CEPA 2
PONTO 4
Mengalvio Rios
, solteiro, domiciliado na Comarca de Poá,
ingressou com ação de indenização em face de
Newton Loro
,
domiciliado na Comarca de Registro, pleiteando o recebimento de
indenização por danos morais. A sentença julgou o pedido
parcialmente procedente, condenando
Newton
a pagar a quantia
de dois mil reais. O pedido de
Mengalvio
era para receber
indenização de R$ 50.000,00, razão pela qual o juiz o condenou na
verba de sucumbência, por entender estar presente a hipótese do
art. 21, par. ún., do CPC. Inconformado com a decisão,
Mengalvio
apelou ao tribunal para pleitear a majoração da indenização e a
inversão da sucumbência, cujo acórdão negou provimento ao
pedido de majoração e, malgrado o teor da Súmula 326 do
Superior Tribunal de Justiça, acolheu parcialmente o tema dos
honorários para ratear a sucumbência em partes iguais, aplicando
a regra do caput do art. 21 do CPC. Conquanto
Mengalvio
tenha
interposto embargos de declaração para suscitar a divergência com
o artigo 21, par. ún., do CPC, o acórdão foi mantido.
Questão: Na qualidade de advogado de Mengalvio prepare a
petição cabível na espécie.
RECURSO
ESPECIAL
Recurso Especial
Trata-se de um recurso excepcional, admissível apenas em
hipóteses restritas
, previstas na Constituição com a função
de manutenção da autoridade e unidade da lei federal
(b) julgar válido ato do governo local contestado em face da lei
federal
(d) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal
(a) contrariar tratado ou lei federal,
ou negar-lhe vigência
O cabimento do recurso está previsto no art. 105, III, “a”, “b”e “c”, da Constituição da República, quando
Características
Somente o STJ julga o REsp (CF, art. 105, III).
O REsp somente é recebido no efeito devolutivo, não
tendo efeito suspensivo (
CPC, arts. 995
).
O prazo para interposição do recurso é de 15 dias
(
CPC, art. 1.003,§ 5º
).
São devidas custas e “porte de remessa e retorno”
(tabela elaborada pelo STJ; os valores são fixados
conforme o Estado de origem e o número de fls. do
processo).
Recurso Especial - Súmulas
“Cabe recurso especial contra acordão proferido no julgamento de
agravo de instrumento” (Súmula nº 86 do STJ) “A divergência entre julgados do
mesmo Tribunal não enseja recurso especial”
(Súmula nº 13 do STJ)
“Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no
mesmo sentido da decisão recorrida”
(Súmula nº 83 do STJ) “A pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial” (Súmula nº 7 do STJ)
“A simples interpretação de cláusula contratual não enseja
recurso especial” (Súmula nº 5, do STJ)
Recurso Especial – CF, 105, III, “c”
(ii) cópia autenticada pelo advogado
(iii) citação de texto publicado em repositório de jurisprudência,
oficial ou credenciado (i) certidão do acórdão-paradigma
passada pela secretaria judicial
Logo, o dever imposto ao julgador é simétrico ao atribuído ao
recorrente (CPC, 1.029, § 1º) - deve demonstrar analiticamente a
diferença para a recusa
Na hipótese de recurso especial fundado em
dissídio jurisprudencial impõe-se a necessidade
de
provar
(por) e
demonstrar
a divergência
(iv) cópia obtida na rede mundial de computadores, em fonte do próprio
tribunal ou credenciada para a divulgação de seus acórdãos “O conhecimento do recurso especial,
tendo como causa dissídio de jurisprudência, requer demonstração analítica para comprovar a identidade
do suporte fático (divergência)” [REsp 102.313/DF, REsp 2.511-0/RJ e AgRg
Roteiro do Recurso
Admitido o recurso, os autos são remetidos para o STJ (
art.
1.030, V
).
Não admitido o REsp no Tribunal de origem, teremos dois
tipos de roteiro.
Se o Tribunal negar seguimento a recurso especial interposto
contra
acórdão
que
esteja
em
conformidade
com
entendimento do Superior Tribunal de Justiça
, exarado no
regime de julgamento de recursos repetitivos, caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021. (art. 1.030, § 2º)
Se o Tribunal negar seguimento após
realizar o juízo de
admissibilidade
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos
do art. 1.042 (art. 1.030, § 1º).
Entendimento do STJ
No novo CPC o art. 291, V, que determina que seja fixado
valor certo para o dano moral na petição inicial. Mas, de
forma inteligente e sensível, a Ministra Nancy Andrighi,
relatora do Recurso Especial 1.534.559 – SP
(2015/0116526-2), justificou assim o seu voto numa ação de Indenização por
Dano Material, em 22/11/16:
"inexistentes
critérios
legais
de
mensuração,
o
arbitramento do valor da compensação por dano moral
caberá exclusivamente ao juiz, mediante seu prudente
arbitrário,
de modo que não se mostra legítimo exigir-se
do autor, no momento da propositura da demanda, a
indicação precisa de um valor
....".
Nesse sentido, persiste a validade da Súmula 326, do STJ, que
impede a sucumbência no caso do declínio da pretensão.
Exemplo
Coriolano Junqueira, solteiro, domiciliado na Comarca de Taubaté, ingressou com ação de indenização em face de Stephen Young, domiciliado na Comarca de São José dos Campos, pleiteando o recebimento de indenização por danos morais. A sentença julgou o pedido parcialmente procedente, condenando Stephen a pagar a quantia de R$ 3.000,00. O pedido de Coriolano era para receber indenização de R$ 100.000,00, razão pela qual o juiz o condenou na verba de sucumbência, por entender estar presente a hipótese do art. 21, par. ún., do CPC. Inconformado com a decisão, Coriolano apelou ao tribunal para pleitear a majoração da indenização e a inversão da sucumbência, cujo acórdão negou provimento ao pedido de majoração e, malgrado o teor da Súmula 326 do STJ, acolheu parcialmente o tema dos honorários para ratear a sucumbência em partes iguais, aplicando a regra do caput do art. 21 do CPC. Conquanto Coriolano tenha interposto embargos de declaração para suscitar a divergência com o art. 21, par. ún., do CPC, o acórdão foi mantido.
Questão: Na qualidade de advogado de Coriolano prepare a petição cabível na
espécie.
Exemplo
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
(Espaço – 10 linhas)
Autos n. 2011.01.00.000123-4
Recorrente: CORIOLANO JUNQUEIRA Recorrido: STEPHEN YOUNG
CORIOLANO JUNQUEIRA, já qualificado nos autos, por seu advogado
infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de V. Exª. interpor o presente
RECURSO ESPECIAL com fundamento na alínea “c” do inciso III do art. 105 da CF,
pelas razões de fato e de direito a seguir expostas, que desta fazem parte integrante.
Todos os requisitos formais próprios ao presente recurso foram observados, bem como recolhidas custas e porte de remessa e retorno.
Exemplo
....
Termos em que, requerendo o recebimento e processamento do presente recurso, com o posterior envio ao Superior Tribunal de Justiça, pede deferimento.
Cidade, data.
Exemplo
RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL
Autos n. 2011.01.00.000123-4
Recorrente: CORIOLANO JUNQUEIRA Recorrido: STEPHEN YOUNG
Origem: Tribunal de Justiça de São Paulo EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA TURMA,
ÍNCLITOS JULGADORES
I – BREVE SÍNTESE DA PRESENTE DEMANDA
Trata-se de recurso em que se discute a obrigação ao pagamento na verba de sucumbência, quando o pedido de indenização por dano moral e julgado parcialmente procedente.
Exemplo
Como se depreende da simples leitura dos autos, o ora recorrente interpôs apelação de r. sentença de juiz de primeira instância que o condenou razão ao pagamento da verba de sucumbência, por entender estar presente a hipótese do art. 21, parágrafo único, do CPC, a saber, que o réu decaiu da parte mínima do pedido. Reproduzimos:
Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas.
Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários.
Inconformado com o decido o ora recorrente apelou e, para sua surpresa, não teve acolhida integralmente a sua pretensão de reforma, posto que o Tribunal de Justiça de São Paulo, apesar do teor da Súmula 326 do Superior Tribunal de Justiça, determinou o rateio da sucumbência em partes iguais, aplicando a regra do caput do art. 21 do CPC.
Exemplo
Portanto, percebe-se que o v. acórdão ora recorrido é literalmente violador da Súmula 326 do Superior Tribunal de Justiça, posto que a sucumbência cabe integralmente ao autor, diante da procedência da ação no tocante à indenização. É a breve síntese do necessário.
Com a devida vênia, tal v. acórdão não merece prosperar. Destarte, necessário que se admita o presente recurso, com sua consequente remessa ao E. STJ, para que então seja conhecido e provido.
II – DA PRESENÇA DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE PARA O CONHECIMENTO DESTE RECURSO
DO PREQUESTIONAMENTO DO DISPOSITIVO COM INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE (CPC, art. 21)
Da simples leitura da ementa do v. acórdão recorrido percebe-se que houve o prequestionamento.
Exemplo
Para isso, basta verificar que é feita expressa menção ao art. 21 do CPC no bojo da ementa, ao registrar que a Câmara acolheu parcialmente o tema dos honorários para ratear a sucumbência em partes iguais, aplicando a regra do caput do art. 21 do CPC.
Destarte, como se vê, certo é que houve a discussão acerca da aplicabilidade do mencionado art. 21 do CPC, sendo indubitável, portanto, o efetivo prequestionamento de tal artigo.
DA ADEQUADA APRESENTAÇÃO DE PARADIGMAS, CONFORME O ART. 1.029, §
1º, DO CPC (ALÍNEA C DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL)
Para permitir a subida do recurso pela alínea c do permissivo constitucional, junta o recorrente julgado desse E. STJ, de modo a comprovar a divergência entre a posição do Tribunal a quo e o entendimento de outros egrégios Tribunais.
Exemplo
Os julgados foram obtidos na Internet, a partir da página mantida por esse E. Tribunal (www.stj.gov.br), conforme autorizado pela novel redação do CPC, art.
1.029, § 1º.
Pelo exposto, adequada é a apresentação dos julgados paradigmas.
DA INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE ENTRE O V. JULGADO RECORRIDO E DECISÕES DESSE E. TRIBUNAL (CF, art. 105, III, c)
Como visto acima, o v. acórdão recorrido violou frontalmente a interpretação do STJ, diante do conteúdo de inúmeros acórdãos de outros Tribunais – especialmente desse E. STJ – já que existe a Súmula 326 que trata do referido assunto.
Nessa linha, bastaria a indicação da Súmula, entretanto, pretendemos demonstrar a existência de julgados outros do STJ e de outros tribunais.
Inicialmente, trazemos à baila julgado que é expresso ao afirmar que não há sucumbência recíproca quando, em ação de reparação por dano moral, a condenação é inferior ao que foi pedido na inicial:
Exemplo
“Ementa: Processual civil. Agravo no agravo de instrumento. Ação indenizatória. Negativa de prestação jurisdicional. Inexistência. Reexame fático-probatório. Inadmissibilidade. Valor do dano moral. Honorários advocatícios. - Rejeitam-se corretamente os embargos declaratórios se ausentes os requisitos da omissão, contradição ou obscuridade. - Em sede de recurso especial não é possível a incursão no campo fáticoprobatório. -Inviável rever o valor fixado a título de honorários advocatícios quando não for constatado evidente exagero ou manifesta irrisão. Precedentes. - É inepta a petição de agravo de instrumento contra decisão denegatória de processamento de recurso especial que não impugna, especificamente, os fundamentos da decisão recorrida. - Não há sucumbência recíproca quando, em ação de reparação por dano moral, a condenação é inferior ao que foi pedido na inicial. Precedentes. Agravo não provido. (grifamos)
(REsp 1063510 DF 2008/0138070-0, Relª Minª NANCY ANDRIGHI, Julg.: 04/11/2008, 3ª TURMA, Publ.: DJe 20/11/2008)
Como se percebe, é patente a divergência entre tal julgado e o v. acórdão recorrido.
Exemplo
No julgado paradigma, esse Tribunal é expresso ao afirmar a sucumbência recíproca; ao passo que no julgado recorrido o entendimento é o contrário.
Mas não é só. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro tem entendimento idêntico ao E. STJ, inclusive com a edição da Súmula 105, que abaixo reproduzimos:
“Ementa: Dano Moral – Súmula TJRJ nº 105 - A indenização por dano moral, fixada em valor inferior ao requerido, não implica, necessariamente, em sucumbência recíproca.
Referência: Súmula da jurisprudência predominante nº 2005.146.00001 – Julg.: 18/07/2005 – V. U. – Relª Desª CÁSSIA MEDEIROS – Registro de acórdão: 26/12/2005 - fls. 011200/011220.
Exemplo
Como se vê, o “pacífico entendimento” da Corte fluminense foi frontalmente violado pelo acórdão recorrido, que simplesmente desconsiderou o direito do autor em receber a devida verba de sucumbência.
Por fim, reproduzimos a Súmula 326 do E. Superior Tribunal de Justiça, que é deveras esclarecedora e derruba todos os argumentos constantes do v. acórdão recorrido:
“Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.”
Dada a clareza dessa Súmula, sequer seria necessário o “cotejo analítico” entre tal decisão e o acórdão recorrido.
O fato é que a divergência é gritante. Esse E. STJ afirma que na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. Já o TJSP afirma que há sucumbência recíproca.
Exemplo
Pelo exposto, certo é que o Recurso Especial deve ser conhecido e provido.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, pede e requer o recorrente:
a) que o presente recurso seja admitido na origem e remetido ao E. STJ, já que ocorrido o prequestionamento e apresentados julgados que deram aplicação distinta à lei federal (declarando o advogado da recorrente que tais julgados são autênticos);
b) após a admissão do REsp, quando o recurso for recebido no E. STJ, que seja conhecido e, no mérito, provido, para reformar o v. acórdão recorrido, reconhecendo-se a inexistência de sucumbência recíproca e fixando-se a devida verba em favor do autor.
Cidade, data. Assinatura, OAB.