ANNIE
BESANT
Outras
obras
de
Annie
Besant
O
APERFEIÇOAMENTO
DO
HOMEM
AUTOBIOGRAFIA
O
PODER
DO
PENSAMENTO
DHARMA
O
HOMEM
E
SEUS
CORPOS
INTRODUÇÃO
AO
IOGA
KARMA
OS
MESTRES
REENCARNAÇÃO
A
SABEDORIA
DOS
UPANIXADES
A
VIDA
DO
HOMEM
EM
TRÊS
MUNDOS
YOGA:
CIÊNCIA
DA
VIDA
ESPIRITUAL
Obras
de
C.
W.
Leadbeater:
AUXILIARES
INVISÍVEIS
OS
CHAKRAS
A
CLARIVIDÊNCIA
COMPENDIO
DE
TEOSOFIA
E
PROIBIDA
A
VENDA
ANNIE
BESANT
k
O
CRISTIANISMO
ESOTÉRICO
ou
OS
MISTÉRIOS
MENORES
Tradução de E.NICOLL
EDITORA
PENSAMENTO
SÃO
PAULO
aoo
°
L
l65(C
Título do original:Esoteric Christianity
Edição original de
The Theosophical Publishing House
Adyar, Madras
—
índia.BIBLIOTECA
POBLICA
MUNICIPAÍ
DR
DJOMAR
PEREIRA
DA
ROCHA
QMT«tinfiMtá
—
SP.
Tjuwí
91-M-9S-94.95-M-9T-M
Direitosreservados
EDITORA
PENSAMENTO
LTDA.
Rua Dr. Mário Vicente, 374 - 04270 - São Paulo, SP - Fone: 272-1399
ÍNDICE
PREFÁCIO
7Capítulo
I—
O
Lado
Oculto
das Religiões 11Capitulo
II—
O
Lado
Oculto
do
Cristianismo—
O
Testemunho
das Escrituras29
Capítulo
III—
O
Lado
Oculto
do
Cristianismo (fim)—
O
Testemunho
da
Igreja47
Capítulo
IV
—
O
Cristo Histórico74
Capítulo
V
—
O
Cristo Mítico *87
Capítulo
VI
—
O
Cristo Místico 100Capítulo
VII
—
A
Redenção
112Capítulo
VIII
—
Ressurreição eAscensão
131Capítulo
IX
—
A
Trindade
142Capítulo
x
—
A
Prece154
Capítulo
XI
—
O
Perdão
dosPecados
165Capítulo
XII
—
Os
Sacramentos
177Capítulo
XIII
—
Os
Sacramentos
(Continuação)
188Capítulo
XIV
—
Revelação
.200
PREFACIO
Este livro
tem
por
objetochamar
a
atenção sobre asver-dades
profundasque
formam
a basedo
Cristianismo—
verdadesgeralmente
desconhecidas, e quasesempre
negadas.O
desejo generosode
partilharcom
todos o que é precioso,espalhando
a
mãos
cheias verdades inestimáveis, e denão
privarninguém
das luzes
da
conhecimento
verdadeiro, trouxe,como
resultado,um
zelo inconsiderado que vulgarizou o Cristianismo eapresen-tou seus ensinamentos sob
forma
quasesempre
desagradável, inaceitávelpara
a
inteligência e incompatívelcom
o coração.Ê
ponto
admitido que o preceito: "Pregai o Evangelho,a
toda criatura'' (São
Marcos,
XVI,
15) éde
autenticidade duvida-,sa; e,
no
entanto, procurou-se aí ver a interdiçãode
ensinara
"Gnose" a
privilegiados. Este preceito parece, portanto, ter jeitoesquecer este outro
mandamento,
menos
popular,da
mesmo
Mestre:
"Não
deis aos cães as coisas santas" (S.Mateus, VII,
6);
Esta sentimentalidade de qualidade inferior
—
que
recusaadmi-tir as desigualdades evidentes
no
domínio
intelectual e moral, e,assim3 fixa o
ensinamento
dado
às pessoas altamentedesenvolvi-das, sacrificando o superior
ao
inferior demaneira
prejudicialaos dois
—
esta sentimentalidade, obom
senso viril dosprimei-ros cristãos
não
a conhecia absolutamente. S.Clemente
de
Ale-xandria escreveu nestes termos, depois de ter feito alusão aos
Mistérios: u
Ainda
hoje temos,como
se diz, de lançar pérolas aosporcos,
com
receio que aspisem
com
os pés, e, voltando-se, nosdespedacem"
Porque
ê difícil falarda
verdadeira luz,em
termosdemasiado
claros e límpidos,a
ouvintesmal
preparados
ede
natureza porcina" 1.
Se
a verdadeira sabedoria—
a"Gnose"
—
deve fazer partenovamente
dos ensinamentos cristãos,não
pode
ser senãocom
asrestrições antigas e sob a condição de
abandonar
definitivamentea ideia de
tudo
nivelar aograu
das inteligênciasmenos
desen-volvidas.
Somente
o ensino forade
alcance dosmenos
evoluídospode
preparar a volta dos
conhecimentos
ocultos, eo
estudo* dosMis*
térios
Menores
deve preceder os Mistérios Maiores. Estes jamaisserão divulgados pela imprensa: só
podem
ser transmitidosdo
Mestre ao
discípulo, (<da
boca
ao ouvido".Quanto
aosMisté-rios
Menores
,que
levantam
parcialmente o véu de verdadespro-fundas,
podem
ainda hoje ser restabelecidos; e estaobra
sedes-tina a dar
um
esboço deles e indicar"a
natureza" dosensina-mentos, cujo estudo se impõe.
Quando
o autor seexprime
por
meio
de palavras de sentido incompreensível, as palavrasque
apre-senta
podem
ser compreendidas,em
suas grandes linhas,por
uma
calma
meditação:meditação
prolongada, cuja luzporá
em
rele-vo a verdade.
A
meditação
tranquiliza omental
inferior,inces-santemente
ocupado
por
objetos exteriores, e só omental
tran-quilo
pode
seriluminado
pelo Espirito.Ê
assimque
seobtêm
o.
conhecimento
das verdades espirituais; ele deve virde
dentroe
não
de fora,do
Espírito divino,do
qual nóssomos
otemplo
2e
não
deum
Mestre
externo. Estas verdades são discernidasespi-ritualmente pelo Espírito Divino
que
estáem
nós,por
estePen-samento
de Cristo deque
fala o Apóstolo, por essa luzque
severte sobre
o mental
inferior.Assim procede
a Sabedoria divina, a verdadeira Teosofia.Ela
não
é,como
sepensa
algumas
vezes,uma
adaptação
diluídado
Hinduísmo,
do
Budismo,
do
Taoísmo
ou
qualquer outrareli-gião particular; ela é tanto o Cristianismo Esotérico
como
oBu-dismo
Esotérico.Ela
pertence igualmentea
todas as religiões,sem
exceçãaalguma.
Tal
éa
fonteonde
foram
bebidas asver-dades
expostas neste volume,a
verdadeiraLuz
que
ilumina todos oshomens que
vêm
ao
mundo
(S. João, I, 9) ,embora
a maioria,ainda
cega,não
estejaem
condições de ver.Este livro
não
traz aLuz:
ele diz simplesmente: "Eisa
Luz!**,
porque
elanão
vem
de
nós. Êlenão
jaz apelo senãoà
minoria
a
quem
os ensinamentos exotêricos jánão
satisfazem;
este livro
não
se destina ãs pessoasque
sesentem plenamente
$a<-tisjeitas
com
os ensinamentos exotêricos.Para que
serve forçar osque
não
s-entemfome
dereceberem
opão?
CAPÍTULO
IO
LADO
OCULTO
DAS
RELIGIÕES
A
maioria das pessoasque
lerem
o
título deste livroo
acusa-rá
imediatamente
de envolveruma
ideia falsa, enegará
que
existaalguma
coisade
preciosopor
nome
"Cristianismo Esotérico**.Segundo
uma
opiniãomuito
espalhada
e,por
consequência,po-pular, o Cristianismo
nada
apresentaque
possa serchamado
"ensinamento
oculto";quanto
aos Mistérios, tantoMaiores
como
Menores,
foiuma
instituiçãopuramente
pagã.O
próprionome
"Mistériosde
Jesus", tão familiar aos cristãos dos primeirosséculos, surpreenderia seus sucessores
modernos,
ea
opiniãoque
viu nestes Mistérios
uma
instituição especiale
definidaprovoca-ria, hoje, risos
de
incredulidade.Que
digo?Tem-se
afirmado
com
orgulhoque o
Cristianismonão
tem
segredos—
que
o
que
ele tinha a dizer e
a
ensinar, o dizia e o ensinavaa
todos.Suas
verdades
passam
por
serde
tal simplicidadeque
o
"primeiroque
chega,mesmo
ignorante—
ascompreenderá
sem
dificul-dade", e
que "a
simplicidadedo
Evangelho"
se tornouuma
ex-pressão banal.
Ê, pois, necessário provar claramente
que
—
pelomenos
quanto
à
Igreja Primitiva—
o
Cristianismoem
nada
cedia àsoutras
grandes
religiõesque
possuíam
um
"lado oculto", eque
guardava,
como
inestimável tesouro, os segredos, revelados aosescolhidos,
em
seus mistérios.Mas,
antesde
empreender
estatarefa,
devemos
considerarem
seuconjunto
a
questão deste ladooculto das religiões e
examinar porque o
lado oculto épara
uma
religião a
condição
primordialde
sua força e estabilidade.A
tempo,
e as passagensem
que
osDoutores
da
Igrejafa2em
alusãoa
ele parecerão naturaise
fáceisde
interpretar,em
vezde
serem
chocantes e ininteligíveis.
A
existência deste esoterismo éum
fato histórico—
podemos
prová-lo
—
mas
é possíveltambém
demonstrar
que
ele éuma
ne-cessidade
de
ordem
intelectual.Qual
éo
fim
das religiões?É
a
primeirapergunta
que
se apresenta.As
religiões sãodadas
ao
mundo
por
homens
mais
sábiosque
as massasque
asrecebem.
São
destinadasa
apressar a evoluçãohumana,
e suaaçao,
para
ser efetiva,deve
atingir e influenciar individualmenteos
homens.
Ora,
nem
todos oshomens
alcançaram
o
mesmo
grau
de
evolução,A
evolução pode,ao
contrário, serrepresen-tada
como
uma
rampa
ascendenteem
que
cada
ponto
éocupa-do
por
um
homem.
Os
mais
evoluídos estão, intelectual emo-ralmente,
muito acima
dosmenos
adiantados.A
cada
degrau,a
faculdadede
compreender
ede
agir se modifica. Ê, portanto,inútil querer
dar
a
todoso
mesmo
ensinamento
religioso.O
que
seria auxílio
para
o
homem
intelectual, ficariacompletamente
incompreensível
para
ohomem
boçal;o
que
despertariao
êxta-se
no
santo,não
despertarianenhuma
impressãono
criminoso.Se,
por
outro lado,o
ensinamento
se destinaa
auxiliar osinte-ligentes, é
para
o
filósofo insuficiente e vazio; se servepara
ocriminoso,
permanece
inútilpara
o
santo. E, não^ obstante,todas as categorias
humanas
têm
necessidadede
religião,a
fimde
alcançaruma
vida superiorà
sua existência atual.Mas, ao
mesmo
tempo,
uma
categoriaou
classenão
deve
ser sacrificadaa
qualquer
outra.A
religiãodeve
sergraduada
como
a
própriaevolução, senão jamais atingiria seu fim.
Como,
pois, as religiõesdevem
procurar apressara
evolu-ção
humana?
As
religiõesdevem
formar
as naturezasmoral
eintelectual
e
secundar
o
desenvolvimentoda
natureza espiritual.Considerando
o
homem
como
um
ser complexo, elasprocuram
atingir
cada
um
dos elementosque o
compõem,
dirigindo-se,por
consequência,
a cada
homem
por
meio
de
ensinamentosapro-priados às suas
mais
variadas necessidades.Estas lições
devem,
portanto, adaptar-sea cada
uma
dasSe
uma
religiãonão
atingenem
esclarecea
inteligência, senão
purificae
eleva as emoções,não
alcançará seufim
quanto
à
pessoaa
quem
ela se destina.A
religiãonão
se dirigesomente
às inteligências e àsemo-ções;
procura
ainda,como
dissemos, estimularo
desenvolvimentoda
natureza espiritual.Ela responde
a
esteimpulso
interiorque
existe
no
homem
eque
não
cessade
impelira
humanidade
para
a
frente. Porque,no
fundo do
coraçãode
cada
um
de
nós—
entravada, muitas vezes,
por
condições transitórias,ou
por
preocupações
e interesses absorventes—
existeuma
aspiraçãocontínua
por
Deus.Como
o cervoque
anseia longe daságuas
correntes 1, assimsuspira a
humanidade
por Deus. Esta aspiração apresentamo-mentos de
suspensão,em
que
o ardor espiritual parecedesapa-recer.
A
civilização eo
pensamento
apresentam
fasesem
que
este
clamor
pela divindade,do
espíritohumano
em
busca
da
sua fonte
—
talcomo
aágua
procura retomar
o
seu nível,con-forme a
expressãode
Giordano
Bruno
—
em
que
esta aspiraçãoapaixonada
do
espíritohumano
por
aquiloque
éda
mesma
na-tureza,
no
universo—
da
partepara
o
todo—
parecedesapare-cer, desvanecer-se.
Mas,
em
breve ela desperta, e omesmo
gritolançado
peloespírito se faz ouvir.
Este instinto
pode
sermomentaneamente
sufocado eapa-rentemente
perecer,mas
incessantemente se levanta—
apesarda
oposição
que
areduz
ao
silêncio—
e assimprova que
ele éuma
tendência inevitável, inerente à natureza
humana,
e
delainse-parável.
Os
que
gritam, triunfantes:"Vede!
êle morreu!",o
en-contram
diante deles,sempre
redivivo.Os
que
edificam,sem
o
levarem
conta,vêem
suas construções,bem
acabadas,fen-derem-se
como
vítimasde
um
tremor de
terra.Os
que
pro-clamam
que
já passou seutempo,
descobrem que
as superstiçõesmais
extravagantesnascem
do
seu desprezo.E
tanto isto éver-dade,
que
êle é parte integranteda
humanidade,
eque
o
mem
exigeuma
resposta às suas interrogações, eao
silênciopre-fere
uma
resposta,embora
falsa.Quando
não
se consegue descobrira
verdade
religiosa,es-colhe-se
o
erro,de
preferência apermanecer
sem
religião;aceita--se o ideal,
embora
vazio e falso,mas
recusa-sea
negar
a
suaexistência.
Deste
modo,
a
religião dirige-sea
estaimpetuosa
necessi-dade, apoderando-se,
na
naturezahumana,
deste principioque
lhe
dá
vida, elao
purifica eo
guiapara
o
fimque o
espera—
a
união
do
espíritohumano com
o
EspíritoDivino
—
afim de
que
esteDeus
estejaem
todos.Uma
terceirapergunta
se apresenta:"Qual
é aorigem
dasreligiões?" Esta questão recebeu, nos
tempos
modernos,
duas
respostas:
a
das Mitologiascomparadas
e a das Religiõescompa-radas. Estas
duas
ciênciasdão
como
basecomum
para
suares-posta os fatos estabelecidos.
As
investigaçõesdemonstraram,
de
maneira
indiscutível,que
as diferentes religiões seassemelham
por seus grandes ensinamentos;
por
seusFundadores,
que
ma-nifestam faculdades
sôbre-humanas
euma
elevaçãomoral
extra-ordinárias;
por
seus preceitos éticos; pelosmétodos
que
elasem-pregam
para
entrarem
relaçãocom
osmundos
invisíveis, efi-nalmente, pelos símbolos
que
exprimem
as suas crençasreligio-sas. Estas semelhanças,
que
chegam,
às vezes, até a identidade, provajn—
segundo
as escolasque
nomeamos
—
uma
origem
comum.
Os
dois partidos diferem, entretanto,na
maneira de
definira natureza desta origem.
A
mitologiacomparada
afirmaque
a
origem
comum
éuma
ignorânciacomum
eque
as religiõesmais
transcendentes são apenas a expressão aperfeiçoadade
in-génuas
e bárbaras concepçõesde
selvagens—
homens
primitivos—
referentes à sua própria existência eao
mundo
que
os rodeia.O
animismo, o fetichismo, o cultoda
natureza,o
cultodo
sol:tal é a
vaga
donde emerge
o
lírio esplêndido das religiões.Um
Crisna,um
Buda,
um
Jesus são os descendentesdire-tos,
embora
altamente civilizados, dos curandeiros—
que
secon-torcionam diante dos selvagens boquiabertos.
Deus
éuma
fotografiacomposta
dos inumeráveis deusesque
Tudo
seresume
nesta frase: as religiões sãoramos de
um
tronco
comum
—
a ignorânciahumana.
Em
compensação
—
segundo
a ciência das Religiõescom-paradas
—
todas as religiõestêm
suaorigem
nos ensinamentosde
homens
divinos,que
revelam de
tempos
em
tempos, àsdife-rentes nações, os fragmentos
de
verdades religiosasfundamentais
que
elas estãoem
condiçõesde
compreender;
amoral
ensinadaé
sempre
amesma,
os meios adotados são semelhantes, ossím-bolos são idênticos
em
sua significação.As
religiões selvagens—
-o
animismo
e todas as outras—
são degenerescênciasque
resul-tam
de
uma
longa decadência;,modalidades
desfiguradasde
cren-ças religiosas verdadeiras.
O
cultodo
sol e asformas puras
do
cultoda
naturezafo-ram,
para
sua época, religiões elevadas,extremamente
alegóri-cas,mas
sempre
apresentando verdades econhecimentos
profun-dos.Os
seus grandesFundadores
—
éa
opinião dos hindus,budistas e
de
certonúmero
de
pessoasque
seocupam
dasreli-giões
comparadas,
taiscomo
os teósofos—
formam
uma
Frater-nidade
permanente de
homens
que
já ultrapassaramo
nívelda
humanidade.
Eles se apresentam,em
certosmomentos,
para
es-clarecer e guiar o
mundo,
e sãos os protetores espirituaisda
raçahumana.
Esta tesepode
ser assim resumida:"As
religiões sãoramos
de
um
troncocomum
—
a
Sabedoria divina."Esta Sabedoria divina é
chamada
a Gnose, a Teosofia; e muitos espíritos,em
diferentes épocasda
históriado
mundo,
no
desejo
de
melhor
proclamar
sua crençana
unidade
das religiões,preferiram o
nome
ecléticode
Teósofosa
qualquer
outradesig-nação
de
sentidomais
restrito.O
valor relativo das afirmações dasduas
escolas opostasdeve
ser julgado pelo valor das provas invocadas.
A
forma
degene-rada de
uma
grande
ideiapode
apresentar estreitasemelhança
com
oproduto
aperfeiçoado deuma
ideia grosseira.O
únicomeio
de
reconhecer sehá
degenerescênciaou
evo-lução séria
—
se fosse possível—
éexaminar
osque
foram
nossosantepassados
mais
ou
menos
afastados e os das épocas primitivas.Os
argumentos
apresentadospor
aquelesque acreditam
na
exis-tência
da
Sabedoria são desta natureza.Segundo
suasensinamentos,
excedem
infinitamenteo
nívelda
humanidade
ordinária: as Escrituras sagradas
contêm
preceitos morais,um
ideal sublime, alta poesia, afirmações
profundamente
filosóficas,cuja
grandeza
e belezanão
secomparam
com
os trabalhos mo-dernos oferecidospor
estasmesmas
religiões.Em
outros termos,o
antigo excedeao
recente, enão
o recenteao
antigo.É
impos-sível citar
um
sóexemplo
de
aperfeiçoamento gradual nasreli-giões,
em
geral.Ao
contrário, citam-se casosnumerosos de
en-sinamentos puros
que
degeneraram.
Mesmo
entre os selvagens, pode-se descobrir,estudando
com
cuidado
suas religiões,numerosos
traçosde
ideias elevadasque
eles seriam incapazes
de
conceberpor
simesmos.
Este último
argumento
foi desenvolvidopor
Andrew
Lang.
A
julgarpor
seu livro,The Making
of Religion, este autorpare-ce pertencer antes
ao
campo
das Religiõescomparadas.
Êlemos-tra
a
existênciade
uma
tradiçãocomum
que
os selvagensnão
poderiam
desenvolverpor
simesmos,
suas crenças habituaissendo
das
mais
primitivas e sua inteligência fraca.Sob
essas crençasgrosseiras e ideias deturpadas,
Lang
descobre tradiçõesde
cará-ter sublime, referente à natureza
do
Ser divino ea
suas relaçõescom
a
humanidade.
Se
as divindades são,na
maior
parte, verdadeiros demónios,por
detrás eacima
delas se levantauma
vaga
e gloriosaPresen-ça,
que
nem
sempre
é designada; dela se falasempre
baixo,como
de
um
poder
cheiode
amor
ebondade,
demasiado
ternopara
inspirar
o
terror,demasiado
bom
para
quem
lhe dirige súplicas.Noções
semelhantes encontram-se entre os selvagens que,evi-dentemente^
não
aspoderiam
ter concebido; elaspermanecem
como
testemunhas
eloquentes das revelaçõesde
algum
grande
Instrutor, cuja tradição nebulosa
pode
também
descobrir-se—
de
um
Filhoda
Sabedoria, pelo qual certos ensinamentosforam
dados
numa
época
infinitamente longínqua.É
fácilcompreender
a razão e, até certo ponto, justificara
opinião sustentada pela ciência das Mitologiascomparadas.
Por
toda
a
parte, entre as tribos selvagens, ela vê as crençasreligio-sas revestirem-se
de
formas
abjetas e coincidiremcom
a
faltaabsoluta
de
civilização.Ora,
oshomens
civilizados, descendendo,admitir-se
que
as religiões civilizadas resultemda
evolução dasnão
ci-vilizadas?
£
a primeira ideiaque
acode ao
espírito.Um
estudo posterior emais
cuidadosopode
unicamente
/ mostrar
que
os selvagensde
hojerepresentam
não
os nossos ante-passados,mas
são os descendentes degeneradosde
grandes raçascivilizadas
de
outrora; que,no
seu desenvolvimento, ohomem
primitivo
não
foiabandonado sem
direção,mas
guiado
eforma-do
pelos seus irmãos maiores,de
quem
receberam
as primeiraslições
de
religião ede
civilização.Esta
maneira
de
ver seacha
corroborada pelos fatosde
que
fala
Lang,
mas
surge esteproblema:
"Que
foram
esses irmãos,cuja tradição.subsiste por toda
a
parte?"Dentro
em
pouco
responderemos.Continuando a
nossa investigação,chegamos
agora
a estapergunta:
"A
que
povos
foram
dadas
as religiões?"Aqui
seapresenta
unia
dificuldadeque
todo
o
Fundador
de
religião échamado
a resolver; ela é inerente,como
já vimos,ao
fin?essen-cial
da
religião—
a
aceleraçãoda
evolução—
e a seucorolá-rio,
a
necessidadede
levarem
conta todos os grausda
evolu-ção
individual.Os
homens
pertencem
aos estágiosmais
diversos; algunsapresentam
uma
extrema
inteligência,mas
outrosuma
nascentementalidade; aqui
uma
civilizaçãode
um
desenvolvimento
e
com-plexidade notáveis, láuma
organizaçãorudimentar
e ingénua.Mesmo
nos limitesde
uma
dada
civilização,encontramos
osmais
variados tipos, osmais
ignorantescomo
osmais
instruídos,os
mais
ponderados
como
osmais
descuidados,e
dotadosde
gran-de
espiritualidade e os excessivamente brutais.É
necessário, pois, satisfazer acada
uma
destas categoriasde
seres,ajudando-os
no
que
elesmais
necessitam.Se
a
evolução existe, esta dificudade é inevitável; oInstru-tor divino
deve
abordá-la e vencê-la;de
outromodo,
suaobra
perecerá.
Se
ohomem, como
tudo
oque
o rodeia, estásubmetido
à evolução, estas diferenças
de
desenvolvimento, estes grausde
a
humanidade
e,por
toda a parte,devem
as religiões destemundo
levá-losem
conta.Isto nos obriga
a
reconhecerque
um
único emesmo
ensi-namento
religiosonão
poderia satisfazer auma
mesma
nação,e
muito
menos
ao
mundo
inteiro.Se
não
existisse senãoum
ensi-namento,
muitos
daquelesa
quem
se dirigisseescapariam
total-mente
à sua influência.O
ensinamento
apropriado aoshomens
de
inteligência limitada,de
moralidade
rudimentar,de
sentidosobtusos, os ajudaria e os favoreceria
em
sua evolução,porém
não
ajudaria estamesma
religião aoshomens
pertencentesà
mesma
nação,fazendo
parteda
mesma
civilização,mas
que
apre-sentassem
uma
naturezamoral
viva e impressionável,uma
inte-ligência brilhante e sutil,
uma
espiritualidade crescente.Mas,
por
outro lado, esta última classe precisa ser auxiliada; se ainte-ligência
deve
receberuma
filosofiaque
possaadmirar;
sea
deli-cadeza
das percepções morais deve sermais
trabalhada ainda; sea
natureza espiritual nascentedeve
poder,um
dia, atingir suaplenitude luminosa,
a
religiãodeverá
reuniruma
espiritualidade,uma
intelectualidade emoralidade
taisque
a
sua predicaçãonão
possa afetar
nem
a razão,nem
o coração doshomens
a
quem
primeiro nos referimos; ela
não
apresentarápara
eles senãouma
série
de
frasessem
significação, incapazesde
despertar suainte-ligência
adormecida
ou
de
lhes apresentarum
motivo
elevadoque
permita
noções moraismais
puras.Ao
examinar
estes fatos e considerando o fimda
religião,seu
modo
de
açao, sua origem,a
natureza e as necessidadesva-riadas dos
homens
aquem
se dirige;reconhecendo
a
evoluçãono
homem,
suas faculdades espirituais, intelectuais e morais e anecessidade,
para
cada
um,
de
uma
educação
apropriadaa
seugrau
de
evolução, nóssomos
levadosa
reconhecera
necessidadeabsoluta
de ensinamentos
religiosos variados egraduados
que
sa-tisfaçam
a
estas necessidades diferentes epossam
ajudarcada
ho-mem
individualmente.Ainda
outra razão nos dizque
o
ensinodeve
permanecer
esotérico
no que
se refere a certas verdades, às quais se aplicaessencialmente
a
máxima:
"Saber
é poder".A
promulgação
de
uma
filosofiaprofundamente
intelectual,capaz
de
desenvolverespíritos já
acima
do
comum
e receber a adesãode
altasser difundida
sem
receio,porque
não
interessa aos ignorantesque
dela sedesviam por
achá-la árida, difícil e sem.interesse.Mas
há
ensinamentos relativosà
organização,que
explicam
leis ocultas e esclarecem operações secretas, cujo
conhecimento
dá
a
chave
de
certas energias naturais eque permitem
utilizaressas energias
para
fins determinados,como
o
químico
fazcom
o
produto
de
suas combinações.Semelhantes conhecimentos
podem
serde
grande
utilidadepara
homens
muito
adiantados, permitindo-lhes servircom
mais
eficácia
à humanidade.
Mas
se estas condições fossemvulgari-zadas,
poderiam
ser, e seriam,mal
empregadas,
talcomo
sedeu
com
o segredo dosvenenos
sutisna
Idade
Média,
utilizados pelosBórgias; passariam a
homens
de
inteligência possante»mas
de
desejos imoderados,
homens
animados
de
instintosde
separativi-dade,
procurando
seubem
pessoal e indiferentesao
bem
comum;
estes
homens,
seduzidos pela ideiade
obterum
poder
cuja posseos elevaria
acima
do
nível geral,pondo
a
humanidade
à
suadis-crição,
procurariam
aumentar
seus conhecimentos,de
forma
ase
elevarem
auma
alturasôbre-humana;
e, possuindo-os,tornar--se-iam
mais
egoístas e firmesem
seus sentimentosde
separativi-dade,
mais
orgulhososdo
que
nunca, e seachariam
assimenca-minhados
pela estradaque conduz
ao
diabolismo,o
caminho da
Mão
Esquerda, cujo término éo
isolamentoe não
a união;não
somente
sofreriamem
sua natureza interior,mas
ainda
setorna-riam
um
perigopara
a sociedade,que
tem
já bastante sofridoda
parte dos
homens
cuja inteligência émais
desenvolvidaque
a
consciência.
Daí
a
necessidadede pôr
certosensinamentos
forado
alcance dos que,moralmente,
sãoainda
inaptospara
os receber,medida
que
seimpõe
a todoo
Instrutorque
difunde essesconhe-cimentos.
O
Instrutor deseja transmiti-los aosque possam
ser-vir
ao
bem
geral e acelerar a evoluçãohumana
com
os poderesque
elesconferem;
mas, aomesmo
tempo,
recusa-os aoshomens
que,
em
detrimentode
seus semelhantes, os aplicaria aos seusinteresses pessoais.
Não
são simples teoriaso
que acabamos
de
dizer, eo
afir-mam
osAnais
Ocultos,ao
detalhar os fatosmencionados
na
Gé-nese, cap.
IV
e seguintes.O
ensinamento
era dado, naquelestempos
afastados eno
continenteda
Atlântida,sem
a segurançada
elevação moral,da
pureza edo
altruísmo necessárioao
pos-tulante.
A
instrução eradada
àqueles cuja inteligência erasufi-ciente,
exatamente
como
em
nossos dias se ensina a ciênciaor-dinária.
A
publicidade,que
tanto sereclama
hoje, existia então;ela trouxe seus frutos e os
homens
tornaram-senão
somente
gigantes intelectuais,
mas
também
gigantesde
iniquidades, atéo
momento
em
que
a
terragemeu
sobsua
opressão eo
gritoda
humanidade
tiranizada repercutiu através dosmundos.
Foi
então
que
sedeu a
destruiçãoda
Atlântida,a submersão
deste
imenso
continente naságuas
do
oceano.A
narração
do
dilúvio
de Noé;
nas escrituras hebraicas, a históriade
Vaisvata
Manu,
contada, nas escrituras hindus,no
Extremo
Oriente,dão
alguns detalhes deste acontecimento.
Havia, portanto, perigo
em
deixarmãos
impuras
apossar--se
de
um
saberque
dá
o
poder, e, desde então, os grandesIns-trutores
impuseram
condições rigorosas, exigindo a pureza,o
al-truísmo e
o
domínio de
simesmo
a toda a pessoaque
pedisseser instruída nestas matérias. Eles se
recusam
claramentea
co-municar
conhecimentos
deste género aquem
não
sesubmete
a
uma
disciplina rígida, destinada a eliminar sentimentos einte-resses
com
tendências separatistas; elesligam
mais importância
à
força
do
candidatodo
que
a seu desenvolvimento intelectual,por-que o
próprioensinamento
lhe desenvolveráo
intelecto,desde
que
ponha
em
prova
a sua natureza moral.É
infinitamente preferível,para
osGrandes
Seres,que
sejam
acusados
de egoísmo
pelos ignorantes, pornão
divulgarem
seusconhecimentos,
do
que
precipitar omundo
numa
nova
catástrofe atlante.Tais são os
argumentos
teóricos nos quaisbaseamos
aneces-sidade
da
existência,em
toda religião,de
um
lado oculto.Se
da
teoriapassamos
aos fatos,somos
naturalmente
levados aper-guntar: "Este lado oculto existiu
no
passado, e fez parte dasreligiões deste
mundo?"
A
respostadeve
ser imediata efranca-mente
afirmativa.Todas
as grandes religiõesdeclaram
que
dis-põem
de
um
ensinamento
oculto eque conservam
o
depósito,não
somente
deconhecimentos
místicos teóricos,mas
ainda
de
conhecimentos
místicos práticosou
ciências ocultas.A
interpre-tação mística dos ensinamentos populares era
dada
abertamente;
afirma-ções e às narrações estranhas e
pouco
racionaisum
sentidointe-lectualmente aceitável.
Por
detrásdo
ensino popular,o
misticismo teórico; e,do
mis-ticismo teórico,
o
misticismo prático, oensinamento
espiritualoculto,
que
não
eradado
senão sob condições expressas,claramen-te
comunicadas
e obrigatóriaspara
todo candidato.Clemente
de
Alexandriamenciona
esta divisão dosmisté-rios.
"À
purificação—
diz êle—
sucedem
os MistériosMenores
;
eles constituem
uma
basede
instrução ede
preparação
para
o
grau seguinte;
em
seguida, os Mistérios Maiores, nos quaisnada
mais
restaa
aprender
no
universo:mas
somente
em
contemplar
e
compreender a
natureza e as coisas" 2.No
que
concerne
às religiõesda
antiguidade, esta afirmaçãonão
poderia seracusada de
inexatidão.Os
Mistériosdo
Egitoforam a
glória desta terra venerável, e os maiores filhosda
Gré-cia, tal
como
Platão, se transportaram a Sais e aTebas
para
serem
aí iniciados por egípcios, Instrutoresda
Sabedoria.Na
Pérsia, os mistérios
de
Mitra;na
Grécia, os mistériosde
Orfeu e
Baco
e,mais
tarde, osde
Elêusis,da
Samotrácia,da
Cítia eda
Caldeia,de
todos conhecidos, pelomenos
de
nome.
Embora,
sob
uma
forma
extremamente
degenerada, os mistériosde
Elêusismereceram
o
respeito doshomens
mais
eminentesda
Grécia, taiscomo
Píndaro, Sófocles, Isócrates, Plutarco, Platão. Ligava-se aosmistérios especial importância sob o
ponto
de
vistada
existênciado
além-túmulo
—
o iniciado adquiria osconhecimentos
que
lheasseguravam
a felicidade futura.Sópatro afirma, ainda mais,
que
a iniciação estabeleciauma
aliança entre
a
alma
e aNatureza
divina e,no
hino
exotérico aDeméter,
encontramos
alusões veladas à crença sagrada, laco,à
sua morte, à sua ressurreição, ensinadas nos Mistérios 3.De
Jâmblico, ogrande
teurgodo
terceiro e quarto séculosdepois
de
Cristo,muito
há
aaprender
com
relaçãoao
fim dosmis-térios.
A
teurgia eraa
magia,"a
partemais
adiantadada
ciên-cia sacerdotal; 4
; ela era praticada nos Mistérios Maiores,
para
(2) Clemente de Alexandria, Strotnata, V,' càp. XI.
(3)
Ver
o artigo sobre os mistérios, na Enciclopédia Britânica.(4) Pesello, citado
em
Jâmblico sobre os Mistérios, por Taylor,evocar a aparição dos Seres superiores.
Resumida
em
algumas
palavras,
a
teoriaque
servede
base aos mistérios é a seguinte:Primeiramente,
o
Único, anteriora
todos os seres, imóvel,con-centrado
na
solidãode
sua própria unidade.Dele
emana
o
Deus
supremo,
geradorde
simesmo,
o
Bem,
aFonte de
todasas coisas,
a
Raiz,o Deus
dos Deuses,a
Causa
Primária, cujamanifestação é a luz 5.
Deste
surge oMundo
Inteligívelou
Universo
Ideal, aMente
Universal,o
Nous,
do
qualdependem
os deuses incorpóreos e intelectuais.
Do
Nous
procede
a
Alma
do
Mundo,
à
qualpertencem
as"formas
divinas intelectuais,que
acompanham
os corpos visíveis dos deuses."Em
seguida,vêm
as diferentes hierarquiasde
seressuper-humanos,
osArcan-jos,^ os Arcontes (governadores) os
Gosmocradores,
osAnjos, os
Daimones,
etc.O
homem
constituiuma
ordem
menos
elevada,mas
de
natureza análoga à deles;pode
chegar
a
conhecê-los;a
experiência
mostrou
isto nos Mistérios econduz
àunião
com
Deus
e.
Conforme
as doutrinas professadas nos mistérios, "todas ascoisas
procedem do
Único
epara
elevoltam";
"O
Único
é
su-(5) Jâmblico, pág. 301.
(6)
O
artigo "Mysticism", na Enciclopédia Britânica, dá os detalhesseguintes sobre o ensino de Plotino:
"O
Único (o Deus Supremo) éexal-tado acima do nous e das ideias; Êle está absolutamente acima da
exis-tência; escapa à razão. Permanecendo sempre
em
repouso, Êlefaz jorrar, de Sua própria plenitude
—
como
um
raio—
uma
imagem
de Si mesmo,chamada
nous e que forma o conjunto das ideias domundo
inteligível.
A
alma, por sua vez, é aimagem
ou produto do nouse,
ao moyer-se, gera a matéria física.
A
alma tem,- portanto, duas faces:uma
virada para o nous, donde ela emana, e a outra virada para a vidamaterial que faz nascer de si mesma.
O
esforço moral consisteem
se-parar-se^ do elemento sensível; a existência material é, por si mesma, a
separação de Deus. Para atingir o fim supremo, o próprio pensamento
deve ser abandonado, porque o pensamento é
uma
forma de movimento,e a alma aspira ao repouso imóvel, que é próprio do Único.
A
uniãocom
a divinda-de transcendente não é tanto o conhecimento ou a visão,como
o êxtase, a fusão e o contato."O
Neoplatonismoé, portanto,
"antes de Judo,
um
sistema racionalista;em
outros termos, êle pretendeque a razão é capaz de conceber o Sistema Cósmico
em
sua totalidade.Por outra parte, afirmando
um
Deus superior à razão, o misticismotorna-se,
em
certo sentido, o complemento necessário do racionalismoperior
a
tudo"
7.Demais,
estes diferentes Sereseram
invocadose
apareciam
orapara
instruir, orapara
elevare
purificarapenas
com
a sua presença."Os
deuses benevolentes e misericordiosos—
dizJâmblico
—
difundem
liberalmente a luz aos teurgos;atraem para
eles asalmas
destes, unindo-as a eles e habitando-as,embora
ligadas aos corpos,a
sesepararem
destes ea
evoluírempara
a
únicacausa
eterna e inteligível." Porque,
como
aalma
tem
uma
dupla
vida,uma
com
o
corpo, outra distintado
corpo, é indispensávelapren-der
a
separar aalma do
corpo,a
fimde
que
ela possa, unir-seaos deuses por sua parte intelectual e divina, e aprender,
com
osverdadeiros princípios
do
conhecimento, as verdadesdo
mundo
inteligível.
A
presença dos deuses nosdá
asaúde
do
corpo,a
virtude
da
alma, a purezada
inteligência,numa
palavra,a
voltade
tudo
o
que
estáem
nós às causas próprias ...O
que
não
êcorpo, ela
o
representa cornocorpo
aos olhosda
alma,por
inter-médio
dos olhosdo
corpo.Nas
epifanias dos deuses, asalmas
recebem
a perfeição extraordinária e extrema, e participamdo
amor
divino eda
alegria indivisível."É
assimque
nósobtemos
uma
vida divina e nos tornamos,na
realidade, divinos" 8O
ponto culminante
dos Mistérios eraa
transformaçãodo
Iniciado
em
Deus,
seja pelaunião
com
um
Ser divino exterior,seja abrindo os olhos à existência divina dentro dele.
Este estado
toma
o
nome
de
êxtase;um
ioguehindu
chamá--lo-ia
o
Samadi
superior—
ocorpo
grosseiro caindoem
letargiae
a alma
liberada efetuando sua própriaunião
com
o
Grande
Ser. Este "êxtase
não
é, propriamente,uma
faculdade; éum
estado
da alma
que
a transformade
talmaneira que
percebeo
que
estava, até então, ocultopara
ela.Enquanto
a nossaunião
com
Deus não
for irrevogável, este estadonão
serápermanente;
aqui,
em
nossa vida terrestre,o
êxtase é apenasum
relâmpago.O
Homem
pode
cessarde
serhomem
e tornar-seum
Deus,
mas
não pode
ser,ao
mesmo
tempo,
Deus
ehomem"
*.(7) Livro de Jâmblico sobre os Mistérios, pág. 29.
(8)
O
Livro de Jâmblico sobre os Mistérios, págs. 29, 58, 62,75, 206.
PIotino disse
que
não
tinha conseguido atingir este estado"senão
três vezes"Proclo
também
ensinavaque
o
único
meio
de
salvaçãopara
a
alma
era a volta à suaforma
intelectual;a alma
se furtava, assim,ao
"círculoda
geração ea
todas as suas peregrinações'' eatingia
a
verdadeira existência—
"a
volta à energiasempre
a
mesma
e simplesdo
período caracterizado pelas diferenças".Tal
é
a
vidaà
qualaspiram
os candidatos, iniciadospor
Orfeu
nosMistérios
de
Baco
ede
Prosérpina; tal éo
resultado obtido pela prática das virtudes purificadorasou
catárticas 10.Estas virtudes
eram
exigidaspara
osGrandes
Mistérios,por-que
exerciam
uma
ação
sobrea
purificaçãodo
corpo
sutil,no
qual
funcionava
aalma
quando
deixava ocorpo
grosseiro.As
virtudes políticas
ou
práticaspertenciam
à vida diária; elaseram
exigidas até
um
certo ponto, antesque o
homem
pudesse seapre-sentar à
admissão
numa
escolacomo
aquelasa que
nostemos
referido.
Em
seguida,vinham
as virtudes catárticas, purificando ocorpo sutil,
o
dasemoções
eo
mental
inferior; depois as virtudesintelectuais, próprias
ao
Augoeides,ou
ladoluminoso
da
inteli-gência; finalmente, as virtudes contemplativas
ou
paradigmáticas,pelas quais se
obtém
aunião
com
Deus.Segundo
Porfírio:"Aquele
que
exerce as virtudes práticas éum
homem
de
bem;
o
que
exerce as virtudes purificadoras éum
homem
angélico ou,ainda,
um
bom
daimon.
Quem
exerce as virtudes intelectuais jáé
um
Deus
—
mas
aqueleque
exerce as virtudes paradigmáticasé o Pai dos
Deuses"
**.Nos
Mistérios,muitos
ensinamentosvinham
ainda
dashierar-quias angélicas e
de
outras. Pitágoras, ogrande
Instrutor,que
recebera
a
instruçãona
índia eque comunicava
a seus discípulos"o conhecimento
das coisasque
existem", passapor
ter sidoversado
na
ciência musicala
ponto de
conseguirdomar
aspai-xões
mais
selvagens e iluminar as inteligências.Jâmblico
cita deleexemplos
em
suaVida
de Pitágoras.(10) Taylor, Jamblicus on the Mysteries, pág. 364,
Parece provável
que
o
nome
de
Teodidato
dado a
Amónio
Saccas, mestre
de
Plotino, se referissemenos
à
sublimidadedestes ensinamentos
do
que
à instrução divinaque
lhe eradada
nos Mistérios.
Alguns
dos símbolos usados são explicadospor
Jâmblico
12,que
exorta Porfírioa
esquecera
imagem
da
coisa simbolizadae
atingir
o
seu sentido intelectual. Assim,"a
lama"
representavatudo
o
que
era corpóreo e material;o
"Deus
sentado diantedo
lótus" significava
que
Deus
é superior à matéria eao
intelecto,simbolizados pelo lótus.
Sendo
apresentado"num
navio
em
marcha",
o
símbolo indicavaque
Êle reinava sobreo
mundo.
E
assim sucessivamente 13. Proclo diz—
a propósitodo
costume
de
empregar
símbolos—
que
"o
método
órfico tinhapor fim
a revelação das coisas divinas por
meio
de
símbolos: fatocomum
a todos os autores
que
tratam
da
ciência divina" 14A
Escola Pitagóricada Grande
Grécia foifechada
no
fim
do
sexto século antesde
Cristo,em
consequência das persegui-çõesdo
poder
civil,mas
existiam outrascomunidades
que
guar-davam
a tradição sagrada 15.Segundo
Mead,
Platão aapre-sentou sob
uma
forma
intelectual,a
fimde
que
não
fossepro-fanada; os ritos
de
Elêusis delaguardaram
algumas
formas,sem
conservar o espírito.
Os
neoplatônicosforam
os herdeirosde
Pitágoras e
de
Platão; é preciso estudar seus escritospara
sefazer
uma
idéíada
majestade eda
beleza conservadas, nosMis-térios,
para
a humanidade.
Podemos
tomar
a própria Escola Pitagóricacomo
o
tipoda
disciplina
imposta
aos discípulos.Mead
dá, sobre este assunto,numerosos
e interessantes detalhes 16:"Os
autores antigos estãoacordes
em
declararque
esta disciplina conseguiuformar
mode-los incomparáveis,
não
só pelapureza
perfeitade
seuscostumes
e sentimentos,
mas
aindapor
sua simplicidade, delicadeza e ex-traordinário gostopor
ocupações sérias. Isto éadmitido
pelos(12) Taylor, Jamblicus, pág. 364.
(13) Taylor, Jamblicus, pág. 285.
(14)
Mead,
Orpheus, pág. 59.(15)
Mead,
Orpheus, pág. 30.próprios autores cristãos/'
A
Escola tinha discípulos externosque levavam
vidade
famílias e social;a
citaçãoque
acabamos
de
dar se refere a eles.A
Escola internacompreendia
três graussucessivos: os Ouvintes,
que trabalhavam
sem
falardurante
doisanos, assimilando
da
melhor
maneira
os ensinamentos; osMate-máticos,
que
estudavam,
com
a geometriae a
música, a natureza dosnúmeros,
das formas, das cores e dos sons; finalmente, osFísicos,
que aprendiam
acosmogonia e
a metafísica.Isto
conduzia
aos Mistérios ospropriamente
ditos.As
pessoasque
desejavam
ser admitidasna
Escoladeviam
gozar"uma
repu-tação irrepreensível e ter
um
caráter firme".A
estreitasemelhança
existente entre osmétodos
empregados
e
o
fim colimado
nos diferentes Mistérios e aIoga
indiana,tor-na-se evidente
ao
mais
superficial observador.Mas
istonão
significa
que
ospovos
da
antiguidade ostenham
idobeber
na
Índia; todos os
receberam
na
Grande
Loja
da
Ásia Central, que,a
todas as partes, enviou seus Iniciados. Estesensinavam a
todosas
mesmas
doutrinas eempregavam
o
mesmo
método
conducentesao
mesmo
fim.Os
Iniciados das diferentes naçõesestavam
sem-pre
em
relação constante;empregavam
linguagem
e simbolismocomuns.
Assim
foique
Pitágoras,ao
fazeruma
viagem à
índia,recebeu ali
uma
alta Iniciação, eApoiônio de
Tiana
ali esteve,mais
tarde. Plotino,moribundo, pronunciou
estas palavras,pu-ramente
indianas pelos termoscomo
pelopensamento:
"Procuro
agora
identificaro
Eu
que
estáem mim
com
o
Eu
Universal" 17.Entre
os hindus,o
deverde
não
ensinar osconhecimentos
supremos
aosque não
fossem dignos era rigorosamente observado."O
mistériomais profundo
do
conhecimento
finalnão
deve
serdesvendado
àqueleque
não
fornem
filho,nem
discípulo e cujomental
não
estivercalmo"
18. Alhures, lemos,segundo
uma
definição
da
Ioga: "Levanta-te!Tu
encontraste osGrandes
Seres; escuta-Os !
O
caminho
é tão difícilde
seguircomo
alâ-mina
de
uma
navalha.Assim falam
os sábios" 19.(17)
Mead,
Plotinus, pág. 20.(18) Shvetasvataropanishad, VI, 22.
O
Instrutor é necessário,porque
não
basta apenaso
ensi-no
escrito.O
conhecimento
final consisteem
conhecerDeus
e
não
somente
em
Adorá-Lo
de
longe.O
homem
deve
saberque
a Existência
Divina
é realjem
seguida,que
fée
esperançavagas
não
bastam,que
no
íntimodo
seu próprio Ser é ele idênticoa
Deus
eque
o objetivoda
vida é realizar esta unidade.Mas,
senão
pode
guiar ohomem
para
esta realização,a
reli-gião se tornacomo
o
bronzeque
soaou
como
cimbalo
kjuelretine 20.
O
homem
—
ensinava-se igualmente—
deviaaprender
a
abandonar
seucorpo
grosseiro:"Como
o
homem
dotado
de
reso-lução e constância, ele separa
a
suaalma
do
próprio corpo,como
um
fiode
erva
da
suavagem"
21.Também:
"No
seu invólucrode
ouro—
o
mais
alto—
permanece
imaculado,o
invariávelBrama.
Ê
aLuz
das Luzes, irradiante e branca: osque
conhe-cem
o
Ego
A
conhecem"
22."Quando
o vidente contempla,na
Sua
luzdourada,
o
Criador,o
Senhor,o
Espíritode
que
Brama
éa
matriz—
então, tendoabandonado
tanto o méritocomo
o
demérito, inteiramente puro,
o
sábio atingea
união
suprema"
28.Os
hebreus possuíam,também,
sua ciência secretae
suasEscolas
de
Iniciação.A
assembleiade
profetas presididapor
Samuel,
em
Naiote
24,formava
uma
Escola iniciática cujoensina-.
mento
oral foi transmitido a seus sucessores. Escolas análogasexistiam
em
Betei e Jericó 25, eencontramos
na
Concordância,
de
Cruden
28, esta nota interessante:"As
Escolas,ou
colégios,dos profetas são as primeiras
de
que
encontramos
referênciasnas Escrituras.
Os
filhos dos profetas—
isto é, seus discípulos—
aí
consagravam
seutempo
aos exercíciosde
uma
vida retiradae
austera,
ao
estudo,à
meditação
e à leitura das leide
Deus
. .. (20) I Coríntios, XIII, 1. (21) Kathopanishad, VI, 17. (22) Mándakopanishad, II, 9. (23) Mandakopanishad, III, 1, 3. (24) I Sam,