Restauração encontraram alento na

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idéia de que a monarquia era a forma natural de governo que evoluíra em solo francês. Mais tarde, quando já havia morrido há muito tempo, fascistas, anticomunistas e extre­ mistas de direita acolheriam alegremente o realce que dera à ordem e à autoridade, bem como seu desprezo pela popu-i laça.

Tocqueville e Taine deram origem a importantes tradi­ ções na interpretação do Antigo Regime, as quais têm influenciado profundamente os historiadores até os dias de hoje. Há também uma terceira tradição, que surpreen­ dentemente demorou para instaurar-se, mas que talvez cons­ titua a mais influente de todas nos dias que correm. Trata- se da interpretação econômica; e remonta a Marx. Para Marx, o progresso fundamental da história moderna fora a substituição do modo feudal de produção pelo modo capi­ talista. Em termos sociais, isto significou que a burguesia suplantou a velha aristocracia fundiária no topo da socie­ dade. Não foi um processo tranquilo, mas sim pontuado por lutas violentas toda vez que a burguesia havia acumu­ lado poder econômico suficiente para assumir a autoridade política. A Revolução Francesa foi o exemplo extremo desse tipo de lutas, quando o feudalismo foi finalmente erradi­ cado na França após a tomada do poder pela burguesia. Algo semelhante a essa interpretação havia ocorrido a um dos líderes revolucionários de 1789, Barnave, embora só viesse a ser publicado em 1843, quando seu impacto foi muito pequeno [21]. Tocqueville, como vimos, tocou em aspectos econômicos do Antigo Regime, mas não prosse­ guiu nisso. Coube a Jean Jaurès, em sua Histoire socialisíe

de la Révolution Française (1901-4) [20], popularizar a opi­

nião de que a mais importante característica da velha ordem foi sua estrutura econômica característica. Era a etapa de decadência do feudalismo, quando o poder da antiga nobreza estava sendo minado por outros grupos que adquiriam uma porção de terra e quando meios mais eficientes de organi­ zar a produção ganhavam força pelo progresso do

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capita-lismo. Jaurès acompanhou Tocqueville na ênfase à prospe­ ridade dos últimos anos do Antigo Regime. Isso demons­ trava a confiança do capitalismo às vésperas de sua vitória final. Porém, sua tentativa de realçar os fatores econômi­ cos o fez perceber o quão maldocumentados eram eles, e ele fundou uma série para a publicação de documentos eco­ nômicos importantes relacionados com a Revolução.

Inevitavelmente, muitos deles continham também informações sobre o Antigo Regime, e haveriam de contri­ buir em muito para aguçar as perspectivas dos historiado­ res do século XX ao escreverem sobre a época pré-revolu­ cionária. Essas perspectivas são o assunto do restante deste estudo.

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3

Os limites do

Antigo Regime

O Antigo Regime foi um fenômeno europeu; uma etapa na evolução política, econômica, social e cultural da Europa. Mas o que era a Europa? Os próprios geógrafos apenas a estenderam até os Urais no correr do século XVIII; e pode­ ria justificar-se a exclusão da Rússia, com sua religião carac­ terística e sua estrutura política e social semi-asiática, de qualquer definição do Antigo Regime em âmbito europeu — pelo menos até o século XVIII, quando aquele regime, no oeste, já começava a desintegrar-se [109; 118]. E nin­ guém admitiria a inclusão dos Bálcãs dominados pelos tur­ cos. Tem-se afirmado, algumas vezes, que as colônias euro­ péias na América, antes da independência, faziam parte do Antigo Regime do continente metropolitano [124; 129]; e há, por certo, determinados sentidos em que elas se vincu­ lavam. Essas colônias foram instituídas e controladas por Estados do Antigo Regime; a riqueza que ajudaram a pro­ duzir influenciou profundamente o desenvolvimento econô­ mico e social de seus países de origem; muitas de suas insti­ tuições eram réplica de modelos europeus; e a consecução de sua independência esteve indissoluvelmente ligada à desintegração do Antigo Regime na Europa. Contudo, as

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condições coloniais — geográficas, climáticas e raciais — levaram a que, desde o início, os modelos europeus tives­ sem de ser modificados a ponto de quase se tornarem irre­ conhecíveis, e as diferenças disso resultantes não diminuí­ ram com o correr do tempó. Esta a razão por que a inde­ pendência, quando aconteceu, pareceu uma coisa tão lógica. Por isso, provavelmente é melhor pensar sobre o começo da vida colonial moderna antes como um produto do que como parte integrante do Antigo Regime. Ela se encontra fora de seus limites geográficos.

Mesmo sendo um produto do Antigo Regime, contudo, a colonização deve ter-se originado dentro de seus limites cronológicos. Isto significa que o Antigo Regime deve ter começado, o mais tardar, antes de 1492.

Inícios

As pessoas do século XVIII, entre as quais não eram exceção os franceses de 1789, pensavam no mundo moderno, o mundo no qual haviam nascido, como tendo início por volta de 1500. No espaço de meio século antes ou depois dessa data, o Renascimento despertou um espírito de inves­ tigação ao qual o Iluminismo remontava sua própria ascen­ dência; a imprensa foi inventada; a América foi descoberta e abriu-se uma nova rota marítima para o oriente; os tur­ cos assumiram o controle do sudeste europeu; e a Reforma estilhaçou a unidade da Igreja. Essas mudanças pareciam separar definitivamente a Idade Moderna da Idade Média. Os homens estavam conscientes de ainda estar convivendo com suas conseqüências. Esse ponto de vista persiste na rotulação convencional dos anos entre cerca de 1500 e 1800 como período early modem. (Na França, ele é chamado período moderno. A história, a partir de 1789, é conhecida como contemporânéá.)

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Mas alguns dos traços principais da vida européia nesse período datam de muito antes do século iniciado em 1500. A Igreja Católica tinha suas raízes na Antigüidade; e os prin­ cípios organizacionais, geográficos e econômicos em que ela ainda se baseava em 1789 estavam todos eles bem-estabeleci- dos antes do ano 1000. Assim também o domínio da socie­ dade por uma nobreza fundiária: várias das nobrezas do século XVIII remontavam sua autoridade à conquista nos primórdios da época medieval, nem sempre sem alguma jus­ tificação [123]. E o feudalismo, como forma de organização econômica, estava plènamente desenvolvido; dirão alguns que já em decadência, muito antes do século XV. Conside­ rações dessa espécie têm levado alguns historiadores a aban­ donar ou, pelo menos, a tratar como secundária a divisão do segundo milênio d.C. em período medieval e período

early modem. Para os marxistas, o Antigo Regime é, antes

de mais nada, o tempo do modo de produção feudal. Nesse sentido, ele começou, ou surgiu, em toda a plenitude, logo depois do Império Carolíngio, no século IX [104]. Poucos não-marxistas iriam tão longe assim. Mas Dietrich Gerhard [118], que considera que as instituições básicas da Europa (com a exclusão da Rússia e dos Bálcãs) perduraram imutá­ veis por quase oito séculos, acredita que elas se “ cristaliza­ ram” entre os séculos XI e XIII. Foi então que as invasões terminaram, a população começou a crescer e nova tecnolo­ gia foi introduzida nos transportes, construções e moinhos. Os Estados monárquicos começaram a surgir e a pôr ordem em grandes extensões do continente e, copi maior segurança, foi retomada a urbanização após séculos de recuo. Foi tam­ bém durante esse período que a organização em Estados ou ordens hereditários e funcionais passou a caracterizar a sociedade. Nesse entretempo, a onipresença de uma Igreja poderosa e autoconfiante proporcionou à Europa um senti­ mento de unidade que a tudo recobria.

Essa interpretação, por sua vez, é muito influenciada pela obra dos historiadores econômicos franceses

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não-marxistas (ou ex-não-marxistas), a chamada Escola dos Annales. Para eles, o movimento populacional é o motor mais fun­ damental da história e eles se sentem capazes de situar o ponto inicial do velho regime demográfico, pelo menos com boa dose de precisão. Ele começa com a Peste Negra de meados do século XIV; a primeira e a maior epidemia da espécie que só irá desaparecer no decorrer do século XVIII. Alastrando-se a partir do leste, foi a precursora da “ unifi­ cação microbiana” do mundo que iria manter limitados os níveis de população durante trezentos anos [89; 109]. Tocqueville, abordando a história de uma perspectiva muito diferente, enxergava também o século XIV como o ponto inicial a partir do qual se poderia traçar a longa decadência da liberdade que foi a essência do Antigo Regime.

Poucos historiadores do regime francês original, que deu nome a todos os demais Antigos Regimes, foram tão longe assim. A monarquia absoluta e a fragilidade das ins­ tituições representativas que era seu corolário não podem ser encontradas na França muito antes das últimas décadas do século XV [27; 58] — muito embora possa haver quem afirme que não foi antes de meados do século XVII que o triunfo daquela e a derrota das outras se tornaram irrevogá­ veis [59; 64]. Assuntos esses que se mantiveram sem solu­ ção por todo o agitado século transcorrido da morte de Henrique II (1559) até a maioridade de Luís XIV (1661). A Igreja galicana atacada pela Revolução, por mais antigo que fosse seu modelo econômico e organizacional, pouco mais tinha em comum com sua antepassada medieval. Sua relação com o rei e com o papa havia sido transformada em 1516 pela Concordata de Bolonha, e seu ponto de vista sobre o mundo fora profundamente marcado, ainda no século XVI, pela experiência da Reforma e da Contra- Reforma. E a mais fundamental de todas as instituições sociopolíticas destruídas em 1789, a venalidade dos cargos, também se tornou muito difundida no sécíilo XVI. É bem verdade que a venalidade na vida pública começou a lançar

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gos não foi institucionalizada antes de 1604. Quando, porém, Francisco I criou o departamento das Parties Casuelles, em 1522, para tratar da renda advinda da venalidade, era evi­ dente sua importância tanto para o governo quanto para a sociedade, e ela devia manter-se dominante até 1789 [74].

A maioria dos historiadores da França concordaria, por isso, que a expressão Antigo Regime é adequada para descrever os séculos XVI e XVII, bem como o século XVIII. A única exceção recente é BettyJJêhrens. A seu ver, o que as pessoas de 1789 pensavam estar abolindo era um sistema repleto de abusos. “ Implícita nessa expressão” , continua ela, com lógica questionável, “ é, pois, a idéia de decadên­ cia” [36: 10]. Consequentemente, o Antigo Regime foi ape­ nas aquela época durante a qual as pessoas estavam cons­ cientes de que as coisas não podiam perdurar. Esse senti­ mento a autora só consegue encontrar depois de 1748, quando a Inglaterra começou a progredir na competição internacional e a crítica do Iluminismo aos costumes vigen­ tes começou a ter algum impacto. Porém, continua sendo discutível que a permanência do poder britânico ou a derru­ bada da ordem existente parecesse de qualquer maneira pro­ vável a seus contemporâneos.

Pierre Goubert, a mais eminente autoridade francesa sobre o Antigo Regime dos últimos tempos, descarta a sugestão de que ele só tenha começado em 1748 como um “ erro de interpretação inaceitável sequer por parte de um estudante de primeiro ano” [40]. Para Goubert, 1748, longe de ser o começo do Antigo Regime, mais parecia ser o fim ou, pelo menos, o começo do fim.

Fins

A'Revolução Francesa terminou, para sempre, com uma singular combinação de características políticas, sociais,

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tivo desde o século XVI. Poucos de seus contemporâneos anteviram o cataclisma antes que ele acontecesse, e nenhum deles predisse ou imaginou sua escala arrasadora e seu cará­ ter desordenado. Mas com visão retrospectiva, os historia­ dores podem ver que o Antigo Regime vinha sofrendo pres­ sões sem precedentes desde meados do século XVIII [40:

vol. 2]. A competição internacional consumia além dos limi­

tes os recursos do Estado e sobrecarregava seu sistema financeiro. Um público leitor instruído, em expansão, enca­ rava tudo com confiança cada vez menor, questionando e discutindo todas as opiniões convencionais sobre qualquer assunto que se possa imaginar. A população crescia a níveis nunca antes atingidos e, enquanto se ampliava a distância entre ricos e pobres, perdiam importância as velhas divi­ sões de status entre os ricos nas camadas superiores da sociedade. A Revolução resultou de algumas dessas tendên­ cias e simplesmente coincidiu com outras [43]. Mas foram elas, e ainda outras como elas, que, de maneira eficiente, levaram o Antigo Regime ao fim, muito mais do que qual­ quer conjunto de decretos revolucionários.

Algumas dessas tendências mais profundas, por outro lado, levaram muito tempo depois da Revolução para se concretizar. Isso ajuda a explicar o fato de que muitas das características do Antigo Regime que os homens de 1789 tentaram abolir voltaram à tona quando terminaram as sublevações de 1790. Entre elas, a mais evidente foi a pró­ pria monarquia. A Revolução levou três anos para tornar- se republicana, e a França viria a ser uma república apenas durante dezesseis dos 81 anos entre 1789 e 1870. Mesmo após a instauração da Terceira República, os partidos monárquicos continuaram fortes por muitos anos. Nem mesmo a monarquia absôluta desapareceu para sempre em 1789. A autoridade do imperador Napoleão foi, de fato, muito mais ampla do que qualquer coisa de que os reis Bourbons haviam desfráfado; e seu sobrinho, Napoleão III,

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a monarquia parlamentar da Restauração detinha poderes que teriam chocado os constituintes de 1789. Foi isso que Tocqueville quis dizer ao afirmar que a função histórica da Revolução foi remover os obstáculos remanescentes do caminho do despotismo. Os homens de 1789 haviam bus­ cado limitar o poder do Estado dentro de limites claros e inflexíveis. Eliminaram de vez antigos limites, convencidos de que eram inadequados. Inadequados ou não, eles se mostraram impossíveis de substituir. Traços de algumas outras instituições, supostamente extintas em 1789, na ver­ dade voltaram a aparecer mais tarde. A carreira jurídica veio a poder reviver certa forma de venalidade para deter­ minados cargos. A tributação indireta e os monopólios esta­ tais, execrados e condenados pelos revolucionários de pri­ meira hora, começaram a retornar dissimuladamente já ao tempo do Diretório. Pela Concordata de 1801, Napoleão voltou a instaurar uma Igreja Católica estatal que só viria a perder seu caráter oficial em 1905. Em todas essas esfe­ ras, e em muitas outras também, a Revolução não demons­ trou constituir a ruptura definitiva com a velha ordem polí­ tica e institucional que seus participantes pretendiam. Con­ tudo, nenhuma das instituições que sobreviveram, ou res­ suscitaram mais tarde, fizeram-no intactas ou sem qualquer transformação. Não passavam de sombras do que haviam- sido, e já não existia grande parte do contexto dentro do qual haviam anteriormente funcionado. Por isso, parece ainda razoável concluir que o Antigo Regime político da França realmente se extinguiu com a Revolução.

Parece bem menos evidente que a Revolução tenha representado uma ruptura social equivalente. É certo que ela abandonou o quadro legal das ordens no qual a socie­ dade francesa estava oficialmente organizada. Aboliu-se a nobreza; aboliu-se o privilégio. Contudo, Napoleão criou uma nova nobreza, e ao tempo da Restauração o que sobrara da antiga nobreza desfrutou de uma existência tranqüila.

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Os títulos são ainda regularmente ostentados na França de hoje. Porém, com a abolição da venalidade, a nobreza tor­ nou-se o que nunca havia sido antes: uma casta fechada, impenetrável a não ser por usurpação. Assim como se deu com os resíduos políticos do século XIX, as continuidades superficiais dissimularam transformações mais profundas. A mais profunda de todas, contudo, antecedeu a Revolu­ ção em pelo menos meio século — o surgimento de uma elite social unificada de proprietários fundiários que o mundo pós-revolucionário chamaria de os Notables. Ao abolir a atração contrária dos cargos venais e pondo à venda quantidades sem precedentes de terras confiscadas da Igreja e dos émigrés numa época de ruína econômica, a Revolu­ ção meramente confirmou e acelerou a consolidação desse grupo de proprietários de terras [71]. O comércio e a indús­ tria mereciam tão pouco prestígio social no início do século XIX quanto haviam merecido desde os tempos mais longín­ quos. Neste sentido, será mais apropriado encarar a predo­ minância dos Notables como a última fase da velha ordem do que como a primeira de uma nova ordem. A velha nobreza terá sido absorvida em uma entidade mais ampla, mas a perspectiva e os valores desse grupo maior ainda pro­ vinham, em grande medida, dos grupos dos nobres. Ape­ nas quando os proprietários de terra deixaram de gozar automaticamente de preferência é que se pôde dizer que desapareceu o Antigo Regime social.

Isto só poderia acontecer quando a economia como um todo se houvesse transformado. Hoje em dia, em geral se concorda que, nessa esfera, a Revolução Francesa não fez absolutamente diferença alguma. A supressão dos emba­ raços econômicos pelos homens de 1789 foi, como diz Pierre Goubert [40], “ permissiva, não decisiva” . A maior de todas essas supressões, a abolição do “ feudalismo” , é encarada hoje em dia como tendo sido menos definitiva do que outrora se pensou, graças a persistentes resíduos e à tendência dos senhofes feudais de se ressarcirem das per­

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Revolução destruiu a vida econômica e levou o comércio ultramarino francês à quase total destruição. Até a década de 1840, a economia da França permanecia apática e preca­ tada, e sua estrutura poúco se alterou desde os anos de expansão de meados do século XVIII. O que a transformou foi o advento das ferrovias, que rompeu com o velho modelo agrícola regional, criou um mercado nacional e deu enorme estímulo à indústria pesada pela demanda por car­ vão, ferro e aço [92], Foi isto que realmente deu fim ao Antigo Regime econômico, o que aconteceu entre í 840 e 1870. Somente então a produtividade agrícola começou a elevar-se acima de níveis antiqüíssimos, as cidades começa­ ram a atingir dimensões sem precedentes, e a produção fabril moderna começou a ser vista como a norma indus­ trial. E também foi somente então que o prestígio da pro­ priedade fundiária começou a debilitar-se, e que a França dos Notables, de tendência monárquica, começou a recuar diante das forças populares do republicanismo democrático.

Todas essas mudanças têm também uma dimensão cul­ tural. O impacto cultural da Revolução, com sua investida contra os costumes e hábitos locais, sua linguagem e seu imaginário nacional, e sobretudo sua tentativa de descristia- nização, não pode jamais ser subestimado. O debate a res­ peito do múltiplo legado da Revolução iria dividir a elite instruída do país por todo um século. Contudo, quando a sublevação terminou, muita coisa continuou como antes. O, catolicismo iria ser a religião da imensa maioria dos fran­ ceses até a Terceira República. De um modo ou de outro, o avanço constante da educação básica não foi perturbado pelo turbilhão revolucionário. O processo estava pratica­ mente completado na década de 1880 [98]. No mundo do trabalho, não foi senão por volta desse mesmo período que os valores, hábitos e atitudes pré-industriais dos artesãos e camponeses começaram a se desvanecer [101].

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Sob todos esses aspectos, pode-se afirmar que o Antigo Regime mais profundo, não-político, realmente não morreu até a segunda metade do século XIX, e que, se alguma revo­ lução política foi decisiva, teria sido a de 1848 e não a de 1789. Poderá dizer-se o mesmo sobre a Europa como um todo? Sob um aspecto básico, o fim do Antigo Regime europeu era visível a partir da década de 1730. Pois foi durante aquela década que começou o crescimento implacá­ vel da população, que continua até hoje. Em quase todos ~usrpaíses da Europa, os nascimentos começaram a superar as mortes, à medida que a fome e as epidemias se tornaram menos freqüentes e se aperfeiçoou o manejo humano do meio ambiente. Uma característica demográfica ainda mais moderna, o controle generalizado da natalidade, surgiu pela primeira vez na França cinqüenta anos depois, mas não se disseminou pelo continente todo senão após mais de um século. Precocidade econômica de outra espécie foi visível na Inglaterra antes do fim do século XVIII, ao pôr- se em marcha a Revolução Industrial. Com exceção da Bél­ gica, nada de comparável seria visto nos países continentais até a década de 1840, quando, como na França, o impacto das ferrovias mostrou ser decisivo [128]. A essa altura, o feudalismo no interior e a servidão, sua manifestação mais espetacular, esboroavam por toda parte. Alguns vestígios persistiram até o século XX adentro, mas no final da década de 1860 a imensa maioria do campesinato europeu estava livre [107]. Então o caminho estava aberto, afirma Jerome Blum, o historiador dessa emancipação, para que uma sociedade de classes moderna substituísse a velha sociedade das ordens. Contudo, parece incerto que isso tenha real­ mente acontecido muito antes de 1914; e a evidência que faz com que ele seja tão cauteloso convenceu pelo menos um outro historiador de que o Antigo Regime permanecia vivo, ainda que não perfeitamente saudável, em anos avan­ çados do século XX. A industrialização, a urbanização e a ascensão de uma burguçsia capitalista favorável a um

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governo representativo certamente tiveram progresso espe­ tacular no decorrer do século XIX. Porém, Arno J. Mayer afirma [122] que, até 1914, a agricultura ainda era o ele­ mento predominante na economia européia, que a maior parte dos europeus continuava sendo de habitantes rurais e que, em sua maioria, os países ainda eram governados por monarcas e aristocracias cujo poder tinha suas raízes na terra e nas obrigações. Nesse sentido o Antigo Regime persistiu, e seus representantes estavam decididos a não desistir de seu poder em favor ^e novas forças. A militariza­ ção da Europa na geração anterior a 1914 refletiu essa determinação e, naquele ano, as ordens dirigentes de todos os lados encaravam a guerra como um modo de salvar e fortalecer sua autoridade ameaçada. Cometeram um erro de avaliação. O ano de 1914 assistiu ao início da “ guerra dos trinta anos do século XX* * e foi esse conflito que, afi- nãb destruiu o Àntigo Regime.

O que quer que pense dessa estimulante afirmação [132], a maioria dos historiadores de hoje certamente con­ cordará que o Antigo Regime não terminou subitamente, mas que foi se exaurindo no correr de diversas gerações. Isso teria entristecido os homens de 1789, cuja intenção era estraçalhá-lo com alguns golpes rápidos. E certamente fica­ riam consternados em pensar que, duzentos anos depois que eles o condenaram à morte, sua derradeira agonia esta­ ria ainda na memória dos vivos.

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Bibliografia comentada

Esta bibliografia não tem a menor pretensão de ser abran­ gente. Simplesmente relaciona todas as obras citadas no texto, ao lado de outras não diretamente citadas, mas também de impor­ tância fundamental para o estudo do Antigo Regime. As bibliogra­ fias e notas de rodapé das obras abaixo relacionadas são ricas de citações para a orientação de leitores interessados em ir mais fundo nesse estudo.

Sempre que existam, são mencionadas as edições inglesas de obras francesas.

Os historiadores e o Antigo Regime

[1] R. Herr, T o cq u eville a n d th e O ld R e g im e (1962). Fundamen­ tal para a compreensão da abordagem do maior historiador do Antigo Regime.

[2] H. Brogan, T o c q u e v ille (1973). Uma útil introdução.

[3] F. Furet, In terp re tin g th e F rench R e v o lu tio n (1981). Contém um ensaio importante sobre Tocqueville, bem como uma famosa polêmica contra as interpretações marxistas sobre o fim do Antigo Regime.

[4] A. Cobban, “ Hippolyte Taine, historian of the French Revo­ lution” , H is to r y , LIII (1968).

[5] ___ , H is to ria n s a n d th e cau ses o f th e F rench R e v o lu tio n (1946). Reproduzido em A s p e c ts o f th e F rench R e v o lu tio n (1968).

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to r y , VIII, The A m e r ic a n a n d F rench R e v o lu tio n s 1763-93 (1965).

[7] A. Gérard, L a R é v o lu tio n F ran çaise: m y th e s e t in te r p r é ta ­ tio n s, 1789-1970 (1970).

[8] C. Mazauric, S u r la R é v o lu tio n F ran çaise (1970). Polêmica marxista em resposta à crítica revisionista.

[9] F. Mignet, H is to ir e d e la R é v o lu tio n F ran çaise (1824). Começa com o Antigo Regime do ponto de vista liberal revo­ lucionário.

[10]F. X. J. Droz, H is to ir e d u règ n e d e L o u is X V I p e n d a n t les a n n ées o ù T on p o u v a it p r é v e n ir ou d irig e r la R é v o lu tio n F ran çaise (1839-42), 3 v.

£11] S. Mellon, T he p o litic a l u ses o f h isto ry : a s tu d y o f h isto ria n s o f th e F rench R e s to ra tio n (Nova York, 1958). Coloca [9] dentro do c o n te x to .

[12] P. Farmer, F ran ce re v ie w s its r e v o lu tio n a ry origin s. S o c ia l p o litic s a n d h isto ric a l o p in io n in th e T h ird R e p u b lic (1944). [13] J. H. M. Salmon, “ Venality of office and popular sedition

in seventeenth century France: a review of a controversy” , P a s t a n d P r e s e n t, 37 (1967).

[14] A. Arriaza, “ Mousnier, Barber and the ‘society of orders’ ” , P a s t a n d P re se n t, 89 (1980).

[15] R. C. Mettam, “ Two-dimensional history: Mousnier and the Ancien Régime” , H is to r y , LXVI (1981).

[16] J. M. Roberts, T he m y th o lo g y o f th e se c re t s o c ie tie s (1972). Examina algumas teorias conspiratórias do final do Antigo Regime.

[17] ___ , “ The French origins of the ‘right’ ” , T ra n sa ctio n s o f the r o y a l h isto rica l s o c ie ty , 5. série, 23 (1973).

O Antigo Regime na França

Obras gerais

[ 18] A. de Tocqueville, The A n cie n R é g im e a n d th e F rench R e v o ­ lution (1875, e muitas edições desde então). O sempre frutí­ fero ponto de partida de todos os estudos.

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[ 19] H. Taine, L e s origines d e la F rance co n tem p o ra in e. L ‘A n cien R é g im e (1876; trad. inglesa, 1896). Básico para compreender muitas obras do início do século XX.

[20] J. Jaurès, H is to ir e s o c ia lis te d e la R é v o lu tio n F ran çaise. L a C o n s titu a n te (1903; nova ed., 1939). A obra fundamen­ tal da interpretação de esquerda do Antigo Regime e da Re­ volução.

[21] A. J. M. P. Barnave, I n tro d u ctio n à la R é v o lu tio n F rançaise, F. Rude (org.) (I960). Redescoberta pelos historiadores mar­ xistas um século depois de sua publicação inicial, em 1843. Antes uma curiosidade histórica do que uma análise aceitável. [22] A. Cherest, L a c h u te d e l ’A n c ie n R é g im e (1 7 87-1789)

(1884-6), 3 v.

[23] F. Funck-Brentano, T he O ld R e g im e in F ran ce (1926; trad. ingl., 1929). A menos abrasiva das interpretações de direita. [24] P. Gaxotte, T h e F rench R é v o lu tio n (1928; trad. ingl., 1932).

A mais popular das interpretações de direita; não de um aca­ dêmico.

[25] M. Marion, D ic tio n n a ire d e s in s titu tio n s d e la F ran ce a u x X V I I e e t X V I I I e siècles (1923; reed., 1968). Obra de referên­ cia fundamental, ainda que muito tendenciosa.

[26] P. Sagnac, L a f o r m a tio n d e la s o c ié té fra n ç a is e m o d e r n e (1945-6), 2 v.

[27] H. Méthiver, L ’A n c ie n R é g im e (1961). [28] ____, L e s iè c le d e L o u is X I I I (1964). [29] ___ , L e s iè c le d e L o u is X I V (1950). [30] ___ , L e siècle d e L o u is X V (1965).

[31] ___ , L a f i n d e l ’A n c ie n R é g im e (1970). Livros extrema­ mente esquemáticos. Tendência de direita. Recentemente (1983) reeditados num só volume.

[32] R. Mousnier, The in s titu tio n s o f F ran ce u n d er th e a b s o lu te m o n a rch y 1598-1789 (1974 e 1980; trad. ingl., 1980 e 1983), 2 v. Enorme, desconjuntado, muito decepcionante concei- tualmente, mas rico de informações.

[33] A. Soboul, L a F ran ce à la veille d e la R é v o lu tio n . É c o n o ­ m ie e t s o c ié té (1961). A mais recente interpretação de es­ querda.

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Ponto de partida do moderno debate sobre a Revolução e suas origens.

[35] ___ , T he s o c ia l in te r p r e ta tio n o f th e F ren ch R e v o lu tio n (1964). A mais importante investida de meados do século contra as interpretações predominantes da Revolução e de suas origens.

[36] C. B. A. Behrens, T h e A n c ie n R é g im e (1967). Desproposi­ tado, mas estimulante e

bem-ilustrado.---[37] R. Mandrou, I n tr o d u c tio n à la F ran ce m o d e r n e (1500-1640). E ssa i d e p s y c h o lo g ie h is to r iq u e (1961). Na época, uma abor­ dagem pioneira.

[38] ___ , L a F ra n ce a u x X V I I e e t X V I I I e siè c les (1967). Suma­ ria a obra de toda uma geração, nem sempre com muita coe­ rência.

[39] D. Richet, L a F rance m o d ern e: l ’esp rit d es in stitu tio n s (1973). Ensaio sério.

[40] P. Goubert, L ’A n cie n R é g im e I: L a s o c ié té (1962; trad, ingl., 1973). L ’A n cie n R é g im e II: L e s p o u v o ir s (1973). Sem som­ bra de dúvida, o melhor estudo moderno. Refinado, huma- nístico, bem-informado.

[41] P. Goubert e D. Roche, L e s fr a n ç a is e t l ’A n c ie n R é g im e (1984), 2 vs. Revisão ilustrada e prodigamente produzida de [40].

[42] G. Cabourdin e J. Viard, L e x iq u e h is to r iq u e d e la F rance d ’A n cie n R é g im e (1978). Obra de referência útil. Mais atua­ lizada do que [25],

[43] W. Doyle, O rigin s o f th e French R e v o lu tio n (1980). Contém uma introdução bibliográfica.

[44] W. G. Runciman, “ Unnecessary revolution: the case of France” , J o u rn a l o f E u ropean S o c io lo g y , XXIV (1983). Aspectos politicos

[45] M. Antoine, L e co n seil du R o i so u s le règn e d e L o u is X V (1970).

(37)

[46] R. Bonney, P o litic a l ch an ge in F ran ce u n d er R ich elieu a n d M a z a rin 1624-1661 (1978).

[47] J. F. Bosher, “C h a m b res d e ju s tic e in the French monarchy” , i n ____ , (org.), F ren ch g o v e r n m e n t a n d s o c ie ty 1500-1850. E s s a y s in m e m o r y o f A l f r e d C o b b a n (1973).

[48] ____ , F ren ch F inances 1770-1795. F ro m bu sin ess to b u rea u ­ c ra cy (1970).

[49] A. Cobban, “ The p a r le m e n ts of France in the eighteenth century” . Reproduzido in A s p e c ts o f th e F rench R e v o lu tio n (1968).

[50] W. Doyle, “ The parlements of France and the breakdown of the old regime, 1770-1788” , F rench H is to r ic a l S tu d ie s (1970). Interpretação contrária a [49].

[51] J. Egret, L o u is X V e t l ’o p p o s itio n p a r la m e n ta ir e 1715-1774 (1970).

[52] J. Flammermont, L e ch a n celier M a u p e o u e t les p a r le m e n ts (1883).

[53] P. Gaxotte, L o u is X V a n d h is tim e s (1934; trad, ingl., 1934). [54] E. Glasson, L e p a r le m e n t d e P a ris. S on rô le p o litiq u e d e p u is

le règ n e d e C h arles V I I j u s q u ’à la R é v o lu tio n (1901). 2 vs. [55] A. N. Hamscher, T he p a r le m e n t o f P a r is a fte r th e F ro n d e

(1976).

[56] J. M. Hayden, F rance a n d th e E sta te s G en eral o f 1614 (1974). ]57] L. Laugier, Un m in istère r e fo r m a te m s o u s L o u is X V . L e

triu n v ira t (1975). Forte tendência de direita.

[58] P. S. Lewis, “ The failure of the French medieval estates” , P a s t a n d P re se n t, 23 (1962).

[59] J. Russell Major, R e p re se n ta tiv e g o v e rn m e n t in ea rly m o d ern F ran ce (1980).

[60] R. Mousnier, L a v é n a lité d e s o ffic e s s o u s H en ri I V e t L o u is X I I I (2. ed., 1971). A mais importante obra de Mousnier. Sobreviverá às demais.

[61] ___ , L e co n seil d u r o i d e L o u is X I I à la R é v o lu tio n (1970). Ensaios reunidos.

[62] ___ , L a p lu m e , la f a u c ile e t le m a rtea u (1970). Ensaios reunidos.

Referências

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