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Oliveira, Marlene (Coord) Et Al Ciencia Da Informação E Biblioteconomia

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Academic year: 2021

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CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA

NOVOS CONTEÚDOS E ESPAÇOS DE ATUAÇÃO

Marlene de Oliveira

Coordenadora

Beatriz Valadares Cendón Eliany Alvarenga Araújo Francisca Rosalina Leite Mota

Guilherme Atayde Dias Maria Eugênia Albino Andrade

Belo Horizonte Editora UFMG

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Universidade Federal de Minas Gerais

Reitora: Ana Lucia Almeida Gazzola Vice-Reitor: Marcos Borato Viana

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Revisão e normalização: Lourdes da Silva do Nascimento

Editoração de texto: Ana Maria de Moraes Revisão de provas: Edilene Soares da Cruz e Warley Matias de Souza

Produção gráfica: Eduardo Ferreira

© 2005, Os Autores | © 2005, Editora UFMG

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

C569

Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação / Beatriz Valadares Cendón... [et al]. ; Marlene de Oliveira Coordenadora. - Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

143 p. - (Coleção Didática) Inclui referências.

ISBN: 85·7041-473-0

1. Ciência da Informação. 2. Biblioteconomia. I. Cendón, Beatriz Valadares. II. Oliveira, Marlene de. III. Série.

CDD: 020 CDU: 02

Ficha catalográfica elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogação da Biblioteca Universitária

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...4

CAPÍTULO I - Origens e Evolução da Ciência da Informação...6

CAPÍTULO II - A Produção de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas...24

CAPÍTULO III - A Ciência da Informação no Brasil ...36

CAPÍTULO IV - Sistemas e Redes de Informação ...50

CAPÍTULO V – Formação e Atuação Profissional...81

CAPÍTULO VI – A Atuação Profissional do Bibliotecário no Contexto da Sociedade Informação: os novos espaços de Informação...93

ANEXO A – Localização de Bibliotecas das Instituições Universitárias Federais e Estaduais...102

ANEXO B – Escolas de Biblioteconomia no Brasil...106

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INTRODUÇÃO

A intenção deste livro é proporcionar aos iniciantes no estudo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia alguns conhecimentos fundamentais, na opinião de alguns autores proeminentes na literatura da área.

Para entender uma área ou tema é imprescindível o conhecimento da sua gênese, sua história, assim como das condições econômicas, sociais e culturais em que se desenvolveram. No Brasil, a Ciência da Informação e a Biblioteconomia trabalham em parceria desde a introdução da primeira na década de 1950, por bibliotecários. Foi um grande avanço naquela época trazer conceituações e técnicas para organizar e disseminar os registros de conhecimentos (documentos) existentes em bibliotecas e centros de documentação brasileiros.

Vive-se hoje outro momento importante em que os documentos e outros registros de conhecimento migram para a era digital, fato que ao desencadear modificações nos conceitos da área conduz seus pesquisadores ao desafio de repensar a biblioteca, a localização e o acesso aos documentos.

Na tentativa de contribuir com essa nova visão, foram escolhidos temas que agregam os entendimentos básicos das duas referidas disciplinas. O primeiro capítulo traz o entendimento de Ciência da Informação trabalhado pela UNESCO e adotado por consultores do CNPq. Explica também os paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. O segundo capítulo traz uma visão geral dos diferentes tipos de conhecimento produzidos pela sociedade. Tais conhecimentos são organizados nas bibliotecas na forma de documentos. Foi realizado um breve relato sobre a história das bibliotecas no Brasil e os diferentes tipos de bibliotecas. Ao final, explicam-se as diferentes funções de uma biblioteca.

O terceiro capítulo discorre sobre a introdução da Ciência da Informação no Brasil e os aspectos da sua dimensão científica, esta analisada segundo as seguintes categorias: Instituições de ensino e pesquisa; Recursos Humanos qualificados; Comunicação e intercâmbio científico.

O quarto capítulo tem como temática os sistemas e redes de informação, Traça a história e os caminhos de desenvolvimento dos sistemas de recuperação da informação; descreve o desenvolvimento da indústria on-line e suas grandes bases de dados, os diversos tipos de sistemas de informação e formas de acesso e aborda as principais redes e sistemas

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de informação no Brasil.

O quinto capítulo inclui aspectos da formação do profissional de informação, na perspectiva de que o bibliotecário tem espaço privilegiado no exercício de todas as atividades ressaltadas. Explica o acesso à profissão, as habilidades necessárias, assim como alguns contextos de atuação profissional. O sexto capítulo apresenta uma reflexão sobre a função do bibliotecário na sociedade de informação e identifica serviços e produtos de informação no referido contexto.

O conjunto de textos aqui organizados procura, de uma maneira geral, oferecer algumas conceituações fundamentais da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. As questões abordadas, contudo, são introdutórias, dirigidas a iniciantes no campo de trabalho com informação, e não se esgotam aqui, mas abrem espaços para muitas reflexões.

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CAPÍTULO I - Origens e Evolução da Ciência da Informação

Marlene de Oliveira

Existe uma vasta literatura a respeito da fundamentação teórica que sustenta a Ciência da Informação, e quanto à origem desta, a qual reflete as diversas tentativas da comunidade da área de trazer a luz seus entendimentos sobre o que, propriamente, vem a ser Ciência da Informação, qual é o seu objeto de estudo (a informação) e quais as suas relações com outras disciplinas (interdisciplinaridade).

1.1 Antecedentes Sociais

Assim como outros campos interdisciplinares (Ciência da Computação, Comunicação Social, Ecologia), a Ciência da Informação nasceu no bojo da revolução científica e técnica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Para alguns autores, a história da Ciência da Informação sofreu influências marcantes de duas disciplinas, que contribuíram não só para sua gênese, mas, também, para seu desenvolvimento: a Documentação, que trouxe novas conceituações; e a Recuperação da Informação, que viabilizou o surgimento de sistemas automatizados de recuperação de informações. Alguns autores que consideram tais disciplinas como antecedentes da Ciência da Informação são Harmon (1971), Saracevic (1992) e Pinheiro (1997). A seguir, será apresentado um breve histórico ressaltando a importância de cada um desses pilares.

1.2 Documentação e Ciência da Informação

Com a Revolução Industrial deflagrada em toda Europa e nos Estados Unidos, no final do século XIX, a quantidade de informações registradas cresceu de forma assustadora, e várias tentativas foram feitas para realizar um levantamento bibliográfico universal. A iniciativa mais importante foi assumida pelos advogados belgas Paul Otlet e Henri La Fontaine, que acreditavam poder solucionar o problema que era o de levar ao conhecimento de cientistas e interessados toda a literatura científica e todos os produtos do conhecimento gerados no mundo. Para isso, planejaram a criação de uma biblioteca universal a fim de divulgar, em fichas, os dados bibliográficos relativos a todos os documentos indexados. A

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biblioteca universal seria de referência dos produtos e não de reunião de acervos. Para coordenar tais atividades foi criado o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), que começou a criar ferramentas para registrar, de forma sistemática e padronizada, as referências dos documentos.

Uma das primeiras preocupações do IIB era a de desenvolver um sistema de classificação único, a ser adotado por todos na indexação dos documentos, uma vez que a biblioteca universal seria uma biblioteca de referências. Assim surgiu a Classificação Decimal Universal (CDU), que oferecia a possibilidade de tratar outros tipos de documento além do livro e de outros produtos impressos. Outro fato relevante foi a elaboração, por Paul Otlet, do conceito de documento, que passou a ser "o livro, a revista, o jornal, a peça de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a música, o disco, o filme e toda a parte documentária que precede ou sucede a emissão radiofônica. São amostras, espécimes, modelos fac-símiles e, de maneira geral, o que tenha caráter representativo, com três dimensões e, eventualmente, em movimento". Essa nova visão de registros de conhecimento modificou a atuação do IIB, que foi transformado, em 1931, em Instituto Internacional de Documentação (IID), já com a preocupação de fornecer meios de controle para os novos tipos de suporte do conhecimento. Em 1938, esse instituto foi transformado em Federação Internacional de Documentação - FID, órgão máximo da área, que permanece atuante até hoje.

O conceito de documento ampliou o campo de atuação dos profissionais da área ao ultrapassar os limites do espaço da biblioteca e agregar novas práticas de organização e novos serviços de documentação. Por isso, o Instituto Internacional de Bibliografia pode ser compreendido como acontecimento importante na gênese da Ciência da Informação, do qual brota a idéia de bibliografia como registro, memória do conhecimento científico, desvinculada dos organismos como arquivos e bibliotecas, e de acervos. A idéia de criação da Biblioteca Universal de Paul Otlet e Henri La Fontaine não foi implementada, mas a iniciativa deixou como legado, para os profissionais de informação, novos conceitos, como o de documento, de bibliografia e a Classificação Decimal Universal.

1.3 O Surgimento dos Sistemas Automatizados de Recuperação da Informação

Outro pilar, considerado sustentáculo para o surgimento da Ciência da Informação, é a Recuperação da Informação.

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desenvolvidos, um grande interesse pelas atividades de ciência e tecnologia, ocasionando um aumento considerável de conhecimentos. Este fenômeno, denominado como "explosão de informação" ou explosão de documentos, caracterizou-se por um crescimento exponencial de registros de conhecimento, particularmente em ciência e tecnologia.

Tal fenômeno trazia em seu bojo um problema básico, que era a tarefa de tornar mais acessível um acervo crescente, proveniente daqueles registros. Novamente o problema de tornar acessíveis grandes massas de documentos, já levantado pelos iniciadores da Documentação, repete-se no surgimento da recuperação automatizada da informação.

Em artigo publicado em 194511 um respeitado cientista do MIT (Massachussets

Institute of Tecnology - USA), Vanevar Bush, chefe do esforço científico americano durante a

Segunda Guerra Mundial, identificou e definiu o problema de tornar acessível o acervo crescente de conhecimentos e propôs uma solução. A proposta era a de usar as incipientes tecnologias de informação para combater tal problema. Ele chegou a propor uma máquina com capacidade de "associar idéias", que duplicaria os "processos mentais artificialmente".

Na década de 1950, muitos cientistas, engenheiros e empreendedores começaram a trabalhar sobre o problema e na solução apontada por Bush. Com efeito, naquela época, o emprego do computador no tratamento e na recuperação da informação de maneira sistemática trouxe novas perspectivas para os serviços de biblioteca e de informação, notada mente, nas indústrias. O computador permite um comportamento mais preciso e racional no tratamento da informação, além de possibilitar a manipulação de grande massa de dados.

O termo recuperação da informação foi cunhado por Mooers (1951) como um termo que "engloba os aspectos intelectuais da descrição de informações e suas especificidades para a busca, além de quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas empregados para o desempenho da operação". A concepção de recuperação proposta por Mooers contém três perguntas básicas:

• Como descrever intelectualmente a informação? • Como especificar intelectualmente a busca?

• Que sistemas, técnicas ou máquinas devem ser empregados?

As atividades desenvolvidas no âmbito da temática "recuperação da informação" conduziram a estudos teóricos e conceituais sobre a natureza da informação; a estrutura do conhecimento e seus registros (incluindo a bibliometria); os estudos relativos ao uso e aos

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usuários de informação; estudos do comportamento humano frente à informação a interação homem-computador, dentre outros. Enfim, a recuperação da informação possibilitou o surgimento dos sistemas automatizados de informação.

O trabalho com a recuperação de informações deu subsídio para o desenvolvimento de inúmeras aplicações bem-sucedidas (produtos, sistemas, redes, serviços). Segundo Pinheiro (1997), a evolução da recuperação da informação é vista como a grande responsável, não a única, mas a mais forte, pelo surgimento da Ciência da Informação. Na verdade, a Ciência da Informação progrediu para abarcar muito mais que a recuperação da informação, mas problemas relacionados à recuperação estão presentes no seu núcleo.

1.4 Gênese da Ciência da Informação

É uma tarefa difícil precisar o surgimento de uma nova ciência, mesmo em se tratando de uma disciplina científica recente, como é o caso da Ciência da Informação.

A ênfase nessa atividade que veio a se denominar Ciência da Informação deve-se ao seu esforço para enfrentar os problemas de organização, crescimento e disseminação do conhecimento registrado, que vem ocorrendo em proporções geométricas, desde logo após a Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse sentido, a Ciência da Informação nasceu para resolver um grande problema, que foi também a grande preocupação tanto da Documentação quanto da Recuperação da Informação, que é o de reunir, organizar e tornar acessível o conhecimento cultural, científico e tecnológico produzido em todo o mundo.

Um evento importante é apontado por Meadows (1991) para o desenvolvimento da área. Segundo ele, a disciplina passou por uma acentuada evolução após a Segunda Guerra Mundial, ocasionada pelo surgimento da Teoria Matemática da Informação, descrita por Shanon e Weaver2 no final dos anos 1940. Essa teoria, adotada por muitas outras áreas, explica os problemas de transmissão de mensagens através de canais mecânicos de comunicação. O princípio de toda comunicação implica na transmissão de uma mensagem entre uma fonte (emissor) e um destino (receptor) utilizando um canal. O emissor ou fonte pode ser um indivíduo, um grupo ou uma empresa. O receptor ou destinatário é quem recebe a mensagem. Esse modelo de comunicação, elaborado por engenheiros para comunicação entre máquinas, não atendeu às necessidades teóricas da Ciência da Informação, uma vez

2 A teoria da comunicação de Claude Shannon e Warren Weaver foi descrita no Mathematical theory of

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que, ao se tratar de pessoas, o receptor é submetido a um fluxo de mensagens que chegam de todos os lados, sendo necessária uma seleção para compreender aquelas que interessam particularmente a um indivíduo. A contribuição da teoria para o desenvolvimento teórico da Ciência da Informação foi pequena, mas importante para a sua história, uma vez que atraiu a atenção para a necessidade de se definir claramente o caráter da informação com que os profissionais da área se preocupavam.

A data de 1958 é assinalada como um dos marcos na formalização da nova disciplina, quando foi fundado, no Reino Unido, o Institute of Information Scientists (IIS). Alguns autores descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas especializadas (em indústrias e outras organizações) e especialmente pela ênfase dada por estas à idéia de documentação. Na indústria moderna houve uma crescente demanda de informação para maior desempenho das organizações. Então, alguns cientistas qualificados se deslocaram para a área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção com o intuito de estabelecer um serviço de informação ativo para seus colegas. Eles se consideravam como cientistas da informação, já que eram cientistas que pesquisavam para cientistas. Como a atividade se expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para aqueles que optavam por essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a se chamar ciência da informação. O uso do termo cientista da informação pode ter tido a intenção de distinguir os cientistas da informação dos cientistas de laboratório, uma vez que o interesse principal daqueles membros era a organização da informação científica e tecnológica (Ingwersen, 1992). Os membros denominados cientistas da informação eram profissionais de várias disciplinas que se dedicavam às atividades de organizar e suprir de informação científica seus colegas pesquisadores de P & D (Foskett, 1969; Meadows, 1991; Ingwersen, 1992).

Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com que o computador afetou a estrutura dentro da qual a Ciência da Informação opera. Como outros campos científicos de natureza semelhante, por exemplo, a Ciência da Computação, a Ciência da Informação tem sua origem na esteira da revolução científica e técnica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Segundo alguns autores, como Saracevic (1992), as novas tecnologias projetam-se sobre a Ciência da Informação da mesma maneira que o fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, há consenso entre estudiosos da Ciência da Informação de que ela está inexoravelmente conectada à tecnologia da informação. A recuperação da informação, que teve papel importante no surgimento da área, guarda em sua evolução as associações da ciência com a tecnologia da

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informação.

Os avanços da informática desde a década de 1960 transformaram e estimularam as atividades de armazenamento e recuperação da informação. Com a utilização do computador, a Ciência da Informação passou a enfrentar novos desafios. Assim, da atividade de recuperar informações emergiram novas questões a serem estudadas, necessidades de novas conceituações e construções teóricas, empíricas e pragmáticas. O impacto dos computadores e das telecomunicações 110 gerenciamento da informação foi tão grande que hoje a Ciência da Informação e tecnologia da informação estão freqüentemente juntas 1101 discussão sobre o percurso da área.

1.4.1 Conceituação da área

A Ciência da Informação é um campo científico recente, e, portanto, ainda em construção. Cada disciplina científica possui conceitos e teorias consistentes, reconhecidas e partilhadas por sua comunidade. Com cerca de 30 anos de existência, a Ciência da Informação não conta, ainda, com uma construção teórica que integre todos os seus conceitos e práticas. Por isso, opera baseando-se em construções teóricas mais ou menos fragmentadas. Por exemplo, a Representação da informação seria uma, Estudo de usuários outra etc.

Desde o seu surgimento, muitos estudiosos da área já conceituaram o que é Ciência da Informação. Alguns apresentam uma visão ampla da área, outros têm dela uma visão mais restrita, dependendo do entendimento do autor sobre o que é informação e seu universo de atuação. Apresentam-se, a seguir, algumas conceituações da área, de forma sucinta, por sua relevância e atualidade.

Borko (1968) definiu a Ciência da Informação como uma disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo e os meios de processamento para otimizar sua acessibilidade e utilização. Relaciona-se com o corpo de conhecimento relativo à produção, coleta, organização, armazenagem, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação.

As idéias de Borko, ao conceituar a nova disciplina, apontam a essência do problema que orienta o campo da Ciência da Informação: organizar e disponibilizar para uso as informações sobre o que é produzido culturalmente.

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quanto à sua evolução e ao enfoque contemporâneo. Ele a redefiniu como

(...) um campo dedicado a questões científicas e à prática profissional, voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de registros de conhecimento entre seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais. (Saracevic, 1996, p. 47)

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão federal de financiamento à pesquisa no País, adotou uma conceituação para a área para assim administrar a demanda de financiamento à pesquisa. Essa definição foi descrita no documento Avaliação e Perspectiva, CNPq (1983), que analisa a Ciência da Informação, a Biblioteconomia e a Arquivologia. Tal documento, que descreve as atividades da área de Ciência da Informação, no Brasil, foi elaborado por uma comissão composta por consultores de tais disciplinas. A conceituação da área, elaborada por aquela comissão, apoiou-se nas orientações da UNESCO, que, então, estimulava a criação de uma infra-estrutura de informação como base de sistemas nacionais de informação. No contexto daquele documento a área é assim definida:

Ciência da Informação designa o campo mais amplo, de propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e utilização de informações em todos os campos do saber. (CNPq. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVA, 1983, p. 52)

No entendimento daqueles consultores, a biblioteconomia e a arquivologia são disciplinas aplicadas, que tratam da coleta, da organização e da difusão de informações preservadas em diferentes tipos de suportes materiais. Diferenciam-se, basicamente, pelo fato de que as bibliotecas e outros órgãos assemelhados lidam com a necessidade de prover os usuários com informações substantivas sobre o universo dos conhecimentos, ou parte deles, enquanto que os arquivos lidam com aqueles documentos que foram produzidos como resultado das atividades desenvolvidas por uma pessoa física ou jurídica e que, portanto, documentam essas atividades. (CNPq. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVA 82,1983)

Percebe-se no estudo daquele documento que a Ciência da Informação é vista como uma grande área na qual estão abrigadas subáreas, como d Biblioteconomia e a Arquivologia, disciplinas mais voltadas para a aplicação de técnicas, o que não quer dizer que no âmbito daquelas disciplinas não se realizem pesquisas ou se produzam novos conhecimentos. Percebe-se que tal entendimento da área é bastante flexível, com possibilidades de distender-se para abrigar novas habilidades ligadas às novas atividades de

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informação.

A Ciência da Informação se desenvolveu no Brasil, mais do que nos países centrais, imbricada com a Biblioteconomia, mesmo sendo orientadas por paradigmas diferentes, o que será visto mais adiante.

1.4.2 O objeto da Ciência da Informação

A Ciência da Informação, desde o seu surgimento, padece de dificuldades para isolar e descrever seu objeto de pesquisa, a informação. Há muitas definições para o termo informação, que conduzem às diferentes visões dos autores sobre o que é um processo de informação.

Como agravante para o entendimento do termo é preciso relembrar que esse objeto não é exclusivo da Ciência da Informação. A informação é preocupação de pesquisa da Comunicação Social, da Ciência da Computação, da Biologia e de outros campos de estudo. O fenômeno é visto e interpretado de forma diversa pelas diferentes áreas.

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que, na ótica da Ciência da Informação, o objeto "informação" é uma representação. Como é uma representação de conhecimento, que já é uma representação do real, ela se torna uma representação de representação. Por isso, a informação é um objeto complexo, flexível, mutável, de difícil apreensão, sendo que sua importância e relevância estão ligadas ao seu uso.

Grande parte dos autores analisados enxerga a informação como conhecimento. Ela é algo que ajuda na resolução de um problema ou completa uma lacuna no conhecimento da pessoa, conforme cada necessidade. Nessa linha, Brooks (1980) afirma que informação produz efeitos no usuário e propõe a seguinte equação como forma de sistematizar o processo de informação: K(S) + ∂K = K (S + ∂S)

| ∂ |

A equação exprime a passagem de um estado de conhecimento que é K(S) para outro de conhecimento expresso por K(S + ∂S). Os signos ∂K significam a contribuição de um conhecimento extraído de uma informação que é expressa por ∂|, então, o efeito dessa modificação é ∂S.

Muitos autores consideram a informação como um resultado da interpretação do indivíduo. Isto é, o usuário é quem lhe confere importância e confiabilidade, sendo que a

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apreensão do dado e/ou fato se relaciona a um conhecimento preexistente do indivíduo. A informação é um conhecimento3 inscrito (gravado) sob a forma escrita (impressa ou

numérica), oral ou audiovisual. A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Essa inscrição é feita graças a um sistema de signos (a linguagem), signos estes que são elementos da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuação. (Le Coadic, 1996)

O objeto da área, a informação, conforme Pinheiro (2002), está imerso em um campo vasto e complexo de pesquisas que, por tradição, se relacionam a documentos impressos e a bibliotecas. No entanto, a informação de que trata a Ciência da Informação não se restringe a documentos impressos, pode ser percebida em conversas entre cientistas e outros tipos de comunicação informal. Ela se apresenta também em uma inovação para o setor produtivo, na forma de patente, fotografia ou objeto, no registro magnético de bases de dados, numa biblioteca virtual ou repositório na Internet.

Para facilitar a tarefa sobre o entendimento do que venha a ser informação, Pinheiro (1997) extraiu dos escritos de vários autores os seguintes atributos de informação:

• A informação tem o efeito de transformar ou reforçar o que é conhecido, ou julgado conhecido, por um ser humano;

• É utilizada como coadjuvante da decisão;

• É a liberdade de escolha que se tem ao selecionar uma mensagem;

• É algo necessário quando enfrentamos uma escolha (a quantidade de informação requerida depende da complexidade da decisão a tomar);

• É matéria-prima de que deriva o conhecimento;

• É trocada com o mundo exterior, e não meramente recebida; • Pode ser definida em termos de seus efeitos no receptor.

A informação é um fenômeno tão amplo que abrange todos os aspectos da vida em sociedade; pode ser abordado por diversas óticas, seja a comunicacional, a filosófica, a semiológica, a sociológica, a pragmática e outras. Essa multiplicidade de possibilidades de

3 Le Coadic esclarece que conhecimento (um saber) é resultado do ato de conhecer. ato pelo qual o espírito

apreende um objeto. Conhecer é ser capaz de formar a idéia de alguma coisa: é ter presente no espírito. Isso pode ir da simples identificação (conhecimento comum) à compreensão exata e completa dos objetos (conhecimento científico).

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análise do fenômeno conduz a uma reflexão sobre a natureza interdisciplinar4, ou até transdisciplinar5, da área, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade científica,

por outro, fragmenta-se ao abordar diferentes temáticas relacionadas ao binômio informação/comunicação.

1.5 A Natureza Interdisciplinar da Ciência da Informação

Há unanimidade entre os praticantes e pesquisadores da Ciência da Informação sobre o fato de esta ser um campo interdisciplinar6. Isso significa que os problemas da área, tanto os de natureza teórica quanto os técnicos, têm sido equacionados com a participação de outros ramos do conhecimento.

Na opinião de Saracevic (1992), a interdisciplinaridade foi introduzida na Ciência da Informação pela variedade de antecedentes de todas as pessoas que se ocuparam com seus problemas (já descritos). Entre os pioneiros havia engenheiros, bibliotecários, químicos, lingüistas, filósofos, psicólogos, matemáticos, cientistas da computação, homens de negócios e outros, oriundos de diferentes profissões ou ciências. Nem todas as disciplinas das quais tais pessoas se originaram tiveram contribuição relevante, mas essa multiplicidade de visões na construção da área foi responsável pela introdução e pela permanência do objetivo interdisciplinar na Ciência da Informação.

A participação de outros campos do conhecimento na Ciência da Informação permanece em função da complexidade dos problemas a serem equacionados pela área, o que exige a contribuição de diferentes profissionais e/ou pesquisadores.

Dentre as disciplinas com as quais a Ciência da Informação tem trabalhado distinguem-se: Biblioteconomia, Ciência da Computação, Comunicação Social. Administração, Lingüística, Psicologia, Lógica, Matemática, Filosofia/Epistemologia.

A aproximação dos praticantes da área com outros campos de conhecimento, segundo Ingwersen (1992), foi motivada pela necessidade de se resolverem problemas teóricos da Ciência da Informação. Na opinião do autor, contudo, houve um exagero na

4 O termo interdisciplinaridade aqui empregado trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um

novo nível de discurso, caracterizado por uma nova linguagem.

5 A transdisciplinaridade é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade, É

conseqüência normal da síntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida (Weeil, 1993).

6 O termo interdisciplinaridade, empregado aqui, trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando nível de discurso, caracterizado por uma linguagem (Weeil, 1993).

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busca de aproximação com outras disciplinas por parte da Ciência da Informação. Ao tentar resolver problemas teóricos, a comunidade tem trabalhado em demasia 110S espaços fronteiriços da Ciência da Informação. Dessa maneira, a busca da interdisciplinaridade, sem muita reflexão, pode estar tornando-a vulnerável em vez de resolver sua fragmentação.

1.6 Ciência da Informação e Biblioteconomia

Como já foi dito, a Ciência da Informação é um conjunto de teorias e práticas e, como campo científico, produz intercâmbio com outras disciplinas. Uma delas é a Biblioteconomia, área com a qual ela tem falado mais de perto, pelo menos na realidade brasileira.

A Ciência da Informação não é uma evolução da Biblioteconomia, conforme a crença de alguns autores, uma vez que cada uma delas se baseia em orientações paradigmáticas diferenciadas. As teorias da Ciência da Informação aliadas às novas tecnologias de informação vêm contribuindo com novas práticas e serviços bibliotecários. Como já mencionado, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação trabalham juntas na busca de solução para o mesmo problema que orienta a área; contudo, representam campos científicos norteados por paradigmas diferentes. Vale salientar que o conceito de paradigma aqui utilizado se sustenta nas idéias de Thomas Kuhn. Segundo esse historiador da Ciência, o paradigma é visto como um modelo ou padrão de ciência que é compartilhado por uma determinada comunidade. Dentro desse conceito não caberiam, portanto, as propostas de teorias, caminhos teóricos e metodológicos ainda não compartilhados.

1.6.1 O paradigma da Biblioteconomia

A abordagem dada a este tópico se fixa em autores que buscaram os paradigmas da área por meio do exame da literatura produzida. Um desses autores é Francis Miksa (1992). Conforme seus achados, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação representam campos científicos orientados por paradigmas diferentes. O paradigma da Biblioteconomia, segundo o autor, consiste em um grupo de idéias relacionadas com a biblioteca, então considerada como uma instituição social. Suas origens encontram-se nos trabalhos de estudiosos da Escola de Biblioteconomia de Chicago, durante os anos 1920 e 1930. Tal paradigma desenvolveu-se usando idéias e metodologias buscadas nos campos da Sociologia e da Educação. O ponto focal desse paradigma é a biblioteca em si mesma. Através dele, ela é

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vista como uma instituição social e, mais especificamente, como uma organização social bem definida e única. Como toda organização social, a biblioteca tem material organizacional e características intelectuais que servem como significado para expressar suas funções em uma estrutura social.

Nesta visão é possível identificar, nas funções da biblioteca, três propriedades, que pressupõem as bases: material, profissional e organizacional, as quais efetivam o exercício de tais funções.

Propriedades materiais: incluem coleções de objetos representando o conhecimento (documentos) e equipamentos especializados.

Propriedades organizacionais: referem-se ao conjunto de estruturas administrativas e de pessoal.

Propriedades intelectuais: englobam a idéia de sistema, como, por exemplo, sistema de classificação, estrutura de catalogação, política de seleção.

Dentre as funções da biblioteca, no entanto, a mais importante é a de dar acesso à sua coleção de documentos.

Sob o enfoque deste paradigma, a biblioteca existe, principalmente, para tornar possível o uso, por um dado público, de suas coleções de documentos. Para isso, ela exerce várias tarefas, tais como aquisição, organização e arranjo físico dos materiais coletados. O exercício dessas tarefas exige ferramentas apropriadas e pessoal especializado, o que vai desde a seleção e a aquisição até a recuperação das coleções e o seu uso.

Em resumo, o paradigma da biblioteca como uma instituição social conhecida - a biblioteca - é caracterizado em termos de sua propriedade institucional e de suas funções. Tal paradigma abarca também a instituição em um contexto amplo, envolvendo um processo de mudança social em que indivíduos, embora apenas lendo, usam o estoque de conhecimento social na condução de suas vidas, facilitando, assim, o processo social geral.

A função social da biblioteca enquanto uma instituição social está, principalmente, em ser o fio condutor entre indivíduos e o conhecimento do que eles necessitam.

É importante ressaltar dois pontos principais que fragilizaram a manutenção do paradigma em questão. O primeiro diz respeito à preocupação excessiva das bibliotecas em armazenar e manter acervos para uma possível utilização considerando o documento mais importante que as muitas informações nele contidas. Outro ponto foi sua preocupação menor com os usuários. Apesar das muitas pesquisas existentes sobre usuários, a metodologia utilizada esteve sempre centrada na avaliação dos serviços da biblioteca, e não nos

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problemas fiasses usuários. Essa posição equivocada dos estudos de usuários tem dificultado a concretização da tão almejada função social da biblioteca. /\s mudanças ocorridas na instituição, nas últimas décadas, segundo Almeida Júnior (2002), ativeram-se ao mínimo imprescindível para atender aos reclamos da sociedade. Presume-se que tais mudanças não tenham sido profundas e nem consensuais, concretizando apenas o suficiente para não sofrerem um rompimento paradigmático.

1.6.2 O paradigma da Ciência da Informação

O paradigma da Ciência da Informação compõe-se de um grupo de idéias relativas ao processo que envolve o movimento da informação 11m um sistema de comunicação humana. Este paradigma surgiu nos anos 1950, quando as idéias da engenharia de comunicações e teorias cibernéticas obtiveram êxito na representação das propriedades do sistema de transmissão de sinais em termos matemáticos. Tornou-se, então, a base das tentativas para caracterizar e modelar o processo de recuperação da informação e/ou do documento.

Este paradigma tem influenciado profundamente o campo da Biblioteconomia, contribuindo não só com a palavra "informação" para denominar o novo campo, mas, também, suprindo a área com um conjunto completamente novo de termos com os quais os praticantes caracterizaram suas atividades. O paradigma evidencia particularmente o fluxo de informação que ocorre em um sistema no qual objetos de representação do conhecimento (documentos) são buscados e recuperados em resposta à pergunta iniciada pelo usuário. Isso pressupõe uma grande extensão de assuntos específicos envolvendo processos também específicos - por exemplo, a criação e o crescimento do volume de documentos na sociedade, a organização e a recuperação desses documentos e/ou da sua representação e também o seu uso. Esse modelo de sistema de informação tem origem em um contexto mais geral, que é a teoria matemática da comunicação. A teoria consiste em um ponto de origem (emissor), um canal pelo qual passa a informação e um ponto de destino (receptor), com possibilidade de codificação e decodificação para fins de retroalimentação.

Essa estrutura tem sido aplicada em bibliotecas como modelo de recuperação de documentos e para caracterizar agências que se dedicam às atividades tanto de Biblioteconomia quanto de Ciência da Informação. O modelo permitiu estudo sobre fluxos de informação em agências públicas e privadas, entre membros de uma disciplina, profissões,

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especialistas etc.

A importância desse paradigma para a área, segundo Miksa (1992), se expressa em três idéias básicas:

1. Permitiu a formalização da idéia de que informação é algo que flui dentro de um sistema. A partir daí, surgiram os conceitos de entropia e incerteza, redundância, retroalimentação, sinal para taxas de ruídos;

2. A informação passou a ser entendida como algo divisível dentro de unidades feitas em partes, num sistema;

3. A idéia de movimento da informação tem intensificado a busca de entendimento da informação em si mesma. A princípio tal movimento foi discutido como fenômeno físico - isto é, como a transmissão de sinais mensuráveis -, o que tornou flexível o conceito principal do paradigma. Depois foram acrescentados outros domínios do movimento da informação, por exemplo, aqueles relacionados ao fluxo de idéias, significados, ou mensagens cheias de significados envolvidos com a semiótica e a semântica.

No campo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, este paradigma tem, então, como fenômeno central o movimento da informação em um sistema de comunicação. O processo é modelado em termos de fluxo da informação entre dois pontos através de um canal, permitindo, para controle, a incorporação do feedback.

Este paradigma também contém fragilidades que não puderam ser superadas. O fato de originar-se da Teoria Matemática da Comunicação, idealizada para transmissão de sinais, ao ser transposto para o ambiente da Ciência da Informação, não permitiu considerar os aspectos cognitivos da informação e nem o desejo do usuário como componentes que alteram significativamente o processo de recuperação da informação dentro de um sistema. Além disso, Miksa (1992) comenta que tanto os modelos matemáticos de recuperação quanto as conceituações advindas daquele modelo não foram vastamente testadas por meio da prática da pesquisa.

Pode-se notar que a literatura sobre os modelos matemáticos de recuperação da informação, assim como os conceitos de pertinência, relevância e outros, diminuiu, por algum tempo. Quando surgiu a rede mundial de computadores e, com isso, a oferta de inúmeros serviços de informação, esses modelos voltaram a ser preocupações de pesquisa.

Segundo Thomas Kuhn (1975), a transição de um paradigma em crise para um novo não chega a ser um processo cumulativo. A reconstrução da área de estudos é feita a partir de

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novos princípios, reconstrução que altera algumas generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações (Kuhn, 1975). Assim, apesar da ação revolucionária do novo paradigma, há um período de transição entre o velho e o novo modelo, havendo coincidências entre os problemas que podem ser resolvidos por ambos.

À luz dos estudos de Kuhn (1975) parece ser este um momento de transição da área, quando ela testa uma nova teoria na busca de solução para uma crise. Essa crise coincide com o surgimento das novas tecnologias de processamento, armazenamento e disseminação da informação, principalmente deslocando os catálogos de bibliotecas de seus locais de origem, levando-os para perto dos usuários através das bases de dados. A unidade de análise da Biblioteconomia não é mais somente o livro, mas também a informação; e suas atividades, agora automatizadas, ultrapassam o espaço da biblioteca.

Isso conduz à percepção de que as atividades profissionais de ensino e pesquisa, na área, estão sendo orientadas por paradigmas diferentes. A literatura produzida na Ciência da Informação e na Biblioteconomia não expressa conflitos existentes na comunidade profissional ou científica, apesar da formação nessas duas áreas ser oferecida em diferentes níveis. O perfil do bibliotecário é formado em cursos de graduação, já os mestres e doutores em Ciência da Informação são titulados em cursos de pós-graduação stricto sensu.

Esse compartilhamento de paradigmas, conforme as idéias de Kuhn, permanecerá até o fortalecimento de um dos dois e/ou o surgimento de um terceiro paradigma.

Resumindo, esta é uma área em construção, uma vez que é um campo disciplinar muito recente. Suas teorias e conceituações para o crescimento de seu campo teórico e de suas práticas profissionais dependem de uma boa formação acadêmica e compromisso por parte dos profissionais.

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CAPÍTULO II - A Produção de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas

Eliany Alvarenga Araújo Marlene de Oliveira

Conhecer a origem das bibliotecas implica em abordar a produção de conhecimentos e dos registros de conhecimentos, pois, desde a sua origem na Antigüidade Clássica, a biblioteca é um espaço de preservação dos conhecimentos gerados pela humanidade a partir de diferentes sociedades.

Explicar o que é conhecimento é uma tarefa difícil, face aos diversos entendimentos do termo. Por isso, adotou-se a visão de Burke (2003): conhecimento é algo que denota o que foi processado e sistematizado pelo pensamento. Conforme o autor, com a reabilitação do saber cotidiano, do saber local, deve ficar óbvio que há "conhecimentos" no plural em toda cultura.

Para melhor entendimento desta questão, descrevem-se, resumidamente, alguns tipos de conhecimento:

Filosófico - É um tipo de conhecimento de caráter mais geral e reflexivo, que busca os princípios que tornam possível o próprio saber. Atualmente, um dos principais objetivos do conhecimento filosófico é a investigação de pressupostos, de consciência de limites, de crítica da ciência e da cultura.

Religioso - Esse conhecimento apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas por terem sido consideradas reveladas pelo sobrenatural. É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade, destino) que acredita possuir a verdade sobre as questões fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé ou crença.

Senso comum ou Conhecimento popular - É uma forma espontânea de conhecer a realidade no trato direto com as coisas, no cotidiano. É reflexivo, porém falível e inexato. Oriundo dos diferentes sentidos, constitui-se num conjunto de opiniões e valores

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característicos daquilo que é correntemente aceito em um meio social determinado.

Científico - É um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, organizados e suscetíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino. Trata-se de conhecimento sistemático por se constituir de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teorias). Pretende ser verificável, objetivo e comunicável. Objetiva explicar racional e metodicamente a realidade.

Há outros tipos de conhecimento, produzidos em muitas organizações e contextos diferentes, também importantes, que não serão discutidos aqui. Entretanto, vale salientar que os produtos (registros) representativos desses conhecimentos, assim como a produção cultural, se constituem em acervos que são preservados em bibliotecas, arquivos, unidades de informação, museus etc.

Para efeito deste texto, considera-se conhecimento na sua forma concreta, tangível, que são os produtos gráficos e objetos materiais. Na Ciência da Informação e na Biblioteconomia são denominados documentos, tais como livros, revistas, jornais, moedas, imagens, CDs, arquivos eletrônicos etc.

A origem exata das bibliotecas, assim como a da linguagem e a da escrita, é desconhecida. Entretanto, podemos considerar que, diferentemente da linguagem e da escrita, as bibliotecas apareceram na era histórica, ou seja, quando tem início a preservação de registros escritos 111: conhecimentos. É necessário, contudo, esclarecer que as expressões culturais vão além da escrita e se expressam em diversos produtos e artefatos, mas, no contexto de bibliotecas, a linguagem escrita tornou-se a forna mais comum para registrar conhecimentos.

A dedução de que a produção de conhecimentos conduz à criação de bibliotecas aponta para o pressuposto de que onde houve grande 11Iodução de conhecimentos também ali estarão grandes bibliotecas, arquivos, museus etc., ou seja, unidades de informação em seus diferentes formatos.

Podemos considerar que os pré-requisitos principais para o aparecimento de bibliotecas são:

• Condições econômicas - São observadas ao longo do tempo como altamente significantes na produção de conhecimentos e de unidades de informação. Quando existe um excedente de riqueza em um país ou região, aumenta a disponibilização de recursos para o incentivo à produção cultural, aqui incluindo-se a produção de conhecimentos e de bibliotecas.

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• Condições sociais - Um dos fatores importantes neste item diz respeito às influências positivas, como o aparecimento de grandes centros urbanos que, em suas atividades múltiplas e cada vez mais complexas, produzem inúmeros registros e requerem sofisticados sistemas de informação. Essas necessidades podem encorajar o desenvolvimento de bibliotecas, arquivos, museus etc. Outro fator relevante é a educação. Um sistema formal de educação necessita tanto de registros de conhecimento e sua conservação quanto de bibliotecas para participar e dar apoio ao sistema educacional.

• Condições políticas - Aparecem em dois níveis, o primeiro diz respeito ao clima de tranqüilidade política e social de uma nação, que pode conduzir e ampliar o crescimento de bibliotecas. Em ambientes de conflitos e crises políticas, as bibliotecas, como outros repositórios de cultura, sofrem sérios riscos em conseqüência de tumultos, atentados etc. Assim, as bibliotecas florescem geralmente em sociedades onde prevalece a prosperidade econômica, a população é instruída e o comércio livreiro é bem organizado. Em outro nível, as bibliotecas, assim como toda produção de conhecimentos, necessitam de políticas governamentais para seu estímulo e crescimento.

O surgimento e desenvolvimento dos conhecimentos, seus produtos, assim como seu armazenamento, organização e divulgação, podem ser observados sob essas condições desde a Antigüidade. As grandes bibliotecas da Antigüidade Clássica de que se tem notícia eram formadas por grandes conquistadores ou se localizavam em cidades que exerciam poder econômico e/ou político.

Há indícios e comprovações de grandes bibliotecas na Antigüidade. Dentre elas, cita-se a Biblioteca de Nipur, na Babilônia, descoberta em um templo, com registros em tábuas de argila e em escrita cuneiforme. Também famosa é a Biblioteca de Assurbanipal, rei da Assíria que viveu no século VII a.C. A biblioteca situava-se em seu palácio na cidade de Nínive e contava com milhares de tabletes de argila com transcrições e textos sobre os mais variados assuntos, coletados sistematicamente pelo rei em outros templos do seu reino.

A mais famosa biblioteca da Antigüidade ficava em Alexandria, no Egito, e seu desaparecimento deveu-se a saques de conquistadores, fanáticos religiosos e a desastres naturais. Cabe salientar, contudo, que, no final de 1990, ela foi reconstruída pelo governo do Egito com a colaboração da UNESCO. Os temas dominantes do seu acervo relacionam-se às antigas civilizações de Alexandria e do Egito, desde a Antigüidade até a Idade Média.

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Na Idade Média, as igrejas e mosteiros foram os grandes guardiões dos ricos acervos das antigas bibliotecas. Esse fato coincide com a riqueza e o poder da Igreja, que, naqueles séculos, não só produzia, mas também legitimava os conhecimentos.

2.1 A Invenção de Guttenberg

Desde a Antigüidade até o final da Idade Média foram utilizados diferentes suportes como base para o registro de conhecimentos: a pedra, o barro, a madeira, o linho, a seda, o papiro, o pergaminho e o papel. Com a invenção da imprensa por Guttenberg, em 1452, e seu desenvolvimento nos séculos seguintes, houve grandes modificações na produção, no armazenamento e na difusão dos conhecimentos. Esse fato ocasionou o rompimento do monopólio que a Igreja exercia na geração e guarda dos conhecimentos. Até então, o acesso aos conhecimentos, assim como consultas a bibliotecas, constituía-se em privilégio da elite. A criação de Guttenberg e o processo de fabricação do papel facilitaram, aos poucos, a democratização dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior produção de registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condição de maior importância à época.

A expressão "geografia do conhecimento" é usada por Burke (2003) para mapear a produção de conhecimentos, notada mente dos séculos XVI. XVII e XVIII. Ele distingue a distribuição espacial do conhecimento desde os locais onde foi produzido, descoberto, guardado até onde era difundido. Naqueles séculos, os centros tradicionais eram os mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e os hospitais. Como produtores e divulgadores de conhecimentos, o autor cita também o laboratório, a galeria de arte, a livraria, a biblioteca, o anfiteatro de anatomia, o escritório e o café. Esse mapeamento do conhecimento exemplifica a visão do autor de que o conhecimento é visto na sua forma plural e não só como atividade científica. Prosseguindo, Burke (2003) percebeu a existência de conhecimentos também em ambientes de comércio, particularmente os portos, que eram especiais na difusão de informações. Os habitantes dos portos se dirigiam ao cais para conversar com marinheiros de embarcações recém-chegadas. Ali filam encontrados cartas, mapas e globos, além de o local propiciar o intercâmbio de conhecimentos. Dessa maneira, justifica-se a importância de Lisboa na história do conhecimento dos séculos XV e XVI, derivada de sua posição como capital do Império Ultramarino Português. O autor cita também Veneza como a mais importante agência de informações dos primórdios do mundo moderno, por sua posição intermediária entre o

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Ocidente e o Oriente.

Quando se refere à localização das bibliotecas, Burke (2003) cita a Itália e a França, países onde se concentrava o maior número delas. Algumas cidades italianas, como Nápoles, Florença, Veneza e Milão, abrigaram grandes bibliotecas. Roma hospeda bibliotecas de diversas ordens religiosas, além da Biblioteca do Vaticano. Paris superava Roma em quantidade de bibliotecas, principalmente no século XVII. Um guia de Paris, datado de 1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os leitores entrassem "como um favor" para consulta em suas coleções. Naquela época, teve início a formação de centros de estudos nas principais cidades da Europa, o que contribuiu para o aparecimento de novas bibliotecas, tanto universitárias como públicas. Esse fato coincide com o início da formalização da atividade de pesquisa, ocasionando o surgimento das agências de fomento à pesquisa naquele século.

Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturação da pesquisa científica, os conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer significativamente. Com o correr do tempo, a atividade de construção de conhecimentos expandiu-se para incluir empresas, indústrias, área jurídica e outras, que passaram de consumidoras a também produtoras de conhecimentos. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a divulgação de conhecimentos tornou-se mais rápida, agilizando os serviços das bibliotecas.

2.2 Bibliotecas no Brasil

No Brasil, as primeiras bibliotecas foram criadas por ordens religiosas. A ordem dos Jesuítas foi a mais atuante. Em 1549, fundou a Companhia de Jesus, organização que objetivava catequizar índios e colonos. Nas escolas daquela Companhia os padres criavam bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores e mais numerosas. Fundaram escolas e bibliotecas em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, no Maranhão, Pará e em vários outros estados e cidades. Tais bibliotecas atendiam necessidades tanto de alunos em seus primeiros aprendizados, como até de alunos de Filosofia, que equivaleriam aos das Faculdades de hoje. As consultas não se restringiam aos alunos e professores das escolas, mas eram possíveis a qualquer pessoa que justificasse o pedido. A Biblioteca do Mosteiro de São Bento, em Salvador, Bahia, organizada no início do século XVI, formalizou atividades de uma biblioteca pública (Moraes, 1979).

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bens foram confiscados, inclusive as bibliotecas. Os acervos foram selecionados e grande parte enviada ao Colégio do Rio de Janeiro, o restante foi entregue ao bispo da Diocese. Com isso, o conhecimento produzido por brasileiros e estudiosos daqueles colégios ficou perdido. Outras ordens religiosas se incumbiram da educação dos brasileiros e criaram colégios e bibliotecas para isso, como os franciscanos, Beneditinos e Carmelitas. Dentre as bibliotecas mais relevantes, estavam as beneditinas. As abadias beneditinas tinham boas bibliotecas e enriqueciam seus acervos por meio de compra e herança.

A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condições políticas, econômicas e sociais da Colônia. Foi uma transformação radical no Rio de Janeiro, sua população cresceu consideravelmente com a chegada de nobres, funcionários de muitas categorias, comerciantes, burgueses ricos etc. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e, em conseqüência, transformou a situação do livro e das bibliotecas. Junto com os tesouros do Estado Português, como ouro, diamantes, pratarias e paramentos da Capela Real, vieram também arquivos das repartições públicas, manuscritos da Coroa e do Infantado e a Biblioteca Real da Ajuda. O acervo da biblioteca era composto de coleções ricas e versáteis, como as primeiras edições portuguesas e espanholas, edições de clássicos portugueses e espanhóis, coleção de folhetos, manuscritos, fotos, mapas e gravuras. A partir daí, a biblioteca desenvolveu-se recebendo também doações e, principalmente, através da obrigação do depósito legal, pela qual a biblioteca passou a receber um exemplar de tudo o que é publicado em território nacional. Com o retorno da Corte Portuguesa à Europa, a Biblioteca Real ficou desfalcada de parte de seu acervo, mas, mesmo assim, ainda conservou uma parte valiosa. Com o advento da Independência, a biblioteca ficou subordinada a uma repartição pública e passou a denominar-se Biblioteca Nacional (Moraes, 1979).

A primeira biblioteca pública surgiu, em Salvador, como expressão da sociedade. Um senhor de engenho, Pedro Gomes Ferrão de Castelo Branco, planejou a biblioteca como uma instituição para promover a instrução do povo. A Biblioteca Pública da Bahia foi a primeira a ser fundada com essa característica de não contar com recursos do governo. A experiência não deu certo e o governo passou a dar subsídios e outras bibliotecas públicas floresceram em outras capitais e cidades importantes.

É importante ressaltar que a divulgação da cultura até a República já não estava restrita às livrarias e bibliotecas dos conventos religiosos. No Rio de Janeiro funcionavam vários institutos de estudos superiores criados pelo governo, como a Real Academia Militar, o

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Laboratório Químico-prático, a Academia Médico-Cirúrgica, o Arquivo Militar e a Academia Real dos Guarda-Marinhas. Essas organizações estabeleciam em seus estatutos a criação de bibliotecas (Moraes, 1979).

Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criação de agências de fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do conhecimento no Brasil expandiu-se consideravelmente, não só pela produção dos brasileiros, mas também pela compra de coleções para atender a essas novas organizações. Contudo, o número de bibliotecas ainda é insuficiente para atender toda a sociedade.

O país não conta com estatísticas sobre os diferentes tipos de bibliotecas existentes, mas é possível calcular o número de bibliotecas em instituições de nível superior, uma vez que a autorização para o funcionamento destas depende exatamente da existência de bibliotecas. Considerando-se o número de universidades federais existentes no país, estima-se que o número de bibliotecas universitárias esteja em torno de 62. O Anexo A elenca instituições universitárias federais e estaduais que, portanto, oferecem serviços bibliotecários.

2.3 Conceituações

As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas são oriundos da Ciência da Informação, em função de orientações comuns na resolução de problemas. Assim, a biblioteca é uma coleção de documentos bibliográficos (livros, periódicos etc.) e não bibliográficos (gravuras, mapas, filmes, discos etc.) organizada e administrada para formação, consulta e recreação de todo o público ou de determinadas categorias de usuários.

2.4 Tipos de Bibliotecas

Segundo a finalidade, as bibliotecas se dividem em:

a) Nacionais - têm como principal finalidade a preservação da memória nacional, isto é, da produção bibliográfica e documental de uma nação.

b) Públicas - surgiram com a missão de atender às necessidades de estudo, consulta e recreação de determinada comunidade, independentemente de classe social, cor, religião ou profissão.

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Seus objetivos principais são:

- estimular nas comunidades o hábito de leitura; - preservar o acervo cultural.

c) Universitárias - a finalidade desse tipo de biblioteca é atender às necessidades de estudo, consulta e pesquisa de professores e alunos universitários.

d) Especializadas - são aquelas dedicadas à reunião e organização de conhecimentos sobre um só tema ou de grupos temáticos em um campo específico do conhecimento humano.

e) Escolares - são destinadas a fornecer material bibliográfico necessário às atividades de professores e alunos de uma escola.

f) Infantis - devem estar mais voltadas para a recreação e proporcionar outras atividades como: escolinhas de arte, exposição, dramatizações etc. Necessitam de um acervo bem selecionado para seus usuários.

g) Especiais - são aquelas que se destinam a atender a um tipo especial de leitor e, por isso, detêm um acervo especial, como, por exemplo, as bibliotecas para deficientes visuais, presidiários e pacientes de hospitais.

h) Biblioteca ambulante ou Carro-biblioteca ou Bibliobus - são bibliotecas volantes, que objetivam a extensão dos serviços bibliotecários às áreas suburbanas e rurais, quando estes são deficientes ou inexistentes. São serviços de extensão de bibliotecas já existentes, como bibliotecas públicas ou universitárias.

i) Popular ou comunitária - é um tipo de biblioteca criada e mantida pela comunidade. Tem os mesmos objetivos da biblioteca pública, mas não se vincula ao poder público. E mantida por órgãos, como associações de moradores, sindicatos e grupos estudantis.

2.5 Atividades de uma Biblioteca / Unidade de Informação

A biblioteca ou outra unidade de informação, aqui entendida como uma unidade que trata de informação, desde a organização até sua difusão (base de dados, serviço de informação especializada, centro de informação, telecentro, videotecas, mapotecas etc.), pressupõe atividades bem características, por trabalhar a informação. Isso faz com que esse tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e produtos particularizados.

Referências

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