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Contextos relacionais de desenvolvimento e vivência corporal

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Academic year: 2021

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(1)CONTEXTOS RELACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO E VIVÊNCIA CORPORAL. Tese apresentada para a obtenção do Grau de Doutor em Psicologia pela Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, sob orientação da Professora Doutora Maria Emília Costa e co-orientação da Prof. Doutora Paula Mena Matos.. Porto, 2008.

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(3) Este estudo (Projecto POCI/ PSI 61722/ 2004) foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior no âmbito da Medida V.4- Investigação e Desenvolvimento Científico-Tecnológico, Acção V.4.1. Projectos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (I & DI), do Programa Operacional Ciência e Inovação 2010.. União Europeia – Fundos Estruturais. Governo da República Portuguesa. -i-.

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(5) .. Para os meus amores: …a minha família, … os meus amigos, … o Patrício!. Para a minha avó…cuja ternura esteve, está e estará sempre a tocar o meu coração.. - iii -.

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(7) AGRADECIMENTOS… Não é tarefa fácil enumerar todos aqueles que tornaram este trabalho viável ou influenciaram a sua concretização. Embora a escrita de um trabalho desta natureza seja frequentemente uma tarefa solitária, nunca me senti sozinha e devo-o certamente à contribuição de todos aqueles que. sempre me apoiaram e acreditaram em mim! Seria impossível nomeá-los a todos, excedia o espaço que tenho disponível para esta tarefa, mas não quero deixar de referir alguns nomes (os que eu omiti sabem que lhes agradeço do fundo do coração!). À Professora Doutora Maria Emília Costa, que me inspirou a embarcar nesta jornada e com muito carinho me foi guiando com os seus pertinentes comentários e discernimentos teóricos, pelo apoio, e. críticas construtivas. Agradeço-lhe pela forma carinhosa com que sempre me apoiou e desafiou ao. longo do meu percurso profissional, permitindo-me desenvolver a confiança e autonomia necessárias para a concretização deste trabalho e de outros trabalhos!. Um agradecimento muito especial à Prof. Doutora Paula Mena Matos - a minha bússola - que, de. forma paciente e cuidada, me foi guiando nesta caminhada! Pelo seu rigor e profissionalismo, pelos. insights e condutas, que sempre me inspiraram. Pelo desafio e segurança que sempre me transmitiu. ao longo do meu percurso profissional e cujo reconhecimento não conseguiria expressar por palavras…. À Fundação para a Ciência e a Tecnologia – Ministério da Ciência e do Ensino Superior, o meu agradecimento por ter apostado neste projecto, favorecendo a sua concretização e implementação.. Estou igualmente grata à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação pelos recursos que me proporcionou para concretizar esta importante etapa da minha vida profissional.. À Drª Ema Loja e à Drª Tânia Gouveia que, enquanto bolseiras de investigação, tiveram um papel. efectivo na execução deste trabalho, desempenhando, sempre com um sorriso, a tarefa desafiante de realizar e, sobretudo, codificar as entrevistas. Pelo seu apoio e incentivo.. À Prof. Doutora Cidália Duarte pelas manifestações de apoio e por me ter substituído nas minhas funções docentes.. À Professora Doutora Anne Marie pelas suas constantes palavras de incentivo e por se ter disponibilizado na tradução do resumo para francês.. O meu reconhecimento vai também para todos aqueles que se disponibilizaram a cooperar neste. estudo: aos professores, colegas e alunos que ajudaram na recolha dos dados, aos órgãos de gestão das. instituições envolvidas e, finalmente, para os alunos que voluntariamente acederam participar nesta investigação que, sem eles, não seria possível! Não podia deixar de prestar um reconhecimento muito especial aos 49 participantes que generosamente partilharam as suas histórias e o seu tempo, ajudando-me a enriquecer a minha história também!. Aos meus alunos, com quem continuo a aprender, pelo incentivo e compreensão nesta jornada.. -v-.

(8) Não posso deixar de referir também os meus colegas e amigos da FPCEUP, pelo incentivo, pelo apoio. incondicional, pelo tempo e disponibilidade, pelos sorrisos, desabafos partilhados, etc., etc…. Em particular às Profs. Doutoras Isabel Pinto e Marta Santos e ao Engº Eugénio pelo constante. incentivo e apoio demonstrados e porque transformaram sempre os nossos almoços em momentos inesquecíveis de partilha, de relaxamento e de “invejosas” gargalhadas…um antídoto para o stresse que acompanha um trabalho desta natureza!. Aos Profs Doutores Carlos Gonçalves, Luís Coimbra, Isabel Menezes, Selene Vicente, Rui Serôdio,. Sandra Torres e Nuno Gaspar pelas palavras amigas e de estímulo que sempre acompanharam os nossos “encontros”, ainda que de corredor!! À Drª Graça Silva, à D. Luísa Santos, à Prof. Doutora Joana Oliveira, obrigada pelo vosso constante carinho …. Aos meus amigos e colegas desta árdua caminhada de assistente a doutorado!! Em especial à Drª. Susana Coimbra pela sua amizade incondicional e incentivo, ao Dr. Ricardo, à Drª Alexandra Oliveira, ao Dr. Rui Alves e Dr. Albino, pelas angústias, catarses e muitos momentos de boa. disposição que partilhámos…e por sentir sempre o vosso apoio! Vá lá força, está quase!! Temos muitos jantares para pôr em dia!!!. Às minhas amigas e companheiras de tantas e divertidas “viagens” pela ciência e não só!! À Drª. Joana Cabral, pela crescente e forte amizade, à (recém!) Prof. Doutora Magda Rocha, à Drª Helena Carvalho, à Drª Catarina Mota e à Drª Paula Oliveira, pelos inesquecíveis momentos de partilha,. de conhecimentos e de gargalhadas, pelo apoio…e com as quais estabeleci uma relação muito especial…já sinto saudades dos “nossos” congressos!!. Às minhas eternas e queridas amigas Margarida, Filomena, Gabi e Ana pelos momentos e sorrisos partilhados, pelo encorajamento e apoio constantes, mesmo nas minhas ausências…A ti Filó, um reconhecimento muito especial! A todos os outros que, de uma forma ou de outra, estiveram sempre lá. para mim e que sempre me incentivaram e apoiaram nos grandes momentos da minha vida. É bom. ter amigos assim!. Reservo os meus agradecimentos finais para a minha família, pelo amor, apoio incondicional, pela. compreensão e tolerância que sempre demonstraram. Aos meus pais um agradecimento muito especial por tudo aquilo me que deram e ensinaram a dar… particularmente, o significado de “base segura”…. Em memória da(s) minha(s) avó(s), que mantém(êm) a sua luz sobre mim… Por último, mas não menos importante, a ti Patrício, pela constância do teu apoio, pela bem-. humorada paciência e perseverança que sempre me incutiste, por NUNCA me largares a mão…pelo teu amor e compreensão, por TUDO e TUDO e TUDO… A medalha é para ti!!!. A todos vocês um muito obrigada!. Porto, Junho 2008. Raquel. - vi -.

(9) Resumo A vivência corporal é essencial para o conhecimento de nós próprios, além de ter importantes implicações em múltiplas áreas de funcionamento psicológico e na nossa qualidade de vida. Será fundamental entendermos como é que vivemos com o nosso corpo e como este medeia e é mediado pelas relações significativas. Este estudo baseia-se na perspectiva da vinculação e tem como principal objectivo explorar as possíveis relações entre a vinculação aos pais, pares e par romântico (de acordo com o modelo bi-dimensional de Kim Bartholomew) e a imagem e vivência corporais. Pretende-se, em particular, compreender como é que a qualidade das relações de vinculação mais significativas interfere na construção da imagem corporal de adolescentes e jovens adultos. O estudo é constituído por duas fases, sendo a primeira de natureza quantitativa e concedida à avaliação das percepções acerca da imagem corporal e aos padrões de vinculação aos pais, amigos e relações amorosas. Esta primeira amostra é constituída por 690 adolescentes e jovens adultos (242 rapazes e 448 raparigas) dos 15 aos 23 anos de idade. Os dados desta primeira fase do estudo foram, posteriormente, usados para a formação de uma segunda amostra de 49 participantes, utilizada num segundo momento deste trabalho. Nesta segunda fase, de natureza qualitativa, pretendeu-se conhecer e explorar, através de entrevistas semiestruturadas, as narrativas pessoais dos participantes, focando-se essencialmente na construção de significados acerca do corpo ao longo do desenvolvimento (a vivência do corpo relacional e emocional desde a infância até ao momento actual), visando, fundamentalmente, aceder aos processos desenvolvimentais/relacionais implicados na construção da imagem corporal de cada participante. A hipótese de que a qualidade da vinculação estaria associada à forma como os jovens vivem o seu corpo, a sua aparência e sua sensibilidade face à pressão por parte dos media e estereótipos nela veiculados foi, de uma forma geral, confirmada, verificando-se que os participantes com experiências mais positivas em termos relacionais são também aqueles que apresentam uma imagem corporal mais positiva. Embora as raparigas continuem a manifestar maior preocupação e insatisfação com o corpo, as diferenças começam a esbater-se, com os rapazes a apresentarem maior centração na aparência, comparativamente às raparigas. Este estudo pode constituir-se como fomentador de novas pistas para a compreensão deste fenómeno do corpo como fonte de mal-estar ou bem-estar e satisfação pessoal e relacional, com todas as implicações que terá ao nível dos agentes educativos e institucionais. Palavras-chave: Imagem corporal, Vinculação, Adolescência. - vii -.

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(11) Abstract Body experience is clearly central to our self-knowledge and has important implications for multiple areas of psychological functioning and to our quality of life. It is important to enhance our understanding of the role our body plays in one’s own life, the way body mediates our relationships and is mediated by them. This study, based in attachment theory, seeks to further the knowledge of the processes involved in the development and the construction of our body image, our personal meanings about the bodily experience, regarding the characteristics of the family, peer group and romantic attachment relationships (throughout Kim’s Bartholomew model of adult attachment). The study is constituted by two phases, being the first of quantitative nature and granted to the evaluation of the perceptions concerning the body image and to attachment patterns to parents, friends and romantic relationships. This first sample is constituted by 690 adolescents and young adults (242 boys and 448 girls), between 15 to 23 years of age. Later, the data of this first phase of the study were used to the construction of a second sample of 49 participants, used in a second moment of this work. In this second phase, of qualitative nature, it intended to know and to explore, through semi-structured interviews, the personal narratives of the participants, being focused essentially in the construction of meanings concerning the body along the development (the existence of the relational and emotional body from the childhood to the actual moment), seeking, basically, to accede the developmental/relational processes implicated in the construction of each subject's body experience. Generally, the hypothesis that the quality of attachment relationships would be associated to the way participants lived their body, their appearance and their sensibility to media and stereotypes pressure was confirmed, being the participant’s with more positive relational experiences also those that present a more positive body image. Although girls continue to evidence larger body concerns and dissatisfaction, these differences begin to weaken, with boys being more centered in appearance importance, comparatively to girls. Finally, this study may specify guidelines for the development of the quality of the adolescents psychosocial life, something which can be useful both to professionals educators which deal directly with adolescents as well as for political entities or decision makers. Key-words: Body image, Attachment, Adolescence. - ix -.

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(13) Resumé L’expérience corporelle est essentielle pour la connaissance de soi, en plus de les importantes implications dans de multiples domaines du fonctionnement psychologique et au niveau de la qualité de vie de chacun. Il set donne fondamental de comprendre comment chacun vit avec son corps et comment celui-ci médiatise et est médiatisé par les relations significatives. Cette étude se situe dans la perspective de l’attachement et a comme principal objectif l’exploration des relations possibles entre l’attachement aux parents, aux pairs et au partenaire romantique (en accord avec le modèle bidimensionnel de Kim Bartholomew), d’une part, et les images et le vécu corporels d’autre part. On prétend surtout comprendre comment la qualité des relations les plus significatives interfère avec la construction de l’image corporelle d’adolescents et de jeunes adultes. L’étude comporte deux phases, la première, de nature quantitative, est comparée à l’évolution des perceptions de l’image corporelle et des modèles d’attachement aux parents, amis et partenaire romantique. Le premier échantillon est formé de 690 adolescents et jeunes adultes (242 garçons et 448 filles) ayant entre 15 et 23 ans. Les donnés de la 1ª phase de l’étude ont été utilisés pour la formation de la seconde phase, de nature qualitative, qui prétendait connaître et explorer, au moyen d’entrevues semi-structurées, les narratives personnelles des participants, en se focalisant essentiellement sur la construction de significations à propos du corps tout one long du développement (le vécu du corps relationnel et émotionnel, de l’enfant jusqu’n moment actuel), visant, fondamentalement à accéder aux processus relationnels développement aux impliqués dans la construction de l’image corporelle de chaque sujet. L’hypothèse selon laquelle la qualité de l’attachement serait associée à la forme de vivre son corps, à son apparence et a sa sensibilité fade à la pression des médias et des stéréotypes qu’els véhiculent, fut, d’une façon générale, confirmée. On a vérifié que les participants dont les expériences sont plus positives en termes relationnels, sont aussi ceux qui présentent une image corporelle plus positive. Bien que les filles continuent à manifester plus de préoccupations avec leur corps, les différences commencent à s’estomper, avec des garçons qui se centrent davantage sur leur apparence, comparativement aux filles. Cette étude peut fomenter de nouvelles pistes pour la compréhension du phénomène du corps comme source de bien-être ou de « mal-être » et de satisfaction personnelle et relationnelle, avec toutes les implications au niveau des agents éducatifs et institutionnels. Mots clés: L´image du Corps, Attachement, Adolescence.. - xi -.

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(15) ÍNDICE ÍNDICE DE FIGURAS...........................................................................................................................XIX ÍNDICE DE QUADROS..........................................................................................................................XX ÍNDICE DE TABELAS ..........................................................................................................................XXI INTRODUÇÃO GERAL ......................................................................................................................XXIII CAPÍTULO 1. UM OLHAR SOBRE O CORPO: O CORPO QUE FOMOS, O CORPO QUE SOMOS ... 1 1.. 2.. 3.. O CORPO NA HISTÓRIA OU A HISTÓRIA DO CORPO............................................................................................... 2 1.1.. A idealização do corpo: a Grécia antiga................................................................................................................ 3. 1.2.. Um corpo em silêncio, proibido: o cristianismo ..................................................................................................... 6. 1.3.. O desprezo e mortificação do corpo/ o corpo paradoxal: a Idade Média.............................................................. 7. 1.4.. O novo corpo: a Era Moderna............................................................................................................................... 9. 1.5.. A crise do corpo: os nossos dias......................................................................................................................... 11. REPRESENTAÇÕES DO CORPO – DO CORPO FÍSICO AO CORPO SOCIAL........................................................ 20 2.1.. O corpo físico ...................................................................................................................................................... 21. 2.2.. O corpo psicológico............................................................................................................................................. 27. 2.3.. O corpo social, num tempo e num espaço.......................................................................................................... 29. IMAGEM CORPORAL: REUNINDO O BIOLÓGICO, PSICOLÓGICO E SOCIAL ...................................................... 38 3.1.. 4.. O conceito de Imagem corporal – ontem e hoje….............................................................................................. 38. O CORPO EM TRANSFORMAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: o que nos diz a investigação ...................................... 44 4.1.. A puberdade e os seus condicionalismos ........................................................................................................... 45. 4.2.. O corpo adolescente e os outros ........................................................................................................................ 48. 4.3.. Desenvolvimento da imagem corporal – influências individuais e culturais........................................................ 50. 4.3.1.. Género e imagem corporal ................................................................................................................................................ 51. 4.3.2.. Idade e imagem corporal ................................................................................................................................................... 59. 4.3.3.. A idealização da magreza e os estereótipos sociais de beleza ........................................................................................ 63. 4.3.4.. Outros aspectos influentes: proposta de modelos explicativos ......................................................................................... 69. 4.4.. Síntese ................................................................................................................................................................ 72. CAPÍTULO 2. O CORPO EM RELAÇÃO: CONTRIBUTOS DA TEORIA DA VINCULAÇÃO .............. 76 1.. A TEORIA DA VINCULAÇÃO: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CONCEITOS-CHAVE .................... 78 1.1.. As origens e o contexto… ................................................................................................................................... 78. - xiii -.

(16) 1.2.. 2.. 1.2.1.. Relação de vinculação e figura de vinculação................................................................................................................... 80. 1.2.2.. Sistemas e comportamentos de vinculação ...................................................................................................................... 82. 1.2.3.. Noção de base segura....................................................................................................................................................... 85. 1.2.4.. “Internal working models”: Modelos internos dinâmicos de vinculação............................................................................. 86. VINCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E NO JOVEM ADULTO.................................................................................... 91 2.1.. Vinculação aos pais e género do progenitor...................................................................................................................... 97. 2.1.2.. Vinculação aos pais e género do adolescente .................................................................................................................. 99. 2.1.3.. Vinculação aos pais e idade ............................................................................................................................................ 102. 2.2.1.. 2.3.. Relações de amizade na adolescência............................................................................................................. 104 Diferenças de género nas relações de amizade.............................................................................................................. 105. Relações românticas na adolescência.............................................................................................................. 107. 2.3.1.. Diferenças de género nas relações românticas............................................................................................................... 110. 2.3.2.. A intercomplementaridade das relações ao longo do tempo: quando as relações se fundem….................................... 112. 2.4.. A avaliação da vinculação no adolescente e no adulto..................................................................................... 118. O CORPO E AS RELAÇÕES DE VINCULAÇÃO....................................................................................................... 124 3.1.. 4.. Vinculação aos pais na adolescência ................................................................................................................. 94. 2.1.1.. 2.2.. 3.. Conceitos-chave.................................................................................................................................................. 79. A importância do toque desde o nascimento: perspectiva etológica da vinculação ......................................... 124. 3.1.1.. Vinculação e corpo: O toque como exercício de carinho ................................................................................................ 126. 3.1.2.. A explicação da etologia ou a psicobiologia da vinculação ............................................................................................. 134. A IMAGEM CORPORAL E AS RELAÇÕES DE VINCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA – o que nos diz a. investigação.......................................................................................................................................................................... 138 4.1.. A imagem corporal e a relação com os pais ..................................................................................................... 139. 4.2.. A imagem corporal e a relação com os pares................................................................................................... 153. 4.3.. A imagem corporal e a relação amorosa .......................................................................................................... 158. 4.4.. Síntese .............................................................................................................................................................. 166. CAPÍTULO 3. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO DO ESTUDO ............................................... 175 1.. DELIMITAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO, PRINCIPAIS OBJECTIVOS E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 175. 2.. OPÇÕES EPISTÉMICO-METODOLÓGICAS – EM BUSCA DA COMPLEMENTARIDADE..................................... 183. CAPÍTULO 4. METODOLOGIA........................................................................................................... 189 1.. TRATAMENTO PRÉVIO DOS DADOS (SCREENING DATA)................................................................................... 189. 2.. CONSTRUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................................... 190. 3.. MEDIDAS UTILIZADAS E ANÁLISE DAS SUAS QUALIDADES PSICOMÉTRICAS .............................................. 192 3.1.. Questionário Demográfico................................................................................................................................. 196. - xiv -.

(17) 3.2.. Body Esteem Scale ........................................................................................................................................... 197. 3.2.1.. Descrição da escala original ............................................................................................................................................ 197. 3.2.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 198. 3.3.. Appearance Schemas Inventory ....................................................................................................................... 201. 3.3.1.. Descrição da escala......................................................................................................................................................... 201. 3.3.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 201. 3.4.. Eating Disorder Inventory.................................................................................................................................. 203. 3.4.1.. Descrição da escala......................................................................................................................................................... 203. 3.4.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 205. 3.5.. Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe ..................................................................................................... 211. 3.5.1.. Descrição da escala......................................................................................................................................................... 211. 3.5.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 212. 3.6.. Questionário de Vinculação Amorosa ............................................................................................................... 214. 3.6.1.. Descrição da escala......................................................................................................................................................... 214. 3.6.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 215. 3.7.. Inventário de Vinculação aos Pais e Pares....................................................................................................... 216. 3.7.1.. Descrição da escala......................................................................................................................................................... 216. 3.7.2.. Qualidades psicométricas da escala ............................................................................................................................... 217. 4.. CRIAÇÃO DE MEDIDAS COMPÓSITAS ................................................................................................................... 218. 5.. PROCEDIMENTO........................................................................................................................................................ 219. CAPÍTULO 5. RELAÇÕES DE VINCULAÇÃO E IMAGEM CORPORAL: ABORDAGEM QUANTITATIVA .................................................................................................................................. 221 1.. CLASSIFICAÇÃO DOS PARTICIPANTES RELATIVAMENTE AOS PROTÓTIPOS DE VINCULAÇÃO AOS PAIS,. NAMORADO(A) E AMIGOS.................................................................................................................................................. 221. 2.. 3.. 1.1.. Análise dimensional .......................................................................................................................................... 222. 1.2.. Análise de conglomerados................................................................................................................................ 223. 1.2.1.. Conglomerados de vinculação ao pai e à mãe................................................................................................................ 224. 1.2.2.. Conglomerados de vinculação romântica........................................................................................................................ 226. 1.2.3.. Conglomerados de vinculação aos amigos ..................................................................................................................... 227. EFEITO DA VINCULAÇÃO AOS PAIS, NAMORADO(A) E AMIGOS NA IMAGEM CORPORAL ........................... 231 2.1.. Efeito do género, grupo etário e da vinculação ao pai na imagem corporal ..................................................... 234. 2.2.. Efeito do género, grupo etário e da vinculação à mãe na imagem corporal ..................................................... 237. 2.3.. Efeito do género, grupo etário e da vinculação amorosa na imagem corporal ................................................. 238. 2.4.. Efeito do género, grupo etário e da vinculação aos amigos nas dimensões da imagem corporal ................... 240. 2.5.. Síntese .............................................................................................................................................................. 242. QUAL O PESO QUE CADA UM DESTES CONTEXTOS RELACIONAIS TEM NA IMAGEM CORPORAL? QUAIS. OS MELHORES PREDITORES DA IMAGEM CORPORAL?............................................................................................... 247. - xv -.

(18) 3.1. 4.. Discussão.......................................................................................................................................................... 252. CRIAÇÃO DE UM MODELO EXPLICATIVO DA IMAGEM CORPORAL .................................................................. 257 4.1.. Modelo de medida para a variável imagem corporal ........................................................................................ 260. 4.2.. Criação de medidas compósitas ....................................................................................................................... 262. 4.3.. Estimação de um modelo de equações estruturais .......................................................................................... 262. 4.4.. Discussão.......................................................................................................................................................... 268. CAPÍTULO 6. O CORPO, CONTADOR DE HISTÓRIAS: ABORDAGEM QUALITATIVA ................. 277 1.. DEFINIÇÃO DAS QUESTÕES CENTRAIS DE INVESTIGAÇÃO.............................................................................. 277. 2.. A ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA ................................................... 278 2.1.. 3.. 4.. 5.. A construção do guião da entrevista ................................................................................................................. 280. SELECÇÃO DA AMOSTRA E PARTICIPANTES INQUIRIDOS................................................................................ 283 3.1.. Selecção dos participantes ............................................................................................................................... 283. 3.2.. Amostra inquirida .............................................................................................................................................. 284. PROCEDIMENTO(S)................................................................................................................................................... 285 4.1.. Recrutamento e realização das entrevistas ...................................................................................................... 285. 4.2.. A análise dos dados.......................................................................................................................................... 286. ANÁLISE DOS DADOS: RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO......................................................... 289 5.1.. Que significados tem o corpo para os participantes? ....................................................................................... 290. 5.1.1.. O papel do corpo na vida das pessoas............................................................................................................................ 290. 5.1.2.. O corpo e a relação com os outros.................................................................................................................................. 293. 5.1.3.. O corpo e as diferenças de género.................................................................................................................................. 295. 5.2.. Quais os factores mais influentes na construção da imagem corporal (segundo os participantes)?................ 297. 5.3.. Como foi vivenciado o desenvolvimento da imagem corporal, desde a infância até ao momento actual? ...... 300. 5.3.1.. O corpo vivido na infância................................................................................................................................................ 301. 5.3.1.1.. Qualidade da relação parental e vivência emocional do toque na infância....................................................................................... 301. 5.3.1.2.. A descoberta da sexualidade ............................................................................................................................................................. 309. 5.3.1.3.. A relação com os pares...................................................................................................................................................................... 313. 5.3.1.4.. Actividades extracurriculares e sua avaliação ................................................................................................................................... 315. 5.3.1.5.. 5.3.2.. Avaliação emocional do corpo na infância......................................................................................................................................... 317. O corpo vivido na adolescência ....................................................................................................................................... 318. 5.3.2.1.. A puberdade ....................................................................................................................................................................................... 318. 5.3.2.2.. Avaliação emocional do corpo transformado ..................................................................................................................................... 321. 5.3.2.3.. Relação com os pais .......................................................................................................................................................................... 324. 5.3.2.4.. A relação com os pares...................................................................................................................................................................... 328. 5.3.2.5.. 5.3.3.. A relação romântica............................................................................................................................................................................ 331. O corpo vivido no jovem adulto........................................................................................................................................ 336. 5.3.3.1.. A relação com os pais ........................................................................................................................................................................ 336. 5.3.3.2.. A relação com os pares...................................................................................................................................................................... 337. - xvi -.

(19) 5.3.3.3.. A relação romântica............................................................................................................................................................................ 337. 5.3.3.4.. Avaliação emocional do corpo no jovem adulto................................................................................................................................. 338. 5.4.. (Des)Continuidades na vivência corporal.......................................................................................................... 345. 5.4.1.. Temáticas associadas à vivência corporal na infância.................................................................................................... 346. 5.4.1.1. 5.4.1.2.. 5.4.2.. Rapariga ............................................................................................................................................................................................. 346 Rapaz.................................................................................................................................................................................................. 347. Temáticas associadas à vivência corporal na adolescência ........................................................................................... 348. 5.4.2.1.. Rapariga ............................................................................................................................................................................................. 348. 5.4.2.2.. Rapaz.................................................................................................................................................................................................. 349. 5.4.3.. Temáticas associadas à vivência corporal no jovem adulto............................................................................................ 350. 5.4.3.1.. Rapariga ............................................................................................................................................................................................. 350. 5.4.3.2.. Rapaz.................................................................................................................................................................................................. 351. 5.5.. Discussão.......................................................................................................................................................... 354. 5.5.1.. Que significados tem o corpo para os indivíduos? .......................................................................................................... 355. 5.5.2.. Factores mais influentes na construção da vivência corporal, segundo os participantes ............................................... 357. 5.5.3.. Vivência do corpo ao longo da vida… ............................................................................................................................. 359. CAPÍTULO 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 391 1.. O CORPO FORA DO ARMÁRIO: REPENSANDO A INVESTIGAÇÃO E O CONSTRUCTO DE IMAGEM. CORPORAL........................................................................................................................................................................... 392 2.. CONTRIBUTOS DA TEORIA DA VINCULAÇÃO PARA O ESTUDO DA IMAGEM CORPORAL ............................ 394. 3.. OLHANDO OS PRINCIPAIS RESULTADOS….......................................................................................................... 396. 4.. 5.. 3.1.. As relações afectivas e a imagem corporal....................................................................................................... 398. 3.2.. Papel do género como organizador das experiências de vinculação e da vivência corporal ........................... 408. IMPLICAÇÕES PARA A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA E INVESTIGAÇÃO FUTURA ........................................ 411 4.1.. O self corporal e a mudança psicoterapêutica .................................................................................................. 415. 4.2.. Imagem corporal…um caminho ainda a percorrer............................................................................................ 418. O ENRIQUECIMENTO NA E COM A CONSTRUÇÃO DA EXPERIÊNCIA: LIMITAÇÕES DO ESTUDO ................ 420. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................... 424 ANEXOS.............................................................................................................................................. 477. - xvii -.

(20) - xviii -.

(21) ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Modelo bidimensional em quatro categorias da vinculação adulta......................................................................... 122 Figura 2: Distribuição dos participantes em função da vinculação à mãe, ao pai, ao namorado(a) e amigos, para cada um dos conglomerados. ............................................................................................................................................................... 229 Figura 3: Estrutura factorial tridimensional hierárquica (modelo de medida) do constructo imagem corporal....................... 261 Figura 4: Modelo teórico proposto da imagem corporal, vinculação interpessoal, género, idade e IMC............................... 263 Figura 5: Modelo revisto da imagem corporal e vinculação interpessoal, género, idade e IMC. ........................................... 265 Figura 6: Amostra qualitativa do estudo................................................................................................................................. 285 Figura 7: Proporção dos participantes em relação aos factores influentes na construção da imagem/vivência corporal ..... 300 Figura 8: Percentagem das respostas dos participantes relativamente à qualidade da relação com o pai e com a mãe..... 302 Figura 9: Percentagem das respostas dos participantes relativamente à sua percepção acerca das manifestações físicas de afecto na relação com o pai e mãe. ....................................................................................................................................... 305 Figura 10: Percentagem das respostas dos participantes relativamente à sua percepção acerca das brincadeiras com o pai e com a mãe na infância. ....................................................................................................................................................... 306 Figura 11: Percentagem das respostas dos participantes relativamente aos cuidados (vestir, banho, doenças e medos) prestados pelo pai e pela mãe. .............................................................................................................................................. 308 Figura 12: Percentagem das respostas dos participantes relativamente às actividades extracurriculares que tinham na infância. .................................................................................................................................................................................. 316 Figura 13: Percentagem das respostas, em função do género dos participantes, relativamente à sua vivência emocional da puberdade. ............................................................................................................................................................................. 319 Figura 14: Classificação dos participantes em função da avaliação emocional do corpo na adolescência .......................... 321 Figura 15: Percentagem das respostas, em função do género dos participantes, relativamente à avaliação emocional do corpo na adolescência ........................................................................................................................................................... 322 Figura 16: Proporção dos participantes em função da avaliação da frequência das manifestações físicas de afecto parental na adolescência comparativamente à infância. ..................................................................................................................... 325 Figura 17: Proporção dos participantes em função da avaliação da frequência das manifestações físicas de afecto parental, tendo em conta o género dos participantes. .......................................................................................................................... 325 Figura 18: Proporção dos participantes em função da avaliação da vivência da sua privacidade/nudez na adolescência. . 326 Figura 19: Proporção dos participantes em função da avaliação da vivência da privacidade/nudez na adolescência, em função do género dos participantes. ...................................................................................................................................... 327 Figura 20: Proporção dos participantes em função da avaliação da qualidade das relações de amizade que mantinham na adolescência. ......................................................................................................................................................................... 328 Figura 21: Proporção dos participantes em função da avaliação da vivência do seu corpo na relação íntima com o companheiro(a) ...................................................................................................................................................................... 332 Figura 22: Proporção dos participantes em função da avaliação da avaliação emocional do seu corpo na relação romântica ............................................................................................................................................................................................... 333 Figura 23: Proporção dos participantes em função da avaliação emocional do corpo actualmente, aquando jovens adultos ............................................................................................................................................................................................... 339 Figura 24: Temáticas associadas à vivência corporal na infância (rapariga)......................................................................... 346 Figura 25: Temáticas associadas à vivência corporal na infância (rapaz)............................................................................. 347 Figura 26: Temáticas associadas à vivência corporal na adolescência (rapariga) ................................................................ 348 Figura 27: Temáticas associadas à vivência corporal na adolescência (rapaz) .................................................................... 349 Figura 28: Temáticas associadas à vivência corporal no jovem adulto (rapariga)................................................................. 350 Figura 29: Temáticas associadas à vivência corporal no jovem adulto (rapaz)..................................................................... 351. - xix -.

(22) ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Questões centrais de investigação e subsequentes questões teóricas................................................................ 281. - xx -.

(23) ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Descrição da amostra (n = 690)............................................................................................................................. 191 Tabela 2: Índices de ajustamento (robustos) da AFC e alpha de Cronbach relativos aos factores da EEC ......................... 200 Tabela 3: Índices de ajustamento da AFC e alpha de Cronbach relativos à PA.................................................................... 202 Tabela 4: Índices de ajustamento (robustos) das subescalas do EDI e respectivos alphas de Cronbach ............................ 206 Tabela 5: Índices de ajustamento da subescala Perfeccionismo e respectivo alpha de Cronbach....................................... 206 Tabela 6: Estrutura factorial das variáveis da imagem corporal (Análise em Componentes Principais e com rotação “varimax”) ............................................................................................................................................................................... 209 Tabela 7: Índices de ajustamento (robustos) obtidos para o QVPM, versão pai e versão mãe. Valores de consistência interna .................................................................................................................................................................................... 213 Tabela 8: Índices de ajustamento (robustos) obtidos para o QVA e respectivo valor de consistência interna...................... 216 Tabela 9: Índices de ajustamento (robustos) obtidos para o modelo final do IPPA (pares) e respectivo valor de consistência interna. ................................................................................................................................................................................... 217 Tabela 10: Análise descritiva das dimensões do QVPM, QVA e IPPA.................................................................................. 222 Tabela 11: Conglomerados do QVPM e resultados das ANOVAs na versão pai .................................................................. 224 Tabela 12: Conglomerados do QVPM e resultados das ANOVAs na versão mãe................................................................ 224 Tabela 13: Conglomerados do QVA e resultados da análise das ANOVAs .......................................................................... 226 Tabela 14: Conglomerados do IPPA (versão amigos) e resultados das ANOVAs ................................................................ 228 Tabela 15: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função do género............................................................. 235 Tabela 16: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função da vinculação ao pai ............................................ 235 Tabela 17: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função do grupo etário..................................................... 236 Tabela 18: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função da vinculação à mãe............................................ 237 Tabela 19: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função da vinculação romântica ...................................... 239 Tabela 20: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função da interacção grupo etário-vinculação romântica 240 Tabela 21: Médias e desvios padrão nas variáveis corporais em função da vinculação aos pares ...................................... 241 Tabela 22: Regressão múltipla passo-a-passo (stepwise) da idade, género, vinculação ao pai, à mãe, romântica e aos amigos nas dimensões corporais........................................................................................................................................... 250 Tabela 23: Índices de ajustamento (robustos) para a AFC de segunda ordem, respeitante ao modelo de medida da imagem corporal .................................................................................................................................................................................. 261 Tabela 24: Conglomerados de participantes em função das variáveis corporais analisadas................................................ 283 Tabela 25: Percepção da importância do corpo em função do género e grupo etário dos participantes .............................. 296 Tabela 26: Avaliação emocional da vivência da nudez no contexto familiar na infância, em função do género dos participantes ........................................................................................................................................................................... 310 Tabela 27: Vivência emocional das primeiras experiências sexuais e/ou exploração do corpo na infância em função do género dos participantes ........................................................................................................................................................ 312 Tabela 28: Críticas negativas a nível físico na infância ......................................................................................................... 313 Tabela 29: Críticas negativas a nível físico na adolescência................................................................................................. 330 Tabela 30: Percepção da evolução da qualidade da relação parental .................................................................................. 336 Tabela 31: Número de participantes que se encontram a vivenciar uma relação amorosa .................................................. 338 Tabela 32: Avaliação da vivência corporal actual e o Índice de Massa Corporal .................................................................. 343. - xxi -.

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(25) INTRODUÇÃO GERAL. “Antes de qualquer coisa, a existência é corporal” (Le Breton, 1992, p.3). À priori é inútil justificar uma reflexão sobre o corpo: a vida, certamente, impõem-nos isso quotidianamente, por aquilo que sentimos, desejamos, fazemos, expressamos e criamos. Assim, quem vive de forma mais positiva, experimentará mais intensamente a sua corporeidade para se ajustar melhor ao mundo e à sociedade que o circunda. Na verdade, quer queiramos, quer não, assistimos a um processo de exaustão do corpo na sociedade ocidental contemporânea, processo que envolve um mito supostamente libertador, mas que, na realidade, penetra e transforma a nossa experiência pessoal ao introduzir na nossa subjectividade o peso alheio dos imperativos sociais (Bernard, 1985). Neste trabalho, propomo-nos demonstrar e explicar precisamente que a nossa experiência corporal, que cremos muitas vezes ser individual e uma força invencível, está invadida e modelada, desde o início, pela sociedade em que vive e pelas relações que experiencia. Queremos, desta forma, desmitificar a ideia de um corpo frequentemente entendido como uma realidade cerrada e íntima e sublinhar, por seu lado, a sua condição aberta e dinâmica em função da sua mediação social. Recuando um pouco no tempo, o desafio deste projecto começou por ser uma confluência de interesses, entre mim e a minha orientadora, há já alguns anos atrás, aquando da construção do projecto da minha dissertação de mestrado. Afinal o que é o corpo? Qual o seu papel na vida das pessoas? Como é que a experiência corporal é construída ao longo da vida? Porque é que há vivências corporais tão distintas? Qual o papel dos outros na forma como o corpo é vivido? Para além disso, a escolha por esta temática surge de uma conjugação de diversos outros factores, nomeadamente o crescente destaque que o corpo tem ocupado na vida social e na investigação, nas mais diversas áreas, a lacuna em termos de investigação nacional neste âmbito e a sua presença e importância (directa ou indirectamente) na prática clínica. Efectivamente, durante, aproximadamente, onze anos da minha (pouca) experiência como psicóloga clínica fui encontrando diversas pessoas que procuravam ajuda pelas mais variadas razões: humor depressivo, ansiedades e ataque de pânico, adolescentes de coração partido,. - xxiii -.

(26) morte repentina de alguém que se ama, trair e ser traído, solidão, dificuldades na carreira, dor física que os médicos não conseguiam explicar, acidentes, vergonha da sua aparência, perda de controle nos hábitos alimentares, dificuldades na intimidade, etc. Aprendi sempre com todos eles, e uma das coisas que me começou a intrigar é que as pessoas ignoram o seu próprio corpo como uma importante fonte de “recuperação emocional”. De facto, acredito que tudo aquilo que acontece no nosso corpo tem algum significado, acontece por uma razão. A razão pode ser ambiental, genética, biológica, emocional, ou uma combinação de todos estes factores. Mas, cada corpo carrega a sua própria história e pode ser a chave para mudar essa mesma história. Efectivamente, a constatação da prática clínica de muitos dos casos expressarem o seu malestar em termos corporais; sejam eles estéticos, sensações incomodativas ou mesmo sintomas mais crónicos, fizeram-me olhar o corpo como um meio de comunicação de sentimentos fundamental, como um corpo relacional, que se constrói e desenvolve no contexto das suas relações e na interacção com outros corpos. O sofrimento emocional expresso através do sintoma parecia estar, muitas vezes, relacionado com relações antigas ou actuais insatisfatórias. Na verdade, o interesse do corpo no âmbito da psicoterapia tem sido uma área de crescente interesse e estudo. Além da importância do corpo na prática clínica e na forma como se entende a doença, será também através do corpo que nós experienciamos o mundo e conseguimos compreender o mundo. Com efeito, a realidade é aquilo que percebemos ser real através dos nossos sentidos. Quando conhecemos algo através do nosso corpo é que o conhecemos. Por seu lado, até conhecermos e incorporarmos a realidade no nosso corpo, esta será apenas um conceito abstracto, podendo até dizer que o corpo será a experiência objectiva da nossa consciência. Através dos nossos sentidos, o corpo experiencia, conhece e lembra, uma vez que são eles que nos ligam ao passado. Por outro lado, o interesse social crescente no corpo, na imagem corporal ou na aparência física tem-se tornado evidente; exemplos disso são as notícias em jornais, revistas e noutros meios de comunicação social, ou programas televisivos com histórias acerca de cirurgia plástica, obesidade infantil, perturbações do comportamento alimentar, dietas, exercício físico, moda, arte e outros assuntos relacionados. Esta tematização cultural do corpo na sociedade contemporânea parece ser uma consequência de uma série de mudanças e movimentos sociais a que não são alheios os movimentos das mulheres, a libertação dos homossexuais, progresso técnico na. - xxiv -.

(27) medicina e as mudanças comerciais no uso do corpo como um ícone do consumismo actual. Na nossa sociedade, aparentar estar bem será sinónimo de estar bem. Ainda nesta perspectiva, a constatação de que as perturbações alimentares subclínicas (não especificadas) têm vindo a aumentar drasticamente (Hoek & Van Hoeken, 2003; Machado, 2007) tem levado os profissionais a centrarem-se cada vez mais no potencial valor da prevenção e na intervenção precoce. Para tal, será importante conhecer e identificar com acuidade os factores de risco envolvidos na insatisfação com o corpo e consequentes comportamentos de risco e extremados. Como psicóloga e a intervir com adolescentes, fui-me deparando com esta necessidade de estudar e compreender um determinado fenómeno, com o intuito futuro de se poderem tirar ilações para futuras aplicações práticas na intervenção. Assim, começou a surgir o interesse de como é que a qualidade das relações interpessoais estaria relacionada com a experiência corporal, estudar “a forma como os outros podem estar debaixo da nossa pele” (Diamond, 2001, p. 42). Sendo quase impossível poder intervir ao nível dos media e do impacto que eles podem ter neste âmbito, foi-se tornando cada vez mais claro o campo de estudo que pretendia abarcar, aquele que me era mais próximo e que, pessoalmente, me suscita grande interesse – as relações afectivas! Na verdade, as relações que estabelecemos com aqueles que nos são mais próximos serão uma das partes mais fulcrais da nossa vida, senão a mais importante; reconhecemos que estas relações significativas podem ser factores de protecção ou de risco, na medida em que podem promover o sentimento de segurança e auto-estima, concorrendo para o bem-estar do indivíduo, ou, por seu lado, gerar condições adversas de existência, implicando considerável sofrimento (Canavarro, 1999). Considerando a teoria da vinculação a tentativa de maior sucesso, no séc. XX, de integrar de uma forma mais profunda a psicologia numa perspectiva evolutiva e desenvolvimental, optámos por este quadro teórico para enquadrar as relações afectivas, nomeadamente quanto aos padrões de vinculação. De facto, a teoria da vinculação não só clarifica questões ou fenómenos desenvolvimentais ou clínicos, como a formação dos laços emocionais, a ansiedade da separação ou perda, mas também gera um domínio de investigação que tem confirmado as suas premissas fundamentais e enriquecido e expandido a teoria com novos resultados e descobertas. É mantendo o nosso olhar na teoria da vinculação e na importância das relações afectivas que pretendemos ligar dois grandes corpos de investigação e conhecimento como caminhos complementares, no sentido de uma melhor e mais extensa abordagem: o corpo e as relações de vinculação.. - xxv -.

(28) Este estudo pretende ser precisamente um contributo nesta caminhada de descobertas, na medida em que ambiciona usar este paradigma evolutivo e desenvolvimental da teoria da vinculação para criar um modelo mais compreensivo da vivência corporal, dando respostas a algumas questões de investigação: averiguar como é que os contextos mais próximos de relacionamento interagem para influenciar a forma como o indivíduo se sente com o seu corpo. Pretende-se, deste modo, introduzir uma área complexa do pensamento e investigação contemporâneas, tentando-se aprofundar a nossa compreensão acerca da experiência corporal. Efectivamente, este trabalho pretende criticar a ideia do corpo como uma entidade isolada que pode ser extrapolada de um contexto, visão que caracteriza essencialmente as abordagens biomédicas e da psicologia clássica. Contrariamente, a compreensão biosociopsicológica contemporânea enfatiza a interdependência do corpo com o seu ambiente circundante. De facto, a vivência corporal é construída em interacção com os primeiros significativos, nas primeiras fases do desenvolvimento, e com os outros ao longo do ciclo de vida. É difícil separar o que é o “meu corpo” do “corpo do outro”, e esperamos conseguir demonstrar que existe uma relação entre estes dois, que pode ser somática ou emocional. De facto, precisamos de compreender a ligação interpessoal que liga duas pessoas e como é que esta ligação é primeiramente de natureza corporal. Só assim poderemos compreender a comunicação corporal como expressão das relações com os outros (ex. sintomas para chamar a atenção, …). É através do nosso corpo que expressamos o efeito e significados que as relações tiveram ou têm em nós. A nossa existência corporal está imbuída num contexto, relacional e cultural, sendo este o canal pelo qual as nossas relações são construídas e vivenciadas. Todavia, é importante reconhecer que não alcançaremos a compreensão total e completa do tema, o que não diminui o mérito dos desafios e das novas descobertas. Neste sentido, este trabalho está organizado em torno de 3 partes e sete capítulos. A primeira parte diz respeito ao enquadramento teórico do objecto de estudo e à revisão da literatura empírica, a segunda é centrada na apresentação do estudo empírico junto de uma amostra de adolescentes e jovens adultos e, finalmente, na terceira parte, são apresentadas as principais conclusões, evidenciando-se o principal contributo que entendemos ter deixado com este estudo e implicações para a intervenção e futura investigação. Organizámos a exploração e a reflexão sobre o corpo e a experiência corporal em torno de dois capítulos. Num primeiro capítulo procurámos enquadrar e lançar algumas questões sobre a forma como se tem encarado o papel. - xxvi -.

(29) do corpo, na sua matriz histórica e social, enquanto produto e organizador das sociedades e da produção científica. Porém, o corpo é um assunto recente em Ciências Sociais. A relação entre as questões corporais e as sociais apresenta-se no cenário académico, essencialmente nos estudos voltados para a saúde física e mental. No entanto, o corpo como área onde se inscrevem mudanças sociais e culturais é também um lugar de encontros, onde se misturam os domínios da Biologia, Psicologia, Sociologia, História, Antropologia, Filosofia. Foi nestes encontros e desencontros que nos fomos perdendo, na tentativa de encontrar novos sentidos para as corporeidades contemporâneas. No entanto, apesar de limitada pelo nosso olhar da Psicologia, tentaremos enfatizar, na sua articulação com a história, o corpo construído tanto natural como culturalmente, numa análise voltada essencialmente para os aspectos relacionais e culturais, em que a dimensão simbólica do corpo e as suas representações ao longo do tempo são centrais para a sua compreensão. É neste enquadramento histórico-cultural que inserimos o constructo de imagem corporal, enfatizando a sua natureza multidimensional, complexa e dinâmica que inclui não só a percepção que temos do nosso corpo, como a sua experiência subjectiva, sentimentos e pensamentos, e o modo como nos comportamos devido a estas cognições. Ainda neste capítulo serão apontados os estudos que consideramos mais pertinentes no âmbito do estudo da imagem corporal na adolescência. Num segundo capítulo começámos por descrever os principais conceitos e contributos terapêuticos e de investigação da teoria da vinculação, nomeadamente ao nível da vinculação aos pais, pares e par romântico na adolescência (contextos abordados neste estudo). Procurámos fazer uma breve revisão do contributo da abordagem ecológico-desenvolvimental da teoria da vinculação na compreensão da importância do corpo para a construção do self e das relações e na importância desta interacção sujeito-ambiente na própria construção da corporeidade. Tentaremos, desta forma, descobrir o aspecto essencialmente relacional do corpo. Pretendemos, ainda, fazer uma revisão dos estudos mais recentes acerca da relação entre a vinculação e a experiência corporal e/ou imagem corporal, centrando-nos, particularmente na etapa da adolescência. A segunda parte deste trabalho começa no terceiro capítulo, dedicado à delimitação do objecto de estudo, definição dos pressupostos epistemológicos, às abordagens metodológicas utilizadas, nomeadamente a organização do estudo em duas fases distintas - fase quantitativa e, posterior fase qualitativa - à identificação dos grandes objectivos do estudo, bem como à elaboração das grandes hipóteses de investigação.. - xxvii -.

Imagem

Figura 1: Modelo bidimensional em quatro categorias da vinculação adulta

Referências

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