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Padrão espaço-temporal das RPPNS do Rio de Janeiro e sua relação com a paisagem físico-geográfica e a evolução da cobertura florestal

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

VITÓRIA PEREIRA DE SOUZA ARAÚJO

PADRÃO ESPAÇO-TEMPORAL DAS RPPNS DO RIO DE JANEIRO E SUA RELAÇÃO COM A PAISAGEM FÍSICO-GEOGRÁFICA E A EVOLUÇÃO DA

COBERTURA FLORESTAL

Niterói 2020

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VITÓRIA PEREIRA DE SOUZA ARAÚJO

PADRÃO ESPAÇO-TEMPORAL DAS RPPNS DO RIO DE JANEIRO E SUA RELAÇÃO COM A PAISAGEM FÍSICO-GEOGRÁFICA E A EVOLUÇÃO DA

COBERTURA FLORESTAL

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Geografia, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador:

Prof. Dr. Raúl Sánchez Vicens

Niterói 2020

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VITÓRIA PEREIRA DE SOUZA ARAÚJO

PADRÃO ESPAÇO-TEMPORAL DAS RPPNS DO RIO DE JANEIRO E SUA RELAÇÃO COM A PAISAGEM FÍSICO-GEOGRÁFICA E A EVOLUÇÃO DA

COBERTURA FLORESTAL

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Geografia, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Aprovada em 19 de fevereiro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. Dr. Raúl Sánchez Vicens

_____________________________________________ Dr. Rômulo Weckmüller

Niterói 2020

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AGRADECIMENTOS

A Geografia por me inspirar a encontrar meu propósito, principalmente através do Instituto de Geociências da UFF, que expandiu meu mundo e me proporcionou experiências enriquecedoras de crescimento pessoal, acadêmico e profissional.

Ao meu orientador, Raúl Sánchez Vicens, desde suas maravilhosas aulas no início da graduação, o estágio no LAGEF-UFF, até sua paciente e assertiva orientação. Obrigada pela proposição do tema e pelo apoio em momentos críticos.

A minha querida família percorrendo ao meu lado os caminhos da vida, especialmente minha mãe Márcia e meu companheiro Lucas com todo suporte, incentivo e compreensão. Aos meus amigos sempre solidários e prontos para me ajudar. Por isso não posso deixar de mencionar alguns: Pedro Chagas, Victor Maluf, Tadeu Tostes, Bárbara Schimidt e Victória Oliveira, agradeço pelas dicas e trocas que tivemos.

Aos meus antigos colegas da COGET-Inea por todo conhecimento adquirido ao longo dos anos de estágio. Principalmente a meu ex-supervisor, Paulo Fevrier, que também considero como um mentor.

Por fim, agradeço à toda equipe do Núcleo de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (NURPPN – Inea), pela cessão do dado essencial para realização da pesquisa e pela disposição para sanar minhas dúvidas.

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RESUMO

O estado do Rio de Janeiro se localiza inteiramente na zona de ocorrência do bioma Mata Atlântica, que apresenta alta biodiversidade e enfrenta fortes ameaças antrópicas. Por isso, além do incentivo de preservação da floresta, há programas para a recuperação da vegetação natural. No sentido de conservação, as Reservas Particulares do Patrimônio natural, são a categoria de Unidade de Conservação em maior número no estado, mas que ainda apresentam a maior possibilidade de expansão. O estudo apresentado objetiva compreender o padrão espaço-temporal de distribuição das RPPNs em relação às tipologias de paisagem do Rio de Janeiro, e a influência das RPPNs nas trajetórias evolutivas da vegetação dentro de suas propriedades, entre os anos de 2009 e 2016. A correlação espaço-temporal entre as RPPNs e as tipologias e entre os imóveis com RPPNs e as trajetórias foi atestada através de análise espacial e estatística descritiva. A distribuição das RPPNs se concentra nas tipologias montanhosas, principalmente nas escarpas e nos planaltos de reverso, sendo os pontões graníticos a tipologia de paisagem com maior área preservada por este tipo de unidade de conservação. As trajetórias evolutivas das florestas nas propriedades com RPPNs, não apresentaram uma relação temporal com a criação das unidades de conservação, tanto com trajetórias de recuperação, quanto com trajetórias de desmatamentos, o que indica que a criação de áreas de proteção dentro das propriedades rurais não vai acompanhado de mudanças no uso da terra.

Palavras-chave: RPPN. Análise Espacial. Tipologias de Paisagem. Trajetórias Evolutivas.

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ABSTRACT

The state of Rio de Janeiro is entirely located in the occurrence zone of the Atlantic Forest biome, a biodiversity hotspot that faces strong anthropic threats. For this reason, in addition to encouraging forest preservation, there are program initiatives for recovery of natural vegetation. Along this line of conservation, Private Protected Areas (Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN, as known in Brazil’s legislation) are the most numerous category of Conservation Areas and single handedly have the greatest potencial of expansion in the state. This paper aims to understand the spatio-temporal pattern of distribution of Private Protected Areas in relation to Rio de Janeiro's landscape typologies, and the influence of them on the evolutionary trajectories of vegetation within their properties, between the years 2009 and 2016. The spatio-temporal correlation between Private Protected Areas and landscape typologies and between them and their vegetation trajectory were attested through spatial analysis and descriptive statistics. It was found that the distribution of Private Protected Areas is concentrated in mountainous typologies, mainly in escarpments and in reverse plateaus, with granitic pontoons being the landscape typology with the largest area preserved by this type of Conservation Area. The evolutionary trajectories of forests on properties with Private Protected Areas did not show a temporal relationship with the creation of the Conservation Area, both cases were identified, with recovery trajectories and with deforestation trajectories, which indicates that the creation of protected areas within rural properties is not always followed by real changes in land use.

Keywords: Private Protected Areas. Spatial Analysis. Landscape Typologies. Evolutionary

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fluxograma da metodologia geral ... 32

Figura 2 – Fluxograma da etapa de aquisição dos dados ... 33

Figura 3 – Fluxograma detalhado da metodologia ... 34

Figura 4 – Mapa da distribuição das RPPNs no estado do Rio de Janeiro ... 39

Figura 5 – Histograma de distribuição das áreas das RPPNs – f(i) ... 46

Figura 6 – Gráfico da curva de distribuição das áreas das RPPNs – F(%) ... 46

Figura 7 – Histograma de distribuição das áreas dos imóveis – f(i) ... 47

Figura 8 – Gráfico da curva de distribuição das áreas das imóveis – F(%) ... 47

Figura 9 – Gráfico de barras da quantidade de RPPNs criadas por ano ... 48

Figura 10 – Gráfico da curva de distribuição das RPPNs por anos de criação – F(%) .... 49

Figura 11 – Mapa coroplético da quantidade de RPPNs por município ... 51

Figura 12 – Mapa de localização da tendência central das RPPNs ... 53

Figura 13 – Mapa de densidade Kernel das RPPNs no estado do Rio de Janeiro ... 54

Figura 14 – Mapa de distribuição das RPPNs classificadas por ano de criação ... 56

Figura 15 – Gráficos das quantidades e porcentagens de RPPNs por tipologias de paisagem ... 57 Figura 16 – Mapa da distribuição de RPPNs por tipologias dos Grupos de paisagem .... 59

Figura 17 – Histograma de distribuição das distâncias entre RPPNs e UC/ZA mais próxima ... 62 Figura 18 – Gráfico da curva de distribuição das distâncias entre RPPNs e UC/ZA ... 62

Figura 19 – Histograma de distribuição das distâncias entre RPPNs e UC/ZA – sem valores nulos ... 63 Figura 20 – Gráfico da curva de distribuição das distâncias entre RPPNs e UCs/ZAs mais próxima – F(%) – sem valores nulos ... 63 Figura 21 – Mapa da distribuição de RPPNs por UCs e ZAs ... 65 Figura 22 – Mapa de distribuição dos imóveis com trajetórias de recuperação

(2009-2016) ... 69

Figura 23 – Mapa de distribuição dos imóveis com trajetórias de desmatamento (2009-2016) ...

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Nomenclatura das tipologias de paisagem até 2a ordem ... 37

Tabela 2 – Classes e chave descritiva dos tipos de trajetória ... 38

Tabela 3 – Interseção entre RPPNs e tipologias dos Grupos de paisagem ... 60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APP Área de Preservação Permanente

CAR Cadastro Ambiental Rural

ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

FNMA Fundo Nacional de Meio Ambiente

IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Florestas IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Inea Instituto estadual do ambiente

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais LERF Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal

MMA Ministério do Meio Ambiente

MS Ministério da Saúde

NURPPN Núcleo de Reservas Particulares do Patrimônio Natural

PSA Pagamento por Serviços Ambientais

REPAMS Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do Sul

RFG Regionalização Físico-Geográfica

RL Reserva Legal

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural rppnista(s) Proprietário(s) de RPPN(s)

SEA/SEAS Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro SICAR Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural

SIG Sistemas de Informações Geográficas

SINIMA Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SOSMA Fundação SOS Mata Atlântica

TFG Tipologia Físico-Geográfica

UC Unidade de Conservação

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 HIPÓTESE E OBJETIVOS ... 14

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ... 15

2.1 AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPNs) ... 15

2.2 EVOLUÇÃO DA COBERTURA VEGETAL ... 19

2.3 ANÁLISE ESPACIAL ... 22

2.4 ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DA PAISAGEM FÍSICO-GEOGRÁFICA ... 26

3 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ... 31

3.1 METODOLOGIA ... 31

3.2 MATERIAIS ... 35

3.3 MÉTODOS ... 38

3.3.1 Tratamento do dado de RPPNs ... 38

3.3.2 Tratamento do dado de imóveis do CAR ... 41

3.3.3 Tratamento do dado de tipologias de paisagem ... 42

3.3.4 Tratamento dos dados de UCs e ZAs ... 43

3.3.5 Tratamento dos dados de trajetórias evolutivas ... 44

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 45 4.1 ANÁLISE DO PADRÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE DISTRIBUIÇÃO DAS RPPNs 45 4.1.1 Análises de área das RPPNs e imóveis ... 45

4.1.2 Análise dos anos de criação das RPPNs ... 48

4.1.3 Análise da distribuição das RPPNs por município ... 49

4.1.4 Análise da distribuição das RPPNs por tipologias de Grupos de paisagem ... 57

4.1.5 Análise da distância das RPPNs para UCs/ZAs ... 61

4.2 ANÁLISE DA CORRELAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL ENTRE A CRIAÇÃO DE RPPNs E TRAJETÓRIAS EVOLUTIVAS DA VEGETAÇÃO ... 67 4.2.1 Análise das trajetórias evolutivas de recuperação nos imóveis das RPPNs ... 67

4.2.2 Análise das trajetórias evolutivas de desmatamento nos imóveis das RPPNs ... 70

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 73

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1 INTRODUÇÃO

As atividades antrópicas e sua intensificação têm causado pressões que de forma direta ou indireta ocasionam alterações e a perda sistemática de habitats e ambientes naturais. A perda de habitat, mudanças climáticas e consequentes perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos alertou para a importância da regeneração da vegetação (LOYOLA et al, 2018). De acordo com Crouzeilles et al, (2016) a restauração florestal têm sido uma meta global a ser discutida e alcançada, o Desafio de Bonn, foi um dos primeiros nesse sentido. Atualmente são identificados mais de dois bilhões de hectares passíveis de restauração florestal passiva ou ativa ao redor do globo. No que concerne ao bioma Mata Atlântica, foi proposto o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, que pretende regenerar 15 milhões de hectares até 2050 (REZENDE et al, 2015).

A Mata Atlântica é o bioma dominante no estado do Rio de Janeiro, sua importância se dá por exemplo por ser considerado hotspot de biodiversidade, possuindo 884 espécies endêmicas, sendo que 58% desse número se encontra ameaçado de extinção, ou por abrigar sete dentre as nove maiores bacias hidrográficas brasileiras (REZENDE et al, 2015; LOYOLA et al, 2018). Por isso é protegida nos três níveis governamentais. No nível federal, através da Constituição Brasileira, que a define como Patrimônio Nacional e pela Lei da Mata Atlântica (Lei n11.428, Brasil, 2006) que estabelece sua proteção, conservação, regeneração e utilização, enquanto também é tutelada à nível global como Reserva da Biosfera da UNESCO.

O bioma atlântico originalmente abrangia 13% de todo o território nacional, compondo os estados litorâneos do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Devido à intensa exploração e ocupação das áreas desse bioma, desde a colonização portuguesa até os dias atuais, a cobertura florestal da Mata Atlântica foi reduzida à 25% de sua área original, que hoje é de 328.160 km², e já bastante fragmentada, cujo 80% dos fragmentos são considerados de tamanho pequeno, medindo até 50ha (REZENDE et al, 2015; MapBiomas 2018).

Além desse alarmante número que aponta para a necessidade de projetos para a conservação e regeneração desse bioma, a situação é agravada pelo fato de aproximadamente 70% da população brasileira viver no território da Mata Atlântica, dependendo de seus recursos

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naturais. Tais dados revelam não apenas a necessidade, mas a urgência de ações concretas em prol do bioma (MMA, 2013).

O estado do Rio de Janeiro é o estado brasileiro com maior densidade populacional (IBGE, 2010) e ainda sim é um dos mais bem preservados naturalmente, com quase 1/3 de seu território sendo área ocupada por ecossistemas da Mata Atlântica (SOSMA E INPE 2015; MapBiomas 2018). A unidade federativa se encontra no 4º lugar do ranking de desmatamento zero, tendo menos de 100 hectares desmatados nos últimos anos consecutivos (SOSMA e INPE 2019). E agora enfrenta o desafio de continuar combatendo e diminuindo esse desmatamento com projetos como o de Olho no Verde, e de ampliar a cobertura vegetal nativa, através do Pacto pela Mata Atlântica e de outros exemplos como o incentivo à criação de Unidades de Conservação estaduais e municipais, Pagamento por Serviços Ambientais (direcionado à proprietários) e a instituição do ICMS-Ecológico ou ICMS-verde (direcionado às prefeituras) (Inea, 2018).

As políticas de incentivo à criação e manutenção de UCs, alinhadas à outros projetos ambientais, como a definição de áreas e de espécies de flora e fauna prioritárias para conservação, asseguram não apenas o fluxo de serviços ambientais, mas se colocam como instrumento para a recuperação de espécies ameaçadas de extinção (LOYOLA et al, 2018).

Dentre os projetos de estímulo ao investimento na preservação ambiental, se destaca o incentivo para criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), um tipo de unidade de conservação de domínio privado. O Rio de Janeiro já é o terceiro estado com maior número de RPPNs reconhecidas, superam, em número, as UCs públicas no território (LOYOLA et al, 2018). A criação desse tipo de UC se faz tão importante no esforço de preservar a Mata Atlântica, pois 80% dos remanescentes florestais da mesma, se encontram em propriedades privadas, sendo necessária a aliança e conscientização entre o estado e os proprietários de terra. São também uma alternativa que possibilita o aumento e reforço do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (SOSMA, 2018).

Além do fomento e viabilização da criação e reconhecimento de RPPNs pelo Inea, o estado também se propõe a contribuir para sua sustentabilidade, gestão e monitoramento, contribuindo na elaboração do plano de manejo da unidade e na elaboração e acompanhamento de projetos que viabilizem a exploração do potencial econômico da unidade, normalmente através do ecoturismo, e dos incentivos fiscais, anteriormente citados. Uma das expectativas do

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incentivo à criação de RPPNs é aumentar a regeneração natural nas propriedades rurais, inclusive fora dos limites das próprias reservas (Inea, 2018).

Dado esse contexto, o presente trabalho pretende fazer um inventário do padrão de distribuição espacial das Reservas Particulares do Patrimônio Natural reconhecidas pelo estado do Rio de Janeiro em relação às unidades físico-geográficas da paisagem, assim como analisar a influência espaço-temporal das RPPNs nas trajetórias evolutivas de ganho de floresta dentro das propriedades onde estão localizadas.

1.1 HIPÓTESE E OBJETIVOS

Este estudo parte de duas premissas iniciais: a primeira, é que o sistema estadual de RPPNs protege toda a diversidade de tipologias de paisagem existentes no estado do Rio de Janeiro e; a segunda é a de que a criação das RPPNs em propriedades particulares tem impacto positivo sobre as trajetórias evolutivas da vegetação para além das reservas. Seguindo essa hipótese, seria possível constatar indícios da influência das RPPNs em movimentos de revegetação dentro das propriedades, relacionando a data de criação da RPPN com o período de ocorrência do evento.

O objetivo da pesquisa é compreender o padrão espaço-temporal do sistema de RPPNs do Rio de Janeiro e sua relação com as tipologias da paisagem e com a evolução da cobertura vegetal do estado. Através da análise da correlação espacial da distribuição das RPPNs pelas unidades físico-geográficas da paisagem, e da verificação da correlação espaço-temporal entre a criação de RPPNs e as trajetórias evolutivas da vegetação da floresta atlântica no estado do Rio de Janeiro.

Dessa forma, aprofundando o conhecimento à respeito da localização das RPPNs e sua relação com a paisagem do estado do Rio de Janeiro, tanto em escala regional, quanto local, ao longo do tempo e sendo possível extrair informações relevantes como as unidades de paisagem mais protegidas pelas RPPNs e a constatação da existência da relação espaço-temporal entre a criação de RPPNs e as trajetórias evolutivas positivas da cobertura florestal. E entender o

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comportamento das trajetórias da vegetação nas propriedades que abrigam as RPPNs, constatando se os “rppnistas”, seguindo o princípio de conservação, promovem ou permitem a revegetação em suas propriedades fora da área das reservas. De forma a contribuir não apenas para a conservação dos fragmentos florestais, mas para sua regeneração.

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2. 1 AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPNs)

As RPPNs foram reconhecidas pelo estado do Rio de Janeiro pelo Decreto Estadual 40.909/2007, mas a evolução de seu histórico legal e conceitual tem raízes em 1934. A primeira menção legal às reservas particulares no Brasil foi no primeiro Código Florestal, que permitia que proprietários que possuíssem fragmentos florestais em seus imóveis, os transformassem nas denominadas florestas protetoras ou remanescentes, que passavam a funcionar sob o regime proposto no Código florestal (Lei n4.771, Brasil, 1934; REPAMS, 2006).

O segundo Código Florestal, sancionado em 1965, propõe em seu artigo 6º que os proprietários de floresta não preservada pela esfera dessa lei poderiam registrá-las com perpetuidade, desde que houvesse interesse público pela área. Porém ambas as propostas de reservas particulares mostraram-se incipientes, pois permaneceram anos sem regulamentação. Perante essa situação, o atualmente extinto, IBDF criou algumas iniciativas no sentido da proteção de áreas particulares, como a modalidade dos Refúgios de Animais Nativos em 1977, que posteriormente foi substituída, abarcando também a proteção da vegetação, na modalidade das Reservas Particulares de Flora e Fauna, criada em 1988 (Inea, 2018).

As RPPNs, porém, só foram ser instituídas em 1990, por meio de Decreto Federal que regulamentou o artigo 6º do Código Florestal de 1965, detalhando as normas de criação e manutenção das RPPNs. Tal decreto foi substituído em 1996, a nova lei passa a conferir caráter de perpetuidade às RPPNs e a possibilidade de serem reconhecidas por órgãos ambientais estaduais (REPAMS, 2006; Inea, 2018).

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O sancionamento de tais decretos, na década de 1990, se configuram como um primeiro passo importante no surgimento e evolução do movimento “rppnista”, composto pelos proprietários de reservas particulares, juntamente com organizações e instituições governamentais e não governamentais com interesse no apoio à esse tipo de área protegida e sua visibilidade. Com o desenvolvimento desse movimento surgiram diversas associações de proprietários e apoiadores de RPPNs respectivos às suas regiões, sendo a primeira no estado do Rio de Janeiro, mais uma vez apontando para o pioneirismo e vanguarda do estado em questões ambientais. Além dessas associações foi formada uma rede nacional de conexão entre “rppnistas”, congressos e encontros científicos de caráter nacional e regional, e novos projetos de fomento à expansão dessas unidades (Inea, 2018).

Nos anos 2000 o SNUC entra em vigor, através da Lei 9.985, que define os tipos de Unidade de Conservação, estabelece critérios e normas para sua implantação e gestão em âmbito federal, estadual e municipal e reconhece as RPPNs como unidades de conservação integrantes desse sistema (Inea, 2018). As RPPNs são consideradas unidades da modalidade de Uso Sustentável, o artigo 21º do SNUC estabelece as RPPNs como “área privada gravada com perpetuidade com o objetivo de conservar a diversidade biológica” (Lei n 9.985, Brasil, 2000). Ainda segundo o texto da lei do SNUC:

§ 1º O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis.

§ 2º Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento:

I - a pesquisa científica;

II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;

III - (VETADO)

§ 3º Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade (SNUC - Lei 9.985/2000)

A fim de regulamentar a RPPN como unidade de conservação integrante do SNUC, disposta no artigo 21º da Lei 9.985/2000, é aprovado em 2006 o Decreto Federal 5.746, que

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atualiza os procedimentos para criação e reconhecimento de RPPNs. Esse decreto institui que as RPPNs podem ser criadas por qualquer dos órgãos ambientais que integrarem o SNUC, não define uma área mínima para as RPPNs, mas devem possuir relevância para o público e permite que as reservas sejam criadas com até 30% de área degradada destinada à recuperação ambiental (Decreto n5.746, Brasil, 2006; Inea, 2018).

Essas reservas só poderão ser utilizadas para os fins turísticos, de pesquisa científica, educativos e recreativos previstos, é dever do proprietário a manutenção de seus atributos ambientais, com apoio do órgão ambiental para ações de fiscalização, proteção e elaboração do plano de manejo, e só será admitida na unidade moradia do proprietário e dos funcionários ligados à sua gestão (Decreto n5.746, Brasil, 2006).

Assim como o restante das Unidades de Conservação, as RPPNs devem possuir plano de manejo de acordo com o órgão ambiental responsável, a zona de amortecimento, por sua vez, não é requerida para essa categoria. Mas a categoria de RPPN apresenta algumas vantagens como a prioridade na análise de projetos de criação de reservas particulares que estejam inseridas na zona de amortecimento de UCs ou áreas prioritárias para a conservação, a priorização na análise de projetos para arrecadação do FNMA, do fundo de compensação ambiental para a recuperação florestal, os PSA, a contribuição financeira de órgãos ou empresas beneficiários dos recursos naturais preservados pelas RPPNs e isenção do ITR (Decreto n5.746, Brasil, 2006; GIOVANELLI e CANTAGALLO, 2006; Inea, 2018).

Pouco mais de um ano após a aprovação do Decreto Federal 5.746/2006, que regulamenta as RPPNs, o estado do Rio de Janeiro aprova uma legislação própria para as RPPNs, por meio do Decreto Estadual 40.909/2007, regulamentada pela resolução SEA número 038 do mesmo ano (Inea, 2018). O texto legislativo começa por considerar o dever da coletividade de, juntamente com o Poder Público, preservar e defender um meio ambiente ecologicamente equilibrado para futuras gerações, o atual estado de fragmentação e degradação da Mata Atlântica e a necessidade de preservar sua riqueza, assim como a importância e eficiência das RPPNs reconhecidas pelo SNUC, na conservação dos fragmentos florestais. A resolução especifica os documentos requeridos, os deveres esperados do proprietário de RPPN e o papel do órgão ambiental estadual criador da RPPNs na fase de reconhecimento e aprovação da proposta e operacionalização da RPPN (Decreto 40.909, Rio de Janeiro, 2007). É importante lembrar que antes dessa lei já existiam RPPNs criadas pelo âmbito federal no Rio de Janeiro, porém, essas não entraram no recorte deste estudo (por falta de informações).

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A diferença da legislação estadual para a federal está principalmente na criação de um Programa Estadual de Apoio às Reservas Particulares do Patrimônio Natural, que atende interessados e proprietários de RPPN com o objetivo de auxiliar na instituição, implantação, proteção dessas UCs. Esse programa deu origem ao NURPPN, vinculado ao Inea, núcleo responsável pela execução e aplicação do programa de apoio à essas UCs (Inea, 2018).

A outra grande diferença está na definição da modalidade da categoria de RPPN, que na legislação federal a RPPN foi enquadrada como de uso sustentável – que permite a exploração do ambiente de maneira controlada e restrita, mantendo a biodiversidade e atributos ecológicos ––, enquanto na legislação estadual se enquadra como de Proteção Integral – que impõe a manutenção dos ecossistemas livres de alterações antropológicas, não são permitidas atividades humanas que envolvam coleta, consumo, dano ou destruição dos recursos naturais. O enquadramento da categoria de RPPN na modalidade de UCs de Proteção Integral na lei estadual do Rio de Janeiro corrigiu uma anomalia legislativa existente na lei federal. Pois, a proposta original da lei do SNUC previa como um dos usos o extrativismo, que foi posteriormente vetado. Porém, as RPPNs continuaram como sendo de uso sustentável, mesmo que suas possibilidades de utilização permitidas por lei se assemelhem à modalidade de Proteção Integral (Lei n 9.985, Brasil, 2000; Inea, 2018).

As RPPNs são unidades de conservação privadas de caráter perpétuo, elas contribuem na preservação dos remanescentes florestais, manutenção de serviços ambientais e na conservação da biodiversidade, pois servem de zona de amortecimento, corredores ecológicos e trampolins para diversas espécies, conectando-as à outros fragmentos de vegetação e outras categorias de Unidades de Conservação (GIOVANELLI e CANTAGALLO, 2006). Nesse sentido, as RPPNs são estratégicas para a conservação em biomas como o da Mata Atlântica, onde a floresta se encontra bastante fragmentada e 80% dos remanescentes estão inseridos em propriedades privadas. Algumas RPPNs no estado do Rio de Janeiro são também responsáveis por abrigar espécies endêmicas ameaçadas de extinção (LOYOLA et al, 2018).

Além disso, por serem unidades privadas, criadas pela própria vontade do proprietário de terra, as RPPNs não há conflitos pelo uso da terra, não carecem de desapropriações e também estimulam a participação e engajamento da sociedade civil no exercício da preservação ambiental, transferindo parte da responsabilidade e dos custos arcados pelo Estado, pois a criação de UCs pelo poder público é onerosa (GIOVANELLI e CANTAGALLO, 2006; LOYOLA et al, 2018).

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2.2 EVOLUÇÃO DA COBERTURA VEGETAL

De acordo com os objetivos e hipóteses definidos para este estudo, as trajetórias evolutivas da vegetação florestal a serem identificadas e trabalhadas são as áreas correspondentes à regeneração por sucessão natural dentro das propriedades no entorno das RPPNs. Para tanto, serão apresentados alguns conceitos fundamentais para a compreensão desse processo, levando em conta a maior relevância da vegetação secundária para o presente trabalho.

A mata atlântica é um bioma brasileiro de floresta tropical. Os biomas são ecossistemas, dependentes das interações ecológicas entre animais, plantas e os fatores físicos do meio, que atuam juntos como um sistema. A homogeneidade fisionômica da comunidade e de características de solo e aspectos climáticos dentro desse ecossistema e sua diferenciação dos demais, reflete os grandes biomas que dividem os tipos de ecossistemas ao redor do globo (DUARTE; BUENO, 2006).

A formação desses biomas se dá através da evolução das relações e atividades ecológicas entre elementos físicos e biológicos do meio, em um processo de milhares de anos, mediante atuação da sucessão ecológica natural, até chegar em um estado de desenvolvimento, interdependência e equilíbrio clímax. A sucessão ecológica corresponde ao processo de colonização de uma área pela vegetação e desenvolvimento de um ecossistema com um determinado tipo de cobertura e comunidade vegetal. Esse processo é divido entre estágios sucessionais, que caracterizam o grau de desenvolvimento daquele ecossistema/comunidade. Tais estágios se diferenciam em termos da estrutura de espécies presentes e as interações ecológicas em curso (DUARTE; BUENO, 2006).

Nesse caso, o tipo de sucessão ecológica que deu origem aos biomas, incluindo a Mata Atlântica é denominada primária, ocorre quando organismos colonizam pela primeira vez uma área, habitats recém-formados, cujas características são desfavoráveis à vida da maioria dos organismos, dando origem às formações vegetais primárias (MIRANDA, 2009). Uma vez constituído o ecossistema primário, estes estão sujeitos à fatores e alterações de ordem natural ou antrópica que afetam o funcionamento normal desses sistemas, podendo ocasionar a perda

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de vegetação e abertura de clareiras na cobertura vegetal. Devido à isso os sistemas apresentam características de resistência ou resiliência às perturbações (DUARTE; BUENO, 2006).

A sucessão ecológica secundária, por sua vez, funciona como um mecanismo de autorregulação, é determinada pela recolonização e evolução da vegetação em uma área anteriormente ocupada de vegetação primária que tenha sofrido perda de vegetação em função de alguma perturbação, dando origem à vegetação secundária (DUARTE; BUENO, 2006; NBL; TNC, 2013). A perturbação é compreendida como todo desvio do estado normal da estrutura ou funcionamento em qualquer nível de organização (OLIVEIRA; SILVA; RIBEIRO, 2011).

Dependendo do grau da perturbação, após esse tipo de evento, a área afetada pode ser considerada perturbada – quando é mantida a capacidade de regeneração natural ou de estabilizar-se em outra condição dinamicamente estável. Em casos de distúrbios mais severos, a capacidade do ecossistema de restaurar seu equilíbrio de forma natural é bastante afetada, resultando em áreas degradadas. As áreas degradadas são aquelas sem capacidade de repor as perdas sofridas (DUARTE; BUENO, 2006).

De acordo com as características do clima e do solo, e do grau de perturbação/degradação, a vegetação pode ser recuperada ou restaurada. A recuperação consiste em sair da condição de degradação ou perturbação e retornar para as condições de funcionamento e estabilidade, podendo não ser a mesma condição original (DUARTE; BUENO, 2006). Enquanto a restauração florestal é aplicada com intuito de recuperar as características originais da floresta, em sua composição de espécies, estrutura, serviços ambientais e processos ecológicos necessários por sua manutenção e sustentabilidade (NBL; TNC, 2013).

A regeneração natural, ou seja, o surgimento natural de uma espécie nativa em uma área degradada, é vista também como um dos métodos de restauração florestal (LERF/ESALQ/USP), que pode ocorrer de forma espontânea tanto em áreas de pastagens abandonadas, caracterizando os chamados pastos sujos, ou com condução antrópica, através da aplicação de técnicas para o controle e combate à espécies vegetativas indesejadas, e estímulo ao desenvolvimento de espécies nativas consideradas melhores para a restauração florestal (DUARTE; BUENO, 2006; MMA, 2017).

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De forma geral, a regeneração natural é influenciada pelas características da degradação e características sócio econômicas que implicam na intensidade dos usos e ocupações na área ao longo do tempo, assim como de seu entorno (RODRIGUES et al, 2006 apud SOUZA et al, 2012; MMA, 2017). Segundo estudo do potencial de regeneração natural feito para a Mata Atlântica, os indicadores que favorecem esse processo são: o percentual da microbacia com declividade acima de 15%; distância média entre os fragmentos da vegetação; percentual de pastagens na microbacia; percentual de agricultura na microbacia; percentual de vegetação remanescente na microbacia e; fitofisionomia potencial predominantemente florestal (SANSEVERO et al, 2017). Outros autores concordam que drivers importantes para a regeneração natural são o tempo passado desde o início do processo de restauração, a magnitude e tipo do impacto do uso ou cobertura e o contexto na escala da paisagem - presença e proximidade de fragmentos florestais e de agentes de pressão, como áreas urbanas (REZENDE et al, 2015; CROUZEILLES et al, 2016; CROUZEILLES et al, 2017).

O processo de regeneração se faz relevante pois traz uma série de benefícios ecológicos, sendo mais eficiente do que métodos de restauração ativa (CROUZEILLES et al, 2017). O crescimento natural espontâneo de vegetação nativa aumenta a conectividade estrutural entre as manchas de habitat na paisagem, por meio do aumento do número e da área dos fragmentos florestais, formando corredores ecológicos e trampolins, ou pontos de ligação, na matriz da paisagem (REZENDE et al, 2015). O desenvolvimento dessas novas feições expande a área de vida e a possibilidade de locomoção de certas espécies de fauna, assim como estimula o fluxo gênico favorecendo a biodiversidade, a restauração das estruturas vegetais, podendo até reverter processos de extinção de espécies de plantas mais sensíveis desencadeados ou em curso, mesmo 100 anos após o distúrbio ter cessado (REZENDE et al, 2015).

A restauração florestal por meio da regeneração natural também se mostra mais vantajosa no aspecto socioeconômico por possuir baixo ou nenhum custo de implantação e através da recuperação de serviços ambientais e aumento da oferta de recursos naturais, favorecendo diretamente determinadas atividades antrópicas (REZENDE et al, 2015).

Quando os movimentos de revegetação ocorrem de forma natural, significa que seguiram a ordem da sucessão ecológica. A sucessão ecológica secundária se divide em três estágios sucessionais distintos. O estágio inicial corresponde à colonização da área, ou seja, o surgimento dos primeiros indivíduos. As primeiras espécies a surgirem são as chamadas espécies pioneiras, de crescimento acelerado e ciclo biológico curto, menor porte, mais

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resistentes à condições mais severas de insolação, à exemplos de espécies de herbáceas e gramíneas. A idade da comunidade vai de 0 até 10 anos e é caracterizada por fisionomia herbáceo/arbustiva, de cobertura aberta ou fechada, distribuição esparsa dos indivíduos vegetais e altura do dossel de até 5m (Resolução n06, Brasil, 1994).

Ao longo do tempo, as próprias espécies que se estabeleceram provocam mudanças nas condições microclimáticas, atraindo fauna e novas espécies florestais, e se alteram as estruturas de espécies e os processos ecológicos, dessa forma, dando continuidade ao processo de sucessão ecológica. Após o estágio inicial vem o estágio sucessional médio, identificado pelos parâmetros de fisionomia arbustiva/arbórea, cobertura fechada, início de estratificação, altura média de até 12m e idade da comunidade variando entre 11 e 25 anos (Resolução n06, Brasil, 1994).

Finalmente, quando a vegetação se encontra em estágio avançado, ela deve apresentar fisionomia arbórea, cobertura fechada com um dossel uniforme, sub-bosque diferenciado e estratificado, diversidade de espécies lenhosas com mais de 20 metros de altura e presença abundante de epífitas (Resolução n06, Brasil, 1994).

2.3 ANÁLISE ESPACIAL

Para a análise de um problema é preciso compreender sua dimensão espacial e como se apresenta no espaço (MS, 2007a). A análise espacial de dados geográficos enfoca na mensuração de relacionamentos, propriedades e atributos de fenômenos ocorridos no espaço, de forma a compreender sua distribuição, normalmente lidando com dados ambientais e socioeconômicos. Esses estudos espaciais tornaram-se importantes no esclarecimento de questões centrais para diversas áreas do conhecimento e como ferramentas de apoio à decisões, como de planejamento (DRUCK et al, 2004; LANG; BLASCHKE, 2009).

Para melhor compreensão de tal área do conhecimento, alguns conceitos essenciais no campo da análise espacial serão apresentados. A dependência espacial é o primeiro deles, Druck, Carvalho e Câmara (2004) afirmam que a maior parte das ocorrências apresentam uma relação entre si que depende da distância.

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Essa dependência se expressa como um outro conceito, o de autocorrelação espacial, que verifica a variação da dependência espacial de uma amostra e seus vizinhos (DRUCK et al, 2004). A estrutura da dependência espacial é quantificada através da autocorrelação espacial, uma função que mede a correlação da variável no espaço, com base na vizinhança e comparação entre atributos dos fenômenos, portanto é a medida total da associação espacial de um conjunto de dados. Quando constatada autocorrelação espacial, significa que é necessário levar em conta o espaço, de forma explicita, na etapa estatística de tratamento dos dados (MS, 2007b).

Também é importante levar em conta o conceito de estacionariedade, que identifica a variação do processo no espaço e ao longo do tempo. A estacionariedade é constatada se há constância da média do processo de distribuição dos fenômenos em toda a região e ao longo do tempo. Quando um processo apresenta igual comportamento e dependência espacial em todas as direções, é identificada isotropia (MS, 2007b).

A inferência estatística para dados espaciais é mais um conceito que se relaciona com a dependência espacial. Quando essa dependência é constatada, faz-se necessária a realização da inferência estatística por um processo estocástico, no qual todas as observações prestadas devem ser consideradas e utilizadas de forma conjunta (DRUCK et al, 2004).

Devido à componente locacional/geográfica, a análise espacial foi impulsionada pela aliança com os SIG, utilizados para o tratamento computacional dos dados (DRUCK et al, 2004). Os métodos de tratamento desses dados em análise espacial permitem trabalhar com mais de uma camada de dados. Quando apenas uma camada é utilizada, chama-se análise horizontal, dada as relações laterais estudadas em um único plano. Quando se analisa combinadamente as relações entre mais de uma camada sobrepostas, fala-se em análise vertical. Essa visualização e manipulação de camas de dados conectadas através dos SIG possibilita a geração de novas informações e geometrias referentes à áreas (LANG; BLASCHKE, 2009).

O SIG permite a criação de novas feições e informações através de operações geográficas, consultas por atributos e consultas espaciais, que podem ser realizadas com uma ou mais camadas. As operações geográficas e de consulta espacial levam em conta o relacionamento entre os objetos relativos às camadas, são muitas vezes baseadas nos conceitos de autocorrelação espacial e em relações topológicas. As relações topológicas expressam como duas feições estão se tocando, - sobreposição, interseção, faz limite, está contido, contém, se é

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igual, se cruza, se tem trecho em comum, etc. Essas operações ainda permitem a soma, subtração ou interseção entre feições e/ou camadas (MS, 2007b).

As funcionalidades analíticas associadas aos tipos de dados e procedimentos, utilizando modelos vetoriais ou raster, inseridos no SIG, servem de base para a mensuração da estrutura da paisagem, subdividida em dois grupos, de análises geométricas ou topológicas e de análises dos atributos. Os atributos descrevem a entidade geográfica e permitem extrair a frequência e distribuição estatística de certas características do objeto, e as relações topológicas permitem a constatação da proximidade, adjacência, recorte, sobreposição, e mais outros tipos de relações topológicas entre feições geográficas (LANG; BLASCHKE, 2009).

“A análise espacial de eventos deve ser realizada levando-se em conta os três grupos de métodos: (a) visualização; (b) exploração; e, (c) modelagem (Bailey e Gatrell, 1995)” (apud, MS, 2007b). A visualização verifica a demonstração gráfica dos dados para avaliar padrões específicos de distribuição. A exploração se dá por meio da análise exploratória dos dados, busca-se uma descrição de eventos e apresentação de modelos – ou o esclarecimento dos melhores caminhos para a definição de modelos. Pode-se medir distâncias e calcular densidades, os resultados contribuem para visualização gráfica e cartográfica, facilitando a identificação e medição de padrões e relações entre os objetos. Modelagem usa os produtos das etapas anteriores da análise de fenômenos e processos estocásticos para especificar modelos estatísticas, fazer inferências de probabilidade e estimar parâmetros. Os modelos são usados para entender um sistema e seu funcionamento, estudar suas causas e efeitos gerados, testar possibilidades e realizar a predição de processos e fenômenos espaço-temporais (MS, 2007b).

A finalidade da análise espacial é a definição, através de procedimentos encadeados, de um modelo inferencial que melhor explicite os relacionamentos espaciais do objeto de estudo. Os modelos inferenciais são divididos em três tipos: variação contínua, variação discreta e processo pontual, tendo em vista que as RPPNs são eventos com uma localização específica e área finita no espaço, estes últimos citados são os que mais estão de acordo com o objeto e a proposta de pesquisa apresentados neste trabalho (DRUCK et al, 2004).

A etapa que precede a fase de modelagem, comummente, a da análise exploratória, também possui um importante papel nesse estudo. Essa fase resulta em diversos produtos que contribuem para compreensão das principais características do dado, em sua classificação, na identificação de padrões de dependência, variabilidade da proximidade espacial, distribuição

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dos fenômenos e atributos e na visualização com técnicas de tabulação, representação gráfica e cartográfica (DRUCK et al, 2004).

Através da análise descritiva, pode ser feita a distribuição de frequências ou o histograma da amostra, que corresponde ao número de ocorrências de cada valor de uma variável e pode mostrar a estratificação dos valores amostrados da população de elementos analisados. A partir dessas informações é possível extrair os valores máximos, valores mínimos, medidas de tendência central e medidas de dispersão dos valores amostrados (MS, 2007a).

As medidas de tendência central são representadas pelos valores: da média, resultante da divisão da soma de todos os valores, pelo número de observações; da moda, valor que apresenta maior frequência e; da mediana, que corresponde ao valor que se encontra exatamente no meio de todas as observações, sendo assim metade dos valores será menor do que a mediana e a outra metade dos valores será maior. Enquanto, por outro lado, as medidas de dispersão procuram representar os pontos fora da curva, através da variância e do desvio padrão, calculados com base na média, para representar a variabilidade dos valores (MS, 2007a).

A estatística espacial é um ramo da estatística que permite analisar a localização espacial dos eventos. Através do SIG e da estatística espacial, além de identificar, localizar e visualizar é possível modelar a ocorrência dos fenômenos, incorporando seus padrões determinantes e a sua estrutura e padrões de distribuição espacial Estatística espacial é empregada quando é necessário considerar a influência do arranjo espacial para a ocorrência de um fenômeno e obtenção de resultados. São técnicas para modelagem dos fenômenos afetados por sua localização geográfica e relações de vizinhança. Leva em conta os princípios de dependência e autocorrelação espacial, baseados na proximidade e variabilidade da distância de localização dos objetos estudados. O conjunto das observações da análise estocástica é utilizado para descrever o padrão do objeto de estudo (MS, 2007b).

Os dados utilizados possuem informações geográficas para sua representação geométrica e atributos em forma de tabelas, conectados por uma ligação lógica. Tais dados podem ser do tipo áreas com contagens e taxa agregadas, superfícies contínuas e eventos ou padrões pontuais. No caso, este último é baseado na localização do evento com o objetivo de elucidar a distribuição espacial dos pontos testando se o padrão é aleatório, se forma aglomerados ou se é regularmente distribuído. A caracterização da distribuição de pontos no processo pontual avalia sua localização para apreender seu mecanismo estocástico gerador,

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dados pelos efeitos de primeira e de segunda ordem. Os primeiros efeitos compreendem a intensidade do processo, ou o número de eventos por unidade de área, e os efeitos de segunda ordem representam a dependência espacial do processo (DRUCK et al, 2004).

A estimação da intensidade pode ser feita pelo método Kernel, técnica de análise exploratória, aplicado para medir a densidade de pontos e identificar aglomerados, que gera uma superfície contínua alisada com o raio de influência, definido pela vizinhança dos pontos interpolados, fornecendo a visão geral da primeira ordem da distribuição dos eventos (DRUCK et al, 2004; MS, 2007b). Para a estimação da segunda ordem pode-se utilizar a função K ou interpoladores por vizinho mais próximo, que estima a função de distribuição cumulativa entre eventos no recorte de análise e, juntamente com a análise exploratória dos resultados, pode evidenciar interação entre os eventos (DRUCK et al, 2004). Para isso é possível utilizar a localização das RPPNs, por exemplo. Por outro lado, a análise espacial de áreas, baseadas em dados de áreas com contagens e taxas agregadas com variação espacial discreta, enfoca em compreender a frequência de determinados eventos, de forma a definir a distribuição conjunta de variáveis aleatórias, contudo, algumas técnicas de análises de dados pontuais podem ser aplicadas para análises de áreas (DRUCK et al, 2004; MS, 2007b). Esses estudos podem se traduzir na distribuição e contagem das RPPNs por unidades de paisagem.

2.4 ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DA PAISAGEM FÍSICO-GEOGRÁFICA

A fim de inspecionar a relação entre as feições e elementos que formam e compõe a paisagem, apresentam-se, alinhados ao campo da análise espacial e ao geoprocessamento, os campos da análise da paisagem e Ecologia da Paisagem, uma união entre a Geografia e a Ecologia, que objetiva o estudo dos elementos e processos naturais que condicionam e são condicionados pelos seres vivos em relação ao meio (TROLL, 1966 apud VICENS et al, 2019, p. 204 ). São enfocados em sua escala, estrutura, mecanismos e função. Para além da determinação de relacionamentos, as análises são direcionadas para as métricas de paisagem, detecção de mudanças ocorridas na paisagem ao longo do tempo por meio de análises multitemporais de trajetórias evolutivas e definição ou identificação de suas tipologias, unidades ou subunidades (LANG; BLASCHKE, 2009).

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Embora a noção de paisagem historicamente sempre estivesse presente na consciência coletiva das populações humanas, se evidenciando através de suas culturas e mitos, é apenas no século XIX que o conceito de paisagem é fundamentado na ciência. Inicialmente com Humboldt, que buscava compreender a inter-relação entre as características físico-naturais, atrelando à paisagem uma perspectiva estético-fenomenológica, que se refere tanto à unidade que se distingue na superfície da Terra, como à sua aparência (CRONEMBERGER 2014), definindo a paisagem como a síntese ou caráter de uma região na superfície da Terra (HUMBOLDT, 1807 apud LANG; BLASCHKE, 2009, p. 86).

Até então, a paisagem era compreendida por Humboldt somente por seus elementos naturais, mas posteriormente com a apropriação desse conceito por outras escolas e teóricos, a noção de paisagem vai adquirindo novas abordagens e abrangência, passando a levar em consideração os elementos antrópicos que a compõe e ordenam. Sendo assim, de forma geral, a paisagem seria o resultado da interação entre os diferentes tipos de elementos no manto terrestre (VICENS et al, 2019).

A paisagem passa a ser inserida como objeto de estudo em diferentes áreas da ciência e as diferentes concepções à respeito da paisagem ainda originaram diversos outros campos de estudo sobre a paisagem, influenciados por conceitos advindos da Biologia, Ecologia e/ou da Geografia, se tornando um de seus principais objetos (CRONEMBERGER 2014). Internamente na Geografia, a ideia da paisagem ainda é responsável pela ramificação da disciplina, culminando no surgimento de novas correntes geográficas, como o Possibilismo, a Geografia Cultural e a Geografia Racionalista, cada qual com sua concepção distinta dessa categoria de análise (VICENS et al, 2019).

Apesar da ramificação em diferentes eixos de pensamento, os estudos da paisagem obedecem a algumas premissas básicas que os norteiam. Já de princípio a paisagem é entendida como um sistema, no qual os elementos que o compõe apresentam uma homogeneidade interna até certo ponto, se inter-relacionam formando um todo único e indissociável, de onde criam-se propriedades emergentes, e distinto da soma de todos os elementos. Os sistemas são organizados de forma hierárquica, partindo de níveis mais baixos, gerais, de características comuns e escalando para níveis mais altos com maiores particularidades. Essa estrutura espacial da paisagem também apresenta um componente temporal, pois todo estudo da paisagem deve apresentar recorte espaço-temporal, de forma a esclarecer o arranjo espacial estudado, assim como os processos que o formaram

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(PREOBRANZHENSKII et al, 1998, apud CRONEMBERGUER, 2014, p. 11; LANG; BLASCHKE, 2009).

Em função das características universais pertencentes às paisagens, sua estrutura pode ser entendida como a de uma colcha de retalhos ou como um mosaico das unidades que compõe a paisagem. Há um pano de fundo que corresponde à matriz, unidade que controla a dinâmica da paisagem ou uso/cobertura do solo predominante naquele recorte. Por cima do pano de fundo dessa matriz vão se sobrepondo os retalhos, ou as chamadas manchas, áreas homogêneas, restritas e não-lineares, distintas das unidades vizinhas, identificadas por outros tipos de uso ou cobertura. Essas correspondem às duas estruturas básicas da paisagem, mas podem-se apresentar outras formas como corredores, feição linear; fragmentos, originados quando ocorre a subdivisão de uma unidade contínua e; pontos de ligação, pequenas áreas de habitat que facilitam o fluxo entre manchas (METZGER, 2001; LANG; BLASCHKE, 2009).

De forma geral, a análise da paisagem faz uma abordagem sistêmica, onde o sistema é definido pelo conjunto de elementos ou unidades interatuantes que formam uma unidade integral. As análises são feitas para evidenciar e explicar a estrutura da paisagem, suas propriedades, relações topológicas entre os elementos, padrões de distribuição, sua função e dinâmica, podendo ser feita a partir de certos enfoques: o enfoque estrutural, que estuda sua organização interior; o enfoque funcional, que investiga seus fluxos e trocas; o enfoque dinâmico-evolutivo, que compreende suas mudanças; o enfoque histórico-antropogênico, que elucida sua ocupação e utilização pelas sociedades e; o enfoque da estabilidade, que traduz sua capacidade de manutenção (CRONEMBERGUER 2014).

No contexto do presente trabalho, uma vez que se está analisando a partir de enfoques estrutural, histórico-antropogênico e dinâmico-evolutivo e relação e distribuição de unidades RPPNs, uma criação antrópica, nas paisagens do estado do Rio de Janeiro, não poderia ser considerada apenas a dimensão natural da paisagem. A paisagem é tida como uma combinação dinâmica de elementos físicos, naturais, biológicos e antrópicos que se dá no espaço. Para tanto, o conceito de paisagem aqui compreendido é da paisagem como formação antropo-natural. “Concebe a paisagem como sistema espacial ou territorial formado por elementos naturais e antropo-tecnogênicos condicionados socialmente, os quais implicam numa modificação das propriedades das paisagens naturais originais.” (VICENS et al, 2019, p. 206). Apesar dessa abordagem geral da paisagem, o dado de tipologias, utilizado para verificação da distribuição das RPPNs pelos tipos de paisagem do estado do Rio de Janeiro, considera apenas os aspectos

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naturais da paisagem no processo de classificação e determinação das unidades da paisagem fluminense.

Para diferenciar unidades de paisagem são levados em conta as propriedades emergentes da junção dos diferentes fatores atuantes e formadores daquela região. Os fatores observados estão relacionados às componentes paisagísticas, que interagem na composição da paisagem para formar um contexto substancial, estrutural, funcional e evolutivo na dinâmica da paisagem. (VICENS, et al, 2019).

No caso, a paisagem natural é formada pela interação de fatores zonais, respectivos à faixas ou zonas climáticas, que dividem as grandes regiões do globo, com fatores azonais, como morfoestruturas de relevo e conjuntos litológicos. Alguns desses fatores se apresentam como diferenciadores, manifestam-se nas características da paisagem ao determinar certas propriedades e componentes. Como exemplo destacam-se o calor e a umidade (VICENS et al, 2019).

O calor e a umidade derivados dos fatores diferenciadores, sofrem os efeitos das formas da paisagem e são redistribuídos. O relevo controla e determina os padrões de formação dos outros componentes e sintetiza a atuação dos fatores zonais e azonais, estabelecendo suas condições. Dessa forma, os fatores distribuidores também influenciam fatores hidrológicos e edáficos. Estes tipos são uma mescla de fatores indicadores e diferenciadores, uma vez que são responsáveis pela criação das condições de disponibilidade hidrogeoquímica na paisagem, mas para isso, dependem da distribuição dos fluxos de energia e matéria. Resultantes da influência combinada dos fatores de diferenciação e distribuição, apresentam-se os fatores bióticos tidos como os fatores indicadores, pois indicam as condições do habitat formado (VICENS et al, 2019).

Para identificar as unidades da paisagem natural, o primeiro passo é a definição de uma ordem lógica da interação dos fatores, considerando o atual arranjo e seu histórico paleo-geográfico. Essa etapa permite a identificação das relações entre as diferentes geo-estruturas que compõe a paisagem: morfolitogênica, hidroclimatogênica e biopedogênica (RODRIGUEZ, 2011 apud VICENS et al, 2019, p. 208), que desenha os níveis espaciais das unidades de paisagem (VICENS et al, 2019).

A compreensão da hierarquia entre as unidades de paisagem, relacionada à escala de abordagem, também é essencial nesse processo, pois influencia a presença e o peso de atuação

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dos diferentes fatores na dinâmica da paisagem. As três principais dimensões da paisagem são: a planetária ou global; a regional ou corológica e; a local ou topológica. Dentre essas, o nível regional pode ser o mais complexo, por apresentar uma mistura de unidades locais, juntamente com regional, além da influência de fatores de escala global. Por conta dessa confluência de elementos, as unidades regionais da paisagem são únicas e geograficamente individualizadas. (VICENS et al, 2019).

Essas paisagens são estudadas de forma particular, com base em princípios de continuidade espacial, integralidade, gênese comum, individualidade e unicidade, por meio da regionalização físico-geográfica (RFG) que valoriza a integração territorial. Enquanto as paisagens de nível local, unidades morfológicas, se repetem no espaço e tempo, o que faz com que sejam estudadas com base em suas características tipológicas de pertencimento, semelhança, homogeneidade relativa e repetitividade, por meio da tipologia físico-geográfica (TFG), produto que será usado nas análises de distribuição das RPPNs (VICENS et al, 2019).

A RFG e a TFG são consideradas formas de classificação da paisagem. É importante ressaltar que a classificação da paisagem a nível global e regional pode ser feita por ambos os métodos, para nível local, porém, é feita apenas por TFG, em função das características dessa escala. Na classificação das unidades de paisagem locais, são essenciais o princípio histórico-evolutivo e o princípio estruturo-genético. Esses princípios de diferenciação se relacionam e influenciam um ao outro, conferindo integralidade à paisagem. Na TFG as unidades resultantes/identificadas são nomeadas de acordo com componentes que as integram (VICENS et al, 2019).

O sistema de unidades taxonômicas classifica as unidades físico-geográficas numa estrutura hierárquica de táxons fundamentados na homogeneidade relativa da superfície terrestre, que caracterizam os níveis hierárquicos e determina a fragmentação da unidades físico-geográficas tipológicas. A região físico-geográfica representa a interseção entre as hierarquias taxonômicas de nível regional e local, sendo que as localidades são a base dos levantamentos tipológicos na análise das paisagens (VICENS et al, 2019).

O sistema de unidades taxonômicas classifica as unidades físico-geográficas numa estrutura hierárquica de táxons fundamentados em princípios da RFG ou da TFG, através de índices diagnósticos que caracterizam os níveis hierárquicos. A TFG considera a homogeneidade relativa para formar tipos de unidades com características comuns que se

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repetem, portanto são fragmentadas no espaço. Os índices diagnósticos utilizados na classificação TFG ponderam sobre um fator capital ao qual se subordinam os demais fatores para cada nível hierárquico (VICENS et al, 2019).

3 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

Essa pesquisa tem finalidade básica estratégica, pretende aprofundar o conhecimento com possibilidade de aplicação guiada pelos objetivos exploratório e de descrição da situação das RPPNs estaduais do Rio de Janeiro. Relacionando-as à outras variáveis e elementos formadores e componentes da paisagem através de métodos quantitativos, de análise e mapeamento para comprovar ou refutar as hipóteses previamente formuladas. Os procedimentos utilizados para o alcance dos resultados foram baseados nas técnicas e conceitos apresentados no referencial teórico nos tópicos anteriores.

3.1 METODOLOGIA

A metodologia consistiu na reunião das ferramentas do geoprocessamento com os conceitos e técnicas da análise espacial e da paisagem para compreender a distribuição das RPPNs, sua relação com a paisagem e sua influência nas trajetórias evolutivas da vegetação. Para tanto, se dividiu em duas grandes etapas principais, baseadas nas duas hipóteses expostas, além da fase de aquisição e preparação dos dados. O fluxograma da metodologia é apresentado na figura 1.

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Figura 1. Fluxograma da metodologia geral.

Os dados básicos utilizados para as análises foram o shapefile com os polígonos das áreas das RPPNs criadas pelo Inea, cedidas pelo NURPPN (Inea); shapefile do CAR com os polígonos dos imóveis cadastrados, retirado do site do SICAR agosto/2019; mapeamento das tipologias de paisagem do estado do Rio de Janeiro, elaborado por Cronemberguer (2014), contendo as feições associadas às diferentes tipologias e; mapeamento das trajetórias evolutivas da vegetação de 1984-2016, produzido por Weckmüller (2018), também contendo as diferentes áreas das trajetórias, separadas por recuperação, desmatamento, invariante e por ano de início da mudança identificada.

Além dessas informações primordiais, também foram utilizados outros dados para expandir e reforçar as análises feitas. As feições dos municípios do estado, Unidades de Conservação e zonas de amortecimento, presentes no território fluminense nos três níveis administrativos. Foram adquiridas através da plataforma do Geoportal do Inea, em setembro de 2019. O fluxograma da fase de aquisição dos dados, com suas fontes está demonstrada na figura 2.

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Após o download, foi feita a preparação dos dados para seu melhor processamento e visualização. Os polígonos das RPPNs foram cruzados com os outros dados espaciais. Foram executados cálculos de área, consultas espaciais, consultas e edição de atributos e operações geográficas para relacionar as RPPNs aos outros dados citados. A maioria desses dados foram exportados como tabelas contendo seus atributos, como subsídio das análises estatísticas descritivas e confecção de gráficos do comportamento dos dados.

De acordo com a tabela de atributos das reservas particulares, criou-se um cadastro das RPPNs para relacionar todas as informações analisadas e as operações e cruzamentos feitos com os outros dados. Para isso foi utilizada a identificação única gerada para cada RPPN.

Após esses passos iniciais a metodologia se dividiu nas seguintes etapas: a primeira, a fim de analisar o padrão espaço-temporal de criação de distribuição das RPPNs, e na segunda verificar a correlação espaço-temporal entre a criação das RPPNs nas trajetórias de revegetação ou desmatamento a partir de 2009. Um fluxograma mais detalhado da metodologia está representado na figura 3.

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Na primeira etapa, foi delineado o padrão de distribuição das RPPNs e sua relação com elementos e tipologias da paisagem. O padrão espaço-temporal das RPPNs foi estudado de acordo com os anos de criação das RPPNs, sua distribuição nos municípios do estado do Rio de Janeiro, sua distribuição pelas tipologias de paisagem e sua distribuição e proximidade de UCs e ZAs.

Na segunda, o objetivo é atestar a influência das RPPNs na paisagem, com base na correlação espaço-temporal das trajetórias evolutivas da vegetação – dentro da área imóvel das propriedades que possuem reservas particulares – com o início da criação das RPPNs. Os dados utilizados nessa etapa, foram as datas de criação das RPPNs; o shapefile de polígonos dos imóveis que possuem RPPNs e; as feições das trajetórias de mudança da vegetação do estado do Rio de Janeiro.

As informações atribuídas às análises de relacionamentos espaciais foram também trabalhadas e analisadas de forma quantitativa, através da análise exploratória dos dados com números agrupados e análise estatística para dados simples. Os resultados quantitativos e os cruzamentos espaciais culminaram em resultados gráficos e cartográficos.

3.2 MATERIAIS

Nessa sessão serão descritos os principais dados, utilizados como fundamento no trabalho, apresentados na metodologia. O shape contendo os polígonos que representam a localização e área das RPPNs, foi produzido e compartilhado pelo NURRPN-Inea. Até julho de 2019, o estado do Rio de Janeiro havia criado 89 dessas reservas, que foram escopo deste trabalho. As RPPNs vieram representadas no Datum SIRGAS 2000, sistema referencial geodésico padrão para os mapeamentos efetuados no Brasil. Em função disso, todos os outros dados utilizados também foram trabalhados em SIRGAS 2000.

A camada da área imóvel do CAR foi retirada da plataforma SICAR, do governo federal, já padronizada no Datum SIRGAS 2000. O Cadastro Ambiental Rural é obrigatório para todas as propriedades rurais no Brasil, foi criado a fim de compilar em um cadastro informações pertinentes para o Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente (SINIMA). É exigido que os proprietários declarem as APPs, RL, áreas de uso restrito, remanescentes de

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vegetação nativa e áreas consolidadas dentro de suas propriedades. Dessa forma, possibilitando o controle, monitoramento, combate ao desmatamento, a regularização ambiental e o planejamento ambiental e econômico com base nas informações cadastradas. O CAR abriu para o cadastramento em 2014 e ainda hoje não é um dado consolidado. Inscrições ainda estão sendo aceitas e o poder público está analisando e aprovando os cadastros realizados. Nem todas as propriedades analisadas neste trabalho tiveram aprovação final no CAR.

O mapeamento de tipologias da paisagem, elaborado por Cronemberguer em 2014 foi mais uma importante informação que subsidiou o estudo realizado. A classificação da paisagem se baseou na análise por objeto, seguindo o método TFG. As fontes de dados utilizadas para definição dos táxons foram modelos digitais de elevação, grids climáticos e mapeamentos temáticos de fatores físico-naturais, informações morfométricas e litológicas. A paisagem foi hierarquizada em quatro táxons: Classe, Grupo, Subgrupo, Unidades de Paisagem. Cada um desses foi subdividido em função de análises de regressão linear, múltipla e de regressão ponderada geograficamente que identificaram a dependência espacial e homogeneidade relativa dos fatores naturais, litológicos, morfológicos e climáticos.

A correlação feita com as RPPNs neste trabalho compreendeu as tipologias de paisagem mapeadas por Cronemberguer (2014) apenas até a segunda ordem taxonômica, ou Grupos de paisagem, delineada de acordo com variáveis de altimetria, declividade e unidades morfoesculturais do relevo. As morfoesculturas são resultantes da ação climática sobre a estrutura do relevo. Existem seis Grupos de paisagem, que caracterizam três tipos de Classe de paisagem (primeira ordem taxonômica), ou seja, cada classe de paisagem pode conter até seis Grupos de paisagem. A forma como Cronemberguer (2014) dividiu as classes de paisagem em função dos Grupos, e suas nomenclaturas podem ser observadas na tabela 1.

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Tabela 1. Nomenclatura das tipologias de paisagem até 2a ordem. (adaptado de CRONEMBERGUER 2014).

Na segunda fase da metodologia, foi utilizado o mapeamento de trajetórias evolutivas da vegetação no estado do Rio de Janeiro, publicado por Weckmüller em 2018. O mapeamento foi elaborado com base em uma série multitemporal de imagens do satélite Landsat entre os anos de 1984 e 2016. As análises da área de estudo foram limitadas por uma máscara de floresta, o que fez com que as trajetórias identificadas fossem apenas para essa cobertura vegetal. As trajetórias foram processadas através do algorítimo LandTrendr, que compara cada pixel da série multitemporal de imagens, detectando mudanças no valor espectral entre os anos, de forma a definir uma tendência de distúrbio (perda) ou recuperação (ganho) para cada pixel do período estudado. No resultado de saída é possível ver os tipos das trajetórias dos pixels, o ano de início da mudança, (magnitude e duração).

No mapeamento de Weckmüller (2018), as trajetórias foram classificadas de acordo com sua magnitude e tempo de duração, derivando nas classes: invariante, áreas que não apresentaram mudança ou que não foram contempladas pelo algoritmo, em função da máscara de vegetação; desmatamento abrupto, desmatamento gradual, desmatamento duplo, que compreendem os diferentes tipos de perda ocorridos na vegetação, e; recuperação, recuperação

Referências

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