Nicolette Silva (2003)
Análise do software – Starry Night Backyard
Trabalho realizado no âmbito da disciplina As TIC no Ensino das Ciências e da Matemática. Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Revisto por Isabel Chagas
Como instrumento de análise utilizou-se uma adaptação da Ficha Síntese do Potencial Pedagógico, produzida pelo projecto PEDACTICE:
(http://www.fpce.ul.pt/projectos/pedactice/doc/Potencial.rtf)
“O esforço para a compreensão do Universo é uma das poucas coisas que elevam a existência humana um pouco acima do nível da farsa e lhe dão algo do encanto da tragédia.”
Steven Weinberg, físico americano, Prémio Nobel da Física em 1979
1. INTRODUÇÃO
As observações astronómicas foram, possivelmente, as primeiras observações conscientes que o Homo sapiens fez sentado algures no planeta Terra. Olhando para o firmamento, este Ser começou a dar os seus primeiros passos no estudo do Universo. Desde as suas primeiras observações que o Homem nunca deixou de manter uma cumplicidade crescente com a Astronomia, a qual, permanece até aos nossos dias.
A História da Astronomia inclui relatos, alguns bastante rigorosos, acerca das observações que o Homem foi fazendo. Desde os primeiros registos efectuados pelos Gregos, até ao primeiro passo dado na Lua, muito tempo passou, muitas teorias foram elaboradas e redefinidas e muita gente julgada e considerada herege. Contudo, grandes mudanças filosóficas e até mesmo intelectuais ocorreram, grandes avanços tecnológicos aconteceram em que o Homem se foi tornando num Ser mais próximo do conhecimento.
Hoje sabe-se que os fenómenos astronómicos têm influenciado e até mesmo mudado o decurso da vida na Terra, como por exemplo o impacto de asteróides e a sua relação directa com a extinção dos dinossáurios.
O estudo do nosso Sistema Solar tem permitido conhecer, com maior precisão, a idade do nosso planeta; tem contribuido para a compreenssão da origem da vida na Terra; tem alimentado, de certa forma, o debate acerca da magnitude, efeitos e custos do aquecimento global e efeito de estufa que nos afecta a todos. Este "novo saber" tem, de alguma forma, alimentado a nossa imaginação e as nossas esperanças de vir a colonizar outros planetas.
Todo o "Passado Astronómico" e todas as "esperanças futuras" povoam o imaginário dos nossos jovens contribuindo em grande parte, para o interesse que estes demonstram não só pelo conhecimento do Universo mas também pela observação do que está para além do planeta que pisamos.
Basta olharmos para o céu e estamos envolvidos com a Astronomia. Contudo, para um maior aprofundamento do conhecimento é preciso algo mais; é necessário saber observar, saber como e onde pesquisar informação, como por exemplo, conhecer as últimas descobertas feitas pelas sondas espaciais ou os últimos dados obtidos através dos satélites.
Existem actualmente meios rápidos e fáceis de utilizar aos quais o aluno poderá recorrer para aprofundar ou satisfazer a sua curiosidade. O professor deixou de ser um sábio detentor do conhecimento absoluto, e deverá, de certa forma, ser capaz de orientar os alunos nessa procura. Para isso, terá de tomar contacto com os novos meios de pesquisa e observação existentes.
As perspectivas do uso de múltiplas alternativas tecnológicas na educação são cada vez maiores e mais promissoras.
A rápida expansão do conhecimento aponta para a necessidade de processos educativos que visem o desenvolvimento de habilidades para localizar e processar o conhecimento ao invés da simples memorização de factos. O grau de integração de novas tecnologias no currículo educativo depende, inicialmente, da atitude dos grupos que provêm e recebem educação.
O desenvolvimento de software educacional, em Portugal, está ainda num estádio de desenvolvimento embrionário, embora já exista no mercado excelentes produtos de origem nacional.
A raridade dos produtos oferecidos, os elevados custos que acarretam a sua obtenção, bem como o insuficiente número de computadores na maioria das escolas fazem com que, embora reconhecendo as potencialidades que este material possa trazer ao processo ensino/aprendizagem, os professores não os utilizem com a frequência desejada no espaço sala de aula.
Muito do software disponível no nosso mercado não tem origem nacional (muitos desses produtos até podem estar traduzidos em "português do Brasil") e, como tal, reflectem vivências culturais, sociais, económicas e até mesmo educacionais diferentes das nossas, revelando-se desta forma, inadequada a sua utilização.
Assim sendo, será fundamental, equipar convenientemente a sala de aula com hardware adequado, avaliar o software existente e, se necessário, adaptá-lo à nossa realidade e às necessidades dos nossos alunos assim como fomentar a produção de software educativo, adaptado aos programas e conteúdos curriculares leccionados nas nossas escolas.
Um programa é um produto de comunicação complexo, que pode ser avaliado em função de vários critérios e segundo vários pontos de vista. No entanto, no que se refere a software educativo, este deverá também ser avaliado de acordo com critérios pedagógicos:
-Modelo pedagógico subjacente ao produto em causa; -Objectivos de aprendizagem visados;
-Áreas curriculares em que poderá ser utilizado;
-Motivação e autonomia na aprendizagem, entre outros.
Independentemente de uma avaliação económica, e até mesmo de uma avaliação de concepção técnica, os professores deverão ser capazes de avaliar pedagogicamente um determinado produto educacional. Assim sendo, embora a avaliação de produtos informáticos seja uma acção complexa e morosa, todos os professores deveriam estar preparados para a fazer recorrendo, por exemplo, a uma grelha de avaliação previamente validada.
Pretende-se com este trabalho, analisar um software -"Starrynight Backyard", produzido pela SPACE.com Canada Inc, e que está de acordo com determinados conteúdos curriculares leccionados nas disciplinas – Ciências Físicas e Naturais do 7º e Fisica e Química no10° ano de escolaridade.
Foi utilizada, nesta análise, uma ficha de síntese do potencial pedagógico do projecto Pedactice, , facultada pela professora da disciplina – As TIC no ensino das Ciências e da Matemática. As adaptações realizadas prenderam-se com necessidades de avaliar o produto de uma forma mais eficaz, visando a sua posterior utilização em ambiente de sala de aula.
RECURSOS UTILIZADOS
Kahn B. (1991). Os computadores no Ensino das Ciências. Lisboa. Publicações Dom Quixote.
PROJECTO PEDACTICE (2000). Avaliação de Software Multimédia Educativo. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa http://www.fpce.ul.pt/pedactice/
2. ANÁLISE DE SOFTWARE MULTIMÉDIA EDUCATIVO 2.1. Ficha de síntese do potencial pedagógico
Identificação do produto TÍTULO Starry Night Backyard
EDITORA SPACE.com Canadá, Inc DATA DE EDIÇÃO 2000
MANUAIS DE
EXPLORAÇÃO A aplicação inclui manual de exploração TIPO DE SOFTWARE Software educativo
CONTEÚDO Astronomia
NÍVEL ETÁRIO Alunos a partir dos 12 anos NÍVEL DE ENSINO 7º e 10º ano de escolaridade
2.2. Avaliação enquanto ferramenta de aprendizagem
ADEQUAÇÃO E RELEVÂNCIA CURRICULAR
A leccionação do tema curricular “A Terra no espaço” no 7º ano ou da “Arquitectura do Universo” no 10º ano torna-se complicado. É necessário recorrer a imagens de livros, à visualização de vídeos ou a programas como este em análise que permite :
- Visualizar o céu a qualquer hora do dia e a qualquer data entre 4713 AC e 10000 DC.
- Identificar e seleccionar objectos no céu;
- Ver milhões de estrelas, constelações, galáxias, nebulosas; - Visualizar planetas do sistema solar;
- Visualizar as fases da Lua e ver porque é que as estações mudam na Terra;
- Calcular a distância entre dois astros;
- Navegar no espaço para ver eclipses do passado e futuros e outros eventos cósmicos;
- Manipular o tempo - o tempo de observação é um factor significativo na determinação do que queremos ver no céu nocturno. Se compararmos o céu no início da noite com o céu ao fim da noite, perceberemos que as estrelas mudaram a sua posição. Isto é o efeito da rotação da Terra em torno do seu eixo. O
movimento das estrelas é o efeito mais obvio com a passagem do tempo, mas há muitos mais efeitos interessantes que só se podem ver passados longos períodos de tempo. Existem eventos em astronomia que ocorrem em grandes períodos de tempo. O eclipse solar total tarda mas ocorre em poucos minutos, a aparência das constelações muda muito lentamente em milhares de anos. - Mudar a nossa localização - seleccionar uma outra cidade, ou também podemos fazer observações a partir da superfície de outro planeta, da Lua, ou mesmo do Sol.
- Copiar imagens com facilidade e integrá-las em outros meios, como por exemplo, em trabalhos escritos.
Com este software é possível a utilização curricular de natureza transdisciplinar.
ADEQUAÇÃO AOS UTILIZADORES
A aplicação é adequada para a utilização curricular. Trata-se de uma aplicação que pode contribuir para o desenvolvimento de competências de pesquisa e recolha de informação, assim como servir de apoio ao estudo do tema em questão, individualmente ou em grupo.
A linguagem utilizada é o Inglês o que poderá ser um problema. Esta aplicação permite uma utilização diferenciada de acordo com a especificidade de estilos cognitivos e de aprendizagem dos utilizadores (os alunos).
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
- Compreender a constituição e a caracterização do Universo e do Sistema Solar e a posição que a Terra ocupa nesses sistemas; - Aprender a observar o céu;
- Relacionar distâncias no Universo;
- Compreender as causas e os significados dos movimentos celestes observados e o modo como foram descobertos;
- Explicar a sucessão dos dias e das noites com base no movimento de rotação da Terra;
- Interpretar o movimento aparente do Sol;
- Explicar a ocorrência das estações do ano com base no movimento de translação da Terra e na inclinação do eixo de rotação;
- Distinguir as fases da Lua;
- Descrever a ocorrência de eclipse da Lua e do Sol; - Distinguir entre eclipse total e parcial.
ESTRATÉGIAS DE EXPLORAÇÃO E INTERACTIVIDADE
As estratégias de exploração da informação são adequadas ao público e aos objectivos visados na aplicação.
A aplicação oferece diferentes formas de acesso e exploração da informação.
Éuma aplicação que dá ao utilizador a oportunidade de gerir o seu próprio processo de aprendizagem, utilizando-a de forma adequada aos seus objectivos.
AUTONOMIA NA APRENDIZAGEM
A organização, forma e conteúdo desta aplicação permite ao utilizador uma total autonomia.
INTERACÇÃO SOCIAL
Esta aplicação pode ser utilizada de forma individual, para aprofundar conhecimentos ou dar respostas a interesses pessoais. Pode ser utilizada em pequenos grupos de trabalho quer como fonte de pesquisa e de consulta para a realização de trabalhos de grupo quer pelo interesse que possa despertar em grupos de utilizadores.
FORMAS DE AVALIAÇÃO Esta aplicação não tem formas de avaliação. 2.3. Apreciação global do produto
QUALIDADE GLOBAL
Aspectos positivos
- A aplicação é bastante relevante e útil para a aprendizagem da astronomia, conteúdo este que integra o currículo do 3º Ciclo e secundário das disciplinas Ciências Físicas e Naturais e Física e Química.
- A forma e o conteúdo da aplicação desperta fortemente a curiosidade e o interesse do utilizador envolvendo-o facilmente.
- Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada pelo astrónomo amador assim como por um especialista em astronomia.
- Permite a integração com outros meios didácticos e pode adaptar-se facilmente a diferentes ambientes de aprendizagem (sala de aula, laboratório de informática, centro de recursos, clube de astronomia como apoio à observação regular do céu)
- Permite o acesso a diferentes níveis de informação. - Contém links para sites de interesse.
Aspectos negativos
- O idioma utilizado é o Inglês.
FACILIDADE DE APRENDIZAGEM E DE UTILIZAÇÃO
Recorrer ao manual antes da utilização deste software é uma grande ajuda mas, não é fundamental. Com os conhecimentos que os alunos têm sobre computadores é muito fácil utilizar esta aplicação, pois a forma como está apresentado é semelhante à barra de ferramentas do Word.
QUALIDADE DO CONTEÚDO CIENTIFICO
O conteúdo da aplicação denota exactidão e correcção cientifica; O nível de complexidade do conteúdo e a línguagem são adequados para qualquer interessado em adquirir conhecimentos de astronomia.
QUALIDADE DA INTERFACE GRÁFICA
É possível aceder à informação através de diferentes formas de representação (texto, imagem fixa, animação), mas não apresenta som.
Do ponto de vista estético é bastante agradável.
A interface é intuitiva e simples, reduzindo ao essencial as funções relevantes.
QUALIDADE DOS MATERIAIS DE SUPORTE E POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO EM REDE
A aplicação tem um manual de exploração, o qual apresenta uma linguagem acessível quer para os professores quer para os alunos, embora em Inglês.
A aplicação possui links para que o utilizador possa ter acesso a mais informação. Os links que contém constituem um recurso útil para quem queira aprofundar determinado assunto
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação de um determinado produto multimédia deveria ter em conta a apreciação feita pelo público a que se destina. Só deste modo os objectivos visados com a sua concepção seriam plenamente atingidos.
Muitos dos produtos multimédia concebidos para fins pedagógicos nunca foram analisados por técnicos da educação, e muito menos pela população a que se destina. Estes dois grupos deveriam estar envolvidos, directamente, na produção deste tipo de materiais.
Será difícil um professor analisar um determinado software educativo, do ponto de vista técnico, pois, possivelmente, não terá a formação adequada para o fazer, mas também um técnico de software estará longe de poder realizar uma análise coerente do ponto de vista pedagógico.
Um determinado produto de comunicação é algo complexo que se pode avaliar em função de vários critérios, e segundo vários pontos de vista. O que interessa a um professor é a avaliação pedagógica, não a avaliação económica, bastante pertinente para quem o produz. Um professor não se irá preocupar com estudos de mercado para justificar a importância de se produzir software educativo, nem tão pouco com os aspectos técnicos envolvidos na sua concepção.
A intervenção de um professor na produção de material multimédia terá mais a ver com os objectivos pedagógicos que o produto potencia, com a coerência na organização pedagógica, com a originalidade do caminho pedagógico adoptado, com a qualidade dos testes ou actividades lúdico-pedagógicas incorporadas, entre outros.
A opinião do público alvo também deveria ser um dos aspectos a ter em conta quando se pretende produzir um determinado software educacional, pois, embora não se possam pronunciar acerca de muitos dos aspectos já referidos, a sua análise sobre o interesse, o poder motivador, a clareza da linguagem, a qualidade das imagens e a facilidade de utilização, entre outros, são relevantes para a sua concepção.
Assim sendo, na produção de software educativo, revela-se de máxima importância a constituição de equipas interdisciplinares de avaliação, compostas por técnicos de software, de professores e, até mesmo de elementos do público a que se destina o produto em causa.
