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Atuação do Serviço Social no núcleo de Atenção à Saúde do adolescente- NASA do bairro Âncora

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO UNIVERSITARIO DE RIO DAS OSTRAS INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ADRIANA MANHÃES HENRIQUE CARVALHO ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO NÚCLEO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE- NASA DO

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ADRIANA MANHÃES HENRIQUE CARVALHO

ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO NÚCLEO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE- NASA DO BAIRRO

ÂNCORA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense – Campus Universitário de Rio das Ostras, como um dos requisitos para obtenção da graduação de Assistente Social.

Orientador: Prof. Dr.º Bruno Ferreira Teixeira

Rio das Ostras 1ª semestre de 2017

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ADRIANA MANHÃES HENRIQUE CARVALHO

ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO NÚCLEO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE- NASA DO BAIRRO

ÂNCORA

Trabalho monográfico de conclusão de curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense - Campus Universitário de Rio das Ostras, como requisito para obtenção da graduação de Assistente Social.

Avaliado em 25 de agosto de 2017.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Bruno Ferreira Teixeira-Orientador Universidade Federal Fluminense-CURO

Prof. Dr. Felipe Mello da Silva Brito Universidade Federal Fluminense-CURO

Prof. Dr. Edson Teixeira

Universidade Federal Fluminense-CURO

Rio das Ostras 2017

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Ao meu filho, ao meu esposo, aos meus pais, aos meus colegas de formação e aos meus mestres, em especial os que compõem este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar, pela graça de me sustentar até aqui, e renovo da minha fé.

Aos meus pais, irmãos, e meu companheiro, amigo inseparável, que me proporcionou minha maior alegria, meu filho amado.

A meu orientador, professor. Dr. Bruno Ferreira Teixeira, pela paciência e dedicação à mim empenhada.

Aos meus amigos de graduação pela confiança, compreensão e apoio.

A todos os professores que proporcionaram conhecimentos e aprendizagens necessárias à minha formação, especialmente aos que compõe este trabalho.

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“Seria uma atitude ingênua

esperar

que

as

classes

dominantes desenvolvessem

uma forma de educação que

proporcionasse

às

classes

dominadas

perceber

as

injustiças sociais de maneira

crítica.” (Paulo Freire).

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso pretende fazer uma reflexão acerca das ações profissionais do assistente social participante da equipe do Núcleo de Atenção à Saúde dos Adolescentes (NASA) no município de Rio das Ostras, bairro Âncora R/J. Para tanto, foi necessário debater o processo de legitimação da Política de Proteção Social para crianças e adolescentes no Brasil. Portanto, se torna necessário identificarmos as características do adolescente, relatando de forma conceitual seus comportamentos, sua interação com seu meio social, como se desenvolvem e como tudo isto reflete na sua forma de se reconhecerem na sociedade e lutarem por seu desenvolvimento Assim, considerando o Serviço Social enquanto uma profissão historicamente determinada, as competências profissionais do assistente social no que diz respeito ao seu perfil pedagógico para atender os adolescentes do NASA, buscando construir uma relação entre o trabalho do assistente social e a importância de sua atuação especificamente no complexo trabalho de desenvolvimento humano, na valorização do ser e principalmente, na formação da cidadania.

Palavras-chave: Serviço Social, Política de Saúde, Crianças e adolescentes,

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ABSTRACT

This Course Conclusion Work intends to reflect on the professional actions of the social worker participant of the team of the Attendance Center for Adolescent Health (NASA) in the municipality of Rio das Ostras, neighborhood Âncora R / J. Therefore, it was necessary to discuss the process of legitimizing the Social Protection Policy for children and adolescents in Brazil. Therefore, it is necessary to identify the characteristics of the adolescent, reporting in a conceptual way their behaviors, their interaction with their social environment, how they develop and how all this reflects in the way they recognize themselves in society and fight for their development. Social work as a profession historically determined, the professional skills of the social worker with regard to their pedagogical profile to serve the adolescents of NASA, seeking to build a relationship between the work of the social worker and the importance of their performance specifically in the complex work of Human development, the valorization of being and, above all, the formation of citizenship.

Key-words: Social Work, Health Policy, Children and Adolescents, Social Protection.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I ... 5

A ORIGEM DAS FAVELAS ... 5

1.1 Construção das Comunidades: do quilombo à favela. ... 5

1.2 A origem histórica da cidade de Rio das Ostras e a criação do Bairro Âncora ... 10

CAPÍTULO II – A ADOLESCÊNCIA ... 23

2.1 Adolescências e seus conceitos ... 23

2.2 Pobreza e Proteção Social ... 27

2.3 Pesquisas com adolescentes do bairro Âncora ... 33

2.3.1 – Análise gráfica ... 34

CAPÍTULO III – O SERVIÇO SOCIAL E O ADOLESCENTE USUÁRIO DO NASA ... 43

3.1 NASA – Núcleo de Atenção à Saúde dos Adolescentes... 43

3.2 Atuação do Assistente Social no Trabalho com os Adolescentes ... 46

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 61 SÍTIOS VISITADOS ... 64 APÊNDICE 1 ... 65 APÊNDICE 2 ... 66 APÊNDICE 3 ... 67

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INTRODUÇÃO

No Brasil experimentamos uma política social com muitas particularidades históricas, mas estamos longe do Estado Democrático de Direito e de políticas sociais efetivamente satisfatórias, já que estamos inseridos no contexto da política neoliberal, que limita o acesso às políticas socais como forma de compensar as mazelas oriundas da relação capital/trabalho.

Toda esta precarização da política brasileira, evidenciada pela desconstrução dos direitos sociais, nos coloca diante de um fato irrefutável, a luta por essas conquistas de direitos, defendendo valores éticos e morais que possibilitam a emancipação humana, o direito ao acesso a terra/moradia, a igualdade de gênero, o combate a toda e qualquer manifestação de preconceitos e a participação coletiva na construção social.

Desta forma, colocamos a moradia e a forma do homem se inserir na comunidade onde vive como centro deste estudo voltado para os adolescentes que frequentam o Núcleo de Atenção à Saúde dos Adolescentes – NASA. Assim, buscamos apresentar a forma como o Assistente Social atua junto a estes jovens procurando oferecer orientações para uma vida salutar e contribuir no desenvolvimento da percepção de seus sentimentos de pertencimento àquela comunidade.

A aplicação do direito à moradia urbana fortalece os trabalhadores como atores principais na construção dessa realidade que tem como centro norteador a participação popular no planejamento urbano, vide o conjunto de lutas travadas durante anos do Movimento Nacional de Luta pela Reforma Urbana1 com

1

A luta pela reforma urbana no Brasil surgiu a partir do crescimento das cidades brasileiras, que conheceram um sistema tardio de desenvolvimento, marcado por uma industrialização acelerada e um forte êxodo rural. Na década de 1940, a população urbana no país era de apenas 31,2%, passando para 75% na década de 1990 e adquirindo patamares ainda mais elevados nos últimos anos. Esse crescimento acelerado, quase sempre descontrolado e concentrado em um número restrito de cidades não foi acompanhado de uma política de fornecimento de infraestruturas. A maior procura por espaços para habitação favoreceu o crescimento da especulação imobiliária, elevando o preço do solo urbano e encarecendo os imóveis. As populações mais pobres não tiveram um grande acesso a tais localidades, o que contribuiu para o crescimento de moradias precárias, geralmente em áreas irregulares, a exemplo das favelas. A reforma urbana no Brasil foi defendida sistematicamente pelos movimentos sociais a partir do início da década de 1960. No governo João Goulart, chegou a entrar nas pautas de debates em conjunto com outras reformas de base, como a Reforma Agrária, o que explicitava o caráter reformista do governo “Jango”. No entanto, com o Golpe de 1964, essas pautas se enfraqueceram e o projeto de Reforma Urbana foi engavetado junto com muitos outros. No período da redemocratização, ao longo da década de 1980, a reforma urbana entrou novamente em pauta e ganhou um maior apelo durante os debates e articulações da Constituição Federal de 1988. Em 1985, foi criado a principal frente de luta por essa questão no Brasil, o Movimento Nacional pela Reforma Urbana, que se iniciou com uma série de lutas locais por moradias e ganhou, gradativamente, um escopo de luta pela cidade como um espaço

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conquistas significativas, como a aprovação do Estatuto das Cidades em 2011, que traz instrumentos de democratização do direito à cidade. E lutas recentes que gritam, dentre muitas bandeiras, pelo direito à moradia, mobilidade urbana, segurança pública e cultura.

No cenário político e econômico atual, a representatividade, ao invés de aparelhar a democracia, é uma forma de cooptação por parte da elite. Preconiza-se nesse cenário neoliberal a individualização dos interesses econômicos que consequentemente desmobiliza a sociedade das lutas coletivas, e atende aos interesses privados. Tem-se na classe média e alta a força dessas ideias como senso comum. Por isto se torna mais necessário reforçar o protagonismo desses sujeitos coletivos dentro do contexto urbano.

Reavivar a característica combativa do ser social leva-nos a possibilidade de reverter situações que cerceiam a liberdade2 do sujeito. Torna-se claro que o problema maior na busca do sujeito em se perceber pertencendo ao grupo onde reside, cresce e desenvolve sua personalidade, é acima de tudo se aparelhar de condições de lutar e intervir no espaço coletivo em que vive tomando o seu direito

democrático em termos de acessos, educação, cultura, infraestrutura, saúde e segurança. Esse movimento reuniu vários grupos não institucionais, além de federações, sindicatos, arquitetos e uma grande quantidade de intelectuais. Tratava-se, na verdade, não somente de capitalistas desenvolvidos, como é caso da França, em Paris, aplicada ainda no século XIX. Após a promulgação da Constituição Federal, os movimentos sociais iniciaram a pressão para a articulação de suas reivindicações por meio da organização do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU). Com isso, importantes avanços foram alcançados, com destaque para a criação do Estatuto das Cidades, oficialmente sancionado em 2001. A Reforma Urbana vai muito além de conceder moradias à parcela mais pobre da população, seu real objetivo, em sua definição clara preconiza também a distribuição de políticas de implantação de infraestruturas, como o saneamento básico e ambiental, o maior número e qualidade de escolas, melhores condições de segurança, além de outros elementos, como o asfalto e a ordenação não concentrada de serviços públicos e particulares, o combate à especulação imobiliária, sobretudo através da diminuição do número de lotes vagos, a contenção do crescimento desordenado das áreas urbanas, a ampliação das condições de infraestrutura para áreas periféricas e com pouca atenção do Estado por fim, facilitar o deslocamento, melhorando as condições de trânsito e, principalmente, a qualidade do transporte público. (Fonte: PENA, Rodolfo F. Alves. Reforma Urbana. Geografia Urbana, 2011).

2 Ao adotar a liberdade como valor central, nosso projeto assume o “compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia, ou orientação sexual” (Fonte: CFESS, 1993). Vale ressaltar que a concepção de liberdade adotada difere da concepção burguesa, onde, de acordo com Marx: “A liberdade é, portanto, o direito de fazer e empreender tudo o que não prejudique nenhum outro. Os limites dentro dos quais cada um pode se mover sem prejuízo de outrem são determinados pela lei, tal como os limites de dois campos são determinados pela estaca (das cercas). Trata-se da liberdade do homem como nômade isolada, virada sobre si própria. Mas o direito humano a liberdade não se baseia na vinculação do homem com o homem, mas, antes, no isolamento do homem relativamente ao homem. É o direito desse isolamento, o direito do individuo limitado, limitado a si. A aplicação prática do direito humano à liberdade é o direito humano à propriedade privada. O direito humano a propriedade privada é, portanto, o direito de gozar a sua fortuna e dispor dela, o direito do interesse próprio. Aquela liberdade individual, assim como esta aplicação dela, formam a base da sociedade civil. Ela faz com que cada homem encontre no outro homem, não a realização, mas antes a barreira da sua liberdade. Porém, ela proclama, antes de tudo, o direito do homem”. (MARX, karl. Para a questão judaica , 1ª edição. São Paulo: expressão popular,2009.pg 63 e 64)

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de decidir por este espaço, podendo impulsionar a luta pela ocupação e formatação desta urbanização sob outra lógica se não a do mercado e do preconceito.

O Serviço Social enquanto categoria assume sua função pedagógica e se propõe a trabalhar na formação política dos sujeitos de forma que a atuação do assistente social, em consonância com diversos outros elementos dos quais se dispõe na literatura, nas leis e no direito, não é apática a esta realidade social e pode atuar junto aos adolescentes de modo que os levem a refletir sobre direito, ética, valores e, principalmente, cidadania.

Este estudo tem por finalidade apresentar a atuação do assistente social junto aos adolescentes do bairro Âncora, no município de Rio das Ostras, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, e como esta busca promoveu a autorreflexão deste adolescente em relação ao seu contexto sociocultural estimulando-o a valorização de suas origens, desenvolvendo o sentimento de pertencimento ao local em que vive na relação com os outros adolescentes, compartilhando experiências.

Portanto, se torna necessário identificarmos as características do adolescente, relatando de forma conceitual seus comportamentos, sua interação com seu meio social, como se desenvolvem e como tudo isto reflete na sua forma de se reconhecerem na sociedade e lutarem por seu desenvolvimento.

Uma vez constatado as relações entre o bairro Âncora e os adolescentes que ali habitam pretende-se apresentar o projeto do NASA – Núcleo de Atenção à Saúde do Adolescente, para que se possa, por fim, mostrar o trabalho e a atuação do Assistente Social neste núcleo e na vida dos adolescentes.

O método utilizado nesta incursão foi uma revisão bibliográfica sobre a qual se apoiou uma discussão teórico-conceitual sobre a origem e a formação histórica de bairros considerados comunidades onde residem famílias de baixa renda, e também sobre o cenário político, social e econômico que originou estas comunidades, dificultando hoje a mobilidade destas classes sociais. Observou-se por meio de pesquisa qualitativa (entrevistas com moradores antigos do bairro) e pesquisas quantitativas (questionários com adolescentes frequentadores do Núcleo de Atenção à Saúde dos Adolescentes), seus valores e sua realidade de vida analisando e apresentando a atuação do Assistente Social junto a estes adolescentes. Entende-se também que há muitas possibilidades de atuação deste profissional, o assistente social, que atua na equipe do NASA- Núcleos de Atenção à Saúde do Adolescente, partindo da realidade e de que a complexidade do

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preconceito pode alterar os rumos de um jovem em idade de formação; assim, busca-se construir uma relação entre o trabalho do assistente social e a importância de sua atuação especificamente no complexo trabalho de desenvolvimento humano, na valorização do ser e principalmente, na formação da cidadania.

Objetivando uma organização lógica sobre todo este estudo planeja-se no primeiro capítulo relatar a questão urbana como expressão da “questão social”, destacando as particularidades na formação histórica brasileira; assim, este capítulo pretende mostrar a relação entre os quilombos e as favelas. Olhando para a realidade urbana, buscamos identificar as diversas faces da “questão social” no espaço urbano contemporâneo e quais os rebatimentos na formação da cidade de Rio das Ostras, tendo como base a sua história de origem, causa do desenvolvimento da cidade, uma vez que esta fica à margem da via que leva ao petróleo da Bacia de Campos. Mostraremos como uma cidade que até hoje pode ser vista como um “dormitório” se forma, cresce e propicia a criação de bairros que inicialmente foram considerados favelas.

Apresentaremos ainda como surgiu o bairro Âncora, situado na periferia da cidade de Rio das Ostras, com suas ocupações e crescimento, e como ambos, cidade de Rio das Ostras e o bairro Âncora, se desenvolveram e se tornaram locais de oportunidades e de sobrevivência e moradia para aqueles que para cá vinham em busca de melhores oportunidades de trabalho visando o crescimento da indústria do petróleo na cidade vizinha, Macaé.

No segundo capítulo deste trabalho iremos refletir sobre o adolescente, especificamente, sobre seus conceitos e ideias sobre a vida assim como os valores que os orientam nos dias de hoje. Deter-se-á especificamente sobre os jovens do bairro em questão, o Âncora, mostrando suas concepções e seu modo de vida.

No terceiro e último capítulo, apresentamos um estudo sobre o NASA – Núcleo de Atenção à Saúde do Adolescente e a forma como foram criados seus objetivos, mostrando a organização deste trabalho no bairro Âncora.

Concluindo a pesquisa propõe-se uma reflexão sobre a atuação do assistente social com suas práticas, oferecendo uma análise crítica do que se chama de “perfil pedagógico” do assistente social.

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CAPÍTULO I

A ORIGEM DAS FAVELAS

1.1 Construção das Comunidades: do quilombo à favela.

A Igreja Católica nos dois primeiros séculos e meio de colonização desenvolve papel importante. Havia uma estreita relação entre Igreja e o Estado, o que garantia ao Estado legitimação do domínio sobre as terras “descobertas” 3

, e a Igreja por sua vez, recebiam do estado à garantia do “domínio” espiritual.

O processo de emancipação até o momento de ser considerada cidade

dependia da evolução da Igreja, que deveria passar pelo processo capela-paróquia-vila-cidade. Para ganhar o status de cidade era necessário ter uma Igreja maior, que pudesse ser a matriz, construir a Casa da Câmara e uma Cadeia. Essa evolução jurídico-institucional torna evidente a relação intrínseca mantida pelo Estado e a Igreja e não por menos, podemos dizer que os papéis de ambos se confundiam (Maricato: 2011).

Os engenhos produtores de açúcar eram responsáveis pelo esplendor rural e a miséria urbana, como salienta Maricato (2011.p.9), as unidades rurais eram praticamente autossuficientes. Com a queda da exploração do açúcar, a ascensão do ouro passou a determinar o urbanismo em outras cidades. Se antes a urbanização era concentrada próxima aos locais de escoamento de produção (portos), nesse período histórico passa a ser importante concentrar os trabalhadores próximos aos locais de mineração. Surge assim, uma sociedade aurífera ligada às atividades urbanas, pequenos artesanatos, prestação de serviços, pequenos comércios

3

As três décadas iniciais da História do Brasil, bem como da trajetória do processo colonizador português consideravam como “terras descobertas”, as extensões de terras no Brasil descobertas e exploradas pelos portugueses. Apresentam características distintas no que se refere ao tratamento dado a uma nova possessão territorial. O processo de Expansão Marítima relacionado ao Brasil foi motivado e orientado pelo modelo econômico Mercantilista, apoiado sobre pilares arguidos a alianças político-econômicas entre a figura do Rei fortalecido e centralizador, e dos ambiciosos Burgueses comerciantes. Este modelo expansionista vai buscar retorno rápido do investimento inicial pelos preceitos mercantilistas que significava encontrar logo no primeiro momento: metais preciosos (metalismo); mercado consumidor onde as produções manufaturadas pudessem ser comercializadas (estabelecendo um superávit na balança comercial e incentivando a produção); regiões passíveis de colonização com rápido retorno financeiro a curto prazo (o Colonialismo buscava uma região passível de exploração seja na submissão político-econômica, militar ou que fornecesse uma produção em larga escala que pudesse ser explorada gerando lucros aos comerciantes marítimos portugueses). Nas “terras descobertas”, no Brasil, inicialmente não se apresenta nenhuma dessas características, e associado às prosperidades com que os comerciantes portugueses aumentavam sua lucratividade com o comércio oriental, a terra recém-conquistada ficará relegada a um segundo plano, sendo posteriormente reconsiderada pelo extrativismo da madeira (pau brasil). Fonte: URJF – Curso de Pré Vestibular, MILITÃO, David (2012 apud COTRIM, Gilberto, 2002).

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atividades administrativas e militares, além é claro, da população pobre e livre e alguns escravos que antes eram restritos aos trabalhos rurais.

Vários eram os fatores que alteravam a formatação das regiões onde se

constituíam as cidades. Ora as influências para este crescimento advinham da dependência Igreja – Estado, ora do ciclo econômico que se experimentava, e houve muita influência, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, com a vinda da família real que acaba alterando a ordem das moradias para atendê-los e posteriormente interfere na transmutação dos quilombos para as favelas.

O desembarque da família real, fugida de Portugal, pode ser considerado

como um surto histórico uma vez que para acomodarem o Príncipe Regente, se fez necessário a remoção de famílias das suas casas de origem. Para tal fato foi necessário adaptá-los em novos espaços e estes acomodarem um contingente de habitantes em número superior ao que seria cabível. Assim como esta mudança para os moradores da cidade, foram muitas outras que ocorreram para a adaptação da família real na cidade do Rio de Janeiro.

Em cidades maiores como o Rio de Janeiro, houve obras públicas monumentais e assim foram construídos edifícios públicos, religiosos e importantes edifícios comerciais, vide os edifícios construídos sob os padrões barrocos, que possibilitam visualizar a importante mudança do caráter da monumentalidade urbana. A exemplo, temos no Rio de Janeiro o Pátio do Carmo, atual Praça XV.

Nesse mesmo período, a Europa passava pela crise dos regimes

absolutistas e o surgimento do ideário liberal. O livre comércio tornou-se avanço desse momento histórico que tivera como fator o avanço da burguesia e profundas transformações societárias, tendo como exemplo o processo de independência Americano e a Revolução Industrial na Inglaterra. A cidade passa a ser o foco da produção de riqueza e começa a sofrer com o intenso crescimento demográfico, decorrente ao êxodo dos trabalhadores que se punham em busca de trabalho e a saída dos do campo.

Economicamente existiram impactos, sobretudo, pelo porto aberto à

importação de mercadorias trazidas de Portugal. Cabe ressaltar que essas mercadorias eram proibidas de serem produzidas no Brasil, ao passo que a economia de Portugal, mesmo com a ausência da família real, continuava a ser

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incrementada. Foi somente em 1844, com a Tarifa Alves Branco4 e a criação de taxas de médias de importação de 44%, que aconteceu o primeiro surto industrial.

A ciência moderna que causou impacto na Europa no século XVII chegou ao Brasil somente no século XIX, com a vinda da família real. O ensino superior, até então proibido, foi instituído. Criaram-se escolas de Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, academias de Direito em Olinda e São Paulo. Organizaram-se expedições científicas a partir de 1817, suprindo finalmente a lacuna de documentação existente sobre a sociedade. A engenharia ganha grande impulso devido à mudança da colônia, transformada em Reino Unido, e devido também às grandes conquistas tecnológicas da época, máquina a vapor, máquina de tear, ferrovia, avanço da metalúrgica etc. (MARICATO, 2011, p.16).

A origem histórica sobre as favelas se encontra na estrutura fundiária estabelecida e consequentemente uma legislação discricionária elaborada pelas elites rurais desde a época do Império que dominavam o Legislativo e os cargos de maior relevância, assim favorecendo em muito a concentração da propriedade tanto no campo quanto na cidade, proporcionando o aumento das distâncias sociais entre grupos mais pobres e os grupos mais ricos. (CAMPOS, 2011, p.19). A população que migrava do interior para os grandes centros urbanos em busca de trabalho nas indústrias, foram aos poucos se acomodando nos centros das cidades, próximo as residências urbanas, para facilitar o acesso ao trabalho, formando os chamados cortiços. Neste sentido explica o autor sobre a formação dos cortiços na cidade do Rio de Janeiro: “grandes casarões, divididos em cubículos de madeira, eram não apenas moradia, mas também local de trabalho e de encontros interétnicos”. (SODRÉ apud CAMPOS, 2011, p.53)

Para aqueles desprovidos daquela capacidade restavam às favelas, assim como os cortiços, que surgiram no cenário carioca suprindo o déficit habitacional e abrigando inicialmente, em sua grande maioria, uma massa de pobres que

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A nova tarifa para as alfândegas do Império foi proposta e elaborada pelo então Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco, ficando conhecida como Tarifa Alves Branco. Assinada em 1844, estabelecia que cerca de três mil artigos importados passariam a pagar taxas que variavam de 20 a 60 %. A maioria foi taxada em 30%, ficando as tarifas mais altas, entre 40% e 60%, para as mercadorias estrangeiras que já poderiam ser produzidas no Brasil. Para as mercadorias muito usadas na época, necessárias ao consumo interno, foram estabelecidas taxas de 20%. Apesar de que o objetivo da Tarifa Alves Branco fosse o de solucionar o orçamento deficitário, propiciando ao Governo mais recursos financeiros, a medida acabou por favorecer, indiretamente, o crescimento de novas atividades econômicas nacionais. Tornando mais caros os produtos importados, a Tarifa estimulava que se tentasse produzi-los aqui. Assim, embora não tivesse sido estipulada com fins protecionistas,

terminou por incentivar a produção nacional. (Fonte:

http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/tarifa.html.Acesso em 02 jul 2017).

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procuravam habitar próximo aos locais onde era oferecido trabalho. O poder local era responsável pela administração das pequenas cidades. As Câmaras eram de responsabilidade dos vereadores, que por sua vez eram controladas principalmente, pelos proprietários rurais. O voto direto era direito apenas dos “homens bons”, pessoas brancas, proprietários de escravos e residentes nas cidades.

Quando o indivíduo não se encaixava no perfil dos “homens bons”, viviam à margem da sociedade, eram apontados na sociedade como “vadios”, “vagabundos”, “desocupados” e outros termos depreciativos, que, na verdade traziam como pano de fundo o preconceito racial (CAMPOS, 2011).

Várias foram às estratégias desenvolvidas pelas massas pobres para resistirem e se protegerem, seja nos cortiços localizados nas áreas centrais da cidade, ou nas favelas, em face das várias intervenções do Estado colocando-as sempre em condições de conflitos com o poder público vigente. A estes grupos a Lei de Terras de 18505 não contemplou e/ou ratificou as posses antigas, criando um descompasso entre os que puderam tomar para si o direito de possuir terras devolutas e os que ficaram excluídos do processo (CAMPOS, 2011p. 22).

Assim, a solução para este grupo foi se estabelecer provisoriamente nas encostas dos morros da área central da cidade do Rio de Janeiro; fundamentalmente porque estas moradias eram construídas próximas a locais que ofereciam trabalho. Para além, as favelas abrigavam cativos fugidos das áreas rurais, e outros fugitivos porque representava a possibilidade de passarem como libertos. Afirma Campos (2011, p.23):

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A Lei de Terras, sancionada por D. Pedro II em setembro de 1850, foi uma lei que determinou parâmetros e normas sobre a posse, manutenção, uso e comercialização de terras no período do Segundo Reinado. Os objetivos eram estabelecer a compra como única forma de obtenção de terras públicas; inviabilizar os sistemas de posse ou doação para transformar uma terra em propriedade privada; arrecadar mais impostos e taxas com a criação da necessidade de registro e demarcação de terras; destinar recursos para o financiamento da imigração estrangeira, voltada para a geração de mão de obra, principalmente, para as lavouras de café (ressaltando que neste período o tráfico de escravos já era uma realidade que diminuía cada vez mais a disponibilidade de mão de obra escrava); outro objetivo era dificultar a compra ou posse de terras por pessoas pobres, favorecendo o uso destas para fins de produção agrícola voltada para a exportação, objetivo este alcançado pelo governo, pois esta lei provocou o aumento significativo nos preços das terras no Brasil; favorecer os grandes proprietários rurais, que passavam a ser os únicos detentores dos meios de produção agrícola, principalmente a terra, e por fim tornar as terras um bem comercial (fonte de lucro), tirando delas o caráter de status social derivado da simples posse. Desta forma as conseqüências da Lei de Terras foram possibilitar a manutenção da concentração de terras no Brasil; regulamentar a propriedade privada, principalmente na área agrícola do Brasil; aumentar o poder oligárquico e suas ligações políticas com o governo imperial; dificultar o acesso de pessoas de baixa renda às terras obrigando muitas famílias a perderem terras e fonte de subsistência restando apenas o trabalho como empregadas em grandes propriedades rurais e disponibilizando um grande número de mão de obra; aumentar investimentos do governo imperial na política de estimulo à entrada no Brasil de mão de obra estrangeira, principalmente européia; e por fim favorecer a expansão da economia cafeeira no Brasil, na medida em que a Lei de Terras privilegiava a elite agrária brasileira, principalmente da região Sudeste. (Fonte: GADELHA, Regina Maria d'Aquino Fonseca, PUC/SP; FEA; Departamento de História - 2007)

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Notamos que todos os estudos preocupam-se em delimitar tanto espacial como temporalmente o fenômeno espacial. Tendo em vista a insuficiência conceitual para dar conta de fenômeno tão importante, acredita-se que seria melhor entender os quilombos periurbanos, que acolhiam os negros fugidos dos cativeiros e brancos pobres e/ou com problemas com a justiça da época, como lugares com reais possibilidades de abrigar tais populações, pois se localizavam em áreas de fácil acesso, porém sem a característica que em geral lhes é imputada de isolamento social (CAMPOS, 2011.p23).

Antes disto existiam os quilombos que recebiam os negros importados da África como mercadorias para utilizá-los nas lavouras. Quando há um contingente muito grande eles começam a representar para o Estado e para os grupos dominantes uma ameaça ao status quo e à ordem estabelecida. Não sendo o Estado capaz de extinguir os quilombos durante os períodos colonial e imperial, tendo eles permanecido até que a cidade os incorporasse ao espaço urbano ou agrário, podemos admitir, segundo Campos (2011, p.24) que o espaço quilombola fora transmutado em espaço favelado. Este movimento de transmutação dos quilombos para favelas foi ocorrendo gradualmente e desenvolvendo o conceito histórico de que foram as populações pobres, através de suas apropriações dos espaços periurbanos, ilegais segundo o poder público, que efetivamente participaram da construção do espaço urbano das cidades. Assim podemos situar aqui um possível surgimento das primeiras favelas no Rio de Janeiro. Neste momento podemos nos remeter a delimitação espacial e territorial que o arcabouço histórico e as condições da época condicionavam a parcela subalternizada pela condição de pessoa escravizada e pela condição social imposta pelo acúmulo de riqueza, além de apontar a fragilidade no processo de inserção enquanto ser social e partícipe da sociedade, em um processo de inclusão que buscava muito mais o avanço das relações econômicas que a própria condição de pessoa humana.

Nesse sentido a partir de Campos (2011), concluímos que a favela foi uma opção de moradia a partir da situação de criminalização e discriminação dos indivíduos que ocupavam os cortiços; e que os estigmas vividos hoje pela população negra, nordestina, pobre, favelada, são anteriores à existência da própria favela. Encontra enraizamento no processo de formação sócio-histórica que teve como base a crise de acesso a terra/moradia. As favelas representam para a república o mesmo que o quilombo representava para o império.

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1.2 A origem histórica da cidade de Rio das Ostras e a criação do Bairro Âncora

O município de Rio das Ostras6 é hoje, junto a outros seis municípios, o mais novo em emancipação político administrativa no Estado do Rio de Janeiro. Terceiro distrito do município de Casimiro de Abreu- RJ, Rio das Ostras foi emancipado em 10 de abril de 1992 (Lei 1.984/1992), após um longo período de lutas organizado pelas associações de moradores do então distrito, igrejas, partidos políticos e comerciantes locais. A economia de base era a pesca, a agricultura familiar e pequenos comércios locais que atendiam cerca de onze mil habitantes. No entanto, a partir da emancipação, sete anos antes da promulgação da Lei do Petróleo do Brasil7 que concedia o pagamento de royalties8 a alguns municípios da região, Rio das Ostras começou um processo acelerado de crescimento no número de habitantes, recebendo ainda mais força com o avanço e a exploração de petróleo na Bacia de Campos, o que injetou nos cofres públicos dos municípios fronteiriços, significativos volumes de verba, muitos royalties, e participações especiais sobre a exploração e produção do petróleo.

Os estímulos pela proximidade de Macaé fizeram com que famílias se mudassem para Rio das Ostras. E o número de habitantes no ano de emancipação (1992) que era de aproximadamente onze mil saltou em quatro anos (1996) para vinte e oito mil, cento e seis habitantes, e dez anos depois (2016) foi para cento e trinta e seis mil, seiscentos e vinte seis, como mostra no gráfico abaixo, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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Para esta pesquisa foram utilizados três livros que contribuem para o conhecimento do processo de formação do município de Rio das Ostras, são eles: Filha de seus filhos:, A história e as histórias, de emancipação de Rio das Ostras, de autoria de Sergio Elias Costa, Uma Outra História para Rio das Ostras, de autoria de Maurício Rocha e Recortes de Rio das Ostras: o arraial e a região através de velhos jornais, de autoria de Ricardo Martins Aguiar. Todos os três não contam com editoração.

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Lei N° 9478, de 06 de Agosto de 1997, conhecida como a Lei do Petróleo no Brasil. 8

O royalty é uma compensação financeira devida à União pelas empresas que produzem petróleo e gás natural no território brasileiro: uma remuneração à sociedade pela exploração desses recursos não renováveis. (ANP. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Disponível em: http://www.anp.gov.br/wwwanp/royalties-e-outras-participacoes/royalties. Acesso em: 02 jul. 2017.)

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Fonte: www.riodasostras.rj.gov.br/dados-do-municipio.htm Acesso em 02 jul 2017.

Desta forma a elite política da cidade iniciou um processo de aumento da urbanização e embelezamento, pois percebeu a necessidade de transformar esta cidade para que se tornasse uma opção turística do Estado. Como inicialmente o município não contava com a presença de grandes empresas, a maioria dos trabalhadores vendia sua força de trabalho na cidade de Macaé, para empresas que ofertavam bons salários, aumentando, assim, o poder de compra de uma parcela da população. Rio das Ostras configura-se como uma cidade dormitório, durante os dias os trabalhadores migrava para a cidade vizinha, Macaé, e à noite, retornavam para suas casas.

Segundo Elis de Araújo Miranda9, dentre os 985 municípios, de 17 estados beneficiados pela Lei N° 9478 de 06 de Agosto de 1997, cinco são considerados os municípios ricos do petróleo, seguindo a ordem decrescente: Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras, Cabo Frio e Quissamã, todos localizados na região Norte Fluminense, em áreas limítrofes dos poços de exploração continental (offshore) da Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro.

No que se refere aos dados de royalties e participações especiais, este estudo baseou-se nos dados disponibilizados no inforoyalties10, que mostra no

9

Doutora em Planejamento Urbano e Regional, Professora Adjunto I do Departamento de Geografia da UFF - Universidade Federal Fluminense no Campus Universitário de Campos dos Goytacazes.

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Base de dados elaborada e mantida pelo Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da UCAM-Campos, tem por finalidade facilitar o acesso às informações sobre a distribuição dos royalties

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quadro abaixo a arrecadação milionária que o município de Rio das Ostras obteve entre o ano de 2000 e 2017, propiciando aos cofres públicos uma receita orçamentaria11 significativa.

Fonte: InfoRoyalties, a partir de Agência Nacional do Petróleo.

Cabe ressaltar que a cidade de Rio das Ostras não vivenciou diretamente a

experiência de ser o foco de uma cidade modelo, atraente para investimentos em serviços, comércio e tantos outros investimentos como a construção de grandes hotéis, shoppings e restaurantes.

Evidências deste processo são os estilos de construções da cidade, que tem inúmeros condomínios com todo seu aparato de segurança privada contribuindo para o pouco envolvimento de seus moradores com a comunidade local. Em contraposição, à falta de segurança pública apresentada pelo município

petrolíferos entre os municípios brasileiros. Como forma de contribuir para o fortalecimento das discussões acerca da distribuição dos royalties petrolíferos o InfoRoyalties é uma ferramenta de livre acesso, disponível para pesquisadores, estudiosos, jornalistas, gestores públicos e sociedade em geral. Para tanto, reúne informações de diferentes fontes e apresenta indicadores próprios que tornam esse instrumento uma base de dados única e uma fonte original, pois suas informações permitem análises permanentes de aspectos estratégicos relacionados à dinâmica político-administrativa de municípios recebedores de rendas petrolíferas (royalties e participações governamentais). (Fonte: http://inforoyalties.ucam-campos.br/. Acesso em 02 jul 2017)

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Receitas orçamentárias são disponibilidades de recursos financeiros que ingressam nos cofres públicos. Instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, a receita orçamentária é fonte de recursos utilizada pelo Estado em programas e ações, cuja finalidade principal é atender às necessidades públicas e demandadas da sociedade. (Fonte: http://www.planejamento.gov.br/servicos/faq/orcamento-da-uniao/conceitos-sobre-orcamento/o-que-sao-receitas-orcamentarias. Acesso em 02 jul 2017)

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ainda em expansão territorial e econômica, influencia neste processo de seleção social. Porém, com uma particularidade: o município não apresentava formação de bairros12. A realidade habitacional de construção de condomínios revelou uma divisão territorial no município permeado pelo corte de classes, ou seja, nos bairros tradicionais Centros, Boca da Barra e Praia do Bosque, residem famílias de classe média alta tradicional. Já as famílias de classe média residem nas novas localidades surgidas (Extensão do Bosque, Costa Azul, Jardim Mariléa) e os de baixa renda residem em localidades também tradicionais no processo de urbanização do município, como Operário, Nova Aliança, Nova Cidade, Nova Esperança e Âncora. Nestes bairros de moradores de baixa renda é visível a diferença no estilo de construção, zoneamento, oferta de aparelhos coletivos como postos de saúde, áreas de lazer, áreas de prática de esportes e meios de transporte.

À medida que o desenvolvimento de cidade modelo supõe e propõe uma despolitização, negando a participação dos seguimentos visto como irrelevantes estrategicamente, ao passo que o plano politico torna-se empresarial, o conceito de cidade e poder público, estão sendo reformulados para transformar a cidade em sujeito competitivo, onde o que conta são os resultados, mesmo que estes sejam camuflados para a manutenção da imagem de mercadoria. As cidades são geridas como empresas, onde as decisões estão na mão de quem decide nas empresas, planejamento e interesses do mercado estão representados nas parcerias públicos- privado, os governos locais passam a ser promotores da cidade, com o objetivo de favorecer a cooperação do público-privado, sem haver uma separação entre os setores, “... sem participação direta, sem mediações dos capitalistas e empresários de decisão referentes ao planejamento e execução de politicas.” (VAINER 2012).

Segundo Vainer (2012), a cidade mercadoria pode ser uma cidade objeto de luxo, e diz:

Em síntese, pode-se afirmar que, transformada em coisa a ser vendida e comprada, tal como a constrói o discurso do planejamento estratégico, a cidade não é apenas uma mercadoria mas também, e sobretudo, uma mercadoria de luxo, destinada a um grupo de elite de potenciais compradores: capital internacional, visitantes e usuários solváveis (VAINER, p. 83).

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Segundo o IBGE, a secretaria de planejamento e a secretaria de obras da PMRO, no ano de 1992 Rio das Ostras tinha 9 bairros, 35 loteamentos e 1 condomínio, São considerados bairros as aglomerações mais antigas da cidade, loteamento, as mais novas e condôminos apenas um. No entanto, com a construção e aprovação do Plano Diretor Municipal em 1996 áreas de núcleos urbanos passaram a ser considerados apenas como localidades, delimitadas e desinstitucionalizando os nomes adotados por cada uma delas em seu processo de formação passando a ser considerados por letras do alfabeto.

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Esta cidade-empresa citada pelo autor mostra também que, num segundo momento, o conceito de cidade perde seu caráter de "produto", "coisa", "objeto" e passa a ser "sujeito" de uma ação, com necessidades para agir no mesmo mercado globalizado, como "empresa". Sendo assim, o novo conceito de planejamento impõe que a gestão das cidades seja necessariamente subordinada aos interesses do mercado. E nenhum outro setor entende melhor disto que o empresarial.

Ainda Vainer (2012), afirma:

o setor privado deve liderar as estratégias econômicas locais, uma agência facilitadora (governamental ou de parceria público-privada) se faz necessária para prover informação e criar diálogo entre os investidores privados, as instituições de educação e treinamento, os serviços provedores (infra-estrutura e setor financeiro) e o próprio governo" (Urban Partnership & The TWU Urban Dívision, 1998, p. 4,apud VAINER 2012,p.87)

Desfaz-se assim a divisão rigorosa entre os setores público e privado. A articulação entre os dois setores implica num maior controle e influência do setor privado na definição de objetivos e programas, bem como na execução de linhas de ação e de projetos e na própria gestão dos serviços. Os processos decisórios da cidade passam a partir de agora do crivo tendencioso aos interesses estritos da classe empresarial, a elite.

Um desafio a ser enfrentado pela cidade-empresa que necessariamente influenciará para bem ou para mal na vida de cada um dos seus cidadãos-funcionários, é o chamado patriótico para que estes "vistam a camisa" de sua amada cidade.

Podemos imaginar que caberia a um governo local a promoção interna à cidade para dotar seus habitantes de 'patriotismo cívico', de sentido de pertencimento, de vontade coletiva de participação e de confiança e crença no futuro da cidade. Esta promoção interna deve apoiar-se em obras e serviços visíveis, tanto os que têm um caráter monumental e simbólico como os dirigidos a melhorar a qualidade dos espaços públicos e o bem-estar da população como um todo.

Vainer (2012) prossegue:

Com tal objetivo, o urbanismo monumentalista patriótico é reentronizado, produzindo ao final do século XX os novos arcos do triunfo do capital transnacionalizado. A instrumentalização imediata e consciente das tecnologias urbanísticas e arquitetônicas, bem como de

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capitais, para mobilizar consciências, é claramente anunciada como tento por objetivo primeiro alimentar o patriotismo cívico. (VAINER p 94 e 95).

O autor conclui o texto reafirmando que a participação proposta pelo Planejamento Estratégico se funda na negação da própria cidadania. O cidadão hora encarnado como acionista de empresa, hora como patriota orgulhoso, está "condenado a ver desaparecer o espaço e a condição de uma cidadania desde sempre contestada no projeto moderno". O sentido de "polis" não deve ser perdido. A cidade deve continuar como espaço de encontro e confronto entre cidadãos.

Maricato (2000) afirma que nesta questão encontramos “as ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias" (Maricato, 2000, p122.). Critica fortemente todas as formas de urbanismo que carregam no bojo ideias e métodos formulados internacionalmente cujos seus planejadores e/ou políticos brasileiros tenham implementado nas cidades brasileiras sem conexão com a nossa realidade social, cultural e ambiental.

A autora reflete principalmente sobre a realidade das favelas (cidade ilegal) que segundo ela são "lugares fora das ideias", ou seja, não são abarcadas nos planejamentos de cidade.

O Âncora esta inserido neste conceito de exclusão sócio espacial, sem investimento urbano, industrial, ou social, com pouca ou nenhuma oferta de trabalho ou garantia de empregos para aqueles que ali residem, tornando-se atraente somente para moradores que de alguma forma estão á margem da sociedade, pois não conseguem se inserir na dinâmica das relações socais de maneira totalitária. Para melhor explicar como se deu a ocupação do bairro Âncora, serão apresentados no decorrer do trabalho, trechos de entrevistas realizadas com moradores do bairro Âncora realizadas no dia 30 de novembro de 2016, e que ali residem há muitos anos e se consideram os primeiros moradores ou os mais antigos.

A cidade crescia sob a égide do padrão econômico elevado, de forma que a especulação imobiliária seguiu expulsando os mais pobres da região central, para áreas de carência absoluta de presença do poder público, dando inicio ao que o IBGE13 chamada de moradias subnormais ou favelas. Assim podemos observar aqui que o processo de criação destes espaços não fugiu do mesmo contexto social

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e democrático do século XIX na cidade do Rio de Janeiro, como assinalamos anteriormente.

A história que procede ao surgimento do bairro Âncora é atravessada pela contradição: concentração de terra, riqueza e pobreza; antes da emancipação, a cidade era formada pela divisão de grandes fazendas, destacando-se na economia a plantação de aipim e fábrica de farinha. Neste período não havia sinais de urbanização nem centro econômico organizado. Antes de se tornar a localidade Âncora, houve no início a venda ou a troca de propriedades, sem se preocuparem com a especulação de valores e sem o acompanhamento do poder público no que tange a regulação do processo de venda e troca e também na construção das edificações e o cumprimento das exigências legais de respeito à vegetação. Esse processo popular de venda de propriedades possibilitou a chegada de novos moradores para a localidade. As casas simples foram construídas de forma que aqueles que conquistaram o direito de posse se instalaram nos lugares mais longes da localidade. No trecho da entrevista realizada com a moradora Sra. Vera Lucia Gomes Felix, moradora do Ancora há vinte e um anos na Avenida das Flores, próxima ao cemitério da cidade, fica clara essa falta de organização na formação do bairro, onde os novos moradores decidem por habitar em áreas ainda sem nenhuma estrutura. Foi perguntado a moradora o motivo pela qual eles escolheram vim morar em Rio das Ostras, se essa foi uma escolha por conta da facilidade de compra dos terrenos, e com esses os terrenos quando aqui ela chegou.

Sim os terrenos aqui era bem baratinhos o mais em conta pra se comprar. Foi aonde que nós viemos pra cá, por isto, não me lembro exatamente qual o ano direito eu vim morar aqui , sei que mais faz vinte e um anos. Quando eu vim pra cá as ruas já estava assim, divididas desse jeito que tá ai. Quando eu vim morra, aqui em cima era tudo assim já, (referindo as ruas próximas à rodovia) era tudo divididinho assim. Lá pra baixo eu não sei dizer como andava lá pra baixo não, mas aqui em cima já era assim, nas ruas mais afastadas da rodovia era tudo mato e lama. (Moradora Vera).

Cabe ressaltar que alguns moradores mantêm, por condições econômicas, as mesmas casas que foram construídas desde o inicio das ocupações. Anos atrás, aqueles que não podiam pagar pelos terrenos e que chegavam sem dispor de poder aquisitivo foram ocupando os limites da área desapropriada. As vendas desses lotes eram vendas informais, sem garantia civil, formulado por documentos próprios e

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pela não exigência da prefeitura (porque nesta época Rio das Ostras ainda pertencia ao Município de Casimiro de Abreu). No entanto muitos possuem indiscriminadamente, o título de posse14.

O que se pode observar nas entrevistas foi um excessivo cuidado em não declarar absolutamente nenhuma questão que envolvesse efetivamente a forma da aquisição e propriedade do imóvel, porque se percebeu como o grande receio das entrevistadas de declararem algo que as comprometessem em relação a documentação do terreno, ou o direito de posse. Percebeu-se o temor de haver uma possibilidade de serem “descobertos” ou “cobrados” pelo título de posse ou pela documentação que regulariza a propriedade. O resgate histórico do bairro Âncora está inserido no processo de urbanização do Brasil e no Estado do Rio de Janeiro. É impossível resgatar a história sobre o bairro Âncora, sem que se remonte a ocupação da terra ao título de posse, suas causas e contradições.

Hoje o bairro Âncora é o maior em população no município. Segundo dados do IBGE, o senso de 2010 indicou que este bairro reúne cerca de 16.431 habitantes aproximadamente. Abaixo segue o relato de uma entrevista na íntegra, feita com uma moradora do bairro Âncora, a senhora Sebastiana Vilela, de 75 anos, moradora do bairro há vinte e três anos na Rua Azaléia, faz sua descrição da formação do bairro: “Ele era totalmente um bairro já de ruas, ruas (como é que se chamam estas ruas largas) não tinha becos, era só quadras e ruas”. Quadras, quadras, quadras e ruas... Ai surgiu uma invasão, o povo achou que a terra estava vaga, e estava mesmo. Começaram a invadir. Invadiu o centro de Rio das Ostras, o centro, por toda parte. Ai invadiu, invadiu, invadiu... O povo foi construindo suas casas, e depois Sabino15 no segundo ano de mandato cadastrou várias pessoas. Só

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A legitimação de posses é um dos resultados da regularização fundiária e consiste em outorgar títulos de domínio aos pequenos posseiros que ocupem áreas devolutas tanto na zona rural quanto urbana. O título de domínio é o documento que garante a posse definitiva do imóvel ao seu ocupante. (Fonte: https://www.scribd.com/document/70503344/A-origem-da-legitimacao-da-posse-se-da-com-o-advento-da-Lei-das-Terras acessado em 31 de março de 2017)

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Alcebíades Sabino dos Santos foi prefeito de Rio das Ostras entre 1996 a 2004 e de 2012 a 2016 deputado estadual entre 2006 e 2010 (fonte: https://www.brasil247.com/.../rio247/.../Rio-das-Ostras-há-22-anos-grupo-se-mantém-... acesso em 02 jul 2017),mencionado na operação Lava Jato na lista daOdebrecht como tenho recebibo repasse de dinheiro da empreiteiras.(Fonte:https://riodasostrasjornal.blogspot.com.br/2016/03/lava-jato-lista-da-odebrecht-revela.html.Acesso em 02 jul 2017 ), condenado em 20/07/16 condenados por enriquecimento ilícito e atos de improbidade administrativa, também enfrenta uma ação movida pelo MP, acusa Sabino de fraude em licitações para a compra de combustível. No ano passado, o prefeito foi cassado pelo juiz da 2º Vara Cível de Rio das Ostras, mas recorreu e continua no cargo aguardando o julgamento do recurso no STJ.( Fonte:riodasostras.portallocal.com.br. Acesso em 02 jul 2017.).

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os primeiros, porque agora o último, mais atual não têm só os primeiros tem imposto. E ai ficou desta forma ai, um bairro que não falta nada. Do cemitério para cá, vinha uns bolo de fios que dividia nas ruas; descia a Rua Papoula, e descia na rua. As ruas eram todas de chão. E quando chovia os fios eram desencapados e caiam no chão as pessoas tomavam choque, tinham alguns problemas. Ai as pessoas que chegavam também invadiam para vender para alguém, muitos vendiam. Muitos eram para morar, não tinha terra. Ai Rio das Ostras cresceu muito, porque não podemos negar que foi muito rápido o crescimento do prefeito Sabino, e as pessoas queriam morar em Rio das Ostras. Quando queriam mudar de vida queriam vir para Rio das Ostras. Tanto que a Diretora Iris de um colégio disse que muitas pessoas vieram para ela através do crescimento, do melhoramento, extraordinariamente mesmo. Nos oito anos a cidade de Rio das Ostras avançou muito! Bom para viver. Mas acho que muitos ficaram devendo muito, não pagou imposto, ficou abandonado. Eram ruas e quadras. Por isto também que foram invadindo. Já existiam todas as ruas oficiais, quadras, depois foram modificando, dividindo, Por isto o loteamento têm várias divisões, porque as primeiras foram estas daqui (refere-se à Avenida das Flores). Antes eram quadras Vazias e ruas oficiais. O que mais me encantou aqui é que eram quadras e ruas oficiais. Mas depois viraram becos porque o dono de alguns pedaços de terra foi marcando lote e dividindo com lotes grandes. Vê que é tudo lote grande. Trocavam terreno por geladeira, bicicleta, passarinho, etc. Depois o prefeito foi trabalhando, trabalhando, as pessoas foram fazendo suas casas, ai saiu o cadastro do IPTU “16

.

A oferta de serviços públicos e o atendimento aos serviços básicos são

apontados pelas moradoras entrevistadas do bairro Âncora, como insatisfatórios, porque consideram preponderantemente o serviço de distribuição de água que ainda é precário, quase inexistente. Mas ainda assim, com pouco abastecimento de um serviço tão primordial, afirmam ser agradável morar no bairro. As moradoras relatam sobre a coleta de lixo que é espaçada demais e que acaba gerando uma impressão desagradável porque o lixo permanece acumulado nas ruas, e relatam também a falta de cuidados dos moradores com o lixo que produzem, descartando-os de qualquer forma. Ndescartando-os bairrdescartando-os onde as concentrações turísticas são maiores e descartando-os

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O IPTU, Imposto municipal, significa Imposto Predial e Territorial Urbano é uma taxa que é paga sobre um imóvel ou terreno. A cobrança do imposto é determinada pelo Artigo 156 da Constituição Federal. Todo o dinheiro que é arrecadado com a cobrança vai para os cofres da Prefeitura, que o usa para custear despesas municipais.

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que têm população com maior poder aquisitivo tem sua coleta de lixo diária e abastecimento de água suficiente. Segundo o site de noticias G1.com17, os moradores afirmam que mesmo relatando os diversos problemas para a Cedae nenhuma solução foi proposta ou ação implantada ao longo dos últimos anos. A falta de água aumenta com o período do verão, os turistas aumentam a população da cidade neste período. Para além, segundo o morador ainda em entrevista ao G1 :"Já foi observado que existe abastecimento em outros bairros,...em Rio das Ostras, acontecem coisas muito estranhas que não são disponibilizadas para o povo. Fica aqui a minha indignação a pouca vergonha e desleixo por parte tanto da Cedae quanto da Prefeitura que nada faz para regularizar a situação", esbravejou o morador. Continuando com a impressão que os moradores têm sobre o bairro Âncora, se pode constatar, que a respeito da segurança pública, mesmo com relatos de violência com arma de fogo, ainda assim afirmam que o bairro é tranquilo.

Acrescenta-se também o fato de que muitos casos de violência não se tornam oficiais, e acabam não contabilizando como dados comprobatórios da situação atual de violência e risco do bairro, o que disfarça qualquer crueldade que aconteça e contribui na manutenção do status de cidade “sossegada”, não somente para o bairro Âncora, mas também para toda cidade de Rio das Ostras.

Como afirma Brito (2013, p. 87), “a favela é tratada como o lócus do mal,

e o favelado é identificado como um inimigo em potencial, iminente ao mesmo posto.” Desta forma, a cidade com o status de “cidade acolhedora”, nega a possibilidade de existência de um local configurado como favela, negando as situações de violência e precarização do município.

Segue um trecho da entrevista feita com a moradora do bairro Âncora a Sra. Vera Lucia Gomes Felix, que expressa essa escolha por migrar para o município de Rio das Ostras em busca de trabalho:

- Por qual motivo você escolheu Rio das Ostras

Olha, eu vim pra cá porque meu filho veio, e ai depois, logo imediato nós morava em uma fazenda ai nosso patrão vendeu a fazenda, ai nós ficamos sem onde morar viemos pra aqui. Meu filho já tava aqui e nós viemos pra cá. Só por isso! Nós morávamos numa cidade chamada Morro do Coco. Ai... nós morava lá, ele não tinha trabalho, ele veio pra cá, deixou a família lá com nós e veio. Ai logo que ele começou

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Disponível em:

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trabalhando aqui, nosso patrão vende a fazenda lá, e nós viemos com ele prá aqui. Viemos pra aqui já.(Moradora Vera).

Rio das Ostras como umas das cinco cidades, de médio porte, que mais cresceu financeiramente em 13 anos. Esse crescimento se deve à produção de petróleo, sendo assim ao recebimento dos royalties do petróleo. Dessa maneira, a concentração de riqueza, gera um grupo elitizado de consumidores, que busca investir em imóveis, automóveis, vestuários, eletrodomésticos, mobiliário e lazer. Cabe ressaltar que a partir de 2015 com a crise da Petrobras, alavancada a partir da operação Lava-Jato18, houve muitas demissões no cenário do petróleo, o que concorreu para mudar o cenário econômico desta cidade levando, inclusive, pessoas não diretamente ligadas ao mercado petrolífero, o que mexeu com toda estrutura econômica da cidade, do bairro e dos trabalhadores diretos e indiretos da indústria petrolífera. Sendo assim, ocasionou mudanças nas condições de moradias e sobrevivência.

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No esquema da Lava Jato, há pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno distribuído por meio de operadores financeiros do esquema incluía doleiros investigados na primeira etapa. Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um “clube” para substituir uma concorrência real por uma concorrência aparente. Os preços oferecidos à Petrobras eram calculados e ajustados em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. O cartel tinha até um regulamento, que simulava regras para distribuir as obras. Por outro lado, as empresas contratadas precisavam garantir que apenas aquelas do cartel fossem convidadas para as licitações. Por isso, era conveniente cooptar agentes públicos. Os funcionários não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um jogo de cartas marcadas. Segundo levantamentos da Petrobras, eram feitas negociações diretas injustificadas, celebravam-se aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam-se contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades. Os operadores financeiros ou intermediários eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento de bens. Outra linha da investigação – correspondente à sua verticalização, sobre os agentes políticos – começou em março de 2015, quando o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador-Geral. A primeira instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro. Essa repartição política revelou-se mais evidente em relação às seguintes diretorias de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; Diretoria de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Diretoria Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto, nomes bastante ressaltados na mídia, atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT.( Fonte: lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso.Acesso em 02 jul 2017)

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Com as investigações cada vez mais acirradas, o grupo de políticos que se encontram dentro do governo e que hoje são indiciados e acusados por meio de delações premiadas dos próprios empreiteiros que já cumprem penas, se unem, encontram apoio na mídia comprometida com as oligarquias instauradas e tomam o poder da presidente eleita em 2014, Dilma Rousseff. Comprovam assim, que o objetivo do golpe de 2016 foi garantir sua liberdade e seu status; assegurando como governantes o foro privilegiado e o término das investigações da Lava Jato.

Toda esta operação Lava Jato e toda a manobra política de 2016 que leva ao impeachment da presidente eleita, resultou numa crise econômica e política muito forte. Sendo assim, as empresas terceirizadas da Petrobrás e outros segmentos que se mantinham em função deste mercado do petróleo, frearam seus investimentos, o que deflagrou inúmeras demissões. Estas decisões de empresários ligados ao petróleo atingiram a cidade de Campos e Macaé assim como as demais circunvizinhas, levando muitos trabalhadores a demissões e transferências para outras cidades de maior porte econômico, como o Rio de Janeiro, por exemplo.

Outra consequência da crise da indústria do petróleo e da operação Lava Jato, foi a diminuição dos valores de pagamento dos Royalties às prefeituras, esta se encontra na base das alegações dos representantes municipais sobre a diminuição e precarizações de serviços essenciais, já que de acordo com a lei federal n. 12.858 de 09 de setembro de 2013, que dispõe sobre a destinação para as áreas de educação e saúde de parcela da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural, destinando 75% de seu arrecadamento para educação e o restante de 25% para a saúde. Entretanto, vale ressaltar que, mesmo com a existência da lei do Petróleo, que estabelece a forma de distribuição dos royalties entre seus beneficiários, não podemos afirmar que a sua aplicação efetiva tenha se dado nestas áreas; surge assim, a necessidade de uma efetiva fiscalização tributária para que esses recursos sejam bem alocados.

A partir desta perda financeira o município se desestrutura tornando-se incapaz de prestar atendimento as demandas sociais. Assim os bairros que já eram deficitários, se tornam mais carentes e se transformam em espaços sem cobertura das políticas públicas locais. Percebe-se hoje uma grande dificuldade dos moradores do bairro Âncora entender a acentuação das desigualdades quando em pouco tempo atrás havia a esperança de um desenvolvimento do bairro e uma mudança efetiva da qualidade de suas vidas pautada no crescimento exponencial da

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indústria do petróleo. Para entender o papel que exercem as comunidades chamadas favelas ou de baixa renda é necessário compreender que seus habitantes são os sujeitos responsáveis pela história sócio-espacial destes bairros e cidades, mas também são indivíduos que esperam ser atendidos em suas necessidades assim como os demais. E que não devem ser interpretados como as classes dominantes os percebem: como grupos pobres que vivem na marginalidade, elencando-os como questão de polícia e nunca como questão social.

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