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CAPÍTULO DÉCIMO TERCEIRO À BUSCA DA CONSCIÊNCIA SOCIAL E POLÍTICA II

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Academic year: 2021

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II

º

CICLO: 9

º -

10

º

ANO DE ESCOLARIDADE

0. Premissa

A segunda fase da adolescência, que coincide com o IIº Ciclo do Ensino Secundário, é o momento crucial para a orientação dos alunos na busca da sua consciência social e políti-ca, concebida como factor indispensável para a consolidação da sua sociabilidade, enquanto dimensão integrante da sua personalidade. Nesta fase faremos uma proposta operativa e didáctica que visa a formação dos alunos, nas suas diversas componentes pessoais, sociais e culturais. Trata-se de uma orientação efectiva para os alunos adolescentes que se encontram numa perspectiva de querer conhecer não somente a sua realidade existencial, mas também o seu próprio ambiente como espaço geográfico, cultural, social, político e religioso que, duma forma ou doutra, coopera para o seu crescimento pessoal. Portanto, a orientação do aluno para a vida social tem como objectivo principal ajudá-lo a ser protagonista na construção de si mesmo como ser social e da sociedade, na qual se encontra inserido. Essa orientação e essa nobre tarefa não competem somente à família, mas cabem, também, à escola. É por essa razão que a escola deve ser encarada pelo aluno como expressão social capaz de coadunar os seus interesses pessoais e sociais numa dinâmica formativa, e que os pode orientar para a vida activa do ponto de vista social e profissional.

A implementação de conteúdos e de metodologia para a formação social dos alunos reflecte os seus reais interesses, expressos na pesquisa empírica efectuada nas escolas secun-dárias do País. Portanto, as linhas de orientação para a formação da consciência social e polí-tica dos alunos contemplam, antes de tudo, a inserção e integração social, partindo dos seus compromissos como estudantes e o desempenho do seu tempo livre e convivência que instau-ra com o grupo de pares. Em sintonia com as outinstau-ras disciplinas (história e cultuinstau-ra cabo-verdiana), o plano curricular da “Formação Moral, Profissional e Social” contribuirá para que

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os alunos possam assimilar, de forma activa, os princípios básicos da sua identidade cultural e a importância de ser cidadão numa sociedade democrática e pluralista.

O indivíduo que se encontra num processo de crescimento e amadurecimento precisa de apoios e de meios necessários para o desenvolvimento das suas capacidades humanas e sociais, a fim de poder ter uma imagem correcta de si mesmo, de ser capaz de auto-compreensão, de fazer opções, de tomar decisões e de autoavaliar-se. São elementos que tor-nam o indivíduo consciente do seu ser social num contexto de vida real e existencial. É nesta fase que a escola deve propor aos seus alunos uma educação sexual mediante as seguintes etapas: namoro, matrimónio e amor conjugal. Os alunos devem aprender a encarar a vida sexual com objectividade e perspectivas. Os momentos da vida sexual devem ser para o indi-víduo oportunidades para uma inserção e integração progressiva como ser social na sociedade familiar, comunitária, política e religiosa.

Nem tudo é positivo na sociedade na qual os adolescentes se encontram. A formação social não pode ignorar os problemas pessoais e sociais que, de um modo ou de outro, influenciam e afectam a vivência dos alunos na família e na sociedade. É de capital importân-cia que seja implementado um programa capaz de contemplar os fenómenos anti-soimportân-ciais e capacitar os alunos para terem uma visão critica da realidade mediante conhecimentos reais dos fenómenos e dos seus efeitos. Em sintonia com os alunos, a escola deve traçar um plano de prevenção capaz de ajudar os alunos a solucionar o seu próprio problema do mal-estar, assim como, ajudá-los a prevenir os fenómenos associais.

Para que o aluno comece a sentir engajado na vida social e preocupado com o equilí-brio humano e ambiental, é preciso apresentar um conjunto de noções sobre a ecologia e o valor da solidariedade e, ao mesmo tempo, promover um conjunto de acções que miram a intervenção na preservação do meio ambiente e a contribuição em favor dos mais desfavore-cidos, na escola e na sociedade.

1. A formação social dos alunos do Ensino Secundário

A busca de consciência social e política numa sociedade complexa e com pouca oportunidade material e económica para a juventude pode causar nos alunos sentimentos de regressão, apatia e desmotivação no desempenho da sua sociabilidade. É com a consciência de que a sociedade é o que é, que se deve induzir a escola secundária a elaborar um programa de formação social capaz de apresentar aos alunos um leque de possibilidades e de oportunida-des, não visíveis, mas recriáveis, de intervenção e inserção social, se estiverem habilitados

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intelectual e profissionalmente. É papel da escola convencer os alunos de que o importante não é aquilo que o País dá aos seus cidadãos, mas aquilo que o indivíduo está em condições de poder dar ao País. O desenvolvimento de uma sociedade não depende somente daquilo que ela tem como algo de natural, mas, também, de recursos humanos, isto é, as competências e as habilidades dos seus cidadãos. O indivíduo formado, habilitado do ponto de vista intelectual, psicológico, moral, espiritual e social está em condições de transformar o seu meio ambiente e de torná-lo acessível e capaz de satisfazer as suas necessidades humanas e sociais. Portanto, a formação social na escola secundária é para tornar o aluno, antes de tudo, um ser criativo e responsável pela sua própria formação e pela transformação da sociedade.

O ser actor e protagonista do desenvolvimento social começa a partir do desempenho de cada um na sua própria área de estudo. O estudo de uma disciplina qualquer não implica somente ter a noção da realidade, mas esse estudo faz germinar também novos conhecimentos para a transformação da própria realidade estudada, assimilada e conhecida. Não se trata ape-nas de uma especulação, aquilo que o aluno aprende fazendo é o fruto daquilo que foi apren-dido a seu tempo. Essa capacidade de intervir no ambiente e na sociedade a partir da própria formação académica demonstra, antes de tudo, um modo próprio do ser humano na sua dimensão social. Nessa perspectiva cabe à escola ajudar os alunos a compreender que o ser humano é um ser social, na medida em que pertence à sociedade onde nasceu e foi educado, e dela depende para a sua vida material e espiritual. De facto, a sociedade se apresenta ao indi-víduo como lugar privilegiado, onde é chamado a exercer os seus direitos deveres e, ao mes-mo tempo, é sinal das suas limitações, necessidades e vazios existenciais1. É importante que o aluno aprenda que não se trata de uma dependência materialista e determinística. Embora, o indivíduo seja condicionado pelos factores sociais e ambientais, não é a sociedade que deter-mina a existência do ser humano no mundo, antes, o próprio indivíduo, enquanto ser dotado de razão e liberdade, é capaz de transcender a vida material e as situações sociais para uma vida em plenitude.

Para que a formação social dos alunos tenha uma relevância no seu crescimento humano e que os favoreça uma integração efectiva da sua personalidade, é preciso que a esco-la secundária melhore o seu programa curricuesco-lar, sobretudo no que toca aos aspectos valorati-vos, vivência e perspectivas pessoais dos alunos e sua vivência ético-social. Segundo a ava-liação que os alunos fizeram desses aspectos, a média (M) dos resultados aponta um pouco menos de “bom” (cf. Tab. 14). É evidente a necessidade de rever e melhorar o programa cur-ricular, a fim de se melhorar a educação para os valores e a vivência pessoal e ético-social dos

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alunos. Aliás, trata-se de componentes que o professor da disciplina da “Formação Moral, Profissional e Social” deve ter sempre presente no acto educativo, para que a referida discipli-na atinja os seus objectivos, especialmente, a integração social dos alunos, e permita ter uma imagem real e positiva de homem e mulher na sociedade com elevação moral, competência profissional e responsabilidade nas suas relações humanas e sociais.

Tab. 14: Aspectos na disciplina de Formação Moral, Profissional e Social que devem ser melhorados (em %; em Média ponderada (M): mínima frequência = 1.00 – máxima frequência = 5.00)2

1 2 3 4 5 Fraquí ssimo Insufi ciente Sufici ente Bom Muito Bom M.p

Valoriza os valores sociais 11,6 24,2 22,0 24,4 13,6 3.04

Valoriza os valores religiosos 23,7 19,2 23,6 18,5 10,1 2.71

Valoriza os valores pessoais 2,9 5,6 27,4 31,5 28,4 3.80

Valorativos

Apresenta uma cultura da vida 8,2 7,0 27,7 31,5 23,8 3.57

Ajuda na harmonização da personalidade 2,1 4,6 21,8 30,2 38,0 4.00

Esclarece a vida sexual dos alunos 4,5 16,1 12,9 24,8 39.1 3.80

Orienta o aluno para vida profissional 3,7 16,8 18,2 29,9 28,8 3.65

Vivência pessoal

Vê a importância de outras disciplinas 6,4 7,3 24,7 35,5 20,6 3.60

Ajuda a conhecer-se e conhecer outros 2,6 5,0 26,2 34,6 28,5 3.84

Ajuda o aluno na sua integração social 3,3 7,5 31,7 33,1 22,1 3.65

Ajuda o aluno a ter responsabilidade 1,5 7,1 21,7 29,9 37,0 3.98

Vivência ético-social

É aberta à vida moral-religiosa dos alunos 12,7 15,8 20,6 25,5 22,5 3.30

Os três aspectos caracterizam um conjunto de dados que reflectem todo o processo educativo, e que emergem como pontos essenciais para permitir uma reflexão sobre a sociabi-lidade do próprio educando ao longo do seu percurso evolutivo. O apoio educativo que o alu-no recebe na escola e através dos seus professores tem como meta capacitá-lo para se relacio-nar, de forma livre e responsável, consigo mesmo, com os outros, com a sociedade, com o seu meio ambiente, com a história e com Deus3. Para isso, é necessário que a escola esteja apetre-chada e em condições de acompanhar os seus alunos nessa interacção e proporcionar-lhes recursos necessários (meios, estratégias, métodos) para que possam atingir os objectivos pre-conizados no seu programa de formação social.

2

Média ponderada: os valores da M. em escala: 1- Fraquíssimo; 2- Insuficiente; 3- Suficiente; 4- Bom; 5- Muito Bom

3 C.N

ANNI, L’attenzione educativa nella scuola, in M.DELPIANO (Ed.), Educazione e scuola. Quale scuola per

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Partindo dos resultados da pesquisa empírica, exporemos alguns elementos, através dos quais, a escola deve orientar os seus alunos para a integração social, sobretudo no que tange à importância do tempo livre e à convivência do grupo de pares. A formação social dos alunos implica ainda conhecer a evolução da própria cultura como meio indispensável para promover a intervenção dos estudantes na vida social, mediante acções culturais. A escola, pela sua própria natureza, é o espaço social para a implementação e orientação dos alunos no sentido de serem verdadeiros e autênticos cidadãos numa sociedade democrática e pluralista.

1.1 A orientação dos alunos para a integração social

A integração social dos estudantes adolescentes deve ser vista como uma exigência natural do seu modo de ser na sociedade. Por isso, a escola é interpelada a criar espaço forma-tivo para que o aluno possa expressar essa sua necessidade de crescer, definir-se e projectar-se na sociedade que deve ser lugar da realização de si mesmo e dos seus projectos de vida pes-soal e profissional. Como já foi mencionada várias vezes, a adolescência é uma fase em que o indivíduo se distancia, psicologicamente, da sua família e vai à procura da própria auto-afirmação pondo em acto um conjunto de comportamentos pró e contra as normas estabeleci-das. Trata-se de tarefas evolutivas que induzem o adolescente à buscar a sua identidade pes-soal e social. É a partir dessa exigência natural que se deve implementar uma formação que o acompanhe na busca da sua integração social mediante a realização de actividades durante o seu tempo livre e a criação de grupo de pares como ponto de referência e confrontação. Segundo os resultados, apenas, 33,1% dos alunos deram uma pontuação de “bom” à ajuda que a escola secundária dá para a sua integração social.

Sabendo que a adolescência é uma etapa complexa e bastante difícil de contornar, a orientação dos alunos adolescentes para a sua integração social deve ter bem conta também a ajuda aos mesmos alunos na progressiva construção da própria liberdade pessoal, autonomia e responsabilidade para que saibam dar sentido à própria existência humana e espiritual na sociedade em que se encontram inseridos. Nesse processo de integração social é importante que os professores tenham em consideração algumas linhas estratégicas e operativas:

a) Antes de tudo, orientá-los na descoberta e na conquista da própria individualidade, a partir do seu desenvolvimento e da sua pertença à cultura social, com consciência crítica. É importante que os alunos saibam estabelecer uma relação com o seu mundo cultural de modo activo, aberto e participativo e que lhes possibilite uma integração sadia e responsável.

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b) Em segundo lugar, apoiá-los na construção de uma sociabilidade que não elimine a autonomia e liberdade individual, para que eles possam viver em profundidade uma relação de solidariedade que une as pessoas e que ultrapassa as fronteiras do espaço e temporal.

c) Finalmente, os alunos devem ser orientados a compreender que a sua integração social e cultural é um processo consciente que os leva a transcender a realidade material do tempo presente. É a partir dessa consciência transcendental que o indivíduo está em condições de se sentir livre no seu relacionamento com os outros e com a natureza, e livre das circuns-tâncias e situações humanas e temporais4.

A orientação para a integração social dos estudantes adolescentes implica que se valorize a vivência e a experiência dos adolescentes, sobretudo, no que concerne a utilização do seu tempo livre e a sua convivência com grupos de pares. São dois aspectos inerentes à vida adolescencial que merecem um devido acompanhamento, para que o indivíduo desen-volva, de forma equilibrada, a sua dimensão de sociabilidade.

1.1.1 O tempo livre como recurso educativo

A integração social de forma livre, autónoma e responsável do indivíduo é um pro-cesso que acontece paulatinamente. É importante que a escola e os professores aproveitem os interesses e os recursos normais da vida para implementar uma devida orientação dos alunos adolescentes para a vida social de forma participativa e integrativa. Entre as várias componen-tes, pensamos que o “tempo livre” é um dos recursos educativos que deve ser incluído nesse processo de orientação dos alunos para a sua integração social. Se esse recurso for bem orien-tado, certamente, contribuirá para proporcionar aos adolescentes momentos de grande utilida-de para o seu utilida-desenvolvimento pessoal e social. Segundo os resultados apontados pelos alunos cabo-verdianos, há algumas dificuldades na organização do tempo livre, sobretudo, no que toca à carência de amigos, de motivações e de meios (cf. Tab. 15).

Por isso, compete à escola secundária desenvolver uma visão positiva, educativa e preventiva através da disciplina da “Formação Moral, Profissional e Social” como instrumen-to indispensável para o desenvolvimeninstrumen-to de aptidões, interesses e aspirações dos alunos para a organização e o desempenho útil do seu tempo livre. Para que a integração social dos adoles-centes se realize através do tempo livre, é preciso reforçar a formação sobre o sentido e valor de amigos autênticos, coerentes e verdadeiros, sobre as motivações intrínsecas e não somente

4 M.P

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extrínsecas, e proporcionar-lhes meios e modalidades efectivos e diversificados que os incen-tivem nesse sentido.

Tab. 15: As carências que não permitem aos alunos realizar o tempo livre (em %)

Carências Total

Falta de amigos 36,7

Amigos (autênticos)

Dificuldade de encontrar amigos verdadeiros 57,2

Motivos pessoais 55,3

Motivações

Pouco tempo livre a disposição 51,2 Carência de meios-iniciativas para o tempo livre 47,4

Meios

Falta de informação sobre iniciativas existentes 35,5

Apesar dessas carências, constatamos que 78,6% dos alunos adolescentes admitem que o tempo livre é indispensável à sua vida. É a partir dos reais interesses dos alunos sobre a importância e o benefício do tempo livre que se deve investir na sua formação social como condição importante para a sua auto-realização. Orientar os alunos para o uso do tempo livre não significa impingir neles projectos elaborados pelas instituições ou organizações não governamentais, mas seguir as suas intenções correctas e colaborar com eles para melhorar outros interesses menos egoístas e mais solidários. A orientação para a integração social, atra-vés do tempo livre, pressupõe a compreensão de alguns pontos essenciais condizentes com a subjectividade dos estudantes. De facto, o tempo livre é considerado pelos alunos como momentos relevantes para agir e decidir, e pouco relevantes para sacrificá-lo e vivê-lo des-comprometidamente (cf. Tab. 16).

Tab. 16: A importância subjectiva do tempo livre (em %)

Importância Total Momento interessante na minha vida 62,1 Momento em que faço o que me apetece 52,2

Relevante

Momento em que decido algo que tem sentido 49,0 Sacrifico-o em nome dum compromisso importante 21,2 Envolvo-me, sacrificando meus deveres 12,6 Fazer algo insignificante com colegas 16,1

Pouco relevante

Não faço nenhum programa particular 13,3

A formação social dos alunos adolescentes não depende somente dos conteúdos teó-ricos planificados conforme o programa, é preciso que tais conteúdos prevejam os aspectos

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práticos. Porque o desenvolvimento da sociabilidade depende da forma como o indivíduo interage com os outros durante as actividades, sobretudo, nos momentos do tempo livre. Sabe-se que o tempo livre é, também, um espaço no qual o individuo Sabe-se socializa aprendendo um conjunto de regras e exercitando as suas habilidades, atitudes e virtudes morais e espirituais. Antes, é através da utilização do tempo livre que o aluno adolescente manifesta o seu interes-se de integração social e interes-se interes-sente reconhecido pelas suas actividades e intervenções no grupo e na sociedade em geral. Na verdade, trata-se de uma área em que o indivíduo exprime com mais desenvoltura os seus interesses pessoais e manifesta as suas exigências de auto-realização e de expressão como ser social e cultural5.

A escola deve demonstrar aos seus alunos que o tempo livre é um recurso que está à sua disposição, e que lhes permite manifestar à sociedade e ao mundo as suas competências e habilidades humanas, sociais e culturais. Por isso, é bom que a escola conheça as aptidões e as habilidades pessoais dos alunos nos vários domínios, para que a utilização do tempo livre seja realmente um momento educativo e formativo e não um tempo vazio. Partindo dos resultados, evidenciamos alguns aspectos que devem ser tomados em considerações para um melhor incentivo dos alunos na sua integração social e com vista a uma orientação profissional. Segundo os alunos, as suas actividades durante o tempo livre enquadram-se em três grupos: diversão, convívio afectivo (com familiares e amigos) sócio-cultural (cf. Tab. 17).

Tab. 17: As modalidades da utilização do tempo livre (%)

Modalidades Total Frequento discoteca 17,0 Frequento praia de mar 50,0

Diversão

Faço desporto 59,3

Saio de casa com os meus pais 40,1 Saio com os meus amigos 75,5

Convívio afectivo

Saio com o(a) namorado (a) 26,6 Faço leitura na biblioteca 33,9 Frequento centro juvenil 13,7

Sócio-cultural

Faço actividade de voluntariado 11,2

Partindo dos dados que caracterizam as actividades, cabe à escola orientar os alunos para fazerem das próprias actividades ocasiões de maior integração social com profundo

5 F.G

ARELLI, Divertimento degli adolescenti, in N.GALLI (Ed.), Vogliamo educare i nostri figli, Milano, Vita e Pensiero, 1991, pp. 488-494, p. 489.

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tido de liberdade e de responsabilidade, aproveitando algumas modalidades (desporto, namo-ro, leitura, voluntariado) para perspectivar a sua futura inserção social através de uma profis-são e de um projecto de vida. É neste sentido que achamos que o tempo livre é, de facto, um recurso educativo, formativo e preventivo para o crescimento pessoal e social dos alunos ado-lescentes.

1.1.2 A convivência social no grupo de pares

A busca de consciência social dos adolescentes é um processo que se inicia a partir do ambiente familiar e escolar, e que se alarga progressivamente, constituindo grupos de ami-gos, de lazer e de joami-gos, com regras e modelos de convivência. Nesta fase de crescimento o indivíduo passa duma relação restrita a uma relação mais ampla que se configura sempre mais no grupo de pares, os quais lhes permitem construir uma consciência social de si mesmos em termos de «nós» como princípio de um comum «pensar», «sentir» e «agir»6. Embora o grupo constitua um espaço de socialização, cuja assimilação e interiorização de modelos comporta-mentais e de normas nem sempre são partilhados, emerge a necessidade de implementar acti-vidades pedagógicas e educativas no seio dos alunos para que a convivência social aconteça de forma equilibrada e pacífica.

A apresentação de algumas orientações à volta do “grupo de pares” entre os adoles-centes é relevante para a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social”, na medida em que ajuda os alunos a terem uma consciência positiva do “estar juntos” como núcleo para o crescimento pessoal e para uma sociedade coesa, estruturada e dinâmica e, ainda, contribua para melhorar os seus comportamentos pessoais e sociais. É importante que os alunos se con-vençam de que a criação de grupos de coetâneos é uma forma ajuda a expressar e a desenvol-ver o próprio ser social (sociabilidade) como expressão de uma autonomia racionalizada e afirmação da própria identidade. De facto, a interacção com os coetâneos e a relação com os grupos de pares é uma iniciação à vida social, um ingresso nas funções de vida adulta, uma busca de identidade pessoal e social. Segundo F. Garelli, a iniciação social dos adolescentes no grupo dos coetâneos possui as seguintes características:

– Começa entre os sujeitos que comungam as mesmas condições, problemas e exigências; – Essa iniciação acontece sem que os autores sociais lhe atribuam uma finalidade programá-tica;

6 Cf. F.G

ARELLI et ali., La socializzazione flessibile. Identità e trasmissiona dei valori tra i giovani, Bologna, Il Mulino, 2006, p. 289.

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– Sucede no momento em que os sujeitos estão mais preocupados em viver e em procurar uma resposta às próprias exigências de interacção e de identificação, do que em reconhecer-se num processo de amadurecimento ou de assimilação dos papéis dos adultos;

– Essa iniciação verifica-se ainda num contexto menos constrangedor e de maior autodeter-minação em relação a quanto acontece nos espaços institucionais: família, escola, experiência laboral etc. 7.

Estes pontos são fundamentais para compreender o tipo de interacção entre os grupos de pares. É de salientar que a formação dos alunos para a convivência entre os grupos de pares deve ser de natureza pragmática. Por isso, pressupõe o conhecimento do tipo de activi-dades e objectos de conversação entre os adolescentes no grupo, para poder implementar uma formação social dos adolescentes com coerência e que espelhe os seus interesses e as suas motivações e aspirações pessoais e sociais. Os resultados demonstram claramente o tipo das actividades e conversações praticadas entre os amigos e no grupo. No que se refere à prática de actividades, a formação social dos alunos deve encarar, sobretudo, a dimensão do desporto e as manifestações culturais; as intervenções nas áreas sociais; a diversão e o entretenimento através dos mass media (cf. Tab. 18).

Tab. 18: As actividades praticadas entre os amigos ou grupos de pares (em %)

Prática das actividades Total Jogar futebol, outras modalidades desportivas 83,0

Desporto e culturais Participar em actividades culturais 61,3

Participar em actividades sociais 57,0

Sociais Fazer actividades de voluntariado 32,6

Escutar músicas e ver televisão ou videogame 81,8

Ir à discoteca 44,1

Ir ao cinema 35,7

Diversão Entretenimento

Encontrar num lugar sem actividade específica 49,4

No que se refere aos objectos de conversação, é importante que se insista na forma-ção social nos grupos de pares, sobretudo, no que tange à dimensão sócio-cultural e política; a vivência escolar, laboral e religiosa; problemas afectivos e fenómenos sócias (cf. Tab 19). São elementos que revelam os interesses dos alunos adolescentes e que exigem dos professores

7 F. G

ARELLI, L’adolescente e i coetanei, in N.GALLI (Ed.), Vogliamo educare i nostri figli, Milano, Vita e Pensiero, 1991, pp. 480-487, p. 484.

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muita disponibilidade e atenção para ajudá-los a assimilar os aspectos positivos que contri-buem para o seu desenvolvimento social.

Tab. 19: Os argumentos da conversa entre os amigos ou grupo de pares (em % - em M: média ponderada: máxima frequência = 1.00 e mínima = 3.00)

1 2 3

Conversação Muito Pouco Nada M.p

Sobre o desporto, a música e moda 65,2 27,9 4,5 1.38

Sócio-cultural e política

Sobre factos de política e sociedade 11,5 49,1 33,3 2.23 Problemas pessoais de amor e sexo 52,0 28,0 16,3 1.63

Problemas

afectivos e sociais Problemas de droga e álcool 33,2 24,2 31,9 1.99 Problemas de escola e trabalho 48,7 35,1 11,1 1.60

Escola-Trabalho-Religião

Problemas e experiências religiosas 17,7 40,6 32,4 2.16

É partir dos objectos reais que espelham os sentimentos, as aspirações, os interesses e as motivações que é possível melhorar os comportamentos dos adolescentes, e apoia-los nos grupos de pares para que a sua dimensão social se realize de forma equilibrada, pacífica e com sentido de civismo e espírito de tolerância e abertura às novas formas de vivência cultural na sociedade pluralista e democrática. É bom que alunos adolescentes aprendam, através da dis-ciplina de “Formação Moral, Profissional e Social”, a dinâmica do saber estar no grupo de modo criativo e organizado segundo algumas finalidades bem determinadas. Embora o grupo juvenil seja, muitas vezes, informal, sem programação e muitas actividades sejam improvisa-das, a escola pode apostar seriamente na valorização dos grupos juvenis sem ingerências directas, criando nos alunos uma consciência sobre o valor do grupo para o crescimento pes-soal e social.

1.2 A promoção de acções culturais entre os estudantes

Para a formação social dos alunos do Ensino Secundário é de capital importância a promoção de acções culturais em vista de uma maior consciencialização sobre a identidade cultural do povo cabo-verdiano e a valorização de outras culturas diferentes. A formação cul-tural do aluno adolescente não deve limitar-se simplesmente à aprendizagem de um conjunto de noções sobre as teorias da cultura nem se deve induzi-lo a repetir um quadro predefinido de acções culturais. O aluno deve ser orientado a compreender que os modelos e as regras culturais assimilados contribuem para a elaboração de conhecimentos, artes, crenças, normas

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morais e de todos os comportamentos que facilitem a sua integração e inserção social na comunidade ou na sociedade em geral. É nesta perspectiva dinâmica que a escola não só ensi-na a cultura cabo-verdiaensi-na e a cultura em geral, mas torensi-na-se espaço de promoção de acções concretas, valorizando a sua especificidade como expressão e manifestação da própria vivên-cia e identidade cultural.

Nas suas funções específicas de instrução, a escola é, por sua natureza, vocacionada a promover determinadas acções culturais, quer através da leccionação das disciplinas que fazem parte do seu plano curricular quer através de um conjunto de estruturas materiais e pes-soais. Podemos realçar alguns pontos essenciais para ajudar os alunos a compreenderem as razões pelas quais consideramos que a escola é um espaço de promoção cultural:

– Antes de tudo, a transmissão de saberes por parte da escola leva os alunos a com-preenderem, em profundidade, a riqueza da racionalidade que está presente em cada homem, como factor indispensável para descodificar e codificar a realidade e as circunstâncias históri-cas de cada época.

– A escola é capaz de estimular os alunos a assimilar atitudes e comportamentos em vista de uma contínua pesquisa e descoberta de novos conhecimentos teóricos, técnicos e prá-ticos. Isso demonstra que a escola ensina que a cultura deve ser entendida como algo dinâmi-co que se dinâmi-constrói no dia a dia e que permite que o indivíduo tenha a dinâmi-consciência da evolução da cultura como expressão de um mundo inacabado e indeterminado. A assimilação dessa visão dinâmica da cultura permitirá ao aluno compreender os valores culturais não a partir da própria medida, mas com o uso da “razão universal” que vai para além de uma simples sub-jectividade.

– A escola, enquanto entidade promotora de acções culturais não se limita apenas a transmitir aos alunos a própria visão do mundo, as características culturais específicas do gru-po de pertença, a crença nos seus valores predefinidos num esquema ideológico, consideran-do-as e legitimanconsideran-do-as como melhores que existem, mas deve levar os seus alunos a interagi-rem com outras culturas para melhor expandir, esclarecer e valorizar a cultura como um bem em si e que serve de ponte para o diálogo solidário na paz e justiça8.

A promoção de acções culturais – música, jogo, tradições folclóricas, artesanatos, obras literárias e históricas, habitação, alimentação – entre os estudantes do Ensino Secundá-rio não significa fazer-lhes reviver um passado nostálgico e sentimental, mas consciencializá-los do próprio passado, o qual, constitui o alicerce ou a raiz do seu ser cabo-verdiano, e que

8 Cf. P. B

ERTOLINI, La responsabilità educativa. Studi di pedagogia sociale, Torino, Il Segnalibro, 1996, pp. 138-140.

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leva a viver o presente com determinação e a encarar o próprio futuro com dedicação, dispo-sição e profissionalismo para o bem pessoal da sociedade e do país em geral. É com esta consciência e vontade educativa que a escola pode ser considerada como espaço para a pre-servação e consolidação da identidade cultural do homem cabo-verdiano. A escola deve cola-borar na cultivação, preservação e defesa da cultura cabo-verdiana, como foi bem realçada pelo A. Cabral, o qual, dizia que é um dever de todos os cidadãos «defender e desenvolver as manifestações de cultura do nosso povo, respeitar e fazer respeitar os usos, costumes e tradi-ções da nossa terra»9.

Portanto, a escola secundária deve sentir-se interpelada a elaborar e planificar tarefas educativas, para que possa responder às exigências e as expectativas dos alunos do ponto de vista cultural. A média atribuída pelos alunos (M.2.94) à preocupação para com a sua “forma-ção cultural” está próxima do “Suficiente” (Cap. IX, Tab. 29a). Isso leva a concluir que é pre-ciso mais esforço para que todo o arco do ensino-aprendizagem possa alargar o campo de experiência cultural dos alunos. É que a cultura é um sistema aberto, unitário e dinâmico quer no seu aspecto material quer no seu aspecto espiritual e intelectual, e deve desenvolver-se progressivamente com as pessoas. É importante que o aluno aprenda que a cultura é algo de intrínseco, que faz parte da sua dimensão humana, enquanto ser cultural (produto e produtor da cultura).

Sempre nesta linha de orientação, cabe à escola promover acções que facilitem a assimilação de atitudes comportamentais em relação aos valores culturais. De facto, podemos verificar alguns aspectos em que os resultados estatísticos indicam que a forma como as esco-las secundárias respondem às exigências dos alunos é considerada pouco “mais do que Sufi-ciente” (cf. Cap. IX, Tab. 30a) sobretudo no que se refere a:

– Respeito pela diversidade cultural e religiosa (M.3.12): isso é fundamental para que os alunos possam ter uma atitude tolerante perante uma sociedade que está em fase de democratização e que acolhe outros povos cultural e religiosamente diferentes a do povo cabo-verdiano.

– Capacidade de socializar e de comunicar (M.3.45): trata-se de uma atitude indis-pensável que torna um indivíduo receptivo e flexível quer na comunicação da sua própria cul-tura quer na compreensão da culcul-tura dos outros. A arte de comunicar é, por si mesma, uma atitude criadora de cultura pessoal e social.

9 Foi citado por J. L

OPES-FILHO, Introdução à cultura cabo-verdiana, Praia, Instituto Superior de Educação, 2003, p. 311.

(14)

– Formação ao empenhamento social (M.3.17): isso demonstra a necessidade de um maior engajamento na vida social, mediante realização de acções culturais, em vista de um maior desenvolvimento da sociedade do ponto de vista cultural, económico e profissional.

– Aumentar a cultura da paz, justiça e solidariedade (M.3.52) é uma exigência mais sentida e solicitada no tempo actual, fortemente marcado pela guerra, injustiça social, egoísmo e individualismo. É urgente que se incrementem gestos e obras concretas no seio da escola para que os alunos compreendam que os ideais e os valores civícos não são utópicos, mas condições reais de boa convivência na sociedade.

Se a satisfação destas exigências chegar ao nível de “Bom”, isso poderia ser um pas-so qualitativo no seio da escola secundária. Trata-se de elementos essenciais que despertam nos alunos interesses e motivações para um desempenho efectivo das suas capacidades e habi-lidades humanas. De facto, a promoção de acções culturais não mira um simples “fazer coi-sas” para retratar a vivência de um povo, mas contempla também a criação no aluno de dispo-sições necessárias e a oferta de condições (teóricas, práticas) e meios técnicos para que possa realizar acções que reflictam o seu modo de ser homem cabo-verdiano na sociedade em que está inserido. É importante que o aluno perceba que pode aprender de novo através das suas acções culturais. Tudo o que se faz e se produz não deve fechar o sujeito no seu mundo, mas abri-lo à dimensão cultural mais heterogénea e comunicativa com as formas culturais dos outros e com sensibilidades ideológicas e religiosas diferentes.

A promoção de acções culturais na escola secundária não significa inventar algo de novo para ensinar os alunos adolescentes, mas recolher tudo aquilo que faz parte do repertório da cultura juvenil para o valorizar de modo formativo e educativo, ajudando os alunos a serem críticos e activos em relação a tudo aquilo que se apresenta como objecto cultural: linguagem, vestuário, música; adopção de modelos comportamentais, hábitos, ideias, valores como busca da própria identidade. Portanto, cabe à escola orientar os alunos numa visão mais abrangente e menos conformista de que a cultura vai mais além da sua simples objectivação e consumo momentâneo e relativo de gosto pessoal e colectivo.

1.3 Como ser cidadão na sociedade democrática e pluralista

Para o aluno adolescente que está em busca da consciência social e política, é indis-pensável a sua formação no significado do ser cidadão numa sociedade democrática e plura-lista. Portanto, cabe à escola promover e incentivar as modalidades de forma pedagógica e educativa para que o aluno se consciencialize dos valores que devem ser interiorizados como

(15)

condições oportunas para o seu desenvolvimento social e que lhe permita uma sã e cívica convivência, no respeito pelas regras democráticas. Além das outras instituições sociais e educativas, cabe à escola cultivar a consciência da “cidadania” dos seus alunos, sobretudo numa sociedade em constante transformação nas vertentes económicas, ideológicas, culturais e religiosas. Certo é que perante uma sociedade pluralista e democrática e, às vezes, liberal, é difícil estabelecer um modelo homogéneo e uniforme para a educação dos indivíduos. Daí a necessidade de fazer convergir a diversidade e a heterogeneidade dos diversos modelos para que a educação seja realmente interactiva e capaz de proporcionar a todos os alunos a com-preensão da nova realidade social, cultural, política e religiosa que está surgindo no território nacional.

Apesar de muitos elementos que podem entrar em jogo para demonstrar a forma e como ajudar os alunos a serem cidadãos na sociedade democrática e pluralista, preferimos realçar alguns aspectos que poderão ser vistos como propostas para a formação moral, profis-sional e social nas escolas secundárias de Cabo Verde. Trata-se de educação cívica e demo-crática, formação socio-política e orientação dos alunos no sentido de saberem lidar com o pluralismo cultural. Estes elementos são indicativos para um melhor desenvolvimento peda-gógico e didáctico no seu devido tempo, lugar e circunstância.

1.3.1 A educação cívica e democrática

A formação social dos estudantes do Ensino Secundário acontece nas diversas insti-tuições sociais e religiosas (família, escola, igreja, mass media etc.) e todas contribuem para a sua educação cívica e democrática. Embora a escola tenha a sua especificidade, encontra-se num ponto crucial que exige dela todo o esforço necessário para a educação cívica e democrá-tica dos seus alunos. No que se refere às escolas secundárias, verificamos que há uma variável pouco relevante na forma como a planificação didáctica responde à exigência dos alunos (8,8%), sobretudo no que diz respeito à formação da consciência cívica (cf. Cap. IX, Tab. 31). Essa lacuna pode estar ligada à falta do debate cultural, de opções racionais e conscientes que reflictam as relações entre o ensino escolar e a formação da cidadania no País10. Nota-se, também, que no seio da população cabo-verdiana há uma fraca ligação entre a escola e a sociedade civil. São situações que não contribuem para uma consciência cívica dos estudantes por mais que se quer falar deste valor social.

10 Cf. H.G

ARDNER, Sapere per comprendere. Discipline di studio e disciplina della mente, Milano, Feltrinelli, 1999.

(16)

Além dos conteúdos programáticos previstos, a escola tem a possibilidade de incen-tivar nos alunos a consciência da importância de uma nova mentalidade sobre a “sociedade civil”, que os leve a ter uma postura activa e participativa. Na posição de P. Donati, a socie-dade civil significa um conjunto de relações sociais que não dependem da política e do dinhei-ro para subsistir, mas das exigências que residem no relacionamento social e respondem às demandas éticas das mesmas relações, mas fora do âmbito do privado. Noutras palavras, a sociedade civil seria aquilo que não é o Estado nem o comércio, mas que obedece apenas à necessidade de relacionamento11. A complexidade da nova conjuntura social e a total depen-dência do Estado para a satisfação das necessidades básicas, se, por um lado, obrigam o indi-víduo a ter uma visão fragmentária da sociedade e, por outro lado, a abandonar-se às situações e circunstâncias do tempo, por outro revelam a necessidade de uma educação e formação da nova geração para seja empreendedora no campo social. E visto que o país precisa de recursos humanos como fonte de riqueza, a nova geração deverá compreender que a cultivação da coe-são social, do associativismo e do voluntariado coe-são elementos indispensáveis para o desen-volvimento da própria civilização e para a consolidação da democracia.

A educação cívica e democrática dos alunos do Ensino Secundário não consiste, simplesmente, em apontar aquilo que devem fazer pessoalmente ou em grupos de classes, mas em ajudá-los a compreenderem as reais potencialidades presentes no país como factores indispensáveis para o seu desenvolvimento pessoal e social. É fundamental que os alunos aprendam a potenciar a sociedade civil, enquanto rede de conexões que abrange famílias, igre-jas, associações e demais movimentos sociais presentes no país. A convicção de que as insti-tuições sociais e religiosas, não dependentes do Estado, funcionam para a implementação da consciência cívica, é um aspecto interessante que ajuda os alunos a compreenderem que o próprio Estado de direito democrático não pode excluir do seu todo as partes essenciais para a sua sobrevivência.

O progresso e o desenvolvimento humano e social dependem do encontro, intercâm-bio e da reciprocidade entre as pessoas e as instituições. Neste sentido, a democracia como dizia J. Dewey, representa «uma livre interacção entre grupos sociais», «um tipo de vida asso-ciada, de experiência continuamente comunicada»12. Para que os alunos possam assimilar as atitudes democráticas sem sobressaltos, cabe à escola, através da formação social, demons-trar-lhes quais são os seus direitos e deveres numa sociedade democrática e pluralista, os aspectos positivos dos grupos sociais e religiosos que devem ser privilegiados para a consoli-dação de um país democrático e os aspectos pessoais a serem melhorados na liberdade e com

11 Cf. P.D

ONATI, Teoria relazionale della società, Milano, Franco Angeli, 1991, p. 18. 12 J.D

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responsabilidade para uma melhor compreensão e aceitação dos outros com as suas sensibili-dades diferentes.

A escola, enquanto casa comum para a formação dos cidadãos, é um espaço privile-giado para aprender as noções básicas da democracia. Com base daquilo que já foi exposto anteriormente, ela deve desempenhar um papel fundamental na formação da consciência democrática dos seus alunos com ética e civismo. Apesar da imagem política pouca positiva que os autores políticos deixam entrever nas atitudes comportamentais (briga, injustiça, frau-de, corrupção, desigualdade) é papel da escola implementar uma sã consciência cívica orien-tada a defender e promover a democracia e, por conseguinte, contribui para o desenvolvimen-to da paz e da justiça social13. A educação cívica e democrática deve zelar pela formação dos alunos enquanto pessoa humana dotada de direitos e deveres para a sua auto-realização e para o progresso social, cultural e moral da própria sociedade.

1.3.2 A formação socio-política dos alunos

Sempre nesta linha de formação social dos alunos a escola deve interessar-se, tam-bém, pela sua formação socio-política como condição básica para o desempenho dos seus direitos e deveres cívicos. Falando de comportamentos apreciáveis pelos estudantes do Ensino Secundário, fazemos notar que somente 31,1% se interessam pela política (cf. Cap. IX, Tab. 39a). De facto, a forma como se faz política no país, fortemente, fragilizado pela falta de recursos naturais, não suscita muito interesse no seio juvenil. Daí a necessidade de uma for-mação da consciência sobre os aspectos valorativos da política como factor do desenvolvi-mento humano e social.

A formação socio-política dos alunos, requer que se incuta neles a importância da arte da boa governação das coisas públicas e das instituições, mediante um espírito democrá-tico e de plena confrontação. Para que o aluno comece a ter consciência da importância da política, é preciso que a escola secundária promova debates entre os alunos sobre as questões sociais. Assim, os alunos se habituam à confrontação e à diversidade de opiniões e aprendem a controlar os seus sentimentos e as suas emoções mediante o uso da razão, começando a for-mar uma mentalidade democrática e participativa. A criação dessa mentalidade acontece de forma progressiva na medida em que o adolescente interioriza o valor da família, da escola e do grupo juvenil como comunidade educativa que precisa do seu contributo para o

13 G.D

EIANA, La risposta della Scuola, in A.CAVALLI –G.DEIANA, Educare alla cittadinanza democratica.

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vimento das suas funções. É a partir dessa consciência que o adolescente acabará por inserir-se, progressivamente, participando activamente na vida social e realizando algumas tarefas públicas em benefício dos outros, o que lhe permitirá ter uma visão da realidade social mediante a observação, juízo e acção.

Uma formação nesta linha de orientação socio-política não é descabida, porque o estudante adolescente está na posse de duas habilidades fundamentais para compreender quaisquer eventos de natureza sociais e pessoais. A primeira é capacidade de introspecção que o leva examinar os seus estados internos e a aprender a conhecer-se, tomando consciência da sua riqueza e das suas limitações, como também suas qualidades pessoais. Em segundo lugar, a capacidade de autoavaliação, através da qual consegue a fazer uma ideia aproximati-va das próprias disponibilidades mentais e pessoais, daquilo que sabe e pode fazer, e dos talentos que lhe permitem pensar e elaborar projectos14. São condições básicas que ajudam a compreender os pontos essenciais que descrevem o desenrolar político no seu país: ideologia de cada partido político, formas de governação (democrática, totalitária), eleições, sufrágio universal, referendo popular.

Uma escola que se ocupa de modo criativo e dinâmico da formação socio-política, através da disciplina “Formação Moral, Profissional e Social”, está a contribuir para que haja nos seus alunos um verdadeiro sentido da democracia social baseada na justiça, igualdade, solidariedade, tolerância, paz, progresso humano, moral e espiritual dos cidadãos. Neste sen-tido a formação deve os alunos a vencerem a si mesmos, a instaurar relações mais justas com os outros para viver numa sociedade digna, na qual, cada ser humano deve ser respeitado em si mesmo15. É nesta perspectiva que a escola deve colaborar para tornar os estudantes adoles-centes protagonistas e participantes na sua sociedade e no mundo, a fim de aprenderem a ter uma visão real, crítica e moral de tudo o que se passa, e poderem fazer escolhas no futuro com a convicção de bem servir a Pátria e a humanidade. Para isso, é preciso que a escola tenha presente que a formação socio-política deve ter em conta alguns objectivos essenciais:

– ajudar os alunos a descobrirem o ideal de homem e da sociedade que implica opções e decisões para o bem pessoal e de todos.

– ajudar os alunos a se exprimirem num clima de liberdade e de escuta recíproca. – orientar os alunos a compreenderem que a democracia é um bem que deve ser defendida e preservada.

14 N. G

ALLI, L’educazione socio-politica, in N. GALLI (Ed.) Vogliamo educare i nostri figli, Milano, Vita Pensiero, 1991, pp. 542-552, p. 543.

15 A.V

(19)

– Levar os alunos a assimilar alguns princípios básicos que servem para norteá-los na sua vida como cidadãos livres e responsáveis. Para isso, é preciso que a escola considere alguns aspectos essenciais:

a) Primazia da pessoa: a pessoa humana deve ser considerada como fim, em si mesma, e de todas as acções políticas e sociais, e não como meio para ser utilizado;

b) Prevalência da moral sobre a política: o aluno adolescente deve compreender que a ética está acima da política, para que se evite um Estado absoluto e o relativismo do ser humano;

c) A exigência do bem comum: ajudar o aluno a compreender que a política tem como finali-dade melhorar a qualifinali-dade de vida das pessoas, favorecer condições e oportunifinali-dades a todos e estimu-lar o desenvolvimento da sociedade;

d) O aspecto político da justiça: no sentido de que a justiça favorece igualdade, amizade, paz entre os homens no país e entre os Estados, e a preservação dos direitos de cada um e de todos16.

Trata-se de objectivos que devem, num certo modo, orientar os alunos para a cons-ciencialização de que a sua participação na vida social é uma forma de exercer a sua cidadania e contribuir para o desenvolvimento cultural, politico, económico e espiritual do próprio país. Apesar de muitos outros pontos que poderiam ser realçados, preferimos passar para um outro aspecto importante na formação social dos alunos adolescentes cabo-verdianos, isto é, a forma de os orientar para a convivência com o pluralismo cultural que é, também, uma forma de viver a democracia do ponto de vista socio-político.

1.3.3 Orientar os alunos para o pluralismo cultural

Conforme os resultados estatísticos, a média dos alunos (M.3.12) que fizeram uma avaliação da formação escolar no que tange ao respeito pela diversidade cultural e religiosa é um pouco mais do que “Suficiente”. Embora essa apreciação não seja muita elevada, isso revela uma determinada preocupação com o avanço sócio-cultural do país. Cabe a escola secundária, para além de outras instituições, o papel de orientar os alunos para o pluralismo cultural que se avizinha, actualmente, no país. O novo evento sócio-cultural não só abre as portas para um mundo globalizado, como também, vai exigir uma profunda transformação das atitudes comportamentais e uma nova concepção de educação para a cidadania, fazendo com

16 Cf. N.G

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que todos saibam lidar com as novas expressões culturais de pessoas provenientes do Conti-nente africano, da Europa e da Ásia.

O povo cabo-verdiano é, culturalmente, aberto e receptivo no sentido de que a sua origem remonta à unificação de dois grandes factores culturais (africano e europeu). Apesar dessa qualidade intrínseca, muitos deixam transparecer, do ponto de vista psicológico, duas atitudes opostas: o conformismo em relação à cultura dos outros (Estados Unidos da América, Brasil, Europa) e tendência a assimilar determinados hábitos (vestuário, dança, música, lin-guagem, gestos etc.) de modo acrítico e passivo; o ridicularismo, ou seja, atitude de “despre-zo” em relação àquilo que talvez esteja mais próximo da sua cultura original (África). Trata-se de atitudes delicadas que exigem muita pedagogia e “formação libertadora”, especialmente, dos professores demasiadamente ocidentalizados. Daí emerge a necessidade de encontrar um modelo justo e equilibrado que permita uma interacção com as culturas diferentes sem que os alunos se sintam absorvidos ou retraídos.

Nesta perspectiva, é preciso que a educação inter-cultural realce alguns aspectos que consideramos importantes para a orientação dos alunos. Antes de tudo, orientar os alunos a fazerem uma devida confrontação: observar criticamente onde está a igualdade e a diferença; distinguir aquilo que é universal daquilo que é relativo. Essa confrontação do ponto de vista socio-político permite a conciliação entre a coesão social e identidade cultural17. É nesse sen-tido, que os alunos devem ser orientados para o pluralismo cultural sem perder a própria iden-tidade, sem minimizar a identidade cultural dos outros.

Orientar os alunos para o pluralismo cultural implica, antes de tudo, a demonstração de que o “diálogo entre as culturas” é uma componente fundamental que não permite que o indivíduo ou grupo caia em posições absolutistas. Se por um lado, a posição universalista ten-de a nivelar as diversidaten-des culturais, reconhecendo uma matriz comum, por outro lado, a posição relativista pretende realçar a necessidade de que cada cultura desenvolve a sua visão particular do mundo. Assim, cada posição torna-se irredutível uma à outra. Não obstante essa ambivalência, é possível, segundo S. Brint, encarar uma educação inter-cultural na escola tendo em consideração o aspecto de multiculturalismo nas suas diversas modalidades: que promove a expansão cultural no currículo de estudo sem a pretensão de desvalorizar os clássi-cos pensamentos de pensamento ocidental; que pode inspirar ao relativismo considerando que o currículo ideal deveria ter presente no mesmo nível as obras e as histórias de povos

17 Cf. A.P

(21)

tes; que propõe a exclusiva valorização da cultura das minorias para debelar a opressão dos grupos subordinados18.

Além destas e outras referências, pensamos que na elaboração de um plano educativo que abrange o pluralismo cultural, a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” deveria contemplar as seguintes posições ou correntes de ideias de M. Pagé, contempladas pela M. Santerini:

– Corrente compensatória: acentua a desvantagem dos alunos que correm o risco, por causa da proveniência, de não assegurar o mesmo chance de sucesso escolar;

– Corrente de conhecimento das culturas: centralizada no desenvolvimento de relações har-moniosas entre os grupos;

– Corrente de heterocentrismo: transforma visão do mundo debruçada sobre a supremacia dos brancos ocidentais, corrigindo saberes e culturas, também, no currículo;

– Corrente isolacionista: valoriza as culturas das minorias presentes na escola através das actividades separadas;

– Corrente anti-racista: favorece a tomada de consciência da discriminação;

– Corrente da educação cívica: promove a educação dos direitos humanos e dos valores democráticos;

– Corrente de cooperação: deve ser promovida nas aulas e entre os grupos19.

Embora a escola secundária de Cabo Verde não seja marcada por uma presença de alunos provenientes dos outros países, há que ter presente que a sociedade cabo-verdiana con-ta com cerca de cinco mil (5000)20 estrangeiros residentes, e há um fluxo migratório de cabo-verdianos para os Estados Unidas da América e Europa (Portugal, Holanda, Itália e França), daí a necessidade de implementar a educação à convivência com os outros de culturas e de mentalidades diferentes. Como forma de viabilizar, do ponto de vista didáctico e operativo, a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” deverá contemplar no seu programa curricular essa nova forma de convivência inter-cultural. Para além de uma reflexão pedagó-gica (teórica) sobre as coordenadas inter-culturais, é importante que a escola promova um conjunto de acções concretas (palestra, música, culinária, artes, teatro etc.) envolvendo pre-senças de outros elementos provenientes de países diferentes, como forma de promover uma sã convivência e de apreciação recíproca das diversas expressões culturais.

18

S.BRINT, Scuola e società, Il Mulino, Bologna, 1999, pp. 125-126.

19 M.S

ANTERINI, Educare alla cittadinanza. La pedagogia e le sfide della globalizzazione, Roma Carocci, 2001, p. 122.

20 Cf. I

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2. A valorização das atitudes e habilidades dos alunos

A integração e a inserção social dos estudantes adolescentes são processos que dependem do seu equilíbrio interior ou da sua maturidade pessoal. A preparação do aluno para a vida activa pressupõe que ele esteja em condições de saber valorizar as suas atitudes e habi-lidades pessoais. Daí que a escola seja interpelada a exercer a sua função educativa que ultra-passa a simples instrução, enquanto desenvolvimento do plano curricular e assimilação dos seus conteúdos. Conforme os dados estatísticos, a prioridade didáctica atinge relativamente pouco os objectivos e as expectativas dos alunos. De facto, os resultados indicam que 28,3% dos alunos acham que a instrução escolar contribui para a madureza do seu carácter; 21,5% para a formação global da sua personalidade; e 18,8% para aquisição de habilidade à auto-formação (cf. Cap. IX, Tab. 31). São variáveis que realçam a necessidade de um maior incen-tivo na formação pessoal dos estudantes adolescentes como condição para poderem enfrentar os problemas reais da sociedade na qual se encontram inseridos. A formação pessoal contribui para o enriquecimento da sua consciência social e política como objectivo principal deste pla-no operativo e didáctico.

É a partir de um formação integral que o indivíduo poderá desenvolver as suas atitu-des e habilidaatitu-des, assim como, valorizá-las para a sua realização pessoal, profissional e social. Embora haja muitos aspectos que concorrem para a formação integral do indivíduo, preferi-mos realçar alguns que poderão contribuir para ajudá-lo na valorização das suas atitudes e habilidades, enquanto predisposições interiores da personalidade em relação às pessoas, aos grupos, às situações, aos objectos revestidos de afecto, de percepção-intelectual e finalizadas à acção. Antes de tudo, pensamos que o aluno deve ser formado a compreender a própria ima-gem, como condição indispensável que lhe facilita uma integração social de modo equilibrado e harmonioso. Em segundo lugar, pressupõe que seja orientado a exercer a sua capacidade de opção e decisão. Finalmente, que esteja em condições de autoavaliação. Como podemos cons-tatar, são elementos essenciais para a formação da consciência pessoal e social do indivíduo em fase de crescimento, que lhe permitirão valorizar, em todas as circunstâncias, as suas ati-tudes comportamentais e relacionais, e as suas habilidades no estudo e na inserção social, através da ocupação do seu tempo livre e desempenho laboral.

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2.1 Educar para a compreensão do conceito de si

A busca da consciência social e política é um empreendimento que exige do adoles-cente um esforço não indiferente na elaboração de uma imagem de si mesmo e da sua auto-compreensão de forma equilibrada sem cair no extremismo. Se o indivíduo conseguir encon-trar o seu justo equilíbrio será um bom resultado e ele contribuirá para um excelente relação interpessoal. O conceito de si é uma componente humana que faz parte de todo o processo evolutivo do indivíduo na medida em que se distancia dos objectos pessoais e materiais, fazendo desabrochar o seu “eu” – mundo interior. É a partir desse distanciamento que ele começa a conquistar a própria autonomia, identidade e, por conseguinte, a imagem de si mesmo como um ser dotado de racionalidade e de liberdade.

Sabe-se que é na fase da adolescência que o indivíduo sente a necessidade de eman-cipar-se dos laços familiares para poder expressar, decidir, optar e definir-se. Um modo carac-terístico para manifestar essa exigência consiste nas saídas nocturnas e diurnas (para estar e festejar com os amigos, ir ao cinema, à discoteca etc.). Os dados revelam que 74,3% dos estu-dantes adolescentes gostam de sair à noite, e não há uma diferença substancial entre as faixas etárias e géneros (cf. Cap. IX, Tab. 46). Trata-se de uma atitude que provoca um algum con-flito com os pais por diversas razões: idade, sexo, ambiente de risco, colegas desviantes, fenómenos de droga, álcool etc. Não obstante as razões objectivas e concretas que poderão estar na base da decisão dos pais que travam tais atitudes dos filhos, o problema que se põe não se refere tanto às circunstâncias, mas às condições reais dos adolescentes na busca da sua própria auto-afirmação como seres livres para decidir e agir conforme as suas intenções. Os dados dizem-nos ainda que na maioria dos casos, especialmente com a primeira e segunda fase da adolescência e com as meninas, os pais tentam negociar e estabelecer um horário apropriado para as saídas nocturnas. Embora o facto, em si, não apresente directamente algo condizente com a formação do conceito de si, o tipo de relacionamento que está em jogo demonstra que as relações educativas fundamentadas pelo critério de negociação contribuirão para que os adolescentes comecem a ter uma imagem correcta de si mesmos como seres que sabem dialogar, compreender a responsabilidade educativa, o valor da autoridade, e saber relacionar-se com os outros.

A disciplina da “Formação Moral, Profissional e Social” dos alunos na escola secun-dária deve fazer prevalecer o tipo de relacionamento familiar como princípio básico de todo o processo de relacionamento social. Minimizar o tipo de relacionamento familiar não é educa-tivo. É bom que os professores evitem implementar ideias liberais e permissivas que suscitam nos alunos sentimentos conflituais em relação ao modelo educativo dos pais. A formação

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pes-soal do indivíduo consiste em saber reconciliar os diversos modelos educativos de modo que os alunos aprendam a valorizar não somente as suas atitudes, mas também, as atitudes dos seus educadores. O importante na formação pessoal não é tanto o que o educador faz para o seu educando, mas o que é que o educador quer do seu educando. Então, o aluno é orientado a conhecer o “bem” que o seu educador quer para ele. O bem não é o que se dá ao aluno, mas o que se quer dele: bom, justo, digno, amável, sério, honesto, etc. Aí está toda a valência educa-tiva para que o aluno possa ter uma real imagem da sua pessoa, além de outros factores sociais e familiares.

A educação do aluno para a compreensão da imagem de si mesmo é, também, papel da escola secundária. Partindo do tipo de organização curricular e formativa, a escola sabe de antemão que os alunos adolescentes estão numa fase crucial da sua existência e que precisam de todo o apoio para a construção de um conceito correcto de si mesmo. Portanto, deve criar condições para que o adolescente possa compreender que a sua inserção na vida social, cultu-ral e afectiva é algo que lhe vai permitir fazer escolhas concretas e necessárias para o enrique-cimento da imagem de si em relação aos outros e ao mundo21. Portanto, o conceito de si mes-mo é visto comes-mo aquilo que uma pessoa pensa de si mesma e vem a ser comes-mo que o mapa que cada qual consulta para se compreender a si próprio. Isso engloba as seguintes características:

– aquilo que pensamos da nossa natureza: “o que sou”;

– aquilo que pensamos das nossas capacidades: “o que posso”; – aquilo que pensamos dos nossos direitos: “o que me é devido”; – aquilo que pensamos dos nossos deveres: “o que devo fazer”; – aquilo que pensamos dos nossos valores: “o que valho”;

– aquilo que pensamos dos nossos desejos e aspirações: “o que quero”22.

Na educação dos alunos para a compreensão do conceito de si mesmos há que ter em conta também a tomada de consciência das suas próprias qualidades, direitos, deveres e aspi-rações que coadunam todas as características que, acima foram apresentadas. A aquisição da imagem de si implica muita exercitação e aprendizagem como fruto de interacção entre os factores endógenos e factores exógenos. E é importante que o indivíduo que se encontr na fase da adolescência tenha a consciência de que:

21 Cf. A. P

ALMONARI, Identità, concetto di sé e compiti di sviluppo, in A. PALMONARI (Ed.), Psicologia

dell’adolescenza..., p. 77.

22 A.M.V

(25)

– a formação do conceito de si realiza-se num contexto comunicativo: “sou como sou porque aprendi com os meus pais, com os amigos, escutando e falando com eles”;

– a continuidade do conceito de si depende da estabilidade da rede social na qual está inseri-do: “mudei muitíssimo e mudarei ainda, mas para os meus pais e amigos sou sempre o mesmo”;

– a própria especificidade em relação aos outros é devida à combinação original de qualida-de: “ninguém tem os mesmos interesses, amigos, aspecto físico que eu tenho”23.

Para a compreensão do conceito de si, é necessário organizar todas essas característi-cas, de modo que o aluno tenha uma personalidade equilibrada e saiba relacionar-se com os outros, com as coisas e com o Transcendente, e agir com coerência e congruência segundo o seu modo de ser, perceber e pensar. De facto, o modo de ser coerente e congruente revela o tipo da imagem que o indivíduo tem de si mesmo.

Tab. 20: A avaliação sobre a medida em que a disciplina da Formação Pessoal e Social ajuda os alunos do ensino secundário

(em %; em Média ponderada (M): mínima frequência = 1.00 – máxima frequência = 5.00)24

1 2 3 4 5

Atitudes – habilidades Fraquí

ssimo Insufi ciente Sufici ente Bom Muito Bom MP

Valoriza os valores sociais 11,6 24,2 22,0 24,4 13,6 3.04

Valoriza os valores religiosos 23,7 19,2 23,6 18,5 10,1 2.71

Valorativa

Valoriza os valores pessoais 2,9 5,6 27,4 31,5 28,4 3.80

Ajuda na harmonização da personalidade 2,1 4,6 21,8 30,2 38,0 4.00

Esclarece a vida sexual dos alunos 4,5 16,1 12,9 24,8 39.1 3.80

Ajuda a conhecer-se e conhecer outros 2,6 5,0 26,2 34,6 28,5 3.84

Psico- Afectiva

É aberta à vida moral-religiosa dos alunos 12,7 15,8 20,6 25,5 22,5 3.30 Orienta o aluno para vida profissional 3,7 16,8 18,2 29,9 28,8 3.65 Ajuda o aluno na sua integração social 3,3 7,5 31,7 33,1 22,1 3.65 Vê a importância de outras disciplinas 6,4 7,3 24,7 35,5 20,6 3.60

Apresenta uma cultura da vida 8,2 7,0 27,7 31,5 23,8 3.57

Projectual

Ajuda o aluno a ter responsabilidade 1,5 7,1 21,7 29,9 37,0 3.98

Para que a compreensão do conceito de si seja efectiva e real, é preciso que a forma-ção pessoal e social enquadre no seu plano formativo e educativo algumas exigências

23 A.P

ALMONARI, Identità, concetto di sé e compiti di sviluppo..., p. 82.

24 Média ponderada: os valores da M. em escala: 1- Fraquíssimo; 2- Insuficiente; 3- Suficiente; 4- Bom; 5- Muito Bom

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mentais que vão permitir que os alunos de valorizem as próprias atitudes e habilidades. E para demonstrar que há necessidade de melhorar o aspecto pedagógico no ensino da “formação pessoal e social” nas escolas secundárias, apresentamos os resultados sobre a avaliação que os alunos fazem dessa disciplina, sobretudo, no que toca às suas exigências que reflectem as ati-tudes e habilidades (cf. Tab. 20).

É mais do que evidente que o conceito de si mesmo depende da maneira como o alu-no é educado para os valores condizentes com a sua vivência social, religiosa e suas relações pessoais, para a dimensão psico-afectiva que se refere à sua personalidade, vida sexual, conhecimento, vida moral e religiosa e, ainda, para a dimensão projectual que mira a forma-ção profissional, integraforma-ção social, cultura da vida, e sentido de responsabilidade. São condi-ções que contribuem para melhorar as atitudes comportamentais e as habilidades dos estudan-tes adolescenestudan-tes em vista da sua realização pessoal, profissional e social. Portanto, a educação dos alunos adolescentes para a compreensão do conceito de si significa ajudá-lo a ter um justo equilíbrio da sua auto-estima. É a partir dessa posição que o aluno adolescente deve ser orien-tado a fazer a própria autoavaliação.

2.2 Propiciar ao aluno a oportunidade de autoavaliação

A orientação do aluno na busca da consciência social e política pressupõe, além da compreensão do conceito de si, uma outra componente intimamente ligada ao desenvolvimen-to da sua personalidade, isdesenvolvimen-to é, a capacidade de audesenvolvimen-toavaliação das suas atitudes e habilidades. Embora alguns aspectos já tenham sido realçados no capítulo anterior, procuraremos demons-trar que a valorização de atitudes e habilidades depende muito do tipo de auto-estima, aliás, das considerações objectivas e subjectivas que o aluno adolescente é capaz de fazer da sua própria pessoa nas várias vertentes. Além da família e outras instituições, achamos que a escola não deve simplesmente apostar no critério de avaliação objectiva (formativa, sumativa, diagnóstica) dos alunos, baseando-se na sua capacidade, ou não, de assimilação dos conteúdos programáticos, mas deve propiciar condições para que o aluno possa efectuar com liberdade e espontaneidade a sua autoavaliação que será de grande utilidade para a sua vida futura. Não se trata de ver, apenas, a forma como assimilou os conteúdos, mas como se sente após ter assimi-lado ou não os conteúdos formativos e como avaliar todo o arco da sua existência.

Do ponto de vista operativo e didáctico, a disciplina de “Formação Moral, Profissio-nal e Social” deve apostar seriamente na orientação dos alunos para a sua autoavaliação que abrange vários sectores da sua vivência, e não somente os aspectos ligados às actividades

Referências

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