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Alguns factores que influenciam o desejo sexual do casal durante a gravidez

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA

ALGUNS FACTORES QUE INFLUENCIAM O

DESEJO SEXUAL DO CASAL DURANTE A

GRAVIDEZ

Maria Clementina Rodrigues Gomes

Mestrado em Sexualidade Humana

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA

ALGUNS FACTORES QUE INFLUENCIAM O

DESEJO SEXUAL DO CASAL DURANTE A

GRAVIDEZ

Maria Clementina Rodrigues Gomes

Mestrado em Sexualidade Humana

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Jorge Branco e co-orientada pelo Prof.

Doutor Carlos Perdigão

Toda as afirmações efectuadas no presente documento são da exclusiva responsabilidade do seu autor, não cabendo qualquer responsabilidade à Faculdade de Medicina de Lisboa pelos conteúdos nele apresentados.

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À memória de Meu Pai

Para os meus filhos, Maria Inês e José Carlos Pelo seu tempo e entendimento

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Jorge Branco a nossa gratidão, pela oportunidade da sua orientação.

Ao Professor Doutor Carlos Perdigão a nossa gratidão, igualmente pela oportunidade da sua orientação, suas sugestões, experiência, empenho e dedicação.

À Professora Doutora Isabel Margarida Mendes, querida amiga, pela motivação, dedicação, pelas suas orientações metodológicas e apoio incondicional que sempre nos disponibilizou, um obrigada muito especial.

À Doutora Carol Apt. pela disponibilidade e autorização na utilização do instrumento por ela construído para avaliação do desejo sexual.

À Dra Rosário Monteiro, pela amizade e pelo incentivo sempre presente.

Uma palavra de gratidão para todos os casais que com a sua participação tornaram possível a realização deste trabalho.

Finalmente, ao meu marido e à minha mãe que suportaram corajosamente a minha menor disponibilidade ao longo deste trabalho.

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RESUMO

A gravidez, sendo um fenómeno normal no percurso vital de uma mulher, não deixa de ser também um período crítico do seu desenvolvimento pessoal e social. São múltiplas as necessidades de adaptação considerando as alterações somáticas, psico-afectivas e sócio-culturais que a evolução da gravidez implica.

Mesmo quando planeada e desejada, esta tem repercussões a vários níveis do relacionamento do casal, implicando que ambos façam adaptações no sentido de manter ou melhorar a qualidade de vida de que desfrutavam antes da gravidez ocorrer, sendo a sexualidade um desses aspectos. O desejo sexual durante a gravidez varia de mulher para mulher, acontecendo o mesmo ao homem, no entanto, observa-se uma tendência de decréscimo à medida que a gravidez progride.

Contudo a actividade sexual durante a gravidez é extremamente importante, pois os sentimentos de prazer e intimidade contribuem de forma expressiva para uma interacção e bem-estar do casal.

Este estudo tem como objectivo principal identificar alguns factores que influenciam o desejo sexual do casal durante a gravidez.

Trata-se de um estudo descritivo - correlacional e transversal . Foi constituída uma amostra de 64 casais entre a 26ª e 38ª semana de gravidez no período de 3/07/06 a 30/12/06. Para a colheita de dados utilizámos um questionário, onde além dos dados sócio- demográficos e obstétricos inclui duas escalas: Hurlbert Index of Sexual Desire (HISD) e Escala da Ansiedade Estado - Traço(STAY).

Foram formuladas cinco hipóteses relacionando o desejo sexual com a idade, número de filhos, aspectos relativos às relações sexuais durante a gravidez, ansiedade e diferença no desejo sexual da mulher e do homem antes e durante a gravidez.

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De uma interpretação resumida, conclui-se que a idade e o nº de filhos não se evidenciaram como factores relevantes, os conhecimentos sobre relações sexuais durante a gravidez influenciam apenas o desejo sexual do homem, a ansiedade é factor influenciador apenas no desejo sexual da mulher e há diferença no desejo sexual antes e durante a gravidez.

Apesar de estes resultados não se poderem extrapolar para toda a população, permitem perceber o quão importante é o apoio durante a vigilância pré – natal dando a possibilidade de manifestarem os seus sentimentos e medos, informando, sugerindo comportamentos alternativos.

É importante educar para a procura do desejo, das fantasias, do cortejo e ao amor romântico no casal no contexto da sua relação, em geral e em particular durante a gravidez.

ABSTRACT

The pregnancy, being a normal phenomenon in the vital passage of a woman, also does not leave of being a critical period of its personal and social development. The adaptation necessities are multiple considering cultural changes, somatic alterations, psyco-affective and partner involvement that implies the evolution of the pregnancy.

Exactly when gliding and desired, this it has repercussions to some levels of the relationship of the couple, implying that both make adaptations in the direction to keep or to improve the quality of life of that they enjoyed before the pregnancy occurring, being sexuality one of these aspects. The sexual desire during the pregnancy the same varies of woman for woman, happening the same in the man, however, a trend of decrease to the measure is observed along with the progresses of pregnancy.

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the feelings of pleasure and privacy contribute of expressive form for a interaction and well-being of the couple.

This is a descriptive correlacional and tranversal study which general aim is to identify some factors that influence the sexual desire of the couple during the pregnancy. The sample consist of 64 couples between 26ª and 38ª weeks of pregnancy was constituted in the period of 3/07/06 the 30/12/06. For collect the data we used a questionnaire, where beyond the sociodemographic and obstetrics it includes two scales: Hurlbert Index of Sexual Desire (HISD) and Scale of the Been Anxiety - Traço (STAY).

Five hypotheses had been formulated relating the sexual desire with the age, relative number of children, aspects to the sexual relations during the pregnancy, anxiety and difference in the sexual desire of the woman and the man before and during the pregnancy.

A summarized interpretation, it is concluded that the age and number of children had not been proven as excellent factors, the knowledge on sexual relations during the pregnancy influence only the sexual desire of the man, the anxiety have an influence factor only in the sexual desire of the woman and before has difference in the sexual desire and during the pregnancy.

Although these results if not to be able to surpass for all the population, allow perceiving the important are the support during the prenatal monitoring giving the possibility to the couple to reveal its feelings and fears, and to the health professionals of informing, suggesting behaviors alternative.

It is important to educate for the search of the desire, the fancies, processing and to the romantic love in the couple in the context of its relationship, in general and in particular during the pregnancy.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Resumo dos principais estudos desenvolvidos sobre sexualidade na gravidez. QUADRO 2- Atribuição de respostas e respectiva pontuação às questões do questionário que

correspondem à variável nível de conhecimentos sobre relações sexuais durante a gravidez.

QUADRO 3- Distribuição das grávidas segundo as variáveis de caracterização da amostra (grupo etário, estado civil, escolaridade e profissão).

QUADRO 4- Distribuição dos companheiros segundo as variáveis de caracterização da amostra(grupo etário, estado civil, escolaridade e profissão).

QUADRO 5- Distribuição dos homens e das mulheres segundo a fonte onde obtiveram informação sobre sexualidade.

QUADRO 6- Distribuição dos homens e das mulheres segundo o desejo sexual antes e durante os três trimestres de gravidez.

QUADRO 7- Estudo descritivo da variável dependente desejo sexual da mulher antes da gravidez.

QUADRO 8- Estudo descritivo da variável dependente desejo sexual da mulher durante a gravidez.

QUADRO 9- Estudo descritivo da variável dependente desejo sexual do homem antes da gravidez

QUADRO 10- Estudo descritivo da variável dependente desejo sexual do homem durante a gravidez.

QUADRO 11- Estudo descritivo da variável independente conhecimentos do homem sobre relações sexuais durante a gravidez.

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relações sexuais durante a gravidez.

QUADRO 13- Estudo da consistência interna da escala Desejo Sexual

QUADRO 14- Resultado da aplicação do teste de normalidade de Kolmogorov- Smirnov com correcção de significância de Lilliefors para a variável dependente desejo sexual durante a gravidez(mulher e homem).

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- Resultados da aplicação dos testes estatísticos para as duas amostras dos membros do casal, variável dependente desejo sexual durante a gravidez.

TABELA 2- Resultados da aplicação do t emparelhado para as mulheres e homens em função do desejo sexual antes e durante a gravidez.

(11)

SUMÁRIO

Pág.

INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1- GRAVIDEZ COMO FENÓMENO BIO-PSICOSSOCIAL ... 17 

1.1- AJUSTAMENTO MATERNO/PATERNO À GRAVIDEZ ... 24 

2- SEXUALIDADE E GRAVIDEZ ... 30 

2.1- DESEJO SEXUAL E GRAVIDEZ ... 40 

2.2- PRÁTICA SEXUAL DURANTE A GRAVIDEZ... 45 

2.2.1- Alterações do desejo, excitação, orgasmo e frequência do coito ... 45 

2.2.2- Posições sexuais ... 51 

2.3- SEXUALIDADE E PATOLOGIA GRAVÍDICA ... 52 

2.4- CRENÇAS E GRAVIDEZ ... 57 

2.5- ANSIEDADE E GRAVIDEZ ... 61 

2.6- ACONSELHAMENTO SEXUAL DURANTE A GRAVIDEZ ... 65

CAPÍTULO II – METODOLOGIA 1- OBJECTIVOS DO ESTUDO E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 68 

2- DESENHO DE INVESTIGAÇÃO ... 69 

2.1- CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA ... 69 

2.2- OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS ... 70 

2.2.1- Variável dependente ... 70 

2.2.2- Variáveis independentes ... 72 

3- INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS DA COLHEITA DE DADOS ... 75 

4- TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS ... 77

CAPÍTULO III – RESULTADOS 1- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 79

1.1- CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ... 79 

1.2- ESTUDO DESCRITIVO DA VARIÁVEL DEPENDENTE DESEJO SEXUAL DA MULHER E DO HOMEM ANTES E DURANTE A GRAVIDEZ ... 82 

(12)

1.3- ESTUDO DESCRITIVO DA VARIÁVEL INDEPENDENTE CONHECIMENTOS

SOBRE RELAÇÕES SEXUAIS DURANTE A GRAVIDEZ ... 87 

1.4- ESTUDO DA CONSISTÊNCIA INTERNA DA ESCALA DESEJO SEXUAL

(HURLBERT, APT, 1992) ... 88 

1.5- ANÁLISE DOS DADOS FACE ÀS HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 89 

1.6- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 94 

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

ANEXO I : Escala do Desejo Sexual de Apt e Hurlbert (1992)

ANEXO II : Escala da Ansiedade Estado – Traço de Spielberg (1983) ANEXO III : Instrumento de Colheita de Dados

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INTRODUÇÃO

A partir do momento em que a mulher engravida, inicia-se um processo de desenvolvimento que levará a várias transformações a nível bio-psicossocial.

Para que a mulher possa enfrentar tais modificações com naturalidade, deve levar em consideração que a gravidez tem aspectos vantajosos que valorizam todo o processo.

A sexualidade da mulher na gravidez é um desses aspectos, dependendo tudo da maneira como ela vai encarar essa fase: sentir-se amada e atraente, ter auto - estima, sentir que o marido a deseja com o mesmo carinho de antes ou até com maior intensidade, ignorar os factores que facilitem a sua própria repulsa e em alguns casos, a não aceitação da gravidez.

Os sentimentos de prazer e intimidade durante o acto sexual, contribuem de forma expressiva para uma interacção e bem-estar do casal, não esquecendo que é fundamental aceitar a diferença da individualidade.

Todos estes aspectos levam a acreditar que a actividade sexual na gravidez é importante.

Geralmente, quando se fala em gravidez, esquecemo-nos de que ela está intimamente ligada à sexualidade e à intimidade, e de que é uma consequência directa do comportamento sexual e da relação de intimidade que se estabeleceu (ou deveria ter estabelecido) entre os elementos do casal.

Quando uma mulher engravida, a sexualidade do casal é quase sempre afectada por dúvidas e medos angustiantes. Eles receiam que as relações sexuais provoquem um aborto ou que magoem o futuro filho, e nestas questões por mais esclarecido que se esteja, o peso da cultura popular e os seus presságios, leva a que os casais sustentem as suas práticas nas crenças. Os mitos e crenças em torno da sexualidade na gravidez, a maioria sem

(14)

quase um sinónimo de pureza, é dissociada do acto sexual”.

Alguns casais mantêm relações sexuais durante toda a gravidez, outros param por acharem que é incómodo, mas se se tratar de uma gravidez normal, a sexualidade deve ser sempre decidida em conjunto pelo casal, e ter relações sexuais em todas as fases da gravidez será sempre uma experiência única para o casal.

De acordo com alguns estudos que foram efectuados e que se encontram referenciados no enquadramento teórico, a frequência das relações sexuais diminui durante a gravidez, embora cada casal seja um caso único. Isto significa, que enquanto algumas mulheres quase não têm relações sexuais, outras aumentam a sua frequência e sentem-se, inclusive, mais gratificadas. Além do receio sempre presente de magoarem o feto durante a relação sexual, há mulheres que pensam já não serem atraentes devido ao seu aspecto físico. Outras ao contrário gostam de estar grávidas e afirmam tirar partido das alterações transitórias do seu corpo para a vivência quotidiana da sexualidade.

Os homens, tal como as mulheres, têm diversos tipos de comportamentos durante a gravidez da companheira, e enquanto alguns sentem desconforto por fazer amor com uma mulher grávida, a maioria dos homens aceita as alterações físicas transitórias que decorrem da gravidez e alguns chegam mesmo a sentir mais desejo sexual.

Ser pai/mãe é ser agente de continuidade entre gerações, mas é também ser simultaneamente capaz de assegurar a descontinuidade, os limites e a diferença entre essas mesmas gerações. Ter filhos é transmitir heranças diversas, desde a genética, às de costumes, valores e significados mas é igualmente, num contexto de intimidade, aceitar a diferença da individualidade.

Tivemos como principal objectivo com esta investigação, de carácter predominantemente exploratório, identificar alguns factores que interferem no desejo sexual do casal durante a gravidez. De uma forma mais específica pretendemos analisar a

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relação entre o desejo sexual do casal durante a gravidez e a idade, nº de filhos, conhecimentos sobre gravidez, ansiedade e gravidez e desejo sexual entre os membros do casal antes e durante a gravidez.

Estruturalmente este trabalho está dividido em três capítulos. Assim o Capítulo I constitui o nosso enquadramento teórico, que tem como principal finalidade delinear as adaptações da mulher e do homem à gravidez, sexualidade durante a gravidez, comportamento sexual do casal durante a mesma. No Capítulo II é feita uma exposição pormenorizada referente à metodologia que norteou este estudo. Em relação ao Capítulo III, são relatados os resultados da aplicação de instrumentos de recolha de dados aos quais responderam 64 casais com decurso de uma gravidez normal e sem patologia associada, entre as 26 e 38 semanas de gestação, num período que decorreu entre 3 de Julho de 06 e 31 de Dezembro de 2006. Os estudos de fiabilidade e validade das escalas utilizadas são apresentados no Capítulo III, assim como os dados de natureza empírica obtidos no nosso estudo, onde se procurou analisar a possível relação entre alguns factores de natureza sócio-demográfica e obstétrica e o desejo sexual do casal durante a gravidez, e a discussão dos resultados. Por último, apresentamos as conclusões e sugestões tendo em conta os objectivos formulados.

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1- GRAVIDEZ COMO FENÓMENO BIO-PSICOSSOCIAL

Um novo ser humano tem a sua origem na conjugação de uma célula reprodutora masculina – o espermatozóide, e de uma célula reprodutora feminina – o óvulo. Enquanto os espermatozóides são produzidos em grande número, de modo praticamente constante ao longo da vida reprodutora do homem, o organismo da mulher disponibiliza para o processo reprodutivo um óvulo a intervalos, aproximados, de 4 semanas durante cerca de 35 anos(1).

A gravidez na sua dimensão temporal delimita-se a um período de aproximadamente 266 dias ou 38 semanas de gestação, que medeia entre a concepção e o parto, isto é cerca de 40 semanas desde o primeiro dia da última menstruação (2,3).

Esta tem início na fertilização de um óvulo por um espermatozóide e a subsequente implantação do mesmo na parede interna do útero. O ovo dará origem ao embrião (4).

A maioria das vezes pensa-se na gravidez como um acontecimento da vida, mas mais do que um acontecimento, a gravidez é um processo que se enquadra no ciclo vital da mulher, como um período de grande complexidade. Esta, quer do ponto de vista físico quer do ponto de vista psicossocial, representa um desafio à adaptação da mulher enquanto pessoa, por um lado, no seu espaço intrapessoal, onde se projectam as suas ansiedades e as suas expectativas e por outro, no seu espaço interpessoal, onde se definem novas representações sociais, novas expectativas e atitudes (5,6,7).

Do ponto de vista psicológico é um processo dinâmico de construção e desenvolvimento onde acontece uma profunda transformação essencial ao crescimento e à integração maturativa da mulher, evidenciando a importância das variações individuais de acordo com cada personalidade, com o grau de ajustamento ao inicio da gravidez e ainda, com o enquadramento do seu suporte familiar. Durante a gravidez a mulher tem um trabalho suplementar: o de se adaptar às suas novas tarefas, independentemente de ter já

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gestacional do desenvolvimento fetal é também o período gestacional da construção do papel materno (5,7,8).

Do ponto de vista biológico as alterações resultantes do processo gravídico justificam parte das modificações psicológicas vivenciadas pela mulher grávida, e essas vivências não podem ser correctamente compreendidas e valorizadas se não se entender a gravidez, também como um período de crise complexa do desenvolvimento psicológico. Esta interacção é neste período, fortemente influenciada por variáveis psicossociológicas de natureza cultural, profundamente integradas sob a forma de sistemas de valores, na sua forma de crenças, que nesta fase de maior sensibilidade se tornam determinantes. Fenómeno fundamental na manutenção da espécie, não admira que desde a mais remota antiguidade, ao longo dos séculos e das culturas, a gravidez tenha sido rodeada de mitos e tabus, geralmente destinados a proteger o feto(9,10).

A gravidez e a maternidade são consideradas um período de desenvolvimento, porque tal como os outros períodos de desenvolvimento que compõem o ciclo de vida, caracterizam-se pela necessidade de resolver tarefas desenvolvimentais especificas e viver uma crise própria. A noção de crise está directamente associada à mudança e ao stress. Este não implica necessariamente sofrimento ou níveis de funcionamento mais baixos. Implica sim, sempre necessidade de reorganização, pois o auto-conceito da mulher vai alterar-se de forma a permitir-lhe preparar-se para o seu novo papel de mãe. Gradualmente, ela deixa de se considerar auto – suficiente e independente, para se sentir com uma obrigação para com outro ser que durará toda a sua vida. Este crescimento implica o domínio de algumas tarefas de desenvolvimento: aceitar a gravidez; aceitar a realidade

do feto; reorganização das suas relações com o companheiro e sua mãe; aceitar o bebé como pessoa separada, sendo o apoio emocional do companheiro um factor importante

(19)

Nesta história de vida há vários aspectos psicológicos essenciais, entre eles a consciência que as mulheres têm da significação da gravidez (sabe que pode morrer mas também pode dar vida, sabe o que é uma gravidez, que esta termina em parto com o nascimento de uma criança, e que qualquer destas situações pode trazer riscos para si e para o bebé), e os aspectos menos conscientes do seu desenvolvimento psicológico e das relações que foi estabelecendo ao longo da vida (13).

Há quem considere que a gravidez é uma experiência essencialmente regressiva, marcada por períodos de ansiedade curtos ou longos, aos quais estão associados sintomas físicos próprios. Esta regressão não tem carácter patológico, mas é vista como uma etapa no processo de desenvolvimento. - Processo psicológico de regressão (13).

A mulher quando tem a confirmação que está grávida, voa da criança que foi para a criança que vai ter. Isto significa que as experiências precoces vividas desde logo no útero materno, bem como no nascimento, ao longo da infância e adolescência e o equilíbrio físico e mental que decorre da sua transformação em mulher adulta, fazem parte dum contínuo que apenas é percebido na sua expressão global. Também as relações estabelecidas com a mãe, são determinantes na elaboração do papel de mãe. A mulher ao preparar-se para ser mãe, vai percorrer os caminhos da sua meninice e vai retirar experiências não concluídas ou não satisfeitas, as capacidades da mulher como futura mãe dependem em grande parte das experiências relativas aos cuidados que recebeu da sua própria mãe (13).

Há quem considere que a gravidez é uma crise de desenvolvimento no sentido em que necessita de um ajustamento ao seu novo estatuto, caracterizando-se por perturbações psicológicas (não patológicas) que resultam da adaptação às modificações corporais, emocionais e sociais próprias, e pela re-organização intrapsíquica que a mulher tem que fazer devido à sua condição de futura mãe (13).

(20)

A gravidez como um tempo de desenvolvimento psicológico com estados emocionais próprios, em que a mulher se encontra num processo regressivo de vivências introspectivas, acompanhado de exigências sociais, é chamado momento de crise e de crescimento maturacional (13).

As tarefas ou factores de desenvolvimento dizem respeito à história do indivíduo, ou melhor, aos marcadores das suas experiências e aprendizagens ao longo do ciclo da vida(9).

Tarefa 1 – Aceitar a gravidez

Consiste na tarefa inicial de aceitar a realidade da gravidez, ou seja, acreditar que se está realmente grávida, a fim de progredir nas tarefas subsequentes (os pais necessitam geralmente de mais tempo para encetar esta tarefa) (14).

Tarefa 2 – Aceitar a realidade do feto

Consiste na tarefa de considerar a realidade própria do feto, no sentido de uma entidade física e psicológica distinta que se está a preparar para o funcionamento em separado. Inicialmente, a mãe concebe o bebé como parte de si, e a relação entre a mãe e o bebé estabelece-se, primeiro ao nível da fantasia. A pouco e pouco, a representação do bebé torna-se mais autónoma e realista e integra os sinais que são emitidos pelo bebé e que testemunham a sua existência. Os movimentos fetais aceleram tais processos representativos, pelo que a “verdadeira sensação de maternidade pode coincidir ou não, mas geralmente coincide, com a primeira sensação real do bebé dentro de si” (14).

Tarefa 3 – Reavaliar a relação com os pais

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de encontrar um novo equilíbrio (14).

Tarefa 4 – Reavaliar a relação com o cônjuge

Consiste na tarefa de fazer frente às novas questões que surgem no relacionamento com o cônjuge, com vista à integração de um novo elemento na relação do casal. Trata-se de reconceptualizar a díade que se está a transformar em tríade, restabelecer a relação matrimonial com vista ao preenchimento das necessidades de um novo elemento, formar uma nova aliança emocional, no sentido de comunicar em torno de questões do âmbito parental e de partilhar experiências e decisões no melhor interesse da criança, o que até aqui não era necessário (14).

Tarefa 5 – Aceitar o bebé como pessoa separada

A mulher tem que se desligar da gravidez para poder encetar um novo investimento no bebé tornado real; esta tarefa consiste em aceitar que o bebé existe enquanto pessoa separada e que insiste em ser considerada nas suas necessidades próprias (14).

Como já foi referido os processos de gravidez e maternidade, como mudanças que são, implicam stress. As mudanças que acarretam implicam perdas e ganhos, associadas às representações que a gravidez e maternidade comportam para cada mulher; requerem respostas (cognitivas, emocionais e comportamentais) que habitualmente não integram o repertório comportamental da mãe; e exigem uma adaptação específica (5).

O processo gravídico enquadra-se no ciclo vital da mulher porque existem, por um lado, alterações na sua vida relacional em geral, alterações na sua identidade pessoal e modificações psicofisiológicas específicas próprias do estado de gravidez. E por outro lado, porque a sociedade espera dela determinados comportamentos e exige-lhe que cresça

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e amadureça como mãe, que aceite, adapte e se ligue ao bebé. A sociedade exige ainda que a mulher cumpra com êxito uma serie de tarefas relacionadas com a família, relação com o marido e futuro pai, o número de filhos, as condições de vida, incluindo circunstâncias de trabalho e emprego, condições socioeconómicas, e que frequente um subsistema de saúde que dê resposta às suas necessidades (13).

Para além do papel de suporte à mulher, extremamente importante, os homens também têm representações e tarefas de desenvolvimento a cumprir enquanto pais.

O pai pode encarar e vivenciar a gravidez envolvendo-se de diferentes formas e respostas emocionais variadas:

- Os que se sentem felizes com a gravidez, apoiam a grávida e desejam ser pais, mas são pouco dados a manifestações emocionais e distanciados das actividades que envolvem a gravidez;

- Os que não estão contentes com a gravidez e mostram sentimentos de ambivalência sobre o seu papel como pais, resistindo a todas as tentativas de envolvimento nos preparativos inerentes à maternidade;

- Os que vivem duma forma intensa a gravidez, desejando participar totalmente no projecto, sentem a mesma labilidade emocional e ambivalência que caracteriza a grávida;

- Os que se sentem responsáveis pelo resultado da gravidez, apoiam e protegem as suas mulheres;

- Os que se sentem excluídos, porque sentem a atenção, as energias e preocupações canalizadas para o futuro filho e mãe (5,12).

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enquanto pais. Ao tornar-se pai, as respostas emocionais do homem, as suas preocupações e necessidades de informação, modificam-se no decurso da gravidez. As fases das tarefas de desenvolvimento – a fase de tomada de conhecimento da gravidez, a fase moratória e a fase de concentração tornam-se aparentes (5, 12).

O período precoce, a fase de tomada de conhecimento, pode durar desde algumas horas até algumas semanas. Consiste na aceitação da gravidez como facto biológico. O homem necessita de assumir que: “Ela está grávida e eu sou o pai”. O homem reage à confirmação da gravidez quer com alegria quer com desânimo, dependendo do facto de a gravidez ser desejada, não planeada, ou não desejada. O reconhecimento do estado de gravidez parece decorrer mais lentamente para o pai, cujo organismo não experimenta nem sente os sintomas precoces dela decorrentes, não lhe sendo aparentes as pequenas mudanças físicas da sua companheira durante o primeiro trimestre de gravidez. Ao observar uma ecografia do seu filho, às 12 semanas, um homem refere: Até ver a sua fotografia, tudo parecia irreal. Eu sabia que a minha mulher estava grávida, mas tal facto pouco significado tinha para mim. Foi espantoso em poucos minutos tornei-me pai (12).

A segunda fase, a fase moratória, é o período de ajustamento à realidade da gravidez. A tarefa de desenvolvimento é aceitar a gravidez e ser capaz de afirmar: “Nós vamos ter um bebé, e estamos a mudar”. Os homens parecem colocar, temporariamente, de lado o pensamento consciente da gravidez. Tornam-se mais introspectivos e empenham-se em múltiplas discussões sobre a sua própria filosofia de vida, religião, procedimentos em relação ao seu filho, educação do filho e relações com os membros da família e amigos. Dependendo da prontidão com que o homem encara a gravidez, esta fase poderá ser relativamente curta ou durar até ao terceiro trimestre (12).

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A terceira fase, a fase de concentração, começa no último trimestre e é caracterizada pelo envolvimento activo do pai tanto na gravidez como na sua relação com o seu filho. A tarefa de desenvolvimento consiste na partilha com a companheira do papel que ele irá desempenhar durante o parto, bem como na preparação para a paternidade. Ele necessita de ser capaz de afirmar: “Eu sei qual é o meu papel durante o parto e vou ser pai”. Nesta fase o homem concentra-se na sua própria experiência do período de gravidez e, ao proceder desta forma, sente-se em maior consonância com a sua mulher. Ele começa por se redefinir a si próprio como pai, e ao mundo que o rodeia em termos da sua futura paternidade (12).

O homem passa, igualmente por um processo de ajustamento que tem a ver com a reorganização do seu papel, incluindo a preparação para a paternidade, as alterações do

“centro de gravidade” afectiva e a resposta às modificações físicas e emocionais da grávida. É neste sentido que cada vez mais se coloca a experiência da procriação no

contexto do casal – o “casal grávido” (9,11).

1.1- AJUSTAMENTO MATERNO/PATERNO À GRAVIDEZ

Adaptações Fisiológicas à Gravidez

A gravidez desencadeia no organismo materno uma série complexa de adaptações fisiológicas, que no seu conjunto e interdependência, asseguram condições adequadas para o crescimento/ desenvolvimento da unidade feto-placentária. Os mecanismos que condicionam o aparecimento dessas adaptações estão parcialmente compreendidos. As

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adaptações que ocorrem no organismo materno desenvolvem-se para facilitar o crescimento e desenvolvimento do embrião/feto e assegurar o bem-estar materno (6).

Essas adaptações fisiológicas resultantes da adaptação à gravidez, envolvem globalmente o organismo materno, modificando de um modo mais ou menos evidente o funcionamento dos diversos aparelhos e sistemas em virtude de modificações metabólicas, bioquímicas, hormonais e anatómicas. Daqui resultarão sinais e sintomas de expressão e intensidade variáveis que no seu conjunto, constituem as habituais manifestações somáticas da gravidez. Estas têm, tendencialmente, uma distribuição temporal própria, de tal modo que o quadro sintomático associado à gestação apresenta aspectos mais ou menos característicos de cada trimestre, pelo que iremos referir sumariamente algumas dessas manifestações somáticas que ocorrem ao longo da gravidez (6).

Primeiro trimestre

As manifestações somáticas mais habituais no primeiro trimestre estão relacionadas com as adaptações que ocorrem ao nível dos centros talâmico e medular, do sistema gastro-intestinal, do sistema urinário e das glândulas mamárias, resultantes dos efeitos da acção hormonal da progesterona e estrógenios. Assim, o quadro de manifestações somáticas mais comuns neste trimestre, pode resumir-se do seguinte modo: aparecimento de fadiga, cansaço fácil e sonolência, podem surgir náuseas e vómitos (que geralmente diminuem ou cedem por volta das 12-16 semanas), ocorrência de polaquiúria, aumento de secreções vaginais, aumento de peso e tensão mamária com desconforto (6).

Segundo trimestre

Nesta fase, que decorre desde a 13ª à 24ª semana de gestação, enquanto alguns sintomas característicos do 1º trimestre, como as náuseas, os vómitos e a sonolência

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tendem a diminuir e a desaparecer, outras manifestações podem tornar-se mais notórias, tais como: obstipação; a baixa tendencial da tensão arterial pode fazer surgir fenómenos de hipotensão ortostática; hiperpigmentação na face (cloasma gravídico), na aréola e na linea alba; aparecimento de estrias gravídicas fundamentalmente em áreas do corpo que sofrem distensão (abdómen, mamas, coxas); aumento da secreção sebácea e da sudorese são também característicos deste trimestre; ocorrência de cãibras e lombalgias. Apesar da ocorrência destes sintomas, este trimestre é habitualmente considerado o mais calmo, com uma vivência mais equilibrada de onde se salienta a descoberta por parte da grávida dos movimentos fetais (6).

Terceiro trimestre

No último trimestre da gravidez o grande volume uterino é o factor que condiciona a maioria dos sinais e sintomas. Assim ocorrem com frequência pirose e o enfartamento, a sensação de dificuldade respiratória, o aparecimento ou agravamento de varizes, o edema dos membros inferiores e a síndrome de hipotensão supina, devido à compressão da veia cava superior pelo útero, quando a grávida fica em decúbito dorsal. A compressão exercida pela apresentação fetal, pode agravar a polaquiúria. Neste período são igualmente frequentes a fadiga e o desconforto físico, assim como dificuldades em adormecer e repousar (6).

Adaptações Psicológicas à Gravidez

Nas últimas quatro décadas a gravidez tem sido estudada como um período de desenvolvimento psicológico e social de elevada importância.

Um estudo sobre a transição para a paternidade, sugeriu que a paternidade e a maternidade deveriam ser consideradas como etapas de transição de papéis no contexto do

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ciclo vital da família, e onde a gravidez é entendida como mais uma etapa do desenvolvimento com tarefas próprias e adequadas a essa fase do ciclo vital da família (15).

Ao longo das quarenta semanas de gravidez a mulher vai-se preparando para o parto e maternidade, vai fantasiar sobre o bebé e começar a preparar a sua chegada, por exemplo, comprando roupas e arranjando o seu quarto. São frequentes as oscilações de humor, as inseguranças e os receios, que se prendem com as alterações hormonais já referidas e também com o facto de a mulher estar a atravessar uma fase diferente da sua vida, em que se vislumbram mudanças relativamente às quais ela tem uma série de incertezas. É, assim de grande importância, o apoio da família e dos amigos, bem como de técnicos de saúde (10). O que a bibliografia consultada refere em relação à idade que esta é um dos factores que consistentemente tem sido associado à qualidade do ajustamento pré e pós- natal ao papel de mãe, dado que as adolescentes são muitas vezes invadidas pela fantasia de ter um bebé na total ausência de um ponto de vista realista acerca do que é ter uma criança. Mães que engravidam entre os 20 – 24 anos, exibem durante o terceiro trimestre mais dificuldade de ajustamento ao papel maternal, do que as mães que engravidam mais tardiamente em idades superiores a 30 anos. Estas últimas exibem um melhor relacionamento com o bebé, estão mais motivadas para a maternidade e têm uma ideia mais clara acerca do papel maternal. As mulheres mais conscientes das mudanças que a gravidez implica constituem uma visão mais realista do bebé e do que é ser mãe e conseguem adaptar-se mais facilmente às mudanças que o nascimento de um bebé propicia(6,16).

O companheiro da grávida, por sua vez, tem também que se adaptar ao futuro papel de pai (hoje em dia os homens reivindicam para si uma paternidade feita de presenças, interacções, amor e cuidados quotidianos ao invés do antigo lugar de uma autoridade distante), ao mesmo tempo que acompanha o processo de adaptação física e emocional da

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grávida. As respostas emocionais e comportamentais deste, face à gravidez, parecem ter bastante relevância neste contexto. Assim, quando os homens se interessam pela evolução da gravidez e pelo desenvolvimento da criança, a mulher tende a estabelecer um bom relacionamento com o filho que está por nascer e a melhorar o seu relacionamento com o seu companheiro (17,18).

O envolvimento do pai durante a gravidez é crucial para uma melhor adaptação à maternidade e constitui oportunidades para fomentar a consciencialização progressiva de um pai. O reconhecimento da ambivalência natural dos pais assim como as fortes dúvidas destes sobre o facto de serem capazes de funcionar como protectores e educadores, tem vindo progressivamente a modificar-se através de programas que fomentam o envolvimento do pai na gravidez e no parto incluindo os cuidados à criança. Por todo o mundo os homens parecem estar a tornar-se mais participativos, mesmo se a maioria das famílias continua a enquadrar-se no modelo tradicional (11,19).

Enquanto na mulher, a gravidez é acompanhada de profundas alterações em que a mudança da silhueta corporal é uma evidência, no pai as alterações, podendo ser significativas, não são tão visíveis. Todavia são comuns a apresentação de queixas físicas leves, acessos de ansiedade ou medos inexplicáveis. Alguns autores referem-se a essas alterações como sendo o “síndrome de couvade”, ou seja, um quadro de manifestações psicossomáticas importantes no pai durante o período de gravidez das suas companheiras. Esta síndrome consiste, na transposição de sintomatologia somática ou psicológica da participação paternal na paternidade e no parto. Estas transformações são de origem psicológica, não sendo percepcionadas conscientemente, podendo passar despercebidas ao próprio e às pessoas que o rodeiam. Dentro dos sintomas físicos mais frequentemente descritos surgem: dores lombares e abdominais, perda de apetite, insónias, pré – cordialgias, náuseas, vómitos, temor à dor, aumento de peso, mal-estar geral, anorexia,

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distensão abdominal. Estas alterações são de origem psicológica, geradas a partir das vivências pessoais do homem, e não de ordem social ou ditadas pela cultura (20).

As quarenta semanas de gravidez dão ao casal a oportunidade de se prepararem em termos físicos e psicológicos, contudo a perspectiva de responsabilidade perante um novo bebé provoca uma sensação de perigo, podendo originar alguma ansiedade, levando por sua vez a conflitos e sentimentos ambivalentes. Mas é evidente que uma relação onde vigore o amor, o carinho, a aceitação e a valorização mútua facilita o ajustamento a todo o processo da maternidade (11).

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2- SEXUALIDADE E GRAVIDEZ

O conceito de sexualidade tem provavelmente tantas definições quantas as vezes que alguém procurou debruçar-se sobre esta questão. Numa tentativa de definição, podemos afirmar que a sexualidade está intimamente ligada aos aspectos biológicos de funcionamento no que respeita ao aparelho reprodutor, mas não só, e dificilmente se poderá reduzi-la a esse nível. De facto, ela relaciona-se com a vida emocional e afectiva de cada indivíduo, nomeadamente na forma como ele interage com os outros, estando a sua expressão condicionada por factores sociais e culturais característicos de cada sociedade humana (16, 21).

Uma definição de sexualidade actual e aceite de forma relativamente consensual ao nível internacional é a da Organização Mundial de Saúde: “A sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e por isso, influencia a nossa saúde física e mental” (16).

A sexualidade pode expressar-se em vários níveis: orgânico ou físico, revelado no

crescimento e na maturação sexual, ou psicológico e cultural/social, revelado nos comportamentos e na vida de relação (22).

Todos os mamíferos são seres sexuais e usam essa sexualidade fundamentalmente para a reprodução (instinto). O Homem contudo, pode ter objectivos vários para os seus comportamentos sexuais: procriar; prazer; expressão de ternura; expressão de afecto;

comunicação (tão importante e tantas vezes esquecida) (22).

Ao nascermos já vimos equipados biologicamente para a sexualidade, com órgão e funções em estado potencial, mas que só se actualizarão com longos e complexos

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processos de amadurecimento biológico, que vão a par e passo com longos e complexos processos de desenvolvimento psicológico, e de relacionamento afectuoso com as pessoas que nos elegeram, e que fomos elegendo como os nossos parceiros privilegiados de vida(23).

Factores biológicos, como as hormonas, constituem uma origem essencial do desejo sexual e explicam as alterações na altura da puberdade e as alterações do desejo sexual, tanto em situações de doença como no envelhecimento (24).

Existem diferenças importantes e naturais entre os interesses e experiências dos homens e das mulheres, mas o desejo de excitação sexual e o orgasmo existem no interior de todos os indivíduos (24).

A sexualidade existe nas pessoas (isto é, a sexualidade é um factor ou qualidade da experiência e desenvolvimento dos indivíduos) e os impulsos heterossexuais são a norma. Todas as pessoas têm uma identidade sexual e uma identidade de género, e as atitudes, interesses e problemas sexuais são significativamente influenciados por acontecimentos precoces no início da vida, sendo esta uma importante componente da maturidade e da saúde mental (24).

São muitos os determinantes para a expressão comportamental da sexualidade:

Biológicos: genéticos, neurológicos, hormonais, anatómicos, físicos e ainda os

estímulos eróticos não aprendidos.

Psicológicos: estímulos eróticos aprendidos, comportamentos teoricamente

aprendidos, consequências de experiências pregressas, expectativas, atitudes, imagens mentais, fantasias, etiquetas e rótulos, ideias e pensamentos, esteriotipos.

Socio-culturais: factores e processos sociais, cultura, história, padrões e

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A sexualidade constitui uma dimensão importante da intimidade e da personalidade, ela ultrapassa o mero aspecto biológico, sendo influenciada, construída e reformulada ao longo do continuum de vida da pessoa. Tal como o diálogo é uma forma de comunicação humana, a sexualidade é igualmente uma forma de comunicação humana, influenciada por processos fisiológicos, psicológicos e sócio-culturais referidas anteriormente. O contacto íntimo promove o bem-estar individual e a satisfação do relacionamento, sendo um aspecto bastante valorizado nos relacionamentos conjugais. Esta forma de intimidade é uma componente vital em qualquer relação romântica, uma vez que é uma forma de expressar amor e de satisfazer uma necessidade humana básica (17,25).

A sexualidade animal é controlada por ciclos biológicos de fertilidade e reprodução (cio) e tem como objectivo a reprodução. Fora dos períodos próprios de cada espécie as hormonas ficam inactivas, resultando em abstinência compulsória; os instintos são activados e inibidos, de acordo com reguladores neurobiológicos e sem a concorrência voluntária do animal (26).

A mulher herdou alguns resquícios reguladores biológicos, sendo fértil só em determinado período do mês, se bem que todos os meses. O homem no entanto, está apto para a reprodução todos os dias do ano e praticamente durante toda a vida. A disponibilidade sexual dos humanos é permanente na vida adulta, independentemente de efectores ou inibidores cíclicos observados nos outros animais. Segundo Freud, é o princípio do prazer que determina a sexualidade humana. Assim, enquanto os restantes animais têm um comportamento mais condizente com a moral religiosa, apenas direccionada para fins reprodutivos, nos seres humanos a actividade sexual ultrapassa as suas raízes biológicas, sendo ampla e difusa, gravitando mormente na direcção do prazer e satisfação do desejo, sem as inibições neurohormonais observadas nas outras espécies (26).

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dessa sociedade (de que ressalta, no caso do nosso país, a moral judaico-cristã, penalizadora, intransigente, maniqeista e censória), as modas e a função “vigilante” (por vezes castradora) da sociedade levam a que existam factores às vezes incontroláveis e independentes da vontade do jovem mas que condicionam definitivamente a expressão da sexualidade e os comportamentos com ela relacionados.

A função dos meios de comunicação, os padrões, as modas, a influência dos amigos, a escola, a família alargada, etc. é de extrema importância, através dos exemplos, padrões, ensinamentos e transmissão da experiência acumulada inter-gerações (26).

A sexualidade humana é moldada pelos sistemas de família e parentesco, as mudanças económicas e sociais, as formas de regulação social formais (a lei, a moral pública) e informais (por exemplo, os grupos de pares ou a relação entre os parceiros), os contextos políticos e as culturas de resistência (27).

Os contextos sociais e históricos e as experiências de vida individuais actuam assim sobre a base biológica da sexualidade construindo realidades emocionais, cognitivas, comportamentais e relacionais diferenciadas. Por exemplo, a possibilidade da expressão e relacionamento sexual pode estar significativamente cerciada por determinadas regras institucionais (a castidade religiosa, por exemplo). O desejo e prazer sexuais podem se sentidos como uma transgressão e serem vividos de forma culpada, ansiosa e angustiante devido a determinadas crenças morais, ou pelo contrário, podem ser vividos de uma forma que valorize a identidade de um indivíduo e enriqueça as relações em que este se envolva. Mesmo a transgressão pode ser vivida de forma paradoxal como algo excitante e que potencia o desejo e o prazer. Os próprios estímulos eróticos são descodificados socialmente: um corpo nu ou uma cena sexual explícita, em diferentes sociais e situações específicas podem constituir estímulo erótico, um objecto de contemplação estética ou um objecto de aversão ou de agressão, ou ainda algo a que somos, naquele momento,

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relativamente indiferentes (27).

Ou seja, sendo socialmente modelada, a sexualidade humana e as suas regras morais foram sendo construídas e modeladas nas transformações sociais mais globais, nas mudanças que se foram produzindo nas mentalidades e nas instituições com ela mais relacionadas, nomeadamente a conjugalidade e o campo das relações familiares (28).

A sexualidade, actualmente, como valor heurístico, assume grande relevância essencialmente na categoria afectiva do relacionamento. Numa perspectiva da sexualidade como “expressão totalizante do homem do futuro”, são-lhe conferidos cinco valores estruturantes da sexualidade humana: 1) elemento de dinamismo integrador, identificador e promotor da relação; 2) incorporador das diferenças; 3) superando o individualismo, socializa, criando um nós e um vós; 4) a concreção sinérgica da memória, do sentimento, da inteligência, da corporeidade e da responsabilidade pelo futuro e 5) como revelação, da dimensão da auto - expressão, revelando a maneira de estar no mundo de cada pessoa e de auto- comunicação que revela a forma de relacionamento. Esta pluralidade do valor da sexualidade, assim como as dimensões intra psíquicas e interpessoais, tornam o comportamento sexual um elemento fortemente integrador do próprio indivíduo, onde a componente de intimidade sexual, como processo inerente da relação e do indivíduo, surge com um valor facilitador da integração e da diferenciação do indivíduo (29).

Para se entender as motivações subjacentes à própria sexualidade são descritas dez funções do sexo: a reprodução, o reforço das relações diádicas e da intimidade, a afirmação da masculinidade e feminilidade, o estímulo e a manutenção da auto-estima, fonte de prazer, redução da tensão, correr riscos como fonte de excitação, exercício de poder ou dominância, expressão de hostilidade e ganho material (30).

Por outro lado com o propósito de estruturar um metaconstruto, que incluísse a totalidade da forma de existir sexualmente consideraram-se dez camadas que se vão

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sobre-inscrevendo, acompanhando o ritmo individual. Começando pela dimensão da corporalidade já sexuada à nascença, o sexo atribuído, a identidade de género, o papel sexual, o fantasiar erótico, a preferência ou orientação para o Outro, a auto imagem sexual, o encontro sexuado, o comportamento sexual e finalmente, o acasalamento. Todas estas camadas, que se organizam de uma forma hierárquica, podem fazer disfuncionar o indivíduo, com repercussões de natureza diversa naqueles que os precedem ou nos que se lhe seguem epigenéticamente. O mesmo se aplica em relação à entidade que se supra-ordena ao sistema sexual por que lhe é sobre conjunto-a pessoa; por sua vez, esta integra-se numa sociedade pré-existente dentro de uma cultura também predefinida, que o pode condicionar diferencialmente, na forma do seu funcionamento sexual (31).

A sexualidade existe desde a concepção mas tem momentos em que se afirma com mais intensidade e/ou sofre mudanças mais visíveis. São períodos de natural e saudável instabilidade, de uma grande riqueza e criatividade, momentos “históricos” mas que, por essa razão, se podem tornar extremamente delicados e susceptíveis de serem perturbados por factores externos ou intrínsecos ao próprio indivíduo, porque acresce que como já foi referido, sendo o Homem um ser inteligente e vivendo em sociedade, a sua sexualidade é altamente influenciada pelas ideias, valores, críticas, circunstâncias culturais, aprovação/desaprovação, modas, etc., a sua inteligência leva a que modele a expressão da sua sexualidade segundo normas e regras que, tantas e tantas vezes, não são sequer as suas nem as mais instintivas (22).

Ela reflecte o património biológico, as experiências de desenvolvimento sexual, as características da personalidade e a avaliação que o indivíduo faz de si próprio enquanto pessoa e enquanto homem ou mulher. A sexualidade é afectada pelas relações interpessoais estabelecidas pelas circunstâncias de vida e pela cultura do indivíduo. As possibilidades eróticas do animal humano, a sua capacidade geral para a ternura, intimidade e prazer

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nunca podem ser expressas espontaneamente sem intricadas transformações. Elas são organizadas através de uma densa teia de crenças, conceitos e actividades sociais numa história complexa e mutante (32, 33).

Factores como a auto-estima ou a assertividade são componentes essenciais do desempenho sexual. No entanto, e porque a sexualidade é uma área central do crescimento e do relacionamento interpessoal, intensamente ligada aos afectos e às relações amorosas, torna-se ela própria uma área crítica para a construção destas outras componentes globais. Ou seja, uma boa ou má auto-estima pode ajudar a uma vivência gratificante ou não gratificante da sexualidade, mas o contrário é igualmente verdadeiro; uma vivência gratificante ou problemática da sexualidade, correlaciona-se frequentemente com uma boa ou má auto-estima (26).

Homens e Mulheres não vivem a sua sexualidade da mesma forma. Ao longo do ciclo da vida verifica-se um padrão diferente na actividade sexual, assim como uma maior ênfase nos aspectos emocionais e relacionais da sexualidade, nas mulheres. Logo na apresentação clínica dos problemas as mulheres focam predominantemente nas dificuldades relacionadas com o desejo e a excitação enquanto os homens tendem a queixar-se em relação às respostas periféricas, nomeadamente a erecção e a ejaculação. Assim o padrão de queixas verificado na clínica corresponde a sintomas de natureza objectiva nos homens, e queixas essencialmente subjectivas nas mulheres (33).

Há qualquer coisa de profundo e terrível nas potencialidades da sexualidade que obriga cada sociedade a mantê-la separada das outras esferas. O sexo é caprichoso, irreverente, parece e é puro jogo, mas desencadeia reacções que se desenvolvem no registo do tudo e do nada, da vida e da morte (34).

Para o casal a gravidez é um período de adaptações em todos os sentidos; adaptações físicas, emocionais, existenciais e também sexuais. É importante salientar que a

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necessidade de adaptação não afecta só a mulher, mas também o homem.

Na verdade, não existe nenhum impedimento absoluto para que a vida sexual continue satisfatória. Também seria demagogia afirmar textualmente que a sexualidade do casal continua, na gravidez, como se nada houvesse de diferente.

Como já foi referido a gravidez tem influência sobre a sexualidade do casal, pois esta ainda que planeada e desejada, tem repercussões a vários níveis do relacionamento do casal, implicando que ambos façam adaptações a todos os níveis, no sentido de manter ou melhorar a qualidade de vida de que desfrutavam antes da gravidez ocorrer. As possíveis alterações de sentimentos e comportamentos que o casal experimenta à medida que a gravidez progride, podem gerar confusão e incompreensão, com consequências mais ou menos positivas para ambos. A expressão da sexualidade durante o período da maternidade pode modificar-se significativamente, e enquanto uns casais não têm problemas no relacionamento sexual, outros demonstram preocupação. Esta diversidade de sentimentos é provocada por: factores físicos; emocionais; de interacção; mitos sobre o sexo na

gravidez; problemas de disfunção sexual; mudanças físicas na mulher (11, 17).

Se antigamente era proibido o sexo na gravidez, nos dias de hoje é aconselhado para o bem estar do casal. No entanto, podem ocorrer vários desconfortos ao longo da gravidez que variam durante os diferentes trimestres e que podem levar a alterações do desejo sexual (35).

Dando ênfase às variações do desejo sexual entre cada trimestre da gravidez, podemos verificar que, geralmente, o primeiro trimestre é marcado por uma diminuição da desejo sexual, o segundo por um aumento acentuado e o terceiro por uma diminuição

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notável do desejo sexual. Esta oscilação resulta de vários factores:

Primeiro trimestre

À medida que a gravidez avança, as alterações no contorno do corpo e na imagem corporal e os graus de desconforto, influenciam o desejo sexual dos dois parceiros. Muitas vezes, durante o primeiro trimestre, o desejo da mulher diminui, sobretudo, se sente náuseas, fadiga e sonolência. A notícia da gravidez é acompanhada de uma panóplia de sentimentos e emoções que, em conjunto com as alterações corporais e fisiológicas, influenciam forçosamente a vivência da sexualidade do casal. No primeiro trimestre da gravidez é frequente ocorrer labilidade emocional, juntamente com alterações físicas como náuseas, vómitos, sonolência, cansaço e aumento da tensão mamária, que levam a que grávida tenha menos apetência para o sexo. Por outro lado, a futura mãe necessita, de um modo especial de mais demonstrações de carinho e afecto por parte de o pai que, caso se encontre desperto para esta necessidade da mulher, irá sentir-se menos frustrado e preocupado com a falta de desejo sexual da grávida (12, 35).

Segundo trimestre

No segundo trimestre, a instabilidade inicial começa a dar lugar a uma relação mais sólida. Com o progredir do segundo trimestre, o seu sentido combinado de bem estar e o aumento da congestão pélvica podem aumentar muito o seu desejo sexual.

A grávida pode desfrutar da sua gravidez o que se reflecte na sua actividade sexual. Muito do desconforto físico, o enjoo e a fadiga desapareceram.

A futura mãe sente-se mais bonita, verificando-se um aumento da sua auto-estima que associado com a diminuição dos desconfortos iniciais e maior congestão pélvica podem levar ao aumento do seu desejo sexual.

O pai vê as mudanças físicas da grávida como algo mágico e belo, que a sintonia do casal, neste período, leva a uma intensificação da relação sexual (12, 35).

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Terceiro trimestre

No terceiro trimestre, o aumento das queixas somáticas e o aumento do volume físico podem provocar uma diminuição de prazer e uma diminuição do interesse sexual (12).

Nesta altura é comum que haja uma diminuição da frequência da actividade sexual do casal devido a factores físicos e psicológicos (35).

Dos factores físicos, salienta-se a alteração incontornável da auto-imagem da grávida pois sente-se “gorda” e pouco atraente, a pirose, as contracções de Braxton Hicks e a dificuldade em adoptar uma posição adequada (35).

Os factores psicológicos ganham uma importância especial nesta fase. Prevalece a antecipação ansiosa do nascimento por parte do casal. A mãe está mais concentrada no que se passa dentro de si e preocupada com a proximidade do parto; ao mesmo tempo é comum surgir o medo de magoar o bebé, situação que pode ser resolvida se for explicado ao casal que o bebé se encontra devidamente protegido (35).

A diminuição da frequência das relações sexuais nesta fase não implica deterioração do entendimento e felicidade do casal, pelo contrário, esta fase é descrita como a reinvenção do namoro e novas relações repletas de delicadeza (12, 35).

É importante que o casal se sinta à vontade para discutir as suas relações sexuais durante a gravidez, compreensão mútua e vontade de partilhar preocupações podem fortalecer o seu relacionamento sexual. A comunicação entre o casal é muito importante. Se os dois parceiros não compreenderem as aparentes e rápidas alterações fisiológicas e emocionais inerentes à gravidez, podem ficar confusos com o comportamento do outro, razão pela qual conversar sobre as mudanças que cada um sente, pode ajudar a definir problemas e proporcionar o apoio necessário (12).

Já foi mencionado que, as relações sexuais, para além da sua finalidade procriativa, são nos adultos, uma forma privilegiada de expressar amor, de dissipar tensões e de sentir

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prazer, aspectos importantes para o equilíbrio psico-emocional. E também é do conhecimento actual que a gravidez é acompanhada de um conjunto de alterações anatomo-fisiológicas que podem aumentar a tensão sexual, e de mecanismos psicológicos que em algumas mulheres estimulam o seu imaginário erótico e o desejo sexual. Neste sentido, salvo em situações obstétricas raras, “as actividades sexuais devem ser permitidas e até estimuladas, não só pelo que podem representar para a estabilidade emocional do casal como também, num contexto mais geral, corresponderem a um passo importante para a desmistificação dos tabus ligados à gravidez (9).

Sabendo que a sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e integrações, portanto para a saúde física e mental, e partindo da ideia consensual que a saúde é um direito humano fundamental, então a saúde sexual, definida como integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com os outros e o amor, também deve ser considerada como um direito humano básico (26).

2.1- DESEJO SEXUAL E GRAVIDEZ

Desejo sexual

Há cerca de vinte anos, Williams Masters e Virgínia Johnson publicaram os primeiros trabalhos sobre a fisiologia da resposta sexual humana, como sendo um fenómeno semelhante, tanto nos homens como nas mulheres à excepção da fase da resolução e o potencial para orgasmos múltiplos, e se muitas dúvidas ainda precisam de ser clarificadas, num aspecto não há dúvidas: a resposta sexual adequada exige a perfeita harmonia de factores físicos, psíquicos e relacionais (33).

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As sensações sexuais iniciadas quer por fantasias, por masturbação ou pela relação sexual acontecem numa sucessão de fases que estão interligadas e que são chamadas fases da resposta sexual humana (desejo, excitação, orgasmo e resolução) (16).

O desejo é uma experiência subjectiva, uma vontade, um impulso, produzido pela estimulação de um sistema neurológico específico, o qual produz sensações que nos levam a procurar ou a estar receptivo a uma actividade sexual. Desejamos quando os nossos instintos são estimulados e o apetite cresce. Quando este sistema sexual se activa, surge na pessoa um estado de tensão que o leva a uma necessidade sexual. O desejo pode ocorrer baseado em estímulos internos (fantasias, sonhos) ou pela presença real de sinais eróticos ou externos (auditivos, tácteis, visuais, olfactivos, gustativos) (36).

O desejo é a primeira fase do ciclo de resposta sexual nos seres humanos e consiste num sentimento de atracção sexual em relação a alguém. Caracteriza-se pelas fantasias sexuais e pelo desejo de ter actividade sexual, iniciando-se com qualquer tipo de estimulação de carácter sexual que seja excitante para o indivíduo. Normalmente o desejo é provocado por estímulos sensoriais, como sejam ver alguém que nos atrai, ouvir a voz dessa pessoa ou sentir o seu cheiro. Algumas pessoas poderão desejar alguém apenas devido à forma como ela fala, enquanto outras poderão dar mais importância à maneira de vestir ou às formas do corpo. Assim, o que provoca o desejo são factores muito subjectivos, variáveis numa mesma pessoa em diferentes momentos e também ao longo da vida. O desejo provoca alterações fisiológicas e também psicológicas. A nível fisiológico na medida em que participam diferentes órgãos consoante o sexo, e que desencadeiam uma série de comportamentos (coito, masturbação, etc.). A nível psicológico, ocorre uma focalização do interesse sobre a pessoa em quem se está interessado. Dá-se mais atenção aos seus sinais, nomeadamente a todos o que se relacionem com o envolvimento mútuo. Nem sempre o desejo de um é respondido pelo outro e, neste caso, a tendência é para que

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ele se desvaneça progressivamente. No entanto, se houver alguma resposta positiva ou ambígua por parte da outra pessoa, é possível que ocorram as alterações fisiológicas características da fase seguinte que é a excitação. A existência do desejo é bastante importante para a manutenção da excitação e dificilmente se mantém uma interacção sexual com alguém que se deixou de desejar. O desejo pode manter-se por horas, dias, meses ou anos, mas também pode transformar-se em excitação em poucos segundos ou minutos (16,32).

O desejo é uma constelação de fenómenos fisiológicos cerebrais, psíquicos, endocrinológicos, sociais e culturais. O desejo é muito mais que desejar o corpo, é desejar o outro e desejar que o outro nos deseje, sendo fruto das fantasias, das pulsões mas também das impossibilidades e dos interditos. A interdição por vezes estimula o desejo, visando este a comunicação e partilha como acontece em toda a relação sexual (21).

Cada ser humano tem os seus cenários e fantasias preferidos que os excitam mais facilmente fruto de experiências anteriores, que têm tendência para tornar-se repetitivos, ainda que passíveis de modificação em função de novas expectativas ou práticas sexuais. As pessoas, as coisas e os comportamentos têm de ter um valor simbólico, um significado, carecendo de uma interpretação, condicionada por factores pessoais, culturais e sociais, para que possam ser eróticos, logo estimulantes do Desejo (20).

O desejo, ou a sensualidade é uma experiência subjectiva que leva a pessoa a procurar actividade sexual. Em termos cerebrais, existem mensagens neurofisiológicas que motivam a procura de sexo, apesar de este ser um assunto ainda um pouco obscuro. O desejo está dependente da activação do sistema límbico, com os núcleos hipotalamicos e pré-opticos, onde se efectua a integração dos afectos, comportamentos, processamente sensorial, assim como a amígdala a modular os estados emocionais e a influenciar os processos de memorização localizados no hipocampo. Outra estrutura relacionada é a placa

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olfactiva, resultante do órgão vomeronasal, que desempenha um papel importante no desencadear das relações sexuais, por acção das feromonas, que se pensa serem também indutoras nos humanos (21,37).

Nos homens, o estímulo visual é de extrema importância para iniciar e manter o desejo sexual. O erotismo masculino é mais de cariz visual, mais atraído pelos pormenores, pelo que alguns homens não conseguem sequer identificar a verdadeira beleza feminina, sendo o erotismo deles mais concentrado no orgão sexual e no orgasmo. A mulher necessita de estimulação mais táctil e de um contexto relacional e pessoal mais favorável para desejar envolver-se sexualmente com o outro. O olfacto e principalmente o tacto são responsáveis pelo aumento do desejo sexual O erotismo feminino é mais alargado, táctil, cenestésico, olfactivo, mais imbuído de emotividade, mais dirigido à personalidade masculina no seu conjunto, mais selectivo. A fadiga, as fases do ciclo menstrual, e alguns medicamentos são factores que podem influenciar o desejo sexual (34,3637).

O desejo pode ser subdividido em anticipatório e propiciatório. O anticipatório seria assim se pode dizer, o mais rico sob o ponto de vista mnésico, cognitivo, capacidade de antecipação e capacidade de fantasiar. O propiciatório, situacional, depende da iniciativa ou da receptividade do outro (21).

Desejo sexual durante a gravidez

Na gravidez o desejo sexual varia de mulher para mulher, como noutras situações da vida. Há mulheres que mantêm o seu desejo sexual como dantes e outras vêem esse desejo diminuído, aumentado ou variar ao longo das 40 semanas de gestação. Os dados das investigações são consistentes em que há uma diminuição progressiva do interesse e vontade em manter uma actividade sexual. Isto deve-se essencialmente à ansiedade

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motivada pela aproximação do parto, com todo um mundo de dúvidas e receios relacionados com o parto em si e com a criança que vai nascer. A ausência ou manutenção da libido depende também de como a mulher aceitou e encara a gravidez e da relação afectiva que tem com o seu companheiro (11,18, 38).

A idade é um dos factores que consistentemente tem sido associado à qualidade do ajustamento pré e pós – natal ao papel de mãe, dado que as adolescentes são muitas vezes invadidas pela fantasia de ter um bebé na total ausência de um ponto de vista realista acerca do que é ter uma criança. Mães que engravidam entre os 20 – 24 anos, exibem durante o terceiro trimestre mais dificuldade de ajustamento ao papel maternal, do que as mães que engravidam mais tardiamente em idades superiores a 30 anos. Estas últimas exibem um melhor relacionamento com o bebé, estão mais motivadas para a maternidade e têm uma ideia mais clara acerca do papel maternal. As mulheres mais conscientes das mudanças que a gravidez implica constituem uma visão mais realista do bebé e do que é ser mãe e conseguem adaptar-se mais facilmente às mudanças que o nascimento de um bebé propicia (6).

O homem também, sofre alterações no desejo sexual durante a gravidez da companheira, sendo a diminuição do desejo o mais comum de acontecer. Este pode diminuir à medida que a gravidez progride, nomeadamente a partir do 2º trimestre, devido à alteração corporal da mulher, ao medo de magoar o feto e a grávida. Sentimentos de carinho e de protecção em relação à companheira podem tornar-se predominantes (10,39, 40).

São razões apontadas de influenciar a sexualidade durante a gravidez, reduzindo o desejo sexual do homem: medo de prejudicar a grávida ou o feto, repulsa pelo corpo

da grávida, crença de que é imoral fazer sexo com uma grávida, medo que de alguma forma, o feto possa observar a actividade sexual, medo que o feto possa ferir o pénis, a necessidade de se afastar da companheira enquanto luta com os seus problemas

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decorrentes da gestação (9).

É positivo para o relacionamento do casal a valorização pelo homem da gestação como fruto da sua fertilidade. Esta valorização pode associar-se a sentimentos de virilidade e gratidão para com a mulher, levando a uma conduta mais calorosa e protectora, enriquecendo afectivamente a relação e estimulando o interesse sexual ao longo da gravidez. No entanto, nalguns homens despertam sentimentos negativos: de ciúme, de solidão, causados pela natural absorção narcísica da mulher, de temor de causar dano ao feto, de ambivalência e de culpa. Alguns motivos baseiam-se em crenças irracionais que podem coexistir simultaneamente nas mulheres. As dificuldades daí decorrentes e a necessidade de obter conforto e alívio podem levar os homens a ter relações extraconjugais que terminam depois do parto (9).

2.2- PRÁTICA SEXUAL DURANTE A GRAVIDEZ

2.2.1- Alterações do desejo, excitação, orgasmo e frequência do coito

Aparentemente, a gravidez, comporta um padrão de resposta sexual caracterizado por um declínio lento e progressivo da libido, do orgasmo e da frequência do coito, que atinge o auge durante o oitavo mês de gestação, no entanto existem variações entre as populações estudadas e as metodologias usadas. O que alguns estudos fazem prever é que tal comportamento deve-se mais a pressões psíquicas e sócio-culturais do que a uma exigência própria do estado gravídico. Ao certo parece unanimemente comprovada a interrupção das actividades sexuais por volta do oitavo mês. É provável que esteja relacionada com a descida da apresentação e o início do apagamento do colo. Corresponderia assim a um mecanismo fisiológico de protecção do feto já que, nesta fase,

Imagem

Tabela 1 – Resultados da aplicação dos testes estatísticos para as duas amostras dos  membros do casal, variável dependente desejo sexual durante a gravidez

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