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Uma discussão sobre a filogênese Kant-Goethe-Schopenhauer na constituição do conceito forma-paisagem e o seu impacto na geografia humboldtiana

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Academic year: 2021

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NÚMERO: 168/2012 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

Josevan Dutra dos Santos

Uma discussão sobre a Filogênese

Kant-Goethe-Schopenhauer na constituição do conceito forma-paisagem e

o seu impacto na geografia humboldtiana

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências da UNICAMP para obtenção do título de Mestre em Geografia na área de Analise Ambiental e Dinâmica Territorial.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO

JOSEVAN DUTRA DOS SANTOS E ORIENTADO PELO PROF. DR. ANTONIO CARLOS VITTE.

_____________________________ Orientadora

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DEDICATÓRIA

A força inexplicável que rege o universo.

Aos meus pais, “in memoriam”, José Viana Dutra e Noêmia Dutra dos Santos.

Especialmente ao meu filho, José Viana Dutra Neto. Esse é o meu melhor presente, concedido generosamente à minha vida, representa a mais pura e verdadeira expressão de amor dirigido à minha pessoa.

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AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos aos docentes do Departamento de Geografia da UNICAMP-CAMPINAS-SP, bem como a sua equipe de funcionários da secretaria do curso, especialmente Valdirene Pinotti e Maria Gorete.

Sou muito grato ao meu orientador, o Professor Dr. Antônio Carlos Vitte, pela fecunda maneira de pensar proporcionada por seus trabalhos científicos, pelos encontros formais e informais. Tive nele mais do que um orientador compreensivo e dedicado, um guia cuidadoso, sutil e paciente, ao longo desses dois anos.

Devo um especial agradecimento aos Professores que compuseram a banca de qualificação: Profa. Dra. Lúcia Ricotta e o Prof. Dr. Paulo Godoy. A leitura cuidadosa e crítica que realizaram despertou em mim reflexões valiosas.

Agradeço a todos os colegas do MINTER (UESC/UNICAMP), pela atenção, carinho e momentos inesquecíveis. Especialmente a Liliane Goes, Greiziene Araújo, Evaldo Borges e a Profa. Ednice Fontes.

Meus agradecimentos também se estendem a minha ex-companheira Patrícia Fernandes e aos amigos, Alcimar Matos, Adelino Matos (Nem), José Lúcio Muniz, José Ferreira e Joselito Silva; dessas pessoas obtive incentivo, afinidades e ajuda fraterna.

Por fim, quero externar minha especial e imensa gratidão aos meus irmãos Juvan Dutra, Jean Dutra, Alex Sandro Dutra e Juliana Dutra que, ofereceram-me, ao longo desses anos, apoio concreto e um forte sentimento de dedicação à minha pessoa.

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“O homem só é levado ao desejo de conhecer se fenômenos notáveis lhe chamam a atenção. Para que esta perdure, é preciso haver um interesse mais profundo, que nos aproxime cada vez mais dos objetos. Observamos então uma grande diversidade diante de nós. Somos obrigados a separá-la, distingui-la e recompô-la, daí resultando uma ordenação que pode ser apreciada com maior ou menor satisfação”.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

Uma discussão sobre a Filogênese Kant-Goethe-Schopenhauer na constituição do conceito forma-paisagem e o seu impacto na geografia humboldtiana

JOSEVAN DUTRA DOS SANTOS RESUMO

A proposta de investigação deste trabalho envolve uma temática que possui embasamento teórico envolvendo discursos histórico-filosóficos e naturalistas atribuídos ao longo do tempo às transfomações do termo forma. Para tanto, buscamos organizar um texto em que os argumentos se manifestam e se entrelacem a partir de alguns discursos filosóficos encontrados na Grécia antiga. Na sequência, pontuamos algumas considerações a respeito da relação entre o homem e a natureza advindas de alguns pensadores alemães, preferencialmente: Immanuel Kant, J. Goethe, Arthur Schopenhauer e Alexander Von Humboldt. Optamos por esta composição por acreditarmos que o termo representação concorre num primeiro momento à estruturação do conceito de forma manifestado na natureza, sendo que, posteriormente tais conceitos servirão como elementos base à composição e desenvolvimento da geografia em nível de ciência. Desta forma, obteve-se como principal resultado da investigação, um acréscimo teórico na pesquisa, culminando na constatação positiva em relação a hipótese contida no projeto; ou seja, haveria uma filogênse Kant-Goethe-Schopenhauer na geografia humboldtiana? De acordo com os dados levantados e analisados acredita-se que sim.

Palavras-chave: histórico-filosóficos, naturalistas, pensadores alemães, forma e geografia

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UNIVERSITY OF CAMPINAS INSTITUTE OF GEOSCIENCE

A discussion about Phylogeny Kant-Schopenhauer-Goethe in constitution cenceito form of landscape-and its Impact on the geography humboldtian.

JOSEVAN DUTRA DOS SANTOS

ABSTRACT

The proposed work involves an investigation of this issue that hastheoretical basis involving discourse-historical and philosophicalnaturalists assigned over time to the end transfomações way. To this end, we organize a text in which the arguments are intertwinedand manifest from some philosophical discourses found in ancient Greece. Further, we point to some considerations about the relationship between man and nature arising out of some German thinkers, preferably: Immanuel Kant, J. Goethe, Schopenhauer and Alexander Von Humboldt. We chose this composition because we believe that the term representation competes at first the structure of the concept of form manifested in nature, and later these concepts will serve as basic elements to the composition of the geography and development level of science. Thus, we obtained the main result of the investigation, an increase in theoretical research,culminating in the positive statement about the hypothesiscontained in the project, ie, there would be a filogênse Kant,Goethe, Schopenhauer Humboldtian geography? According to thedata collected and analyzed it is believed that yes.

Keywords: historical-philosophical, naturalists, landscapes of nature, form and geography

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...01

Primeiro capítulo Estruturação do termo forma-paisagem ...07

1 - 1 A forma-paisagem como problema na geografia ...07

1 - 2 Concepção aristotélica sobre a forma-paisagem ...16

1 – 3 A forma-paisagem sob a ótica cartesiana ...18

Segundo capítulo Conceito de Forma em Kant, Goethe e Schopenhauer ...23

2 -1 Formas Representativas em Kant ...23

2 -2 Formas Representativas em Goethe ...30

2 -3 Formas Representativas em Schopenhauer ...33

Terceiro capítulo As contribuições de Alexander von Humboldt à Geografia Moderna ...37

Quarto capítulo Uma filogêneses entre Kant, Goethe, Schopenhauer e Alexandre Humbold na criação da Geografia como ciência ...45

Considerações finais ...57

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INTRODUÇÃO

A proposta de trabalho desta dissertação, volta-se ao entendimento a respeito da transformação do termo forma-paisagem e a sua inserção no universo da geografia moderna. Para tanto, buscou-se pesquisar desde argumentos de cunho histórico-filosófico-naturalista, preferencialmente Aristóteles na Grécia antiga, aliado às idéias de pensadores da idade moderna, tais como: Bacon, Descartes, Kant, Goethe, Schopenhauer e Humboldt. Com isso, pretende-se analisar, aprofundar e discutir minuciosamente a questão envolvendo o termo forma-paisagem, evitando desta forma uma simples demonstração cronológica. Essa empreitada sugere, inevitavelmente, uma prática multi-disciplinar que envolve o estudo das concepções, partidas de diversas áreas do conhecimento científico. Daí a necessidade em recorrer aos antigos filósofos (naturalistas) gregos e realizar uma conexão do pensamento dos mesmos com o pensamento da idade moderna de Bacon (empirismo) e Descartes (racionalismo). Somado a isso, visando contribuir ao debate, opta-se por um recorte pautado preferencialmente a partir das reflexões genéricas sobre natureza de Kant; aliado ao conceito morfológico definido por Goethe, além da distinção de Schopenhauer entre fenômenos e coisa-em-si, a partir da filosofia kantiana. Remete-se todo este processo argumentativo a uma consideração que diz respeito à influência dos mesmos na composição da geografia concebida por Alexander von Humboldt. Para tanto, foi esquematizado um texto dividido em quatro capítulos, aliados a esta introdução e às considerações finais.

No primeiro capítulo, foram elaborados alguns parágrafos visando definir genericamente o conceito de forma-paisagem. Com isso, procura-se discutir as características contextualizadas histórico-filosófico-naturalista sobre as modificações do termo forma-paisagem, ainda em sua fase embrionária na antiga Grécia. Este período, século VI ac, é considerado pela filosofia clássica como naturalista, por conta das especulações dos filósofos desta época estarem voltadas para o mundo exterior, em

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busca da substância que significasse a origem de todas as coisas. No universo de grandes nomes da filosofia desta época, o fato de trabalhar as teorias advindas de Aristóteles, pode ser justificado por conta das considerações do mesmo responder melhor às análises sobre forma-paisagem, e os anseios do trabalho momentaneamente. Pois, no pensamento aristotélico a forma ganha significado de objeto da filosofia e, é classificada como essência de todas as coisas pertencentes à realidade. Além disso, Aristóteles atribui à experiência a originalidade dos conceitos e juízos. Talvez por essa característica experimental, as teorias aristotélicas vieram a ser resgatadas e utilizadas nas convicções filosóficas dos empiristas e racionalistas, no início da idade moderna.

Ainda no primeiro capítulo, realiza-se uma ligação entre Aristóles e determinados pensadores da idade moderna. Inicialmente, apresenta-se a busca teórica de alguns pensadores empiristas e racionalistas, a exemplo de Bacon e Descartes (baseados em conceitos aristotélicos), para separar forma e matéria e sobrepor o homem em relação à natureza. Este problema, envolvendo homem e natureza, trabalhado por Descartes consiste em um tema filosófico, do qual extraímos informações, principalmente dos seus escritos nas Meditações e no seu Discurso do Método. Logo se constatará que este período significa, historicamente, a consolidação da geografia como ciência. Ressalta-se que a estruturação teórica da geografia deste período está diretamente vinculada às contribuições advindas da filosofia da natureza defendida por Kant e os românticos alemães da época, a exemplo de Goethe. É necessário ressaltar que preferencialmente optou-se neste trabalho pelas teorias kantiana sobre a natureza a partir de seus escritos na Terceira Crítica do Juízo; onde, ele busca adequar a natureza à razão humana, mediante a liberdade e os princípios racionais determinados naturalmente. Isso porque, anteriormente a esta obra, Kant comungava com as noções newtonianas no que diz respeito ao espaço e tempo absolutos e da teoria sobre a imutabilidade da natureza. Ou seja, Kant reavalia as suas teorias a respeito da natureza, e, por conseqüência desfaz das teorias mecanicistas de Newton.

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O segundo capítulo aprofunda as considerações de Kant, Goethe e Schopenhauer sobre o conceito de forma-paisagem. De início, utiliza-se a primeira parte do texto, Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant (1983). Onde Kant apresenta o problema da Estética Transcendental, definindo esta como “uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori” (KANT,1996, P. 40). Acrescentando que “o espaço e o tempo são formas puras da intuição sensível”. (KANT,1996, P. 40). Para chega a essa definição Kant trabalha diretamente com as formulações tríades, compostas pelos termos: sensibilidade, sensação e representação. Onde, a sensibilidade pode surgir a partir da nossa capacidade em obter representações mediante o modo como somos afetados por objetos. Enquanto a noção da sensação seria o efeito de um objeto sobre a capacidade de representação, na medida em que somos afetados pelo mesmo. Por fim, a representação seria tudo aquilo que não fosse encontrado pertencente às sensações. Segundo (LEITE, 1998, p. 01), o método proposto por Kant pode ser compreendido a partir das etapas seguintes: a) isolar a sensibilidade com o intento de buscar a intuição empírica; b) separar na intuição empírica tudo que pertence à sensação com o propósito de encontrar a intuição pura, pois esta é o único elemento que a sensibilidade pode fornecer a priori; c) encontrar as formas puras da intuição sensível são elas: o espaço e o tempo. Esse método kantiano corresponde à efetivação do objetivo da “Estética Transcendental”, no que diz respeito à afirmativa de Kant de que a mesma é exatamente o conhecimento dos princípios da sensibilidade a priori. Ainda em sua Critica da Razão Pura, Kant trabalha a questão da verdadeira forma representada através da natureza “a partir de fundamentos a priori e válidos antes de toda a experiência”. (KANT, 1996, p.113). Em verdade, o problema trabalhado por Kant em sua Estética Transcendental diz respeito ao primeiro passo para desvendar a questão relativa ao conhecimento como possibilidade e quais são os seus limites.

Um outro ponto trabalhado ainda no segundo capítulo diz respeito às contribuições de Goethe em relação à questão da forma. Abordamos a morfologia goethiana apresentada através de suas observações, descrições e representações cartográficas fundamentais para se captar a dinâmica e a historicidade do termo forma-paisagem. Neste patamar admitida e transformada conceitualmente em morfologia.

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Para Goethe, “a forma não é um mero produto da relação causa-efeito, mas representaria a possibilidade filosófica e epistemológica de construção do princípio transcendental de ciência e natureza, saindo assim de esquematismos formais ligados ao mecanicismo”.(VITTE, 2007, p. 114). Esta metodologia de investigação de Goethe, expressa em sua Viagem à Itália (1999), onde o mesmo conseguiu organizar o seu conceito de geomorfologia, admitindo-o como sendo a ciência-síntese e integradora do cosmos, conseguiu influenciar Alexander von Humboldt em suas viagens à América. As manifestações fenomênicas da natureza e da arte seduzem Goethe, esse busca compreender como se operam tais fenômenos a partir das observações da natureza, despertando no mesmo a questão do “pensar sobre o pensar”. O ponto de referência adotado por Goethe na captação do pensar envolve uma atitude em que o pensamento é lançado ao infinito e, logo em seguida, retorna ao ponto observatório de um fenômeno natural. A partir desse contato, observador e objeto, Goethe admite um duplo infinito em intenso desenvolvimento.

Fecha-se o segundo capítulo com as considerações advindas de Schopenhauer, sobre representação (forma). O filósofo realiza uma distinção entre fenômeno e coisa-em-si, no âmbito do pensamento kantiano. O pensamento schopenhauriano trabalha a questão do mundo de uma forma que, a faculdade do conhecimento tem certos limites que não nos permitem conhecer o mundo como ele é em si mesmo. Segundo Schopenhauer, isso ocorre “porque só conhecemos por meio das formas a priori do espaço e do tempo, e sob a categoria da causalidade, que não podemos apreender nada que não esteja inscrito nestas formas, que não seja objeto da experiência”. (SCHOPENHAUER,1980, p. 08). Ou seja, do mundo conhecemos apenas seu fenômeno ou, a sua representação. De acordo com a filosofia schopenhauriana, se as representações têm sua fonte no entendimento, elas são intuitivas; se, de outro modo, elas são extraídas de outras representações por meio da faculdade da razão, elas são abstratas, caracterizadas como conceitos. Diz ainda Schopenhauer, “das primeiras segue-se uma tríplice divisão que, juntamente com as representações abstratas, forma um total de quatro classes de representações”. (SCHOPENHAUER, 1980, p.09). Para cada classe existem certas normas determináveis a priori que o pensador reuniu sob a

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rubrica de “princípio de razão suficiente”. Ao analisar as concepções schopenhaurianas, sobre as representações do mundo, observamos que, por este prisma, o mundo e seus objetos são produzidos por nossas representações e, que, independentemente de nossas atividades e fazeres, nunca trabalhamos com o mundo verdadeiramente empírico, mas com uma abstração do empírico em que, a partir de nossa cultura adquirida e de nossas experiências, construímos o sentido de mundo e sua espacialidade, que pode ser representada por um conjunto homogêneo de formas-paisagem.

O terceiro capítulo deste trabalho, diz respeito a contribuição de Alexander von Humboldt na estruturação da geografia. No preâmbulo da mesma, como ciência. Humboldt era considerado um intelectual e naturalista alemão. Aventureiro, realizou ao lado do seu amigo Aimé Bompland, uma viagem entre 1799 a 1804 pela Amazônia e os Andes, percorrendo seis Países. Desta viagem levou para Europa aproximadamente 60 mil espécimes de plantas e animais. A criação intelectual de Humboldt, na seara da geografia, encontra-se estruturada dentro de um contexto originário concomitantemente entre os ideais positivista e romântico em relação à natureza. O próprio Humboldt chegou a considerar os seus trabalhos como sendo uma filosofia da natureza. De acordo com Helferich (2004), “se havia uma visão holística da natureza por parte dos românticos, Humboldt buscou conciliá-la em seus trabalhos através de demonstrações empíricas”. Esta era uma concepção idealista que pregava a harmonia universal da natureza concebida como um todo único, composto de partes intimamente relacionadas, num todo harmonioso movido por forças internas. Anotações extraídas do seu trabalho, Quadros da Natureza (1965), Humboldt chegou a sinalizar que, “tanto na história quanto na descrição da natureza os dados e fatos permanecem isolados, sendo necessários muitos esforços para reuni-los em grupos, constituindo um todo capaz de fornecer um real conhecimento sobre os aspectos naturais e o passado”. (HUMBOLDT, 1965, p. 294) O pensamento humboldtiano envolve um conjunto de princípios artísticos, científicos e culturais capazes de abrigar e produzir inúmeras possibilidades de conhecimentos em relação ao estudo de geografia. Através de Humboldt a natureza se apresenta como sujeito do mundo e não o seu objeto.

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O quarto capítulo traz uma discussão envolvendo Kant, Goethe, Schopenhauer e Humbolt. Onde, busca-se explicitar a hipótese deste trabalho, que consiste na seguinte indagação: há filogênese Kant-Goethe-Schopenhauer sobre forma-paisagem e o seu impacto na geografia humboldtiana?.

O intuito desta pesquisa está voltado a mostrar que possivelmente existe uma explícita complementaridade, baseando-se nos textos dos pensadores alemães, onde se busca identificar em determinados momentos alguma identificação, em outros a distância, presentes nos discursos destes pensadores sobre a questão envolvendo o termo forma-paisagem. Mais especificamente as particularidades manifestadas a partir do sensível e do material. Aproxima-se essas identificações filosóficas naturalistas, relacionadas ao mundo, partindo de um contexto moral voltado ao homem, estendendo-o aestendendo-o prestendendo-opósitestendendo-o fenestendendo-omênicestendendo-o da natureza. Para tantestendendo-o, estendendo-os parágrafestendendo-os festendendo-oram estendendo-organizadestendendo-os de forma cadenciada em argumentos que constantemente estão comparados a outras passagens existentes nos capítulos que o antecede. Desta forma, tudo leva a acreditar que o quarto capítulo está organizado concatenadamente com nível de idéias dos pensadores. Daí a preocupação em utilizar a fala dos mesmos através de várias citações extraídas de suas obras. Com isso, ao finalizar desta maneira o texto, espera-se estar obtendo êxito no que diz respeito à esta investigação pautada no tema de natureza geográfica onde, a variedade intelectual envolvendo grandes pensadores contribui, certamente, para uma maior responsabilidade dos autores da pesquisa, em termos de critérios científicos a serem utilizados na composição do nosso trabalho.

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Primeiro Capítulo

Estruturação do Termo Forma-Paisagem

1 – 1 A forma-paisagem como problema na geografia

Ao se buscar na geografia correspondências significativas entre o pensamento científico e o senso-comum, acaba-se por testemunhar uma ampla realidade cultural, apresentando inúmeros vínculos de fácil ocorrência, envolvendo o universo da ciência e da arte, contribuindo a partir de uma viabilidade epistemológica à teoria de que a ciência não é uma coleção de leis sobre uma realidade alcançável na sua totalidade. Desta forma, mesmo que as raízes da geografia, como um campo de estudo, remontem à antiguidade clássica, o interesse maior deste trabalho científico está voltado aos trabalhos da segunda metade do século XVIII. Isso pode ser justificado por conta do fato destes estudiosos serem herdeiros diretos da geografia da antiguidade clássica e do renascimento. Os geógrafos do século XVIII, levavam em consideração todas as manifestações fenomênicas que a eles se apresentavam. Em nível de conteúdo, a geografia estava dividida em três categorias: a geografia matemática, geografia física e geografia histórica ou política. Porém, continuavam com a demanda de que a geografia deveria considerar o seu objeto, o mundo, em termo das divisões da natureza.

A geografia deste período inclui estudos generalizados de tipos particulares sobre os fenômenos da superfície terrestre e descrições de vários tipos de fenômenos encontrados em áreas particulares. A inclusão destas duas formas de estudo dentro do único campo foi controvérsia em nível de problema na metodologia da geografia. A

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mesma diferença já era encontrada nos trabalhos de geógrafos da antiguidade. A tendência dessas duas direções para entrar em conflito uns com os outros e para o intercâmbio de posições dentro da geografia em tempos diferentes é uma evidência e não representam ciências diferentes ou direções distintas, mas apenas no âmbito da mesma ciência.

Entretanto, a maioria dos conceitos fundamentais da geografia, incluindo quase todos os que esta pesquisa terá de examinar sobre o assunto, podem ser encontrados nos escritos dos geógrafos alemães anteriores e contemporâneos de Alexander von Humboldt, pois um dos objetivos desta investigação científica concorre em descobrir se a geografia moderna possui suas origens imediatas a partir de uma filogênese envolvendo Kant-Goethe-Schopenhauer, ganhando respaldo nos trabalhos de Alexander Von Humboldt. Considerando que esse obteve ao longo do tempo reconhecimento científico, como um dos principais sistematizadores do conhecimento geográfico de seus contemporâneos e ainda hoje é apontado como o principal naturalista da primeira metade do século XIX. Além disso, Humboldt contribui necessariamente para a inclusão da forma-paisagem em nível de objeto de estudo da geografia moderna.

A questão da forma representativa e da paisagem possuem conceitos distintos no universo da geografia, a definição do termo de forma representativa encontra registros desde a antiguidade grega, somado às teorias geométrica euclidiana, manifestada a partir de discussões provenientes a partir dos conhecimentos sensível ou intelectual. Faz-se pertinente as considerações de Vitte (2011):

A perspectiva geométrica deu suporte ao princípio da construção das paisagens, construção essa que determina e delimita as fronteiras ou a localização dos elementos geográficos em mapas e que auxiliou as representações pictóricas, ambas interligadas na geografia. Essa mesma perspectiva vem garantir a certeza da reprodução do mundo real, seja pelo artista ou pelo geógrafo. (VITTE, 2011, p. 77)

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Enquanto que a definição para o termo paisagem encontra seus primórdios na Alemanha do século XIX. Para Bouyer (2008):

Agora, na virada do século XVIII para o século XIX, a ordem, o quadro no qual se espacializa a representação, as vizinhanças por ela estipuladas e as sucessões em sua superfície perderam o poder de ligar os elementos de uma representação. Logo, a representação dissolveu-se. (BOUYER, 2008, p. 33)

Uma informação que procede pode ser encontrada nos escritos de Schier (2003):

o conceito de paisagem foi originalmente ligado ao positivismo, na escola alemã, numa forma mais estática, onde se focalizam os fatores geográficos agrupados em unidades espaciais e, numa forma mais dinâmica, na geografia francesa, onde o caráter processual é mais importante. Ambas tratam a paisagem como uma face material do mundo, onde se imprimam as atividades humanas. A abordagem neopositivista direcionou para o termo região tentando dar enfoque ao processo de abstração da realidade física, conforme a sua metodologia quantitativa. (SCHIER, 2003, p. 80)

Vale lembrar que, o conceito ou noção de representação, na filosofia, tem uma das suas críticas mais severas através de Richard Rorty (1931-2007), segundo esse filósofo, “a mente não espelha a natureza de forma homogênea”. A idéia de um mundo exterior previamente dado, passível de ser espelhado pela mente, seria um equívoco surgido a partir das aglomerações de imagens, concepções e usos lingüístico diferentes.

São mais as imagens do que as proposições, mais as metáforas do que as afirmações, que determinam a maior parte das nossas convicções filosóficas. A imagem que retém cativa a filosofia tradicional é a da mente como um grande espelho, que contém várias representações – umas precisas, outras não – e que pode ser estudado por meio de métodos puros, não empíricos. (RORTY, 1979, p. 12)

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Somado a isso, Rorty (1979), busca mostrar que “a idéia de um mundo ou ambiente com características pré-determinadas e independentes do agente, recuperadas por meio de representações, não se sustenta ontologicamente”. (RORTY, 1979, p. 178). Entre a mente e a natureza, há algo de heterogêneo, de denso, de espesso, conforme expressões de Michel Foucault em seu trabalho sobre o fim da era da representação nos últimos anos do século XVIII, 1966/2003, que não cabe no quadro da representação – algo que em diferentes correntes filosóficas vai exercer um papel de ruptura. O mesmo irá dizer que:

o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não mensurável, mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função; mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas. (Foucault, 1966/2003, p. 298-299)

A respeito desta questão, Bouyer (2008), acrescenta o seguinte comentário “Foucault demonstrou como o conceito de representação, em geral, não coube nos saberes da epistémê moderna desde o final do século XVIII, sobretudo com a emergência das ciências do homem (e do próprio homem)”. (BOUYER, 2008, p. 21-22)

No que se refere a forma-paisagem, a geografia contemporânea apresenta ainda múltiplas considerações. Por exemplo, na área da geomorfologia alguns autores a exemplo de Penteado (1974), define o termo separando-o e atribuindo ao mesmo processos diferentes: “as formas podem ser iniciais ou seqüenciais”. Com isso, as formas iniciais seriam um resultado dos soerguimentos originados da crosta por conta de forças internas e por erupções vulcânicas, enquanto as seqüenciais surgiriam através dos agentes de desnudação. Já o termo paisagem é o resultado da ação dessas forças, logo é uma etapa dentro de um contexto. Bertrand (1972), considera que:

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A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. (BERTRAND, 1972, p. 02).

Santos (1997), explica que a paisagem seria o conjunto de formas materiais que daria suporte às relações sociais e à atividade produtiva que dá vida à sociedade”. Segundo esse autor, a paisagem é suporte, mas, apesar disso, possui uma dinâmica.

Não há, na verdade, paisagem parada, inerme, e se usarmos este conceito é apenas como recurso analítico. A paisagem é materialidade, formada por objetos materiais e não-materiais. A vida é sinônimo de relações sociais, e estas não são possíveis sem a materialidade, a qual fixa relações sociais do passado. (SANTOS, 1997, p. 71-72).

Por conta dos estudos hora realizados em relação à estruturação histórico-filosófica do termo forma-paisagem, observa-se que o seu processo de desenvolvimento está diretamente ligado às diversas modalidades do conhecimento científico existente no século XVII, principalmente na Europa. Há vários estudos, sobre a época que demostram que artistas e cientistas passam a se valer dos mesmos recursos técnicos para implementarem uma cultura de natureza particular na qual as imagens desempenham um papel complementar. O cientista recorre às imagens produzidas pelos artistas para registrar tanto o que descobre quanto o uso de microscópios ou telescópios, enquanto os artistas fazem uso de sistemas de lentes e espelhos como auxiliares nos processos de composição, avançando em direção a um naturalismo cada vez mais aperfeiçoado. Este cenário cultural acabou por estimular a produção de pinturas com o auxílio de sistemas de lentes e espelhos e se constituía em uma novidade que possibilitava aos artistas entrarem no mundo novo dos fenômenos ópticos, explorando formas possíveis de registrá-los em suas telas. Segundo Alpers (1999):

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Foi um pressuposto particular do século XVII o de que o achar e o fazer, nossa descoberta do mundo e nossa capacidade de representá-lo são presumivelmente uma só coisa. Esse pressuposto era comum, como veremos no próximo capítulo, ao projeto de invenção de uma linguagem universal, às experiências de Bacon em história natural e à representação visual. (ALPERS,1999, p. 88)

O problema epistemológico enfrentado por artistas e cientistas nesta época se refere à verdade de uma representação que faz uso de lentes cujo funcionamento era pouco conhecido. Eles consideram os sentidos como receptores fidedignos do que a natureza lhes revela. A confiança nos instrumentos é uma novidade do século XVII. Para alcançá-la a analogia kepleriana da câmera escura com o olho foi determinante ao aplicar o conhecimento científico das lentes para explicar a visão humana.

Ao tratar as imagens que vemos como 17 (dezessete) pinturas do mundo projetadas sobre a tela retiniana, Kepler trouxe uma importante contribuição ao debate epistemológico entre verdade e aparência: o reconhecimento de que não se pode fugir da representação. De acordo com o pronunciamento de Alpers (1999):

(…) E esta é a relevância de Kepler, a quem voltamos agora. Pois ao definir o próprio olho humano como um produto mecânico de pinturas, e ao definir “ver” como “pintar”, ele fornece o modelo de que necessitamos para esse vínculo particular entre descobrir e fazer, entre natureza e arte, que caracteriza a pintura do Norte. (ALPERS, 1999, p. 95)

A geografia somente veio a se consolidar em nível de ciência em meados do século XIX na Alemanha., Para tanto, obteve-se a contribuição do Romantismo, Positivismo e algumas correntes idealista da época. Para alcançar o seu ponto de independência científica, foi necessário uma importante contribuição do contexto sócio-político da época, envolvendo influências advindas da história, filosofia e técnicas científicas que ocorriam naquele momento no mundo europeu. Segundo Godoy (2010):

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A história da geografia como ciência moderna não está, assim, contida em si mesma e, tampouco, em seus precursores que, em certo sentido, não hesitaram em estabelecer os contornos de um saber que lhe conferisse legitimidade e autoridade ante outros saberes. Para evitar uma simples retificação do que é geografia, cabe recomeçar com outros dados que não a tornem objetos de definições, mas uma questão de história. (GODOY, 2010, p. 149)

Sendo assim, pose se admitir que o termo forma-paisagem ao ser admitido como um objeto dentro do contexto geográfico, camufla uma grande quantidade de artefatos materiais, podendo ser confundidos, ou admitidos, em determinados momentos da análise científica, como clichês “transcendentais”; mas, certamente possíveis de serem admitidos pela razão. Pois, a forma-paisagem está composta por um conjunto procedente tanto do espaço invisível (forma), quanto do campo visível (paisagem). Em nível de ponderação faz-se oportuno neste instante recorrer-se às considerações de Serpa (2007), sobre este determinado assunto. O mesmo trabalha sobre a questão da completude, “visível e invisível” embutidas nos termos forma e paisagem. Mas, chama à atenção para o fato de serem processos diferentes dentro do contexto da análise geográfica.

(…) A paisagem resulta sempre de um processo de acumulação, mas é, ao mesmo tempo, contínua no espaço e no tempo, é una sem ser totalizante, é compósita, pois resulta sempre de uma mistura, um mosaico de tempos e objetos datados. A paisagem pressupõe também um conjunto de formas e funções em constante transformação, seus aspectos “visíveis”, mas, por outro lado, as formas e as funções indicam a estrutura espacial, que é, em princípio, “invisível” e resulta sempre do casamento da paisagem com a sociedade. (SERPA, 2007, p.15)

Acrescentando a esta discussão a respeito do processo de complementaridade do termo forma-paisagem, faz-se necessário voltar-se aos argumentos de Santos (1999), onde o mesmo discorre também sobre a questão da forma-paisagem:

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Nossa proposta atual de definição da geografia considera que a essa disciplina cabe estudar o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação que forma o espaço. Não se trata de sistemas de objetos e sistemas de ações tomados separadamente. (…). O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico. (SANTOS, 1999, p. 51)

Percebe-se que o mesmo se utiliza do processo de mudança da sociedade, como exemplo, para explicar a sua concepção a respeito da inter-relação do termo forma-paisagem no âmbito do espaço. Diante do exposto, a leitura realizada, observado por este prisma, o espaço e a paisagem são dotados de qualidades naturais, técnicas e sociais e, tais qualidades são concedidas pelo espaço. Ou seja, o espaço funciona como estrutura e processo relacionando o sistema de objetos a um sistema de valores ditados em última instância pelas relações sociais. Ou seja, para Santos (1999), no que diz respeito aos sistemas, tanto de ações, quanto de objetos se relacionam, de forma dialética e simultaneamente. “De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma”. (SANTOS, 1999, p. 52)

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1 – 2 Concepção Aristotélica sobre a Forma-Paisagem

A questão da forma em Aristóteles está diretamente ligada à filosofia da natureza, dentro do plano físico. Ele se vale de uma metodologia em que analisa vários tipos de movimentos, isso trará como conseqüências a sua teoria denominada passagem da potência ao ato, ou melhor, realização de uma possibilidade. Uma outra questão desta física aristotélica que é de maior interesse deste nosso trabalho, está voltada ao problema do espaço e do tempo. Esses são admitidos como realidades, em nível de relações substanciais na concepção aristotélica, “uma substância é aquilo que existe em si e por si, sem depender de outra coisa”. A filosofia da natureza abordada por Aristóteles traz também como princípio a questão da finalidade, baseada na doutrina da causa final, sendo esta anexada pelo filósofo à ordem da natureza.

A polêmica questão da verdadeira forma que representaria melhor a natureza, assim como, a relação desta com o homem e vice-versa, tem em Aristóteles um tratamento de envergadura metafísica. Este assunto será tratado adiante, no capítulo que fala sobre a questão da forma-paisagem na idade moderna, por meio de Descartes. Isso porque Descartes irá recorrer às concepções metafísicas de Aristóteles para sustentar o seu argumento mecanicista de um mundo dividido em partes e em busca de sobrepor o homem em relação à natureza.

A metafísica aristotélica engloba Deus, homem e mundo. Para tanto, Aristóteles irá trabalhar a sua metafísica baseada em quatro questões: potência e ato; matéria e forma; particular e universal; motor e coisa movida. Dentro destes quatro princípios aristotélicos, o que tem significado maior para essa abordagem sobre forma-paisagem, pode ser restringido ao segundo princípio, matéria e forma. Isso porque, em Aristóteles, a matéria corresponde a potência e a forma significa o ato no mundo material. Ou seja, a matéria carrega em si o princípio de indeterminação que é determinado pela forma. Portanto, na concepção aristotélica, a fusão da matéria e forma resulta um ser material. Em relação ao problema do mundo, Aristóteles atribui ao mesmo uma natureza orgânica dotada de alma vegetativa, sensitiva e racional, representada seqüencialmente

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pelas plantas, animais e homem, este teria em si as funções que caracterizam as duas que o precedem. Aristóteles Distingue este mundo orgânico em sua essência, de um mundo inorgânico, representado pelos minerais.

Aristóteles trata separadamente matéria e forma, porém, ao mesmo tempo, liga ambas por meio de um processo de desenvolvimento. Ele acreditava que a forma emanava da matéria. Nem poderia a matéria existir separadamente da forma. A matéria, de acordo com Aristóteles, contém a natureza essencial de todas as coisas, mas apenas como potencialidade. Por meio da forma, essa essência torna-se real, ou efetiva. Segundo Capra (1996):

Ao contrário de Platão, Aristóteles acreditava que a forma não tinha existência separada, mas era imanente à matéria. Nem poderia a matéria existir separadamente da forma. A matéria, de acordo com Aristóteles, contém a natureza essencial de todas as coisas, mas apenas como potencialidade. Por meio da forma, essa essência torna-se real, ou efetiva. O processo de auto-realização da essência nos fenômenos efetivos é chamado por Aristóteles de enteléquia ("autocompletude"). É um processo de desenvolvimento, um impulso em direção à auto-realização plena. Matéria e forma são os dois lados desse processo, apenas separáveis por meio da abstração. (CAPRA, 1996, p.33)

Com o surgimento da nova física moderna de Kepler, Copérnico e Galileu, o aristotelismo cai por terra, com a prova de que é a Terra que gira em torno do Sol e não o contrário. Apenas a causa eficiente vai permanecer na filosofia moderna e se tornar a lei da causalidade. Na causa eficiente deve haver tanta ou mais realidade que o efeito (conforme explicado por Descartes no início da 3ª meditação) e causa e o efeito devem ser da mesma natureza. E Descartes vai declarar viva apenas três substâncias: a extensa, o pensamento e a divina.

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1 – 3 A Forma-Paisagem sob a Ótica Cartesiana

Nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo medieval, baseada na filosofia aristotélica e na teologia cristã, mudou radicalmente. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante da era moderna. Essa mudança radical foi realizada pelas novas descobertas em física, astronomia e matemática, conhecidas como Revolução Científica e associadas aos nomes de Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton.

Ao contrário dos séculos que o antecedeu, o século XVIII possui como uma de suas principais características a forma de pensar o mundo a partir das tendências empiristas da época, na maioria das vezes associadas ao racionalismo. Tais idéias denominadas iluministas, ou luz da razão, buscava afastar-se dos dogmas teológicos, buscando explicações para os fenômenos da natureza através da capacidade racional do homem, a partir de uma realidade objetiva. Este modelo de ciência, mecanização do mundo e extensão das ciências da natureza baseadas na física e na matemática, perdura até os dias atuais, busca sistematizar o conhecimento e reduzi-lo ao máximo de forma específica. Sobre este modo de conceber a ciência, Capra (1990) tem a seguinte opinião:

A divisão entre espírito e matéria levou à concepção de um sistema mecânico que consiste em objetos separados, os quais, por sua vez, foram reduzidos a seus componentes. Acredita-se, determinam completamente todos os fenômenos naturais. Essa concepção cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos organismos vivos, considerados máquinas constituídas de peças separadas. (…) tal concepção do mundo ainda está na base da maioria de nossas ciências e continua a exercer uma enorme influência em muitos aspectos de nossa vida. Levou à bem conhecida fragmentação em nossas disciplinas acadêmicas e entidades governamentais e serviu como fundamento lógico para o tratamento do meio ambiente natural como se ele fosse formado de peças separadas a serem exploradas por diferentes grupos de interesse. (CAPRA,1990, p.37)

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Mesmo traçando caminhos opostos, em relação à forma como se dá a inter-relação entre mundo e sujeito, racionalismo e empirismo possuem em comum uma característica pautada numa visão crítica e analítica dos fenômenos. Ou seja, o homem poderia revelar o mundo através de sua capacidade sensorial ou racional, atingindo desta forma o seu desenvolvimento intelectual. Cassirer (1994) faz o seguinte comentário:

A ciência da natureza não é meramente o movimento do pensamento que se aplica ao mundo dos objetos, mas também o meio pelo qual o espírito adquire o autoconhecimento”. (CASSIRER, pg. 65, 1994)

Independente da metodologia utilizada, tal momento sugere uma sólida constituição de um sujeito cognoscente. O homem necessita reconhecer-se como sujeito do mundo, produtor de conhecimento, para assim poder iniciar o processo de reconhecimento do mundo. Segundo Cassirer (1994):

A concepção moderna de natureza que se formou depois da Renascença com uma nitidez e uma firmeza crescentes e que buscava prover-se, nos grandes sistemas do século XVII, em Descartes, Spinoza e Leibniz, de um fundamento e de uma legitimidade filosóficas, caracteriza-se, sobretudo, pela nova relação que se estabelece entre sensibilidade e pensamento, entre mundus sensibilis e mundus inteligibilis. (CASSIRER, 1994, p. 67)

O homem do século XVIII sente a necessidade de voltar-se simultaneamente para si mesmo e para o mundo com um propósito comum, o conhecimento. Este conflito ou dualismo que aturde o homem do século XVIII em verdade tem os seus primórdios na segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII, através dos filósofos Francis Bacon (1521-1626) e René Descartes (1596-1651). Segundo Chauí (2000):

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Os dois filósofos que iniciam o exame da capacidade humana para o erro e a verdade são o inglês Francis Bacon e o francês René Descartes. O filósofo que propõe, pela primeira vez, uma teoria do conhecimento propriamente dita é o inglês John Locke. (CHAUÍ, 2000, p. 143-144)

Lembrando que, John Locke (1632-1704) irá realizar uma reunião envolvendo as formas de conhecimento, as origens das idéias e discursos, além disso, aprofunda as suas pesquisas sobre a relação envolvendo sujeito e objeto.

A idéia da Terra como um ser vivo, espiritual, floresceu ao longo de toda a idade Média e a Renascença, até que toda a perspectiva medieval foi substituída pela imagem cartesiana do mundo como uma máquina. Portanto, quando os cientistas do século XVIII começaram a visualizar a Terra como um ser vivo, eles reviveram uma antiga tradição, que esteve adormecida por um período relativamente breve. Capra (1996), analisa que:

“Toda a filosofia é como uma árvore", escreveu Descartes. "As raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências." A ecologia profunda superou essa metáfora cartesiana. Mesmo que a mudança de paradigma em física ainda seja de especial interesse porque foi a primeira a ocorrer na ciência moderna, a física perdeu o seu papel como a ciência que fornece a descrição mais fundamental da realidade. Entretanto, hoje, isto ainda não é geralmente reconhecido. Cientistas, bem como não-cientistas, freqüentemente retêm a crença popular segundo a qual "se você quer realmente saber a explicação última, terá de perguntar a um físico", o que é claramente uma falácia cartesiana. Hoje, a mudança de paradigma na ciência, em seu nível mais profundo, implica uma mudança da física para as ciências da vida. (CAPRA, 1996, p. 29)

A partir deste ponto, entra-se propriamente no que diz respeito ao problema da forma dentro do pensamento cartesiano. Descartes concebe a forma como sendo do tipo (padrão, ordem, qualidade) e realiza uma separação entre a mesma e a substância (matéria, estrutura, quantidade). Ele adotou uma concepção sobre a natureza focado na divisão fundamental de dois domínios independentes e separados ( mente e matéria).

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Isso consiste numa forma de pensamento em que os fenômenos são estudados ou trabalhados de maneira individual e compartimentada. O propósito disso, segundo Descartes (1979), é compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das suas partes. Ao instituir um método referendado por conta do pensamento analítico, Descartes se vê obrigado a remeter-se ao campo das idéias, adotando a razão como o principal fundamento da ciência. Este método cartesiano priorizava o conhecimento intelectual, instituindo-o como único verdadeiro, separando-o do conhecimento sensível (sensação, percepção, imaginação, memória e linguagem), por esse significar uma fonte de erro. Faz-se oportuno apresentar Moura (2006), em seu comentário sobre o método cartesiano:

A impossibilidade de se duvidar da própria existência, já que para duvidar é necessário existir, garante a criação de um método baseado no uso exclusivo da razão, cuja aplicação no desenvolvimento de tecnologias e inventos assegura ao homem a possibilidade de superar a natureza e melhorar suas condições de vida. (…) Para isso é necessário estruturar os limites entre o mundo do homem e o da natureza. Tão importante quanto alicerçar a segurança da existência através da capacidade racional, o homem deveria superar o domínio no qual o divino se revelava tradicionalmente de forma imediata: o reino da natureza. Isso foi conseguido através da ciência. (MOURA, 2006, p. 19-20)

A primeira forte oposição ao paradigma cartesiano mecanicista veio do movimento romântico na arte, na literatura e na filosofia, no final do século XVIII e no século XIX. Os poetas e filósofos românticos alemães retornaram à tradição aristotélica concentrando-se na natureza da forma orgânica. Concomitantemente a isso, Capra (1996) considera que:

Os artistas românticos estavam preocupados principalmente com um entendimento qualitativo de padrões e, portanto, colocavam grande ênfase na explicação das propriedades básicas da vida em termos de formas visualizadas”. Goethe, em particular, sentia que a percepção visual era a porta para o entendimento da forma orgânica. (CAPRA,1996, p. 34-35)

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Portanto, ao fechar este primeiro capítulo, pode se verificar que foi tratado a questão do conceito de forma-paisagem desde a sua definição generalizada no primeiro tópico, passando no segundo momento, pelas considerações aristotélicas e, finalizando o mesmo, contextualizou-se a questão da forma no âmbito da sua formulação no interior do pensamento cartesiano. Observa-se que o conceito de forma desde o seu momento embrionário possui em sua originalidade problemas diretamente vinculados tanto no campo da razão, quanto na seara da emoção. Podemos verificar isso ainda neste primeiro capítulo deste trabalho, quando foram apresentados algumas considerações de variados autores que atribuem à forma-paisagem em seu conjunto, uma complementaridade entre o campo visível e o invisível. Por conta disso, foi feito uma opção por acrescentar as considerações tanto de Aristóteles, quanto as de Descartes, por considerar de grande importância às concepções formuladas por pensadores alemães Kant, Goethe e Schopenhauer, explicitadas no próximo capítulo deste trabalho.

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Segundo Capítulo

Conceito de Forma em Kant, Goethe e Schopenhauer

2 – 1 Formas Representativas em Kant

A filosofia crítica de Kant (1996), está dividida em: “teórica (domínio da natureza) e prática (domínio da liberdade)”. A primeira tem garantida sua condição de possibilidade pelo entendimento que dá à priori um princípio para faculdade do conhecimento atuar na natureza. E a segunda tem garantida sua condição de possibilidade pela razão que dá à priori um princípio para a faculdade de apetição atuar no domínio da liberdade. Assim, faz-se oportuno remeter-se ao seu método proposto em sua Estética Transcendental, analisado da seguinte maneira por Leite (2008):

(…) o método pode ser decomposto nas seguintes etapas: a) isolar a sensibilidade com o intento de buscar a intuição empírica; b) separar na intuição empírica tudo que pertence à sensação com o propósito de encontrar a intuição pura, pois esta é o único elemento que a sensibilidade pode fornecer a priori; c) encontrar as formas puras da intuição sensível, são elas o espaço e o tempo. Seguir este método implica efetivar o objetivo da “Estética Transcendental”, pois esta é exatamente o conhecimento dos princípios da sensibilidade a priori. (LEITE, 2008, p.03)

Nos escritos do Kant (1996), pode ser observado ainda que, o termo espaço corresponde ao que ele classificou de forma da sensibilidade a priori. Isso, sendo analisado dentro de um contexto metafísico e também transcendental. Segundo Kant (1996), “a forma da sensibilidade é o que nos permite ter percepções”, ou seja, a forma

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consiste no existir da percepção. O exemplo disso seria o formato das coisas observadas por nós, representadas através de figuras e dimensões espaciais. Assim, o espaço é a forma a priori da sensibilidade e existe em nossa razão antes e sem a experiência. Kant (1996) explicita que:

Em nossa teoria da verdadeira natureza destas duas formas primitivas da sensibilidade ficam resolvidas ambas as dificuldades. Finalmente é óbvio que a Estética Transcendental não pode conter mais do que esses elementos, a saber: espaço e tempo, posto que todos os outros conceitos, que pertencem à sensibilidade, mesmo o de movimento que reúne os dois anteriores, implicam algo empírico, porque o movimento supõe a percepção de algo movível. (KANT, 1996, p. 07)

Ao procurar expor metafisicamente a definição de um conceito de forma representativa, Kant recorre à explicitação detalhada daquilo que o compõe dentro de sua originalidade, entendendo isso como um dado a priori. Concedendo assim ao espaço, o significado de uma representação a priori. Vale lembrar que, a condição de algo vir a ser a priori, em Kant, significa que a coisa ou objeto percebido por nosso sentido externo, necessariamente precisa antes estar na mente antes de qualquer tipo de experiência. Desta maneira, Kant (2010) afirma que:

O espaço é uma representação necessária, “a priori”, que serve de fundamento a todas as intuições externas. É impossível conceber que não exista espaço, ainda que se possa pensar que nele não exista nenhum objeto. Ele é considerado como a condição da possibilidade dos fenômenos, e não como uma representação deles dependente; e é uma representação “a priori”, que é o fundamento dos fenômenos externos. (KANT, 2010, p. 17)

Para chegar a esta dedução, Kant utiliza como argumento metafísico a justificativa de que “não é possível pensar nenhum objeto fora do espaço”, (KANT,1996, p. 05). Com isso, Kant (1996) caracteriza o espaço como uma intuição pura.

Pois a representação do espaço já tem de estar subjacente para certas sensações se referirem a algo fora de mim, e igualmente para eu poder representá-las como fora de mim e uma ao lado da outra e, por conseguinte

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não simplesmente como diferentes, mas como situadas em lugares diferentes. Logo, a representação do espaço não pode ser tomada emprestada, mediante a experiência, das relações do fenômeno externo, mas esta própria experiência externa é primeiramente possível só mediante referida representação. (KANT, 1996, p. 06)

Contudo, o argumento da exposição transcendental é basicamente o mesmo da exposição metafísica, em sua justificativa transcendental, Kant (1996), entende a explicação de um conceito de espaço como o princípio a partir do qual se possa compreender a possibilidade de outros conhecimentos sintéticos a priori. Ele se vale dos princípios geométricos intentando determinar de modo sintético e a priori as propriedades do espaço. Em sua Crítica da Razão Pura (1996), Kant discute o problema do juízo dentro de uma possibilidade de vir a ser tanto a priori, quanto sintéticos. O grande desafio desta explicação kantiana consiste em justificar e convencer de que forma os juízos sintéticos passem a ser a priori. Pois, em Kant (1996), um juízo para se caracterizar sintético é necessário o predicado não estar contido no sujeito enquanto que, um juízo para se caracterizar a priori independe da experiência. Na opinião de Araújo (1993):

Kant identifica o juízo com o pensar. Pensar é, para Kant, "o conhecimento mediante conceitos". E o juízo é "o conhecimento mediato de um objeto". Tanto o pensamento quanto a atividade que gera o juízo (ato de julgar) são habilidades ou poderes que o sujeito humano possui de se relacionar com objetos com a mediação dos conceitos (sempre dados à priori se o conhecimento é necessário e universalmente válido). O sujeito, em ambos os casos, nunca se relaciona diretamente com os objetos, há sempre um conceito que realiza a mediação entre eles (seja este conceito pertencente à intuição ou ao entendimento). Pensar ou julgar não é se relacionar diretamente com o objeto e sim, representá-lo, apreendê-lo sob um conceito dado a priori. Usando uma terminologia jurídica, pensar ou julgar é acusar um objeto de estar submetido a um conceito pré-determinado. (ARAÚJO, 1993, p. 08)

Além do exposto, Araújo (1993) considera ainda que a faculdade do juízo em Kant é o meio que o sujeito humano possui para encontrar um princípio a priori para

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regular a diversidade e a multiplicidade da natureza sob um conceito comum (universal). Ou seja, se for considerado a faculdade do juízo, como igual ao juízo reflexionante, a mesma acaba por funcionar de uma maneira técnica. Kant (1996) pressupõe que a faculdade do juízo é intermediária entre o entendimento e a razão, este princípio significa que a natureza especifica suas leis universais em empíricas em conformidade com a forma de um sistema lógico, em função do Juízo. Isto é, analisada por este prisma, a natureza é regulada por uma lei universal aliada ao poder humano de pensar, tudo isso assegurado pelo juízo. A função da faculdade do juízo, nesse plano, é então satisfazer a razão nessa sua carência, por meio daquilo que Kant (1996) denomina de técnica da natureza. Lembrando que, esta lei universal que regula a natureza é a idéia de que tudo na natureza acontece segundo um determinado fim, como se houvesse uma finalidade na natureza. O filósofo constrói este princípio após verificar e chegar a uma conclusão de que a natureza possui por lei, adquirida a priori pelo entendimento, a garantia de desenvolver qualquer experiência. Funcionando ela como um sistema e não como um mero agregado. É como se um entendimento desse a condição de possibilidade de a natureza funcionar como um sistema, de agir de acordo com uma finalidade. Assim, o princípio a priori que garante que a faculdade do juízo atue de forma universal e necessária é dada por esta própria faculdade no seu ato de refletir, é dada de forma superior. Ernildo Stein (1988) diz em sua abordagem que:

Em Kant,as idéias puras da razão (liberdade, imortalidade, Deus, lei moral) garantem a ação prática do homem, e os conceitos fundamentais são a base do conhecimento empírico-matemático tratado pelo universo do ser. Temos aí, então, razão pura e razão prática (Teoria e Prática), mas estanques ainda, cuja síntese entre ser e dever ser (Prática e Teoria) Kant nunca conseguiu realizar. Temos aí, também, a marginalização do campo estético que, para Kant, não pertencia nem à razão pura nem à razão prática e que foi tratada pelo filósofo alemão, na Crítica do Juízo. (STEIN, 1988, p.104)

A segunda forma da sensibilidade a priori, Kant a concebe como sendo o conceito de tempo. Quanto à explicação metafísica do conceito de tempo, Kant (1996) afirma que ele é forma pura da intuição sensível porque tem que estar subjacente à

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priori para que a simultaneidade ou a sucessão de algo seja dada à percepção. Na sua argumentação transcendental a respeito do conceito de tempo, Kant (1996) acredita que ele é a possibilidade de um conhecimento sintético a priori para a doutrina geral do movimento, pois se essa representação não fosse intuição (interna) a priori, nenhum conceito, seja qual for, poderia tornar compreensível a possibilidade de uma mudança.

Portanto, o espaço e o tempo, acabam sendo constituídos dentro da concepção kantiana, como as duas formas da intuição sensível. Isto por conta destas formas, espaço e tempo, dentro do raciocínio kantiano, pertencerem à nossa organização do pensamento e representarem recursos de possibilidade para pensar os fenômenos em geral. Assim, as formas do espaço e tempo acabam por serem concebidas como realidades subjetivas, ou seja, estão vinculados ao sujeito do conhecimento, mesmo possuindo validade objetiva. Estas teorias kantianas são válidas apenas quando utilizadas no contexto dos objetos dos sentidos. No que diz respeito à noção de forma, Kant (1996) a define:

Toda a representação na qual não há traço daquilo que pertence à sensação chamo pura (em sentido transcendental). A forma pura das intuições sensíveis em geral, na qual todo o diverso dos fenômenos é percebido pela intuição sob certas relações, encontra-se “a priori” no espírito. Esta forma pura da sensibilidade pode ainda ser designada sob o nome de intuição pura. Assim, quando na representação de um corpo eu me abstraio daquilo que a inteligência pensa, como substância, força, divisibilidade etc., bem como daquilo que pertence à sensação, como a impenetrabiidade, a dureza, a cor etc., ainda me resta alguma coisa desta intuição empírica, a saber: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuição pura, que tem lugar “a priori” no espírito, como uma forma pura da sensibilidade e sem um objeto real do sentido ou sensação. (KANT, 2010, p. 15)

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Entretanto, segundo a teoria do kantiana, busca-se que o sujeito de maneira geral tenha igual capacidade de representação dos elementos formadores do conhecimento. Faz-se pertinente a fala de Silveira (2010), apontando que:

Kant operará uma ruptura ontológica e epistêmica com a noção de forma, como a herdada da escolástica, fato que não tinha ainda acontecido no século XVIII e que ao contrário, estava revigorado com a filosofia de Leibniz. Para Kant, a forma seria a portadora de uma energia transformativa, o produto de uma transformação da matéria no espaço e no tempo e cuja função ao conhecimento humano seria inicialmente a de produzir um estranhamento e ao mesmo tempo a experiência do empírico. (SILVEIRA, 2010, p. 01)

Vale lembrar que Kant, antes da sua Terceira Crítica do Juízo, carrega ainda em seus escritos sobre os juízos teleológicos guarda uma certa afinidade e aproximação com a filosofia teórica, com o passar do tempo afastou-se por completo. Neste tratado, Kant busca por meio de algumas teorias voltadas à questão do sujeito, somadas a outras presentes em sistemas anteriormente criado por ele, assegurar a possibilidade do Juízo, do pensamento de toda a sua obra. O seu maior desafio nesta empreitada consiste em sua capacidade de criar mecanismos que venham a realiza uma união envolvendo duas esferas: natureza e liberdade. A solução encontrada por Kant, para tentar explicar o problema, seria a garantia da homogeneidade envolvendo os domínios da natureza e da liberdade, a partir da atitude humana de reflexão.

Ao chegar a última década do final do século XVIII, Kant se volta a uma interpretação da forma partindo de um significado estético e transcendental. Ele atribuirá à forma a função de transformar o espaço. Segundo Domingues & Vitte (2010):

Isso significa que, em sua Terceira Crítica, Kant expõe um modelo de inteligibilidade da natureza radicalmente distinto do da Primeira Crítica. Na Crítica do Juízo, a natureza é entendida para além de um mero agregado de formas ou de um amontoado de leis particulares que explicam este ou aquele fenômeno isoladamente; logo, ela é julgada de uma perspectiva substancialmente diferente daquela que correspondia ao uso das categorias, próprio da Crítica da Razão Pura. (DOMINGUES & VITTE, 2010, p. 09)

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De acordo com Vitte (2010), o pensamento geográfico receberá uma grande contribuição advinda das idéias kantiana e que culminará no nascimento da paisagem em nível de categoria de análise da geografia:

Ainda em sua Crítica da Faculdade do Juízo (KANT, 1995) Kant estabelece uma noção importante para o pensamento geográfico nascente e, conseqüentemente, para a fundação da paisagem como uma das categorias de análise da Geografia. Estamos falando do princípio teleológico da natureza, a representação de uma finalidade natural expressa em seus processos e manifestações. (VITE, 2010, p. 09)

O responsável por dar uma maior ênfase a esta teoria naturalista será Goethe, para quem a forma possui simultaneamente o cosmos e a experiência estética, além de manifestar os fenômenos e sua possibilidade de ser estudado pela ciência, esta considerada por Goethe como uma construção artística.

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2 – 2 Formas Representativas em Goethe

A visão de mundo goethiano volta-se à interpretação da natureza englobando tudo aquilo que estivesse vivo e em constante processo de modificação. O pensamento de Goethe levanta problemas estéticos e científicos que se comportam como referências atuantes de um ininterrupto campo de produção de novas formas, as quais segundo Moura (2006), “Goethe apresenta uma estética e uma ciência que devem ser vivtas como um constante processo de produção de novas formas, as quais seguem os princípios da polaridade (Polarität) e da intensificação (Steigerung)”. (MOURA, 2006, p. 03).

A ciência, dentro do ponto de vista goethiano, informa-nos Moura (2006), “apresenta um modo de ver o mundo que demandava uma relação direta e constante com o próprio mundo, afastando-se dos experimentos em laboratório ou das especulações puramente metafísicas”. (MOURA, 2006, p. 03-04). A concepção de natureza concebida por Goethe, na sua época, o coloca à margem do pensamento científico que vigorava naquele período, pois, Moura (2006), acredita que:

Sua concepção de natureza baseada nos conceitos de totalidade e vivacidade (Lebendigkeit) fora suplantada por uma visão cartesiana-newtoniana que propunha a análise dos fenômenos naturais exclusivamente a partir do ponto de vista racionalista-empirista, o qual lançava mão da linguagem matemática para decodificar a natureza. (MOURA, 2006, p. 01)

Em relação ao problema da forma representativa em Goethe, Moura (2006), nos diz que “Goethe cada vez mais desenvolve sua capacidade de ver, olhar a natureza para dela interpretar o 'segredo' das formas que se sucedem no tempo renovadamente”. (MOURA, 2006, p. 04). Ele buscava associar à natureza o campo externo e interno, conteúdo e forma, comparando-a à relação micro e macrocosmo. Através da natureza, Goethe buscava manifestações dos “próprios princípios da criação divina”. Assim, Goethe buscou transformar sua percepção da natureza em atitude científica. Ainda que, nunca tenha aderido oficialmente a qualquer que seja sistema filosófico presente no seu tempo. Para Galé (2009), “sair do mergulho no eu de índole

Referências

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