• Nenhum resultado encontrado

Desenvolvimento capitalista e trajetórias empresariais em Pernambuco

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Desenvolvimento capitalista e trajetórias empresariais em Pernambuco"

Copied!
357
0
0

Texto

(1)

FÁBIO LUCAS PIMENTEL DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E TRAJETÓRIAS

EMPRESARIAIS EM PERNAMBUCO

Campinas 2014

(2)
(3)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

FÁBIO LUCAS PIMENTEL DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E TRAJETÓRIAS

EMPRESARIAIS EM PERNAMBUCO

Prof. Dr. Wilson Cano – orientador

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Econômico, área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

TESE DEFENDIDA PELO ALUNO FÁBIO LUCAS

PIMENTEL DE OLIVEIRA E ORIENTADA PELO PROF. DR. WILSON CANO.

CAMPINAS 2014

(4)
(5)

TESE DE DOUTORADO

FÁBIO LUCAS PIMENTEL DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E TRAJETÓRIAS

EMPRESARIAIS EM PERNAMBUCO

(6)
(7)
(8)
(9)

AGRADECIMENTOS

TECENDO A MANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. João Cabral de Melo Neto (A Educação pela Pedra, 1966)

Agradeço aos galos que comigo teceram esta "manhã": meus pais, com amor incondicional, a quem devo minhas melhores virtudes, entre as quais a defesa intransigente da educação como prioridade. Minha família, pelo suporte de todas as horas. Companheiros da CEPLAN, que me brindaram o privilégio do aprendizado cotidiano. Meu orientador, Professor Wilson Cano, com especial extensão aos funcionários, colegas e professores do IE-UNICAMP que cultivam a tradição do pensamento crítico e autônomo. Os bons amigos, desbravadores dos caminhos do mundo. Deborah, inspiração imprescindível.

(10)
(11)

¿Dónde estarán?, pregunta la elegía de quienes ya no son, como si hubiera una región en que el Ayer pudiera ser el Hoy, el Aún y el Todavía. Jorge Luis Borges, El tango.

(12)
(13)

RESUMO

Esta tese parte de uma visão geral da evolução capitalista no Brasil desde meados dos anos de 1950, em que se procura discutir uma concepção de desenvolvimento relacionada ao avanço das forças produtivas promovido pelo Estado e pelas Empresas Privadas (nacionais e transnacionais). Considera, no contexto de integração regional posterior à criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), uma periodização específica, segundo a qual são apontados os principais determinantes e características da estrutura produtiva e das relações de comércio estabelecidas entre o estado de Pernambuco, as demais regiões do País e o resto do mundo. Propõe um refinamento analítico, em termos de frações de capital, com o objetivo de dar ênfase à identificação das principais empresas que atuaram no Estado ao longo dos últimos cinquenta anos. Para tanto, faz-se uso de categorias como participação nas vendas, controle e origem do capital e vinculação setorial das maiores firmas. Com isso, procura-se ilustrar as frações de capital que foram surgindo, desaparecendo ou consolidando-procura-se ao longo da trajetória estadual de desenvolvimento. No caso dos capitais de origem pernambucana, o trabalho presta-se a identificar as bases originárias de acumulação e os padrões de transfiguração que orientaram estratégias empresariais locais, em um contexto concorrencial acirrado pelo próprio processo de integração produtiva e por determinantes definidos à escala nacional e internacional.

Palavras-chave: Desenvolvimento Econômico; Desenvolvimento Regional; Grandes Empresas; Economia de Pernambuco.

(14)
(15)

ABSTRACT

The thesis starts with an overview of Brazilian capitalist development since the mid-1950s, establishing a discussion of the concept of development related to the progress of productive forces induced by the State and Private Companies (national and transnational). To emphasize the case of Pernambuco, it considers the context of regional integration after the creation of the Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Then, draws a specific timeline under which some features and the main determinants of the productive structure and trade relations of Pernambuco's economy are appointed. Besides the traditional macroeconomic approach, the study proposes an analytical refinement in terms of fractions of capital, with the aim of emphasizing the operation of the main companies of Pernambuco over the last fifty years, by using categories such as participation in sales, control and origin of the capital and sector of activity. It also illustrates the enterprises that emerged, disappeared or were consolidated along the path of the economic development of Pernambuco, relating this approach to the macroeconomic overview held before. In the case of local enterprises (originated in Pernambuco), the study identifies the 'original' bases of accumulation and focuses on the patterns of transfiguration that guided local business strategies in a competitive environment defined by the national productive integration process and other determinants at the supra-local scale.

Key-words: Economic Development; Regional Development; Enterprises; Economics of Pernambuco.

(16)
(17)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I. 1 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: taxas de crescimento do produto interno bruto (médias móveis quinquenais, em % a.a.), 1961-2010 ... 7 Gráfico I. 2 – Bahia, Ceará e Pernambuco: participação no PIB total do Nordeste (em %), 1960-2009 .. 11

Gráfico 2. 1 - Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução real do Produto Interno Bruto (1970=100), 1965-1985 ... 59 Gráfico 2. 2 – Pernambuco: evolução real do Produto Interno Líquido, a custo de fatores, 1960-1969 ... 60 Gráfico 2. 3 – Pernambuco: evolução real do Produto Interno Líquido, a custo de fatores, 1970-1985 ... 62 Gráfico 2. 4 – Pernambuco: composição do Produto Interno Bruto a custo de fatores, por setores econômicos (em %), 1970-1985 ... 64 Gráfico 2. 5 – Nordeste e Pernambuco: evolução real do Produto Interno Bruto da Agropecuária (1970=100), 1970-1985 ... 68 Gráfico 2. 6 – Nordeste e Pernambuco: série encadeada do VAB da indústria (1970=100), 1970-1985 . 75 Gráfico 2. 7 – Pernambuco: distribuição do VAB industrial (em %), 1970-1985 ... 76 Gráfico 2. 8 – Nordeste e Pernambuco: série encadeada do VAB da indústria de transformação (1970=100), 1970-1985 ... 79 Gráfico 2. 9 – Pernambuco: distribuição do Valor da Transformação Industrial, segundo grupos de indústrias de transformação (em %), 1960/1970/1975/1980/1985 ... 81 Gráfico 2. 10 – Nordeste e Pernambuco: evolução real do Produto Interno Bruto dos serviços (1970=100), 1970-1985 ... 86 Gráfico 2.11 – Pernambuco: composição do Produto Interno Bruto dos serviços, a custo de fatores, por setores econômicos (em %), 1970-1985 ... 87

Gráfico 3. 1 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do Valor Adicionado, a preços básicos (1985=100), 1985/2003 ... 97 Gráfico 3. 2 – Pernambuco: crescimento acumulado de Valor Adicionado Bruto,, segundo grandes setores, 1985-2003 ... 98 Gráfico 3. 3 – Pernambuco: composição do VAB, segundo grandes setores (em %), 1985/2003 ... 99 Gráfico 3. 4 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do Valor Adicionado, a preços básicos da agropecuária (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 100 Gráfico 3. 5 – Pernambuco: crescimento acumulado do índice de quantum dos segmentos da agropecuária (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 101 Gráfico 3. 6 – Pernambuco: participação dos segmentos no VAB da agropecuária (em %), 1985-2003 103 Gráfico 3. 7 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do Valor Adicionado, a preços básicos da indústria (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 105 Gráfico 3. 8 – Pernambuco: evolução do índice de quantum dos ramos da indústria (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 107

(18)

Gráfico 3. 9 – Pernambuco: participação dos segmentos no VAB da indústria (em %), 1985-2003 ... 108 Gráfico 3. 10 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do Valor Adicionado da indústria de transformação a preços básicos (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 109 Gráfico 3. 11 – Pernambuco: evolução do Valor Adicionado de segmentos selecionados da indústria de transformação (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 113 Gráfico 3. 12 – Pernambuco: evolução do Valor Adicionado de segmentos selecionados da indústria de transformação (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 114 Gráfico 3. 13 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do Valor Adicionado, a preços básicos dos Serviços (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 116 Gráfico 3. 14 – Pernambuco: participação dos segmentos no VAB dos serviços (em %), 1985-2003 ... 117 Gráfico 3.15 – Pernambuco: evolução do Valor Adicionado dos principais segmentos do comércio e dos serviços (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 121 Gráfico 3. 16 – Pernambuco: Comércio e Serviços: evolução do Valor Adicionado de segmentos selecionados do comércio e dos serviços (índice de quantum do VAB, 1985=100), 1985-2003 ... 123

Gráfico 4. 1 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: taxa de crescimento do PIB (%) e série encadeada do volume do PIB (2000 = 100), 2000-2012 ... 128 Gráfico 4. 2 – Pernambuco: crescimento acumulado do VAB, segundo grandes setores (2000=100), 2000/2010 ... 131 Gráfico 4. 3 – Pernambuco: participação (%) das atividades econômicas no Valor Adicionado Bruto, a preços básicos, 2000-2010 ... 133 Gráfico 4. 4 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do VAB da agropecuária (2000=100), 2000/2010 ... 136 Gráfico 4. 5 – Pernambuco: série encadeada do Valor da Produção dos segmentos da agropecuária (2000=100), 2000-2010 ... 136 Gráfico 4. 6 – Pernambuco: participação dos segmentos da agropecuária no total do Valor da Produção (em %), 2000-2010 ... 138 Gráfico 4. 7 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do VAB da indústria (2000=100), 2000-2010 143 Gráfico 4. 8 – Pernambuco: evolução do VAB dos ramos da indústria (2000=100), 2000-2010 ... 144 Gráfico 4. 9 – Pernambuco: participação dos ramos no VAB total da indústria (%), 2000-2010 ... 146 Gráfico 4. 10 – Brasil e Pernambuco: relação VTI/VBP da indústria de transformação, 1996-2010 ... 149 Gráfico 4. 11 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: evolução do VAB dos serviços (2000=100), 2000-2010 ... 163 Gráfico 4. 12 – Pernambuco: evolução do VAB dos ramos dos serviços (2000=100), 2000-2010 ... 164

Gráfico 5. 1 – Pernambuco: exportações, importações, saldo e corrente comercial (em US$ mil correntes), 1985-2003 ... 183 Gráfico 5. 2 – Pernambuco: exportações, importações, saldo e corrente comercial (US$ milhões), 2000-2012 ... 188

(19)

Gráfico 5. 3 – Pernambuco: distribuição percentual dos produtos importados, segundo ramos da indústria de transformação, 2000-2012 ... 189 Gráfico 5. 4 – Pernambuco: distribuição dos produtos exportados, segundo grupos de indústrias de transformação (em %), 2000-2012 ... 192

Gráfico 6. 1 – Pernambuco: distribuição dos investimentos incentivados pelo PRODEPE, segundo grupos de indústrias (em %), 2007/2012 ... 209 Gráfico 6. 2 – Média da distribuição dos investimentos incentivados pelo PRODEPE, segundo Regiões de Desenvolvimento, 2007-2012 ... 212

Gráfico 7.1 – Brasil: distribuição das 1.000 maiores empresas, segundo regiões (em %) 1975/1980/1990/2000/2011 ... 221 Gráfico 7.2 – Brasil: distribuição do faturamento das 1.000 maiores empresas, segundo regiões (em %), 1975/1980/1990/2000/2011 ... 223 Gráfico 7. 3 – Pernambuco: número de projetos industriais aprovados pela SUDENE e participação percentual no total de projetos industriais aprovados no Nordeste, 1960-1969 ... 228 Gráfico 7. 4 – Pernambuco: grau de concentração das maiores empresas em atuação no Estado (em %), segundo critério do patrimônio*, 1970 ... 230 Gráfico 7. 5 – Pernambuco: origem do controle de capital das maiores empresas (em %), 1970 ... 232 Gráfico 7.6 – Pernambuco: número de projetos industriais aprovados pela SUDENE e participação percentual no total de projetos industriais aprovados no Nordeste, 1970-1979 ... 235 Gráfico 7.7 – Pernambuco: grau de concentração das maiores empresas em atuação no Estado (em %), segundo critério da receita com vendas*, 1980 ... 236 Gráfico 7. 8 – Pernambuco: origem do controle de capital das maiores empresas (em %), 1980 ... 238 Gráfico 7. 9 – Pernambuco: grau de concentração das maiores empresas em atuação no Estado (em %), segundo critério da receita com vendas, 1990... 244 Gráfico 7. 10 – Pernambuco: origem do controle de capital das maiores empresas (em %), 1990 ... 246 Gráfico 7. 11 – Pernambuco: grau de concentração das maiores empresas em atuação no Estado (em %), segundo critério da receita com vendas, 2002 ... 250 Gráfico 7. 12 – Pernambuco: origem do controle de capital das maiores empresas (em %), 2002 ... 253 Gráfico 7. 13 – Pernambuco: grau de concentração das cem maiores empresas em atuação no Estado (em %), segundo critério da receita com vendas, 2011 ... 262 Gráfico 7. 14 – Pernambuco: origem do controle de capital das maiores empresas (em %), 2011 ... 264

(20)
(21)

LISTA DE TABELAS

Tabela 2. 1 – Pernambuco: composição setorial do Produto Interno Líquido (PIL) a custo de fatores (em

%), 1960-1969 ... 61

Tabela 2. 2 – Pernambuco: crédito concedido à agropecuária estadual (em Cr$ 1000 correntes), 1968-1974 ... 69

Tabela 2. 3 – Pernambuco: valor da produção das culturas permanentes, 1980 ... 71

Tabela 2. 4 – Pernambuco: efetivo pecuário existente, 1975/1980 ... 71

Tabela 2. 5 – Nordeste e Unidades Federadas regionais: número e distribuição de projetos industriais aprovados pela SUDENE (em %), 1978/1988* ... 73

Tabela 2. 6 – Pernambuco: distribuição do Valor da Transformação Industrial, segundo segmentos da indústria de transformação (em %), 1960/1970/1975/1980/1985 ... 82

Tabela 2.7 – Pernambuco: dados gerais do setor comercial, segundo classes atividade, 1970/1975/1980 ... 89

Tabela 2. 8 – Pernambuco: dados gerais do setor de serviços, por classes de atividade, 1970 ... 90

Tabela 2. 9 – Pernambuco: dados gerais do setor de serviços, por classes de atividade, 1975 ... 91

Tabela 2. 10 – Pernambuco: dados gerais do setor de serviços, por classes de atividade, 1980 ... 92

Tabela 3. 1 – Pernambuco: participação dos segmentos no total do VAB da indústria de transformação (em %), 1985-2003 ... 111

Tabela 3. 2 – Pernambuco: distribuição do emprego formal do setor terciário (%) e taxa média anual de crescimento do emprego (% a.a.), segundo subgrupos, 1985/2000 ... 118

Tabela 4. 1 – Pernambuco: porte da indústria, segundo o número de pessoas ocupadas, 2000/2010 . 147 Tabela 4. 2 – Pernambuco: participação dos segmentos industriais no Valor da Transformação Industrial (em %), 2000/2005/2010 ... 150

Tabela 4. 3 – Pernambuco: distribuição dos investimentos anunciados, segundo grupos da indústria de transformação e segmentos (%), 2007-2016 ... 153

Tabela 4. 4 – Pernambuco: distribuição (%) e taxa anual média de crescimento (% a.a.) do emprego formal, 2000/2005/2010 ... 165

Tabela 5. 1 – Nordeste e Estados selecionados: corrente comercial (US$ mil, preços correntes), 1985-2003 ... 178

Tabela 5. 2 – Nordeste e Estados selecionados: exportações (FOB – X) e importações (CIF – M) totais (em US$ mil), 1985-2003 ... 179

Tabela 5. 3 – Nordeste e Estados selecionados: saldo comercial (em US$ mil), 1985-2003 ... 181

(22)

Tabela 5. 5 – Nordeste e Estados selecionados: exportações (FOB – X) e importações (CIF – M) totais (em US$ milhões), 2000-2012 ... 186 Tabela 5. 6 – Nordeste e Estados selecionados: saldo da balança comercial (em US$ mil), 2000-2012 ... 186

Tabela 6. 1 – Pernambuco: informações dos projetos aprovados pelo PRODEPE, 1996/2001 ... 203 Tabela 6. 2 – Pernambuco: número de projetos, investimento, empregos e renúncia fiscal dos projetos aprovados pelo PRODEPE (em %), 1996/2001 ... 204 Tabela 6. 3 – Pernambuco: distribuição do VTI e dos investimentos do PRODEPE, segundo segmentos da indústria de transformação (em %), 1996/2001 ... 205 Tabela 6. 4 – Pernambuco: investimentos aprovados pelo PRODEPE, 2007/2012 ... 207 Tabela 6. 5 – Pernambuco: investimentos aprovados pelo PRODEPE, segundo grupos de indústrias (em R$ correntes), 2007/2012 ... 208 Tabela 6. 6 – Pernambuco: investimentos totais aprovados pelo PRODEPE, segundo Regiões de Desenvolvimento (em R$ milhões), 2007/2012 ... 211 Tabela 6. 7 – Pernambuco: investimentos do PRODEPE e anúncios de Investimento, segundo segmentos da indústria de transformação (em %), 2007/2012 ... 213

Tabela 7. 1 – Pernambuco: dez maiores empresas em atuação no Estado, segundo critério do patrimônio*, 1970 ... 230 Tabela 7. 2 – Pernambuco: número de empresas e patrimônio, conforme setores de atividade*, 1970 233 Tabela 7. 3 – Pernambuco: dez maiores empresas em atuação no Estado, segundo critério da receita com vendas*, 1980 ... 237 Tabela 7. 4 – Pernambuco: número de empresas e receita com vendas, conforme setores de atividade*, 1980 ... 239 Tabela 7. 5 – Pernambuco: dez maiores empresas em atuação no Estado, segundo critério da receita com vendas, 1990 ... 245 Tabela 7. 6 – Pernambuco: número de empresas e receita com vendas, conforme setores de atividade, 1990 ... 248 Tabela 7. 7 – Pernambuco: dez maiores empresas em atuação no Estado, segundo critério da receita com vendas, 2002 ... 252 Tabela 7. 8 – Pernambuco: número de empresas e receita com vendas, conforme setores de atividade, 2002 ... 255 Tabela 7. 9 – Pernambuco: dez maiores empresas em atuação no Estado, segundo critério da receita com vendas, 2011 ... 263 Tabela 7. 10 – Pernambuco: número de empresas e receita com vendas, conforme setores de atividade, 2011 ... 266

(23)

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ... ix RESUMO ... xiii ABSTRACT ... xv LISTA DE GRÁFICOS ...xvii LISTA DE TABELAS ... xxi INTRODUÇÃO ... 1

I.1 A Questão Regional no Brasil e a mudança no padrão de intervenção do Estado no Nordeste ... 1 I.2 O conceito de região face à dinâmica cíclica da economia brasileira ... 4 I.3 Transformações na estrutura de capital: proposta analítica e metodológica... 9 I.4 Frações de capital: definição conceitual e adequação ao tema ... 14 I.5 Periodização da análise ... 18 I.6 Norteamentos da investigação e a estrutura da tese ... 20

CAPÍTULO 1 – DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL ... 25

1.1 Industrialização pesada, início e auge do desenvolvimentismo (1955/56-1980) .. 25 1.2 Crise do Estado, neoliberalismo e a tentativa de retomada do crescimento

econômico centrado no mercado interno (1980-2010) ... 31 1.3 Balanço e perspectivas do desenvolvimento capitalista brasileiro ... 44

CAPÍTULO 2 – PERNAMBUCO NO AUGE DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO

REGIONAL DA SUDENE (1960-1985) ... 47

2.1 Evolução no período ... 58 2.2 Agropecuária: rigidez estrutural, vulnerabilidade e início da modernização

conservadora ... 65 2.3 Indústria: revigoramento e reestruturação ... 72 2.3.1 Indústria de Transformação: modernização de segmentos tradicionais e avanço da Nova Indústria ... 77 2.4 Comércio e Serviços: crescimento e início da modernização setorial... 85

CAPÍTULO 3 – CRISE DO ESTADO, ESVAZIAMENTO DA SUDENE E

NEOLIBERALISMO: ESTRUTURA E DINÂMICA DA ECONOMIA DE PERNAMBUCO (1985-2003) ... 93

3.1 Evolução no período ... 96 3.2 Agropecuária: declínio da cana-de-açúcar e ascensão das lavouras permanentes ... 100 3.3 Indústria: perda de dinamismo e desestruturação ... 105

(24)

3.3.1 Indústria de Transformação: derrocada de segmentos tradicionais .... 109 3.4 Comércio e Serviços: perda de importância relativa regional e fracasso da

experiência financeira ... 115

CAPÍTULO 4 – PERNAMBUCO NO CONTEXTO DE RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO NACIONAL (2004-2010) ... 125

4.1 Evolução no período ... 130 4.2 Agropecuária: crise na produção canavieira e avanço da fruticultura irrigada ... 134 4.3 Indústria: retomada do crescimento em novas bases ... 142 4.3.1 Indústria de Transformação: do declínio à retomada em novas bases 148 4.4 Comércio e Serviços: crescimento no contexto de dinamismo regional ... 159

CAPÍTULO 5 – AS RELAÇÕES DE COMÉRCIO DA ECONOMIA DE PERNAMBUCO (1960-2010) ... 167

5.1 Intensificação das relações inter-regionais de comércio (1960-1985) ... 170 5.2 Abertura comercial e déficit externo estrutural (1985-2003) ... 175 5.3 Aprofundamento das relações internacionais de comércio pela via das

importações (2004-2012) ... 183 5.4 Tendências e desafios da economia de Pernambuco à luz das relações

comerciais ... 195

CAPÍTULO 6 – ATUAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO NA GUERRA FISCAL ... 199

6.1 Reforço da estrutura existente (1996/2001) ... 202 6.2 Aderência à retomada do crescimento industrial em novas bases (2007/2012) 206 6.3 A concessão de incentivos em dois momentos: uma síntese ... 214

CAPÍTULO 7 – TRAJETÓRIA DAS MAIORES EMPRESAS DE PERNAMBUCO ... 217

7.1 Evolução empresarial no auge da integração produtiva regional: revigoramento industrial (1960-1985) ... 227 7.2 Derrocada de empresas locais e ascensão do terciário no contexto de crise e neoliberalismo (1985-2003)... 241 7.3 As maiores empresas na retomada do crescimento econômico (2004-2010) .... 257 7.4 Principais empresas de Pernambuco: um balanço ... 269

CAPÍTULO 8 – PERNAMBUCO: PADRÕES DE TRANSFIGURAÇÃO DAS EMPRESAS LOCAIS ... 271

8.1 Enfoque das frações locais de capital: proposta metodológica... 274 8.2 Constituição, desconstituição e sobrevivência das empresas locais ... 280 8.2.1 Usinas de açúcar ... 284 8.2.2 Fábricas têxteis ... 292 8.2.3 Atividades de comércio, serviços e construção civil ... 298

(25)

8.3 Limites das frações locais de capital à luz da dinâmica econômica de

Pernambuco ... 307

CONCLUSÕES ... 311 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 317 ANEXO METODOLÓGICO ... 325

Anexo 1.1 – Organização territorial do Estado de Pernambuco ... 325 Anexo 1.2 – Adequações nas informações referentes ao período 1960-1985 ... 325 Anexo 1.3 – Contas Regionais elaboradas pelo IBGE/Agência CONDEPE-FIDEM para o período de 1985-2003 ... 325 Anexo 1.4 – Adequação da CNAE 1.0 e da CNAE 2.0 para a classificação de segmentos da indústria de transformação (período de 2004-2010) ... 326 Anexo 1.5 – Informações sobre relações comerciais, externas e inter-regionais ... 329 1.5.1 Comércio Externo ... 329 1.5.2 Comércio Inter-regional ... 330 1.5.3 Importações e exportações de Pernambuco ... 330 Anexo 1.6 – Dados das maiores empresas de Pernambuco ... 331

(26)
(27)

INTRODUÇÃO

I.1 A Questão Regional no Brasil e a mudança no padrão de intervenção

do Estado no Nordeste

Na segunda metade da década de 1950 emergiu a chamada Questão Regional, no Brasil. A elevada concentração industrial, em São Paulo, evidenciara as desigualdades regionais do País, traduzidas em crises de caráter político, econômico e social, mais intensas na periferia nacional.

No Nordeste, os seguintes fatos reforçaram ainda mais a situação socioeconômica e política, naquele contexto: a mobilização das Ligas Camponesas pela realização de uma reforma agrária; a influência socialista da Revolução em Cuba; pressão social pelas reformas de base; a contrapressão norte-americana para evitar a aceitação dos ideais revolucionários cubanos; a atuação de movimentos religiosos progressistas, com destaque para a Igreja Católica; e a crise em que estavam envoltas as principais empresas regionais (OLIVEIRA, 2008).

Esses elementos, mais o estopim da seca de 1958, levaram o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) a promover políticas de cunho regional, voltadas a amortecer a inquietação social na Região, mediante o desenvolvimento capitalista. Foi a partir da intervenção federal, por meio da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), que a forma de integração do Nordeste com as demais regiões brasileiras assumiria um caráter marcado pelo traço produtivo, em substituição à predominância de relações comerciais.

A diferença principal da fase de articulação em relação à fase comercial diz respeito ao translado de capitais produtivos do centro para a periferia, atendendo à lógica

de acumulação, em escala nacional – a industrialização pesada – iniciada, poucos anos

antes, com o Plano de Metas (GUIMARÃES NETO, 1989).

Até o início dos anos de 1960, a intervenção federal na região Nordeste dava-se com badava-se na reiteração da estrutura econômica regional, pelos investimentos relacionados ao sistema hídrico. A ação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) constituía o maior exemplo do padrão de atuação do Estado, no período anterior à instituição da SUDENE: com a construção de açudes em terrenos privados, a

(28)

capacidade de transformação da realidade socioeconômica regional era mínima ou nula,

porque reproduzia as condições vigentes de acumulação de capital1.

Não por acaso, a economia de Pernambuco – então o principal centro produtivo do Nordeste – apresentava um ritmo de acumulação deficiente, em função da severa crise enfrentada por usinas de açúcar e fábricas de tecidos, traduzindo a incapacidade concorrencial das principais empresas do Estado (OLIVEIRA, 2011).

A política que amparou a transferência de capitais do Centro-Sul para o Nordeste baseou-se na estratégia de desenvolvimento regional formulada por Celso

Furtado – sob a institucionalidade do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do

Nordeste – a partir de relatório que diagnosticava e sugeria soluções para o quadro

econômico e social da Região (GTDN, 1967).

As diretrizes do referido documento apontavam que a política de desenvolvimento regional deveria ser impulsionada pela via da industrialização, complementada por reformas fundiárias, sobretudo no meio rural. A industrialização era o principal objetivo de Furtado e a SUDENE, o agente promotor das mudanças que se julgavam necessárias, na estrutura econômica (CARVALHO, 2001).

A forma de atuação do Estado brasileiro no Nordeste ganharia novos parâmetros, frente à lógica de reiteração estrutural que até então prevalecia (marcada por soluções relacionadas ao sistema hídrico), porque voltada à constituição de um ambiente econômico favorável ao desenvolvimento empresarial na Região.

Em um primeiro instante, isso se daria mediante o aprofundamento de análises socioeconômicas e a qualificação de vasta equipe técnica, oriunda, em grande parte, da

própria Região2. Também foram fundamentais a atuação das empresas estatais e a

ampliação e modernização da oferta regional de infraestrutura de transportes, de energia e de comunicação, para só então emergir a concessão de incentivos fiscais e financeiros e a atuação dos bancos oficiais, como financistas de um novo momento industrial.

1

Também é possível mencionar, no período anterior à criação da SUDENE (a partir de 1952), a oferta de crédito para capitais privados por parte do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

2

Em entrevista concedida em Santiago do Chile, no final de 2012, Osvaldo Sunkel comentava que a SUDENE, por meio de Celso Furtado, havia estabelecido convênio de cooperação técnica com a CEPAL, para capacitar o quadro técnico que formaria parte da SUDENE. Segundo Sunkel, um dos responsáveis pelo programa de capacitação aplicado na Região ao longo de dois anos, foram sendo formados profissionais, de origem regional, em cursos oferecidos em praticamente todos os estados do Nordeste.

(29)

Com a atuação da SUDENE, verificou-se o atrelamento do desempenho econômico do Nordeste ao brasileiro. Se antes as disparidades econômicas estavam expressas nos diferentes ritmos de acumulação de regiões dinâmicas do País, cotejados com a situação de pobreza da periferia nacional, a partir dos anos de 1960 a economia nordestina passou a acompanhar de perto o crescimento da economia brasileira e até a superá-lo, em alguns anos (GUIMARÃES NETO, 1997).

Esse desempenho foi decorrência direta das notáveis mudanças ocorridas na estrutura econômica regional, após a ação do Estado, com destaque para a diversificação industrial, a modernização da produção agrícola e o avanço de serviços especializados.

Avanços, no entanto, incompletos, em termos do alcance previsto pelo GTDN3: quando

executados, os planos de ação da SUDENE passaram por flagrante "assepsia", voltando-se no esvoltando-sencial ao crescimento industrial e diminuindo a importância das outras diretrizes, em especial as de cunho agrário (PIMES, 1984).

O fato é que, com a integração produtiva, grupos econômicos do Sudeste –

com destaque para os industriais – foram atraídos ao Nordeste, com o propósito de

aproveitar as facilidades relativas à acumulação de capitais oferecidas pela SUDENE em busca da promoção do desenvolvimento regional. Fica patente, assim, que a retomada do crescimento econômico nordestino se deveu mais à política de desenvolvimento regional levada a cabo pela SUDENE, do que a uma "reação" endógena, relacionada às empresas regionais.

Esse processo de transformações na estrutura econômica regional assumiria características diferenciadas da perspectiva interna ao Nordeste. Relatório elaborado pela SUDENE (1992) mostrou que foi notável a concentração de investimentos em apenas três estados e respectivas regiões metropolitanas: Bahia, Ceará e Pernambuco. Isso levou à reprodução, na Região, do mosaico de desigualdades que caracterizava o País, tendo como resultado importantes implicações nas trajetórias de desenvolvimento descritas pelos três referidos estados.

Diante desse quadro, propõe-se um estudo que evidencie as transformações ocorridas na economia de Pernambuco, tomando como referência inicial a ação planejada

3

Furtado (1989) relataria, em obra autobiográfica, a articulação de interesses que resultaria na cassação de direitos, e posterior exílio, a que foi submetido, a partir do Golpe de 1964. Na referida obra, estão nomeados aqueles que operaram a distorção do sentido reformista/progressista da SUDENE, após cinco anos de instituída a autarquia regional.

(30)

da SUDENE até o presente momento. Ao longo desse período, procurar-se-á enfatizar a interação daquelas modificações com a estrutura empresarial vigente no Estado.

Para realizar tal propósito, o estudo adota um conjunto de concepções teóricas funcionais à interpretação do processo de desenvolvimento regional brasileiro e faz uso de conceitos multidisciplinares4, o mais relevante dos quais, a esta altura, é o de "região".

I.2 O conceito de região face à dinâmica cíclica da economia brasileira

As concepções teóricas utilizadas neste trabalho prestam-se a dar sustentação a uma análise histórico-estrutural, que tem por base a impossibilidade de tomar por referência uma teoria geral do desenvolvimento regional. O esgotamento das macroabordagens, em escala nacional, tem alertado para a necessidade de declinar ênfase particular sobre processos específicos (BRANDÃO, 2007).

Mesmo assim, esse enfoque "particularizado" carece de uma contextualização em um quadro geral de desenvolvimento econômico, que considere as relações multiescalares estabelecidas entre o que se denomina "região", o País e/ou a própria economia mundial.

Nesse sentido, convém explicitar que a concepção de "região", à qual esta tese adere, é aquela trabalhada por Francisco de Oliveira (2008), pelo fato de tornar possível entender o processo de desenvolvimento regional por meio das transformações dinâmicas que permitem dar especificidade e, ao mesmo tempo, atrelar o objeto analítico a um contexto mais amplo.

A região constitui uma estrutura, por isso permite diferenciá-la de seu entorno. Essa personalidade regional possibilita a sua delimitação a partir da compreensão da especificidade que ela contém. Como qualquer segmento do espaço, é dinâmica e historicamente construída e faz parte da totalidade social; portanto, suas características internas são determinadas e determinantes de sua interação com o todo. No entanto, apesar de suas relações com o sistema maior, a região possui relações internas autônomas que lhe conferem caráter próprio e diferenciado (RECKZIEGEL, 1999, p. 19, grifos meus).

4

Ao longo do texto, são utilizados os termos "empresas", "grupos econômicos" e "frações de capital" para fazer referência às unidades produtivas definidas conforme o conceito microeconômico de empresas. Optou-se por uma terminologia ampla, não sem descurar dos diferenciais qualitativos que tipificam, por exemplo, empresas de grupos econômicos – estes últimos mais amplos que os primeiros. Mais importante, porém, é considerar que, qualquer que seja a terminologia utilizada, deve-se diferenciar sua inserção em um contexto de concorrência perfeita – típica de análises ortodoxas – ou de concorrência oligopolista, conforme alerta Silva (2004). Esta tese alinha-se a uma concepção histórica e dinâmica do processo concorrencial e procura confrontar as unidades empresariais segundo a tipologia oligopolista que assumem, aproximando-se do conceito de homogeneização trabalhado por Oliveira (2008). O conceito relativo às empresas e grupos econômicos – sintetizado na noção de "frações de capital" – será discutido mais adiante.

(31)

Os estudos de Celso Furtado, Wilson Cano, Francisco de Oliveira, Tania Bacelar e Leonardo Guimarães Neto são fundamentais, por apontar a forma segundo a qual ocorreu o processo de desenvolvimento regional brasileiro desde uma perspectiva multiescalar. Esses autores enfatizaram as transformações que permearam o modo como os distintos espaços subnacionais vieram a se estruturar, ao longo da história, e as relações entre eles estabelecidas, à medida que avançava o processo de constituição (i) do mercado consumidor nacional e (ii) do sistema nacional integrado de produção.

A propósito, um dos principais aspectos que pode ser extraído das referidas

análises – sobretudo da sistematização elaborada por Wilson Cano5 – é a proposta de

uma periodização relativa ao processo de desenvolvimento regional brasileiro, compreendendo três grandes fases: a do isolamento relativo, a da articulação mercantil e a da integração produtiva. O elemento central de cada uma dessas fases é a redefinição quali-quantitativa das relações entre espaços diferenciados do país.

Até a década de 1930, o Brasil era constituído de regiões cujos vínculos com o mercado externo eram mais fortes do que os inter-regionais, de modo que os referidos intérpretes da problemática regional brasileira afirmaram que o País poderia ser ilustrado, em metáfora, como uma federação de “arquipélagos regionais", por eles associada ao modelo primário-exportador até então prevalecente.

Os desdobramentos da Crise de 1929 e a internalização do centro dinâmico da

economia – aproveitando-se da constelação de fatores produtivos, constituídos desde o

final do século XIX, e da retração dos fluxos internacionais de mercadorias, prolongada em

virtude da 2ª Guerra Mundial – permitiram o desencadeamento de um processo de

industrialização substitutivo de importações no País (FURTADO, 1977).

A partir de então, acelerou-se a constituição de um mercado consumidor interno. O inédito padrão de desenvolvimento e a emergência de uma classe industrial

com representação política significativa – além de um Estado que assumiria intervenções

cada vez mais voltadas à industrialização – evidenciavam a impossibilidade de “volta ao

passado”, ou seja, de predominância dos interesses primário-exportadores para a determinação dos rumos econômicos nacionais (CANO, 1977).

5

(32)

Em sobreposição ao insulamento do País, em bases regionais, é nesse contexto que se dá a primeira fase da integração do mercado nacional, ou seja, a de articulação mercantil, na qual se verifica o aumento do fluxo comercial entre as regiões brasileiras (GUIMARÃES NETO, 1989).

À articulação mercantil seguiu-se a fase de integração produtiva, a partir de 1955. No caso do Nordeste, o marco da integração produtiva foi a já referida criação da

SUDENE, em 1959. A industrialização – em sentido amplo, isto é, englobando

modificações estruturais também no setor primário – era vislumbrada como solução para o atraso econômico regional. Para tanto, foram criados os mais diversos instrumentos, entre os quais merecem destaque os mecanismos de financiamento e subsídio aos investimentos. Era na indústria incentivada que se depositaria a esperança de transformação econômica e social da Região (GUIMARÃES NETO, 1989; OLIVEIRA, 2008).

A integração produtiva brasileira teve como principal resultado uma estreita vinculação da dinâmica econômica do País, do Nordeste e de Pernambuco, modificando, em relação ao período 1929-30/1955-56, a forma segundo a qual a Região e o estado se relacionavam com o restante do País. O Gráfico I.1, elaborado a partir de um conjunto de

fontes secundárias6, atesta a tendência apresentada por esse atrelamento.

A observação das médias móveis quinquenais das taxas de crescimento anual dos PIB brasileiro, nordestino e pernambucano, no período de 1960-2010, mostra que a dinâmica periférica (regional e estadual) se dava no mesmo sentido da nacional, embora com distinta intensidade e com esperadas diferenciações. Assim, o que importa ressaltar é que os ciclos que caracterizaram a economia brasileira, a partir dos anos 1960, se reproduziram, respeitando especificidades, na economia nordestina e pernambucana (Gráfico I.1).

6

O Gráfico 1.1 foi elaborado segundo o instrumental metodológico das médias móveis quinquenais, proposto por Ignácio Rangel, quando este autor estudou os ciclos de Kondratiev aplicados à economia brasileira. Rangel (1990) tinha como método básico definir um peso maior ao "ano intermediário" da série de cinco anos e ponderá-la por um denominador de sexta ordem, o que lhe permitia evidenciar as tendências cíclicas de forma mais nítida, centradas no ano intermediário da série. O limite à elaboração de um gráfico desse tipo – que não possui pretensões a exatidão, senão tendenciais – é a disponibilidade de uma série histórica de dados, que permita encadear períodos cobertos por diferentes metodologias. Para elaborá-lo, foi necessário adaptar informações de distintas instituições oficiais de pesquisa, sob a já referida "licença" de não pretender apresentar taxas de crescimento exatas para todo o período, mas tão somente a dinâmica cíclica da economia brasileira e a articulação engendrada com as economias do Nordeste e de Pernambuco.

(33)

Gráfico I. 1 – Brasil, Nordeste e Pernambuco: taxas de crescimento do produto interno bruto (médias móveis quinquenais, em % a.a.), 1961-2010

Fonte: IBGE-Contas Nacionais; IBGE-Contas Regionais; FGV; SUDENE; PIMES. Nota: a série apresentou retropolação, a partir de 1995.

Em um primeiro momento, correspondente aos anos de 1960 a 1965, a economia brasileira registrou uma redução no ritmo de acumulação de capital, após a expansão ocorrida em função da execução do Plano de Metas (1956-1961). Teve início, então, a crise política que resultou no golpe militar, em 1964, dando origem a reformas econômicas relevantes, que "preparariam o salto" de crescimento do ciclo posterior (Gráfico I.1).

A partir do biênio 1966/1967, até 1973, o crescimento econômico seria retomado, na fase do denominado "Milagre", quando se aprofundou a industrialização pesada mediante o avanço de segmentos como o de máquinas e equipamentos. Começaram, também nessa fase, o processo de modernização conservadora da agricultura brasileira e os significativos aportes à indústria da construção civil, por meio de obras de infraestrutura (rodoviária e de energia) e de edificações residenciais (estimuladas pela política habitacional do Banco Nacional de Habitação – BNH).

Entre 1974 e 1979, a economia brasileira ainda registrava taxas expressivas de crescimento, mas em um ritmo cada vez mais frágil, em "marcha forçada". A dinâmica desse período deveu-se ao bloco de investimentos do II PND, cujo objetivo era "aprofundar a substituição de importações" pela instalação de plantas produtoras de bens de capital e de bens intermediários. Essa estratégia, porém, foi atrelada a um significativo endividamento externo, como atestam Castro e Souza (2008), Lessa (1983) e Tavares (1998). -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 1 9 6 3 1 9 6 4 1 9 6 5 1 9 6 6 1 9 6 7 1 9 6 8 1 9 6 9 1 9 7 0 1 9 7 1 1 9 7 2 1 9 7 3 1 9 7 4 1 9 7 5 1 9 7 6 1 9 7 7 1 9 7 8 1 9 7 9 1 9 8 0 1 9 8 1 1 9 8 2 1 9 8 3 1 9 8 4 1 9 8 5 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 M é d ias m ó v e is q u inq u e n a is ( e m %) BR NE PE

(34)

De 1980 a 1985, a reversão no cenário externo – com súbita elevação dos

custos do endividamento ocorrido na fase anterior – levaria a economia brasileira a

adentrar em um ciclo recessivo, marcado pela necessidade de ajuste e pela crise fiscal e financeira do Estado. A resultante disso foi a adoção de políticas macroeconômicas ortodoxas, em sacrifício do desenvolvimento econômico. O curto prazo passaria a ser o horizonte de ação da tomada de decisão política e as tentativas de controle da inflação, a principal preocupação do Governo (CARNEIRO, 2002).

A segunda metade dos anos de 1980 caracterizou-se por um ciclo de tentativas fracassadas de controle da inflação. Continuou-se a centrar a ação governamental na busca de mecanismos capazes de controlar a alta de preços, do que resultava, como resíduo, a preocupação com o crescimento da base econômica (CARNEIRO, 2002).

De 1990 a 1994, a chegada ao poder de um Governo de orientação neoliberal levou à abertura comercial e financeira do País, o que representava, em última instância, uma adesão quase automática ao Consenso de Washington. Nessa fase, a "agenda da competitividade" foi incorporada às estratégias de crescimento econômico e, para que resultasse efetiva a proposta de fazer convergir a estrutura econômica nacional aos padrões técnicos dos países centrais, seria levado a cabo um plano de estabilização monetária, denominado "Plano Real" (BELLUZZO e ALMEIDA, 2002).

Entre 1995 e 2003, após o êxito do Plano Real em termos de estabilização monetária e de geração de impactos positivos mais imediatos na atividade econômica, iniciou-se um período de dificuldades no que se refere à retomada do crescimento, em virtude da adoção do "tripé macroeconômico" – superávit primário, câmbio flexível e metas

de inflação – a partir de 1999. Lastreado pela definição de uma taxa de juros bastante

elevada, o "tripé" geraria, ainda, rendas diferenciais, obtidas pela vinculação da política de estabilização a interesses do sistema financeiro. Foi nesse ciclo que a política de estabilização teve de "honrar" as contrapartidas de seu êxito, na forma de privatizações e de perda de autonomia pública, em relação às principais empresas nacionais, mas também no pagamento de serviços da dívida (BELLUZZO e ALMEIDA, 2002).

Já a partir de 2004, a mudança no cenário externo favoreceu a redução da vulnerabilidade que caracterizou o ciclo anterior. O "Efeito China" permitiu a intensificação das exportações de produtos primários, com preços internacionais das commodities em

(35)

elevação, o que revigorou o padrão histórico de inserção internacional do País e permitiu ao Governo de ocasião atuar, de forma mais progressista que o anterior, sobretudo na área social e, com restrições orçamentárias e de execução, no setor produtivo (SARTI e HIRATUKA, 2011).

Ao avanço das exportações se somariam (i) o crescimento do consumo das famílias, estimulado pela expansão da concessão de crédito, pela elevação real do salário mínimo e por políticas sociais pautadas em transferências diretas de renda; e (ii) o aumento da concessão de financiamento a inversões públicas e privadas, a despeito da sustentação de políticas fiscais restritivas (CANO, 2014).

De todo modo, se os efeitos da crise financeira mundial eclodida em 2008 abriram espaços para maior intervenção do Governo na economia, a manutenção do modelo macroeconômico criado em 1998 impediu avanços substantivos na retomada do crescimento que se havia verificado a partir de 2005, contrabalanceado pela manutenção do tripé "metas de inflação, câmbio flexível e superávit primário".

Com isso, a pujança do período 2004-2008 apresentou tendência de reversão e, pelo menos nos últimos quatro anos, a economia brasileira tem apresentado desempenho problemático. Um resultado associado, segundo Gonçalves (2012), à não-superação da desindustrialização, à reprimarização das exportações, à maior dependência tecnológica, à desnacionalização, à perda de competitividade internacional, à crescente vulnerabilidade externa estrutural e à dominação financeira sobre o resto da economia nacional.

Do exposto, fica evidenciada a necessidade de se terem em vista as condições históricas prevalecentes, o padrão de inserção internacional a que se sujeitou o País e o caráter assumido pela industrialização. De fato, em um quadro de integração produtiva, a dinâmica nacional redunda em condicionar a região Nordeste e respectivos estados.

I.3 Transformações na estrutura de capital: proposta analítica e

metodológica

Conforme se destacou, com base no Gráfico I.1, a "região", se bem que possua especificidades em relação à economia brasileira, reproduziu o "acionamento" emanado da integração produtiva comandada a partir de São Paulo, onde houvera sido

(36)

constituída uma estrutura econômica dotada de condições de hegemonizar o processo de desenvolvimento regional no Brasil (CANO, 1977).

Conhecer as particularidades da evolução da economia nordestina –

denominada, por alguns autores7, como “solidária” em relação à dinâmica nacional – é

condição prévia para enfatizar-se a estrutura econômica de Pernambuco, identificando-se nela os efeitos decorrentes da integração produtiva. Assim, os traços gerais que caracterizam os ciclos econômicos do País, nas cinco últimas décadas, devem ser aprofundados, em especial quanto à forma como se disseminou em termos espaciais.

A região Nordeste, por exemplo, apresenta uma conformação específica, quando se tem em vista, de um lado, a constituição intraespacial que a tipifica e, de outro lado, o recorte histórico aplicado a este trabalho. Segundo estimativas do IBGE, a participação regional no PIB nacional está centrada em torno da média de 13%, o que "esconde" mudanças intra-regionais relevantes, em especial no que se refere às economias que detêm a primazia regional.

O Gráfico I.2 evidencia como os três principais estados nordestinos (Bahia, Ceará e Pernambuco) tiveram modificados os pesos relativos no produto regional, ao longo do período de 1960-2009: a Bahia, de uma posição intermediária, no início dos anos de 1960, passa, já no início dos anos de 1970, à condição de primazia no Nordeste,

consolidando esse posto na segunda metade da década – em função da entrada em

operação do polo petroquímico de Camaçari – e alcançando, em 1983, a expressiva

participação de 49,1% no PIB regional.

Outro estado cuja importância cresce, ao longo dos anos, é o Ceará: de uma participação no PIB regional que gravitou entre 9%, no início da década dos 1960, e 9,9%, no início dos anos de 1980, a economia cearense ascendeu a 19,2% do PIB regional, no

início do decênio de 1990, pautada em uma atuação agressiva em termos de “Guerra

Fiscal” (Gráfico I.2).

Durante todo o período, fica claro que a economia cujo peso regional diminuiu foi a pernambucana. Principal estado da Região em 1960 – condição que, a rigor, já vinha em declínio, desde o final da 2ª Guerra Mundial – Pernambuco detinha tão somente 19,2%

7

(37)

do total do PIB do Nordeste, em 1985. Mesmo apresentando breve recuperação na segunda metade dos anos de 1980, associada ao descenso da produção baiana no período e ao impulso do Plano Cruzado sobre o poder de compra da população, a partir dos 1990 a economia estadual entrou em trajetória de queda, alcançando não mais que 16,1% do PIB regional, em 2009.

Gráfico I. 2 – Bahia, Ceará e Pernambuco: participação no PIB total do Nordeste (em %), 1960-2009

Fonte: IPEADATA, sobre bases de dados diversas relacionadas às Contas Regionais.

As constatações retiradas do Gráfico I.2, embora indiquem que a base produtiva do Nordeste esteve mais ou menos concentrada, ao longo do tempo, nos estados referidos, não permitem antever questões estruturais relacionadas ao processo de desenvolvimento de cada um deles. As transformações decorrentes do processo de desenvolvimento capitalista no País e da integração produtiva regional são fatores determinantes e intrínsecos à maior ou menor capacidade de uma economia estadual contribuir com a produção de determinada região.

É preciso, antes, diferenciar a natureza dos referidos fatores determinantes ao longo do tempo. Considerada uma economia que se integra ao restante do país em uma perspectiva produtiva, caso do Nordeste após a SUDENE,

A acumulação independe da capacidade de geração interna de excedentes do subsistema. Tal acumulação pode ocorrer num ritmo que pouco tem a ver com os interesses imediatos e os limites estreitos do potencial de acumulação da região que se constitui o destino das transferências do capital produtivo. Este capital, como relação de produção que é, traz consigo uma teia de vínculos e exigências que tende a se generalizar no contexto onde se dá sua reprodução ampliada (GUIMARÃES NETO, 1989, p. 18) 29,7 49,1 37,9 9,0 9,9 15,5 31,6 19,4 16,1 -5,0 5,0 15,0 25,0 35,0 45,0 55,0 1 9 6 0 1 9 6 1 1 9 6 2 1 9 6 3 1 9 6 4 1 9 6 5 1 9 6 6 1 9 6 7 1 9 6 8 1 9 6 9 1 9 7 0 1 9 7 4 1 9 7 5 1 9 7 6 1 9 7 7 1 9 7 8 1 9 7 9 1 9 8 0 1 9 8 1 1 9 8 2 1 9 8 3 1 9 8 4 1 9 8 5 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 BA CE PE

(38)

Tendo isso em vista, o que se propõe neste trabalho é, no quadro mais amplo do desenvolvimento capitalista brasileiro e da sua expressão regional, observar a trajetória econômica de Pernambuco, a partir de 1960, e, face a transformações estruturais, nela identificar o modo segundo o qual a acumulação do capital refletiu o desaparecimento, a consolidação, a transformação ou mesmo o surgimento de grupos empresariais.

Trata-se, portanto, de primeiro apontar os aspectos mais relevantes do ambiente econômico, no qual se inserem os principais grupos econômicos e empresas do Estado, para então descortinar a forma como essas frações de capital responderam às determinações concorrenciais vigentes nos períodos considerados. Enfatizam-se duas dimensões de um mesmo processo, apenas observado por diferentes – e complementares – prismas: a transformação da estrutura econômica.

Consideram-se, assim, as "distintas camadas" em que o poder econômico se expressa: aquelas que derivam do encaminhamento do próprio processo de acumulação de capitais, em escala estadual; e as transformações ocorridas ao nível das empresas, envolvendo a centralização de capitais, a monopolização e o controle do núcleo de acumulação da economia em questão, em perspectiva micro.

Não é ocioso afirmar que a proposição de uma tarefa, como a que aqui se advoga, é complexa. A maior dificuldade reside em características que são caras à evolução empresarial em países subdesenvolvidos: a falta de transparência e a aura de mistério que envolve questões relativas ao poder econômico de determinados grupos, sobretudo daqueles que não são obrigados a divulgar ao público informações de gestão

financeira e contábil das firmas que controlam8.

Nesse sentido, os trabalhos empreendidos por Luís Stolovich (1990), analisando o caso uruguaio, e por Eduardo Basualdo (2000), dedicado ao caso argentino, são fundamentais, por se dedicarem a temática semelhante e por estarem dotados de um

aporte metodológico da maior importância9.

8

A microeconomia brasileira possui sua "caixa preta", mas envolvendo questões que antecedem, em muito, os aspectos destacados por Penrose (2006), em livro já clássico sobre a evolução das firmas. Como destacou Cano (2010), o segredo é uma das regras de ouro do capitalismo brasileiro, sobretudo para as frações de capital que se dedicam à acumulação mercantil.

9

As indicações bibliográficas foram feitas, respectivamente, por Carlos de Mattos, professor titular de Economia Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Chile e pesquisador aposentado da CEPAL, e por Martin Schorr, professor da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), sede Buenos Aires. Ambos concederam preciosas entrevistas que versaram sobre o tema deste trabalho e a eles se devem registrar agradecimentos.

(39)

Os referidos autores destacam a necessidade de conceber um método histórico-estrutural, para analisar a evolução empresarial. Assim procede este trabalho: para efetuar o estudo das principais frações de capital atuando em uma economia subnacional, parte-se do reconhecimento de que é preciso compreender, primeiro, o

desenvolvimento econômico do país e sua organização espacial10.

Em seguida, a análise da estrutura econômica subnacional é útil por fornecer indícios gerais e parciais sobre a evolução das frações de capital mais relevantes, atuando no Estado. Esse enfoque também permite periodizar a evolução econômica de

Pernambuco, segundo o quadro mais amplo de integração produtiva11. Além disso,

viabiliza situar os principais grupos econômicos frente ao contexto econômico, identificando características básicas e os determinantes das respectivas estratégias de acumulação empresarial.

Por ser histórico, o método avança no sentido de entender como ocorreram a reestruturação e a reconversão das maiores frações de capital em atuação na economia estadual. Para tanto, considerou-se conveniente captar o essencial das transformações empresariais ocorridas em Pernambuco, a partir de algumas categorias teóricas, ao invés

de deter o estudo em análises pormenorizadas de um ou outro grupo econômico12.

É válido reconhecer que, para o processo de desenvolvimento do Nordeste, iniciado na década de 1960, foram fundamentais as empresas oligopolistas do Centro-Sul.

Incentivadas pelos mecanismos vigentes de desenvolvimento regional13, provisionados

10

Faz-se referência, especificamente, (i) aos distintos processos de desconcentração produtiva, nos 1970 e 1980; (ii) à tendência de "fragmentação da nação", em que prevalecia a inserção externa seletiva de alguns espaços regionais, enquanto recrudescia a Guerra Fiscal entre unidades federadas, nos 1990; e , (iii) com maior intensidade a partir dos anos de 2000, ao desenvolvimento regional com base em políticas regionais implícitas e baseadas em enfoques setoriais.

11

A adoção de uma periodização específica não evita a ocorrência de problemas metodológicos diversos, na base de dados utilizada, que ficam evidenciados à medida em que as informações são tratadas com maior nível de detalhe. As principais questões levantadas a esse respeito foram trabalhadas no Anexo.

12

Esse é um enfoque típico de estudos de Administração de Empresas, usualmente denominados de cases e quase sempre restritos aos "cases de sucesso", cujos méritos são atribuídos aos gestores e/ou proprietários desses grupos. Esse não é, em definitivo, o caso deste trabalho, que parte do pressuposto de que o capital é uma relação social (MARX, 1983). Como tal, analisá-lo prescinde de argumentos ad hominem: significa identificar comportamentos de empresários que subjazem nos processos de transformação da própria economia e sociedade.

13

Esse processo, na verdade, encontra referências teóricas na seguinte passagem de Guimarães (1987: 77): "A exportação de capital pela firma (...) resulta do mesmo processo que induz a exportação de mercadorias: isto é, da dinâmica de indústrias oligopolistas com potenciais de crescimento superiores ao ritmo de expansão dos mercados domésticos". Completa o referido autor: "o desequilíbrio que induziria a firma a exportar é mais provável em indústrias oligopolistas do que em indústrias competitivas". Esse foi, precisamente, o caso da integração produtiva brasileira,

(40)

pelo Estado, essas empresas aportaram no território estadual e definiram, para o Nordeste, uma função na divisão inter-regional do trabalho, que então se estabelecia.

Integrada à dinâmica nacional, mediante um conjunto de empresas filiadas a matrizes do Sudeste do País, o movimento da estrutura de capital em Pernambuco passaria a refletir, como consequência lógica, as redefinições ocorridas em nível nacional14.

Mesmo assim, é importante destacar a necessidade de realizar-se uma análise que reflita a memória regional, no caso, a partir de um enfoque sobre as frações pernambucanas de capital, associadas aos setores que foram fundamentais para a história empresarial da economia estadual.

O que se pode afirmar, desde já, é que do ponto de vista das frações de capital, a evolução econômica em Pernambuco guardou notável rearranjo das unidades

empresariais. Não se tratou de um movimento unidirecional de

fechamento/desaparecimento de firmas: envolveu, também, transferências de

propriedade, fusões, aquisições e mesmo o surgimento de novas empresas, para não mencionar relações sociais e políticas, processos que estiveram relacionados às determinações supraescalares transmitidas pela "correia de transmissão", que caracterizou o desenvolvimento regional, a partir de 1960 (OLIVEIRA, 2008).

I.4 Frações de capital: definição conceitual e adequação ao tema

Um aspecto necessário para discutir a evolução empresarial, em determinado

espaço, diz respeito ao conceito de frações de capital utilizado15: conjunto de empresas,

famílias e indivíduos que controlam "parcelas consideráveis e crescentes dos ativos, da produção, das trocas e dos fluxos financeiros da indústria, construção civil, agricultura e comércio" (PORTUGAL JR et al., 1994, p. 5).

Trata-se, portanto, mais de enfatizar quem exerce poder econômico – haja vista a ascendência em termos de produção, geração de tributos, divisas etc., que denota

14 Isso significa que, para compreender a contento a dinâmica das principais empresas da economia local – envolvendo

a participação de empresas filiadas a unidades produtivas do Sudeste – torna-se necessário remeter às determinações mais gerais do próprio processo de desenvolvimento capitalista no País, análise que será realizada no próximo capítulo.

15

Neste trabalho, os termos "frações de capital", "grupos econômicos", "grandes empresas" e "principais empresas" são utilizados de forma sinônima, sem descurar da evidente hierarquização existente entre controlados de grupos econômicos e empresas, expressa no tamanho das firmas. Para que não reste dúvida, privilegia-se, neste trabalho, um enfoque sobre as maiores empresas.

(41)

decisiva capacidade de influenciar os rumos da sociedade e, na maior parte dos casos, de

atuação do Estado – do que distinguir grupos econômicos de grandes empresas, muito

embora isso seja feito, sempre que necessário.

Do ponto de vista microeconômico, as "frações de capital" aqui consideradas são sujeitos ativos e diferenciados no ambiente concorrencial, dimensão privilegiada para identificar as características que possuem e que se confundem com estruturas oligopolistas, quais sejam:

 A de possuir vantagens comparativas em relação a outras firmas/grupos,

originadas de barreiras à entrada ou da condição de first movers, que permitem ao grande capital exercer poder de mercado, definir preços, bem como manter esse poder mediante da crescente incorporação do progresso técnico (BAIN, 1956);

 A de atuar visando a economias de escala, isto é, reduzindo o custo unitário

em virtude do aumento da produção, reforçando, com isso, a tendência à oligopolização e posicionando o investimento como elemento de preservação da estrutura industrial vigente (STEINDL, 1983; GUIMARÃES, 1987);

 A de adotar estratégias de diversificação, combinando diversos

estabelecimentos sob um mesmo centro de comando – tendo em vista,

portanto, a obtenção de economias de escopo e o reforço da diferenciação relativa a outros grupos/firmas (CHANDLER JR, 1990);

 A de manter relações privilegiadas com o Estado, influenciando a execução

de políticas públicas e a alocação de recursos – na forma de financiamento ou de supressão de impostos – em prol de determinada finalidade, como a obtenção de uma taxa de lucro adequada. Nos principais países do mundo, a literatura mostra que essas relações entre o setor público e o setor privado foram associadas à constituição de importantes conglomerados, imbricando capitais em função industrial e financeira, como na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos (BORCHARDT, 1987; TORRES FILHO, 1983; HOBSON, 1983).

(42)

Além de enfatizar esses aspectos teóricos, dois procedimentos devem ser salientados para a compreensão e adequação da teoria ao caso concreto, que será doravante analisado.

Em primeiro lugar, é preciso destacar a historicidade do conceito de grande empresa; e, em segundo lugar, entender as especificidades daquelas que atuam em determinado território, para definir a trajetória empresarial como produto de múltiplos fatores, endógenos e exógenos à firma, que podem extrapolar delimitações teóricas, sempre e quando estas não forem revistas.

É preciso considerar que, a rigor, o grande capital se apresenta de distintas formas, conforme a escala analítica com a qual se trabalha. Em se tratando da economia mundial, importa levar-se em conta a capilaridade das grandes empresas, no que se convencionou denominar, no período recente, de cadeias globais de valor (GEREFFI, 2005).

Tais cadeias resultam da reestruturação capitalista após 1970, quando, egresso da organização industrial fordista típica do período keynesiano, emergiu um padrão de acumulação mais flexível, em que processos produtivos foram fracionados e "relocalizados", aproveitando-se da oferta de vantagens comparativas em diversos locais do mundo e tomando como referência a ascensão da globalização financeira como padrão hegemônico de acumulação (CHANDLER JR, 1990; SWYNGEDOUW, 1997; HARVEY, 1993).

No caso da economia brasileira, urge descortinar o padrão de acumulação de capital prevalecente no País, ao longo dos anos. Só então faz sentido estipular o papel das grandes empresas em escala subnacional, por meio da interação com a estrutura econômica de uma "região" e do modo como essas grandes empresas participam e se inserem no desenvolvimento capitalista ocorrido.

Entende-se, portanto, que a acumulação das frações de capital perpassa o

ajustamento ao ambiente macroeconômico vigente, instância que expressa

transformações estruturais observadas de uma perspectiva agregada. Por isso, julgou-se conveniente estudar não um caso específico de evolução empresarial, mas um conjunto de empresas, para a análise do desenvolvimento capitalista brasileiro e de Pernambuco.

Referências

Documentos relacionados

É pretensão ao término dessa pesquisa, apresentar dados sobre as ações desenvolvidas à Universidade Estadual de Goiás, referente às contribuições sociais à comunidade

10 Portinado Portinado-Assoc Natacao de Portimao 1:36.66. 11 Uniao

Esse procedimento metodológico pretende utilizar-se da vivência, da experiência e do cotidiano dos alunos Bolsistas do Programa PIBID dos cursos de Licenciatura

Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC – T0).. Uma população muito maior, estimada em três bilhões de pessoas, sofre os efeitos da deficiência de micronutrientes porque

Assim, em continuidade ao estudo dos mecanismos envolvidos na morte celular induzida pelos flavonóides, foi avaliada a exposição da fosfatidil serina na membrana das células HepG2

Classificação, em etapas silvigenéticas Machado & Oliveira-Filho, 2008a, dos 19 fragmentos de florestas estacionais da região do Alto Rio Grande MG, tendo como base a porcentagem

Não podemos deixar de dizer que o sujeito pode não se importar com a distância do estabelecimento, dependendo do motivo pelo qual ingressa na academia, como