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Ultrassonografia no diagnóstico de enterocolite necrosante

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Academic year: 2021

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Ultrassonografia no diagnóstico de enterocolite necrosante

Ultrasonography in diagnosis of necrotizing enterocolitis

Frederico Celestino Miranda1, Yoshino Tamaki Sameshima2, Alice D’Agostini Deutsch3, Arno Norberto Warth4, Miguel Jose Francisco Neto5, Marcelo Buarque de Gusmão Funari6

resUMo

A enterocolite necrosante é uma das emergências gastrintestinais mais frequentes em neonatos, geralmente detectada clinicamente e radiograficamente. O diagnóstico precoce é fundamental para limitar a morbidade e a mortalidade. No início da doença, os achados clássicos como distensão abdominal e pneumatose intestinal podem não ser detectáveis à radiografia convencional. Nestes casos, a ultrassonografia pode auxiliar no diagnóstico precoce. Apresenta-se um caso de enterocolite necrosante em um recém-nascido pré-termo, cujo diagnóstico só foi possível pela ultrassonografia.

descritores: Enterocolite necrosante/diagnóstico; Enterocolite

necrosante/ultra-sonografia; Enterocolite necrosante/radiografia; Recém-nascido; Relatos de caso

aBstract

Necrotizing enterocolitis is one of the most frequent gastrointestinal emergencies in neonates, and it is generally detected clinically and radiographically. Early diagnosis is fundamental in order to limit morbidity and mortality. At the beginning of the disease, classical findings, such as abdominal distension and intestinal pneumatosis may not be detectable by conventional radiographs. In these cases, ultrasonography may help in early diagnosis. It is presented a case of necrotizing enterocolitis in a preterm newborn whose diagnosis was only possible via ultrasonography.

Keywords: Enterocolitis, necrotizing/diagnosis; Enterocolitis,

necrotizing/ultrasonography; Enterocolitis, necrotizing/radiography; Infant, newborn; Case reports

INtrodUÇÃo

A enterocolite necrosante é uma das emergências gastrin-testinais mais frequentes em neonatos, com uma

incidên-cia de 10% em neonatos com menos de 1.500 g(1).

Atual-mente, houve um aumento da incidência devido ao au-mento da sobrevida das crianças com baixo peso(2).

Acre-dita-se que seja secundária a múltiplos fatores, incluindo prematuridade(3). O diagnóstico precoce é fundamental

para limitar a morbidade e a mortalidade. A ultrassono-grafia não é rotineiramente utilizada, mas pode auxiliar no diagnóstico precoce, evidenciando achados não detec-táveis à radiografia simples, como no caso relatado. relato de caso

Recém-nascido pré-termo extremo (idade gestacional de 23 semanas), sexo feminino, nasceu de parto normal, com extremo baixo peso (550 g) e Apgar de 8 a 9 mi-nutos. No segundo dia de vida, foi observada distensão abdominal que evoluiu com piora do quadro até o nono dia. Em razão da suspeita clínica de enterocolite necro-sante, foram realizadas radiografias de abdome seria-das, de acordo com o protocolo do serviço, todas com achados negativos.

No 20° dia foi submetido à ultrassonografia por apre-sentar-se anúrico e por ser palpada “massa” em flanco direito pelo pediatra. A ultrassonografia demonstrou diminutos focos hiperecogênicos esparsos no fígado e no interior dos ramos portais compatíveis com aero-portia (Figuras 1 e 2), bem como espessamento parietal de alças intestinais junto ao flanco direito (Figura 3), observando-se segmento de alça nesta topografia que apresentava anel hiperecogênico parietal, traduzindo pneumatose intestinal (Figuras 4 e 5).

Observou-se também a presença de líquido espes-so no espaço retroperitoneal, sugerindo perfuração de

Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

1 Pós-graduando em Tomografia e Ressonância Magnética pelo Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 2 Médico Radiologista do Serviço de Ultrassonografia do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 3 Doutora; Médico Neonatologista do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

4 Médico Neonatologista da Unidade Neonatal do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 5 Doutor; Médico Radiologista do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

6 Doutor; Médico Radiologista do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Yoshino Tamaki Sameshima – Avenida Lavandisca, 538 – apto. 161 – Moema – CEP 04515-011 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3747-0433 – e-mail: yoshinots@einstein.br Data de submissão: 7/3/2008 – Data de aceite: 22/10/2008

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Figura 1. Focos hiperecogênicos esparsos no fígado, compatíveis com aeroportia

Figura 2. Focos hiperecogênicos no interior dos ramos portais

Figura 3. Espessamento parietal de alça intestinal, junto ao flanco direito, palpável no exame físico

Figura 4. Anel hiperecogênico parietal, compatível com pneumatose intestinal

Figura 5. Redução da pneumatose intestinal. (5A) Corte transversal; (5B) Corte longitudinal

a

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segmento de alça intestinal retroperitoneal e líquido anecogênico na cavidade peritoneal (Figuras 6 e 7). Os rins encontravam-se hiperecogênicos, sugerindo nefropatia parenquimatosa aguda. Foi então subme-tido a uma radiografia simples do abdome, que confir-mou o achado de pneumatose intestinal. Frente a estes achados, foi suspensa a dieta (leite materno), ficando em jejum por 15 dias e iniciado antibioticoterapia. Não foi necessária abordagem cirúrgica. O neonato voltou a urinar após 24 horas do início da antibioticoterapia e houve melhora progressiva do quadro. Nos exames ultrassonográficos de controle, realizados no 29° e 48° dia de vida, notou-se desaparecimento dos sinais de pneumatose intestinal (Figura 8) e reabsorção do lí-quido espesso retroperitoneal e do lílí-quido anecogê-nico intraperitoneal (Figuras 9 e 10). O neonato apre-sentou melhora do quadro clínico e radiológico, tendo alta com 109 dias de vida.

Figura 6. Líquido espesso no espaço retroperitoneal e anecoico no espaço intraperitoneal. Hiperecogenicidade do parênquima renal

Figura 7. Líquido espesso retroperitoneal

Figura 8. Exame de controle, demonstrando a parede intestinal fina e sem sinais de pneumatose. Paciente foi realimentada

Figura 9. Exame de controle, demonstrando ausência do líquido intra e retroperitoneal

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dIscUssÃo

A enterocolite necrosante afeta 10% dos neonatos com menos de 1.500 g(1). A incidência é inversamente

propor-cional à idade gestapropor-cional. Crianças nascidas com 28 se-manas ou menos de idade gestacional e aquelas com ex-tremo baixo peso ao nascimento (menos de 1.000 g) têm maior risco. Houve um aumento da incidência devido ao aumento da sobrevida das crianças com baixo peso(2).

Sua etiologia e patogenia continuam controversas. Acredita-se que seja secundária a múltiplos fatores, in-cluindo prematuridade que resulta em dano à mucosa, isquemia intestinal e necrose(3). A lesão da mucosa pode

ser devido à infecção, conteúdo intraluminal, imunidade imatura, descarga de vasoconstritores e mediadores in-flamatórios. A perda da integridade da mucosa permite a passagem de bactérias e suas toxinas para a circulação sistêmica podendo causar sepse nas formas graves. As bactérias penetram na parede intestinal e os produtos do seu metabolismo levam à formação de gás intramural(1).

O envolvimento pode ser difuso e contíguo ou intermi-tente. Os locais mais frequentemente envolvidos são o íleo distal e o colón proximal, mas qualquer parte do in-testino pode ser afetada(2). Os recém-nascidos têm maior

risco de desenvolver a doença pela imaturidade de algu-mas funções corporais como a motilidade gastrintestinal, habilidade digestiva, regulação circulatória, função da barreira intestinal e defesa imune.

Manifesta-se mais comumente na primeira ou se-gunda semana de vida. A sua apresentação clínica pode ser indistinguível da sepse neonatal. Os sintomas in-cluem intolerância alimentar, retardo do esvaziamento gástrico, letargia, apneia, dificuldade respiratória, insta-bilidade da pressão arterial e da temperatura, vômitos, diarreia e sangue nas fezes(3). Os sinais incluem

disten-são abdominal, eritema da parede abdominal e edema. Neonatos com doença severa podem apresentar choque. Perfuração intestinal ocorre em 12 a 31% dos casos. A perfuração aumenta a taxa de mortalidade de 30 para 64%(4). A mortalidade fica entre 20 a 40% e é maior nos

neonatos com extremo baixo peso ao nascimento(1,3).

Os casos benignos podem apresentar apenas sinais abdominais, tais como intolerância alimentar e disten-são abdominal. No presente caso, as manifestações clí-nicas e radiológicas sugeriam, mas não confirmavam a doença mais grave. Porém, o resultado do ultrassom de-monstrou sinais de sofrimento de alças intestinais com perfuração bloqueada, optando-se por manter o recém-nascido em jejum, com suporte nutricional parenteral por 15 dias,sem tratamento cirúrgico e ocorrendo evo-lução para cura.

A radiografia simples é a modalidade de escolha na suspeita de enterocolite necrosante. O protocolo de seguimento depende da gravidade da doença e pode

variar de 6 a 24 horas. Deve incluir radiografias abdo-minais com raios verticais e horizontais com o paciente na posição supina, avaliando a presença, quantidade e distribuição de gases, que inclui gás intramural intes-tinal, intraluminal, gás no sistema porta e gás livre in-traperitoneal. Sinais inespecíficos precoces incluem dis-tensão difusa e padrão assimétrico dos gases intestinais. Os sinais específicos incluem pneumatose intestinal (ar intramural) e gás no sistema porta(5). A pneumatose

pode ter uma aparência linear quando o ar intramural é subseroso ou uma aparência bolhosa quando o ar é submucoso(6). Gás intramural submucoso pode ser

con-fundido com fezes, mas a detecção radiológica de fezes colônicas é rara em prematuros com menos que duas semanas pós-natal.

Outro achado praticamente patognomônico de enterocolite é a aeroportia, que está associada com doença mais grave, com aumento da mortalidade(7). A

aeroportia aparece como luscências finas ramificadas que se estendem da região portal hepática até a peri-feria do fígado. Um sinal de doença avançada é o si-nal da alça persistente. Uma alça dilatada do intestino que permanece inalterada na sua aparência nas radio-grafias por 24 a 36 horas. Outro achado é a mudança de um padrão de distensão difusa das alças para um padrão de dilatação assimétrica do intestino. Ascite é um sinal de perfuração ou ameaça de perfuração. Ne-nhum exame laboratorial é diagnóstico de enterocolite necrosante, mas a trombocitopenia severa ou persis-tente, neutropenia, coagulopatia ou acidose podem indicar doença grave(8).

Estudos avaliaram que exames contrastados do trato gastrintestinal, tomografia computadorizada e a resso-nância magnética não são úteis na investigação clínica desses pacientes(1-2).

As vantagens da ultrassonografia abdominal no es-tudo da enterocolite necrosante incluem a não-utiliza-ção de radianão-utiliza-ção ionizante, a possibilidade de avaliar em tempo real as estruturas abdominais, particularmente o intestino, observando-se a espessura de sua parede, a ecogenicidade, a peristalse e a perfusão. O ultrassom é mais sensível que a radiografia convencional para detectar gás intramural intestinal (pneumatose intesti-nal), gás no sistema porta (aeroportia), bem como para a pesquisa e avaliação de líquido livre ou coleções na cavidade abdominal(7,9-10).

A pior complicação da enterocolite necrosante é a perfuração intestinal. Pequena quantidade de gás na cavidade peritoneal ou mesmo no espaço retroperito-neal, como no caso relatado, pode não ser detectada à radiografia simples, mas a ultrassonografia pode de-monstrar a presença de líquido livre na cavidade abdo-minal, contendo finos debris em suspensão, sugerindo perfuração intestinal.

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Portanto, a ultrassonografia pode ser bastante útil no diagnóstico nos casos em que a melhora radiográfica não é compatível com o quadro clínico do paciente ou quan-do ocorre uma deteriorização clínica sem evidência de pneumoperitôneo na radiografia simples do abdome. coNclUsÕes

A enterocolite necrosante em neonatos é geralmente detectada clinicamente e radiograficamente, mas no início da doença os achados clássicos como distensão intestinal e pneumatose intestinal podem não ser de-tectáveis à radiografia convencional. Portanto, a ultras-sonografia deve fazer parte do arsenal de investigação diagnóstica, nos casos suspeitos de enterocolite necro-sante, devido a sua baixa invasibilidade, portabilidade, o fato de não envolver radiação ionizante e, sobretudo pela alta sensibilidade para a detecção de alterações decorrentes do sofrimento intestinal, a caracterização de aeroportia e de líquido livre na cavidade abdominal. Acredita-se que a ultrassonografia seja uma importante modalidade diagnóstica na avaliação de crianças com suspeita de enterocolite necrosante.

reFerÊNcIas

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Referências

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