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Distribuição de renda no Brasil: uma análise entre 1995 e 2009 MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

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Vagner Carrara

Distribuição de renda no Brasil: uma análise entre 1995 e 2009

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

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Distribuição de renda no Brasil: uma análise entre 1995 e 2009

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

SÃO PAULO

2011

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_________________________________________

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Ao corpo docente e à coordenação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP que atuam com grande entusiasmo na formação dos seus alunos. Aos colegas do Mestrado que prestaram imensa dedicação para aprender e repassar os conhecimentos, e ajudaram na formulação do projeto de pesquisa. Aos professores Julio Manuel Pires e César Roberto Leite da Silva pelas valiosas contribuições feitas no Exame de Qualificação deste trabalho.

Um agradecimento especial ao professor Antonio Carlos de Moraes pela orientação e paciência ao ler, comentar e acompanhar cada etapa da dissertação. A orientação do professor foi importante não somente na execução deste trabalho, como também na formação do pensamento sobre a Economia Política que disseminou desde as aulas da graduação, e na perseverança sempre presente de que chegaríamos a este ponto.

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conhecimento histórico acerca das diversas etapas evolutivas da história

humana.”

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O objetivo deste trabalho é analisar a evolução da distribuição de renda no Brasil no período entre 1995 e 2009. Adota-se como procedimento de pesquisa basicamente a pesquisa bibliográfica. Para facilitar a compreensão desta tarefa é apresentada uma base teórica sobre a distribuição de renda, uma contextualização histórica até o início da década de 1990, e, investigadas as políticas econômicas e sociais adotadas pelos sucessivos governos no período de referência. O primeiro resultado obtido é a estabilidade da desigualdade na distribuição de renda durante a década de 1990, derivada principalmente das dificuldades presentes no mercado de trabalho, fruto da reestruturação produtiva e da política econômica adotada, particularmente da utilização da política cambial para o controle inflacionário. O aumento do gasto social com as execuções das determinações da Constituição Federal de 1988, principalmente os benefícios sociais, possibilitou esta estabilidade na desigualdade. Na década de 2000, felizmente, a distribuição de renda obteve uma significativa melhora, detectada anualmente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A continuidade da expansão do gasto social através da implementação dos programas de transferência de renda e da valorização do salário mínimo, e a recuperação dos empregos formais no mercado de trabalho explicam parte significativa da queda dos índices de desigualdade. A política de transferência de renda, principalmente do Benefício de Prestação Continuada e do Programa Bolsa Família, aumentou a participação das rendas não derivadas do trabalho na formação da renda total. A progressividade dessa categoria de renda e a redução da concentração da renda do trabalho foram os principais determinantes desta melhoria na distribuição da renda.

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The aim of this study is to analyze the evolution of income distribution in Brazil between 1995 and 2009. Basically, the literature research was adopted as research procedure. To enhance understanding of this task a theoretical basis about income distribution is presented, as well as a historical background to the early 1990s, and an investigation of the economic and social policies adopted by successive governments in the reference period. The first result is the stability of inequality in income distribution during the 1990s, derived mainly from the present difficulties in the labor market, the fruit of productive restructuring and the economic policies adopted, particularly the use of exchange rate policy to control inflation. The increase in social expending with the executions of the determinations of the Constitution of 1988, mainly social benefits, allowed this stability inequality. In the 2000s, fortunately, the income distribution had a significant improvement detected annually through the household survey (PNAD). The continued expansion of social expending through implementation of income transfer programs, the improvement of the minimum wage, and the recovery of formal jobs in the labor market explain a significant part of the fall of the indices of inequality. The income transfer policies, mainly from the Benefício de Prestação Continuada and the Bolsa Família programs, have increased the share of income not derived from labor in the formation of total income. The progressivity of this category of income and the reduction in the concentration of labor income were the main determinants of this improvement in income distribution.

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Gráfico 1 – Gasto social no governo FHC entre 1995 e 2002, valores em R$ bilhões deflacionados pelo IGP-DI em dez. 2002 e Nº Índice: 1995 = 100 ... Gráfico 2 – Taxas médias anuais de desemprego aberto nas Regiões

Metropolitanas entre 1991 e 2002 ... Gráfico 3 – Gasto social no governo Lula entre 2002 e 2009, valores em R$

bilhões deflacionados pelo IPCA médio para 2009 e Nº Índice: 2002 = 100 ... Gráfico 4 – Taxas médias anuais de desemprego aberto nas Regiões

Metropolitanas entre 2002 e 2010 ... Gráfico 5 – Evolução do emprego no Brasil entre 1994 e 2010 ... Gráfico 6 – Evolução do rendimento real médio mensal de trabalho das

pessoas ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho positivo, e respectivo índice de Gini entre 1995 e 2009 ...

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Tabela 2 – Distribuição de renda entre pessoas de 10 anos ou mais

economicamente ativas com rendimento em 1970 e 1980 ... Tabela 3 – Distribuição de rendimento mensal entre pessoas de 10 anos

ou mais de idade entre 1981 e 1989 ... ... Tabela 4 – Quantidade de benefícios assistenciais emitidos, posição no

mês de dezembro, entre 1993 e 2002 ... Tabela 5 – Programas federais de transferência de renda de 2001 e 2002 ... Tabela 6 – Evolução do número de beneficiários do Abono Salarial e do

Seguro-Desemprego entre 1995 e 2002 ... Tabela 7 – Evolução do salário mínimo entre 1994 e 2002 ... Tabela 8 – Índice de Gini e Theil da distribuição de renda entre pessoas

economicamente ativas com rendimento entre 1992 e 2001 ... Tabela 9 – Participação na renda e coeficientes de concentração entre

1995 e 2004 ... Tabela 10 – Decomposição da mudança no índice de Gini da distribuição do

rendimento domiciliar per capita entre 1995 e 2004 ... Tabela 11 – Histórico de Metas para a Inflação no Brasil entre 1999 e 2010 ... Tabela 12 – Quantidade de benefícios assistenciais emitidos, posição no mês

de dezembro, entre 2003 e 2010 ... Tabela 13 – Evolução do número de beneficiários do Abono Salarial e do

Seguro-Desemprego entre 2003 e 2010 ... Tabela 14 – Evolução do salário mínimo entre 2002 e 2010 ... Tabela 15 – Rendimento real mensal médio das pessoas de 10 anos ou

mais de idade, com rendimentos, e respectivo índice de Gini entre 2004 e 2009 ... Tabela 16 – Participação na renda e coeficientes de concentração entre

2001 e 2007 ... Tabela 17 – Decomposição da mudança no índice de Gini da distribuição do

rendimento domiciliar per capita entre 2001 e 2007 ... 43

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BACEN BNDES BPC CONSEA CEPAL CIDE CPMF DIEESE DISOC DRU FAT FEF FHC FMI FIPE FGV FSE IBGE IDH IGP-DI IGP-M II PND INPC IPC IPCA IPCA-E IPEA IPI IPMF LTCM LOAS ONU

Banco Central do Brasil

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Benefício de Prestação Continuada

Conselho Nacional de Segurança Alimentar

Comissão Econômica para América Latina e Caribe Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (IPEA)

Desvinculação de Receita da União Fundo de Amparo ao Trabalhador Fundo de Estabilização Fiscal Fernando Henrique Cardoso Fundo Monetário Internacional

Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Fundação Getúlio Vargas

Fundo Social de Emergência

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Índice de Desenvolvimento Humano

Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna Índice Geral de Preços do Mercado

II Plano Nacional de Desenvolvimento Índice Nacional de Preços ao Consumidor Índice de Preços ao Consumidor

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Imposto sobre Produtos Industrializados

Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira Long-Term Capital Management

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PAI PASEP PBF PEA PETI PIB PIS PLANFOR PMV PNAD PND PROGER RMV SEBRAE SEPT URV

Programa de Ação Imediata

Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público Programa Bolsa Família

População Economicamente Ativa

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil Produto Interno Bruto

Programa de Integração Social

Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador Pensão Mensal Vitalícia

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Programa Nacional de Desestatização

Programa de Geração de Emprego e Renda Renda Mensal Vitalícia

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho

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INTRODUÇÃO ...

1 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ... 1.1 Aspectos teóricos ... 1.2 A distribuição de renda no Brasil antes da década de 1960 ... 1.3 A controvérsia dos anos 1970 ... 1.4 As décadas de 1970 e 1980 ...

2 A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ENTRE 1995 e 2002 ... 2.1 O Plano Real ... 2.2 Políticas sociais ...

2.2.1 Mercado de trabalho e salário mínimo ...

2.3 Distribuição de renda ...

3 A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ENTRE 2003 e 2009 ... 3.1 Políticas econômicas ... 3.2 Políticas sociais ...

3.2.1 Mercado de trabalho e salário mínimo ...

3.3 Distribuição de renda ...

CONCLUSÃO ...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 14

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, um grande conjunto de análises empíricas, utilizando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), corrobora a presença de uma queda contínua na concentração da renda no Brasil durante a última década, mesmo utilizando os dados mais recentes da PNAD 2009, que inevitavelmente capturou a repercussão da crise financeira internacional de 2008. Dessa forma, temos um motivo suficiente para reaquecer as discussões calorosas sobre a distribuição de renda nos ambientes acadêmicos e no governo, para compreender como as políticas econômicas e sociais adotadas nas duas últimas décadas atuaram sobre a questão da distribuição de renda.

Mesmo diante dessas melhoras, as comparações internacionais ainda apontam para uma elevada concentração de renda no país, se comparadas às economias de renda per capita semelhante. Segundo Lemos e Nunes (2005, p. 116), o Brasil é um país com grandes contradições, em que uma pequena parcela da população possui padrões de renda e de qualidade de vida semelhantes aos observados nos países desenvolvidos, ao mesmo tempo em que, na base da pirâmide social, situa-se uma grande parcela da população ainda vivendo em condições precárias.

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funcional e pessoal da renda evidencia o caráter complexo das análises sobre a distribuição de renda.

O avanço e os limites do capitalismo durante os séculos XVIII e XIX motivaram o aparecimento de muitas teorias que procuravam explicar a distribuição de renda, especialmente as que demarcavam a divisão e a luta entre as classes sociais pela participação na produção e na distribuição dentro de uma sociedade. O tema foi de interesse de grandes pensadores econômicos como Ricardo e Marx, e da escola marginalista. O surgimento dos ambientes industriais promoveu um movimento da distribuição funcional da renda a favor da participação da renda derivada do capital em relação à renda do trabalho, através do desenvolvimento e utilização de máquinas e ferramentas para automação dos processos produtivos. Com a crise e a reforma do Estado capitalista, e o aparecimento do Estado do bem-estar social em vários países, ocorreu uma significativa transferência de renda para aqueles que não possuíam trabalho ou ativos, procurando torná-los capazes de prover o próprio sustento.

O início das reformas neoliberais na década de 1970 e as propostas de desmantelamento do Estado de bem-estar social, novamente intensificaram as demandas sociais por políticas públicas que procurassem uma melhor distribuição de renda e da riqueza acumulada, reduzindo os riscos da disseminação da pobreza e da extrema miséria entre a população. Com a evolução das pesquisas periódicas e da contabilização das contas nacionais no século XX começaram a aparecer dados mais relevantes para análises da distribuição pessoal da renda, e consequentemente, deram base às várias teorias explicativas e fomentaram o aparecimento de novas teorias.

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a situação brasileira. A controvérsia gerada na década de 1970, demarcada fortemente pelo regime militar vigente, promoveu uma explosão de trabalhos com interesse na distribuição de renda brasileira. Os trabalhos desenvolvidos durante esse debate promovem a questão da distribuição de renda brasileira como um importante programa de pesquisa nos institutos oficiais e acadêmicos do país até os dias atuais.

A partir do processo de redemocratização do país e da promulgação da nova Constituição Federal em 1988, em conjunto com as legislações complementares posteriores, a garantia dos direitos sociais passou a ser incorporada dentro das políticas públicas do Estado, procurando suprir as demandas da sociedade pelo fortalecimento das políticas sociais abandonadas durante o regime militar. A nova política social pode ser compreendida em duas dimensões: a da proteção social, destinada à saúde, previdência e assistência social; e a da promoção social, destinada à educação, trabalho, habitação, transporte, desenvolvimento agrário e cultura.

A maior abrangência da política social instituída no país após a Constituição revela a importância e a necessidade de sua aplicação para diminuição das desigualdades socioeconômicas estruturais persistentes. A política de transferência de renda adotada principalmente pelo governo federal a partir da década de 2000 estabelece uma nova orientação à atuação da política social do Estado no enfrentamento da desigualdade de renda. É importante salientar que a política social está de mãos dadas com a política econômica realizada pelo Estado. O estreito laço entre estas políticas pode ser encontrado na determinação do tamanho do gasto social do governo ser fruto da política econômica adotada, mais especificadamente, do papel da política fiscal no exercício da política macroeconômica estabelecida.

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procura responder é: a partir, da contextualização histórica da distribuição de renda no Brasil anterior à década de 1990, como evoluiu a distribuição de renda no Brasil entre1995 e 2009?

O procedimento de pesquisa adotado no trabalho é basicamente a pesquisa bibliográfica sobre a distribuição de renda no Brasil, em sua maioria desenvolvida no campo do pensamento econômico, considerando a perspectiva multidimensional da desigualdade social, sendo objeto de pesquisa de diversas áreas das ciências sociais. Além disso, contemplamos uma base teórica sobre o tema, com o objetivo de facilitar a compreensão do desenvolvimento dos estudos até os dias atuais. Este trabalho não tem a pretensão de realizar estudos empíricos nem propor algum modelo que justifique alguma corrente de pensamento. O trabalho se privilegia da utilização dos conceitos desenvolvidos na base teórica para pautar a pesquisa bibliográfica.

O período de referência investigado pela dissertação é demarcado pelo processo de estabilização da moeda nacional. A partir da implantação do Plano Real, a demanda pelo fortalecimento das políticas sociais pode ser compreendida como a maior reivindicação da sociedade brasileira, especialmente porque a estabilização da moeda, em conjunto com a reestruturação produtiva da economia, promove uma modificação nas demandas por trabalhadores no mercado de trabalho. Assim, pode-se tratar a distribuição de renda dentro de um novo contexto macroeconômico no qual as políticas sociais de transferência de renda recebem cada vez mais importância na determinação da renda nos ambientes familiares.

A dissertação está organizada em três capítulos, além desta introdução e da conclusão. No primeiro capítulo é apresentada uma contextualização histórica da distribuição de renda desenvolvida a partir dos aspectos teóricos envolvendo a distribuição de renda e a pesquisa realizada no Brasil até a década de 1960, da controvérsia gerada na década 1970 e da evolução até os primeiros anos da década de 1990.

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parte focando o mercado de trabalho e o salário mínimo; e, por último, é explicitada a evolução da distribuição de renda no período.

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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A distribuição do produto gerado dentro de uma sociedade é um tema de grande importância nas ciências econômicas. A produção e a distribuição do produto de uma sociedade podem ser estudadas, em uma economia monetária, pela ótica da renda. No entanto, o problema da distribuição do produto, ou da desigualdade nessa distribuição, não é de grande interesse somente do pensamento econômico, tendo sido objeto de investigação de outras áreas das ciências sociais, sem deixar de também mencionar que o caráter ético permeia as teorias de distribuição do produto social, sendo capaz de abrir ainda mais os campos de pesquisa sobre a desigualdade socioeconômica.

Dentro do pensamento econômico, a distribuição da renda pode ser estudada pelo menos sob dois aspectos: a distribuição funcional da renda e a distribuição pessoal da renda. Uma parte dos trabalhos teóricos tem interesse sobre a distribuição funcional da renda, visão que subdivide a renda de acordo com sua função no sistema econômico, que em última instância chega à divisão entre salários e lucros. A segunda abordagem, a distribuição pessoal da renda, foca no aspecto individual da renda, partindo da idéia de que a renda de uma pessoa é determinada pela dotação de seus recursos e produtividade de seus serviços. O avanço das pesquisas periódicas, que investigam a renda pessoal e familiar, tem contribuído com dados para o desenvolvimento das teorias que procuram explicar os rendimentos pessoais. É importante notar a complexa inter-relação entre os aspectos funcionais e pessoais da distribuição da renda, que neste trabalho são tratados separadamente somente na apresentação dos aspectos teóricos.

Atualmente, vem sendo incorporada sob a ótica da renda uma abordagem à questão da pobreza e da indigência. Trata-se de uma tentativa de estabelecer um nível mínimo de renda para que uma pessoa, ou uma família, possa atingir um padrão mínimo de qualidade de vida. É evidente o peso existente de questões éticas e sociais quando tentamos definir conceitos para pobreza e indigência. Por esse motivo, e para não desviar da preocupação central deste trabalho, não pretendemos nos aprofundar no debate da definição de tais conceitos.

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realizada no Brasil sobre distribuição da renda desde a década de 1960 até o início da década de 1990. No primeiro momento, analisa os aspectos teóricos, sem a pretensão de esgotar o grande número de teorias desenvolvidas sobre a distribuição de renda; no segundo momento, analisa a distribuição de renda no Brasil antes de 1960. É importante notar a dificuldade desse exercício por causa da escassez de dados sobre os rendimentos até a década de 1960. No terceiro momento, analisa a controvérsia ocorrida com a publicação do Censo de 1970 e as comparações com o Censo de 1960 para expor os principais motivos levantados pela controvérsia sobre a distribuição da renda; e, por último, analisa a década de 1980 e a evolução da distribuição de renda até o início da década de 1990.

1.1 Aspectos teóricos

A análise da distribuição de renda é um tema de grande importância para o entendimento da economia de uma sociedade desde os primeiros estudos da economia clássica. A preocupação inicial estava na distribuição entre as classes sociais (trabalhadores, proprietários e capitalistas) e suas respectivas participações no produto (salários, aluguéis e lucro). Esta abordagem, encontrada em Ricardo e Marx, ficou conhecida como distribuição funcional da renda, ou seja, a participação de cada classe de acordo com sua função no produto social:

O produto da terra – tudo o que se obtém de sua superfície pela aplicação combinada de trabalho, maquinaria e capital – se divide entre três classes da sociedade, a saber: o proprietário da terra, o dono do capital necessário para seu cultivo e os trabalhadores cujos esforços são empregados no seu cultivo.

Em diferentes estágios da sociedade, no entanto, as proporções do produto total da terra destinadas a cada uma dessas classes, sob os nomes de renda, lucro e salários, serão essencialmente diferentes, o que dependerá principalmente da fertilidade do solo, da acumulação de capital e de população, e da habilidade, da engenhosidade e dos instrumentos empregados na agricultura.

Determinar as leis que regulam essa distribuição é a principal questão da Economia Política. (RICARDO, 1996, p. 19).

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pela taxa de lucro na agricultura. As rendas diferenciais geradas na terra em virtude da crescente necessidade de produzir cada vez mais em terras de menor fertilidade, ou pior localização, determinam a taxa de lucro na agricultura. O crescimento da população leva à ocupação cada vez maior de terras menos férteis gerando as rendas diferenciais nas terras de melhor fertilidade, reduzindo assim a parte correspondente ao lucro, ou seja, o restante do produto total subtraído das rendas das terras e dos salários, sendo esse último regulado pelos níveis mínimos de subsistência dos trabalhadores. Com esta análise, Ricardo combateu a Lei dos Cereais1

que restringia a importação desse bem e acabava favorecendo a rentabilidade dos proprietários da terra, provocando uma transferência de renda para esta classe. A preocupação de seus trabalhos sobre as participações de cada classe no produto social contribuiu para o desenvolvimento do conceito da distribuição funcional da renda, não descartando as suas contribuições sobre a teoria do valor e do comércio exterior.

A análise de Marx também está baseada nas repartições das classes sociais e suas relações antagônicas no processo produtivo. O conflito entre os capitalistas, detentores dos meios de produção, e os trabalhadores, detentores da força de trabalho, se transferem à distribuição do produto, quando os capitalistas tentam elevar suas taxas de lucro e os trabalhadores tentam elevar suas participações no produto através do aumento de seus salários. Como ao trabalhador resta apenas vender sua força de trabalho, o valor pago pelos capitalistas durante a jornada acaba sendo determinado pelo tempo necessário à produção de seus meios de subsistência. No entanto, o valor gerado pelo trabalhador é superior ao necessário para reprodução de sua força de trabalho, gerando um excedente, chamado por Marx de mais-valia. Este excedente, trabalho não-pago, é apropriado pelos detentores dos meios de produção, característica específica do modo de produção capitalista.

As análises clássicas e marxistas visualizavam a distribuição de renda como diretamente ligadas ao processo de acumulação de capital através da participação da taxa de lucro e da taxa de exploração. Essas taxas são caracterizadas pela função que exercem sobre os gastos com o trabalho assalariado e com o progresso técnico.

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[...] o processo de acumulação, para se reproduzir em escala ampliada, é forçado a elevar continuamente a taxa de exploração. Se o avanço da acumulação tende a absorver o desemprego relativo existente, favorecendo uma elevação dos salários, os capitalistas reagem, intensificando o grau de mecanização do processo de trabalho e recriando, portanto, o exército industrial de reserva na proporção suficiente para frear o crescimento dos salários e para permitir o prosseguimento da acumulação. (BELLUZZO, 1975, p. 28).

Há uma conexão evidente entre o desenvolvimento, mediante expansão do capitalismo, e repartição da renda. O motor do desenvolvimento é a acumulação de capital e esta depende, não só mas sobretudo, da taxa de exploração, ou seja, da repartição do produto entre necessário e excedente. O produto necessário se destina a assegurar a reprodução da força de trabalho. O excedente serve ao consumo dos não-produtores e à acumulação. (SINGER, 1981, p. 151).

Para Kalecki (1977) é necessário uma teoria da determinação da renda para se chegar à análise correta da dinâmica da economia capitalista. Retomando conceitos das análises marxistas, Kalecki propõe que a renda nacional pode ser subdividida entre os salários e lucros correspondentes a cada setor da economia. A renda nacional também pode ser entendida como a soma dos investimentos, consumo dos capitalistas e consumo dos trabalhadores. No esquema simplificado, elaborado por Kalecki, os trabalhadores gastam todo o salário em consumo. Não havendo poupança dos trabalhadores, o consumo desses passa a ser função da parcela relativa dos salários na renda nacional, ou seja, da distribuição da renda nacional entre os salários e lucros. Na ausência de alterações nessa distribuição, o montante de salários (consumo dos trabalhadores) e a renda nacional passam a ser determinados pelo investimento e o consumo dos capitalistas (MIGLIOLI, 1981, p. 250). Entretanto, não é possível imaginar que a distribuição da renda nacional entre salários e lucros não sofra alterações.

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distribuição da renda nacional. Como os fatores descritos acima dependem de cada setor de atividade, e entre os setores de uma economia há diferenças nas participações relativas dos salários, a composição industrial ou setorial torna-se também determinante da distribuição da renda nacional (MIGLIOLI, 1981, p. 252).

Nas últimas décadas do século XIX, o desenvolvimento da escola neoclássica desloca as discussões presentes em Ricardo e Marx sobre os interesses conflitantes das classes sociais para uma coexistência pacífica destas dentro do processo distributivo. Neste caso, trabalhadores e capitalistas se encontram no mercado como proprietários de fatores de produção, conceito utilizado pela revolução marginalista que promove a igualdade de condições entre agentes durante a troca, para obter uma remuneração por seus serviços, determinado pela disponibilidade relativa dos fatores e pelas características da tecnologia disponível (RAMOS; REIS, 1991, p. 23).

Os primeiros trabalhos sobre distribuição de renda através da análise marginalista são atribuídos à Vilfredo Pareto, aluno e sucessor de Léon Walras na cadeira de Economia Política na Universidade de Lausanne. Segundo Hoffmann (1973, p. 7): “Pareto considerava que distribuição da renda e da riqueza nas sociedades humanas tendia a se ajustar à lei que ele estabeleceu, independentemente da sua organização social-econômica.” Numa análise da distribuição de renda entre contribuintes sujeitos à incidência de imposto de renda em diversos países e períodos diferentes, Pareto verificou que a partir de um nível de renda adequado, as “curvas das rendas” dos países eram semelhantes. A distribuição de renda, quando medida a partir de um determinado nível de renda, seguia estavelmente uma função empírica definida por:

α −

= Ax

Nx

onde Nx corresponde ao número de indivíduos na população com renda igual ou superior a x; e, A e Į são constantes positivas. De acordo com esta curva, que ficou

conhecida na literatura econômica como curva de Pareto2

, a renda tende para seu menor valor quando o aumentamos o número de indivíduos dentro de um estrato, e a renda tende ao seu maior valor quando diminuímos o número de indivíduos dentro de um estrato.

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O desenvolvimento da visão neoclássica sobre a distribuição da renda leva a uma modificação na unidade de análise da renda. O aspecto funcional da renda dá lugar ao aspecto individual da renda, onde os indivíduos através da dotação de seus recursos e da produtividade de seus serviços determinam os próprios rendimentos. Está teoria está baseada na escolha e na responsabilidade individual dos agentes econômicos no processo de distribuição do produto. Entre as várias teorias no campo do pensamento neoclássico, uma que tem sido bastante utilizada e desenvolvida é a teoria do capital humano, teoria baseada na elevação da produtividade marginal dos indivíduos através da aquisição de educação para aumentar os próprios rendimentos no mercado de trabalho. A desigualdade na distribuição de renda pode ser explicada pelas condições de desequilíbrio entre demanda e oferta de mão de obra qualificada, por exemplo, existindo um déficit de formação de trabalhadores qualificados, surgem ganhos extras aos grupos qualificados pela necessidade de qualificação nos novos postos de trabalho em uma economia em crescimento. Para corrigir essas rendas extras seriam necessárias políticas que aumentassem o acesso da população ao sistema educacional, visando o aumento do capital humano dos agentes quando inseridos no mercado de trabalho.

A distribuição de renda também tem uma linha de análise mais próxima da ideia de bem-estar social. Para se trabalhar com o bem-estar social, observamos uma nova alteração da unidade de análise – desta vez deslocada do indivíduo para a família. Como alguns membros da família podem não estar contribuindo para o rendimento monetário familiar, ou no caso de uma família muito rica quando alguns membros não precisam oferecer as rendas dos seus trabalhos para suas manutenções e aquisições durante a vida, normalmente se utiliza o conceito de renda familiar per capita, por considerar que dentro das famílias há um intenso processo de redistribuição da renda.

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[...] consideramos a pobreza na sua dimensão particular (evidentemente simplificadora) de insuficiência de renda, isto é, há pobreza apenas na medida em que existem famílias vivendo com renda familiar per capita inferior ao nível mínimo necessário para que possam satisfazer suas necessidades mais básicas. A magnitude da pobreza está diretamente relacionada ao número de pessoas vivendo em famílias com renda per capita abaixo da linha de pobreza e à distância da renda per capita de cada família pobre em relação à linha de pobreza. (BARROS; HENRIQUES; MENDONÇA, 2000, p. 124).

A diminuição da pobreza através do crescimento econômico tem se revelado muito lenta, e a necessidade de novas políticas de combate à pobreza tem entrado no debate em diversos países, recebendo uma nova denominação de crescimento: “pró-pobre”. A relação entre a pobreza e a desigualdade de renda tem levado algumas pesquisas para o debate se a pobreza é um resultado da escassez de recursos ou se é resultado da desigualdade na distribuição dos recursos, visto que, pode ocorrer uma redução na pobreza pelo efeito do crescimento da renda média sem necessariamente modificar a distribuição entre os estratos, sendo verdadeiro também o caso de uma melhor distribuição da renda reduzir a proporção de pobres sem que haja aumentos na renda média da população.

Entre inúmeras teorias sobre a distribuição de renda, as citadas acima são capazes de fornecer uma base teórica para melhor compreensão do avanço desses estudos e da evolução da distribuição de renda no Brasil. De qualquer forma, é importante salientar que nos estudos da distribuição de renda devem ser levadas em consideração as especificidades de cada país.

1.2 A distribuição de renda no Brasil antes da década de 1960

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uma estrutura secundária de transferências e repartição no país, capaz de reverter o caráter concentrador do fluxo de renda.” Além disso, na visão de Cardoso Jr. (1999), a forma como ocorre o processo de produção de bens no país determina a dinâmica inicial da distribuição da renda nacional.

O estudo da distribuição de renda em uma economia capitalista de industrialização tardia e periférica como a brasileira não pode desvincular-se do contexto histórico e dos determinantes mais gerais que dão origem à sua forma específica de comportamento. (CARDOSO JR., 1999, p. 7).

A acumulação do produto nacional ocorrida durante séculos, na forma da concentração da posse da terra, pode ser apontada como um determinante histórico concentrador da renda em um grupo muito restrito. Este fato recebe destaque pela dificuldade que se verificou na realização de uma reforma fundiária no país. Apesar da evidência desta correlação, segundo conclusão da pesquisa sobre tal correlação realizada por Hoffmann:

Uma vez que no Brasil a terra é o principal componente do capital agrário, espera-se que os índices de concentração de renda no setor primário estejam correlacionados com os índices de concentração da posse de terra. Os resultados que obtivemos não desmentem essa hipótese, mas a escassez de dados não permite, por outro lado, estabelecer com clareza a relação; neste, como em outros pontos, novas pesquisas são necessárias. (HOFFMANN, 1971, p. 121).

A manutenção desta elevada concentração de renda também pode ser caracterizada pela não incorporação no mercado interno que começa aparecer no país sob a orientação da produção cafeeira, do contingente disponível de trabalho após a abolição da escravatura, na segunda metade do século XIX, conforme apontado por Furtado (1989, p. 141): “Abolido o trabalho escravo, praticamente em nenhuma parte houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo da distribuição de renda.” Esta não incorporação no mercado de trabalho promoveu um processo de marginalização deste contingente, agravado pela opção do Estado brasileiro de importar mão de obra para produção cafeeira por via da imigração europeia e japonesa.

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concentrador cafeeiro na região sudeste, seja pelo capital excedente necessário ou pela herança de um grande excedente de força de trabalho.

Dessa atividade [cafeeira] começaria a fluir um conjunto significativo de impulsos econômicos que daria início ao desenvolvimento industrial brasileiro e à consolidação de um mercado interno com chances de promover a interligação do país e internar o processo de acumulação de capital. (CARDOSO JR., 1999, p. 15).

O processo de industrialização tardia ocorrido no Brasil teve dois grandes problemas iniciais: a dificuldade de desenvolver um mercado interno consumidor para a produção nacional e os limites impostos pela capacidade de importar no período de guerras. Mesmo assim, conforme apontam Cardoso Jr. e Pochmann (2000, p. 5): “[...] a expansão da renda gerada internamente engendrava a constituição de uma estrutura de demanda compatível com a ampliação da estrutura produtiva [...]” Entretanto, o processo de industrialização pesada adotado no momento seguinte favoreceu as estruturas produtivas do país que se concentravam nas indústrias de base, com grande capacidade tecnológica e poupadora de força de trabalho. A conjunção desta dimensão restrita do mercado interno consumidor com a formação heterogênea do mercado de trabalho contribui para compreensão da concentração da renda nos estratos superiores da distribuição, ou seja, nas camadas que já detinham maiores rendas.

[...] as implicações que a heterogeneidade do mercado de trabalho brasileiro confere às dimensões funcional e pessoal da distribuição de renda estão fundamentalmente relacionadas, de um lado, com as inserções setoriais dos indivíduos no processo produtivo e, de outro, com as inserções ocupacionais que desfrutam dentro dos respectivos setores de atividade. (CARDOSO JR.; POCHMANN, 2000, p. 12).

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nível da concentração de renda reflete as condições de oferta e demanda dos bens produzidos no país, e para desconcentrar a renda é necessária uma reestruturação do perfil da demanda.

[...] a estrutura industrial brasileira teve de adaptar-se, desde o início, a um perfil de demanda caracterizado por um desnível considerável entre os padrões de consumo da massa e os de uma pequena minoria. Em razão da oferta totalmente elástica de mão de obra, os incrementos de produtividade engendrados pelo progresso técnico e pelas economias de escala puseram em funcionamento um mecanismo adicional de concentração de renda; como o poder de compra realmente em expansão era o dos grupos de altas rendas, o desenvolvimento tendeu a assumir a forma de introdução de novos produtos e diversificação do consumo. A concentração da renda, ao entorpecer o processo de difusão em benefício do de diversificação, já que o consumo da minoria de altas rendas deve acompanhar a evolução do consumo dos grupos de rendas médias e altas dos países muito mais ricos, limitava os recursos disponíveis para o investimento ao processo de diversificação do consumo da referida minoria, em prejuízo do processo de difusão. (FURTADO, 1972, p. 30).

Em um trabalho pioneiro, Kingston (1952) revela através dos dados sobre os impostos de renda do Brasil, do Distrito Federal (Rio de Janeiro) e de São Paulo, ajustando uma curva de renda de acordo com a lei de Pareto, que apesar da melhoria da repartição dos rendimentos no país entre 1946 e 1948, em comparação com o aumento da concentração ocorrido no Distrito Federal entre 1934 e 1940, se comparado com valores de concentração de renda de outros países, o Brasil estava em extrema desvantagem na desigualdade da distribuição da renda.

O Brasil, e as duas unidades federadas sob estudo, apresentam uma desigualdade maior, em geral, que a dos países aí mencionados. Em 1928, a concentração no Distrito Federal era menor que nos Estados Unidos; mas, de então por diante, a desigualdade diminuiu nesse último país mais rapidamente que entre nós. É flagrante a discrepância entre a nossa situação e a dos países de colonização anglo-saxônica: Canadá, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, cujos problemas de desenvolvimento não têm sacrificado a igualdade de acesso às oportunidades econômicas. Aqui continua em aberto o problema de, sem prejuízo de nossa expansão econômica, acelerar a tendência, já visível a partir de 1944, para uma mais equitativa distribuição da renda nacional. (KINGSTON, 1952, p. 82).

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Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México e Panamá – que possuem um elevado grau do coeficiente de concentração de renda3

se comparado com os coeficientes do Reino Unido e dos Estados Unidos da América. Mas há diferentes motivos que levam os países da América Latina à maior concentração de renda, sendo necessário analisar as especificidades de cada economia com as diferenças de produtividade dos setores, diferenças no desenvolvimento de cada região do país, diferenças entre as regiões urbanas e rurais, e, principalmente, diferenças entre as remunerações entre os fatores produtivos. O conjunto dessas diferenças determinantes para a distribuição de renda e para um processo específico de desenvolvimento recebeu o nome de “heterogeneidade estrutural” das economias latino-americanas. Não faz parte deste trabalho apresentar o conjunto das análises da CEPAL sobre a economia latino-americana, mas é importante demarcar que a construção do pensamento cepalino sobre a distribuição de renda envolve, além do conceito de heterogeneidade estrutural, as mudanças intersetoriais e intrasetoriais, a industrialização tardia da região, o padrão de demanda das classes consumidoras, e ainda, a estrutura social e institucional de cada país.

La utilidad de la comparación no va, sin embargo, mucho más allá que illustrar em términos muy generales sobre a medida en que las respectivas distribuciones se alejan de la ‘equidad distributiva’. Se requiere pues complementarla con otras indicaciones sobre determinadas formas de la distribución, que revisen gran interes tanto para apreciar el problema en términos más precisos como para el análisis de las economias latinoamericanas correspondientes. (CEPAL, 1967, p. 153, grifo do autor).

No caso específico do Brasil é possível verificar a importância da heterogeneidade estrutural. O contraste regional e urbano-rural atinge fortemente a distribuição de renda, além de uma elevada proporção da população (80%) não alcançar o rendimento médio nacional com uma escassa proporção nos rendimentos intermediários. No mesmo trabalho a CEPAL argumenta para o caso brasileiro:

3

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Los niveles absolutos de ingreso mucho menores y una relativa homogeneidad de ingresos que se extiende prácticamente al 80 por ciento de la población, lo que significa una dimensión pequena de los estratos medios, tienes evidentes repercusiones limitativas en la magnitud del mercado interno para ciertos productos instrustriales. Consecuencia de ello es que solo los gastos en alimentación llegan a absorber entre 53 y 69 por ciento del gasto total en las categorias de ingresos inferiores. En cambio, las encuestas efectuadas en diversas ciudades muestran que el item ‘artículos de casa’ – que incluye aparatos eléctricos, radios, refrigeradores, heladeras, muebles, instrumentos musicales y utensílios diversos – absorbería menos del 11 por ciento del gasto total en las dos primeras categorias de ingreso en las ciudades capitales (41 por ciento de las famílias urbanas) y poco más de 6 por ciento en las ciudades del interior de San Pablo; y que solo 11,1 y 3,1 por cientos de los domicílios urbanos del Nordeste tenían radio y refrigerador respectivamente proporciones que alcanzaban a 53,8 y 16,4 por ciento en las ciudades del Sur . (CEPAL, 1967, p. 175, grifo do autor).

Dessa forma, procuramos apresentar a seguir que a controvérsia gerada posteriormente na década de 1970 de certa forma já havia sido iniciada nos debates acadêmicos e pela CEPAL antes da publicação dos dados do Censo de 1970. Além de que é importante entender o contexto histórico da pesquisa sobre a distribuição de renda no Brasil até a explosão dos trabalhos no debate posterior.

1.3 A controvérsia dos anos 1970

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extrema concentración del ingreso en la cumbre mismo de la escala.” Reavaliando os trabalhos de Cline (1972) e da CEPAL (1970b), Hoffmann e Duarte (1972) trabalhando com os dados do Censo de 1960, e propondo novos parâmetros para a curva de renda, através da equação de Pareto, utilizada para estimar a renda dos estratos, encontram um índice de concentração de 0,49. A diferença registrada entre os trabalhos não torna a constatação das pesquisas anteriores descabida, mesmo porque o valor encontrado no trabalho de Hoffmann e Duarte ainda deixa o país com um índice de concentração elevado em comparação com os demais países da América Latina.

O debate sobre a distribuição de renda foi intensificado com a publicação do Censo 1970 e a divulgação dos trabalhos de Fishlow (1975), Langoni (1972) e o trabalho já citado de Hoffmann e Duarte (1972). A dúvida sobre a existência da concentração deixa de aparecer no debate, visto que os trabalhos corroboram a evidência da concentração, e a dúvida migra para as causas da piora da distribuição de renda. Entre várias polêmicas levantadas, duas linhas centrais podem ser encontradas: uma procura demonstrar que o problema está na política governamental adotada a partir do golpe militar de 1964 (políticas socioeconômicas, incluindo a repressão aos movimentos sociais) e a outra vertente aponta a elevação da concentração como uma consequência normal do funcionamento do mercado de trabalho e das mudanças alocativas e qualitativas dos trabalhadores em um período de aceleração do crescimento econômico.

Hoffmann e Duarte (1972)4

analisando os dados do Censo de 1970 encontram um índice de Gini de 0,57, em contraste com o índice de 0,49 para os dados do Censo de 1960, apontando a ocorrência de uma elevação da concentração da renda no país durante a década, sendo mais forte ainda nas regiões mais industrializadas. A análise aponta que a metade da população menos remunerada reduziu a participação na renda, enquanto ocorreram aumentos significativos para a população de melhor renda.

A metade da população remunerada situada no extremo inferior da distribuição viu cair sua participação na renda total de 17,7% para 13,7%. Em que pese um aumento de 79% no PIB [Produto Interno Bruto], esse grupo manteve inalterado seu nível médio de rendimento no período. Se considerarmos que a percentagem de receptores de renda baixou de 35% para 31,4% entre os dois Censos analisados,

4

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deduziremos que a renda per capita dessa parte da população pode ter sofrido alguma redução. Nos três decis subsequentes, as rendas médias sofreram acréscimos poucos significativos. Os aumentos significativos na renda média ficaram reservados para o 9º e 10º decis, e, especialmente, para os 5% da população detentores de altas rendas. (HOFFMANN; DUARTE, 1972, p. 59).

Segundo Hoffmann (1975, p. 109), a principal causa do aumento da concentração da renda durante a década de 1960 está na política econômica adotada de compressão salarial, evidenciada pela queda de 30% do salário mínimo no período. A dificuldade da grande maioria dos trabalhadores reivindicarem os ganhos decorrentes dos aumentos de produtividade acaba forçando-os a receber o salário mínimo estabelecido institucionalmente. O Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), através do recém-criado Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica, teve como uma das frentes de combate ao processo inflacionário a elaboração de uma nova política salarial, sendo os governos anteriores acusados de não coordenar a política salarial, alimentando assim o processo inflacionário. Uma nova política salarial oficial deveria ser implantada para:

a) manter a participação dos assalariados no produto nacional; b) impedir que reajustamentos salariais desordenados realimentem irreversivelmente o processo inflacionário; e c) corrigir as distorções salariais, particularmente no Serviço Público Federal, nas Autarquias e nas Sociedades de Economia Mista. (Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica, citado por LARA RESENDE, 1982, p. 777).

As correções salariais estavam forçadas a acompanhar uma fórmula de reajuste estabelecida pelo governo, provocando perdas aos estratos mais baixos de renda, principalmente aos trabalhadores urbanos não-qualificados. Na contramão dessa política adotada para contenção das menores remunerações, os salários dos estratos mais elevados tiveram os maiores ganhos reais, privilegiando os trabalhadores mais qualificados, normalmente ligados à administração e cargos gerenciais5

das empresas em que seus ganhos e reajustes extras estavam vinculados ao montante do lucro empresarial realizado. Dessa forma, o grupo de maior renda era beneficiado com os aumentos salariais obtidos, em detrimento do

5

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grupo de trabalhadores menos qualificados com maiores dificuldades para reajustarem seus salários acima do estabelecido pelo governo, além dos indícios de que o governo manipulava os índices de inflação utilizados na fórmula de reajuste, conforme argumento abaixo:

A ‘compressão salarial’ ao nível dos trabalhadores pouco qualificados, aliada ao crescimento relativamente intenso das remunerações nos estratos salariais elevados, implica, obviamente, o aumento do grau de concentração da distribuição de renda recebida como salário, que ocorreu, e provavelmente ainda está ocorrendo no Brasil. (HOFFMANN, 1973, p. 9, grifo do autor).

Wells (1975), trabalhando com fontes de dados diferentes dos Censos, fornecidos pelo Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho (SEPT) do Ministério do Trabalho e pelas primeiras Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD6

), corrobora Hoffmann na atribuição da compressão salarial praticada pelo governo militar e na repressão aos movimentos sindicais como determinantes da elevação da desigualdade de renda.

A conclusão geral é que numa economia caracterizada por oferta abundante de trabalho não-qualificado, o salário mínimo desempenha um papel crítico na determinação global dos rendimentos. Durante o período de estabilização, o governo teve bastante sucesso em controlar os salários mais baixos e foi, portanto responsável pela deterioração observada na distribuição dos rendimentos. A experiência dos países capitalistas avançados indica que uma redução da desigualdade dos rendimentos segue-se ou da formação de um movimento sindical independente, ou de uma escassez geral de mão de obra numa situação em que seja bastante rígida a distribuição estrutural de trabalho entre os setores. Como nenhuma dessas condições tende a aparecer no Brasil, a política governamental é um determinante crucial da distribuição. (WELLS, 1975, p. 223).

Para analisar os dados do Censo de 1960, Fishlow (1975) realiza alguns ajustes nos rendimentos declarados sobre a renda não-monetária não captada pelo questionário (produção para o autoconsumo na agricultura, valor de aluguéis para famílias com casa própria, alimentos e bens recebidos por empregados domésticos) e sobre a realocação de renda do chefe aos trabalhadores

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não remunerados da família. Feito esses ajustamentos, Fishlow constata que a renda por trabalhador recebe um incremento de quase 20%, promovendo uma considerável diminuição na desigualdade da renda do Censo de 1960, entretanto Fishlow não deixa de relacionar o Brasil entre os piores países de distribuição de renda da América Latina.

Um grande problema do Brasil está na constatação que a desigualdade da renda é acompanhada por uma elevada proporção da sociedade com renda num nível consideravelmente baixo, Fishlow (1975, p. 168) argumenta que: “A tragédia da situação brasileira, como a da maioria dos países em desenvolvimento, é que a distribuição e o nível [de pobreza] se comportam da mesma forma negativa.” Através de um perfil da dimensão da pobreza, Fishlow encontra algumas características diferenciadoras no Brasil: baixos níveis de educação; concentração em atividades agrícolas; localização e não migração da população nas áreas rurais; número limitado de trabalhadores por família; residência no Nordeste; tamanho da família e número de filhos maior que a média nacional; e oportunidades relativamente menores para educação desses filhos.

A pobreza é um problema dificilmente resolvido a curto prazo, em virtude da propagação entre gerações das deficiências familiares em melhorar os seus recursos humanos nos estratos mais pobres. Um dado alarmante para o período considerado estava na verificação de que entre as crianças matriculadas na rede escolar cerca um terço eram consideradas crianças pobres.

Essas crianças carregam consigo não apenas as sequelas da subnutrição, nenhuma transferência de patrimônio ou status passados, e aspirações limitadas, mas também a falta de acesso à educação. [...] O analfabetismo passado e a pobreza presente estão fortemente correlacionados. Mas assim estão também a pobreza presente, o analfabetismo futuro e a provável pobreza futura. (FISHLOW, 1975, p. 173).

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dados através da decomposição do coeficiente de desigualdade e interações entre si7

, apresenta os resultados da seguinte forma:

[...] diferenças de idade, setoriais, regionais e educacionais explicam pouco mais da metade da desigualdade de renda observada. Essas variáveis definem os fatores discriminantes de produtividade mais importantes; a variação das aptidões individuais, riqueza herdada e status, e elementos aleatórios contribuem para a diversidade mais ampla dentro dessas categorias. (FISHLOW, 1975, p. 177).

Fishlow aponta a educação como a variável de maior poder explicativo entre as variáveis selecionadas como determinantes da renda, não deixando de argumentar que faltava explicação, através de outras variáveis, para a outra metade da desigualdade. Apesar da utilização das variáveis consideradas como pilares da teoria do capital humano, Fishlow faz várias ressalvas sobre a utilização das variáveis escolaridade e idade como determinantes de renda, evidenciando o problema da elevada correlação existente entre tais variáveis.

Na comparação entre os Censos de 1960 e 1970, Fishlow reafirma o considerável aumento da desigualdade na distribuição de renda como fato extremamente negativo se comparado as taxas reais de crescimento econômico, obtidas a partir de 1967. O trabalho de Fishlow também aponta para o programa de estabilização, iniciado em 1964, como fator determinante para o aumento da desigualdade registrado no final da década de 1960, através da política restritiva ao salário mínimo cortando este em cerca de 20%, em conjunto com os ajustamentos dos preços administrados pelo governo e a violenta repressão aos movimentos dos trabalhadores.

A concentração de renda resultante da estabilização não foi inteiramente intencional. Ela ocorreu porque a inflação real ultrapassou os aumentos programados para os preços, e esses aumentos programados é que foram aplicados no emprego da fórmula oficial para reajuste de salários. Assim, o aumento da desigualdade mede o fracasso de instrumentos monetários e fiscais convencionais aplicados durante a administração Castelo Branco. Em um sentido mais amplo, contudo, o resultado foi indicativo, com precisão, de prioridades: destruição do proletariado urbano como uma ameaça política, e restabelecimento de uma ordem econômica voltada para a acumulação de capital privado. (FISHLOW, 1975, p. 185).

7

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Langoni (1972) realiza um estudo encomendado pelo Ministro da Fazenda no período Antonio Delfim Netto, obtendo acesso privilegiado aos dados dos Censos, às declarações do imposto de renda e aos dados do Ministério do Trabalho. O ponto de partida foi tornar os dados dos dois Censos equivalentes de comparação, isto porque para o Censo de 1960 não estavam disponíveis os dados sobre a renda individual declarada, mas apenas intercalados entre 8 faixas de renda. Essas faixas de renda foram transportadas para os dados do Censo de 1970, com correção realizada pela taxa de crescimento da renda real per capita e pela inflação ocorrida entre a década. Com a equivalência dos Censos, Langoni (1972, p. 16) apresenta que o índice de Gini (incluindo as pessoas sem rendimentos) passou de 0,56 em 1960 para 0,61 em 1970, corroborando a hipótese do aumento da desigualdade da renda já em debate pela divulgação dos trabalhos anteriores. Para Langoni (1972, p. 12): “Em termos agregados há uma tendência inequívoca para uma redução na participação relativa de todos os grupos na renda total, com exceção dos 10+ [10% da população com renda mais alta], que aumenta em 20% a sua fatia no bolo.” Podemos verificar as reduções na renda relativa na tabela abaixo:

Tabela 1 – Comparação da distribuição de renda 1960/1970

% da Rendaa Renda Média

(em Cr$/por mês/70) Renda Relativac Percentil

1960 1970 1960/1970

(em %) 1960b 1970

1960/1970

(em %) 1960 1970

1960/1970 (em %)

10- 1,17 1,11 -5,13 25, 32, +28,00 0,12 0,11 -

10 2,32 2,05 -11,64 48, 58, +20,83 0,23 0,20 -13,04 10 3,42 2,97 -13,16 71, 84, +18,31 0,34 0,30 -11,80 10 4,65 3,88 -16,55 96, 110, +14,58 0,46 0,39 -15,22 10 6,15 4,90 -20,32 127, 139, +9,45 0,61 0,50 -18,04 10 7,66 5,91 -22,75 158, 168, +6,33 0,77 0,60 -28,33 10 9,41 7,37 -21,68 195, 210, +7,69 0,94 0,74 -21,28 10 10,85 9,57 -11,80 225, 272, +20,89 1,08 0,96 -10,20 10 14,69 14,45 -1,64 305, 411, +34,75 1,48 1,46 +1,35 10+ 39,66 47,79 +20,50 815, 1.360, +66,87 3,95 4,82 +22,02

1+ 12,11 14,57 +20,32 2.389, 4.147, +73,59 11,60 14,70 +26,72

Total 100 100 - 206, 282, +36,89

Fonte: Langoni (1972, p. 14).

Notas: a – Estimativa a partir das classes equivalentes de renda.

b – O índice de preços utilizado foi o deflator implícito do PIB cuja variação acumulada entre 1970/1960 foi de 353,7% (Conjuntura Econômica, v. 25, n. 9, 1971, p. 92).

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Na Tabela 1, ainda podemos notar que apesar de somente o último decil (10+) atingir uma variação positiva significativa na renda relativa, todos os decis obtiveram aumentos em suas rendas médias reais, houve um aumento total da renda média em 36,89% distribuídos diferentemente entre os decis, no entanto, os 4º, 5º e 6º decis obtiveram ganhos de renda inferiores a 10%, transportando para esses decis as maiores perdas na renda relativa na comparação entre Censos. O decil mais rico teve maior incremento (+66,87%) na renda média, coube aos participantes do seleto grupo 1+ (1% da população com renda mais alta) o expressivo incremento de 73,59% na renda média.

As variáveis utilizadas pelo trabalho como determinantes da distribuição pessoal da renda foram classificadas entre qualitativas (educação, idade e sexo) e alocativas (região e atividade-setor). Segundo Langoni (1972, p. 41), este conjunto de variáveis explica cerda de 51% das diferenças na distribuição de renda em 1960 e 59% em 1970. O aumento da capacidade de explicação das diferenças na distribuição de renda entre os dois Censos é justificado pela acumulação de capital humano em paralelo com o crescimento econômico durante a década. Apesar de não incluídas no trabalho, Langoni aponta que outro conjunto de variáveis deve ser determinante para explicação do restante: diferenças de habilidade, atitude face ao risco, e propriedade ou acumulação de capital físico podem explicar os 49% restantes em 1960 e os 41% em 1970.

Para contrapor as críticas que estavam aparecendo nos trabalhos acadêmicos sobre a validade das variáveis utilizadas pela teoria do capital humano na explicação da desigualdade na distribuição de renda, como a constatação que entre estas variáveis explicativas selecionadas há a presença de multicolinearidade, ou seja, alta correlação entre as variáveis independentes, Langoni argumenta que:

Nós já sabemos, tanto do ponto de vista teórico como pela evidência empírica, que há uma forte inter-relação entre algumas dessas variáveis particularmente entre nível de educação, atividade e região. O importante porém é que a existência de multicolinearidade não foi tão forte a ponto de impedir a estimativa consistente das suas regressões. (LANGONI, 1972, p. 41).

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que tenha aumentado a desigualdade, dado que há uma maior homogeneidade da mão de obra e menor qualificação dentro do setor primário. Entretanto, para ambos os setores são observados aumento real de renda de 14,04% para o setor primário e 42,13% para o setor urbano.

Entre os cruzamentos dos resultados demonstrados, a variável educação é novamente apontada tanto para os dados de 1960 como para os de 1970, como a de maior explicação nos diferenciais de renda, cerca de 31% e 41%, respectivamente. Tanto a melhora da qualificação dos trabalhadores pertencentes ao extremo superior da distribuição de renda, como o avanço das qualificações ocupacionais na direção do progresso técnico contribuíram para o aumento da desigualdade, conforme argumento de Langoni:

A importância da educação para o aumento de desigualdade, mesmo considerando o efeito puro redistributivo, é consistente com a hipótese de que o crescimento econômico brasileiro levou a uma expansão diferenciada da demanda de mão de obra, que devido à tecnologia utilizada, beneficiou desproporcionalmente os níveis de educação mais elevados. (LANGONI, 1972, p. 47).

Rejeitando os argumentos apresentados nos trabalhos que concluem como fatores determinantes do aumento da concentração na distribuição de renda as políticas socioeconômicas adotadas pelo governo militar, particularmente, a política salarial e o movimento de repressão sindical pós-1964, Langoni propõe que os motivos fundamentais da concentração da renda podem ser encontrados nas alterações ocorridas no mercado de trabalho e na aceleração do crescimento econômico no final da década de 1960:

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crescimento econômico que predominou de 1967 à 1970. (LANGONI, 1973, p. 15).

A hipótese básica que Langoni trabalha para explicar os aumentos da desigualdade na distribuição de renda prende-se ao fato da aceleração do crescimento econômico provocar um desequilíbrio no mercado de trabalho, por aumentar a demanda de alguns fatores, como o da mão de obra qualificada. Este fator possui oferta relativamente inelástica a curto prazo, tendo como consequência a geração de um ganho extra denominado como quasi-rents – ‘ganhos monopolistas dos grupos que atualmente possuem este tipo de qualificação’. Os setores modernos exigem uma mão de obra mais qualificada, com maior produtividade e, devido sua escassez, provoca diferencias salariais em favor próprio. Essa hipótese é fundamentada no trabalho de Kuznets (1955) sobre o comportamento a longo prazo da distribuição pessoal da renda durante determinadas fases do crescimento econômico de uma economia. A relação entre as variáreis se daria em um formato de “U invertido”, atribuindo um aumento da desigualdade nas fases iniciais do crescimento econômico, onde ocorre a industrialização e a migração de uma grande porcentagem da mão de obra do setor rural para o urbano; um período intermediário de estabilidade da desigualdade; e, a partir de determinado crescimento econômico de uma economia esta tendência se inverteria e a desigualdade na distribuição pessoal da renda começaria a reduzir.

A quantidade de trabalhos realizados nas comparações dos Censos de 1960 e 1970 promoveu a disseminação do debate8

com o aparecimento de várias teorias explicativas, que por um esforço deste trabalho podemos polarizá-las em duas vertentes. A primeira atribuindo o aumento da desigualdade à política econômica, principalmente de arrocho do salário mínimo, exercida pelo governo da ‘Revolução de 64’, contribuindo negativamente para os trabalhadores urbanos não qualificados, e a segunda, na versão oficial desejada pelo governo, atribuindo a uma fase particular em consequência da aceleração do crescimento econômico e das mudanças ocorridas no mercado de trabalho que seria corrigível a longo prazo com a elevação do nível do capital humano. Este fato pontuou a formação de duas frentes de pesquisas sobre a distribuição de renda no Brasil, especialmente, pela implementação regular do IBGE das pesquisas domiciliares que além de aprofundar

8

(39)

os questionários sobre os rendimentos, fornecem dados intercensitários que permitem o acompanhamento da evolução dos rendimentos mais aprofundado. Embora haja diferenças metodológicas entre os Censos e as PNADs, são possíveis realizar comparações nos rendimentos sem a necessidade de grandes alterações.

Um novo debate sobre a política salarial é realizado no final da década de 1970, particularmente interessado na contribuição da elevação do salário mínimo9

à diminuição da desigualdade da distribuição de renda e da pobreza. Uma questão central neste debate está na capacidade de cobertura do salário mínimo dentro da População Economicamente Ativa (PEA) e se o mesmo pode ser utilizado como referência de base para o cálculo dos demais salários no mercado de trabalho, considerando a cobertura institucional do salário mínimo no emprego formal. Outra orientação no debate está em analisar se política de elevação do salário mínimo leva a uma ampliação do mercado de trabalho informal, como tentativa de fugir das disposições legais e se o salário mínimo ainda é capaz de determinar os salários dentro do setor informal.

Para Souza e Baltar (1979), os salários estão vinculados ao tipo de acumulação e estrutura produtiva dentro de uma economia capitalista e à correlação entre as forças sociais existentes. Existe um salário-base utilizado como guia (“efeito-farol”) para todos os salários da mão de obra não qualificada, determinando os diferenciais salariais e a estrutura da demanda dos produtos.

A taxa e a estrutura dos salários estão vinculadas ao padrão de acumulação e à estrutura produtiva. Assim, são partes da articulação geral de toda a economia. O processo de acumulação de capital exige adequação entre o padrão de acumulação, a estrutura produtiva, a composição da demanda, a distribuição dos salários e os esquemas de financiamento necessários para a realização da produção corrente. Desta maneira, uma variação na taxa de salários não só provoca alterações na distribuição de salários, como também implica mudanças na composição da demanda. (SOUZA; BALTAR, 1979, p. 632).

Segundo Macedo e Garcia (1980), não é possível afirmar que o salário mínimo seja capaz de determinar os salários dos trabalhadores não qualificados e ainda ser utilizado como um piso salarial. Argumentam que se deve evitar a atribuição do comportamento das taxas de salários ao nível oficial do salário

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Imagem

Tabela 1 – Comparação da distribuição de renda 1960/1970
Tabela 2  –  Distribuição de renda entre pessoas de 10 anos ou mais economicamente  ativas com rendimento em 1970 e 1980
Tabela 3 – Distribuição de rendimento mensal entre pessoas de 10 anos ou mais de  idade entre 1981 e 1989  Percentil  1981 (1)  1985  1988  1989 (2)  (2):(1)  20-  2,7%  2,4%  2,0%  2,0%  -25,9%  50-  13,4%  12,0%  11,1%  10,4%  -22,4%  1+  13,0%  14,1%  1
Tabela  4  –  Quantidade  de  benefícios  assistenciais  emitidos,  posição  no  mês  de  dezembro, entre 1993 e 2002
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