Georgina Furtado Franca
UMA EXPERIENCIA DE INTERVENÇÃO PERFORMÁTICA
EM BUSCA DE OUTRA “NARRATIVA” NA APRENDIZAGEM DA ARTE
Tese apresentada na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto para obtenção do grau de Doutor em Educação Artística
orientador
Professor Doutor José Carlos de Paiva, FBAUP
co-orientador
Professor Doutor Erinaldo Alves, UFPB, Brasil
Dedicatória
Aos meus avós: Georgina da Silveira Furtado, Maria Clélia Toscano Franca, Emília Ribeiro Franca, Pedro de Mendonça Furtado e Maximiano da Franca Neto (em memória)Resumo
Esta é uma tese inscrita no doutorado em Educação Artística da Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto, Portugal, escrita de uma pesquisa que foi desenvolvida no Brasil na
cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba, no Centro Cultural São Francisco e na escola
pública municipal Lions Tambaú. A investigação busca construir um novo entendimento sobre
as possibilidades de experienciar o patrimônio, a partir de um ato criativo de intervenção
performática nos museus do Centro Cultural e que, quando levado à escola, propõe um saber
ver diferenciado, multissensorial, dando a cada um dos sujeitos, a partir de suas interpretações
e construções subjetivas, o apoderamento sobre o que está aprendendo, e assim, do sentido
dado ao seu aprendizado, construir conhecimento.
Teoricamente o trabalho fundamenta-se no conceito de “narrativa” desenvolvido por Walter
Benjamim, que parte do pressuposto ser a “narrativa”, uma história incorporada por
experiências, que inclui tanto o narrador quanto os seus ouvintes. A investigação tem como
estratégia metodológica a autoetnografia. Uma aproximação com a cultura visual na prática
de uma pesquisa educacional baseada em arte - A/r/tografia, em que conta-se uma história
possibilitando aos outros, contar a sua.
Trazendo este conceito para a nossa investigação, e reelaborando-o, a “narrativa” amálgama
as experiências individuais e coletivas na troca com o espaço público e suas visualidades para
a construção de uma história, ao mesmo tempo performática e literária. Por sua natureza
dialética, possuidora de um núcleo de ação, dos quais fazem parte as relações e aspectos
sociais e políticos dos sujeitos envolvidos, imersos nos problemas, potencialidades e
impossibilidades do processo interativo e criativo com o espaço público, a problemática da
pesquisa vai se constituindo em uma dramaturgia, uma proposta dramatúrgica híbrida na
aprendizagem da arte.
Palavras-chave
intervenção performática, narrativa, dramaturgia, artografia, educação artística
Abstract
This is a thesis inscribed in a PhD in Arts Education at the Faculty of Fine Arts, University of
Porto, Portugal, written as a research that was developed in Brasil in João Pessoa´s city, in
Paraíba´s state, at the Cultural Center São Francisco and in a municipal public school, named
Lions Tambaú. The investigation aims to construct a comprehension about the possibilities to
experiment the heritage, through a creative act of performance intervention in the museums of
Centro Cultural. When taken to school, the research tries to promote a distinguished and
multisensory way of seeing, offering each subject, from their interpretations and subjective
constructions, the empowerment about what is being learned, and then, the meaning about
their knowledge.
Theoretically, the work is based upon the concept of “narrative” developed by Walter
Benjamin, that starts from the notion that the “narrative”, as a history made of experiences,
that involves as much the narrator as the listeners. Autoethnography constitutes the research
methodological frame, but also, a close approach to visual culture studies, through a arts
based research - A/r/tography, creates an approximation with visual culture, through an
educational research based in art -A/r/tography, allows to tell a history that also creates space
for others to tell their own.
Introducing the concept of "narrative" into research, and reworking it, the amalgam of the
single and collective experiences in exchange with the public space and their visualities in the
construction of a history, as much as performative as literary. Considering a dialectic nature,
inscribed in action, that includes the relations and social and political aspects of involved
subjects, submerged in problems, potentialities and impossibilities, the interactive and
creative process with public space, the problematic of the research becomes a dramaturgy, a
hybrid proposal in art learning processes.
Keywords
performance intervention, narrative, dramaturgy, artography, arts education
Agradecimentos
Aos meus filhos Lucas, Caio e Pedro.
Aos meus pais Maria Carmen de Mendonça Furtado e Argemiro Brito Monteiro da Franca.
À amiga Edilene Franca.
Aos meus irmãos: Argemiro Brito Monteiro da Franca Filho, Georgiana Furtado Franca,
Giuliana Furtado Franca Bono e cunhado Gustavo Bono.
À amiga Luzemir Siqueira.
Aos meus amigos de doutorado, Jair Rodrigues e Manuel Fortes e aos artesãos, Anilton da
Luz, Nelsa Lima, Idílio Lopes, Maria dos Anjos e Marcelino dos Santos pela minha ida a
África e realização de experimento performático no Centro Nacional de Artesanato, em
Mindelo, São Vicente.
Ao meu orientador José Carlos de Paiva por tudo que aprendi e pelo despertar do trabalho em
defesa dos mais pobres e excluídos e das causas político-sociais.
Ao meu co-orientador Erinaldo Alves pela confiança e empenho em desbravar comigo os
caminhos do pensamento.
Aos meus professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto: Catarina Sofia
Martins, Dinis Cayolla Ribeiro, Manuela Terrasêca e Vitor Martins.
Aos professores Teresa Eça e João Lima por todo incentivo e apoio em realização de
experimento performático com professores da rede municipal no Museu Nacional de
Transportes e Comunicações no Porto.
A Carlos Cartaxo pelos caminhos compartilhados e por toda contribuição.
Aos colaboradores da pesquisa: Edinaldo da Silva Nascimento, Luís Felipe Cardoso Mont
´mor, Moisés Almeida de Pia e Paulo Luiz de Medeiros Araújo Filho pela amizade e pelos
momentos compartilhados na prática investigativa.
A diretora da Escola Municipal Lions Tambaú, Maria da Luz Figueiredo e as professoras de
arte: Guadalupe Soares e Nina Maria Carneiro Ramalho.
Aos vinte e quatro estudantes da Escola Lions Tambaú.
Aos meus colegas do Curso de Doutorado em Educação Artística.
Ao Centro Cultural São Francisco.
Índice
001
Introdução
009I Parte
009
1.
A intervenção performática como promoção de aprendizagem da arte
0121. 1. Caminho Metodológico
014
1. 2. Problemática
016
1. 3. Fundamentação Teórica
017
2.
O modelo de ação dramatúrgica
018
2.1
A ‘narrativa’ e as camadas dramatúrgicas e transversais
0182. 2. I camada dramatúrgica
019
2. 3. II camada dramatúrgica
021
3.
Pesquisa Educacional Baseada em Arte
025
4.
A “narrativa” e os Personagens - Relações da escrita
0285.
Considerações
033
II Parte _ Cenas
033
1.
Abertura das Cenas
037
2.
I Cena: A Canoa e os Contadores de Histórias
0382.1. Imagens que ressoam do meu corpo
040
2.2. Um barco à deriva
040
2.3. Apresentação dos contadores de histórias
0442.4. O valor das pequenas grandes coisas
0482.5.
Os ventos que levam à vila
048
2.6. Uma viagem dos sentidos
0502.7. Soltando as ancoras
052
2.8.
Desbravando os espaços museísticos
0532.9. A chegada à vila
054
2.10 Os acervos e a construção das “frases geradoras”
057
2.11. A Cabana e a ação educativa dos contadores de histórias
0592.12. As improvisações e a construção das frases corporais
0642.13. A procissão e o pé de tamarindo
067
2.14. Quem sou? Onde estou? O que quero? E para onde vou?
0712.15. A assembleia dos trabalhadores
074
2.16. O ritmo individual e coletivo
0782.17. Tumulto na igreja
079
2.18. A transgressão
0822.19. Uma farsa
085
3.
II Cena: A Vila e a Chegada dos Anjos
085
3.1. A influência dos públicos para construção “narrativa”
0913.2. Intervenção performática na praça: Quem fica com o bebê?!
0973.3. A interação com os públicos e a construção de sentidos
1023.4. A Cabana – Aprendendo contando histórias
108
3.5.
Mito ou lenda? - Da construção de sentidos à construção de
conhecimento
116
3.6 A Cabana – Das histórias de cada um a uma história coletiva
1233.7
A Suspensão
127
4.
III Cena: A Rua das Almas Silenciosas
127
4.1. A desconstrução e as intervenções performáticas
1434.2. Profanação, Silêncio e Revolta
149
4.3.
A sala dos santos anônimos e a construção de sentidos
1544.4. Um Acontecimento
159
4.5. Mercado-Na luta pela sobrevivência _ Opressão e Resistencia
1614.6. Praça-Escravidão, Aparição e promessa de liberdade
163
4.7. Praia-Manifesto, Não! A Pesca de arrasto
1644.8. Rua das Almas - A chama de uma lamparina
1674.9. Insubmissão- Na surpresa ao pé de tamarindo
1695.
IV Cena: A Vila em Uma Viagem no Tempo
169
5.1. A subversão do tempo e surpresa na caixa de presentes
1825.2. O retorno das atividades ao pé de tamarindo
186
5.3. Debate: Mercado_Na Luta pela Sobrevivência_Opressão e Resistência
1885.4. Debate: Praça_Escravidão, Aparição e promessa de liberdade
191
5.5. Debate: Praia_Manifesto Não! A Pesca de Arrasto
1935.6. Debate: Rua das Almas_A Chama de uma Lamparina
1985.7. Combinação das Micro Partes Detentoras de Sentidos
201
5.8. Contando a nossa história: Um ensaio (“ensaio micro narrativo”)
2075.9. “Micro narrativa silenciosa”: O Segredo de Rita
209
5.10. “Micro narrativa silenciosa”: Liandra e Teodoro_No desafio do destino
2105.11. “Micro narrativa silenciosa”: Trabalho e reza
211
5.12. “Micro narrativa silenciosa”: A Casa de Repouso e a lenda do pé de
tamarindo
214
5.13. A legitimação da ação artística
2165.14. Cura pelo feitiço
218
6.
V Cena: Um Lugar Onde As Flores Nascem dos Passarinhos
2196.1. A “narrativa”: Uma Matriz Pedagógica na aprendizagem da Arte
2286.2. A Conexão Texto Performático
231
6.4. A Prisão
233
6.5. No pátio externo do Centro Cultural dos Santos
2356.6. Em sala de aula contando uma história
246
6.7. Construindo as “frases geradoras” e as “frases corporais”
2486.8. Apresentação das Cenas Performáticas
253
6.9. Intervenção Performática às Portas do Banheiro
256
6.10. Identificando onde integrar as cenas performáticas à matriz
2606.11. Aconteceu na minha Rua
264
6.12. I debate: Intervenção performática às portas do banheiro
2676.13. A “micro narrativa”_Contando uma história através da matriz
performática
269
6.14. Preenchimento da III cena da matriz performática
272
6.15. II Debate: Intervenção performática às portas do banheiro
2746.16. Atores e alunos: Debate após atuação performática
277
6.17. III Debate: Intervenção performática às portas do banheiro
2806.18. Apresentação na Bienal de Artes_Preparação Inicial
281
6.19. Apresentação na Bienal de Artes_ A “micro narrativa” e a ação
performática
284
6.20. Último Encontro no Centro Cultural dos Santos
2876.21. Apresentação, despedida e lanche coletivo
2896.22. Apresentação na praça
292
6.23. O lançamento do livro
294
6.24. Intervenção Performática na Rua das Almas
2986.25. Despedida na Praia
303
A aprendizagem da arte como “narrativa” _Princípios e Conteúdos
315Considerações Finais
323