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A dívida externa da América Latina

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Academic year: 2019

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A dívida externa da América Latina

Almiro Petry1(2008)2 O mundo rico de hoje

é imensamente rico. Jeffrey Sachs (2005) Eliminar a pobreza em escala global é uma responsabilidade global que trará benefícios globais. Jeffrey Sachs (2005)

1 Introdução

Na relação de dependência ressalta o endividamento externo dos países latino-americanos. Este endividamento3 consiste no processo de contrair novos empréstimos, financiamento de importações, em especial máquinas e tecnologias e outras transações financeiras decorrentes do balanço de pagamentos. São conseqüências do modelo adotado, qual seja o desenvolvimento dependente via industrialização de bens de consumo. Os mecanismos econômicos inerentes ao modelo, inibem os mecanismos endógenos, induzindo a um endividamento que ultrapassa o limite da credibilidade.

Pretende-se, neste breve texto, abordar aspectos do processo histórico e as conseqüências dele decorrentes.

2 O processo de endividamento

A complexidade do relacionamento sistêmico interdependente conduz os países pobres a demandarem mais poupanças externas em função da escassez das poupanças internas. Aí forma-se um círculo pernicioso de que exportando matérias-primas geram-se divisas e novos mercados, oportunizando novas reservas cambiais. Nesta relação não se criam os mecanismo endógenos fundamentais para a sustentabilidade do processo de desenvolvimento. Aí se

1 Mestre em Sociologia Rural (UFRGS) e Doutor em Ciências Sociais (Unisinos); Professor do Curso de

Ciências Sociais da Unisinos e do Departamento de Sociologia da UFRGS (almiro.petry@gmail.com).

2 Versão ampliada da publicada em 2007.

3 Segundo o Banco Central do Brasil, a dívida externa compreende o total apurado em determinada data dos

débitos contratuais efetivamente desembolsados e ainda não quitados, devidos por residentes de uma economia aos não residentes, onde haja a obrigatoriedade de pagamento de principal e/ou juros em algum(s) ponto(s) no futuro. A dívida externa bruta compreende as operações de dívida contraídas sob a forma de empréstimos em moeda de curto, médio e longo prazos, de importação financiada, arrendamento mercantil (Leasing) e financiamento de serviços, com prazo de pagamento superior a 360 dias, registradas no sistema Registro Declaratório Eletrônico – Registro de Operações Financeiras (RDE-ROF) do Banco Central do Brasil.

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localiza a vulnerabilidade do país, que é a relação técnica entre os serviços da dívida externa (juros e amortizações), descontado o quociente do dividendo (reservas) pelo divisor (exportações). Alguns peritos preferem o clássico quociente: dívida líquida (dividendo)/exportações (divisor), sendo o limite de credibilidade a dívida líquida (dívida bruta menos as reservas) o dobro do valor das exportações.

A história da dívida brasileira remonta à época da Independência e tendo o Império como referência, quase toda a dívida externa era de origem inglesa. Com o advento da República, a hegemonia britânica permanece até depois da primeira guerra mundial. Em 1921, o governo brasileiro negocia o primeiro empréstimo com um banco norte-americano. Em 1930, 30% dos empréstimos já eram de origem norte-americana, deslocando-se esta dependência até atingir os 73% no final da década de 1980. Os bancos comerciais norte-americanos impõem juros mais elevados e variáveis, seguindo a taxa prime rate americana diferente das agências governamentais e de outras instituições financeiras internacionais. Assim, na linha histórica, cada governo gera uma herança inadministrável cuja solução é postergada de geração em geração. Deve-se pagar esta dívida? Em 1985, o Presidente Sarney assim se expressou na ONU:

O Brasil não pagará a dívida externa nem com a recessão, nem com o desemprego, nem com a fome. Temos consciência de que, a pagar esta conta com estes altos custos sociais e econômicos teríamos em seguida de abdicar da liberdade, porque um débito pago com a miséria é conta paga com a democracia (ONU, 23-09-1985).

O governo Sarney “rolou” a dívida e pressionou o FMI para um novo acordo, renegociando a dívida e refinanciando os US$ 44,2 bilhões vencidos. Entre 1970 e 1989 o Brasil transferiu para os credores US$ 110 bilhões para o pagamento de juros e US$ 81,1 bilhões para amortizar a dívida. De acordo em acordo, o Brasil continua tomando novos empréstimos e pagando sua dívida.

Atualmente a América Latina se verga sob o ônus da dívida externa que, em 2001, conforme o BM atingiu a cifra de US$ 787 bilhões, contra os US$ 475 bilhões de 1990, quase se duplicando neste período. Os três maiores devedores são: Brasil (28,8%), México (20,1%) e Argentina (17,4%), atingindo 66,3% do total. Entretanto, em 1990 esta proporção era: 25,2%, 22,1% e 13,2%, respectivamente, correspondendo a 60,5% da dívida latino-americana. Isto significa que as reformas neoliberais agravaram a dependência econômica do continente.

Segundo Martins4, as saídas de capital da América Latina, no período de 1956 a 2004, superaram em 34% as entradas, que é a taxa de lucro dos investidores não-residentes. Saíram US$ 1,427 trilhão na forma de remessa de lucros, pagamentos de juros, serviços da dívida

4 MARTINS, Carlos Eduardo. Pensamento Social. In: SADER, Emir. Enciclopédia Contemporânea da América

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etc., contra US$ 1,061 trilhão de investimentos e empréstimos. Somente nos períodos de 1968 a 1981 e 1991 a 1998 as entradas superaram as saídas. O grande destaque é para o recente período de 1999 a 2004, quando as saídas superaram o dobro das entradas (US$ 462,2 bilhões x US$ 210,1 bilhões). Isto descapitaliza os países latino-americanos e implica no crescimento exponencial da dívida externa, que consome parte do precário crescimento econômico.

Tomando o critério da dívida per capita, em 2002, o Brasil ostenta a cifra de US$ 1363, ou seja, 44,5% da renda per capita5; o México atinge os US$ 1426, ou seja, 25,7% da renda per capita; a Argentina alcança os US$ 3597, ou seja, 51,6% da renda per capita. E o conjunto dos países latino-americanos apresenta a significativa cifra de US$ 1473, correspondendo a 41,4% da renda per capita regional. É um retrato quase agonizante causado pela pesada dívida externa imposta aos cidadãos e cidadãs latino-americanos.

Sem sombra de dúvidas, a dívida externa é um impedimento tanto para o Brasil quanto para a América Latina, se libertarem destas amarras e retomarem um crescimento robusto e sustentável, retornando à prosperidade (como já vem ocorrendo com alguns países). A tradição brasileira é de extrema dependência (em 1889 a dívida acumulada somava 30,4 milhões de libras esterlinas, já em 1930 a cifra subia para os 237,5 milhões de libras esterlinas), passando da dependência inglesa para a norte-americana, a partir de 1945, quando os americanos já detinham um terço da dívida externa brasileira. De 1964 a 1988 a dívida pulou dos US$ 2,9 bilhões para os US$ 118,3 bilhões (multiplicou em 40 vezes) com grande concentração nos bancos comerciais (em torno de 73% da dívida)6. Após este período, o crescimento não foi tão exorbitante, mas com as cifras elevadas, qualquer acréscimo eleva os números absolutos em níveis inimagináveis.

Para Ricardo Antunes7, a república brasileira está controlada pelas “classes dominantes” que se revezam na presidência. Assim, o Sarney foi “a expressão da velha oligarquia”; o Collor, “um político de saque”; o FH Cardoso “um intelectual qualificado que colocou o seu saber a serviço de um projeto das classes dominantes”; e o Lula, “o mais importante líder de esquerda, líder social, sindical e operário brasileiro do século XX” chega ao poder “fagocitado”. “Ele foi comido, engolido pelas classes proprietárias”. Desta forma, o projeto neoliberal da década de 1990 continua com Lula, executando “a política das transnacionais, a política do FMI”, subordinando seu governo ao sistema do BM e demais organismos multilaterais o que se expressa na política econômica, na reforma da previdência,

5 Em 1970, era de US$ 56; em 1980, passou para US$ 452; e, em 1990 já atingia os US$ 749.

6 PETRY, Almiro; SCHNEIDER, José; LENZ, Martinho. Realidade Brasileira. 10ª ed. Porto Alegre: Sulina,

1990, p. 139-142.

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na reforma sindical e trabalhista, na reforma universitária, etc., todas exigências do FMI e do BM.

Na medida em que o presidente Lula se afasta dos movimentos populares, se aproxima dos banqueiros, dos empresários e do próprio FMI, abandonando sua bandeira de esquerda, torna-se uma decepção para muitos movimentos populares e setores da intelectualidade brasileira.

Para a economista Leda Paulani, “se o governo Lula tivesse utilizado o capital político que tinha no início, para fazer mínimas mudanças, hoje teríamos uma autonomia maior para deliberar internamente sobre os nossos rumos sem ficar dependente tanto do que acontece no panorama da economia mundial”8. Com razão Paulani chama a atenção ao elevado grau de dependência da economia brasileira, tanto do capital transnacional quanto dos banqueiros e dos organismos multilaterais (BM, FMI, OMC etc.). A esta posição cabe acrescentar a grande dependência do Brasil dos banqueiros que atuam aqui que se expressa na dívida pública. Segundo o economista Dércio Munhoz, em 1994 a dívida pública era US$ 115 bilhões, elevando-se a US$ 380 bilhões, em 2002, ultrapassando, significativamente, a dívida externa. Em 2007, ultrapassa o R$ 1,3 trilhão (algo em torno de R$ 6.842,00 por brasileiro), sendo mais da metade uma dívida para com os bancos e a outra parte para com os fundos de pensão. A dívida externa e a dívida interna absorveram, em 2007, 32,36% do Orçamento Geral da União9 (Anexo 1) para o pagamento de juros e amortizações, mais do que todos os recursos destinados aos Ministérios, exceto o da Previdência Social.

Para Munhoz, este crescimento atingiu “perto de quatro dólares de aumento para cada dólar de crescimento do PIB”10. Esta dependência agrava ainda mais o ônus que cada brasileiro deve carregar e que se expressa na carga tributária. Em 1994, a carga tributária estava em 27% do PIB, atingindo os píncaros de 38% do PIB, em 2004, conforme nos informa o economista Gentil Corazza11. Este índice se manteve nos anos posteriores.

Tomando estes aspectos em consideração, o economista Ricardo Carneiro define que as décadas de 1980 e a de 1990 foram uma grande tragédia para a América Latina, porque as idéias e as políticas desenvolvimentistas foram enfraquecidas por um conjunto de fatores: a crise da dívida, a globalização financeira, a consolidação do neoliberalismo, a fuga de capitais etc.12.

8 IHU On-Line, 29-11-2004. 9

Fonte: Orçamento Geral da União – Sistema Access da Câmara dos Deputados. Não inclui o refinanciamento da dívida.

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Para arrematar, o economista Cláudio Cerri13 é enfático em afirmar que não há como pagar a dívida externa, porque “o problema da economia brasileira é que ela não cresce. O endividamento cresceu; entrou muito recurso, mas sem resultado”. Isto significa que o País se endividou sem aumentar a capacidade produtiva e a capacidade de pagamento. Segundo ele, um país “só paga uma dívida se crescer em ritmo mais acelerado que o serviço que ela exige. Não há mágica”.

Considerando-se as crescentes necessidades de novos investimentos para impulsionar o crescimento econômico, o Brasil e a América Latina, frente à escassez de poupanças internas, demandam novos capitais externos, tanto os diretos quanto os de empréstimos. Nos últimos tempos, os investimentos têm girado em torno dos 20% do PIB, índice muito baixo (deveria ser no mínimo, 25% do PIB). No Brasil, em 2001, este índice atingiu os 21% e, em 2004, caiu para 18,9%. Entretanto, tomar recursos externos significa aumentar a dívida externa, que já está num patamar muito elevado. Em maio de 2007 a dívida total registrada no BCB era de US$ 215,543 bilhões, sendo que nos anos de 2005 e 2006 foram pagos em serviços, respectivamente, US$ 8,309 e 9,654 bilhões.

3 Movimentos contra as dívidas

O(s) movimento(s) contra o pagamento da dívida externa, sendo precedida por uma auditoria pública já tem uma história na América Latina. No passado, as nações latino-americanas se articularam mais para suspenderem os pagamentos dos juros e das amortizações. No período de 1931 a 1937, após a crise decorrente da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, quatorze dos nossos países não pagaram seus débitos14. No Brasil, o governo Getúlio Vargas, em 1931, determinou uma auditoria e constatou que “somente 40% dos empréstimos encontravam-se documentados; não havia contabilidade regular da dívida e tampouco controle sobre as vultosas remessas”. Arthur de Souza Costa, ministro da Fazenda, em 1935 afirmou:

a história dos nossos empréstimos contém operações em número exagerado, onerosas, ruinosas mesmo, feitas sem finalidade econômica com repercussão no desenvolvimento do país. Na sua maior parte, elas foram realizadas pela necessidade de cobrir déficits orçamentários (idem).

Daquela auditoria resultou expressiva redução do montante da dívida e do volume de pagamentos, exemplo que deveria ser repetido como determina a Constituição Federal do Brasil15. O processo histórico de endividamento, composto por períodos de oferta e escassez

13 IHU On-Line, 19-08-2002.

14América Latina - Um Continente saqueado pela Dívida.

Marcos Arruda; Maria Lucia Fattorelli Carneiro; Rodrigo Vieira de Ávila . http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=28412

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de capitais ou a reciclagem de dívidas antigas, é uma das causas dos principais problemas sociais da América Latina, “historicamente saqueada dos seus recursos naturais e sacrificada pelo comércio internacional injusto, pela desvalorização de nossas mercadorias e pela super valorização dos produtos industrializados produzidos nos países mais adiantados” (idem).

A pressão dos credores sempre foi muito forte, em especial quando se tratava de questões ideológicas. Assim, quando os norte-americanos, apoiados no macartismo16, entenderam que a ameaça comunista pairava sobre a América Latina, em especial após a vitória da revolução cubana, passaram a apoiar os golpes e as ditaduras militares, iniciando um novo ciclo de endividamento, “quando a oferta de petrodólares era abundante no mercado financeiro internacional e as taxas de juros estavam baixíssimas, porém flutuantes” (idem). Por ironia da história,

logo após o endividamento facilitado e incentivado pelos credores na década de 70, todos fomos golpeados pela elevação unilateral das taxas de juros pelos Estados Unidos a partir de 1979, responsável pelas crises de endividamento que tivemos que enfrentar na década de 80. Esta crise foi ainda mais agravada em virtude do comércio internacional desigual (idem).

Com a emergência dos movimentos sociais e populares e a reconquista da democracia, mediante o afastamento dos regimes autoritários, apresenta-se a nefasta realidade do desmedido endividamento. Na década de oitenta, caracterizada pela crise internacional do capitalismo (crise das fontes energéticas, fim da guerra do Vietnã etc.) e a escassez de capital, a América Latina vive sua “década perdida” mergulhada em dívidas. Mais uma vez o prometido “socorro” aparece com a doutrina neoliberal e a imposta reforma do Estado, tendo a ênfase focada nas privatizações, na reforma da previdência social, na reforma trabalhista, na abertura comercial etc., cartilha do Consenso de Washington. As privatizações, por sua vez, no Brasil

e na maioria dos países do Terceiro Mundo foram implementadas sob o cabresto da dívida pública, por meio de projeto concebido pelas Instituições Financeiras Multilaterais, a serviço dos governos dos países ricos, e realizado por governos serviçais em benefício das grandes empresas e bancos transnacionais (idem).

Com a “vitória” dos governos neoliberais, o modelo econômico elaborado com os critérios washingtonianos dá prioridade ao pagamento dos juros da dívida externa, amortizações das parcelas vincendas, mediante o aumento dos tributos, com cortes nos

16 O senador norte-americano Joseph MacCarthy (1908-1957; senador: 1947-1957) lidera na década de 1940 e

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investimentos públicos, em especial dos setores sociais (saúde, educação, habitação etc.), para garantir um superávit primário acertado com o FMI e o BM. Com o aumento da carga tributária e os cortes nos investimentos, são as sociedades latino-americanas que pagam este ônus, quando, muitas vezes, este dinheiro foi desperdiçado em obras faraônicas ou destinado a fomentar múltiplas formas de corrupção, produzindo uma “cultura do logro”. Para Sachs (2005), os papéis do FMI (guardião do sistema monetário internacional e da macroeconomia global) e do BM (voltado para empréstimos, doações e financiamentos de programas de desenvolvimento) são regidos pela lógica do “um dólar, um voto”; ao contrário da ONU, onde prevalece o ditado do “um país, um voto”. Por isso, os países ricos dominam o FMI e o BM, porque detêm a maior fatia das cotas e a maioria dos votos17.

No contexto da sociedade globalizada e do sistema-mundo, as eleições para a presidência do FMI, em 2007, evidenciaram alguns conflitos entre as nações; no entanto, manteve-se o tradicional acordo de que a presidência caberia à Europa e a do BM, aos norte-americanos. Assim, o economista francês Strauss-Kahn foi eleito e que enfrentará três desafios18: a) encontrar um novo papel para o FMI na economia globalizada; b) enfrentar a redistribuição do poder interno da organização; c) preservar o papel de “emprestador” de última instância, papel tradicional do FMI.

Durante décadas o FMI dedicou-se a “orientar e financiar políticas de ajuste em economias sujeitas a graves desequilíbrios fiscais e cambiais e a promover a liberalização dos fluxos financeiros”, ajudando, posteriormente, a promover a renegociação da dívida externa de muitos países. Agora, deseja-se que assuma um importante papel na “coordenação de políticas e na defesa da estabilidade no mercado financeiro internacional” (idem).

A questão do poder interno do FMI está sendo contestada por uma série de países e o ajuste promovido em 2007, dando mais poder à China, à Coréia, ao México e à Turquia, foi contestado pelo Brasil e pela Índia. Segundo Strauss-Kahn,19 “a mera redistribuição de cotas, no entanto, será insuficiente para uma efetiva recomposição do poder [...] será preciso ir além

17 Esta é a razão das reiteradas críticas feita ao FMI pelo Ministro Guido Mantega, de 2006 para cá, afirmando

que o FMI não estava preparado para a crise financeira global e que suas recomendações sejam mais rígidas aos países desenvolvidos. Dos 185 países partícipes, o Brasil conta com 1,42% de votos no FMI. Os países que contam com maior número de votos dentro do fundo são os Estados Unidos (17,08%), Japão (6,13%), Alemanha (5,99%), França (4,95%), e Grã-Bretanha (4,95%).

18Desafios para o FMI - http://txt.estado.com.br/editorias/2007/10/08/edi-1.93.5.20071008.3.1.xml

19 Segundo Strauss-Kahn, o Brasil que tem uma cota equivalente a 1,45%, poderia passar para 2,42%, o que não

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da reforma de cotas e estabelecer um sistema duplo de votos, menos dependente do peso financeiro de cada membro” (idem).

A preservação do papel de emprestar dinheiro em última instância, com algumas adaptações, não será tarefa difícil, mesmo porque neste momento poucos países necessitam deste recurso. Quanto aos críticos do FMI, convêm terem presente que é melhor para um país “poder recorrer a uma entidade oficial e multilateral [...], do que depender inteiramente do arbítrio dos bancos privados. Os banqueiros sabem disso. Cada passeata contra o FMI é um lance a favor deles” (idem).

Em 2006, várias entidades publicaram uma cartilha conjunta para traçar estratégias de auditorias da dívida do Terceiro Mundo20. O manual esclarece conceitos, orienta as entidades envolvidas na luta contra o pagamento da dívida externa na formulação de estratégias, demonstra a composição das diversas dívidas dos países mais atingidos, afirmando que do lado dos devedores é “uma lápide de chumbo” e, do lado dos credores, “uma mina de ouro”. Assim, os credores transformaram a dívida em vigoroso instrumento de chantagem e dominação.

Por isso, os movimentos autores do manual defendem a tese de uma auditoria generalizada de toda a dívida externa do Terceiro Mundo e instam as entidades locais para se empenharem nesta luta, por ser um instrumento de mobilização e portador de esperanças. Além disso, uma auditoria conjunta e cruzada fortaleceria a solidariedade entre as nações e povos devedores e criaria uma aliança Sul-Norte (do Norte, país favoráveis a uma auditoria).

No Brasil, as diferentes iniciativas promovidas, mesmo tendo à frente a OAB, a Rede Jubileu Sul e tantos movimentos sociais, não alcançaram sucesso para auditar a dívida externa, tanto a pública quanto a privada (Anexo 2).

3.1 O caso brasileiro

A história recente da dívida externa brasileira deve ser olhada a partir do modelo econômico vigente que prioriza ao máximo o pagamento dos juros da dívida mediante o aumento da carga tributária, cortes de gastos nos setores sociais e cortes de investimentos públicos, onerando toda a sociedade. Qualquer sinal de alteração dessa política, os donos do sistema

20 AAJ – ATTAC (URUGUAY) – CADTM – CETIM - COTMEC – AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA

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financeiro chantageiam a nação com a ameaça da queda do índice de risco-país e a fuga de capitais. Nesta perspectiva, a dívida externa é a principal causa dos magnos problemas socioeconômicos que o país enfrenta. O volume da dívida ainda é assustador, mesmo com o discurso mitigativo do governo, apoiado no sucesso das exportações primárias (grãos, carnes, minérios etc.) que garantem divisas para o pagamento da dívida. Estes setores obstaculizam a necessária reforma agrária, permitem a desnacionalização do parque industrial e enfraquecem o Estado em sua indispensável soberania. Os ganhadores deste processo são os banqueiros e os mega empresários; os perdedores, são os trabalhadores e a sociedade em geral. “Em suma: para os especuladores, tudo! Para o social, migalhas!” como diz o eslogã da Rede Jubileu Sul. Em dezembro de 2005 o governo federal antecipou o pagamento de US$ 15,5 bilhões do empréstimo tomado junto ao FMI, na crise de 2002, pelo governo FHC, alardeando de que ‘a economia vai bem e que a dívida não é mais problema’ e ‘estamos livre do FMI’. É necessário ressaltar de que a dívida para com o FMI era uma parcela mínima da dívida total e, por ironia, a de juros mais baixos. No entanto, para pagá-la o governo tomou dinheiro do sistema financeiro nacional, trocando a “velha” por uma “nova”, a dívida interna. Neste sentido, segundo os analistas, o aumento da dívida interna, que já ultrapassa o R$ 1,3 trilhão, é uma “reciclagem da dívida externa”. O atual governo vem procedendo nesta lógica (do modelo e da relação com os credores) e, durante o exercício de 2006, foram antecipados US$ 9,2 bilhões ao Clube de Paris, que eram empréstimos de juros mais condizentes (Arruda, Carneiro e Ávila, op. cit.).

Para antecipar, amortizar e pagar os juros exorbitantes o Banco Central comprou, de outubro de 2005 a junho de 2006, US$ 25,7 bilhões pela “emissão de mais dívida interna”; repetindo este processo no exercício subseqüente (de janeiro a abril de 2007), quando foram comprados US$ 34 bilhões. Todo o montante deste processo atingiu, em 2007, algo em torno de 6,52% do PIB, como nos informa o boletim da Rede Jubileu Sul21, o que “significa que, de cada R$ 100,00 de toda a riqueza produzida pelo país, R$ 6,52 foram destinados para os juros das dívidas externa e interna”. E mais, “todo sacrifício social que vem sendo praticado para se atingir a meta de superávit primário não foi suficiente para impedir o crescimento explosivo da dívida interna federal em 2007”.

Apesar deste incomunal esforço e do sacrifício da nação, o montante da dívida externa ainda vem crescendo, mesmo que o governo diga o contrário. Segundo os relatórios do Banco Central, em dezembro de 2006, a dívida externa era de US$ 199 bilhões e fechamos o ano de

21Boletim auditoria Cidadã da Dívida: Rede Jubileu Sul, nº 17, 2007.

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2007 com US$ 237 bilhões22, como dívida total que envolve a pública, a privada e a intercompanhias. Também a dívida externa privada “é paga pelo povo brasileiro, uma vez que cabe ao governo fornecer dólares para os credores privados pagarem suas dívidas”.

Ao anunciar, em fevereiro de 2008, que o Brasil passou da categoria de devedor para a de credor, o governo fez o seguinte cálculo: a dívida externa (pública e privada, de curto, médio e longo prazos) soma US$ 197 bilhões (não inclui a intercompanhias); as reservas internacionais atingiram US$ 188,5 bilhões; mais aplicações no exterior (US$ 2,8 bilhões), mais créditos de bancos brasileiros no exterior (US$ 10,1 bilhões) = US$ 201,4 bilhões. Portanto, foi gerado um crédito de US$ 4,4 bilhões. Mera questão contábil para enganar a muitos e proferir um discurso enganador que oculta a sangria anual da evasão de divisas. É preciso afirmar que o problema persiste agravado pelo aumento galopante da dívida interna. Estima-se de que a dívida pública atinja aos 43,9% do PIB.

Olhando um pouco para a história recente, quais são os fatores que conduziram a estas conquistas? Sem dúvida, o marco inicial é o Plano Real (1994), tão combatido pelo Partido dos Trabalhadores e outros identificados com a linha ideológica da esquerda, hoje no poder central da República. O Plano Real, com seu regime de metas, possibilitou controlar a inflação, racionalizar as contas públicas (estabelecendo uma meta de superávit primário) e introduzir o câmbio flutuante, ainda no governo FHC. O mérito do governo Lula está em ter mantido a política econômica herdada e aprofundado os princípios macroeconômicos contidos no Plano Real23.

Assim, a estabilidade econômica construída; os avanços no mercado financeiro, atraindo investidores externos; o cenário internacional favorável e o bom desempenho das exportações asseguram uma boa perspectiva de futuro para o Brasil. Entretanto, a macroeconomia precisa chegar até o último pobre brasileiro para dar-lhe as condições de vida mais humana e mais digna.

3.2 O caso argentino

Com o Plano de Convertibilidade, do governo Menem, de um período inicial de euforia e de sucesso, a nação caiu numa profunda recessão, com altos índices de desemprego, elevada inflação e a economia deixou de crescer, acumulando uma dívida pública e privada em torno de US$ 200 bilhões no final da década de 1990. Com a declaração da moratória, a Argentina começou a ser assistida pelo FMI, para produzir um ajuste fiscal, um corte dos salários e das

22 Dívida pública + prrivada = US$ 197 bilhões; dívida intercompanhias = US$ 40 bilhões. Motante de US$ 237

bilhões (dados estimados).

23 SARDENBERG, Carlos. A ‘morte’ da dívida externa é vitória da ortodoxia.

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aposentadorias e a saída do Estado de suas responsabilidades financeiras. O risco-país disparou, a credibilidade do país “sumiu” e a dívida externa crescia. A Argentina devia aos organismos internacionais US$ 132 bilhões. Com Duhalbe na presidência a Argentina abandona o modelo da convertibilidade (2002) ao desvalorizar o peso (na ordem de 30%) e converter os depósitos de dólares em moeda nacional (corralón) e estabelecer planos sociais que contivessem a ruptura social. A desvalorização da moeda jogou 50% dos argentinos na pobreza. Com Kirchner no poder (2003), a dívida é reestruturada a longo prazo, visando a 70% de sua quitação. Em 2005, a Argentina começa a sair do estado de falência.

Em janeiro de 2006, a Argentina paga integralmente sua dívida com o FMI, o que dá maior autonomia ao país na formulação de sua política econômica, sem a presença dos controladores daquele organismo financeiro. Sem o controle monetarista do FMI, a economia desfruta seu quinto ano de crescimento, obtendo uma taxa de expansão do PIB acima dos 8% entre 2003 e 2006, um dos melhores resultados do mundo. Este desempenho econômico permitiu reduzir o índice de pobreza de 51% da população, em 2002, para 31%, quatro anos depois. O sucesso econômico está estreitamente ligado à reestruturação da dívida, que reduziu o débito de US$ 100 bilhões para cerca de US$ 35 bilhões. Este processo foi encerrado em junho de 2005 e para os credores garantirem o recebimento, em torno de 76% deles, renegociaram seus títulos por novos papéis, com valores até 75% inferiores aos antigos. Para L. C. Bresser Pereira,

A lição da reestruturação da dívida argentina ensina outra coisa. Mostra que a autonomia de política econômica dos países em desenvolvimento é muito maior do que se propala. Os Estados Unidos e suas agências podem ser poderosos, mas estão longe de serem hegemônicos como pretendem. Não têm o poder que se supõe. E, quando um país cuida bem de sua própria casa, adota uma política fiscal e uma política cambial firmes, não tem razão para temer quebras nem para se curvar diante das sábias recomendações vindas do Norte. Os países asiáticos dinâmicos têm demonstrado "ad nauseam" essa simples verdade de um ponto de vista positivo: adotando sua própria estratégia nacional de desenvolvimento, a Argentina foi obrigada a mostrar a mesma coisa de uma forma negativa, reestruturando sua dívida. Mas, se continuar a ser governada como está sendo, logo estará apresentando as taxas de desenvolvimento que o Brasil, com sua "prudência", não logra24.

Apesar dos avanços, a dívida pública ainda alcança os 59% do PIB.

3.3 O caso do Equador

A dívida externa equatoriana que, em 2000, estava em US$ 13,5 bilhões (63,6% do PIB, contra US$ 5,9 bilhões, em 1980; e US$ 12,2 bilhões, em 19900) salta para US$ 16,2 bilhões (69,1% do PIB), em pleno modelo de dolarização da economia (a moeda sucre, foi substituída

24 BRESSER PEREIRA, L. C. Vitória da Argentina. Disponível em:

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pelo dólar norte-americano; a população tinha prazo até março de 2001 para efetivar a troca)25, feito em 2000, pelo presidente Jamil Mahuad. A presença do FMI e do BM se tornou constante e até 2005 foram subscritas pelos governos, nove cartas de intenções. A crise econômica teve reflexos políticos e se implantou a instabilidade institucional com afastamentos, renúncias e impeachment presidenciais. Com as eleições de 2006 e a vitória de Rafael Correa, renascem as esperanças do povo equatoriano de dias mais seguros, mais estáveis e felizes.

Em seu discurso de posse Rafael Correa afirma: "Vamos iniciar uma renegociação soberana e firme da dívida externa equatoriana e, sobretudo, das inadmissíveis condições que nos impuseram em 2000” e arrematou “o nefasto ciclo neoliberal terminou no Equador”. O seu plano de governo prevê uma auditoria geral de toda a dívida pública das últimas décadas, para aliviar as pressões geradas pelo serviço da dívida e destinar mais recursos aos programas sociais.

Em 23 de julho de 2007, o presidente Correa cria a “Comissão para a Auditoria Integral do Crédito Público”26, estabelecendo

auditar os convênios, contratos, e outras formas e modalidades para a aquisição de créditos por parte do setor público do Equador, provenientes de governos, instituições do sistema financeiro multilateral ou da banca e setor privado, nacionais ou estrangeiros, desde 1976 até o ano de 2006 (Boletim nº 17 da Rede Jubileu Sul).

Há elevadas expectativas quanto aos resultados desta auditoria, a repercussão junto aos demais países latino-americanos e as medidas que o governo Correa adotará, após a conclusão dos trabalhos e a apresentação do relatório final.

4 Conclusão

Mediante o exposto e as extremas dificuldades que as nações latino-americanas enfrentam e as imposições por parte dos credores, parece indispensável uma união continental para enfrentar este grave problema, causa de tantas mazelas na área da saúde, da educação, da habitação, da alimentação etc., enfim dos setores denominados de sociais, além dos econômicos propriamente ditos. Esta temática, tão presente nas reivindicações dos diferentes movimentos sociais e dos discursos político-partidários, não tem sensibilizado o poder executivo, o poder legislativo nem o poder judiciário dos diferentes países latino-americanos

25 O Equador segue o modelo do Panamá, dolarizando todo o sistema monetário nacional. A cotação de US$ 1

foi congelada em 25 sucres. Com esta medida, os preços dispararam , as tarifas aumentaram, os salários não acompanharam a inflação e as perdas reais da população atingiram algo em torno de ¼ de seu patrimônio.

26Esta Comissão conta com quatro representantes do governo equatoriano, doze representantes de organizações

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para se fazer uma aprofundada auditoria e se conhecer as reais dimensões e proporções do problema. Para então, tomar as decisões cabíveis, na medida em que se entende que esta dívida já foi paga várias vezes às custas da saúde, da educação e da previdência social da parte da população que não tem condições de fazer opções em alternativas privadas. Coloca-se a alternativa: continuar a pagar a dívida e estar submisso ao capital transnacional e as denominações daí decorrentes, ou declarar a moratória e arcar com as conseqüências daí decorrentes.

Diante deste dilema, pergunta-se, o Brasil e os demais países latino-americanos devem buscar mais dinheiro externo, para novos investimentos e aumentar a dívida, na medida em que é um sério obstáculo ao desenvolvimento sustentável? Além disso, devem pagar esta estupenda dívida, acumulada de décadas passadas? Como avaliar os três casos acima expostos? Qual é a saída mais indicada, dos caminhos escolhidos pelo Brasil, pela Argentina e pelo Equador?

Referências

AAJ – ATTAC (URUGUAY) – CADTM – CETIM - COTMEC – AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA (BRASIL) -EMAÚS INTERNACIONAL – EURODAD – JUBILEO SUR – SOUTH CENTRE: ¡INVESTIGUEMOS! LA DEUDA Manual para realizar auditorías de la deuda del Tercer Mundo. Genebra 2006.

ARRUDA, Marcos; CARNEIRO, Maria L. F. e DE ÁVILA, Rodrigo. América Latina - Um Continente saqueado pela Dívida.

http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=28412

BRESSER PEREIRA, L. C. Vitória da Argentina. Disponível em:

http://www.reformadagestaopublica.org.br/ver_file.asp?id=1527

COSNTITUIÇÃO Federal do Brasil de 1988. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

IHU On-Line, nº 132, 14-03-2005.

MARTINS, Carlos Eduardo. Pensamento Social. In: SADER, Emir. Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo: BoiTempo, 2006, p.925-934. PETRY, Almiro; SCHNEIDER, José; LENZ, Martinho. Realidade Brasileira. 10ª ed. Porto Alegre: Sulina, 1990.

Rede Jubileu Sul: Boletim auditoria Cidadã da Dívida, nº 17, 2007.

http://www.forumfbo.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=30

SACHS, Jeffrey. O fim da pobreza: como acabar com a miséria mundial nos próximos 20 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

SADER, Emir (org.). Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo: BoiTempo, 2006.

SARDENBERG, Carlos. A ‘morte’ da dívida externa é vitória da ortodoxia.

http://colunas.g1.com.br/sardenberg/2008/02/22/a-morte-da-divida-externa-e-triunfo-da-ortodoxia/

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Anexo 1: Brasil - Orçamento Geral da União (2007)

Essencial à Justiça 0,42%

Def esa Nacional 1,81% Segurança Pública 0,51% Relações Exteriores 0,18% Assistência Social 3,09% Previdência Social 27,46% Juros e Amortizações da Dívida Externa e

Interna 32,36% Cultura 0,04% Habitação 0,00% Urbanismo 0,07% Saneamento 0,00% Educação 2,14% Gestão Ambiental

0,11% Ciência e Tecnologia 0,30%

Direitos da Cidadania 0,05% Trabalho 2,41% Saúde 4,95% Agricultura 0,85% Organização Agrária 0,21% Comércio e Serviços

0,14% Desporto e Lazer

0,13%

Indústria 0,11%

Outros Encargos Especiais 18,34% Transporte 0,36% Energia 0,04% Comunicações 0,04% Legislativa 0,58% Judiciária 1,92% Administração 1,35%

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Anexo 2: Auditoria no Brasil

“No ano de 1989 foi formada outra comissão no Congresso, em cumprimento ao artigo 26 das disposições transitórias, mas a auditoria não chegou a ser realizada, mas os relatores prestaram importante serviço à nação, registrando fatos gravíssimos e até então ignorados pela sociedade.

O primeiro relator, Senador Severo Gomes, apontou a existência de cláusulas de renúncia à alegação de nulidade e à argüição de nossa soberania. Nas palavras do saudoso Senador Severo Gomes:

“Sem qualquer sombra de dúvida, aqui está o ponto mais espantoso dos Acordos. De notar, aliás, a grosseria dos credores, ou a pusilanimidade dos negociadores brasileiros, admitindo uma cláusula que, sobre ferir os brios nacionais, é fundamentalmente inútil, no contexto da negociação. ... Esta cláusula retrata um Brasil de joelhos, sem brios poupados, inerme e inerte, imolado à irresponsabilidade dos que negociaram em seu nome e à cupidez de seus credores... Este fato, de o Brasil renunciar explicitamente a alegar a sua soberania, faz deste documento talvez o mais triste da História política do País. Nunca encontrei ... em todos os documentos históricos do Brasil, nada que se parecesse com esse documento, porque renúncia de soberania talvez nós tenhamos tido renúncias iguais, mas uma renúncia declarada à soberania do País é a primeira vez que consta de uma documento, para mim histórico. Este me parece um dos fatos mais graves, de que somos contemporâneos.”

O relatório dessa comissão acabou sendo derrotado e até hoje a auditoria prevista na Constituição Federal não foi realizada”.

In: CARNEIRO, Maria L. F. Dívida Eterna!... Temos alternativa?

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