• Nenhum resultado encontrado

Museu do Carnaval de Ovar

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Museu do Carnaval de Ovar"

Copied!
159
0
0

Texto

(1)

Universidade de Aveiro Ano 2020

Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo

Jéssica Oliveira

Quintinha

(2)

Universidade de Aveiro Ano 2020

Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo

Jéssica Oliveira

Quintinha

Museu do Carnaval de Ovar

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão e

Planeamento em Turismo, realizada sob a orientação científica da Doutora Maria Celeste de Aguiar Eusébio, Professora Auxiliar do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro.

(3)

Dedico este trabalho aos meus pais e à minha irmã por todo o apoio e dedicação.

(4)

o júri

presidente Prof. Doutora Zélia Maria de Jesus Breda

Professora auxiliar da Universidade de Aveiro

Prof. Doutora Maria Gorete Ferreira Dinis

Professora adjunta da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre

Prof. Doutora Maria Celeste de Aguiar Eusébio

(5)

agradecimentos Um agradecimento especial à minha orientadora por toda a disponibilidade, acompanhamento, paciência e motivação.

Aos meus pais por todas as oportunidades oferecidas e apoio incondicional. À minha irmã pela motivação e por torcer sempre por mim.

Ao Filipe por ter sido essencial durante toda esta etapa, pela resiliência, pela força e por todo o apoio.

À Ana e Maria que são uma inspiração e estão presentes em todos os momentos.

(6)

palavras-chave Eventos, Carnaval de Ovar, Eventos culturais, Carnaval, Experiências, Economia de Experiências, Design de Experiências, Museus, Museu do Carnaval de Ovar.

resumo O carnaval representa um tipo de celebração cultural festejada por todo o mundo através de vários costumes e tradições, adaptadas ao contexto de cada local. Considerando-se que o Carnaval de Ovar é um evento com conteúdo diferenciador e aspetos culturais interessantes, o presente estudo consiste no desenvolvimento de um projeto de um museu sobre o Carnaval de Ovar. Para alcançar este objetivo realizou-se uma revisão de literatura sobre os eventos, o carnaval e a importância das experiências na temática explorada. Posteriormente, selecionaram-se vários casos de estudo de referência ao nível de museus do carnaval e museus que se focam em ofercer experiências, realizando uma análise Benchmarking para reunir um conjunto de boas práticas. Realizou-se uma pesquisa intensiva, para uma melhor compreensão da origem e evolução do carnaval de Ovar, compreendendo as suas componentes atuais e

principais pontos de destaque. Estes capítulos serviram como base para a construção da metodologia adotada: entrevistas exploratórias e

questionários. As entrevistas foram realizadas a pessoas envolvidas na oferta do carnaval de Ovar e os questionários foram distribuídos pela procura potencial do projeto. Os resultados desta investigação permitiram identificar a relevância do carnaval de Ovar e a experiência obtida na participação deste evento. Para além disso, a metodologia adota foi essencial para validar o projeto em construção e reunir um conjunto de sugestões a adotar.

Através destas análises construíu-se o projeto do carnaval de Ovar com recurso a uma análise de Marketing Mix, incidindo no conteúdo e tipo de atividades a explorar de forma a oferecer uma experiência autêntica ao consumidor. Concluiu-se que o projeto do museu do Carnaval de Ovar é relevante para a dinamização do destino.

(7)

Keywords Events, Ovar Carnival, Cultural Events, Carnival, Experiencies,

Experiences Economy, Experiences Design, Museums, Museum of Ovar Carnival.

resume Carnival represents a type of cultural celebration celebrated around the world through various customs and traditions, adapted to the context of each region. Considering that Ovar Carnival is an event with differentiating content and interesting cultural aspects, the present study consists in the development of a museum project about Ovar Carnival. In order to achieve this objective, a literature review was conducted on the events, carnival and the importance of experiences in the theme explored. Subsequently, several reference case studies were selected at the level of carnival museums and museums that focus on offering experiences, carrying out a Benchmarking analysis to gather a set of good practices. It was done an intensive research to better understand the origin and evolution of the Ovar Carnival, including its current components and main points of prominence. These chapters served as a basis for the construction of the adopted methodology: exploratory interviews and questionnaires. The interviews were conducted with people involved in the organization of Ovar Carnival and the questionnaires were distributed according to the potential demand of the project. The results of this investigation made it possible to identify the relevance of the Ovar Carnival and the experience obtained from participating in this event. In addition, the methodology adopted was essential to validate the project under construction and gather a set of suggestions to be adopted.

Through these analyzes, the Ovar Carnival project was built using a Marketing Mix analysis, focusing on the content and type of activities to be explored, in order to offer an authentic experience to the consumer. It was concluded that the project of the Ovar Carnival museum is relevant to the dynamization of the destination.

(8)
(9)

Índice

1. Introdução ... 1

1.1. Relevância e objetivos ... 1

1.2. Descrição sumária da metodologia ... 3

1.3. Estrutura ... 4

2. Eventos ... 5

2.1. Definições, relevância e tipologias ... 5

2.2. Eventos Culturais ... 8

2.3. Conclusão ... 9

3. Carnaval – a sua relevância ... 11

3.1. Origem e evolução ... 11

3.2. Conceito, características e relevância ... 12

3.3. Carnaval no mundo ... 13

3.4. Carnaval em Portugal ... 18

3.5. Conclusão ... 21

4. Economia de Experiência em eventos turísticos ... 23

4.1. Conceito e origem da Economia de Experiências ... 23

4.2. Experiência dos participantes em Eventos Culturais ... 24

4.3. O Design de experiências ... 26

4.4. Experiência e os museus ... 27

4.5. Conclusão ... 29

5. Benchmarking ... 30

5.1. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes em Portugal ... 30

5.2. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes a nível internacional ... 31

5.3. Boas Práticas: Experiências em Museus ... 36

5.4. Conclusão ... 39

(10)

6.2. Oferta turística... 42

6.3. Procura Turística ... 44

6.4. Evolução histórica do Carnaval de Ovar ... 45

6.4.1. Século XIX ... 45

6.4.2. Século XX ... 45

6.4.3. Século XXI ... 53

6.5. Carnaval de Ovar – Especificidades ... 55

6.5.1. O Carnaval Sujo ... 55 6.5.2. O Reinado ... 56 6.5.3. Os Grupos de Carnaval ... 57 6.5.4. As Escolas de Samba ... 58 6.5.5. Calendário Carnavalesco ... 58 6.6. Conclusão ... 60 7. Metodologia ... 61 7.1. Entrevistas ... 61 7.1.1. Construção do Guião ... 62 7.1.2. Análise de dados ... 64 7.2. Questionários ... 65 7.2.1. População em estudo ... 65 7.2.2. Técnica de amostragem ... 65

7.2.3. Instrumento de inquirição utilizado ... 65

7.2.4. Método de administração dos questionários... 68

8. Discussão dos resultados ... 69

8.1. Entrevistas ... 70

8.1.1. Perfil da Amostra ... 70

8.1.2. Perceção da relevância do Carnaval para o município de Ovar ... 70

8.1.3. Identificar as potencialidades e projetos futuros ... 71

(11)

8.1.5. Identificar como é realizada a gestão do património construído no Carnaval

de Ovar 72

8.1.6. Análise das potencialidades do museu do Carnaval de Ovar ... 72

8.1.7. Identificar estratégia para a elaboração do projeto e principais limitações 72 8.1.8. Sugestões para a elaboração do projeto – Museu do Carnaval de Ovar ... 73

8.2. Questionários ... 74

8.2.1. Perfil da amostra ... 74

8.2.2. Experiência no Carnaval de Ovar ... 75

8.2.3. Benefícios procurados na visitação de museus ... 77

8.2.4. O museu do Carnaval de Ovar ... 79

8.3. Diferenças entre as características da amostra e as componentes escolhidas 84 8.3.1. Idade ... 84 8.3.2. Habilitações Literárias ... 87 8.3.3. Local de residência ... 88 8.3.4. Género ... 88 8.3.5. Tipo de participação ... 90 8.4. Conclusão ... 90 9. Caracterização do projeto ... 92 9.1. Público-Alvo ... 92 9.2. Produto ... 92 9.3. Preço ... 100 9.4. Comunicação ... 100 9.5. Distribuição ... 101 9.6. Parcerias ... 101 10. Conclusão ... 104

Contribuições, limitações e investigações futuras ... 106

(12)

Apêndice 1 - Entrevistas ... 111

Apêndice 2 – Questionário ... 123

13. Anexos ... 131

Anexo 1 – Número, tipologia e capacidade do alojamento ... 131

Anexo 2 – Estada média e taxa líquida de ocupação-cama ... 132

Anexo 3 – Hóspedes e dormidas por tipologia ... 133

Anexo 4 - Evolução dos cartazes do carnaval de Ovar ... 134

(13)

Índice de Figuras

Figura 1 - Tipologia de eventos ... 7

Figura 2 - Eventos Culturais ... 9

Figura 3 - Careto ... 20

Figura 4 - Vale de Ílhavo Cardadores... 21

Figura 5 - Museu do Carnaval da Terceira ... 31

Figura 6 - Museus do Carnaval internacionais ... 35

Figura 7 - Museus de experiências ... 39

Figura 8 - Museus de experiências - Telas interativas ... 39

Figura 9 - Região de Aveiro e município de Ovar ... 42

Figura 10 - Carnaval 1916 ... 46

Figura 11 - Carnaval de 1929 ... 46

Figura 12 - Contradança, Carnaval de 1933 ... 47

Figura 13 - Contradança, Carnaval de 1939 ... 47

Figura 14 - Carnaval de 1947 ... 47

Figura 15 - Primeiro cartaz, Carnaval de 1952 ... 48

Figura 16 - Cortejo, Carnaval de 1952 ... 49

Figura 17 - Gigantones e cabeçudos, Carnaval 1952 ... 49

Figura 18 - "Hawaianas", Carnaval de 1954... 49

Figura 19 - "Ovarvisão", Carnaval 1969 ... 50

Figura 20 - Crítica social, Carnaval de 1963 ... 50

Figura 21 - Grupo de Carnaval “Levados do Diabo”, Carnaval de 1973 ... 51

Figura 22 - Carnaval de 1976 ... 51

Figura 23 - Bairro de “Válega”, Carnaval de 1983 ... 52

Figura 24 - Bailes de Carnaval nos anos 90... 53

Figura 25 - Carnaval Infantil 1998 ... 53

(14)

Figura 28 - Aldeia do Carnaval ... 55

Figura 29 - "Farrapada”, Carnaval de Ovar 2016 ... 55

Figura 31 - Carnaval Sujo ... 55

Figura 30 - Carnaval Sujo ... 55

Figura 32 - Chegada do rei, Carnaval de 1956 ... 56

Figura 33 - Maquete do Grupo de carnaval “Melindrosas”, Carnaval de 1970... 57

Figura 34 - Escola de samba Charanguinha, Carnaval de 1989 ... 58

Figura 35 - Noite Mágica, Carnaval de 2020 ... 59

Figura 36 - Experiência no Carnaval de Ovar ... 75

Figura 37 - Participação em eventos do Carnaval de Ovar ... 76

Figura 38 - Questões sobre a validação da proposta ... 82

Figura 39 - Nuvem de palavras das sugestões quanto ao lugar do museu ... 83

Figura 40 - Elementos do museu - O Carnaval na atualidade ... 94

Figura 41 - Elementos do museu - História e transformação do Carnaval ... 95

Figura 42 - Cineteatro de Ovar... 99

Figura 43 - Cartaz "Vitamina da Alegria" - Carnaval de 1958 ... 134

Figura 44 - Cartaz - Carnaval de 1964 ... 135

Figura 45 - Cartaz – Carnaval de 1972 ... 136

Figura 46 - Cartaz – Carnaval de 1985 ... 137

Figura 47 - Cartaz – Carnaval de 1986 ... 138

Figura 48 - Cartaz – Carnaval de 1991 ... 139

Figura 49 - Cartaz – Carnaval de 1992 ... 140

Figura 50 - Comunicação Carnaval 2019 ... 141

(15)

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Objetivos específicos e metodologia ... 3

Tabela 2 - Carnaval na Europa ... 14

Tabela 3 - Carnaval na América do Norte ... 15

Tabela 4 - Carnaval na América do Sul... 17

Tabela 5 - Carnaval em África ... 18

Tabela 6 – Benchmarking - Carnaval em Portugal ... 30

Tabela 7 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Elementos Físicos ... 32

Tabela 8 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Conteúdo ... 33

Tabela 9 - Benchmarking – Museus de experiências – Elementos físicos ... 37

Tabela 10 - Benchmarking – Museus de experiências - Conteúdo ... 38

Tabela 11 - Indicadores da Procura Turística... 44

Tabela 12 - Atividades realizadas durante a época carnavalesca ... 58

Tabela 13 - Data, meio e administração e duração das entrevistas ... 61

Tabela 14 - Guião das entrevistas - Carnaval de Ovar ... 63

Tabela 15 - Guião das entrevistas - O Museu do Carnaval de Ovar ... 64

Tabela 16 - Construção do questionário – Experiência no carnaval de Ovar ... 65

Tabela 17 - Construção do questionário – Os Museus ... 67

Tabela 18 - Construção do questionário – O Museu do carnaval de Ovar ... 67

Tabela 19 - Questões da investigação ... 69

Tabela 20 - Perfil da Amostra - Entrevistas ... 70

Tabela 21 - Caracterização sociodemográfica da amostra... 74

Tabela 22 – Faixa etária dos inquiridos... 74

Tabela 23 - Avaliação dos eventos do Carnaval de Ovar ... 77

Tabela 24 - Benefícios procurados na visitação de museus ... 78

Tabela 25 - Conteúdo a explorar no museu ... 79

(16)

Tabela 28 - Sugestões de atividades ... 84

Tabela 29 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e a idade ... 84

Tabela 30 - Correlação entre os espaços físicos a explorar no museu e a idade ... 85

Tabela 31 - Correlação entre as atividades a explorar no museu e a idade ... 87

Tabela 32 - Correlação entre a importância avaliada ao projeto e a idade ... 87

Tabela 33 - Correlação entre a expectativa em museus e as habilitações literárias .... 87

Tabela 34 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e as habilitações literárias ... 87

Tabela 35 – Relação entre a importância atribuída ao museu e o local de residência dos inquiridos... 88

Tabela 36 - Relação entre a expectativa em museus e o género ... 88

Tabela 37 - Relação entre as atividades a explorar num museu e o género ... 90

Tabela 38 - Relação entre a importância atribuída ao museu e o tipo de participação dos inquiridos... 90

Tabela 39 - Visitas a realizar no museu ... 96

Tabela 40 - Espaços físicos do museu... 96

Tabela 41 - Visitas a realizar no museu ... 97

Tabela 42 - Espaços físicos do museu... 98

Tabela 43 - Preços dos Museus de Carnaval... 100

Tabela 44 - Parcerias ... 102

Tabela 45 - Número, Tipologia e capacidade do Alojamento em Ovar ... 131

Tabela 46 - Estada média e Taxa líquida de ocupação-cama por tipologia em Ovar 132 Tabela 47 - Hóspedes e dormidas por tipologia em Ovar... 133

(17)
(18)

1. Introdução

1.1. Relevância e objetivos

O Carnaval de Ovar é o maior evento do concelho, o reconhecimento e posicionamento é de tal forma elevado que os nomes Carnaval e Ovar são impossíveis de desassociar. Os eventos constituem um elemento essencial na dinamização de uma cidade. Nesta perspetiva, não só ao nível artístico ou de entretenimento, os eventos são relevantes na dinamização económica e social de um destino, influenciando de diversas formas a vida das pessoas. A oferta de um destino é beneficiada com a realização de um evento com as características do Carnaval de Ovar, tornando-se essencial para o alojamento, restauração, transportes e outro tipo de serviços complementares (Brito & Richards, 2017; Getz, 2005; Richards & Palmer, 2010). Este tipo de eventos surge como uma oportunidade de dar a conhecer os principais pontos de referência da cidade, assim como a sua cultura. Constituem um factor importantíssimo no posicionamento de um destino, assim como na sua promoção. Atraindo visitantes para a cidade e dinamizando-a de forma turística, surge a oportunidade de conquistar um novo segmento de mercado que, posteriormente, retorne ao destino e recomende a amigos e familiares (Richards & Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015).

O Carnaval integra a categoria de eventos culturais, é festejado em muitos locais do mundo e integra um conjunto de tradições e rituais muito característicos. Neste tipo de evento surgem diversas reproduções artísticas, desde tipos de música e dança, como fantasias elaboradas, carros alegóricos, infraestruturas de elevadas dimensões, entre outros (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014).

O Carnaval representa a celebração da vida, um período alegre e divertido, onde são aceites comportamentos extremos e diferentes do que é aceite normalmente pela sociedade,

envolvendo os espectadores e os participantes numa atmosfera única que quebra barreiras sociais (Shafto, 2009; Crichlow & Armstrong, 2010). A liberdade que os participantes sentem neste tipo de eventos é um elemento diferenciador, permitindo a manifestação de classes oprimidas através do protesto e realização de criticas politicas, económicas e sociais (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013).

A particularidade deste evento é que é festejado por todo o mundo e inclui diversas

celebrações com tradições comuns, assim como cada Carnaval tem os seus próprios rituais. Reconhece-se que o Carnaval é a celebração de culturas e união e valorização das diferenças entre povos, exemplo disso é o samba, constituindo a integração de uma arte brasileira nos festejos de outros países (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013). O sucesso dos eventos e, em particular do Carnaval, provém da experiência oferecida ao consumidor. Os participantes procuram os eventos para criar memórias e presenciar momentos autênticos e memoráveis, assim como para se divertirem e saírem da rotina Ziakas & Boukas (2013). A experiência vivida no Carnaval fornece um sentimento de liberdade que envolve o consumidor, enquanto oferece entretenimento e muita brincadeira.

O conceito da experiência pode ser complexo, dependendo de vários fatores e é percecionada de diferentes formas, uma vez que cada pessoa vive a experiência de forma diferente (Mason e Paggiaro, 2012; Ziakas & Boukas 2013; Getz, 2007). Nesta perspetiva, podem ser atribuídos significados diferentes ao consumidor, surgindo a necessidade de desenhar uma estratégia que transmita a melhor experiência possível.

O design de experiências surge como ferramenta de construção de experiência, analisa o comportamento do consumidor e as suas expectativas, com o objetivo de dar a resposta às necessidades (Getz, 2007; Ziakas & Boukas, 2013). Os produtores de experiências estudam as características do público-alvo para adaptar o produto oferecido, de forma a atribuir significados que intensificam e atribuem valor à experiência (Bowdin et al., 2006; Ziakas & Boukas, 2013; Berridge, 2007).

A experiência é uma das apostas do turismo e dos eventos, assim como também começa a alterar o paradigma dos museus. Nos últimos anos, os museus começaram a ser centros de diálogo e experiências partilhadas cocriativas, assim como locais para contar histórias (Jun & Lee, 2014). As instituições começaram a produzir atrações que envolvem as pessoas no conteúdo explorado no museu, investindo em novas abordagens comunicativas e exposições de cariz interativo que estimulam a participação dos visitantes (Jun & Lee, 2014).

(19)

Realizada a articulação entre a relevância dos eventos, o Carnaval e a experiência em si, o objetivo geral deste estudo incide no desenvolvimento de um projeto de um Museu do Carnaval de Ovar que demonstre as grandes valias deste evento e que contribua,

simultaneamente, para a sua promoção e para o desenvolvimento económico e sociocultural de Ovar.

O Carnaval de Ovar é um evento que existe desde 1887, no entanto, registado como evento oficial desde o ano de 1952 com a construção do primeiro cartaz oficial (Carnaval de Ovar, 2019). Neste momento é reconhecido a nível nacional e internacional, contando com uma agenda cultural de um mês, com atividades todos os fins de semana até ao dia de Carnaval. Estas atividades são realizadas em vários locais da cidade e em diferentes momentos do dia, abrangendo assim diferentes públicos. A sua diversidade é um grande fator de sucesso que tem levado a que o Carnaval ganhe notoriedade, para além disso tem sido feito um grande esforço por parte da autarquia para aumentar o nível de qualidade do evento e reter cada vez mais visitantes.

Assiste-se uma melhoria contínua do conteúdo artístico deste evento ano após ano, considerando-se urgente a valorização de todo o património existente em Ovar relacionado com o Carnaval. A participação direta da autora deste projeto no Carnaval de Ovar influenciou o surgimento desta ideia, principalmente numa problemática que tem vindo a ser constante na realização deste evento: a armazenagem do material produzido pelos grupos de Carnaval. No âmbito deste evento são produzidos todos os anos novos elementos para apresentar nos cortejos de Carnaval que acabam por ser destruídos por falta de espaço para armazenar tanto conteúdo. Tendo isto como base, surgiu a ideia de criar um projeto que aproveite todo o trabalho realizado na Cidade de Ovar e valorize esta manifestação cultural e recreativa característica da comunidade local. Para além disto, o interesse pessoal e a participação num dos grupos de Carnaval constituem também uma grande motivação para o desenvolvimento deste projeto de investigação.

Aproveitando a variedade de dinâmicas e espaços associados ao Carnaval na cidade, a câmara municipal tem vindo a realizar visitas guiadas e pacotes turísticos para os visitantes, oferecendo uma experiência singular em que as pessoas conseguem estar envolvidas na organização do Carnaval e ter contacto direto com a população local (CM Ovar, 2020). O sucesso desta atividade também reforçou a ideia de que o Carnaval em Ovar poderá ser um bom recurso para a Cidade combater a sua sazonalidade e tornar-se mais competitiva em termos turísticos. Desta forma, a criação de um museu é algo que pode ser integrado no planeamento da atividade turística da cidade que demonstre a evolução deste evento, tudo o que já foi feito, as suas componentes e o trabalho realizado pelos grupos de Carnaval. Há muito material e recursos que poderão ser usados neste projeto, assim como desenvolver atividades que ofereçam experiências cognitivas, por exemplo através da criação de workshops para os grupos de Carnaval, dando-lhes ferramentas para desenvolverem da melhor forma as suas maquetes para o desfile.

Tendo em conta o objetivo principal definido, identificaram-se os seguintes objetivos específicos:

Objetivos Teóricos:

• Definição de eventos e avaliação da sua relevância;

• Estudar a definição de Carnaval, a sua origem e quais os seus impactos;

• Aumentar o conhecimento sobre o Carnaval como evento turístico e a sua variedade a nível mundial e nacional;

• Identificar diferentes mercados, internacionais e nacionais, com interesse em participar em eventos deste tipo;

• Definição de Economia de Experiências e a sua importância em eventos, especificamente em eventos culturais e recreativos como é o caso do Carnaval; • Análise da importância do design na criação de experiências em museus; • Estudar de que forma as experiências são relevantes em museus;

• Identificar componentes relacionadas com eventos de Carnaval que devem ser

dinamizadas para aumentar o papel destes eventos no desenvolvimento dos territórios (economia de experiências…).

Objetivos Empíricos:

• Identificar boas práticas que poderão ser aplicadas no projeto;

(20)

• Identificar os recursos associados ao Carnaval de Ovar que deverão ser dinamizados através de um museu

• Validação da proposta a colaboradores da organização do Carnaval de Ovar e à procura potencial

• Apresentar uma proposta do projeto de um Museu de Carnaval com enfâse na experiência do participante.

1.2. Descrição sumária da metodologia

Fonte: Elaboração própria

Através da Tabela 1, observam-se o tipo de métodos utilizados para dar resposta aos objetivos específicos definidos. Este projeto incluiu quatro fases, pesquisa de informação secundária, análise de Benchmarking, recolha de dados primários através de questionários e entrevistas exploratórias e, por último, a construção do projeto.

A primeira fase consistiu na revisão de literatura onde se pesquisaram conceitos relevantes para o projeto em livros, artigos científicos, dissertações de mestrado e fontes de pesquisa online. Na análise de Bechmarking, recolheu-se informação sobre museus do Carnaval e museus de experiências, identificando boas-práticas a aplicar no museu do Carnaval de Ovar, por exemplo preço de entrada, atividades, eventos e espetáculos realizados.

A terceira fase incidiu na elaboração de um inquérito por questionário para recolher dados quantitativos, validando o projeto na perspetiva da potencial procura, recolhendo informação sobre a sua experiência no Carnaval de Ovar e identificar as expectativas na visita a museus. Ainda nesta vertente, complementou-se com a realização de entrevistas exploratórias a pessoas envolvidas na organização do Carnaval de Ovar e representantes da câmara municipal.

Para a construção do museu, recorreu-se à análise de Marketing-Mix para realizar um planeamento estratégico incidindo nas seguintes vertentes: público-alvo; produto; preços; promoção; distribuição; parcerias.

Definição de eventos e avaliação da sua relevância;

Estudar a definição de Carnaval, a sua origem e quais os seus impactos; Aumentar o conhecimento sobre o carnaval como evento turístico e a sua variedade a nível mundial e nacional;

Identificar diferentes mercados, internacionais e nacionais, com interesse em participar em eventos deste tipo;

Definição de Economia de Experiências e a sua importância em eventos, especificamente em eventos culturais e recreativos como é o caso do Carnaval;

Análise da importância do design na criação de experiências em museus; Estudar de que forma as experiências são relevantes em museus; Identificar componentes relacionadas com eventos de carnaval que devem ser dinamizadas para aumentar o papel destes eventos no

desenvolvimento dos territórios (economia de experiências…).

Identificar boas práticas que poderão ser aplicadas no projeto; Análise de Benchmarking Revisão de Literatura Entrevistas exploratórias Revisão de Literatura Questionários Entrevistas exploratórias Questionários Entrevistas exploratórias Apresentar uma proposta do projeto de um Museu de Carnaval com

enfâse na experiência do participante. Análise de Marketing Mix

Objetivos Metodologia

Revisão de Literatura

Caracterização do Carnaval de Ovar e identificação das suas potencialidades;

Identificar os recursos associados ao Carnaval de Ovar que deverão ser dinamizados através de um museu

Validação da proposta a colaboradores da organização do Carnaval de Ovar e à procura potencial

Tabela 1 - Objetivos específicos e metodologia

(21)

1.3. Estrutura

Tendo em conta a contextualização do tema em estudo e os objetivos definidos, este projeto de investigação encontra-se dividido em 10 capítulos, sendo que inicia com o presente texto correspondente à introdução. A revisão de literatura inicia com o segundo capítulo, discutindo várias definições de eventos e a sua relevância, considerando-se ser importante para perceber o setor onde se insere o Carnaval e quais os possíveis impactes.

Posteriormente, no terceiro capítulo, estuda-se a origem, evolução e definição do Carnaval enquanto evento cultural e recreativo e caracterizam-se alguns dos eventos deste tipo de grande relevância a nível internacional e nacional. O principal objetivo deste capítulo é analisar a dimensão do Carnaval no mundo, identificando as diversas práticas vividas no Carnaval em diferentes locais do mundo e os rituais e crenças de diferentes povos.

Por fim, ainda na revisão da literatura, no quarto capítulo abordam-se os seguintes temas: conceito de economia de experiências, experiências em eventos culturais, design de

experiências e experiências em museus. Neste capítulo analisam-se vários casos de estudos aplicados em eventos culturais e museus, identificando-se que tipo de experiências são mais valorizadas pelos consumidores e de que forma é realizado o processo da oferta de

experiências. O estudo realizado neste capítulo é essencial para a construção do conteúdo a incluir no museu, concluindo quais as diferentes vertentes que se devem considerar para oferecer a melhor experiência possível ao visitante.

No capítulo cinco, através de uma análise Benchmarking, reúne-se um conjunto de boas práticas e exemplos de museus do Carnaval, assim como a aplicação de experiências em museus. De seguida, no capítulo seis, descreve-se a história do Carnaval de Ovar, a sua evolução e as suas especificidades. Através deste capítulo, pretende-se demonstrar a dimensão do evento e obter uma maior aprendizagem sobre as suas componentes, só desta forma será possível construir um projeto completo e com o conteúdo adequado.

O sexto capítulo corresponde à descrição e explicação da metodologia utilizada para a elaboração do projeto. Definindo-se os objetivos, os métodos de investigação utilizados, os instrumentos de recolha de dados, a população e a amostra em estudo, o guião das entrevistas e dos questionários e, por último, a metodologia utilizada para a análise dos dados. Através destes métodos será complementada a informação sobre o Carnaval de Ovar e concluir quais os aspetos mais importantes da experiência dos visitantes. Para além disso, as entrevistas e os questionários possibilitam identificar um conjunto de opiniões de elementos da organização, grupos de Carnaval, escolas de samba, espectadores, fornecedores de serviços, entre outros. Constituindo uma componente importante para selecionar o tipo de conteúdo a integrar no projeto. A análise dos dados recolhidos e discussão, apresenta-se no capítulo sete, caracterizando o perfil dos inquiridos e recolhendo as principais conclusões.

A construção do projeto apresenta-se no oitavo capítulo, através de uma análise de Marketing-Mix definindo-se qual ao público alvo, que tipo de espaços físicos e atividades irão compor o museu, de que forma se irá promover e quais os parceiros essenciais para o funcionamento do projeto.

Termina-se a dissertação com o capítulo nove, expondo as principais conclusões e limitações encontradas ao longo do estudo.

(22)

2. Eventos

Nos dias de hoje, o visitante de um destino não procura apenas produtos isolados, como o alojamento ou restauração, mas sim ambiciona viver uma experiência completa e integrada que, preferencialmente, supere as suas expectativas (Serreira, 2014). Esta tendência, começou a verificar-se com o aumento do tempo livre para lazer e a criação de subsídios de férias, observando-se uma influência direta nos eventos públicos, festivais e outras formas de entretenimento, uma vez que tendem a ser cada vez mais frequentes (Bowdin, Flinn & McPherson, 2006).

Face a um mercado progressivamente competitivo, os destinos turísticos focam-se na promoção de eventos como estratégia de marketing, criando imagens de marca atrativas e aumentando a visibilidade do destino. Deste modo, procuram atrair mais visitantes e aumentar o seu tempo de estada.

Os objetivos do presente capítulo incidem na compreensão do setor dos eventos, na recolha e comparação de definições, na análise da sua relevância, e na avaliação das diferentes

tipologias que os eventos podem assumir. Posteriormente, pretende-se identificar em que tipologia o Carnaval se insere e explorá-la, detalhadamente, no que respeita às suas

características e tendências, ao longo dos tempos. Este capítulo é essencial para compreender o enquadramento do carnaval de Ovar como evento e, perceber a sua relevância e

potencialidades. O estudo intensivo sobre esta temática permite o esclarecimento sobre a dimensão dos eventos, o que os constitui, o seu impacto e as várias tipologias exploradas nesta área.

2.1.

Definições, relevância e tipologias

A definição de evento não tem sido consensual, tanto pela sua dimensão como pelas diferentes tipologias, no entanto a sua relevância é indiscutível. Os eventos constituem parte significativa da sociedade e representam uma das componentes mais importantes do Turismo (Oklobdzija, 2015).

Segundo Oklobdzija (2015), a origem dos eventos advém de uma exibição pública, um ritual cívico ou uma celebração coletiva. Bowdin Flinn e McPherson (2006) concluíram que o termo tem vindo a ser usado para descrever diferentes situações, tais como: rituais, apresentações, celebrações que são constantemente comemoradas para marcar alguma ocasião (exemplo: casamentos) ou então alguma situação cultural ou de negócios.

Os eventos são um fenómeno temporal, são acontecimentos muito específicos com data, hora e local, criados para alcançar resultados específicos, que podem estar relacionados com diferentes áreas como a economia, a cultura, a sociedade ou o meio ambiente (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Ferreira, 2014).

Os eventos proporcionam uma experiência diferente e única, que resulta num feedback final variado de pessoa para pessoa, uma vez que o consumidor tem de estar presente fisicamente para usufruir completamente da experiência (Getz, 2008; Y. K. Lee et al., 2008).

Getz (2008), considera que os eventos constituem um fenómeno único, onde o participante e os prestadores de serviços têm uma oportunidade única de interação, concluindo que a organização do evento deve ser realizada de forma cuidada, focando a sua ação no público-alvo.

(Carter, 2013), assume que os eventos consistem num ajuntamento de pessoas que se deslocam a um certo local com um propósito específico.

Embora se conclua que todas as definições analisadas são corretas, considera-se que a definição mais completa é a de Getz (2007), reafirmada por Richards e Palmer (2010) e

Ferreira (2014). Um evento consiste num acontecimento específico, com um determinado tema, que se realiza num dado local, a uma hora e data exata, com início e fim. (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Ferreira, 2014).

Nos tempos modernos começou a observar-se um novo significado deste setor, tornando-se essencial não apenas a experiência em si, como a criação de uma identidade individual e coletiva, construindo coesão social e uma nova perspetiva de como o destino e a sua comunidade é vista (Richards & Palmer, 2010). A evolução dos eventos tem vindo a acompanhar a globalização da economia, assistindo-se assim ao crescimento de diferentes

(23)

tipologias de eventos com influência na atividade e inovação a nível global em diferentes áreas (Colombo & Richards, 2017).

Os eventos e os espaços, juntamente com a interação de pessoas produzem um conjunto de atividades que dão vida e ritmo à cidade (Richards & Palmer, 2010). Constituem parte essencial do desenvolvimento e posicionamento das cidades e regiões, influenciando positivamente a economia local, regeneram tanto o património e lazer como a cultura e o desporto (Brito & Richards, 2017; Getz, 2005; Richards & Palmer, 2010). Os eventos podem influenciar bastante o nível de vida da população, traduzindo-se em impactos sociais, económicos e políticos (Richards & Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015).

A versatilidade de setores envolvidos num só evento cria um efeito multiplicador, com impactos económicos significativos, contribuindo para o desenvolvimento do destino e para a criação de novos negócios e aumento da empregabilidade, assim como influência a estabilidade de outros setores (Serreira,2014). Impulsionam o crescimento de empresas, esgotam a capacidade dos hotéis, melhoram as infraestruturas da região, aumentam a qualidade de vida da população e acrescentam valor à identidade do destino (Oklobdzija, 2015). Segundo Richards & Palmer (2010), os eventos estimulam a dinamização de atividades criativas, educacionais e

recreativas, estabelecimento de parcerias e tem impactos económicos e sociais significativos. Desempenham um papel importante a nível social, aumentando a envolvência da comunidade local no evento e a valorização de costumes e tradições regionais (Oklobdzija, 2015).

Desta forma, as entidades responsáveis pela promoção dos destinos turísticos têm vindo a investir na concretização de eventos como uma ferramenta de marketing essencial, tornando-se uma prioridade no detornando-senvolvimento de planos de marketing, integrando a estratégia local e estimulando a indústria turística (Getz, 1991; Bowdin et al., 2006; Getz, 2008). Através dos eventos promove-se vários locais do destino, atrai-se novos visitantes, ganha-se maior visibilidade e posicionamento, resultando na criação de uma imagem de marca, atraindo investidores e, aumentando a legitimidade e reputação como destino turístico a nível global (Oklobdzija, 2015; Getz, 2008; Richards & Palmer, 2010).

Getz (2007) afirma que a realização de um evento abrange as seguintes áreas: design e implementação de temas; logística; conteúdo; serviços e programas sugeridos; convidados, espetadores, entre outros stakeholders. Os stakeholders integram a indústria dos eventos e constituem uma parte essencial deste setor (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010).

Representam um vasto leque de entidades, como a organização, os participantes, a

comunidade anfitriã, os profissionais da indústria, os patrocinadores, a comunicação social, as diferentes associações locais, os parceiros, entre outros (Bowdin, Flinn e McPherson; 2006). Tendo em conta a versatilidade do setor, é muito importante a cooperação entre os diferentes serviços, produzindo a melhor experiência possível e assegurando todas as necessidades e espectativas dos participantes (Ferreira, 2014). O fraco planeamento e a má gestão poderão comprometer o sucesso do evento, podendo traduzir-se num conjunto de impactos negativos para o destino, nomeadamente, imagem negativa ou diminuição dos lucros (G. A. J. Bowdin et al., 2006).

Analisada a especificidade de um evento assume-se que existe dificuldade na sua definição exata. Nesta perspetiva, vários autores dividiram os diferentes eventos por tipologias, de acordo com vários parâmetros tendo em conta a experiência oferecida em cada um deles e as suas características (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015).

Desta forma, serão abordadas diversas tipologias dos eventos tendo em conta os diferentes critérios: Escala; Dimensão; Frequência; Forma e conteúdo (Batista, 2008; Vieira, 2015; Getz, 2007, 2008).

(24)

Fonte: Elaborado com base em Getz (2007; 2008) e Vieira (2015)

Segundo a dimensão Getz (2007), os eventos dividem-se em três categorias: “Megaeventos”; “Eventos Marcantes” e Eventos “Locais e regionais”.

Os “Megaeventos”, são os de maior dimensão, com um posicionamento mais elevado do que os outros, sendo então os mais importantes. Getz (2005) afirma que este tipo de evento tem impactos consideráveis no setor do turismo, tanto pelo seu tamanho como significância, conseguem maior cobertura mediática, assim como impacto económico e importância para o destino. Nesta tipologia, designa-se como “mega” devido ao seu elevado impacto, tanto no desenvolvimento de infraestruturas e envolvimento dos participantes, como resulta num conjunto de impactos sociais, ambientais, políticos e económicos no destino (Bowdin et al., 2011). O principal foco dos megaeventos é atrair visitantes internacionais e melhorar o posicionamento da região onde se inserem. Exemplo deste tipo de eventos são os eventos desportivos, como os Jogos Olímpicos e o FIFA World Cup ou o Carnaval do Brasil, referência a nível mundial.

Os eventos “Hallmark”, ou seja, eventos marcantes são considerados uma vantagem

competitiva do destino, a envolvência da comunidade local é elevada, e fomenta a continuidade de tradições e valorização cultural (Getz, 2007). Inicialmente, a criação deste tipo de eventos tem como principal objetivo o reconhecimento e atratividade do destino. Originalmente podem ser eventos pequenos, mas que ao longo do tempo, vão crescendo e desenvolvendo-se, conquistando cada vez mais reconhecimento. A eficácia deste tipo de eventos está dependente da participação da população local, acrescentando uma valorização cultural distintiva. Estes tipos de eventos estão intrinsecamente ligados à imagem do destino criando uma “marca” e, tornam-se indissociáveis do nome da cidade (Bowdin et al., 2011). Ao longo do tempo

conquistam cobertura de meios de comunicação social, aumentando a divulgação do nome do evento e atingindo um maior alcance, atraindo muitos visitantes, nacionais e internacionais (Getz, 2007). Constituem assim uma ferramenta importante para a criação de vantagens competitivas enquanto destino turístico.

A terceira categoria, nomeadamente eventos “Locais e Regionais”, define-se como um evento único, que se desenvolve apenas num único lugar e têm pouco alcance territorial, sendo os participantes de origem local ou da região envolvente. Este tipo de eventos reforçam o orgulho da comunidade local, valorizam as suas tradições e costumes e tem como principal função o entretenimento e dinamização local (Getz, 2008). Exemplo deste tipo de eventos, são as festas religiosas realizadas ao longo de todas as regiões de Portugal, a maioria tem uma dimensão pequena e atrai visitantes apenas da região.

Tendo em conta esta teoria de Getz (2007), respetivamente à dimensão, Batista (2008) adaptou a tipologia definindo os eventos entre pequenos e grandes eventos, sugerindo classificar segundo o número de participantes:

▪ Micro eventos: Até 100 participantes;

▪ Pequenos eventos: Entre 101 e 500 participantes; ▪ Médios eventos: Entre 501 e 2500 participantes;

(25)

▪ Grandes eventos: Entre 2501 e 5000 participantes; ▪ Macro eventos: Mais de 5000 participantes.

Na perspetiva de Vieira (2015), os eventos também podem ser definidos consoante a frequência com que se realizam, dividindo-se entre únicos, esporádicos e periódicos. Nesta perspetiva, existem eventos que se concretizam somente uma vez, enquanto que outros são realizados usualmente, sem data definida especificamente. Por último, os eventos periódicos têm um tempo específico determinado, realizando-se dentro do mesmo espaço de tempo definido, normalmente os eventos mais consolidados integram esta categoria.

Por último, Getz (2008) categoriza os eventos consoante a forma e o conteúdo, integrando as diversas categorias:

▪ Celebrações culturais – Festivais; Parques de diversões; Comemorações; Eventos Religiosos

▪ Eventos políticos – Cimeiras; Eventos políticos; Eventos “VIP”

▪ Artes e entretenimento – Concertos, Cerimónias de entrega de prémios

▪ Competições desportivas – nível amador / profissional com tipo de participação direta ou como espectador

▪ Eventos privados – Eventos sociais; casamentos; festas

▪ Eventos empresariais e de comércio – congressos, reuniões, feiras empresariais

▪ Eventos educacionais e científicos – Seminários, conferências, workshops

Tendo em consideração a análise realizada, o Carnaval de Ovar, insere-se nas seguintes tipologias: Evento Hallmark; Evento periódico; Celebração cultural.

Considera-se quanto à sua dimensão e alcance, que o Carnaval de Ovar se insere na tipologia de “Evento Hallmark” sendo que se associa o evento à imagem do destino, como é o caso de Ovar. Para além disso, a participação da comunidade local é imprescindível, produzindo parte das atividades do evento. A cobertura dos media começa a crescer e o seu alcance começa a ser cada vez mais elevado, com bastantes estrangeiros a deslocar-se até Ovar durante o período em que ocorre o evento.

O Carnaval de Ovar é realizado todos os anos na época do Carnaval, antecedente à quaresma. Desta forma, integra a tipologia de “evento periódico”, sendo que se concretiza sempre no mesmo espaço temporal. Na perspetiva da forma e conteúdo, o Carnaval de Ovar inclui características das celebrações culturais. Para esclarecer e definir melhor o Carnaval de Ovar como evento cultural, realizou-se posteriormente uma análise intensiva sobre esta categoria.

2.2.

Eventos Culturais

Vieira (2015) afirma que os eventos culturais podem manifestar-se em diferentes formas, como representações de arte, teatro, concertos ou outro tipo de representações artísticas. Os

eventos culturais acontecem em diferentes contextos de diversas formas. Esta fator deve-se especialmente à particularidade de cada cultura, incluindo diferentes tipos de festejo e

tradições. Moldam-se aos costumes, valores e significados da comunidade local, dando assim origem a uma diversidade de eventos abundante (Ziakas & Boukas, 2013).

Os eventos de carácter cultural podem assumir várias formas e conceder diferentes

experiências aos seus participantes, tendo em conta o contexto e o propósito em que se realiza (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz&Page, 2014).

Nos eventos culturais comemoram-se os costumes e rituais culturais, influenciando o respeito e valorização da comunidade e surgindo a oportunidade de celebrarem algo que todos têm em comum, a sua cultura (Ziakas & Boukas, 2013). Para além disso, interpretar os rituais e as crenças dos antepassados desperta um sentimento de pertença e orgulho pela comunidade e pela região a que pertencem (Ziakas & Boukas, 2013).

A cultura tem uma definição complexa, tendo em conta a sua particularidade, abrange contextos político-sociais, religiosos e envolve ainda eventos de entretenimento e arte (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014).

“A cultura pode ser definida como um projeto de vida historicamente, partilhado por um grupo de pessoas. Abrange coisas como comida, vestuário, arquitetura, língua, crenças, mitos e

(26)

valores comuns. Também inclui arte, atividades de recreação e lazer e cultura popular, como cinema, música pop e dança.”(G. A. J. Bowdin et al., 2006).

Este tipo de eventos, envolve a comunidade local e proporciona momentos de diversão e celebração dos seus costumes típicos e tradições, formando um momento de aprendizagem cultural tanto para os residentes como para os visitantes de outras regiões (Bowdin et al., 2006; Getz, 2007).

A realização deste tipo de eventos estimula o desenvolvimento da região, tanto a nível cultural, como económico e social (Getz,1997; Bowdin et al., 2006). Os eventos culturais concentram em si parte essencial para o processo de revitalização e desenvolvimento urbano das cidades. Representa uma ferramenta de desenvolvimento urbano e cultural com impactos económico-sociais, promovendo uma imagem positiva do destino e melhorias na vida urbana em geral (Richards & Palmer, 2010; Getz, 2008).

Os eventos culturais constituem parte da herança cultural e é muito importante na preservação do património e das tradições, no entanto podem representar uma ameaça à autenticidade do destino (Getz & Page, 2014; Richards & Wilson, 2006). A exploração excessiva dos recursos e a adaptação dos produtos e serviços oferecidos aos visitantes podem transmitir uma imagem negativa sobre o destino (Getz & Page, 2014; Richards & Wilson, 2006).

Como é possível observar na Figura 2, os eventos culturais podem revelar-se nas mais diversas formas, nomeadamente através do Carnaval.

Fonte: Elaborado com base em Getz (2007; 2005; 2008) e Getz & Page (2014)

O Carnaval compreende muitas valências, para além da folia e diversão, é considerado um evento cultural por ser um espetáculo de inclusão de diferentes culturas provenientes de todo o mundo. No contexto carnavalesco, proporcionam-se momentos de liberdade de expressão e todos têm oportunidade de manifesto, pelas mais variadas causas. Para além disso, constitui um evento de produção de arte, desde carros alegóricos, a novos estilos de música e dança, as possibilidades são infinitas. Para além disso, contém um conjunto de atividades, rituais e costumes típicos de região para região, adaptando-se consoante a realidade da comunidade local e dos seus antepassados (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014).

2.3.

Conclusão

Este capítulo permitiu o aumento da compreensão do conceito de “eventos”, caracterizando-se como um fenómeno temporal, multidisciplinar com intervenção de variados stakeholders e grande relevância num destino.

Observou-se que os eventos influenciam os destinos turísticos em variadas vertentes com impactos ambientais, culturais, sociais, políticos, geográficos, recreativos e educacionais e económicos. Os impactos económicos são os mais visíveis, talvez por serem tangíveis e quantificáveis, traduzindo-se num elevado crescimento económico e aumento do consumo de bens e serviços no destino. Estes fatores influenciam o desenvolvimento e criação de novos negócios locais, assim como o aumento do emprego e melhoria do nível de vida da população.

Figura 2 - Eventos Culturais

(27)

A fusão entre o marketing e os eventos constitui uma ferramenta de sucesso para os destinos turísticos. A cobertura realizada pela comunicação social nos eventos promove as cidades e divulga a dinâmica vivida nestes locais, atraindo assim vários visitantes e aumentando a visibilidade, tanto do evento como do destino turístico. A dinamização dos espaços culturais da cidade, para além de atrair visitantes e novos investimentos, promove o reconhecimento e preservação do património cultural e de lazer.

Desta forma, os eventos influenciam o desenvolvimento e rejuvenescimento das cidades, contribuindo para a fixação da população local e atração de novos residentes, a construção e melhoria de infraestruturas, aumentam a qualidade de vida e o sentimento de pertença e orgulho da população.

Os eventos são relevantes para o setor do turismo como ferramenta de combate à

sazonalidade. Uma das maiores dificuldades do setor do turismo é a afluência de visitantes em apenas alguns períodos do ano, denominada de época alta. Os eventos surgem então na estratégia de combate a esta tendência, sendo frequentemente realizados em época baixa para atrair visitantes e influenciar o consumo turístico.

Para além dos impactos positivos, os eventos podem provocar impactos negativos nos locais onde são realizados, nomeadamente ambientais. Nesta perspetiva, é essencial realizar um planeamento prévio tendo em conta medidas de prevenção e mitigação para que os impactos sejam os mínimos possíveis.

Através da pesquisa sobre as diferentes classificações dos eventos, concluiu-se que esta área pode ser percecionada de diferentes maneiras devido à sua versatilidade. Foram analisadas diferentes tipologias para categorizar os eventos e, embora algumas delas fossem muito diferentes, é consensual que o Carnaval se define como uma celebração cultural.

Os eventos culturais são difíceis de definir, consequência do abrangente significado de cultura. A cultura representa as tradições e costumes do povo de um determinado local, a sua história e os rituais dos seus antepassados, constituindo a identidade de um destino. Neste sentido, os eventos culturais são únicos e moldam-se de região para região, tendo como principal objetivo a celebração e partilha de culturas entre residentes e visitantes.

A autenticidade é uma das características dos eventos culturais, no entanto é necessário ter atenção à fusão de culturas que poderá representar uma ameaça. Na construção do evento, como em qualquer serviço, o foco é proporcionar a melhor experiência possível ao consumidor. Nesta perspetiva, por vezes introduzem-se elementos globais adaptados à cultura dos

visitantes, sacrificando a cultura local. A oferta gastronómica em alguns eventos é um claro exemplo de como culturas externas se sobrepõem às locais, desvalorizando-as, até se perderem por completo.

(28)

3. Carnaval – a sua relevância

O carnaval é uma tradição que se celebra há vários séculos por todo o mundo. Neste contexto, representa uma festividade comum entre várias culturas com elementos históricos ricos. Como se observou no capítulo anterior, define-se o carnaval como sendo um evento cultural. Sendo relevante analisar as origens e a evolução do carnaval, assim como as influências culturais e os elementos que distingue este evento a nível internacional e nacional. A cultura de cada país está presente de diversas formas nas celebrações do carnaval, analisando-se neste capítulo as tradições e rituais, de que forma é que retratam a comunidade local de cada destino e, quais os seus impactos na sociedade.

Neste contexto, o capítulo presente explora a origem e definição de carnaval, assim como expõem a evolução do carnaval e analisa intensivamente as características do carnaval em vários continentes, assim como em Portugal.

Em Portugal existem carnavais distintos, alguns com celebrações típicas brasileiras e outros com um misto de influências culturais, tanto nacionais como internacionais. Realizou-se uma pesquisa intensiva sobre as celebrações carnavalescas em Portugal, explorando as

características e autenticidade de cada um deles.

3.1.

Origem e evolução

O surgimento dos festejos carnavalescos não é consensual entre os autores. Segundo Sullivan (2016), registou-se o primeiro Carnaval no Egipto, onde se celebrava a vida, a morte e o renascimento no festival de Osíris e, com a característica de que os participantes poderiam ter comportamentos livres de restrições sociais. Crichlow e Armstrong (2010), referem que as máscaras remontam aos princípios pagãos, onde se realizavam rituais com vestimentas e disfarces nas festividades romanas.

No entanto, as celebrações do Carnaval também poderão ter início na Grécia, entre 600 e 520 antes de cristo, quando as pessoas comemoravam o novo ano e agradeciam a fertilidade e renascimento da natureza aos seus deuses (Pereira, 2015; Eze-Orji, 2015).

Grande parte dos estudos indica que o Carnaval era um evento festejado 40 dias antes da Páscoa, ou seja, antes que se inicie o período da “Quaresma”. Originalmente, neste período assim denominado pela igreja católica, os seus crentes teriam de realizar jejum com a privação de carne durante os 40 dias, nomeando-se como “caro-vale” que significa “adeus a carne” (Derviş, 2012; Pereira, 2015; Eze-Orji, 2015; Nurse, 2010; Crichlow & Armstrong, 2010). No continente Americano, como alternativa ao termo “carnaval” designaram as suas festividades de “Mardi Gras”, significando “terça feira gorda” (Crichlow & Armstrong, 2010). Fazendo referência ao último dia dos festejos, dia de cometer mais excessos antes da “quarta-feira de cinzas”, onde as pessoas confessavam os seus pecados, realizavam o luto do

Carnaval e iniciavam a época de privação (Nurse, 2010; Crichlow & Armstrong, 2010).

A origem do Carnaval é consensual, indicando-se que teve origem através de rituais religiosos, no entanto o seu significado foi variando ao longo dos tempos, cruzando as tradições locais com costumes de carnavais internacionais. Assim, transformou-se numa comemoração muito própria de região para região com traços da cultura local e utilizando rituais dos antepassados (Shafto, 2009).

Os desfiles de Carnaval começaram a evoluir ao longo dos anos, sendo que atualmente incluem carros alegóricos de grande qualidade e pessoas com trajes, bandas de músicos, coreografias, máscaras e maquilhagens elaboradas (Shafto, 2009). Outra tendência é a presença de várias figuras místicas maléficas, sendo assim designada uma época demoníaca sem qualquer tipo de restrições que antecede a altura da penitência, a Páscoa. (Harris, 2003) O Carnaval festejado como conhecemos, poderá ter nascido em Veneza, no século XVII, caracteristicamente conhecido pelas máscaras que os nobres utilizavam para esconder a sua identidade no meio da multidão. Esta tradição multiplicou-se para outros carnavais pelo mundo inteiro, especialmente na Europa (Shafto, 2009).

Em Paris, os modos de festejo influenciaram as tradições do Carnaval “moderno”, através da sociedade vitoriana com desfiles de fantasias no século XX (Pereira, 2015). Posteriormente, para além dos desfiles realizados nas ruas, começaram-se a realizar bailes de Carnaval em locais fechados, com vários tipos de entretenimento como o samba e as marchas (Pereira, 2015). Os bailes propagaram-se por vários países e transformaram-se em festas luxuosas com

(29)

conceito inicial de Carnaval, a igualdade entre classes, influenciando a realização de novas “brincadeiras” de Carnaval para as classes mais baixas. Surgindo, inicialmente, na Península Ibérica festejos que envolviam os participantes em “lutas” de ovos, água suja, fezes, farinha, entre outros (Krawczyk et al., 1992).

A partir do século XX, os festejos do Carnaval começaram a ter impactos económicos vantajosos para as regiões e as entidades responsáveis começaram a aproveitar o seu potencial. A aposta neste evento aumentou, assim como o aumento de iniciativas e novas formas de festejo, originando-se um negócio rentável com elevado alcance (Tureta & Araújo, 2013).

3.2.

Conceito, características e relevância

O Carnaval é um tipo de evento que se foi adaptando à realidade de cada local onde era festejado, tornando-se difícil a sua definição (Ferreira, 2006). São frequentemente utilizadas palavras como festividade, celebração, folia, alegria, entretenimento, liberdade, fantasia e brincadeira (Getz, 2007; Pereira, 2015; Derviş, 2012). Carnaval é conhecido pela sua exuberância, cor, criatividade e cultura(Shafto, 2009, p.2).

O principal objetivo do Carnaval é a celebração da vida, constituindo um período para alegrar e divertir a comunidade local e os visitantes. Os participantes deste tipo de eventos procuram acima de tudo diversão, brincadeira e folia, aprimorando estes sentimentos através de máscaras, bailes e desfiles com trajes brilhantes e coloridos, música, dança e fantasias. (Shafto, 2009; Getz, 2007; Pereira, 2015; Derviş, 2012).

Este evento é especial, uma vez que não implica um conjunto de regras ou regulamentos, permitindo que os espectadores tenham uma participação ativa, com pouca divisão entre os participantes e os artistas. Surge então a oportunidade de envolver os participantes nas atividades realizadas, interagindo em forma de brincadeira e paródia com os outros

participantes através das suas vestimentas e máscaras (Bakhtin, 1984; Crichlow & Armstrong, 2010)

Como analisado posteriormente, os eventos têm a capacidade de estimular a indústria turística de um determinado destino e reconstituir a sua identidade. O Carnaval segue a mesma tendência, principalmente a nível económico e social. Constitui uma oportunidade de negócio vantajosa e influência pequenas e médias indústrias, como é o exemplo de empresas de tecidos ou outros materiais, assim como o fornecimento de serviços, por exemplo, costureiras ou empresas de som (Dias, 2006; Pereira, 2015; Getz, 2007). Na perspetiva social, para além de fomentar a cultura local e o sentimento de pertença, o Carnaval tem a capacidade de quebrar barreiras e estimular a igualdade social (Dias, 2006).

O Carnaval é valorizado pela sua democraticidade, onde prevalece a igualdade social que une as pessoas e cria um senso de comunidade, aumentando o sentimento de pertença a quem participa no evento e proporcionando a oportunidade de reunir as pessoas de diferentes classes sociais (Pereira, 2015; Ziakas & Boukas, 2013; Damatta, 1997).

Damatta (1997), considera também importante que o Carnaval seja festejado em espaços urbanos, locais comuns entre todas as pessoas sem distinção económica ou social, permitindo que se sintam mais à vontade e que nenhuma das partes de apodere do evento como se lhes pertencesse.

A paródia tão característica do Carnaval serve como estratégia social para confrontar a opressão de classe, raça e género (Nurse, 2010). Com isto, não existem hierarquias entre os membros da sociedade, permitindo que a participação neste evento seja realizada de forma igualitária entre todos (Bakhtin, 1984).

O Carnaval desempenhou um papel importantíssimo no desenvolvimento da sociedade e globalização das culturas (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013). Possibilitou a manifestação de classes marginalizadas, protesto e resistência da comunidade face a crises políticas e económicas, assim como a aceitação e valorização das diferentes culturas que acabaram por se moldar criando novas tradições e valores, como é o exemplo do samba (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013).

Este evento está associado à suspensão de normas sociais e de todas as regras impostas pela sociedade, formando uma tendência de tolerância a muitos comportamentos, permitindo que as pessoas se libertem das suas obrigações e divirtam-se sem preocupações (Pereira, 2015; Getz, 2007).Vive-se numa realidade alternativa, onde é possível questionar e quebrar as normas sociais comuns, permitindo o uso de “expressões ousadas” e manifestações que, muitas vezes, influenciam a comportamentos violentos (Crichlow & Armstrong, 2010).

(30)

A liberdade de expressão do Carnaval influenciou a forma como é praticado em diferentes partes do mundo, constituindo um “repertório de expressões” com significado cultural que manifesta várias etapas da história mundial ao longo dos anos. Para além disso, o Carnaval representa uma união cultural com bastante interesse a nível material e imaterial, com um potencial artístico ilimitado (Eze-Orji, 2015; Crichlow & Armstrong, 2010).

3.3.

Carnaval no mundo

Das variadas festividades, o Carnaval é o que proporciona uma experiência com poucos juízos de valor, resultando numa liberdade multidimensional (Eze-Orji, 2015).

O epicentro do Carnaval foi na Europa, mas propagou-se pelo resto do mundo passando por diversas alterações de país para país, adequando-se às características de cada uma das culturas, representando um evento único de região para região (Getz, 2007; Shafto, 2009). Neste contexto, realizou-se uma pesquisa intensiva sobre o Carnaval através da recolha de vários tipos de celebrações existentes pelo mundo, identificando diferentes rituais e crenças existentes ao longo do mundo. Pretende-se também comparar as diferenças entre os diversos carnavais e analisar as celebrações semelhantes que se propagarão pelo mundo. Analisada a evolução e propagação do Carnaval a nível internacional, considerou-se importante perceber as especificidades dos carnavais, dividindo esta análise nos seguintes continentes: Europa, América e África. A escolha deste tipo de divisão consistiu na identificação de diferentes tipos de celebração, concluindo-se que os festejos deste evento incidiam nestes continentes. No continente europeu, o Carnaval é festejado de diversas formas e existem as mais variadas crenças. Na Tabela 2, observa-se a diversidade existente de país para país, destacando-se algumas celebrações. Na Europa, as tradições deste evento continuam muito presentes e variadas, principalmente nos países predominantemente católicos, como é o exemplo de Itália (Getz, 2007).

Europa

País Designação Características Fonte

Bélgica Carnaval de Binche

Património Mundial da Humanidade (Carnaval de Binche, 2020; Shafto, 2009) Trouilles de Nouilles 1

Gille - Traje inspirado na visita de Incas ao país

França

Carnaval de Nice "Battle of the Flowers"

(Shafto, 2009)

Villefranche-sur-Mer

"Grosses têtes" - Personagens cabeçudas "Naval Battle of the Flowers"

Festival de

Lemon - Menton Fête du Citron Alemanha Carnaval da região de "Rhineland" "Rosenmontag" 2 Wieverfastelovend 3 Islândia x Tradição Gastronómica

4 Öskudagur 5

Itália Veneza Um dos carnavais mais reconhecidos do Mundo

1 Os participantes vão mascarados de uma personagem, normalmente famosa, escolhida pela organização 2 Desfile de sátira política realizado na segunda-feira de carnaval

3 Valorização e comemoração da Mulher. Festejo destinado a todas as mulheres da região, celebrando com fantasias,

mascaras e adereços

(31)

Entretenimento e espetáculos de Rua (Arcodia & Mbus, 2013; Shafto, 2009) Património Mundial da Humanidade

Celebração das máscaras

Mónaco Monaco Desfile de rua com figurantes disfarçados, carros alegóricos floridos e balões gigantes

(Shafto, 2009) Eslóvenia "Pust" Personagem "kurent"

6 Dança tipica "Kurent" Suíça Basel Basler Fasnacht 7

Chipre Limassol Desfile de rua com figurantes disfarçados, carros alegóricos

(Ziakas & Boukas, 2013; Shafto, 2009) Reino

Unido Nothing Hill

Street art

Ferris, 2010 Gastronomia típica

Competição de bandas

Grécia Pátras

Agradecimento aos Deuses pela fertilidade e

produção agrícola (Papadimitriou,

2013) Tsiknopempti - Festa da carne

Queima do Rei do Carnaval 8

Fonte: Elaborado com base em Carnaval de Binche (2020), Shafto (2009), (Arcodia & Mbus, 2013), Ziakas & Boukas (2013), Ferris (2010) e Papadimitriou (2013)

Veneza é das cidades mais reconhecidas e distintas no festejo do Carnaval, celebrando a máscara, símbolo criado para representar a igualdade entre classes nas celebrações

carnavalescas (Arcodia & Mbus, 2013). Atualmente, como o Carnaval é festejado no inverno, constitui uma ferramenta eficaz de combate à sazonalidade no país (Arcodia & Mbus, 2013). Esta tendência verifica-se noutras regiões, começando a observar-se a aposta neste evento como estratégia para combater a época baixa e criar fluxo de visitantes.

No Reino Unido, o Carnaval é festejado em vários locais, com especial destaque para o Carnaval de Notting Hill (Tabela 2), atrai mais de dois milhões de visitantes à região (Nurse, 2010). Nesta cidade praticam-se vários tipos de atividades semelhantes a outros carnavais como concertos, “street food”, pessoas fantasiadas, máscaras e desfiles de rua. No entanto, a

sua particularidade consiste na participação predominante da população com descendência africana, influenciando as comemorações a um estilo de dança e música próprio. (Ferris, 2010; Nurse, 2010).

Em França, a tradição do Carnaval é muito forte e distinta. Representa o país de origem dos vistosos bailes de Carnaval e desfiles de fantasias glamorosas e, por outro lado, atualmente apresenta um conjunto de celebrações muito diferentes (Shafto, 2009). No Carnaval de Nice, realiza-se todos os anos a “Battle of the Flowers”, um desfile com carros alegóricos enfeitados

somente com flores e os figurinos lançam flores para os espectadores. Em Villefranche-sur-Mer, os festejos são semelhantes à "Naval Battle of the Flowers" (Tabela 2), no entanto é realizado em meio aquático e, em substituição dos carros alegóricos, estão os barcos

enfeitados com flores. Nesta localidade, também se destacam os cabeçudos (“Grosses têtes”).

Por último neste país, em Menton, realiza-se o “Fête du Citron”, um desfile com carros

alegóricos decorados apenas com citrinos (Shafto, 2009).

Continente Americano

A Tabela 3 contém informação sobre os carnavais mais relevantes do continente Americano, analisando-se a sua diversidade cultural e crenças. O Carnaval na América teve origem na colonização dos portugueses e dos britânicos, incutindo as suas crenças e tradições, assim com os festejos carnavalescos (Crichlow & Armstrong, 2010).

6 As pessoas disfarçam-se desta personagem e realizam uma dança típica para afugentar o inverno

Tabela 2 - Carnaval na Europa

(32)

Posteriormente, as comunidades das antigas colónias começaram a manifestar-se e a

introduzir questões políticas e culturais com o objetivo de combater injustiças no modo de vida em que viviam.

Este processo deu origem à fusão entre as diferentes culturas, resultando num tipo de

Carnaval único com elementos históricos e culturais de cada região. Como é possível observar-se nas Tabela 3 eTabela 4, existe muita diversidade e quantidade de carnavais no continente Americano.

América País Designação |

Região Características Fonte

México x

Desfile de rua com dança, música e trajes típicos

(Shafto, 2009) Participantes decoram ovos e, posteriormente,

partem na cabeça como um ritual de boa sorte

Cuba x Queima de um boneco de palha - simboliza a

libertação dos pecados

(Nurse, 2010; Shafto, 2009; Crichlow & Armstrong, 2010) Estados Unidos da América New Orleans "Mardi Gras"

Tradição proveniente das caraíbas - 1º Carnaval da américa norte (Nurse, 2010; Shafto, 2009) Teatro de rua

Carros alegóricos temáticos e de grande dimensão Sociedades místicas e secretas organizam os desfiles de rua

Saint Paul

Competições de esculturas de neve

(Shafto, 2009; Carnaval de Québec, 2020) "Carnaval de Inverno" - Prática de desportos de

neve

Canada Québec

Figuras em gelo

"Hydro Quebec Parade" - Desfile com figuras e carros alegóricos construídos com gelo

Atividades e desportos de inverno

Fonte: Elaborado com base em Nurse (2010), Shafto (2009), Crichlow & Armstrong (2010) e Carnaval de Québec (2020)

Em semelhança com alguns países da Europa, há alguns locais como a Venezuela, Argentina ou Aruba, onde se personifica o Diabo nos seus disfarces, representando a libertação dos pecados antes do período da Quaresma (Tabela 4).

A escravidão praticada durante muitos anos em países da América influenciou a origem de alguns rituais que são realizados no Carnaval, provenientes dos escravos que não tinham direito à celebração do Carnaval. Começaram a festejar entre si e a criar as suas próprias tradições, nascendo um tipo de festejo diferente das celebrações europeias, com influências africanas na dança, música e vestimentas (Shafto, 2009; Nurse, 2010; Cape Town Carnival, 2020; Cape Verde Carnival on Sao Vicente, 2020). Desenvolveram-se diferentes tradições e tipos de festejo que se propagaram por todo o mundo, como é o exemplo do samba e do estilo musical “Calypso”. O samba começou a ser praticado em regiões de todo o mundo e

Tabela 3 - Carnaval na América do Norte

Referências

Documentos relacionados

Figure 9 – The distribution diagram of the different groups of benzo(a)pyrene concentrations during different experimental periods as a function of the two

As pontas de contato retas e retificadas em paralelo ajustam o micrômetro mais rápida e precisamente do que as pontas de contato esféricas encontradas em micrômetros disponíveis

- os termos contratuais do ativo financeiro dão origem, em datas específicas, aos fluxos de caixa que são apenas pagamentos de principal e de juros sobre o valor principal em

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça

Para se buscar mais subsídios sobre esse tema, em termos de direito constitucional alemão, ver as lições trazidas na doutrina de Konrad Hesse (1998). Para ele, a garantia

a) Aplicação das provas objetivas. b) Divulgação dos gabaritos oficiais do Concurso Público. c) Listas de resultados do Concurso Público. Os recursos interpostos que não se

O Director do Plano Municipal de Emergência de Protecção Civil de Vila Velha de Ródão (PMEPCVVR) é o Presidente da Câmara Municipal, sendo a intenção do mesmo a