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Vista do O adolescente e a escolha profissional.

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Academic year: 2021

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O adolescente e a escolha profissional: um processo de

aprendizagem para os pais

Márcia Maria Dias Reis Pacheco

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade de Taubaté (1992), Mestrado em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002) e Doutorado em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). Atualmente é Professor Assistente Doutor da Universidade de Taubaté efetivo (2010), lotado no Departamento de Pedagogia, concursada na disciplina de Didática com atuação na graduação e pós-graduação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Didática, Didática do Ensino Superior e Psicologia da Educação. Atua como Supervisor de Ensino pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Compõe o corpo permanente de docentes do curso de Mestrado Interdisciplinar de Desenvolvimento Humano: formação, políticas e práticas sociais. Suas Áreas de Pesquisa são: Formação de Professores, Avaliação Educacional e Políticas Públicas. Renato de Sousa Almeida

Possui graduação em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995), mestrado em Neurociências e Comportamento pela Universidade de São Paulo (2000) e doutorado em Neurociências e Comportamento pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é professor assistente doutor da Escola Superior de Cruzeiro e professor assistente doutor da Universidade de Taubaté. Professor no Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em neurofisilogia e fisiologia do exercício, atuando principalmente nos seguintes temas: neurotransmissão, fisiologia do exercício, atividade física e saúde no envelhecimento.

Mariana Aranha Moreira José

Mestre e Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006, 2011) e graduada em Pedagogia pela Faculdade Maria Augusta Ribeiro Daher (2001). Atualmente é professora visitante do Mestrado Interdisciplinar em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais e do Mestrado Profissional em Educação da Universidade de Taubaté e também pesquisadora do GEPI (Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade) da PUC/SP. Tem experiência como Administradora Escolar em Centros Educacionais de Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos do Serviço Social da Indústria do Estado de São Paulo, e como Professora Universitária e de Educação Básica. Atua principalmente com os seguintes temas: interdisciplinaridade, currículo, formação de professores e gestão.

José Edson da Silva

Mestrando em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Taubaté, Pós-Graduado em Gestão de Produção pela UNESP de Guaratinguetá, Graduado em Tecnologia Mecânica com ênfase em Processos de Produção pelas Faculdades Integradas de Cruzeiro. Experiência profissional de 25 anos na Indústria, em empresas de médio e grande porte tais como Philips do Brasil em São José dos Campos, Tekno S.A. em Guaratinguetá e Iochpe-Maxion Structural Components em Cruzeiro onde trabalha atualmente.

Camila da Silva Lopes

Possui graduação em Administração pela Universidade Paulista (2014) e graduação em Letras Língua Portuguesa pela Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações (2007). Atualmente é mestranda em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Taubaté e oficial parlamentar na Câmara Municipal de São José dos Campos. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Organizações Públicas.

Resumo

Esse estudo tem como objetivo identificar o processo de aprendizagem do adulto, especificamente no exercício do papel de pai, no contexto da escolha profissional do filho adolescente, e compreender os aspectos envolvidos nessa transformação. Foram realizadas entrevistas abertas com três adultos que estão passando pela experiência de filhos adolescentes que estão em processo de escolha da profissão, ou que escolheram recentemente e estão cursando faculdades mediante as escolhas feitas. Através das entrevistas houve a disponibilização de dados que foram trabalhados por meio da análise de conteúdo. Em todos os casos foram identificados os processos de aprendizagens ocorridos com os pais, e foi

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possível compreender alguns fatores que explicam como esse aprendizado ocorreu. Conclui-se nesConclui-se estudo que, a interface entre pais e filhos adolescentes em faConclui-se de processo de escolha profissional provoca a mudança de postura dos pais no sentido de que eles deem conta de acompanhar esse processo de mudanças dos filhos. Essas mudanças na vida dos adultos foram entendidas como um processo de aprendizagem.

Palavras–chave

Escolha profissional; Conhecimento; Aprendizagem do adulto; Desenvolvimento Humano.

Abstract

This study aims to identify the adult learning process, specifically in the role of father, in the context of the professional choice of the adolescent son, and to understand the aspects involved in this transformation. Open interviews were conducted with three adults who are going through the experience of adolescent children who are in the process of choosing the profession, or who have recently chosen and are attending colleges through the choices made. Through the interviews, data were available that were worked through content analysis. In all cases, the processes of learning with the parents were identified, and it was possible to understand some factors that explain how this learning occurred. It is concluded in this study that the interface between parents and adolescent children in the process of professional choice causes the parents to change their posture in order for them to take account of this process of changes in their children. These changes in adult life were understood as a learning process.

Keywords

Professional choice; Knowledge; Adult learning; Human development.

Introdução

Partindo do pressuposto de que o aprendizado pode acontecer em qualquer fase da vida do indivíduo e em qualquer lugar, são amplas as possibilidades de estudo nesse campo da ciência, dessa forma, a delimitação é sempre um fator essencial para que qualquer estudo avance com propriedade e confiabilidade. No presente trabalho de pesquisa, buscou-se o entendimento sobre o aprendizado do adulto, que é pai, e que passa ou passou por um processo em que os filhos estão escolhendo ou já escolheram a profissão.

Para fundamentar esse estudo buscou-se as contribuições teóricas da sociologia do conhecimento de Berger e Luckmann (2013), com conceitos de Durkheim (1999), conceitos da psicologia sócio-histórica de Bock (2015), bem como da psicologia histórico-cultural de Vigotski (2008) e os estudos desenvolvidos acerca da orientação profissional de Bohoslavsky (2015). Por meio destes estudos pretendeu-se apreender os sentidos e significados, que a escolha da profissão têm para os indivíduos na fase da adolescência, bem como para os pais que participam desse processo. Na medida em que o futuro do jovem está em questão, os demais membros do grupo se mobilizam de alguma forma no sentido de participar desse processo. Mas é dos pais a participação mais efetiva, quer pela experiência de vida mais acentuada pela idade, quer pela responsabilidade formadora inerente ao papel dos pais, ou ainda pela perspectiva de realizar, por meio dos filhos, seus próprios projetos de vida adiados ou mal sucedidos.

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As trajetórias de cada família, no processo transitório dos adolescentes que estão decidindo sobre a futura profissão, acontecem de maneiras bem características e alinhadas com fatores culturais, sociais e econômicos de cada grupo. Evidenciou-se, por meio das entrevistas com os pais, que as suas formações escolares e suas histórias de vida exercem importante influência na postura deles com relação aos filhos no contexto da escolha profissional. O momento econômico dos pais também é crucial, pois há despesas envolvidas nessa decisão. Por fim, a formação cultural dos pais, sobretudo no sentido da ética e dos valores, também tem impacto sobre o posicionamento dos adultos com relação aos jovens no que diz respeito às suas escolhas.

Observou-se no presente trabalho, que, os pais participaram do processo de decisão dos filhos quanto à escolha profissional, todavia o fizeram de forma intuitiva, desprovidos de instrumentos que os ajudassem a projetar as consequências resultantes das escolhas. Sob a perspectiva da inserção dos pais no processo de escolha dos filhos adolescentes, é que esse estudo buscou identificar o processo de aprendizagem pelo qual esses adultos passaram, embora não tenham se dado conta dessa mudança.

Construção de conhecimento

A vida cotidiana contém em si mesma, um conjunto de expressões da realidade que tem importância para os indivíduos participantes dessa rotina. Essas expressões, nada mais são que, representações sociais que ganham relevância na medida em que, um maior número de pessoas atribuem sentido a elas. Berger e Luckmann (2013, p.35) afirmam que “A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente”.

Em estudo do início do século XX, Durkheim dava início a essa discussão, numa sociedade com características de um momento histórico muito diferente do momento vivido agora, no início do século XXI, mas que evidencia a similaridade no comportamento da sociedade quando se trata da construção do conhecimento e da influência dessa sociedade sobre as escolhas individuais.

Ninguém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obrigado a ser artista; mas todo o mundo, agora, é obrigado a não ser ignorante. Essa obrigação é, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas sociedades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei (DURKHEIM, 1999, p.17).

Dessa maneira, observa-se que, acima de quaisquer imposições, científicas ou até mesmo legais, aquilo que acontece de fato com, e entre as pessoas, torna-se conhecimento compartilhado e, portanto, é admitido como a própria realidade por um referido grupo de indivíduos em menor ou maior quantidade.

O mundo da vida cotidiana não somente é tomado como uma realidade certa pelos membros ordinários da sociedade na conduta subjetivamente dotada de sentido que imprimem em suas vidas, mas é um mundo que se origina no pensamento e na ação dos homens comuns, sendo afirmado como real por eles (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.36).

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88 Os estudos existentes no campo do conhecimento não são suficientes para dar conta desse tema com robustez e clareza, tamanha sua complexidade. Portanto, evidencia-se aí, que tal objeto demanda de grande atenção para que haja evolução acerca de seu entendimento.

Em qualquer sociedade somente um grupo muito limitado de pessoas se empenha em produzir teorias, em ocupar-se de “ideias” [...] mas todos os homens na sociedade participam, de uma maneira ou de outra, do “conhecimento” por ela possuído (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.28).

Quando o conhecimento é discutido através da ótica da vida cotidiana, das práticas usuais de uma sociedade, o objeto que está no centro desse diálogo é chamado de senso comum. O termo fala por si no tocante ao seu significado, mas é essencial, para aquele que pretende se familiarizar ou até se aprofundar no tema, entender um pouco além do termo. Para Berger e Luckmann (2013),

O senso comum contém inumeráveis interpretações pré-científicas e quase-científicas sobre a realidade cotidiana, que admite como certas. Se quisermos descrever a realidade do senso comum temos de nos referir, a estas interpretações, assim como temos de levar em conta seu caráter de suposição indubitável, mas fazemos isso colocando o que dizemos entre parênteses fenomenológicos (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.37).

Essa breve abordagem sob a ótica da sociologia do conhecimento é uma provocação que tem por objetivo evidenciar as lacunas existentes nesse tema, dentre os quais pretende-se discutir nesse estudo o aspecto da construção social dos adultos, pais, por meio do aprendizado desenvolvido durante o período em que filhos adolescentes vivenciam o processo da escolha profissional.

Nas bases da teoria do pensamento e linguagem desenvolvida por Vigotski (2008), há grande aprofundamento sobre a importância de análise crítica da palavra, não obstante o conhecimento é construído, dentre outros fatores, pelo processo de comunicação, que tem na palavra um de seus principais vetores. Dessa maneira, torna-se relevante a associação dessas contribuições teóricas, na medida em que “[...] o significado é um ato de pensamento, no sentido pleno do termo. Mas, ao mesmo tempo, o significado é parte inalienável da palavra como tal, e dessa forma, pertence tanto ao domínio da linguagem quanto ao domínio do pensamento” (VIGOTSKI, 2008, p.6).

Nessa perspectiva, evidencia-se a complexidade que reside no processo de comunicação que permeia toda a construção de conhecimento e por isso, a atenção que deve ser atribuída à complementariedade entre linguagem e conhecimento.

[...] a verdadeira comunicação humana pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio avançado do desenvolvimento do significado da palavra. As formas mais elevadas da comunicação humana somente são possíveis porque o pensamento do homem reflete uma realidade conceitualizada (VIGOTSKI, 2008, p.7- 8).

Evoluindo na linha da construção do conhecimento por meio da própria realidade extraída do senso comum, a institucionalização é o fenômeno que se presta a organizar as pessoas em torno das crenças por elas próprias criadas e por vezes, por elas próprias

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modificadas (BERGER e LUCKMANN, 2013). Desde a mais primitiva concepção do desenvolvimento do ser humano, é entendido por muitos estudiosos que a humanização é um processo ao qual o homem deve ser submetido para tornar-se, de fato, ser humano. “Embora seja possível dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo dizer que o homem constrói sua própria natureza, ou, mais simplesmente, que o homem se produz a si mesmo” (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.70).

Essa perspectiva posiciona o homem na mesma condição animal de outros primatas superiores, pois já foi verificado que a espécie humana, apesar de suas capacidades potenciais de aprendizado, precisa fundamentalmente de estímulos externos, ou seja, o homem e a sociedade são produtos um do outro, pois a sociedade influencia o homem e o homem influencia e constrói essa mesma sociedade (BERGER e LUCKMANN, 2013). É apropriado pensar que um não vive sem o outro e vice-versa.

O ser humano solitário é um ser animal (que, está claro, o homem partilha com outros animais). Logo que observamos fenômenos especificamente humanos entramos no reino social. A humanidade específica do homem e sua sociedade estão inextrincavelmente entrelaçadas. O Homo sapiens é sempre, e na mesma medida, homo socius (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.73).

A discussão sobre a natureza humana também pode ser observada em outras linhas de pesquisa por meio de citações como “Não há natureza humana porque toda a natureza é humana” (SANTOS, 1988, p.63). O autor explicita nessa fala a absoluta contraposição que defende a favor da socialização como fator preponderante para o desenvolvimento humano, portanto, contrário à naturalização do indivíduo.

Sobre os paradigmas superados, Santos (1988) apresenta o que chamou de paradigma

emergente, no qual observa-se o desafio que a sociedade contemporânea enfrenta, no sentido

de realinhar seus propósitos de construção do conhecimento, sobretudo para desmistificar o foco nas especializações, que aponta para grandes riscos para a sociedade atual, cenário no qual se constrói e ao mesmo tempo se desconstrói conhecimento.

Todo o conhecimento é local e total - Na ciência moderna o conhecimento avança pela especialização. O conhecimento é tanto mais rigoroso quanto mais restrito é o objeto sobre que incide. [...] É hoje reconhecido que a excessiva parcelização e disciplinarização do saber científico faz do cientista um ignorante especializado e que isso acarreta efeitos negativos. Esses efeitos são, sobretudo, visíveis no domínio das ciências aplicadas. As tecnologias preocupam-se hoje como seu impacto médico transformou o doente numa quadrícula sem sentido quando, de fato, nunca estamos doentes senão em geral (SANTOS, 1988, p.64).

Outro paradigma emergente apresentado pelo autor é,

Todo o conhecimento é autoconhecimento - Sabemos hoje que a ciência moderna nos ensina pouco sobre a nossa maneira de estar no mundo e que esse pouco, por mais que se amplie, será sempre exíguo porque a exigüidade está inscrita na forma de conhecimento que ele constitui. A ciência moderna produz conhecimentos e desconhecimentos. Se faz do cientista um ignorante especializado, faz do cidadão comum um ignorante generalizado (SANTOS,

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1988, p.66).

Ao mesmo tempo em que Santos (1988) discute as especializações, aborda também o distanciamento entre as ciências naturais e as ciências sociais que trazem prejuízos contundentes à sociedade e por isso bloqueiam o desenvolvimento do ser humano.

Todo o conhecimento científico-natural é científico-social - A distinção dicotômica entre ciências naturais e ciências sociais começa a deixar de ter sentido e utilidade. Esta distinção assenta numa concepção mecanicista da matéria e da natureza a que contrapõe, com pressuposta evidência, os conceitos de ser humano, cultura e sociedade (SANTOS, 1988, p.60).

Pode-se destacar nos posicionamentos da sociologia do conhecimento de Berger e Luckmann (2013) e também no paradigma emergente de Santos (1988), que tanto as questões do conhecimento vistas pelo prisma científico, assim como o conhecimento dado na aderência que a vida cotidiana através do senso comum impõe às sociedades, que interagir com o conhecimento e por consequência com a realidade, consiste em tarefa complexa.

Ao refletir sobre o aprendizado dos pais a partir das modificações dos filhos adolescentes, em convergência com as teorias apresentadas no presente trabalho de pesquisa, cabe chamar a atenção para o tom prático desse desenvolvimento, pois cada sujeito envolvido nesse processo é impelido a modificar-se por conta de necessidades. “Para além da mera adaptação à natureza, os homens se modificam em função do desenvolvimento de suas necessidades” (BOCK, GONÇALVES, FURTADO et al., 2015, p.99). Com base nessa afirmação pode-se perceber considerável consolidação sobre conhecimento, na medida em que diferentes estudiosos acenam para o caminho convergente do conhecimento calcado na vida real, cotidiana e que faz sentido às pessoas.

Em consonância com os estudos apresentados até aqui, cabe salientar a importância da Teoria das Necessidades Humanas desenvolvida por Maslow e a Teoria da Motivação desenvolvida por Herzberg. Por meio de um estudo aprofundado sobre as teorias da motivação humana, Bueno (2002) organiza as perspectivas de importantes pesquisadores que tiveram relevância no estudo desse fenômeno ao longo do século XX.

Na Teoria das Necessidades Humanas, Maslow desenvolveu uma pirâmide formada por cinco níveis hierarquizados, em que, cada nível tem em si uma representatividade para o indivíduo. São elas, da base ao topo, necessidades fisiológicas, de segurança, de relacionamento, de auto-estima e de auto-realização, sendo que, a busca pelo nível acima se dá somente após a plena satisfação do nível presente (BUENO, 2002).

A teoria de Maslow trouxe uma perspectiva mais avançada do que aquelas existentes em seu tempo, como por exemplo, a Teoria de Taylor em que considerava-se apenas as necessidades fisiológicas (BUENO, 2002).

Nos estudos de Herzberg sobre a motivação, foram definidos dois fatores, sendo o primeiro, os Fatores Higiênicos, também chamados de Extrínsecos, que segundo sua teoria não geram motivação no indivíduo. Esses fatores, quando inexistentes ou deficitários, causam a insatisfação, entretanto, quando presentes e adequados, apenas evitam a insatisfação, mas não são capazes de gerar motivação. São eles, salário, relações dentro do trabalho, segurança, condições de trabalho e políticas da empresa onde trabalha. Já os Fatores Motivacionais, também chamados de intrínsecos, são os potenciais responsáveis pela motivação. São eles, realização, reconhecimento, responsabilidade, progresso e desenvolvimento (BUENO, 2002).

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preenchidos, quer sejam pensadas variáveis que são separadas em motivacionais e não motivacionais, as escolhas e decisões dos jovens e seus pais, sobre a carreira profissional, passam, segundo essas teorias, necessariamente, pela condição social em que se encontram.

Desta forma, estudar a vida cotidiana familiar pode nos levar a melhor compreensão das relações pai-filho na escolha profissional.

A influência da família na escolha profissional do adolescente

O processo de escolhas diz respeito aos princípios e valores predominantes numa sociedade, e requer maturidade por parte do indivíduo. Pensar que o adolescente, que atravessa um processo de autoconhecimento, precisa fazer estas escolhas todo momento, remete a uma série de situações de superação, pois ao final objetiva-se equacionar seus sonhos, com as expectativas dos pais, as expectativas da sociedade e o que pesa sobremaneira nessa fase da vida que é o senso de pertencimento, aquele que acontece principalmente entre seus iguais. Muitos são os setores da vida adolescente em que as escolhas acontecem, mas pretende-se aqui discutir sobre a questão específica da escolha profissional. Almeida e Silva tratam esse tema em seu estudo e destacam a escolha profissional como um desafio na adolescência ao afirmar que “É nesse contexto de conflitos, ressignificações e readaptações, próprios do processo do adolescer, que a escolha da profissão representa a primeira grande decisão do adolescente” (2011, p.75).

Uma das formas do sujeito ocupar seu espaço na sociedade e se desenvolver como ser humano com base em suas necessidades materiais e intelectuais é por meio do trabalho. Uma das principais contribuições teóricas de Berger e Luckmann (2013) são as definições sobre

socialização primária e socialização secundária. Segundo os autores, a socialização primária

é inédita na vida do indivíduo, por isso ocorre durante a infância. “A socialização primária é a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, e em virtude da qual torna-se membro da sociedade” (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.169).

A socialização primária é carregada de importantes significados e por isso, é decisiva para a fase adulta, como afirmam ao dizer que “É imediatamente evidente que a socialização primária tem em geral para o indivíduo o valor mais importante e que a estrutura básica de toda socialização secundária deve assemelhar-se à da socialização primária” (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.169).

A partir dessa ideia, tem-se como consequência que, as escolhas estarão fundamentalmente influenciadas pelas origens sociais e culturais do indivíduo. Uma das diferenças que serão observadas na socialização secundária é exatamente a presença inédita das questões do trabalho. “[...] podemos dizer que a socialização secundária é a aquisição do conhecimento de funções específicas, funções direta ou indiretamente com raízes na divisão do trabalho” (BERGER e LUCKMANN, 2013, p.179).

A definição sobre o campo de formação escolar dará encaminhamento futuro ao mercado de trabalho, mas essa definição é uma inversão no tempo, pois, via de regra, primeiramente escolhe-se a profissão e a posteriori define-se a trajetória escolar em função da escolha. Por exemplo, se um adolescente escolhe ser um médico, ele obrigatoriamente precisará ingressar e passar por uma faculdade de medicina, contudo, essa é somente a primeira etapa do que de fato acontecerá no exercício da atividade, pois há inúmeras especialidades e dependendo dos fatores que levaram o adolescente à escolha da medicina pode ser que as etapas posteriores não tenham sido pensadas. Já, se a escolha é por odontologia, as opções diminuem, porém, ainda assim não se tratará de um caminho único. Num outro exemplo, se o jovem decide que sua vocação o transporta para a indústria, a

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92 definição sobre a formação escolar variará amplamente, pois em empresas dessa natureza é possível atuar como Administrador, como engenheiro (de várias especialidades), como publicitário, como relações públicas, como economista, e assim por diante. Dessa forma, fica claro que, escolher onde pretende trabalhar não esclarece que formação escolar o indivíduo deva buscar. Então, seria mais interessante decidir que será um médico e não que pretende trabalhar necessariamente num hospital, assim como decidir que será engenheiro mecânico e não que pretende trabalhar necessariamente numa indústria, decidir que será Jornalista e não que pretende trabalhar necessariamente na televisão, e assim por diante.

A escolha da profissão é uma das decisões mais sérias da vida de uma pessoa, pois ela determina, de certo modo, o destino do indivíduo, bem como seu estilo de vida, a educação e até o tipo de pessoas com quem irá conviver no trabalho e na sociedade (NEPOMUCENO e WITTER, 2010, p.16).

Toda essa problemática relacionada à escolha da profissão por um indivíduo tão jovem e com tantas outras dúvidas ainda não sanadas, remete o sujeito e aqueles que convivem diretamente com ele, a um ambiente gradativamente cada vez mais caótico. Dessa forma, a família desempenha papel essencial de apoio ao adolescente sobre a escolha, mas, sem que se perceba, o grupo familiar também é afetado por todo esse movimento e se vê obrigado a deslocar-se no sentido de acompanhar as mudanças.

O adolescente que escolhe e que aceita crescer de certo modo “destrói”, desestrutura o grupo familiar, pois está dando o grande salto, ou o primeiro grande salto, no sentido da separação do grupo familiar, o que supõe uma enorme reestruturação, não só de si mesmo, mas de todo o grupo familiar (BOHOSLAVSKY, 2015, p.59).

A complexidade envolvida no processo de escolha da profissão pelo adolescente passa necessariamente por algumas etapas de depuração, nas quais o indivíduo muda suas percepções sobre a sociedade, sobretudo de si mesmo, e gradativamente promove a aproximação dele com a sociedade. Mas, esse amadurecimento acontece também com os pais num ambiente de aprendizagem. A convergência do desejo dos pais em querer ver seu filho bem sucedido na vida adulta com o desejo do adolescente em “ser alguém na vida”, como se fala no senso comum, faz com que ambos trabalhem juntos buscando o mesmo ideal. A dificuldade reside, geralmente, no formato da trajetória para o alcance desse ideal, pois as diferenças de visão de mundo e de realidade, e também as diferenças de prioridades, são fatores de grandes desacordos entre pais e filhos. “Talvez mais importante do que levar a termo a escolha de uma carreira seja levar a bom termo a escolha de um futuro (seja estudo ou trabalho). A diferença acha-se na aprendizagem de como escolher [...]” (BOHOSLAVSKY, 2015, p.96).

Mesmo inferindo que pais e filhos detenham diferentes perspectivas, ambos projetam no futuro expectativas positivas e promissoras, mesmo que parte das vezes divergente. Por isso, é provável que cada um tenha consigo metas concretas, pois “O futuro nunca é pensado abstratamente” (BOHOSLAVSKY, 2015, p.27).

As influências sobre o adolescente no processo de escolha profissional acontecerá em alguns cenários tais como, a escola, a igreja, o clube, etc., todavia, entende-se que, na maioria das vezes, a interferência maior ocorrerá no núcleo familiar. “A família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o funcionamento” (LAKATOS, 1990,

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p.169).

Os pais envolvidos no processo de escolha profissional do filho adolescente terão a tendência de raciocinar de forma mais objetiva e com uma forte conotação financeira associada à escolha, ao passo que o jovem terá uma visão mais romântica, no sentido do sonho de ser como alguém em quem se espelha. Em estudo aprofundado sobre identidades sociais e profissionais, o Sociólogo Dubar (2005) trata de diversas questões de base ligadas às relações do trabalho, das profissões e da sociedade. Em determinado momento fez-se necessário maior imersão no entendimento dos mercados de trabalho, para ampliar essa discussão, haja vista, esse ser o destino final de toda e qualquer escolha, como afirma o autor “É uma das razões essenciais pelas quais a atenção dos sociólogos se deslocou consideravelmente da análise do trabalho e das profissões para a análise do funcionamento dos mercados de trabalho” (DUBAR, 2005, p.211).

Enfim, a literatura consultada evidenciou a relevância do papel da família para os adolescentes em suas trajetórias decisórias. Almeida e Pinho (2008, p.178) afirmam em seu trabalho, que “Acaba, então, por ser inevitável que o adolescente busque fazer uma escolha profissional de acordo com os valores de sua família”.

Os autores trazem ainda a seguinte perspectiva acerca dos estudos atuais sobre a influência da família na decisão dos jovens:

Inúmeros são os teóricos – de diferentes países – que têm estudado a influência da família no processo de escolha profissional, bem como outras variáveis contextuais que também influenciam este processo. Na literatura brasileira encontram-se estudos, em crescimento, acerca da influência da família, mais especificamente no que diz respeito ao momento de escolha profissional do jovem (ALMEIDA e PINHO, 2008, p.178).

Com base nessas questões, esse estudo procurou identificar o processo de aprendizagem do adulto, especificamente no exercício do papel de pai, no contexto da escolha profissional do filho adolescente, por meio dos aspectos envolvidos nessa transformação, a partir das demandas geradas pela escolha profissional do filho adolescente.

Metodologia

Esta pesquisa pauta-se pela abordagem qualitativa, de forma a buscar no ambiente natural a fonte dos dados, importa-se com os atores imersos nos processos sociais, de natureza básica e não objetiva aplicação prática. Utilizou como instrumento de coleta de dados a entrevista.

Foi elaborada entrevista aberta com dois focos principais, sendo eles, a abordagem sobre o tipo de participação dos pais na fase de escolha profissional dos filhos adolescentes e o aprendizado ocorrido com esses adultos por causa desse processo interativo. A escolha dos entrevistados foi aleatória, levando-se em conta a seguinte premissa:

Para se obter uma boa pesquisa é necessário escolher as pessoas que serão investigadas, sendo que, na medida do possível estas pessoas sejam já conhecidas pelo pesquisador ou apresentadas a ele por outras pessoas da relação da investigada. Dessa forma, quando existe uma certa familiaridade ou proximidade social entre pesquisador e pesquisado as pessoas ficam mais

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à vontade e se sentem mais seguras para colaborar (BONI e QUARESMA, 2005, p.76).

Foi realizada a entrevista com três indivíduos, em seu ambiente de trabalho, em meados de setembro de 2015. A entrevista foi gravada e transcrita em sua integralidade, a partir da inserção do entrevistado no contexto da pesquisa por meio do esclarecimento do propósito do estudo e apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo o seguinte roteiro: a) primeira questão – você participa/participou do processo de escolha profissional do seu filho adolescente? Fale um pouco sobre esse processo; b) segunda questão – você entende que aprendeu algo durante esse processo? Fale um pouco sobre suas experiências ligadas a isso. A condução da conversa teve o sentido de estimular o entrevistado a se aprofundar em suas memórias e refletir sobre os fatos ocorridos, vinculados ao desenvolvimento da escolha de forma geral. “A entrevista deve proporcionar ao pesquisado bem-estar para que ele possa falar sem constrangimento de sua vida e de seus problemas e quando isso ocorre surgem discursos extraordinários” (BONI e QUARESMA, 2005, p.77). As entrevistas ocorreram individualmente e tiveram duração média de uma hora. A quantidade de participantes também foi aleatória. Para a análise dos dados utilizou-se um conjunto de técnicas de pesquisa de Bardin (2011). A análise de conteúdo permitiu a organização e análise dos dados conforme serão apresentados a seguir.

Análise e discussão dos dados

Com base nas entrevistas realizadas com três adultos que tem em sua família, nesse momento, adolescentes em fase de definição da vida profissional, foi possível identificar alguns fatores que influenciam os pais acerca do entendimento sobre o futuro de seu filho. A partir daí, foi observado como se dá a aprendizagem dos adultos inseridos nesse processo.

Por se tratar de um desenvolvimento não planejado na maioria das vezes, as discussões dentro da família, com o intuito de definir o futuro profissional do filho adolescente, começam sem que os indivíduos percebam. E mais, os adultos ingressam nesse processo com visões majoritariamente soberanas, fundamentadas nas próprias histórias de vida e com suas visões de mundo, o que possivelmente poderá tingir a comunicação com o adolescente, que muitas vezes pode ser subestimado como aquele que não tem vivência, que não experimentou praticamente nada da vida. Dessa forma o adulto tem fortes convicções de que está no comando, portanto, emite opiniões, expõe pontos de vista e passa despercebido por uma condição de mutação dele próprio, que ocorre de forma espontânea para que seja possível interagir com o filho adolescente. Dessa maneira, ao final do período de escolha profissional do jovem, os pais se veem diferentes, porque moldaram o filho, mas também moldaram a si mesmos.

O início do processo de escolha se mostrou semelhante em todos os casos por parte dos pais, uma vez que nenhum deles demonstrou preocupação em ter de fazer um trabalho de aproximação com o filho para chegar a uma definição em médio ou longo prazo. Dessa maneira, o compartilhamento desse assunto entre pais e filhos, começa de forma tranquila e sem maiores situações de pressão. Observe o Sujeito 1 ao falar sobre o filho mais jovem que encontra-se com dezesseis (16) anos de idade e que cursa o ensino médio:

Na verdade, eu não pergunto, ele vem falar para mim, ele que me procurou para falar, a ideia dele, acho que a ideia de toda criança, homem principalmente, é ser jogador de futebol, esse foi o início, [ah pai, quero ser jogador], tudo bem, então vamos lutar, vamos batalhar, só que chegou num

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dado momento que ele parou, parou de falar, não quis participar mais do futebol [...]

Nota-se nessa fala que, o desejo do adolescente foi manifestado espontaneamente, e da mesma forma cessou, sem que houvesse algum tipo de interferência dos pais. Dessa forma, o adulto começa a ter dificuldades para compreender quais são as demandas do filho adolescente e até que ponto dá espaço para decisão autônoma ou adota uma postura intervencionista. Enfim, os conflitos vividos pelo adolescente, em medida semelhante, começam a ser vividos também pela família. “O período da adolescência não é turbulento só para aqueles que a vivem, mas também para os pais [...]” (ALMEIDA et al., 2010, p.2).

Com outro entrevistado, o filho já demonstrava afirmação sobre o que desejava ser, mas no tocante à influência dos pais, também se percebe passividade nesse estágio do processo.

desde criança ele optou pelo caminho da Informática, fez diversos cursos técnicos, e eu não tive muita influência [...], é o que ele gosta de fazer, entendeu?

O entrevistado, Sujeito 3, apresentou posicionamento diferente, com uma preocupação sobre a escolha da filha desde cedo, entretanto, percebe-se que o fator do gênero teve influência nesse comportamento, pois os pais tem formação conservadora e por isso uma visão fragilizadora do gênero feminino, com base nos próprios paradigmas da sociedade, conforme Borges (2009, p.14) “Em relação às mulheres no mercado de trabalho, o crescimento na ocupação, que acompanha a evolução da economia, é limitado, entretanto, pela habitual discriminação de gênero presente na sociedade como um todo”.

Em seu relato, o sujeito 3 descreve que:

A sim, essa preocupação de sair pra estudar fora [...] acho que a gente conviveu tanto com essa história que eu acho que até ela ficou amedrontada com a história. De ver quando chegam as pessoas na faculdade, aquelas histórias de trote, de ir morar sózinha também, e quando você tem uma posição financeira melhor você dá uma condição melhor para o seu filho. Quando você não tem uma condição tão boa, morar em república, acho que ela aceitou mais fácil e nós também demos de graças a Deus dela aceitar de fazer a faculdade aqui [...]

Além disso, nota-se uma preocupação com relação à entrada tardia no mercado de trabalho e a consequente permanência prolongada junto aos pais, no que se refere às questões materiais, como afirmam Guerreiro e Abrantes (2007).

Ao reconhecer-se socialmente a esta categoria social [juventude] uma extensão progressivamente maior, tanto num como noutro dos limites da respectiva faixa etária, concede-se maturidade em idades mais precoces, por um lado, enquanto se prorroga cada vez até mais tarde a idade de assumir responsabilidades e de adquirir independência, pelo menos no plano material (GUERREIRO e ABRANTES, 2007, p.5).

Em sua fala inicial, o Sujeito 3 demonstra a participação junto à filha com certa preocupação, pois pondera sobre a possibilidade de ter tirado dela, liberdade de escolha.

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96 Todavia, sua postura evidencia uma resistência à ideia da entrada tardia no mercado de trabalho que acaba de ser citada.

eu fiquei até um tempo preocupado com isso porque de uma certa forma eu meio que até que, como diz, tentei persuadir ela a escolher alguma coisa...

No desenvolvimento da entrevista o adulto, aqui denominado Sujeito 3, expôs um dos seus incômodos, de ordem econômico-financeira, que teve algum peso em sua postura mediante essa situação.

Hoje o adolescente, não sei se é aqui [...] ou se é geral, tá muito com aquela história de [...] ah não, vai fazer um ano de cursinho para mim pensar... e aí eu deixei bem claro pra ela que seria mais um ano pra mim pagar cursinho é... não forçando muito, mas enfim pra que ela tomasse um norte né... (sic)

Em todos os casos pode-se observar que a escolha profissional do filho, no início da fase adolescente, não foi tratada pela perspectiva da análise conjunta pelos pais, apesar da clareza de que os pais tinham interesse nessa decisão, mesmo não ouvindo os jovens sobre o que pensavam sobre isso. Esse comportamento pode ser, de certa forma, corroborado, pela seguinte afirmação:

O grupo familiar constitui o grupo de participação e de referência fundamental, e é por isso que os valores desse grupo constituem bases significativas na orientação do adolescente, quer a família atue como grupo positivo de referência, quer opere como grupo negativo de referência (BOHOSLAVSKY, 2015, p.33).

A partir da abordagem com os pais sobre suas formas de atuação junto aos filhos no desenvolvimento de uma escolha profissional, os dados permitem a compreensão do apoio dos pais às decisões dos filhos, sem intervirem nas formas de escolha, mas demonstrando ao filho que é importante fazer alguma escolha.

Sujeito 1 – Acomodado, até para a escola, então tem que ficar bem no pé dele. Aí num certo momento ele chegou em mim e falou: ah pai, eu acho que eu quero ser jornalista...sabe? [...] aí eu perguntei - por que que você quer ser jornalista né?, aí ... - a pai, eu como jogador de futebol não vai dar certo, mas, acho que jornalista fica perto desse povo né, fica no meio disso aí - eu opa, beleza, é um caminho...

Sujeito 2 – [...] essa área é uma área muito boa, mas que quem já tá nela é difícil sair! Então pra surgir vaga eu acho que é mais difícil que se fosse aí... não sei, numa outra aí, de engenharia talvez [...] a gente conversa bastante nesse sentido aí, dele não ficar acomodado, esperando um estágio, tem que mandar currículo pra vários lugares...

O Sujeito 3 mantem semelhanças com os demais no sentido de mostrar que fazer a escolha é importante, mas demonstra uma diferença marcante. A filha havia feito vários testes vocacionais no ensino médio, portanto, havia a disponibilização de laudos que indicavam melhores caminhos para a escolha, e segundo o entrevistado, os resultados apontavam para a área de humanas, com alguns campos potenciais. Nesse instante, os pais não interferiram no processo de análise, deixado por conta dos métodos da escola, mas imediatamente a partir do

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momento em que foram dadas as alternativas, eles iniciaram um diálogo com a filha, e mais uma vez no sentido prático, das perspectivas financeiras vinculadas à escolha.

Sujeito 3 – olha, você tá livre pra fazer Psicologia! Só que Psicologia o campo de trabalho é bem menor do que Direito!

Identifica-se em todos os casos analisados aqui, que, os pais preocuparam-se com a necessidade dos filhos escolherem uma carreira profissional, e também preocuparam-se com a importância deles, filhos, não esmorecerem nos estudos, todavia, não houve por parte dos adultos a postura de buscar o aprofundamento na análise de aptidões e desejos dos filhos adolescentes. Esse comportamento pode ser observado nos estudos de Bohoslavsky (2015) no momento em que a família, como referência para as escolhas do filho adolescente, se identifica com dois aspectos:

[...] a percepção valorativa que o grupo familiar tem a respeito das ocupações, em função dos sistemas peculiares de valor-atitude do grupo; [...] a própria problemática vocacional dos membros do grupo familiar (p.33).

De qualquer forma, os pais precisaram mobilizar-se para ter legitimidade junto aos filhos, e cada um tomou algum tipo de iniciativa no sentido da mudança de si mesmo. Nesse caso, recorre-se aos estudos que versam sobre a experiência, quando abordada em profundidade em sua semântica. Segundo o autor, a experiência só ocorre mediante algo mais significativo que marca o sujeito e não simplesmente o fato de ter presenciado determinada situação, ou passado por algum lugar, ou ainda ter falado com essa ou aquela pessoa.

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça (BONDÍA, 2002, p.21).

Nos relatos anteriores, do sujeito 2 e do sujeito 3, observa-se que, apesar dos filhos adolescentes terem histórias familiares e escolares diferentes e escolhas também diferentes, todos esses ambientes propiciam a reflexão acerca das escolhas profissionais, bem como, evidencia-se a preocupação dos pais com as mudanças do mercado de trabalho e da sociedade, o que os motiva a problematizarem junto aos filhos, as consequências das escolhas.

Os lugares educativos, sejam eles orientados para uma perspectiva de desenvolvimento pessoal, cultural, de desenvolvimento de competências sociais ou ainda para uma perspectiva de formação profissional, acolhem pessoas cujas expectativas e motivações a respeito da formação e dos diplomas referem-se, tanto a problemáticas de posicionamento na sua vida quotidiana e na sua ação em nossas sociedades em plena mutação, como às questões e problemáticas ligadas à compreensão da natureza dessas próprias mutações (JOSSO, 2007, p.414).

O Sujeito 1 voltou a estudar depois de quinze (15) anos afastado das salas de aula. Ficou tão satisfeito com os resultados do estudo para si, que terminou a faculdade e já iniciou

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98 uma especialização. Num tom descontraído com o filho, encontrou uma forma de cobrar resultados dele, falando pouco, mas estabelecendo desafios comparativos com o próprio pai.

Sujeito 1 – até o fato de eu estudar, de eu fazer alguma coisa, é pra eles verem que [...] meu pai tá batalhando... vou puxar junto! [...] é até uma maneira de cobrar. O meu filho recebeu o boletim dele, não é? Vi lá, na nota... no limite! Aí eu fui abrir o meu [...] Oh filho! O pai tá melhor que você! E aí?

O Sujeito 2 entende que aprendeu com os filhos por meio dos estudos deles e seus comportamentos através do acompanhamento da rotina e enfatiza a importância que dá para o ensinamento e formação dos filhos com base em valores positivos, independente dos cursos escolhidos. Pensa inclusive em retomar os estudos, inspirado pelos filhos.

Sujeito 2 – eu acho que eu mudei sim, acho que dentro da família né, a família é um grupo de pessoas que vive junto ali e se tiver mudança de um ou de outro acaba todo mundo mudando [...] não sei se a gente muda naturalmente ou se a gente é forçado a mudar pra acompanhar até o desenvolvimento dos filhos [...] o estudo é a melhor coisa que a gente pode ter aqui na Terra [...] saúde é importante, o trabalho, mas o conhecimento, ele dá poder pra gente, então acho que, hoje se eu fosse querer alguma coisa na vida, eu ia querer poder, mas não é poder de mandar, poder de saber, poder de saber falar, poder de saber ouvir, é esse tipo de poder que a escola dá pra gente... hoje eu sinto até vontade de estudar!

O Sujeito 3 adotou a linha das pesquisas na Internet, das conversas com amigos, da observação no local de trabalho, enfim, meios próprios para buscar informações, e isso trouxe aprendizado sobre assuntos até então desconhecidos.

Sujeito 3 – [...] entramos no Google, aprendemos muita coisa de História, Arqueologia, não sei o que...

As entrevistas trouxeram elementos que revelam o aprendizado do adulto no ambiente familiar, quando, em contato com o momento da escolha profissional do filho adolescente, se fez necessário entender alguns assuntos ignorados até então, para que fosse possível estabelecer o diálogo e a partir daí conseguir acompanhar a trajetória de escolha da profissão. Nota-se que o ambiente familiar favorável, alicerçado sobre boas relações entre os indivíduos, faz-se importante dentro desse contexto. A participação efetiva dos pais, segundo estudos, beneficia o desenvolvimento do adolescente no processo de escolha.

[...] os adolescentes cujos pais participaram dos encontros se mostraram mais calmos, seguros e menos ansiosos frente às suas escolhas. Já os pais relataram que as dinâmicas de grupo lhes proporcionaram um maior crescimento individual, pois seus conflitos, dúvidas, inseguranças e ansiedades puderam ser divididos com o grupo, através de uma reflexão coletiva (ALMEIDA e PINHO, 2008, p.182).

Pode-se afirmar então, que o aprendizado do adulto ocorreu com todos os indivíduos participantes da pesquisa. Em tempo, cabe ressaltar a importância da soma de esforços entre

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adultos e adolescentes no sentido da busca pela escolha profissional do jovem. Mais do que isso, observa-se que essa escolha passa a ser de toda a família, em que pese, as consequências da escolha terem potencial impacto nas vidas das pessoas inseridas nesse contexto no seu futuro.

Considerações finais

À luz das teorias exploradas nessa pesquisa buscou-se estabelecer relação entre a construção do conhecimento como o elemento central do processo de aprendizagem do adulto sob a perspectiva do cotidiano, onde predomina o senso comum e a forma socialmente aceita pelos indivíduos pertencentes ao meio, bem como a perspectiva do adolescente e suas especificidades durante o processo de escolha da profissão. Os dados destacados das entrevistas mostram que ocorreu aprendizado para todos os pais, devido ao período vivido pelos filhos na adolescência com relação à escolha profissional. A partir da identificação desse aspecto, infere-se que o aprendizado do adulto é estimulado por fatores que tenham sentido e significado em sua vida, em qualquer campo, e como pode-se constatar no presente estudo no caso específico na interação pais e filhos na escolha profissional na adolescência.

Podem ocorrer diferentes tipos de encadeamento nesse processo de desenvolvimento do aprendizado do adulto, como foi observado na pesquisa. Voltar a estudar depois de algum tempo longe da escola é uma das reações possíveis do adulto, por conseguinte, a aquisição de conhecimentos diversos que provavelmente, não terão em sua integralidade, relação direta com as escolhas dos filhos, portanto, percebe-se nesse caso a ampliação da evolução do adulto, se comparada a real necessidade inicialmente geradora desse fato. Outra reação possível do adulto mediante esse quadro é o despertar para os fatos da atualidade, sejam eles advindos dos meios de comunicação mais modernos, sejam eles através do aumento do interesse pela escuta de forma geral.

Enfim, os adultos que passaram por essa experiência de vida mostraram-se realizados com o fato dos filhos terem escolhido uma trajetória escolar e profissional. Sentem-se orgulhosos por participarem do momento de amadurecimento dos filhos e de poder contribuir de alguma forma para esse resultado, de maneira que foi observado o desenvolvimento humano do adulto que participou desse processo.

O presente estudo se faz conclusivo em seus objetivos na medida em que foi identificado o processo de aprendizagem do adulto, pai, que interagiu com o filho adolescente no processo de escolha profissional, bem como, houve a compreensão dos aspectos que estão envolvidos nesse processo de aprendizagem.

Vale ressaltar que, o material coletado denota a oportunidade de ampliação de pesquisas nesse campo, tanto no que se refere ao aumento do número de participantes, bem como, de uma análise alargada, considerando outras perspectivas não levantadas no presente estudo.

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