FOTOGRAFIA, UM DIÁLOGO PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO
FRANÇA, Sandra Mara Jlebowich1
BRAUN, Edy das Graças2
RESUMO
Compreendendo o mundo, no qual, a sociedade é formada por grupos de pessoas que trocam experiências e conhecimentos por meio da comunicação, torna-se evidente o uso de mecanismo para o repasse das informações.
A fotografia vem em auxílio à necessidade do aluno surdo dialogar com o ensino-aprendizagem de uma forma mais concreta, dinâmica e clara. Essa linguagem visual, usada com alunos de uma escola bilíngue para surdos, busca, através de questionários e observação, mostrar a viabilidade e eficiência da fotografia como recurso educativo.
Por meio das observações efetivadas, neste artigo, fica claro o “encantamento” das crianças pela fotografia, tanto na observação das imagens expostas a elas quanto pela realização das ações propostas, mostrando interesse contante em serem fotografadas na execução das atividades da horta, ou seja, o resultado obtido foi assertivo, relacionando a imagem como recurso mediador entre a teoria e prática na elaboração do projeto.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Fotografia; Educação.
1 INTRODUÇÃO
A audição e fala são recursos muito importantes para o entendimento verbal entre as
pessoas, formando a sociedade, mas, quando o ser humano não dispõe desses elementos, resta
desenvolver o diálogo visual.
Nessa perspectiva, este estudo se utilizará da fotografia como um recurso de ensino e
aprendizagem para os alunos surdos, tendo como lócus de pesquisa a Escola Bilíngue para Surdos APADA de Toledo (Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos).
Instituição de Ensino criada em 1979, oferta Educação Infantil, Ensino Fundamental/Séries
Iniciais e atividades complementares para, aproximadamente, 15 alunos surdos de 7 a 25 anos
de idade, do Município de Toledo e região. O conteúdo é repassado através da Língua
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Pós-graduanda do curso de Especialização Lato Sensu em Fotografia, turma II, do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Sul Brasil – Fasul.
Brasileira de Sinais (Libras), que é um método bilíngue, no qual a “comunicação” visual é de
suma importância.
Objetiva-se, com esse estudo, associar a apropriação do saber pela criança surda de
uma forma clara, educativa e prazerosa por meio da prática em registrar momentos utilizando
a câmera fotográfica e analisando os resultados, que são as fotografias. Usar uma linguagem
que ‘fala’ por si, um diálogo fotográfico.
2. DESENVOLVIMENTO
A fotografia e suas possibilidades como imagem, instrumento de memória social,
ferramenta de comunicação e linguagem visual é a fundamentação para sua existência.
Comunicação, do ponto de vista filosófico, segundo Nicola Abbagnano (2000, p. 160):
Filósofos e sociólogos utilizam hoje esse termo para designar o caráter específico das relações humanas que são ou podem ser relações de participação recíproca ou de compreensão. Portanto, esse termo vem a ser sinônimo de "coexistência" ou de "vida com os outros" e indica o conjunto dos modos específicos que a coexistência humana pode assumir, contanto que se trate de modos "humanos", isto é, nos quais reste certa possibilidade de participação e de compreensão. [...] Os homens formam uma comunidade porque se comunicam, isto é, porque podem participar reciprocamente dos seus modos de ser, que assim adquirem novos e imprevisíveis significados.
Portanto, a comunicação existe se houver o entendimento da mensagem passada, na
qual, os mecanismos podem ser sonoros, visuais ou escritos.
Àqueles que não ouvem e, consequentemente, não falam, restam duas formas de
comunicação, onde a escrita só é possível, posteriormente a aprendizagem desta por meio
visual. Assim, a visão é um meio indispensável e única forma de aprendizagem para as
crianças que ainda não aprenderam Libras.
Utilizar-se da fotografia, um recurso visual, para o processo educativo, será o objetivo
deste estudo. Resta saber, se as fotografias fará esse “diálogo” entre o ensino e aprendizagem
para os alunos.
Este mecanismo óptico, que é a fotografia teve diversos criadores/aperfeiçoadores ao
longo da história, diversas pessoas foram agregando conceitos ao processo de criação, ate
resultar como a conhecemos.
Conforme Dias (2012, p. 6) a fotografia desempenhou um papel fundamental enquanto
possibilidade inovadora de informação e conhecimento, instrumento de apoio à pesquisa nos
Nesse sentido, a fotografia também pode ser identificada como um registro impresso,
um auxílio para a manutenção da memória, repasse da cultura, conhecimento e comunicação.
Considerar a imagem como uma mensagem visual composta de diferentes tipos de signos equivale a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como um instrumento de expressão e de comunicação. Quer ela seja expressiva ou comunicativa, podemos admitir que uma imagem constitui sempre uma mensagem para o outro, mesmo quando esse outro é o próprio autor da mensagem. É por isso que uma das precauções necessárias a tomar para melhor compreender uma mensagem visual é procurar para quem ela foi produzida. (Dias, 2012, p. 8)
Para Alves, Deliberador e Lopes (2012, p. 20) a imagem fotográfica é munida de
subjetividade, de intenções e deve ser pensada a partir de toda a sua construção, do gesto de
fotografar, a sua função, distribuição até a recepção do espectador.
No ensino, pensa-se a fotografia como auxílio pedagógico visual para impulsionar as
ideias, objetivando a aprendizagem para os alunos surdos.
O conceito de ensino-aprendizagem “sofre” diversas discussões, pois existem aqueles
que teorizam que de um lado está quem ensina e do outro quem aprende. Mas, educação é
uma prática dupla, uma troca de ensinar aprendendo.
De acordo com Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 21) mediante os processos de
aprendizagem incorporamos novos conhecimentos, valores, habilidades que são próprias da
cultura e da sociedade em que vivemos.
O salto importante que se deu no conhecimento produzido sobre as questões de ensino e da aprendizagem já permite que o professor olhe para tudo aquilo que o aluno produziu, enxergue aí o que ele já sabe e identifique que tipos de informação é necessária para que seu conhecimento avance. Isso se tornou possível porque, nas últimas décadas, muitas pesquisas têm ajudado a consolidar uma concepção que considera o processo de aprendizagem como resultado da ação do aprendiz. Nessa abordagem, a função do professor é criar as condições para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender participando de situações que favoreçam isso. (Sanchez e Weisz, 2006, p. 22).
Avançamos ao ponto em que o interesse pelo “aprender” deve ser despertado no aluno,
onde, as condições, ferramentas e metodologias vão fazer a diferença. Um aluno motivado,
possivelmente, aprenderá mais facilmente e, assim, o uso da câmera fotográfica e fotografia
será um meio para auxiliar nesse processo pedagógico.
Em se tratando de aprendizagem para os alunos surdos a prática pedagógica se torna
Conforme Gesser (2012, p 37) embora todo ato de ensinar tenha como meta a
promoção do aprendizado, este não é garantia e nem consequência do primeiro. Seria
reconfortante para todos assumir que ensino pressupões aprendizagem, numa relação direta e
linear, mas o fato é que o processo é bem mais complexo e anfigúrico.
Embora haja a complexidade no ensino-aprendizagem para o aluno surdo, utilizar-se
do elemento concreto (câmera/fotografia), ao invés do abstrato, é o recurso que este estudo
propõe para a aquisição de conhecimento.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa consiste em fotografar uma horta, o processo de plantio, muda, irrigação,
ou seja todo cuidado que envolve o manejo no cultivo das verduras e legumes.
Para esta ação, utilizou-se uma câmera Canon T5i 18 – 135mm.
Com as fotografias tiradas e reveladas, posteriormente, dar-se o processo de mostrá-las
aos alunos surdos da APADA, explicando os procedimentos para cultivação das plantas e
desenvolvimento da horta na escola.
Assim, decorrentes das fotografias, entrega-se um formulário, para os professores,
diretamente ligados ao cultivo da horta ou interdisciplinar, com os seguintes questionamentos:
• A fotografia é utilizada no ensino dos alunos? Com que frequência?
• As fotografias das hortaliças contribuem para a prática do cultivo da horta?
Para tanto, as imagens (Horta 1) a seguir, são o resultado primário da 'expedição' a
uma horta, para obtenção de fotografias para expôr aos alunos:
Fotografia 1 – Horta 1 Fotografia 2 – Horta 1
Fotografia 3 – Horta 1
Mudas de hortaliças
Fotografia 4 – Horta 1
Fotografia 5 – Horta 1
Espalhando as mudas
Fotografia 6 – Horta 1
Fotografia 7 – Horta 1
Calçado inapropriado para o plantio
Fotografia 8 – Horta 1
Fotografia 9 – Horta 1
Variedades de verduras
Por intermédio das fotografias das hortaliças, espera-se uma mediação entre a teoria e
a prática, na qual conceitos ensinados em sala de aula possam ser realizados de maneira
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizou-se uma exposição das fotografias e explicações das especificidades do
plantio de cada hortaliça aos alunos, com o auxilio da pedagoga especializada em libras.
Fotografia 10 – APADA
Fachada da APADA
Fotografia 11 – APADA
Fotografia 12 – APADA
Exposição das fotos da Horta 1 para os alunos da APADA, com auxilio da Pedagoga Julieta.
Fotografia 13 – APADA
A receptividade dos alunos acontece de uma forma muito positiva e prazerosa,
absorvendo todas as informações representadas pelas fotografias, com a leitura em libras
realizada pela Pedagoga Julieta.
Aos docentes e coordenação é entregue um formulário com o seguinte
questionamento: A fotografia é utilizada no ensino dos alunos? Com que frequência?
A Coordenação da APADA respondeu “A fotografia é muito utilizada no processo de
ensino, pois, agrega um código visual, informação. Somos rodeados de imagens e o principal
ensinamento é saber interpretá-las, utilizando-as para desenvolver os vários sentidos
humanos. Através da fotografia as características do momento histórico se unem à prática de
ensino”.
Os professores de Arte e Educação Física elaboraram uma resposta: “Através da
fotografia podemos apresentar a imagem de casa um, de forma que ela mostra a realidade de
cada aluno e identifica seu eu, por exemplo: pessoa, físico, natureza e cultura.
A proposta inicial era a implantação de uma horta na própria escola, na qual, não se
obteve êxito imediato, pois, como se pode observar nas fotografias, o chão árido, resultado de
aterro e compactação, é inadequado ao plantio. Faz-se necessário um “tratamento” no solo,
porém, o recurso disponível e período são inviáveis para o prazo de entrega do artigo.
Fotografia 14 – APADA
Por tanto, optou-se por levar os alunos até uma horta (Horta 2) da região que fornece verduras aos supermercados de Toledo.
Fotografia 15 – Horta 2
Visita a horta
Fotografia 16 – Horta 2
Fotografia 17 – Horta 2
Alunos em contato com as sementes
Fotografia 18 – Horta 2
Fotografia 19 – Horta 2
Aluno e professora plantando as mudas
Fotografia 20 – Horta 2
Fotografia 21 – Horta 2
Resultado da irrigação para o plantio das mudas
Fotografia 22 – Horta 2
Fotografia 23 – Horta 2
Alunos se divertindo com etiquetas da horta
Fotografia 24 – Horta 2
Na visitação a horta 2, o entusiamo dos alunos é contagiante, todos querem aplicar as
“técnicas” aprendidas por meio da exposição detalhada das fotografias.
Aos professores e coordenação dirigiu-se o seguinte questionamento: As fotografias
das hortaliças contribuem para a prática do cultivo da horta?
A Coordenação da APADA respondeu “As fotografias das hortaliças contribuem para
a prática do cultivo da horta, pois, liberta a pedagogia do verbalismo e coloca visualmente
algo prático, do que foi praticado”.
Os professores de arte e educação física “No cultivo da horta, a fotografia auxilia
muito, porque representa com imagens a sequência de como é realizado o plantio de cada
legume. Desde como é feito o canteiro, do plantio da semente até a colheita”.
Ou seja, comprova-se a teoria de Santana (2007, p. 15) não se pode tomar como base a
ideia de que há um “cérebro do surdo” universal, ou seja, não podemos fazer generalizações
arbitrárias sobre seu funcionamento nem correlações anatomofisiológicas a expensas de
fatores históricos e subjetivos.
5 CONCLUSÃO
A fotografia está de tal forma incorporada na vida cotidiana que sequer se nota sua
presença, mas, está associada a toda atividade humana, social, econômica e cultural. Toda a
história da humanidade é representada por gravuras e, posteriormente, pela fotografia.
Na trajetória da vida, os primeiros reconhecimentos de mundo, praticados pelos bebês,
são por meio do paladar, tato, olfato e da visão, depois vem a linguagem verbal para o repasse
do conhecimento e cultura. No caso dos alunos surdos e, consequentemente, mudos, a
percepção visual é ainda mais aguçada, visto que é pela visão que acontece a aprendizagem.
Os alunos identificaram, lembraram e executaram na prática cada processo mostrado a
eles por meio das imagens fotográficas, comprovando que a fotografia, efetivamente, tem
papel educacional.
Apesar do sol e calor das 14 h, os pupilos se envolveram e se divertiram no processo
do plantio, querendo ser fotografados a todo instante.
Dessa forma, como contribuição para o enino e aprendizagem, a fotografia têm um
papel muito importante, as imagens são chaves para o repasse de informações, de uma forma
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ALVES, Fabiana A.; DELIBERADOR, Luzia Mitsue Yamashita; LOPES, Mariana Ferreira.
A fotografia como linguagem para a formação cidadã. Artigo. Londrina, 2012. <http://www.uel.br/revistas/wrevojs246/index.php/discursosfotograficos/article/view/13735/12411>. Acesso em: 13 de
abr. 2016.
BASSEDA, Eulàlia; HUGUET, Teresa; SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
DIAS, Ana Isabel Sousa. A fotografia no ensino da História. Dissertação. U. Porto, 2012. <https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/66532/2/70020.pdf.>. Acesso em: 14 de abr. 2016.
GESSER, Audrei. O ouvinte e a surdez: sobre ensinar e aprender a Libras. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
SANCHEZ, Ana; WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2006.
SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas.