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Regulação emocional e padrões psicopatológicos: in(adaptação) na idade adulta

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

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Dissertação de Mestrado em Psicologia Área de Especialização em Psicologia Clínica

TELMA MARISA GOUVEIA GOMES

Orientador: Professor Doutor Francisco Manuel dos Santos Cardoso

No âmbito do Projeto de Investigação

Psicopatologia e Psicoterapia

(2)

Resumo

As emoções estão presentes em todas as situações experienciadas da vida quotidiana. Em Psicologia, o estudo dos aspetos emocionais, tem um lugar de destaque, mesmo apresentando-se, como complexo e de difícil delimitação. Nos últimos anos, vários investigadores têm-se dedicado ao estudo do papel das emoções e da regulação emocional ao longo das várias etapas ou fases de desenvolvimento. Muito embora várias questões permaneçam por responder, tem sido possível apurar a importância que a experiência emocional e a capacidade de regular as emoções assumem em várias dimensões do comportamento humano, inclusivamente, no que diz respeito ao desenvolvimento da psicopatologia.

Neste âmbito, o presente trabalho de investigação surge em resposta à necessidade de atualização do estudo em torno das estratégias de regulação emocional e dos padrões psicopatológicos e encontra-se dividido em dois artigos científicos que pretendem avaliar a relação entre ambos. O primeiro artigo corresponde a uma revisão da literatura e tem como objetivo proporcionar um breve enquadramento teórico em torno do conceito de regulação emocional, esclarecer as estratégias implicadas neste processo e o seu impacto no funcionamento humano, nomeadamente, as suas repercussões ao nível da

Psicopatologia. O segundo artigo apresenta-nos os resultados de um estudo empírico tendo por base o questionário CERQ - Cognitive Emotion Regulation Questionnaire (N. Garnefski, V. Kraaij & P.

Spinhoven, 2002; versão: F. Cardoso & T. Gomes, 2009), o questionário ERQ - Questionário de

Regulação Emocional (J. Gross & O. John, 2003; versão: F. Machado Vaz & C. Martins, 2008) e o inventário BSI - Breve Inventário de Sintomas (L. R. Derogatis, 1983; versão: M. C. Canavarro, 1995),

numa amostra de 448 adultos, residentes na região de Trás-os-Montes (Portugal), com idades compreendidas entre os 18 e os 72 anos e diferentes habilitações académicas, profissionais e estratos socioeconómicos.

De uma forma geral, os resultados demonstraram consistência com a literatura atual, que tem vindo a afirmar que há uma relação entre o uso de estratégias de regulação emocional para lidar com as situações, emocionalmente negativas e com o desenvolvimento de psicopatologia, confirmando-se a hipótese levantada de que as estratégias de regulação emocional estão correlacionadas com diferentes padrões

psicopatológicos. Podemos, por conseguinte, afirmar haver uma relação entre o uso de estratégias de

regulação emocional específicas e diferentes tipos de psicopatologia. Por último, refletimos sobre as principais limitações e implicações para investigações futuras. Os resultados sugerem ainda, que as estratégias de regulação emocional podem ser úteis, no âmbito da prevenção e intervenção clínicas.

Palavras-chave: emoção; processos emocionais; regulação emocional; estratégias de regulação

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Abstract

Emotions are present in every situation of daily life. In Psychology the study of emotional aspects has a distinct place, even though they may present themselves as being complex and of difficult delimitation. In recent years, several researchers have been dedicated to studying the role of emotions and emotional regulation during the various stages or phases of development. Although many questions remain unanswered, has been possible to establish the importance that emotional experience and the ability to regulate emotions takes on many dimensions of human behavior, even with regard to the development of psychopathology.

In this context, this research work comes in response to the constant need of updating the study about

emotional regulation strategies and psychopathological patterns and is divided into two scientific papers

that seek to assess the relationship between them. The first article is a review of the literature and is designed to provide a brief theoretical framework around the concept of emotional regulation, clarify the strategies involved in this process and its impact on human functioning, including their impact on the level of Psychopathology. The second article gives us the results of an empirical study, based on the

CERQ - Cognitive Emotion Regulation Questionnaire (N. Garnefski, V. Kraaij & P. Spinhoven, 2002;

version: F. Cardoso & T. Gomes, 2009), the ERQ - Emotion Regulation Questionnaire (J. Gross & O.

John, 2003; version: F. Machado Vaz & C. Martins, 2008) and BSI - Brief Symptom Inventory (L. R.

Derogatis, 1983; version: M. C. Canavarro, 1995), in a sample of 448 adults living in Trás-os-Montes region (Portugal), with 18 and 72 years and different academic, professional qualifications and socio-economic strata.

Overall, the results showed consistency with the current literature, which has been claiming that there is a relationship between the use of emotional regulation strategies to deal with emotionally negative situations and the development of psychopathology, confirming the hypothesis proposed that emotional regulation

strategies are correlated with different patterns of psychopathology. We can therefore say that there is a

relationship between the use of specific emotional regulation strategies and different types of psychopathology. The results also suggest that emotional regulation strategies may be a useful target for prevention and intervention.

Keywords: emotion; emotional processes; emotional regulation; emotional regulation strategies; patterns psychopathological; psychopathology.

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Listagem de Abreviaturas

α - Valor de alfa de Cronbach

β - Coeficiente de regressão estandardizado (valor preditivo)

cit. - citado

DP - Desvio-padrão

et al. - e outros η2

- Medida de variância contabilizada (magnitude do efeito)

F - Valor f (valor t elevado a quadrado)

Fem. - Feminino gl - Graus de liberdade H0 - Hipótese nula H1 - Hipótese 1 Masc. - Masculino M - Média

N - Número de sujeitos na amostra

p - Nível descritivo ou p-valor (de significância, poder)

χ2

- Qui-quadrado p./pp. - página/páginas

r - Coeficiente de correlação de Pearson

R2 ou r2 - Coeficiente de determinação

R2ajust. - Coeficiente de determinação múltiplo ajustado Sig. - Significância

ns - Não significativo

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Listagem de Siglas

BSI - Brief Symptom Inventory

CERQ - Cognitive Emotion Regulation Questionnaire

DSM-IV-TR - 4.ª Ed. - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais - Texto Revisto – Quarta Edição

ERQ - Emotion Regulation Questionnaire

IGS - Índice Geral de Sintomas

ISP - Índice de Sintomas Positivos

IPSS(s) - Instituições Particulares de Solidariedade Social

POC - Perturbação Obsessivo-Compulsiva

RE - Regulação Emocional

SCL-90-R - Symptom Checklist - 90 - Revised

SPSS - Statistical Package for Social Sciences

TSP - Total de Sintomas Positivos

Listagem de Símbolos - euros = - igual a > - maior que < - menor que % - percentagem

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ÍNDICE

Resumo ... ii

Abstract ... iii

Listagem de Abreviaturas ...iv

Listagem de Siglas ... v

Listagem de Símbolos ... v

I PARTE Enquadramento Teórico e Empírico das Emoções, Processos Emocionais, Regulação Emocional e Psicopatologia na Idade Adulta Resumo ... 2

1. EMOÇÃO E PROCESSOS EMOCIONAIS ... 3

1.1. Contextualização e abrangência do conceito de emoção: pluralidade conceptual e funcional ... 3

1.2. Relação entre emoção e outros construtos emocionais ... 6

1.3. Componentes do processo emocional ... 8

2. REGULAÇÃO EMOCIONAL ... 11

2.1. Breve contextualização histórica e modelos conceptuais ... 11

2.2. Estratégias de regulação emocional e campo de ação em várias áreas da Psicologia ... 17

3. REGULAÇÃO EMOCIONAL E PSICOPATOLOGIA NA IDADE ADULTA ... 27

3.1. (Des)regulação emocional ... 27

3.2. Psicopatologias como distúrbios de regulação emocional ... 29

3.3. Relação entre estratégias de regulação emocional e psicopatologia ... 33

4. COMENTÁRIO FINAL ... 38

(7)

II PARTE

ESTUDOS EMPÍRICOS

Investigação sobre Regulação Emocional: contribuição metodológica e estudo da relação entre Regulação Emocional e Padrões de Psicopatologia na Idade Adulta

Resumo ... 51 Introdução ... 52 1. METODOLOGIA ... 54 1.1. Objetivos ... 54 1.1.1. Objetivo geral ... 54 1.1.2. Objetivos específicos ... 55

1.2. Hipóteses sob investigação e procedimentos analíticos ... 55

1.3. Participantes: caracterização da amostra ... 56

1.4. Procedimento e instrumentos ... 59

1.4.1. Questionário sócio-demográfico ... 60

1.4.2. Questionário CERQ - Cognitive Emotion Regulation Questionnaire ... 60

1.4.3. Questionário ERQ - Questionário de Regulação Emocional ... 63

1.4.4. Inventário BSI - Breve Inventário de Sintomas ... 65

2. RESULTADOS DO ESTUDO EMPÍRICO ... 67

2.1. Estudos correlacionais ... 67

2.1.1. Correlações entre as estratégias de regulação emocional do questionário CERQ ... 67

2.1.2. Correlações entre as estratégias de regulação emocional do questionário ERQ ... 69

2.1.3. Correlações entre os padrões psicopatológicos do inventário BSI ... 69

2.1.4. Correlações entre as estratégias de regulação emocional dos questionários CERQ e ERQ ... 71

2.2. Efeito da variável género ... 72

(8)

2.3.1. Correlações entre os estilos de regulação emocional (CERQ) e as organizações

psicopatológicas (BSI) ... 75

2.3.2. Correlações entre os os estilos de regulação emocional (ERQ) e as organizações psicopatológicas (BSI) ... 78

2.3.3. Análise de regressão múltipla entre estratégias de regulação emocional (CERQ) e padrões psicopatológicos (BSI)... 79

2.3.4. Análise de regressão múltipla entre estratégias de regulação emocional (ERQ) e padrões psicopatológicos (BSI)... 90

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO ... 93

3.1. Limitações metodológicas ... 102

3.2. Direções para futuras investigações ... 104

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 106 5. NOTAS DE AUTOR ... 112 6. ANEXOS ... 113 Listagem de Tabelas ... 113 Listagem de Figuras ... 114 Listagem de Anexos ... 114

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I PARTE

Enquadramento Teórico e Empírico das Emoções, Processos Emocionais, Regulação Emocional e Psicopatologia na Idade Adulta

(10)

Resumo

A 1.ª parte tem como objetivo proporcionar um enquadramento teórico em torno da definição conceptual de regulação emocional e o seu impacto no funcionamento humano, nomeadamente, as suas repercussões ao nível da Psicopatologia. Num primeiro momento, procedeu-se a uma revisão sobre o conceito de emoção, distinguindo-o de outros construtos emocionais e processos subjacentes. Nesta secção, há uma discussão quanto ao modo como a Psicologia define e interpreta o conceito de emoção. Também são ressaltados, alguns aspetos teóricos relativos à própria dificuldade em estabelecer um conceito geral, amplamente aceite, que especifique o seu verdadeiro papel e delimite o seu campo de influência. Em seguida, procedemos a uma revisão em termos do construto de regulação emocional, respetivas estratégias de regulação e o seu campo de ação em várias áreas da Psicologia. Por último, procuramos clarificar a relação e interdependência entre a regulação emocional e a psicopatologia, enquanto distúrbios de regulação, na idade adulta, mais concretamente, no que concerne às organizações ou padrões psicopatológicos e ao tipo e carácter (in)adaptativo das estratégias e mecanismos de regulação implícitas, respetivamente.

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1. EMOÇÃO E PROCESSOS EMOCIONAIS

1.1. Contextualização e abrangência do conceito de emoção: pluralidade

conceptual e funcional

Um dos desafios mais proeminentes no campo da investigação em Psicologia, sempre sobre a curiosidade experimental de vários autores e modelos é notoriamente, o estudo das emoções e dos processos emocionais. Mas, nem sempre este encantamento e favoritismo se assumiram nas investigações psicológicas. Inicialmente, à emoção foi-lhe atribuído um papel mais secundário, relativamente a outros processos, considerados mais nobres como os cognitivos, sendo, inclusive, acusada pelo seu carácter disruptivo no funcionamento humano (Izard & Harris, 1995, cit. por Ackerman & Izard, 2004, p. 272; Mascolo & Griffin, 1998, cit. por Mascolo, Fischer, & Li, 2003, p. 4) e, consequentemente, relevada, de igual forma, para um segundo plano, a forma como os sujeitos regulavam as emoções que experienciavam.

No entanto, nas últimas décadas, devido à influência e ao campo de ação dos processos emocionais no desenvolvimento e na adaptação do ser humano, a necessidade de compreensão das emoções começou a ser enfatizada e a ser-lhe atribuída papel de destaque, contribuindo, assim, para a construção de uma plataforma sólida a nível investigacional (Barrett, 2006b, p. 21; Eisenberg & Fabes, 1992; Fox, 1994; Garber & Dodge, 1991; Schore, 1994; Sroufe, 1996, cit. por Dias, Vikan, & Gravås, 2000, p. 50); Frijda, 1986; Greenberg & Paivio, 1997; Greenberg & Safran, 1987; Lang, 1995, cit. por Greenberg & Watson, 2005, p. 17). Neste sentido, os processos emocionais têm vindo a assumir-se como os principais motivadores da cognição, ação, interação social, comunicação e desenvolvimento (Barrett & Fossum, 2001; Kring, Barrett, & Gard, 2003, cit. por Barrett, Quigley, Bliss-Moreau, & Aronson, 2004, p. 685; Broekens, Kosters, & Verbeek, 2007, p. 397; Callahan & McCollum, 2002, p. 8).

As emoções têm efeitos importantes na adaptação e tem poderosos efeitos na cognição, tanto a nível dos processos cognitivos (como pensamos) como no conteúdo do pensamento (aquilo que pensamos) (Akgün, Lynn, & Byrne, 2003, p. 852; Broekens et al., 2007, p. 397; Forgas, 2000a, 2000b, cit. por Greenberg & Watson, 2005, p. 18). A Psicologia sempre asseverou isso e portanto não há novidades nestas conceções. O que surgiu de novo, no entanto, são os estudos sobre a interação, cognição e emoção, as descobertas sobre as bases neurais e a influência na adaptação às exigências dinâmicas do ambiente (Bagozzi, Gopinath, & Nyer, 1999, p. 187;

(12)

Vandekerckhove et al., 2008, p. 3; Westen & Blagov, 2007, p. 373; Zimmermann, Maier, Winter,

& Grossmann, 2001, p. 332).

A emoção assume-se como um estado mental de prontidão, mais especificamente, um sistema de resposta rápida, inscrita no nosso repertório comportamental herdado, que permite a atribuição de significado ao contínuo da experiência, prepara o indivíduo para a ação em consonância com essa avaliação cognitiva, é acompanhada por processos fisiológicos e muitas vezes expressa, fisicamente, através de gestos, posturas, características faciais (Bagozzi et al.,

1999, p. 184; Eisenberg, 2004; Thompson, 1994, cit. por Trommsdorff & Rothbaum, 2008, p. 85;

Everall, Bostik, & Paulson, 2006, p. 372; Frijda, 1988; Levenson, 1994; Plutchik, 1980, cit. por

Gross & John, 1997, p. 435; Gibson, 2006, p. 478; Greenberg & Watson, 2005, p. 18; Gross, 2008a, p. 703; Maturana, 2001, cit. por Oliveira, Campos & Borges, 2004, p. 2; Mendoza &

Ruys, 2001, p. 42; Tsankova, 2009, p. 140).

Folkman e Lazarus (1991, cit. por Martins, 2004, p. 263) e Mendoza e Ruys (2001, p. 42) definem as emoções como,

... reações psicofisiológicas complexas e organizadas, que consistem em avaliações cognitivas, impulsos de ação e reações somáticas padronizadas... os três componentes operam como uma unidade e não como respostas separadas e o padrão dos componentes reflete a qualidade e a intensidade da emoção.

A emoção consiste, assim, num conjunto organizado de respostas de vários subsistemas do organismo (Mennin & Farach, 2007, p. 332). A nível cognitivo - alteram o foco da atenção para aspetos mais importantes e ativam recordações relevantes nas redes neurais da memória de longo prazo (Gross, 2008b, p. 498; Mauss, Levenson, McCarter, Wilhelm & Gross, 2005, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 4). A nível fisiológico - preparam o organismo, criando um meio otimizador para uma resposta efetiva e convergente com o meio (Barrett & Fossum, 2001, p. 353). Esta preparação envolve a organização da expressão facial, tonalidade da voz, tónus

muscular, sistema nervoso autónomo e endócrino (Mendoza & Ruys, 2001, p. 42). A nível

comportamental - produzem comportamentos expressivos, veiculando informações aos outros e também impulsionam comportamentos instrumentais (Bagozzy et al., 1999, p. 184; Goleman, 1995, cit. por Oliveira, Campos, & Borges, 2004, p. 2; Oatley, 2009, p. 206).

A existência de múltiplas definições do conceito de emoção é fruto das diversas teorias e abordagens, presentes na literatura. Sobre esta temática, Kleinginna e Kleinginna (1981, cit. por Plutchick, 2003, p. 22), propuseram uma definição integrativa, tendo por pano de fundo as fundamentações conceptuais dessas perspetivas:

(13)

Emotion is a complex set of interactions among subjective and objective factors, mediated by neural/hormonal systems, which can (a) give rise to affective experiences such as feelings of arousal, pleasure/displeasure; (b) generate cognitive processes such as emotionally relevant perceptual effects, appraisals, labeling processes; (c) activate widespread physiological adjustments to the arousing conditions; and (d) lead to behavior that is often, but not always, expressive, goal-directed, and adaptive. (p. 371)

Mas esta definição é apenas mais uma tentativa conceptual, entre tantas outras que lhe têm dado continuidade. Existe, portanto, unanimidade em asseverar que as emoções são fenómenos cerebrais, amplamente, diferenciados do pensamento, contêm as suas próprias bases neuroquímicas e fisiológicas e preparam o organismo para a ação, em resposta a um determinado estímulo interno ou desafio ambiental (mesmo que essa experiência se revele inadaptativa) (Everall et al., 2006, p. 372; Frijda, 1988; Gross & Thompson, 2007, cit. por Mauss, Bunge & Gross, 2007, p. 40; Gottlieb, 1997; Bidell & Fischer, 1996; Fischer & Bidell, 1998; Mascolo, Pollack, & Fischer, 1997, cit. por Mascolo, Fischer, & Li, 2003, p. 2; Kring, & Bachorowski, 1999, p. 576; LeDoux, 1999; Damásio, 1994, 2003; Lewis, 2004; Panksepp, 1998; Shizgal, 1999, cit. por Cardoso, 2008, p. 196).

Tendo como suporte a fundamentação teórica e empírica dos modelos teóricos atuais, as emoções experienciadas, ao longo dos desafios desenvolvimentais apresentam um carácter adaptativo. Isto, se for considerado que o sujeito consegue, com os recursos internos e externos que possuiu, saber reconhecer, diferenciar e regular as experiências emocionais (Barrett, 2006b, p. 32).

As emoções preenchem assim um espaço central no desenvolvimento do sujeito, quer ao nível do desenvolvimento cognitivo, ao estimular o conhecimento e as representações emocionais (Barrett, 1998, cit. por Barrett, 2006b, p. 31), quer ao nível do desenvolvimento social, ao promover uma maior adequabilidade nas relações interpessoais (Scherer, 2005, p. 697).

A emoção desempenha, assim, um papel crucial na adaptação e sobrevivência do sujeito ao meio (Gross, 2002, p. 282), preparando o organismo para: respostas motoras rápidas – trata-se de um sistema de alerta que dirige a atenção e o pensamento para as informações internas ou externas mais importantes (incluindo intenções comportamentais dos outros, pistas acerca do que poderá ser benéfico ou prejudicial), permitindo uma adaptação do comportamento social a implementar (Baumeister, Vohs, DeWall, & Zhang, 2007, p. 167; Gross, 1998a, p. 225); a comunicação e a interação social; a resolução de problemas e processo de tomada de decisão – as emoções são geradas, sentidas, manipuladas e examinadas antes da tomada de decisão, em função de um objetivo a alcançar (Bagozzi et al., 1999, p. 187; Bueno, 2008, p. 11; Fridja, 1986; Izard,

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1991; Oatley & Jenkins, 1992; Tomkins, 1986, cit. por Greenberg, 2004, p. 3; Hastings, Zahn-Waxler, & Usher, 2007, p. 77; Medoza & Ruys, 2001, p. 42; Reijntjes, Stegge, Terwogt, & Hurkens, 2007, p. 49). Porém, o foco de discordância continua ativo, no que se refere à verdadeira função e papel que as emoções cumprem na vida humana, mais especificamente, aos conceitos utilizados para diferenciar e descrever aspetos relativos às emoções (Gross, 1999a, p. 528; Schmidt & Godoi, 2008, p. 156).

1.2. Relação entre emoção e outros construtos emocionais

É notório o crescimento de pesquisas relacionadas com as emoções, no entanto, continua a ser um campo evitado por muitos investigadores, dada a sua complexidade (Gross, 2008a, p. 702). Na década de 60 surgem os primeiros debates mais acalorados sobre a conceptualização de aspetos relacionados com a emoção. Nas décadas seguintes, tentou-se discriminar e diferenciar, em termos conceptuais, certos construtos interligados ao domínio emocional, nomeadamente, os conceitos de afeto e sentimento que se referiam a aspectos mais particulares da vida emocional (Gross & Thompson, 2007, p. 6; LeDoux, 2007, p. 396). Apesar das indefinições conceptuais, sabe-se que as experiências emocionais envolvem o funcionamento de diferentes tipos de componentes como o cognitivo, o linguístico, o fisiológico, o motor e o social. Assim, mesmo que estabelecer um conceito para as emoções, se revele complexo, sabe-se que as emoções têm muitas funções no comportamento e no relacionamento humano a nível individual ou coletivo. Além disso, as emoções podem manifestar-se nas situações mais diversificadas, variando, por exemplo, entre a tristeza e a alegria, seja em questões de saúde ou doença (Greenberg, 2004, p. 10; Greenberg & Vandekerckhove, 2008, p. 255).

Atualmente, existem tentativas de redefinir estes e outros construtos emocionais, procurando-se uma delimitação do espaço próprio de cada um e alternativas para entender e explicar sobre o modo de funcionamento emocional em aspetos quotidianos, concretamente, nas situações de interação social (Gondim & Siqueira, 2004, cit. por Schmidt & Godoi, 2008, p. 155; Parrott, 2007, p. 422). No sentido de se tentar clarificar e colocar alguma ordem na confusão conceptual, que caracteriza a literatura no domínio das emoções e sobretudo nos construtos utilizados, vários autores apresentaram uma breve definição e respetivas características dos processos mais frequentemente confundidos com a emoção: estado de humor, temperamento,

sentimento, episódios emocionais e afetos (Bagozzi, et al., 1999, p. 185; Spoor & Kelly, 2004,

(15)

O estado de humor assume-se como um estado afetivo duradouro, não relacionado, especificamente a um objetivo e que age em vários contextos de interação, enquanto estiver ativado (Clore & Colcombe, 2003, cit. por Garcia-Marques, 2005, p. 438). Contrariamente à emoção, o estado de humor têm uma maior durabilidade em termos temporais, apesar de mais difuso e encontrar-se associado a tendências de resposta mais gerais (aproximação, evitamento, fuga) (Lang, 1995, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 7; Robinson & Clore, 2001, p. 1520).

O temperamento é o termo mais apropriado para descrever a manifestação de um estado afetivo individual e persistente no tempo, pouco passível de modificação por fatores circunstanciais e que está incorporado nas particularidades e idiossincrasias subjetivas de cada pessoa (Rothbart & Sheese, 2007, p. 331).

No que concerne ao conceito de sentimento, este é passível de alguma confusão em relação à emoção, é muitas vezes usado de forma equivalente a esta, mas ambos são bastante distintos. Uma emoção caracteriza-se por ser o resultado de uma ativação fisiológica breve (medo), um sentimento ocorre após uma menor ativação fisiológica, apesar de mais prolongado no tempo (tristeza) (Scherer, 2005, p. 699). Os sentimentos, estão relacionados com a interpretação subjetiva, que o sujeito realiza, da interação entre a emoção e a reação emocional e que persiste na memória (Schmidt & Godoi, 2008, p. 156).

Relativamente aos episódios emocionais, estes têm uma maior durabilidade temporal e espacial (Bagozzi et al., 1999, p. 184; Gross, 1998c, p. 273). Funcionam como mapas emocionais ou guiões adaptativos para situações futuras e incluem todos os pormenores de uma situação, emocionalmente, ativadora (Gross, 1999b, p. 556). Especificando, a emoção de raiva envolve alterações fisiológicas e comportamentais rápidas, quer ao nível da postura, movimentos faciais, tom de voz, expressão verbal, na experiência e na resposta autonómica; por seu lado, o episódio emocional de raiva inclui não só todos os componentes da emoção experienciada, como também o contexto social e todas as sequências de respostas que emergem na interação.

Os afetos, por seu lado, apresentam-se como um termo geral, não específico, mais global, relativamente, ao termo emoção, que inclui todos os estados e processos motivacionais antecedentes numa categoria mais abrangente, sendo considerados a componente experiencial ou comportamental da emoção (American Psychiatric Association, 1994, cit. por Gross & Thompson, 2007, p.7). Os autores incluem aqui as emoções básicas, os padrões de emoções, os impulsos e as interações entre eles, que teriam em comum uma maior persistência no tempo e

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uma estreita relação com aspetos cognitivos, nomeadamente, a memória (Buck, 1993; MacLean, 1990, cit. por Gross & Thompson, 2007, p.7).

Esta breve sinopse não ficaria concluída, se não se tivesse em consideração outros construtos, como os impulsos motivacionais, que apesar de também controlarem o comportamento, não são tão flexíveis e não têm uma dimensão experiencial associada.

Perante o que foi exposto, conseguir a formulação de conceitos diferenciados para os diferentes construtos emocionais, não é uma realidade utópica, no entanto, para que esta tarefa se torne de fácil concretização, é necessário que a multiplicidade de teorias que se debruçam em estudar as emoções e outros processos emocionais, procedam a um trabalho de parceria, tentando aprofundar conhecimentos e obter dados cada vez mais fidedignos nesta área, em vez de procurarem atuar, de forma individualizada e contraproducente.

1.3. Componentes do processo emocional

A emoção, concebida como uma motivação para a cognição e para o comportamento, é considerada como sendo primordial no desenvolvimento humano, facilitando o funcionamento e a organização de vários sistemas organísmicos (Frijda, 1986; Greenberg & Paivio, 1997; Greenberg & Safran, 1987; Lang, 1995, cit. por Greenberg, 2004, p. 3). É vista como fundamental, porque as suas funções biológica e social são essenciais para o processo de evolução e adaptação ao meio, pois oferecem uma certa tonalidade e sabor à existência humana. Paralelamente, apresenta outras funções primordiais em aspetos relativos à sobrevivência da espécie, no ajustamento social e particularmente deixam transparecer características individuais e aspetos particulares do desenvolvimento de cada pessoa ou população (Gross, 1999b, p. 525; Sloan & Kring, 2007, p. 308).

As emoções não se resumem à reação fisiológica do organismo a um estímulo, mas são constituídas por uma multiplicidade de processos que as caracterizam. Para serem desencadeadas é preciso a ativação de um estímulo precipitante, ou seja um antecedente situacional que pode ser interno (a representação mental de uma determinada situação) ou externo (acontecimento ao qual o sujeito está atento), que ao ser ativado produz excitação fisiológica. Durante esta fase, o sujeito atribui significações àquilo que está a sentir e a experienciar, atendendo à natureza das alterações fisiológicas, ao contexto em que ocorre, aos acontecimentos passados e às representações mentais elaboradas - processo de diferenciação emocional (Barrett, 2006a, p. 31). Este processo, conjuntamente, com o processo de ativação emocional, direciona o sujeito para a experienciação

(17)

da emoção (Gohm & Clore, 2000, p. 679)

.

Face a isto, o sujeito decide que estratégias utilizar e desenvolver, em função do processo de regulação emocional, decidindo expressar ou não as suas emoções. Isto permite ao ser humano compreender e regular a emoção experienciada e consequentemente, satisfazer as suas necessidades e objetivos (Compton, 2003, p. 124). Conhecer as categorias emocionais e os processos associados providenciam um melhor conhecimento acerca da experiência emocional que, consequentemente, irá influenciar a capacidade do sujeito em regular as suas emoções com estratégias consideradas apropriadas para cada situação (Barrett, Gross, Christensen, & Benvenuto, 2001, p. 714; Vaz, Vasco, Greenberg, & Vaz, 2010, p. 699).

Existe um amplo consenso que um conhecimento elaborado acerca das emoções está relacionado com uma melhor regulação emocional em sujeitos adultos. Philippot, Baeyens, Douilliez e Francart (2004, cit. por Wranik, Barrett, & Salovey, 2007, p. 399) sugerem que um processamento de informação emocional mais global e menos diferenciado conduz a estados emocionais intensos e altamente ativadores, enquanto a elaboração específica e posterior focalização em informação emocional, relevante para o indivíduo, conduz a uma menor ativação fisiológica.

No entanto, o uso de estratégias inadaptativas face às vivências quotidianas poderá precipitar a presença de sintomatologia (padrões psicopatológicos) (Barrett, 2006b, p. 20; Decety & Jackson, 2004, p. 77). As experiências inadaptativas têm um maior valor informativo na sinalização da necessidade de mudança ou ajustamento do sujeito a um determinado estado ou situação (Pratto & John, 1991, cit. por Barrett et al., 2001, p. 715) e uma incapacidade de responder a um estímulo negativo pode ter elevados custos, na medida em que o sujeito pode não tomar precauções para evitar o potencial perigo (Gross & Levenson, 1997, cit. por Gerhardt, 2004, p. 27). A generalidade das perturbações psicológicas reflete assim uma disrupção num ou mais dos componentes do processamento emocional, que interferem com a função adaptativa das emoções (Kring & Bachorowski, 1999, p. 576). Assim, a capacidade de regulação emocional é altamente influenciada pelo conhecimento emocional que o sujeito possui. Este conhecimento emocional está na etiologia da perceção e avaliação da ação, permitindo ao sujeito decidir quando e como regular as suas emoções de uma forma adaptativa.

A expressão emocional e a experiência emocional apresentam-se como dois componentes fundamentais da emoção (Gross & John, 2003, p. 349). Segundo os investigadores, a expressão emocional é definida como os comportamentos observáveis verbais e não verbais que comunicam

(18)

e simbolizam a experiência emocional, envolvendo as seguintes funções: (1) promoção da regulação da ativação, sendo que as expressões faciais e outras características do movimento refletem a prontidão para a ação; (2) autocompreensão ou autoconhecimento para desenvolver uma consciência emocional que ajude a clarificar a natureza das próprias emoções, as atribuições que são feitas e os objetivos dessas mesmas emoções; (3) desenvolvimento de mecanismos de

coping, capacidade para enfrentar e lidar com os acontecimentos ativados pela emoção,

influenciando o comportamento dos outros e podendo mudar a natureza e a qualidade das relações; (4) otimizar as relações interpessoais, sendo que as emoções são, normalmente, expressas num contexto social, sendo o feedback um dos fatores que pode influenciar o modo como as emoções são ou não expressas e o modo como esse processo decorre (Sonnemans & Frijda, 1994, p. 330; Gross & John, 1998, p. 171).

Gross e Levenson (1993, p. 971) defendem que a natureza e as características do ambiente social, a capacidade de cada um lidar com emoções negativas, a natureza do acontecimento emocional e a disponibilidade para satisfazer os próprios desejos sociais são fatores importantes na vantagem ou desvantagem de expressar ou não expressar as emoções. Assim, a expressão emocional é a ligação entre a experiência interna e o mundo externo, sendo a forma pela qual as pessoas comunicam a sua experiência e influenciam as suas relações (Kring, 2008, p. 694). Este processo de ligação do mundo interno ao mundo externo engloba uma série de passos cognitivo-avaliativos, que resultam da experiência emocional: (1) reação pré-reflexiva: engloba a perceção do estímulo, o processamento pré-consciente cognitivo-emocional e as mudanças fisiológicas correspondentes; (2) perceção consciente da resposta: refere-se à consciência da reação afetiva, o ouvir do sinal corporal; (3) categorizar e interpretar a resposta: diz respeito ao processamento cognitivo da experiência emocional; (4) avaliar a resposta como aceitável: avaliação da experiência emocional em termos de crenças pessoais e objetivos, determinando se os sentimentos são válidos e aceitáveis; (5) contexto social percebido para a expressão: há uma avaliação para saber se é possível e desejável expressar os sentimentos num determinado ambiente interpessoal (Barrett, 2004, p. 278, 2006c, p. 38; Chiaburu & Gray, 2008, p. 296; Everall et al., 2006, p. 372; Sonnemans & Frijda, 1994, p. 331).

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2. REGULAÇÃO EMOCIONAL

2.1. Breve contextualização histórica e modelos conceptuais

O impacto que as emoções têm na existência e no funcionamento humano, que Izard (1991, p. 20, cit. por Torres & Guerra, 2003, p. 101) nitidamente retratou com a expressão “Your

emotions affect your body, mind, and virtually every aspect of your existence”, impulsiona à

pesquisa da sua essência e de forma particular do processo de regulação emocional.

Após terem começado a perceber em que consistiam as emoções e quais as suas funções e componentes, os investigadores começaram a questionar-se acerca de como os sujeitos regulavam as suas emoções e os fenómenos subjacentes. Ou seja, se as emoções são ativadas com consequências no comportamento do sujeito, se são definidas por mudanças nos estados fisiológicos e nas tendências de ação, como é que são reguladas, direcionadas e moldadas estas manifestações e quais as consequências? Tem sido este, o trajeto que a investigação tem percorrido e estas as questões a que procura responder.

O termo regulação emocional começou a ser utilizado por volta dos anos 80 (Gross, 1999b, p. 552) mas, novamente, verificou-se uma grande confusão e excessiva abrangência da aplicação do conceito, com muitos estudos a dispensarem uma definição clara e precisa do fenómeno que pretendiam estudar (Bauminger & Kimhi-Kind, 2008, p. 316; McRae & Gross, 2010, p. 558).

O atual estudo da regulação emocional tem as suas origens nas teorias psicodinâmicas, nas quais o conceito de regulação da ansiedade se constitui como pressuposto central (Gross, 2002, p. 281). Segundo a tradição psicanalítica enfatizam-se dois tipos de regulação de ansiedade: a regulação da ansiedade que resulta dos impulsos libidinais - cuja expressão é negada - e a regulação da ansiedade baseada no id e no super-ego. Nesta abordagem a ansiedade é o termo que engloba as emoções negativas (Erdelyi, 1993, cit. por Gross, 1999b, p. 553). Como consequência do papel central da regulação da ansiedade, surge a noção de mecanismos de defesa como processos de regulação destes dois tipos de ansiedade bem como de outros afetos negativos dolorosos (Paulhus, Fridhandler, & Hayes, 1997, cit. por Gross, 1998c, p. 274).

Outro contributo para o estudo da regulação emocional foi a abordagem aos conceitos de de stress e coping (Lazarus & Folkman, 1984, cit. por Gross, 1998c, p. 274). Face às situações novas e aos acontecimentos do quotidiano, considerados stressantes, as pessoas utilizam estratégias de coping, ou seja, meios de enfrentar ou formas de resolução dessas situações

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(Reijntjes et al., 2007, p. 49). Entende-se por coping os esforços cognitivos e comportamentais, que os sujeitos adotam para lidar com as emoções negativas, resultantes de situações consideradas desagradáveis (Garnefski, Kraaij, & Spinhoven, 2002, p. 5). Uma contínua vulnerabilidade na capacidade de diferenciação emocional e consequentemente de regulação emocional pode levar à deterioração das estratégias de coping para lidar com as situações, emocionalmente, negativas e por sua vez, ao desenvolvimento de psicopatologia (Sim & Zeman, 2005, p. 493).

Esta perspetiva enfatiza os processos de coping adaptativos e conscientes, focalizando-se mais nas variáveis situacionais que nas variáveis do sujeito, contrariamente, à conceção psicanalítica. Nesta linha teórica distinguem-se: (1) coping focado no problema (problem-focused

coping) - dirigido à resolução do problema, ou seja, caracteriza-se pela regulação consciente da

emoção, através da qual as pessoas procuram alterar o modo como sentem ou compreendem o problema (exemplos deste tipo incluem estratégias como aceitar a solidariedade dos outros ou olhar para o lado positivo de uma situação); (2) coping focado na emoção (emotion-focused

coping) - que procura diminuir a experiência emocional negativa, ou seja, tenta alterar o

problema stressante ou a fonte causadora do stress (as estratégias deste tipo conduzem a alterações no comportamento ou ao desenvolvimento de um plano de ação para lidar com o

stress, como por exemplo, começar um estudo de grupo para melhorar o fraco desempenho de

uma turma de alunos) (Dennis & Kelemen, 2009, p. 243; Lawrence, Ashford, & Dent, 2006, p. 274). Embora a tradição do coping, especificamente do coping focado na emoção, se possa confundir com as conceções contemporâneas da regulação emocional, pode-se asseverar que

coping e regulação emocional são conceitos distintos. A regulação emocional defende que quer

as emoções negativas, quer as positivas podem ser reguladas, bem como, o facto da expressão emocional e da experiência emocional serem alvo de regulação, contrariamente, às teorias do

coping cujo objetivo primário é a diminuição das experiências emocionais negativas,

selecionando como unidade de análise, as interações do sujeito com o meio (Folkman & Lazarus, 1985, cit. por Gross, 1999b, p. 555; Folkman & Lazarus, 1985, cit. por John & Gross, 2007, p. 359; Lazarus & Folkman, 1984, cit. por Shaver, Mikulincer, & Chun, 2008, p. 124).

Contudo, nem sempre a definição de regulação emocional tem sido consensual e para além do conceito de coping, existem outros construtos relacionados com a regulação emocional, nomeadamente, regulação do humor, defesas psicológicas e regulação do afeto. Quando comparada com a regulação emocional, a regulação do humor tem como principal objetivo a

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modificação da experiência emocional e não o comportamento decorrente da emoção (Parkinson, 1996, cit. por Gross, 1998c, p. 276). Por sua vez, o construto de defesas psicológicas conceptualiza o processo de regulação como inconsciente, caracterizado por uma diminuição das experiências emocionais negativas. Por último, o construto de regulação do afeto é conceptualizado como uma supracategoria, que inclui não só a regulação emocional, mas também a regulação de todas as formas de afeto (Gross & Thompson, 2007, p. 9; Korpela, 2003, p. 332).

Segundo Cole, Martin e Dennis (2004, cit. por Calkins & Hill, 2007, p. 229) e Weinstein e Hodgins (2009, p. 351) o conceito de regulação emocional pode ser definido como o processo relacionado com as mudanças no funcionamento do sujeito que se associam à ativação de uma emoção. Caracteriza-se como um conceito integrativo do funcionamento e desenvolvimento psicológico fazendo a interface entre o funcionamento emocional e determinados processos, nomeadamente, cognitivos (atenção, memória) (Cole et al., 2004, p. 317). Este papel central no desenvolvimento, com implicações para o desenvolvimento social e cognitivo faz com que a regulação emocional seja um processo fundamental para a compreensão de trajetórias adaptativas e inadaptativas (Parker & Endler, 1996, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 9).

Embora a distinção entre emoção e regulação emocional tenha fronteiras ténues e nem todos os autores concordem que é possível distinguir os dois construtos (Campos et al., 1983, cit. por Gross, 1999b, p. 557), a conceptualização aqui adotada, partilha do pressuposto de que numa reação emocional as emoções são o tom emocional, ou seja, a emoção específica que é ativada (medo, raiva, ou alegria), por sua vez, a regulação emocional diz respeito às alterações do funcionamento ou comportamento do sujeito, devido à ativação da respetiva emoção (Cole et al., 2004, p. 319). Assim, considera-se que a regulação emocional consiste num conjunto de processos intrínsecos e extrínsecos responsáveis pela monotorização, avaliação e modificação da resposta emocional, especialmente, no que que se refere às suas dimensões temporal e de intensidade, de forma a atingir os objetivos pessoais pretendidos. (Bauminger & Kimhi-Kind, 2008, p. 316; Hughes, Gullone, Dudley, & Tonge, 2009, p. 2; Kliewer, Reid-Quiñones, Shields, & Foutz, 2009, p. 30; Kring & Werner, 2004, p. 364; Shipman, Zeman, Fitzgerald, & Swisher, 2003, p. 163; Thompson & Meyer, 2007, p. 251).

Peterson e Park (2007, p. 160) e Gross e Thompson (2007, p. 8) argumentam que ao falarmos de regulação emocional, significa reportarmo-nos a todos os processos, intrínsecos e extrínsecos, automáticos e controlados, conscientes e inconscientes que influenciam os

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componentes da emoção, as suas ligações, manifestações, imobilizações em determinadas situações e obviamente, as suas consequências.

Na mesma linha, Cicchetti, Ganiban e Barnet (1991, cit. por Bridges, Denham, & Ganiban, 2004, p. 340), colocam a tónica na importância da qualidade da regulação emocional para a organização comportamental e distinguem emoção de regulação emocional ao considerarem que ambos são processos adaptativos, mas enquanto que o primeiro (emoção) tem como função aceder aos estados internos (pelo próprio) e devido à sua função expressiva (pelos outros), dar significado à situação e mobilizar o sujeito para a ação, o segundo (regulação emocional) tem como função reorganizar o organismo no sentido de alterar o seu estado atual, de forma que a ativação emocional seja canalizada e controlada, permitindo o funcionamento do sujeito de forma adaptativa. Da mesma ideia também comungam Eisenberg e Spinrad (2004, cit. por Bloch, Moran, & Kring, 2009, p. 92) ao definirem a regulação emocional:

as the process of initiating, avoiding, inhibiting, maintaining, or modulating the occurrence, form, intensity, or duration of internal feeling states, emotion-related physiological, attentinal processes, motivational states, and/or the behavioral concomitants of emotion in the service of accomplishing affect-related biological or social adaptation or achieving individual goals (p. 338).

Para poderem analisar, mais aprofundadamente, o processo de regulação emocional, os investigadores, começaram, inicialmente, por se reportar, às características presentes numa resposta emocional (Gross, 2008a, p. 703; Gross & Thompson, 2007, p. 5; Mendoza & Ruys, 2001, p. 43): (1) os antecedentes situacionais (situation) - fatores internos ou externos; (2) a atenção (attention) - focalização da atenção em determinados aspetos da situação; (3) a avaliação (appraisal) - a situação vai ser avaliada, em função dos objetivos, meio cultural, características da situação atual, valores e normas sociais, experiências de vida e a própria personalidade do sujeito; (4) a resposta emocional (response) – após o processo de avaliação é coloca em movimento a elaboração de uma resposta emocional, que é o resultado de um trabalho conjunto de vários sistemas ativos: fisiológico (central e periférico), cognitivo, comportamental e experiencial (Mauss, Levenson, McCarter, Wilhelm, & Gross, 2005, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 4); (5) a sua maleabilidade - uma vez iniciada, a resposta emocional, não tem que seguir, necessariamente, um curso fixo e inevitável (Frijda, 1986, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 5).

No entanto, há uma espécie de competição entre várias respostas possíveis para uma determinada situação. É esta última característica da emoção que é considerada como a mais

(23)

crucial para uma análise mais aprofundada do processo de regulação emocional, porque é este aspeto que dá origem à possibilidade de regulação. Estas características fundamentais da emoção (antecedentes situacionais, atenção, avaliação, resposta emocional multifacetada e maleabilidade) estão presentes em muitas teorias da emoção (Ekman, Friesen, & Ellsworth, 1972; Frijda, 1986; Levenson, 1994, cit. por Gross, 2008a, p. 703).

Uma maneira simples de as descrever é através do Modelo Modal da Emoção (Gross, 2008b, p. 499; Gross & Thompson, 2007, p. 5), esquematizado na Figura 1: a sequência inicia com uma situação, psicologicamente, relevante (acontecimento externo ou pensamento interno), através da qual o sujeito irá focalizar a atenção e consequente avaliação, consoante a familiaridade do acontecimento, o valor que lhe é atribuído e os objetivos a alcançar (Ellsworth & Scherer, 2003, cit. por Gross, 2008b, p. 499). Estas avaliações, por sua vez, originam tendências de resposta emocional (desde um simples e leve mal-estar, agitação, ansiedade, a explosões emocionais de grande escala – raiva; de acordo com a experiência emocional vivenciada, desencadeiam-se comportamentos e mudanças fisiológicas - sudação, aumento da frequência cardíaca e respiratória). Devido ao facto das respostas emocionais, muitas vezes, modificarem a situação que lhe deu origem, este modelo apresenta uma seta (em arco) que mostra a resposta de volta à situação (pronta a ser modificada).

Figura 1. O Modelo Modal da Emoção (adaptado de Gross, 2008a, p. 704, 2008b, p. 499; Gross

& Thompson, 2007, p. 6).

Mas como podemos investigar e analisar os processos envolvidos na regulação emocional? Esta foi uma das questões a que Gross (1998c, p. 272) tentou dar resposta, ao propor um modelo temporal da regulação emocional, designado Modelo Processual de Regulação

Emocional, no qual as estratégias de regulação são distinguidas em função do tempo, ou seja,

quando têm o seu principal impacto sobre o processo de geração da emoção: antes da resposta (antecedent-focused) ou após a resposta (response-focused). As estratégias focalizadas nos

antecedentes referem-se a estratégias utilizadas antes das tendências de resposta emocional

(comportamental e fisiológica) terem sido ativadas. Em contrapartida, as estratégias focalizadas

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na resposta referem-se a meios que se utilizam, quando a emoção já está em curso e após as tendências de resposta já terem sido geradas. Neste modelo, cinco grupos de estratégias de regulação emocional encontram-se localizados ao longo da linha temporal do processo emocional (Figura 2).

Figura 2. Modelo Processual de Regulação Emocional, no qual se destacam as cinco famílias de

estratégias de Regulação Emocional (adaptado de Gross, 2008a, p. 712, 2008b, p. 501; Gross & Thompson, 2007, p. 10).

Este modelo proporciona um enquadramento conceptual útil, para a compreensão das causas, consequências e mecanismos subjacentes às estratégias de regulação emocional. São distinguidas cinco famílias de estratégias: as primeiras quatro, iniciam-se antes da resposta emocional ocorrer (seleção da situação; modificação da situação; modificação do foco

atencional; modificação cognitiva) e a quinta família de estratégias (modulação da resposta)

iniciam-se após as tendências da resposta emocional terem sido iniciadas.

Para definir regulação emocional Gross (1999b, p. 557) defende a necessidade de se fazerem três distinções: (a) regulação emocional referente à regulação de algo (pensamentos, comportamentos) ou ao processo de regulação das próprias emoções; (b) a forma como os sujeitos influenciam as suas próprias emoções ou a forma como influenciam as emoções dos outros; (c) a regulação como processo consciente ou como processo inconsciente.

Segundo este autor, o modelo de regulação emocional que desenvolveu diz respeito ao conjunto heterogéneo de processos pelos quais as emoções são elas próprias reguladas, ou seja, ao processo através do qual os indivíduos influenciam as emoções que têm, quando as têm e como experienciam e expressam essas emoções (Gross, 1998, cit. por Bloch et al., 2009, p. 89). Para o autor, a regulação emocional deve conceptualizar-se como um continuum de processos

Situação Atenção Avaliação Resposta

Seleção da Situação Modificação da Situação Modificação do Foco Atencional Modificação Cognitiva Modulação da Resposta

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que vão desde processos conscientes e controlados até processos inconscientes e automáticos (Howells & Day, 2006, p. 182; McRae & Gross, 2010, p. 558).

2.2. Estratégias de Regulação Emocional e campo de ação em várias áreas da

Psicologia

A abordagem do modelo proposto por Gross (1998c, p. 282, 2001, p. 215, 2002, p. 282; Gross & John, 2003, p. 349; Gross, Richards, & John, 2006, p. 16), procura demonstrar como é que estratégias específicas se diferenciam ao longo da duração de uma resposta emocional. De uma forma geral, podemos distinguir as estratégias de regulação emocional focalizadas nos

antecedentes (antecedent-focused) - surgem antes das tendências de resposta emocionais estarem

totalmente ativadas e antes de modificarem o comportamento e a resposta do sistema fisiológico periférico e as estratégias de regulação focalizadas na resposta (response-focused) - ocorrem após a emoção já ter sido ativada e as tendências de resposta já terem sido geradas (Gross & Muñoz, 1995, p. 153; Gross & Thompson, 2007, pp.10, 15; Vandekerckhove et al., 2008, p. 6; Vaz, Martins, & Vieira, no prelo, p. 4).

As primeiras consistem na modificação da maneira como a interpretação cognitiva é construída para diminuir o impacto emocional de uma situação antes que as tendências às respostas emocionais se tornem ativas (Gross, 2002, p. 282). Ou seja, tem a ver com as ações que são despoletadas antes de ser ativada a resposta e neste sentido, a regulação pode alterar a subsequente trajetória da emoção. Neste tipo de estratégias destacam-se (John & Gross, 2007, pp. 351, 352):

a) Seleção da situação: consiste na implementação de esforços para a ocorrência (ou não), de uma situação que irá dar origem a uma determinada emoção; ocorre no início do processo emocional e afeta a situação à qual a pessoa se expõe, implicando comportamentos de evitamento ou aproximação de determinados contextos físicos e sociais;

b) Modificação da situação: depois de selecionada a situação pode ser alterada de forma a modificar o seu impacto emocional, esta estratégia é também apelidada de coping focado no

problema;

c) Modificação do foco atencional: ao contrário das duas primeiras estratégias, a modificação do foco atencional, não altera a configuração real sujeito – ambiente; é usada pelo sujeito para selecionar em qual dos muitos aspetos da situação se focará, para a diminuição do

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mal-estar; pode ser considerada a versão internalizadora da seleção da situação e é especialmente importante quando não é possível alterar a situação em que o sujeito se encontra. Dentro deste tipo de estratégias destacam-se a distração – envolve a redução da atenção face aos estímulos emocionais internos ou externos, centrando-se o menos possível nas situações ou pensamentos negativos e invocando pensamentos ou memórias que são incompatíveis com o estado emocional indesejável; a concentração – dirige a atenção para a dimensão emocional da situação e quando este processo ocorre de forma sistemática, conduz a outras duas estratégias, nomeadamente, a

ruminação – envolve uma avaliação sistemática de pensamentos e sentimentos associados a

situações passadas, cujo foco da atenção incide sobre o humor negativo, as causas, consequências e autoavaliações relacionadas com esse estado de humor, agravando a sintomatologia e sugerindo que poderá ser o aspeto valorativo da ruminação que irá julgar e decidir se a experiência é benéfica ou perigosa para o self; a preocupação – assemelha-se à ruminação e está orientada para as situações futuras, tendo por base a experiência de situações negativas passadas ou presentes (Just & Alloy, 1997; Nolen-Hoeksema, 1993, cit. por Gross & Thompson, 2007, p. 13);

d) Modificação cognitiva: consiste numa mudança na avaliação da situação ou do significado que o sujeito atribuiu à situação (externa ou interna), quer através da alteração da cognição acerca da própria situação, quer através da modificação das crenças acerca da capacidade que o indivíduo tem para lidar com as exigências da própria situação e pode ser usada para diminuir ou aumentar a resposta emocional ou mesmo para modificar a própria emoção; o significado atribuído à situação é crucial já que influencia as tendências de resposta experienciais, comportamentais e fisiológicas que serão geradas numa dada situação. Dentro deste tipo de estratégias destaca-se a reavaliação cognitiva (reappraisal) (Gross & John, 2003, p. 349) - a qual envolve a modificação do significado atribuído à situação, com impacto na emoção experienciada pelo sujeito. Segundo Gross e John (2003, p. 349), a interpretação da situação através da reavaliação cognitiva pode influenciar, profundamente, a qualidade bem como a intensidade da resposta emocional subsequente. Os estudos desenvolvidos por estes autores comprovam que, a reavaliação cognitiva conduz a uma diminuição da experiência e expressão emocional negativa. A investigação neste domínio também demonstrou que a reavaliação diminui a resposta neuroendócrina e a ativação nas regiões subcorticais que operam nas emoções (ínsula e amígdala) e aumenta a ativação nas regiões pré-frontais dorsolaterais e medial associadas ao controle cognitivo (Ochsner & Gross, 2008, pp. 154, 156).

(27)

As segundas estratégias referem-se às ações colocadas em marcha, após as tendências de resposta já terem sido iniciadas, das quais se destaca a modulação da resposta – esta estratégia ocorre no final do processo de geração da emoção e refere-se às tentativas de influenciar as tendências de respostas emocionais (comportamentais, experienciais e fisiológicas), depois destas, já terem sido despoletadas (Gross, 2002, p. 282; Gross et al., 2006, pp. 15, 17; Gross & Thompson, 2007, p. 9; Richards, Butler, & Gross, 2003, pp. 600, 601). As duas formas de modelação da resposta são a supressão emocional (suppression), que se refere a esforços no sentido de inibir e diminuir o comportamento da emoção em curso (Gross, 2002, p. 283, 2008b, p. 504; Gross & John, 2003, p. 349; Richards & Gross, 1999, p. 1033) e o evitamento

experiencial (experiential avoidance), que se refere aos esforços para inibir a experiência de

emoção em si mesma (Hayes, Wilson, Gifford, Folette, & Strosahl, 1996, p. 1154); Kashdan, Barrios, Forsyth, & Steger, 2006, pp. 1301, 1302). Como ocorre, tardiamente, no processo emocional, a supressão requer que o sujeito implemente esforços contínuos, gerando um maior mal-estar para si próprio (Gordijn, Hindriks, Koomen, Dijksterhuis, & Knippenberg, 2004, p. 214; Loewenstein, 2007, p. 182). O evitamento experiencial, por seu lado, pode envolver a

distração, através da qual o sujeito esforça-se, deliberadamente, por controlar ou escapar dos

pensamentos problemáticos, sentimentos e sensações (Hayes et al., 1996, p. 1154). Esta estratégia é bastante comum nas perturbações de humor e de ansiedade (Kashdan et al., 2006, pp. 1301, 1302) e pode tornar-se bastante inadaptativa, quando é aplicada de forma rígida e inflexível, sobretudo, quando os sujeitos dispendem todo o tempo, esforços, energias, para controlar e lutar contra essas experiências.

As estratégias de regulação, que têm início em fases mais precoces do processo de geração da emoção, produzem resultados diferentes das que têm uma atuação mais tardia. Assim, os mecanismos comportamentais (suprimir a expressão de um comportamento) e cognitivos (interpretar situações emocionais de forma a limitar a resposta emocional subsequente) apresentam repercussões diferentes (Gross, 2001, p. 216; Richards & Gross, 1999, p. 1033).

A seguir, apresenta-se uma esquematização do Modelo Processual de Regulação

(28)

3.

Figura 3. Modelo Processual de Regulação Emocional (adaptado de Gross, 1998c, p. 282, 2001,

p. 215, 2002, p. 282; Gross & John, 2003, p. 349; Gross, Richards, & John, 2006, p. 16).

Reportando-nos à Figura 3, as emoções têm início com a avaliação de pistas emocionais de origem interna ou externa. Quando avaliadas, estas pistas disparam um conjunto de tendências a respostas, envolvendo sistemas fisiológicos, experimentais e comportamentais. Uma vez iniciadas, estas tendências podem ser modeladas de várias maneiras, dando a forma final à resposta emocional manifesta. Atendendo ao facto das emoções serem ativadas a todo o momento, as estratégias de regulação podem ser distinguidas e localizadas em termos temporais, ou seja, com base no momento em que exercem o seu impacto no processo emocional: estratégias antecedentes à emoção (seleção da situação; modificação da situação; modificação do foco atencional; modificação cognitiva - reavaliação cognitiva) e estratégias que ocorrem após a ativação emocional (modulação da resposta - supressão emocional) (Bargh & Williams, 2007, p. 436; Goldin & Gross, 2010, p. 84; Gross, 1998b, p. 288; Hofer & Eisenberg, 2008, p. 62;

Matsumoto, 2006, p. 422).

De acordo com Gross (1998c), a regulação emocional refere-se aos “processos pelos

quais os sujeitos influenciam as emoções que têm, quando as têm e como experienciam e expressam essas emoções” (p. 275). Neste sentido, o autor e colaboradores (Gross & John, 2003,

Situações Aspetos Significados Resposta s Tendências de Resposta Emocionais: * Comportamental * Experiencial * Fisiológico Seleção da Situação Modificação da Situação Modificação Cognitiva Modificação do Foco Atencional Regulação Emocional Focada nos Antecedentes

Regulação Emocional Focada na Resposta Modulação da Resposta Reavaliação Cognitiva Supressão Emocional Pistas Emocionias:

(29)

p. 350) desenvolveram pesquisas laboratoriais, no sentido de compreenderem as implicações da utilização da reavaliação cognitiva e da supressão emocional.

Em termos sócio-afetivo, os resultados demonstraram que a supressão emocional e a reavaliação cognitiva têm consequências afetivas diferentes. A supressão diminui a expressão de emoções inadaptativas e aumenta a ativação simpática dos sistemas cardiovascular e electrodermal. Paralelamente, a supressão cria um sentimento de discrepância entre o que foi experienciado e o que o sujeito mostra aos outros, conduzindo a emoções negativas acerca de si próprio e impedindo o desenvolvimento de relações, emocionalmente, próximas. Tal como a supressão, também a reavaliação diminui a expressão emocional, mas contrariamente à supressão, a reavaliação cognitiva não tem qualquer efeito a nível cardiovascular ou electrodermal (Richards & Gross, 1999, p. 1033). Igualmente, a supressão emocional associa-se a níveis reduzidos de experiência e expressão emocionais positivas, resultando num baixo suporte social e numa menor integração social, em particular nas relações de intimidade. Pelo contrário, a utilização da reavaliação cognitiva está associada a experiência e expressão emocionais positivas. (Butler et al., 2003, cit. por Gross, 2008b, p. 504; Gross, 2002, p. 285).

Para Bridges, Denham e Ganiban (2004, p. 340), o cerne da regulação emocional está na flexibilidade e capacidade do sujeito conseguir ajustar-se às circunstâncias do momento, pela modelação das suas emoções, envolvendo a iniciação ou manutenção dos estados emocionais positivos e a diminuição dos negativos. A regulação emocional torna-se útil para a ativação das emoções ou para aumentar a sua intensidade quando é necessário impulsionar algum comportamento, visto que a emoção funciona como força ativadora da ação, ou ainda quando é necessário substituir experiências emocionais que se revelam desajustadas, implicando mudanças no domínio comportamental, fisiológico e cognitivo (Bosse, Pontier, & Treur, 2007, p. 187; Gross, 2008, pp. 707, 709; Mauss, Bunge, & Gross, 2007, p. 3).

A nível comportamental, pode-se controlar aquilo que se pretende expressar, suprimir ou através da gestão das situações (evitamento ou aproximação de determinado estímulo que provoque a emoção) (Greenberg & Vandekerckhove, 2008, p. 255). Uma regulação emocional ineficaz resulta em consequências comportamentais desadaptativas, que podem colocar em risco a capacidade do sujeito de adaptação à situação (Greenberg, 2004, p. 10).

A nível fisiológico, a ativação emocional vai ser redirecionada, controlada e modelada permitindo atuar de forma adaptativa perante as situações, mantendo expressões afetivas funcionais e flexíveis necessárias a um funcionamento adequado ao longo do percurso de vida

Imagem

Figura 1. O Modelo Modal da Emoção (adaptado de Gross, 2008a, p. 704, 2008b, p. 499; Gross
Figura 2. Modelo Processual de Regulação Emocional, no qual se destacam as cinco famílias de  estratégias de Regulação Emocional  (adaptado de Gross, 2008a, p
Figura 3. Modelo Processual de Regulação Emocional (adaptado de Gross, 1998c, p. 282, 2001,  p

Referências

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