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Clarissa Haas UFRGS 1 O CONTEXTO : A REDE ESTADUAL DE ENSINO DO RS

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Academic year: 2021

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A EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS PROCESSOS ESCOLARES INCLUSIVOS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DO RIO GRANDE DO SUL:

UMA ANÁLISE A PARTIR DOS INDICADORES EDUCACIONAIS (2008-2013)

Clarissa Haas – UFRGS

Resumo: Este estudo analisa as configurações de uma diretriz política de inclusão

escolar no contexto da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, a partir dos indicadores educacionais referentes às matrículas dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades\superdotação, sujeitos que compõem o público-alvo da educação especial. A partir dos dados e microdados do Censo Escolar da Educação Básica (do período de 2008-2013), buscamos identificar o acesso desses estudantes às classes comuns de ensino regular, em diferentes níveis e modalidades de ensino ofertados pela Rede. Em paralelo, foram analisados os indicadores das matrículas nos serviços exclusivos da educação especial (classes e escolas especiais) mantidos por essa Rede. Também foram investigados os números referentes ao acesso dos mesmos sujeitos ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), serviço de apoio pedagógico previsto como diretriz pela política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Os números revelam a ampliação das matrículas no ensino comum e no AEE, o que pode ser compreendido como uma tentativa de alinhamento à diretriz política nacional da inclusão escolar. Também expressam algumas dissonâncias com relação à implementação dessa perspectiva, as quais se tornam mais evidentes nas regiões do estado em que há a oferta das classes\escolas especiais pela mesma Rede. A investigação realizada permite afirmar que a coexistência dos serviços de natureza paradigmática distintas acirra o desafio de construção de uma cultura escolar inclusiva, respaldada no comprometimento de todos os atores que interpretam a política em seus contextos de atuação. Como campo teórico de referência, a pesquisa dialoga com os estudos em Educação que abordam a análise de indicadores sociais e com a concepção de análise de políticas proposta por Stephen Ball, em articulação com o pensamento sistêmico.

Palavras-chave: Educação Especial; inclusão escolar; indicadores educacionais.

1 O CONTEXTO : A REDE ESTADUAL DE ENSINO DO RS

A Rede Estadual de Ensino do RS, em consonância com a extensa distribuição territorial do estado, atende a uma ampla parcela dos sujeitos em fase escolar matriculados na Educação Básica. Do total de 2.377.033 estudantes matriculados na educação básica no estado do RS, 1.050.692 estudantes estão na Rede Estadual (INEP, 2013). Para fins de otimizar a gestão pública nos contextos locais, a Rede organiza-se por meio de 30 polos da gestão – as Coordenadorias Regionais de Educação\CREs -, vinculados à Secretaria de Educação do Estado (SEDUC). Essas coordenadorias estão distribuídas estrategicamente nos 497 municípios que compõem o estado. Essa organização, ao mesmo tempo em que operacionaliza as ações políticas nos contextos

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locais e colabora com a atenção às necessidades imediatas dos contextos, fortalece a composição de alguns “mapas” distintos na interpretação das diretrizes políticas da gestão pública.

A filiação ao campo teórico da análise das políticas permite afirmar que “a prática é composta de muito mais que a soma de uma gama de políticas” (BALL, 2009, p. 305). Logo, as políticas são dependentes dos processos de interpretação desencadeados por seus atores locais, de modo que “o todo é mais do que a soma de suas partes” (CAPRA, 1997, 49 ).A articulação com o pensamento sistêmico, a partir do pensamento de Fritjof Capra e de Gregory Bateson, auxilia a compreender as partes como unidades complexas, à medida que sua autonomia se manifesta a partir dos arranjos criativos em interpretação à política pública, desencadeados pelos sujeitos, em sintonia com os seus percursos históricos, individuais e institucionais.

Portanto, ao abordarmos, neste texto, as configurações de uma diretriz política de inclusão escolar no contexto da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, a partir das estatísticas referentes às matrículas dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades\superdotação - sujeitos que compõem o público-alvo da educação especial -, entendemos que a compreensão dos processos políticos como movimento contextual é fundamental para não incorrermos em análises simplistas. Nosso compromisso, com esta pesquisa, não se esgota na busca de uma resposta unívoca aos impactos políticos de uma diretriz nacional de inclusão escolar em relação aos processos políticos vivenciados na gestão estadual do RS. Buscamos identificar os indícios de conexão e de alinhamento do cenário estadual com a diretriz nacional e, de modo simultâneo, os elementos de tensão e desafios que coexistem nos contextos, compreendendo-os como aspectos complementares.

Assim, o movimento desta pesquisa procura aproximar-se do cenário macropolítico, a partir do banco de matrículasi do Censo Escolar da Educação Básica, nos períodos de 2008 a 2013, com o intuito de identificar o acesso dos estudantes que são público-alvo da educação especial às classes comuns de ensino regular, nos níveis da Educação Infantil (EI), Ensino Fundamental (EF) e Ensino Médio (EM), bem como nas modalidades da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da Educação Profissional (EP). Também foram analisados os indicadores das matrículas nos serviços exclusivos da educação especial (classes e escolas especiais) mantidos pela Rede e que fazem parte de sua história institucional. Como terceiro aspecto investigado, foram levantados os números referentes ao acesso dos sujeitos ao Atendimento Educacional Especializado

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(AEE), serviço de apoio pedagógico previsto como principal dispositivo pedagógico para operacionalização da política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva, tendo o espaço da sala de recursos multifuncionais como lócus prioritário de realização.

A partir da elaboração deste “grande mapa”, optamos por direcionar um olhar mais concentrado aos dados das matrículas das classes especiais e escolas especiais, buscando analisar as implicações dessa oferta para a configuração da política de inclusão escolar nas distintas regiões do estado do RS. Para esse tempo de leitura, de imersão maior aos dados, decidimos analisar os dados referentes aos dois últimos anos do Censo Escolar da Educação Básica (2012-2013), confrontando as sutis distinções observadas no intervalo de um ano, no percurso da política.

Portanto, as análises produzidas a partir dessa abordagem aproximativa com os indicadores estatísticos educacionais não têm o propósito de serem lidas como conclusivas, uma vez que outras leituras são possíveis, tomando outras formas de aproximação aos dados. Este estudo, todavia, tem o compromisso político de, assim como outros estudos que têm se dedicado à abordagem metodológica a partir dos indicadores sociais (FERRARO, 2012; LIDUENHA GONÇALVES; MELETTI, 2013; MELETTI e BUENO, 2013, entre outros), sustentar a importância de que as pesquisas na área da Educação se dediquem à análise de tais indicadores, os quais refletem as políticas públicas do país. O Censo Escolar da Educação Básica, no contexto da educação contemporânea, deve ser compreendido como uma importante ferramenta de avaliação e planejamento da agenda política educacional.

2 ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIAii E ACESSO ÀS CLASSES COMUNS DA

EDUCAÇÃO BÁSICA

A análise da flutuação dos indicadores estatísticos de acesso às matrículas nas classes comuns da educação básica pelos estudantes da educação especial nos últimos seis anos (2008-2013) contribui para tecer algumas reflexões a respeito dos impactos da diretriz nacional de inclusão escolar no contexto da gestão estadual do RS.

O cenário político-educacional brasileiro, desde o início dos anos 2000, tem intensificado o debate em torno de uma diretriz nacional de inclusão escolar. São diversos os instrumentos normativos e orientadores que promovem essa posição, entre os quais se destaca o Documento Orientador da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o qual é resultado de uma

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intensa sistemática de diálogo entre diferentes setores da sociedade. Esse documento tem importância política por diversos aspectos: o modo participativo como foi gestado; a definição de um grupo de sujeitos que está apto a receber os apoios da educação especial; a reafirmação da aposta na escolarização desses sujeitos nas classes comuns da educação básica; o estabelecimento do Atendimento Educacional Especializado como serviço de apoio educacional a ser ofertado de modo complementar\suplementar à escolarização nas classes de ensino comum, por professor especializado.

O registro estatístico ascendente das matrículas desses estudantes nas classes comuns da educação básica e decrescente das matrículas nas classes exclusivas da educação especial pode ser lido como decorrente do imbricamento ntre os cenários políticos no âmbito federal e estadual (Vide gráfico 1, em anexo).

A análise das matrículas por níveis e modalidades de ensino no mesmo intervalo temporal (2008-2013) revela que a ampliação do acesso dos estudantes com deficiência tem sido um padrão de regularidade em todos os níveis e modalidades de ensino dessa rede. Ressaltamos a ampliação do acesso desses estudantes à Educação de Jovens e Adultos (EJA) como aspecto merecedor de atenção, uma vez que a EJA tem sido a forma encontrada pelas redes de ensino para incluir os estudantes com deficiência que atingiram a idade jovem e adulta, sem avanços em seu percurso escolar. Um segundo fator que necessita ser problematizado diz respeito à inversão dos números das linhas representativas do ensino comum e do ensino exclusivo da educação especial. As matrículas no ensino comum têm ampliado em uma proporção bem maior ao decréscimo das matrículas no atendimento substitutivo, sugerindo que a Rede possa estar incorporando estudantes provenientes de espaços substitutivos de outras redes de ensino, mas também que os processos de identificação dos sujeitos da educação especial têm aumentado entre os estudantes matriculados no ensino comum.

Ao analisarmos os números que expressam a matrícula dos estudantes incluídos no Atendimento Educacional Especializado, observamos que a possibilidade de frequentar um serviço de apoio no turno oposto à escolarização também tem se ampliado na Rede. Os dados atuais referentes ao Censo Escolar da Educação Básica de 2013 totalizam 10.539 estudantes matriculados no AEE. Considerando que são 20.795 estudantes com deficiência incluídos nas classes comuns de ensino regular na Rede (INEP, 2013), uma média de 50% desses estudantes frequentam o AEE. A ampliação dessa oferta tem sido respaldada por uma adesão da gestão estadual ao programa federal das Salas de Recursos Multifuncionais. Os dados obtidos por meio do INEP (Data

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Escola Brasil) revelam que a Rede possui 693 salas de recursos multifuncionais. Considerando que são 2570 escolas estaduais no RS, atualmente, os espaços de AEE existentes perfazem um terço da demanda, o que requer, em alguns contextos, o atendimento em itinerância ou a política de escolas-polos para atender esses estudantes.

Embora compreendamos que a itinerância e a política de centralização do atendimento são aspectos que, considerando a história institucional da Rede Estadual do RS, devem ser lidos como uma resposta necessária à conjuntura atual, entendemos ser igualmente importante problematizar as interpretações decorrentes dessas formas circunstanciais de implementação da política. Há o risco de que essas formas paliativas sejam tomadas como permanentes e mantenham os paradigmas de uma prática pedagógica segregacionista, ao estimular a agregação dos estudantes com deficiência em algumas escolas, que passam facilmente a ser consideradas “inclusivas”. No contexto da prática, essa posição política pode facilmente ser lida como a desresponsabilização das demais escolas com as práticas pedagógicas inclusivas, uma vez que resulta na interpretação de que algumas instituições estariam mais “aptas” a receber esses sujeitos.

3 “MAPA NÃO É TERRITÓRIO” : UM OLHAR AOS INDICADORES DAS MATRÍCULAS EXCLUSIVAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

O direcionamento do olhar ao cômputo dos dados estatísticos das matrículas do público da educação especial incluído nas classes comuns do ensino regular, com apoio do Atendimento Educacional Especializado, permite-nos identificar indícios que sugerem um “mapa” de mobilização política em prol de uma diretriz de inclusão escolar. Também faz parte dessa trama rastrear as dinâmicas resultantes dos contextos locais, para que possamos perceber a relação de criatividade e interpretação que se opera entre os sujeitos, seus contextos e as políticas, sugerindo a evocação da metáfora de Bateson (1986, p. 36.): “O mapa não é território”.

No caso da Rede Estadual do RS, ao se identificarem os contextos dentro dos contextos, os espaços dentro dos espaços e as múltiplas temporalidades que estão em jogo na organização dessas espacialidades, torna-se possível afirmar que um mapa sempre é uma tentativa de descrição e aproximação com o território, mas jamais consegue apreendê-lo em sua totalidade. Assim, o olhar que reconhece o alinhamento com a perspectiva da educação inclusiva no estado precisa ser problematizado

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conjuntamente à manutenção das classes\escolas especiais em algumas de suas regiões, o que sugere configurações distintas e, em alguns aspectos, em dissonância com a diretriz pretendida.

Com relação à oferta das classes especiais nas escolas de educação básica, ao nos debruçarmos sobre a trajetória histórica da Rede, identificamos, nos últimos quatro anos da gestão pública, uma aposta direcionada ao fechamento dessa forma de atendimento. Concentramos a investigação nos dois últimos anos (2012-2013), sendo possível identificar que, das 117 escolas que ofertavam classes em 2012, 78 seguem mantendo essa oferta em 2013 (vide tabela 1, em anexo). Verificamos que as turmas remanescentes que concentram essa oferta são compostas, prioritariamente, pelos sujeitos com deficiência mental (grupo de sujeitos quantitativamente maior no estado) e pelos sujeitos com deficiência auditiva\surdez (grupo de sujeitos que, historicamente, tem se mostrado mais resistente à inclusão nos espaços escolares de ensino comum no RS).

A partir da análise dos dados das 78 escolas que ofertam classes especiais, observamos a diminuição significativa das matrículas nesses espaços, embora também seja possível identificar alguns elementos que constituem desafio para a Rede de Ensino: no contexto da 6ª CRE, os dados revelam que houve a ampliação de uma matrícula na classe especial na EI. Também nos parece importante problematizar o contexto da 17ª CRE, em que a totalidade das oito matrículas da classe especial registradas em 2012 são da EI, sendo que, no ano de 2013, permanecem seis dessas matrículas na classe especial desse nível. A mesma situação é evidenciada na 10ª CRE, na qual do cômputo das matrículas registradas na tabela acima, sete são na EI, em 2012, mantendo-se igual, em 2013. Há, ainda, outros casos, em outros contextos, que evidenciam esse cerceamento dos sujeitos da educação infantil às classes de ensino comum. Embora sejam casos isolados dentro da Rede, é relevante questionar: quais são os critérios que justificam a não aposta na escolarização no ensino comum de sujeitos que estão no início de seu percurso escolar?

Foram identificadas também discrepâncias nos dados informados pela 6ª CRE: em 2012, tratava-se de oito escolas com a oferta de classes especiais e, em 2013, o cômputo ampliou para nove escolas com essa oferta. Ao buscarmos os dados de 2011,concluímos que a escola identificada em 2013 já aparecia nos dados de 2011, de modo que houve omissão, provavelmente por equívoco, nas informações fornecidas pela escola em 2012. A mesma discrepância foi observada junto aos dados informados

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por uma das escolas da 1ª CRE. Embora a escola não tenha autorização para funcionamento de classes especiais de EJA, ela, desde o censo de 2012, tem informado uma classe especial de EJA. Nesse caso, o equívoco de preenchimento, no Censo Escolar de 2012 e 2013, que conduz a escola a identificar a turma como “classe especial”, deve ser interpretado para além de uma falha administrativa. Entendemos que está em jogo a forma como o contexto escolar visualiza e descreve a relação pedagógica com esses estudantes, pautada em uma cultura pedagógica que dá indícios de um modelo clínico e segregacionista, à medida que estimula o agrupamento de sujeitos supostamente homogêneos em uma mesma turma, que legalmente está autorizada a receber todos os estudantes em idade escolar apropriada para a EJA.

Com relação às escolas especiais, a Rede Estadual de Ensino do RS mantém 12 escolas especiais distribuídas no território do estado, sendo que quatro dessas escolas estão concentradas na capital (Porto Alegre, 1ª CRE) e as outras oito estão distribuídas no interior do estado (vide tabela 2, em anexo).

De modo geral, os dados dos dois últimos anos registram uma diminuição das matrículas em todos os níveis da educação básica no interior das escolas especiais da Rede Estadual de Ensino do RS. Observamos que a concentração de matrículas se dá no EF e na EJA. Mesmo nas escolas em que há a oferta do EM, é possível constatar que não há um fluxo considerável de estudantes para esse nível de ensino, dinâmica que pode ser observada nos dados das escolas G e H, com sede na mesma CRE.

Há algumas situações que precisam ser problematizadas à medida que sugerem uma dissonância com a diretriz da inclusão escolar. Referimo-nos aos casos que evidenciam o aumento das matrículas na escola especial, em comparação com os dados de 2012 e 2013. Na escola F, foi observado o registro de uma matrícula a mais (de 107 para 108 matrículas) no EF, em relação ao ano anterior. Na escola H, registrou-se uma matrícula nova na EI (de quatro para cinco matrículas). Os dados da escola J revelam que houve um acréscimo de sete novas matrículas no EF (de 32 para 39 matrículas), todavia, esse aumento não interferiu na ampliação do cômputo geral das matrículas da escola, uma vez que houve decréscimo das matrículas em outros níveis de ensino. Na escola L, observamos uma ampliação nas matrículas em praticamente todos os níveis de ensino (exceto na EI) e na modalidade da EJA, o que resultou em um acréscimo de seis novos estudantes ao cômputo geral de matrículas dessa instituição (de 94 para 100 matrículas).

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Ao cruzarmos esses dados com a configuração da oferta de atendimento oferecida pelas CREs, em que se situam as escolas mencionadas anteriormente (2ª CRE; 8ª CRE; 9ª CRE e 27ª CRE), constatamos que dentre as quatro, apenas uma das CREs não mantém mais classes especiais no espaço das escolas de ensino regular. Trata-se da 27ª CRE, que, por sua vez, retrata uma situação quantitativa de matrículas em maior discrepância, sinalizando que o processo de fechamento das classes especiais nem sempre é suficiente para garantir a diretriz da inclusão escolar, uma vez que os alunos passam a ser relocados a outros espaços substitutivos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas linhas finais deste texto, consideramos necessário reiterar a análise das políticas a partir da descrição proposta por Ball (2009):

Uma política tem uma trajetória semelhante a de um foguete: decola, atravessa o espaço e depois aterrissa. Algumas vezes, acidenta-se; em outras, atinge uma realização espetacular, mas move-se através do tempo, e algumas vezes, simplesmente desaparece (BALL, 2009, p. 307).

Ao comparar a política a um foguete, Ball nos alerta sobre os efeitos inesperados que podem decorrer da implementação das políticas, com base nas experiências e nos valores pessoais e sociais dos atores envolvidos, validando que os desafios e as tensões aparentemente contraditórias sejam vistas como nuances complementares da política em ação. Os atores de uma política educacional, no caso os profissionais da educação, não podem ser vistos como meros implementadores da política, ao contrário, são responsáveis pela operacionalização dos processos em seus contextos de intervenção, o que justifica alguns contornos distintos da perspectiva da educação inclusiva, no âmbito das CREs.

Entendemos que a Rede Estadual de Ensino do RS tem demonstrado indícios de avanço na implementação de uma diretriz de inclusão escolar em consonância com a política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva, expressos nos indicadores estatísticos educacionais dessa rede. Todavia, percebemos algumas dissonâncias em alguns contextos analisados com relação ao acesso dos estudantes com deficiência às classes de ensino comum, por meio de táticas utilizadas para manter esses sujeitos em espaços exclusivamente da educação especial, tais como o realocamento dos sujeitos das classes às escolas especiais e a configuração de agrupamentos em que predominam os sujeitos da educação especial, mesmo nas classes de ensino comum.

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Consideramos que o enfrentamento de desafios é esperado, perante um direcionamento político que confronta a trajetória histórica de institucionalização e segregação em classes especiais, mantida por essa rede desde meados do século passado, sendo que essas tensões se tornam mais acirradas nos espaços marcados pela oferta de serviços de natureza paradigmática distinta. Nesses contextos de antagonismo, as classes e as escolas especiais continuam estimulando o adiamento dos desafios pedagógicos que envolvem a inclusão dos sujeitos da educação especial no espaço do ensino comum, compondo uma dinâmica que protela a possibilidade de a escola rever o seu trabalho pedagógico voltado para a diversidade e a alteridade, como princípios de uma ética política e pedagógica.

REFERÊNCIAS

BALL, Sthephen. Um diálogo sobre justiça social, pesquisa e política educacional. Ed.

Soc. Campinas, vol. 30, n. 106, p. 303-318, jan.\abr. 2009. Entrevista concedida a

Jeferson Mainardes e Maria Inês Marcondes. Disponível em: Disponível em http://www.cedes.unicamp.br Acesso em: 10\04\2014.

BATESON, Gregory. Mente e Natureza. Tradução de Claudia Gerpe. RJ: Francisco Alves, 1986. 232p.

CAPRA, Fritjof. A teia da vida Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1997. 256p.

FERRARO, Alceu R. Quantidade e qualidade na pesquisa em educação, na

perspectiva da dialética marxista. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 1 (67), p. 129-146, jan./abr. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v23n1/09.pdf Acesso em: 10\04\2014.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SEESP. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Documento orientador. Brasília, 2008.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo Escolar da Educação Básica. Anos 2008 , 2009 , 2010 , 2011 , 2012 e 2013. Disponível em: http://www.inep.gov.br/web/guest/home. Acesso em: 12\03\2014.

LIDUENHA GONÇALVES, Taísa G. G.; MELETTI, Silvia M. F. Escolarização de alunos com deficiência na Educação de Jovens e Adultos: uma análise dos indicadores educacionais brasileiros (2007-2010). In: JESUS, Denise M.; BAPTISTA, C. R.;

CAIADO, K. R. M. (org.) Prática pedagógica na Educação Especial: multiplicidade

do atendimento educacional especializado. SP: Junqueira & Marin, 2013. p. 219-234.

MELETTI, S. M. F. ; BUENO, J. G. A escolarização de alunos com deficiência intelectual: análise dos indicadores educacionais brasileiros. In: MELETTI, S. M. F.;

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BUENO, J. G. (org.) Políticas públicas, escolarização de alunos com deficiência e a

pesquisa educacional. SP: Junqueira & Marin, 2013, p. 75-86.

ANEXOS

Gráfico 1: Comparativo das matrículas dos sujeitos da educação especial nas classes de ensino comum e nas classes\escolas de atendimento exclusivo da educação especial 20.870 18.948 15.712 11.889 7.444 7.297 2.024 2.599 2.995 3.330 3.561 3.957 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Matrículas incluidos ensino comum Matrículas escolas\classes especiais

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Escolar da Educação Básica 2008-2013.

Tabela 1: Número de escolas que mantém classes especiais e total de matrículas distribuídas nas 30 CREs (período de 2012 e 2013).

Distribuição das matrículas nas classes especiais mantidas

pelas CREs

Censo Escolar da Educação Básica - 2012

Censo Escolar da Educação Básica – 2013

1ª CRE – sede em Porto Alegre, RS

12 escolas com classes especiais – 103 estudantes matriculados.

03 escolas com classes especiais – 24 estudantes matriculados.

2ª CRE – sede em São Leopoldo, RS.

03 escolas com classes especiais – 27 estudantes matriculados.

03 escolas com classes especiais – 17 estudantes matriculados.

3ª CRE – sede em Estrela, RS 01 escola com classe especial – 10 estudantes matriculados.

01 escola com classe especial – 07 estudantes matriculados.

4ª CRE – sede em Caxias, RS Não tem classe especial.* Não tem classe especial.* 5ª CRE – sede em Pelotas, RS 1classe especial – 10 estudantes

matriculados.

1 classe especial – 07 estudantes matriculados.

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6ª CRE – sede em Santa Cruz do Sul, RS

08 escolas com classes especiais – 135 estudantes matriculados.

09 escolas com classes especiais – 120 estudantes matriculados.

7ª CRE- sede em Passo Fundo, RS

09 escolas com classes especiais – 70 estudantes matriculados.

01 escola com classe especial – 14 estudantes matriculados.

8ª CRE – sede em Santa Maria, RS

09 escolas com classes especiais – 86 estudantes matriculados.

08 escolas com classes especiais – 80 estudantes matriculados.

9ª CRE – sede em Cruz Alta, RS 03 escolas com classes especiais – 29 estudantes matriculados.

03 escolas com classes especiais – 11 estudantes matriculados.

10ª CRE – sede em Uruguaiana, RS

05 escolas com classes especiais – 33 estudantes matriculados.

04 escolas com classes especiais – 29 estudantes matriculados.

11ª CRE – sede em Osório, RS 10 escolas com classes especiais – 116 estudantes matriculados

09 escolas com classes especiais – 89 estudantes matriculados

12ª CRE – sede em Guaíba, RS Não tem classe especial. Não tem classe especial. 13ª CRE – sede em Bagé, RS 05 escolas com classes especiais

– 28 estudantes matriculados

04 escolas com classes especiais – 17 estudantes matriculados

14ª CRE – sede em Santo Ângelo, RS

01 escola com classe especial – 09 estudantes matriculados

Não tem classe especial.

15ª CRE – sede em Erechim, RS 05 escolas com classes especiais – 34 estudantes matriculados

01 escola com classe especial – 10 estudantes matriculados.

16ª CRE - sede em Bento Gonçalves, RS

02 escolas com classes especiais – 31 estudantes matriculados

02 escolas com classes especiais – 25 estudantes matriculados.

17ª CRE – sede em Santa Rosa, RS

01 escola com classe especial – 08 estudantes matriculados.

01 escola com classe especial – 06 estudantes matriculados.

18ª CRE – sede em Rio Grande, RS

04 escolas com classe especial – 41 estudantes matriculados.

03 escolas com classe especial – 26 estudantes matriculados.

19ª CRE – sede em Santana do Livramento, RS

15 escolas com classes especiais – 103 estudantes matriculados.

13 escolas com classes especiais – 73 estudantes matriculados.

20ª CRE – sede em Palmeira das Missões, RS

03 escolas com classes especiais – 28 estudantes matriculados.

01 escola com classe especial – 04 estudantes matriculados.

21ª CRE – sede em Três Passos, RS

07 escolas com classes especiais – 40 estudantes matriculados.

Não tem classe especial.

23ª CRE - sede em Vacarias, RS 01 escola com classe especial – 05 estudantes matriculados.

01 escola com classe especial – 04 estudantes matriculados.

24ª CRE – sede em Cachoeira do Sul, RS

02 escolas com classes especiais – 09 estudantes matriculados.

Não tem classe especial.

25ª CRE – sede em Soledade, RS

Não tem classe especial. Não tem classe especial.

27ª CRE – sede em Canoas, RS Não tem classe especial.* Não tem classe especial.*

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– 56 estudantes matriculados estudantes matriculados. 32ª CRE – sede em São Luiz

Gonzaga, RS

04 escolas com classes especiais – 34 estudantes matriculados

04 escolas com classes especiais – 29 estudantes matriculados

35ª CRE – sede em São Borja, RS

Não tem classe especial. Não tem classe especial.

36ª CRE – sede em Ijuí, RS Não tem classe especial. Não tem classe especial. 39ª CRE – sede em Carazinho,

RS

Não tem classe especial. Não tem classe especial.

Fonte: Elaboração própria a partir do Censo Escolar da Educação Básica ( 2012\2013).

* A CRE não possui mais classes especiais no âmbito das escolas de ensino comum de educação básica. Entretanto, possui escola de educação especial. Veja tabela anterior.

Tabela 2: Matrículas exclusivas da Educação Especial nas escolas especiais da Rede Estadual de Ensino do RS, distribuídas por níveis e modalidades de ensino, período de 2012-2013.

Escolas\sedes* EI EF EM EJA Total

2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013 A -1ª CRE 00 00 103 89 00 00 42 38 145 127 B -1ª CRE 00 00 201 189 00 00 00 00 201 189 C -1ª CRE 00 00 289 263 00 00 00 00 289 263 D -1ª CRE 00 00 38 33 34 28 00 00 72 61 E -2ª CRE 02 01 62 40 00 00 00 00 64 41 F- 2ª CRE 00 00 107 108 00 00 00 00 107 108 G -4ª CRE 00 00 160 146 00 00 00 00 160 146 H – 4ª CRE 00 00 00 00 19 18 00 00 19 18 I – 8ª CRE 04 05 40 32 42 28 21 14 107 79 J – 9ª CRE 04 04 32 39 00 00 85 76 121 119 K – 27ª CRE 06 00 125 109 00 00 31 31 162 140 L – 27ª CRE 03 02 28 32 56 57 07 09 94 100 Fonte: Elaboração própria a partir do Censo Escolar da Educação Básica (2012-2013).

* Embora essas informações sejam públicas optamos por nomear as escolas de modo fictício, por meio de letras, uma vez que a nomeação real é indiferente para a análise desta pesquisa.

i Os bancos de matrícula que compõem o Censo Escolar da Educação Básica são de domínio público e

estão divulgados no Portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Porém, os microdados, que constituem as informações mais detalhadas ou pormenorizadas, precisam ser acessados por meio de um software de estatística. Para levantamento de parte dos dados apresentados no texto, utilizamos o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

ii Em alguns momentos do texto, empregamos a expressão “estudantes com deficiência” para nos

referirmos à totalidade dos sujeitos que compõem o grupo da educação especial devido à expressividade desse grupo como demandantes dos apoios da educação especial.

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